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INTRODUÇÃO O cálculo e a aplicação da pontuação no trauma representam um valioso auxílio para os seguintes problemas: 1. triagem pré-hospitalar; 2. utilização de linguagem comum; 3. descrição das lesões e de sua gravidade; 4. avaliação da adequação da cura e recuperação; 5. comparação entre as diversas realidades; 6. avaliação da epidemiologia dos traumas e pes- quisa; A pontuação se distingue com base nas infor- mações que são fornecidas sobre a fi siologia e a anatomia. A seguir, são indicadas as pontuações mais comumente empregadas nos centros espe- cializados para a cura do traumatizado. ÍNDICES FISIOLÓGICOS Descrevem as alterações da reserva fi siológica, em conseqüência do trauma, e são baseados nas modifi cações dos parâmetros vitais [pressão sistó- lica (PA) e freqüência respiratória (FR)] e nível de consciência. Representam este tipo de pontuação a Escala de Coma de Glasgow (ECG)1,2 e a Revised Trauma Score (RTS)3. ECG: Consiste na avaliação do grau de compro- metimento neurológico, com base na soma de pontos atribuídos a melhor resposta motora, aber- tura ocular e resposta verbal do paciente. Os va- lores vão de 3 (morte cerebral) a 15 (normal) (Ta- bela 1). Não compreende a avaliação dos refl exos tronco-encefálicos. Foi demonstrado que a ECG se correlaciona de modo signifi cativo com o prognóstico4, tanto que a gravidade de um traumatismo craniano é estabele- cida em função da ECG: 153 Apêndice - Escores de trauma ECG 14-15: traumatismo craniano leve; ECG 9-13: traumatismo craniano moderado; ECG < 9: traumatismo craniano grave. No paciente intubado, sedado e curarizado, por convenção, a ECG é 3T. Todavia, na ausência de efeitos de medicamentos e se a soma dos pontos motor e da abertura ocular for maior que 8, deve ser avaliada a capacidade do paciente em escrever, quando solicitado, a resposta que seria verbal. A ECG 11T equivale a ECG 15 e caracteriza um pa- ciente acordado, orientado e capaz de responder aos comandos. No paciente pediátrico, com mais de 5 anos de idade, aplica-se o P-ECG, na qual, em relação à versão para os adultos, varia a resposta verbal em função do grau de desenvolvimento da linguagem (Tabela 1a)5. RTS: Deriva da soma dos pontos atribuídos a três parâmetros: pressão arterial sistólica (PAS), fre- qüência respiratória (FR) e ECG, variando de 3 a 12 (Tabela 2). Um valor de RTS inferior a 11, indica um trauma severo. A correlação com a melhora do pa- ciente é signifi cativa, quando se considera a versão normalizada do RTS, com qualquer um dos parâ- metros pesando no coefi ciente derivado da Major Trauma Outcome Study (MTOS)6: RTS = 0,9368 ECG + 0,7326 PAS + 0,2908 FR De tal fórmula resulta o fator de maior predição para o prognóstico e o grau de comprometimento neurológico. O valor da versão normalizada gira entre zero e 7,84. Na avaliação do paciente pediátrico, devido às suas características fi siológicas e anatômicas pe- culiares, a pontuação mais adequada é dada pelo Pediatric Trauma Score (PTS) (Tabela 3)7, que consi- dera seis parâmetros específi cos na criança, sendo 154 Apêndice - Escores de trauma atribuído para cada um deles +2, +1 e –1. O valor do PTS é, portanto, variável entre –6 e +12. Valores de PTS compreendidos entre 9-12 caracterizam um trauma menor; de 6-8, um trauma grave com potencial risco de morte e PTS < 0, incompatível com a vida. Em geral, um valor PTS < 8 representa um critério para a centralização do paciente. ÍNDICES ANATÔMICOS Descrevem de maneira estatística as lesões conseqüentes do trauma, para o qual são cal- culados, uma vez efetuado o balanço defi nitivo, ao término da avaliação, das intervenções ci- rúrgicas e, em caso de óbito, depois do exame de autópsia. Devem ser, portanto, calculados retrospectivamente, uma vez disponíveis todos os dados. Em combinação com a pontuação fi sio- lógica, são utilizados para predizer o prognósti- co do paciente através do cálculo de probabili- dade do paciente (Ps). Entre os mais utilizados estão a Abbreviated Injury Scale (AIS)8, a Injury Severity Score (ISS)9 e o Trauma Score-Injury Se- ve rity Score (TRISS)10 para o cálculo da Ps. Em alguns casos, a aplicação da pontuação anatômica consiste na caracterização da gravi- dade da lesão específi ca e de prever a sua evo- lução. É o caso do cálculo da escala ASIA nos pacientes com trauma raquimedular11. ECG PAS FR Pontuação 13-15 9-12 6-8 4-5 3 > 89 76-89 50-75 1-49 0 10-29 > 29 6-9 1-5 0 4 3 2 1 