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Intoxicação alcoólica aguda

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR 
Ciências da Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda - Casuística no 
Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar 
Cova da Beira, E.P.E. 
 
Experiência profissionalizante na Vertente de Farmácia 
Comunitária e Investigação 
 
 
 
Inês Sofia Afonso Pires 
 
 
 
Relatório de estágio para obtenção do Grau de Mestre em 
Ciências Farmacêuticas 
(ciclo de estudos integrado) 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Doutora María Eugenia Gallardo Alba 
Coorientador: Prof. Doutor Vítor Branco 
 
 
 
Covilhã, junho de 2013 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 ii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 iii 
 
Dedicatória 
 
 Quero dedicar este trabalho final aos meus pais e irmão, que sempre incentivaram os 
meus sonhos e transformaram as minhas fraquezas em forças durante todo este percurso 
académico. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 iv 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 v 
Agradecimentos 
 
Agradeço à Prof. Doutora María Eugenia Gallardo toda a orientação, apoio, 
disponibilidade e incentivo demonstrados desde o início desta trabalho. Os seus 
conhecimentos científicos e experiência profissional foram extremamente relevantes para a 
concretização deste trabalho. 
Agradeço ao Dr. Vítor Branco, meu co-orientador, toda a disponibilidade prestada ao 
longo da realização deste trabalho no Centro Hospitalar Cova da Beira. 
Agradeço a toda a equipa da Farmácia Costa de Belmonte, em particular à Dr.a Maria 
Manuela Carvalho e à Dr.a Ana Sofia Martins pela sua constante ajuda e vontade em partilhar 
os seus vastos conhecimentos técnico-científicos. 
Agradeço a paciência de todos os amigos que ao longo de tantos anos de amizade 
nunca deixaram de acreditar em mim. 
Por fim, agradeço aos meus pais. Sem eles nada seria concretizável. 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 vi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 vii 
Resumo 
 
O presente relatório de estágio é constituído por duas partes distintas. A primeira 
parte referente à vertente de investigação desenvolvida e a segunda diz respeito ao estágio 
realizado na Farmácia Costa. 
Em relação à vertente de investigação, o objetivo principal foi o de descrever e 
analisar o perfil demográfico dos doentes que dão entrada no Serviço de Urgência Geral (SUG) 
do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB), E.P.E., por intoxicação alcoólica aguda. Para tal, 
foi realizado um estudo retrospetivo observacional, que incluiu doentes maiores de 18 anos, 
entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2011. Após a seleção da amostra de interesse, 
constituída por 386 doentes, foram analisados os respetivos relatórios dos episódios do SUG, 
dos quais se obtiveram os diversos dados referentes ao doente e à sua intoxicação. Os dados 
recolhidos foram posteriormente submetidos ao tratamento estatístico. 
Durante o ano de 2011, o número de doentes que deram entrada no SUG com 
intoxicação alcoólica aguda representou 1,07% do total de doentes atendidos, sendo que 83% 
eram do sexo masculino. A média de idades foi de 41,99 (±18,18), e a maioria dos doentes 
proveio do concelho da Covilhã, tendo sido registada uma maior afluência ao SUG no mês de 
novembro. A concentração de etanol no sangue foi na maior parte dos casos superior a 
0,50g/L, tendo sido prevalente o intervalo entre 2,00 e 2,50 g/L (23%). Em 32% dos doentes 
verificou-se regresso ao SUG por motivo de intoxicação alcoólica aguda. O tratamento 
administrado aos doentes foi maioritariamente de suporte, e a alta foi o principal destino dos 
doentes após o episódio de urgência (EU), não tendo sido verificadas mortes. 
O estágio em Farmácia Comunitária foi realizado na Farmácia Costa, em Belmonte, 
sob a orientação da Dr.a Ana Sofia Martins, farmacêutica adjunta substituta. O relatório tem 
como objetivo resumir as diferentes competências adquiridas ao longo deste estágio, 
destacando a importância do Farmacêutico Comunitário enquanto agente de saúde pública. O 
bom funcionamento da farmácia, enquanto espaço de saúde pública, depende de uma 
organização eficiente a todos os níveis, pelo que foram focados neste relatório os pontos 
essenciais envolvidos na sua organização. 
 
 
Palavras-chave 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda; CHCB; Urgência Geral; Etanol; Farmácia Comunitária; Boas 
Práticas
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
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Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 ix 
Abstract 
 
The present work is constituted by two distinct parts. The first part refers to the 
investigation developed and the second part concerns the internship made at Farmácia Costa. 
 Regarding the investigation, the main goal was to describe and analyze the 
demographic profile of the patients who gave entrance in the General Emergency Room of the 
(CHCB), E.P.E., by acute alcohol intoxication. For this, a retrospective observational study 
was realized, for patients older than 18 years of age, between january 1st and december 31st, 
2011. After the sample selection, constituted by 386 patients, the episode reports of the 
General Emergency Room were analyzed and several results related to the patient and his 
intoxication were obtained. The collected data was then submitted to statistical treatment. 
 During the year of 2011, the number of patients who presented to the General 
Emergency Room with acute alcohol intoxication represented 1,07% of the total of patients 
observed, and 83% of them were male. The average age was 41,99 (±18,18), and most 
patients came from the Covilhã county, and the greater affluence in the General Emergency 
Room was in november. The blood alcohol concentration was, in most cases, higher than 
0,50g/L, and the prevalent gap was between 2,00 and 2,50g/L (23%). 32% of the patients have 
returned to the General Emergency Room with acute alcohol intoxication. The treatment 
administered to the patients was mainly a support treatment, and the main destiny of the 
patients after the emergency episode was the discharged, and no deaths were observed. 
 The internship in community pharmacy was accomplished in Farmácia Costa, in 
Belmonte, under the guidance of Dr.ª Ana Sofia Martins, substitute pharmacist. The report 
aims to resume all of the competences acquired during the internship, highlighting the 
importance of the community pharmacist as a public health agent. The proper functioning of 
the pharmacy, asa public health area, depends on a efficient organization n in all levels, 
whereby focused in this report the essential topics involved in the pharmacy organization. 
 
Keywords 
 
Acute alcohol intoxication; CHCB; General Emergency Room; etanol; Comunitary Pharmacy; 
Good Practice 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
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Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xi 
Índice 
 
Dedicatória iii 
Agradecimentos v 
Resumo vii 
Abstract ix 
Lista de Figuras xv 
Lista de Gráficos xvii 
Lista de Acrónimos xix 
Capítulo I – Intoxicação Alcoólica Aguda: Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro 
Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
1 
1. Introdução 3 
1.1. Intoxicação Alcoólica Aguda 4 
1.1.1. Etanol 4 
1.1.1.1. Caraterização Química 4 
1.1.1.2. Mecanismo de Ação 4 
1.1.1.3. Farmacocinética/Toxicocinética 5 
1.1.2. Caraterização da Intoxicação Alcoólica Aguda 9 
1.1.2.1. Definição de Intoxicação Aguda 9 
1.1.2.2. Caraterização da Intoxicação Alcoólica Aguda 10 
1.1.2.3. Tratamento da Intoxicação Alcoólica Aguda 11 
1.2. Enquadramento legal da condução sob influência do etanol 12 
2. Objectivos 14 
3. Materiais e Métodos 14 
3.1. Tipo de estudo 14 
3.2. Seleção da amostra 14 
3.3. Recolha de dados e análise estatística dos mesmos 16 
4. Resultados e Discussão 16 
4.1. Caraterização da amostra 16 
4.2. Habilitações literárias/profissão dos doentes intoxicados 17 
4.3. Proveniência dos doentes intoxicados 18 
4.4. Afluência ao SUG durante o ano de 2011 20 
4.5. Intervalo de horas de afluência ao SUG 21 
4.6. Vias de contacto com o etanol 22 
4.7. Concentração de etanol no sangue (alcoolemia) 22 
4.8. Associação entre etanol e outros tóxicos 24 
4.9. Reincidência pela mesma causa 25 
4.10. Tratamento administrado 26 
4.11. Destino final do doente intoxicado 27 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xii 
5. Conclusão 28 
6. Bibliografia – Parte I 29 
Capítulo II – Relatório de Estágio realizado na Farmácia Costa (Belmonte) 31 
1. Introdução 33 
2. Organização da Farmácia 34 
2.1. Recursos Humanos: funções e responsabilidades 34 
2.2. Instalações e equipamentos 35 
2.3. Recursos informático 36 
3. Documentação científica 36 
3.1. Biblioteca básica / Documentação Oficial da Farmácia Costa 36 
3.2. Fontes de informação externas 37 
3.3. Centros de documentação e informação 37 
4. Medicamentos e outros produtos de saúde 38 
4.1. Enquadramento legislativo do medicamento 38 
4.2. Tipos de produtos disponíveis na Farmácia 38 
5. Aprovisionamento e armazenamento na Farmácia Costa 39 
5.1. Seleção de um fornecedor 39 
5.2. Critérios de aquisição 40 
5.3. Elaboração, transmissão, receção e conferência de uma encomenda 40 
5.4. Critérios e Condições de Armazenamento 41 
5.5. Devoluções de produtos e controlo do prazo de validade 42 
6. Interação Farmacêutico-Utente-Medicamento 42 
7. Dispensa de medicamentos 44 
7.1. Prescrição médica 45 
7.2. Regimes de comparticipação 46 
7.3. Dispensa de medicamentos psicotrópicos e estupefacientes 47 
7.4. Dispensa de Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM) 48 
8. Automedicação 48 
8.1. Princípios legais e definição de MSRM e MNSRM 48 
8.2. Riscos e vantagens da automedicação 49 
8.3. Situações passiveis de automedicação 49 
9. Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde 50 
9.1. Produtos de dermofarmácia, cosmética e higiene 50 
9.2. Fitoterapia e Suplementos Nutricionais 51 
9.3. Produtos dietéticos infantis 52 
9.4. Produtos dietéticos para alimentação especial 53 
9.5. Dispositivos médicos 53 
9.6. Medicamentos de uso veterinário (M.U.V.) 54 
10.Outros cuidados de saúde prestados na Farmácia Costa 54 
11.Preparação de medicamentos manipulados 56 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xiii 
11.1. Material de laboratório e matérias-primas 57 
11.2. Rotulagem dos manipulados 58 
11.3. Prazo de validade 58 
12.Contabilidade e Gestão na Farmácia 59 
12.1. Gestão de Recursos Humanos 59 
12.2. Processamento do receituário 59 
12.3. Documentos contabilísticos 60 
13.Conclusão 61 
14.Bibliografia – Parte II 62 
Anexos – Capítulo II 64 
Anexo I - Cálculo do preço dos manipulados 64 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xiv 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xv 
Lista de Figuras 
 