0 PAS, pressão arterial sistólica; FR, freqüência respiratória. Elemento a avaliar Melhor resposta Pontuação Abertura ocular Espontânea O4 A estímulo verbal O3 A estímulo doloroso O2 Ausente O1 Resposta motora Obedece a comandos M6 Localiza M5 Retirada M4 Flexão anormal M3 Extensão anormal M2 Ausente M1 Resposta verbal Apropriada V5 Confusão V4 Palavras inapropriadas V3 Sons incompreensíveis V2 Ausente V1 Tabela 1 Escala de coma de Glasgow (ECG) Tabela 1a Pontuação pediátrica para a resposta verbal Resposta verbal Pontuação Fala apropriadamente, sorri tranqüilo, fi xa um objeto e acompanha o movimento 5 Chora, mas é consolável 4 Constantemente irritável 3 Agitado, não é fi rme 2 Ausente 1 Tabela 2 Revised Trauma Score (RTS) 155 Apêndice - Escores de trauma AIS: Na última versão disponível, de 1998, classifi ca com um conjunto de sete números cada lesão relatada nos diversos segmentos do corpo. O último número à direita representa o código de gravidade AIS, variável entre 1 (lesão mínima) e 6 (lesão gravíssima, incompatível com a vida), em função da gravidade das lesões e do risco de morte associado (Tabela 4). ISS: Deriva da soma dos quadrados dos códi- gos de gravidade AIS mais altos, em três di- ferentes setores do corpo, escolhidos entre as seguintes regiões anatômicas: crânio e região cervical; face, tórax, abdome e conteúdo pélvico; membros e anel pélvico e superfície externa. ISS = a2 + b2 + c2 As limitações desta pontuação são represen- tadas pelo fato que valores AIS idênticos, em diversas regiões do corpo, se comportam com o mesmo ISS, representando lesões que po- dem ter impacto diferente na sobrevida. Além do mais, se em uma região do corpo ocorrem múltiplas lesões, é computada somente uma e a gravidade das lesões cerebrais é subestima- da. Se em uma região do corpo for identifi ca- da uma lesão com AIS 6 (incompatível com a sobrevida), por convenção, o ISS é computado com seu valor máximo (= 75). Considera-se, convencionalmente, trauma grave aquele em que o balanço defi nitivo das lesões apresenta um ISS > 15. TRISS: Prediz a probabilidade de sobrevi- vência (Ps) em função das lesões relatadas, permitindo, portanto, a comparação do prog- nóstico observado em diferentes realidades. O cálculo da Ps é efetuado através de um modelo matemático de regressão logística, que com- bina os valores de RTS e ISS com a idade do paciente e o mecanismo de trauma (fechado vs penetrante), segundo a seguinte fórmula: Ps = 1/(1 + e–b) b = b0 +b1(RTS) + b2(ISS) + b3(A); e = 2,7718282 (base do logaritmo neperiano) onde A é um coefi ciente variável para a ida- de (0 para idade < 55 anos, 1 para idade > 55 anos), enquanto b0, b1, b2 e b3 são coefi cien- tes derivados do MTOS6, database de referência compreendido entre 80.000 pacientes trauma- tizados, na década de 80, nos Estados Unidos, que serviram como população de referência. No caso de morte do paciente, considera- se, convencionalmente, o óbito não evitável quando a Ps resulta < 0,25 (probabilidade de sobrevida < 25%), óbito potencialmente evitá- Parâmetro +2 +1 –1 Peso corporal (kg) > 20 10-20 < 10 Via aérea Pérvia Risco de obstrução Obstruída Pressão sistólica (mmHg) > 9050-90 < 50 Sensório Íntegro Obnubilado/inconsciente Coma/descerebração Ferida aberta Ausente Menor Maior/penetrante Fratura óssea Ausente Fratura fechada Fratura exposta/múltipla Tabela 3 Pediatric Trauma Score (PTS) Pontuação AIS Gravidade da lesão 1 Menor 2 Moderada 3 Grave, mas sem risco de morte 4 Grave e com risco potencial de morte 5 Crítica 6 Incompatível com a vida Tabela 4 Abbreviated Injury Scale (AIS) 156 Apêndice - Escores de trauma vel com Ps entre 0,25 e 0,50 e óbito francamen- te evitável com Ps > 0,50. As limitações do TRISS são não levar em consideração eventuais comorbidades, ter so- mente gradação por idade e basear-se em da- dos de pacientes tratados com técnicas de 20 anos atrás. Para tais regiões, a Ps calculada do TRISS é levemente subestimada. ASIA scale/ASIA impairmente scale: Consiste em identifi car o nível e determinar a comple- ta lesão medular pós-traumática. Baseia-se na avaliação motora e sensitiva, em ambos os lados, através de cinco níveis de gravidade, ASIA A (lesão medular completa) a ASIA E (lesão me- dular normal) (Tabela 6). Coefi ciente Trauma fechado Trauma penetrante b0 constante b1 (RTS) b2 (ISS) b3 (idade) –1,2470 0,9544 –0,0768 –1,9052 –0,6029 1,1430 –0,1516 –2,6676 Tabela 5 TRISS, valor dos coefi cientes de peso para os diversos mecanismos de trauma A = completa: ausência de função sensitiva ou motora no nível dos segmentos sacrais S4-S5 B = incompleta: preservação das funções sensitivas, mas não das motoras, acima do nível neurológico e em S4 e S5 C = incompleta: função motora conservada, acima do nível neurológico, e, em pelo menos metade dos grupos musculares chave, a pontuação é inferior a 3 D = incompleta: função motora conservada, acima do nível neurológico, e, em pelo menos metade dos grupos musculares chave, acima do nível neurológico, a pontuação é igual ou superior a 3 E = normal: função sensitiva e motora normal Síndromes clínicas de lesões incompletas: – Centro-medular – Brown-Séquard – Cordão anterior – Cone medular – Cauda eqüina Tabela 6 ASIA Impairment Scale Pontuação Resultado do exame Avaliação da força muscular 0 Paralisia total 1 Contração palpável ou visível 2 Movimentação completa na ausência de gravidade 3 Movimentação completa contra a gravidade 4 Movimentação completa e força reduzida 5 Força normal NT Não testável Avaliação da sensibilidade 0 Ausente 1 Reduzida 2 Normal NT Não testável Tabela 7 Avaliação da força muscular e sensibilidade 157 Apêndice - Escores de trauma D E “músculos chave” C2 C3 C4 C5 Eleva os ombros (abdução do braço) C6 Flete o ante-braço C7 Estende o ante-braço C8 Flexão dos dedos T1 Abdução dos dedos T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 L1 L2 Flexão da coxa L3 Extensão do joelho L4 Dorso-fl exão do tornozelo L5 Extensão do hálux S1 Flexão plantar do tornozelo S2 S3 S4-S5 Contração voluntária do esfíncter anal (sim/não) total = pontuação motora máx 50 50 Tabela 8 ASIA SCALE FUNÇÃO MOTORA A primeira avaliação deve ser efetuada den- tro de 6 horas após o trauma. Consiste em uma análise detalhada da lesão medular e da sua evolução, repetida 72 horas após e, novamente, 7 dias depois do evento. A avaliação motora é efetuada testando- se cinco grupos musculares “chave”, para os membros superiores e inferiores (Tabelas 7 e 8), atribuindo uma pontuação variando entre zero (paralisia muscular) e cinco (movimen- to contra máxima resistência). Se a avaliação não for possível (fratura, fi xação externa etc), o músculo é registrado como não testável (NT). O nível de lesão é defi nido com base no últi- mo metâmero com força superior ou igual a 3 e que tenha cranialmente força normal5. Deve ser investigada a atividade motora voluntária do esfíncter anal que, se preservada, indica uma lesão incompleta. A avaliação sensitiva é realizada testando-se a sensibilidade tátil superfi cial (teste com tufo de algodão) e dolorosa (com agulha em pontos 158 Apêndice - Escores de trauma “chave”), que correspondem a um dermátomo (Tabelas 7 e 9), atribuindo uma pontuação (0 = anestesia, 1 = hipo/hiperestesia ou disestesia; 2 = normal). Se o dermátomo não é avaliável, é registrado como NT. Deve ser pesquisada a sensibilidade da jun- ção mucocutânea de toda a circunferência do esfíncter anal. A presença de sensibilidade, mesmo que apenas em um ponto do esfíncter anal, defi ne a lesão como incompleta. Por nível sensitivo entende-se o dermáto- mo mais caudal, com a sensibilidade inteira- mente normal. Entende-se por nível neuroló- gico o nível mais caudal, cuja sensibilidade e a motricidade estão normais. Na avaliação ASIA não foram contempla- das a sensibilidade proprioceptiva, a presença/ ausência ou alteração dos refl exos ósteo-tendí- neos e a eventual presença de espasticidade. Tátil Dolorosa D E D E C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 L1 L2 L2 L4 L5 S1 S2 S3 S4-S5 Sensibilidade anal (sim/não) Sensibilidade dolorosa (máx 112) total Sensibilidade tátil (máx 112) máx 56 56 56 56 FUNÇÃO SENSITIVA Tabela 9 ASIA Scale 159 Apêndice - Escores de trauma Bibliografi a 1. Teasdale G, Jennett B. Assessment of coma and impared consciousness. A practical scale Lancet 1974;2:81-83. 2. Hartley C, Cozens A, Mendelow AD, et al. The Apache II scoring system in neurosurgical pa- tients. A comparison with simple Glasgow Coma scoring. Br J Neurosurg 1995;9:179-187. 3. Champion HR, Sacco WJ, Copes WS, et al. A revisione of the Trauma Score. J Trauma 1989;29:623-629. 4. Sternbach GL. The Glasgow Coma Scale. J Emerg Med 2000;19: 67-71. 5. Simpson D, Reilly P. Pediatric Coma Scale. Lan- cet 1982;2:450. 6. Champion HR, Copes WS, Sacco WJ, et al. The Major Trauma Outcome Study. Establi- shing national norms for trauma care. J Trauma 1990;30:1356-1365. 7. 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