Figura 1 – Metabolismo do Etanol 8 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xvi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xvii 
Lista de Gráficos 
 
Gráfico 1 - Distribuição dos doentes por faixas etárias 17 
Gráfico 2 - Proveniência dos doentes intoxicados por concelho 18 
Gráfico 3 - Distribuição dos doentes por freguesias do concelho da Covilhã 19 
Gráfico 4 - Distribuição dos doentes por freguesias do concelho da Fundão 19 
Gráfico 5 - Distribuição dos doentes por freguesias do concelho da Belmonte 20 
Gráfico 6 - Afluência dos doentes intoxicados ao SUG por mês durante o ano de 2011 20 
Gráfico 7 - Distribuição dos doentes por faixas etárias durante o mês de novembro de 
2011 
 
21 
Gráfico 8 - Distribuição por intervalo de horas dos indivíduos intoxicados que 
acederam ao SUG do CHCB 
 
22 
Gráfico 9 - Determinação da concentração de etanol 23 
Gráfico 10 - Concentração de etanol no sangue 23 
Gráfico 11 - Tóxicos administrados em concomitância com o etanol 24 
Gráfico 12 - Reincidência dos doentes intoxicados pela mesma causa 25 
Gráfico 13 - Reincidências entre 2005 e 2011 25 
Gráfico 14 - Tipo de tratamento administrado ao doente 26 
Gráfico 15 - Destino final do doente intoxicado após ter sido atendido no SUG no CHCB 27 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xviii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xix 
Lista de Acrónimos 
 
ACh Acetilcolina 
ADH Álcool desidrogenase 
AIM Autorização de Introdução no Mercado 
ALDHAldeído desidrogenase 
ANF Associação Nacional das Farmácias 
CEDIME Centro de Documentação e Informação de Medicamentos 
CEFAR Centro de Estudos de Farmacoepidemiologia 
CETMED Centro Tecnológico do Medicamento 
CHCB Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
DCI Denominação Comum Internacional 
EU Episódio de Urgência 
FP Farmacopeia Portuguesa 
GABA gamma-aminobutyric acid 
HDL Lipoproteínas de Alta Densidade 
HUC Hospitais da Universidade de Coimbra 
INFARMED Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P 
INMLCF Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses 
IRC Imposto sobre os Rendimentos de Pessoas Coletivas 
IRS Imposto sobre os Rendimentos 
IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado 
LDH Lactato desidrogenase 
LDL Lipoproteínas de Baixa Densidade 
NMDA N-metil D-aspartato 
MNSRM Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica 
MSRM Medicamentos Sujeitos a Receita Médica 
NAD Nicotinamida-adenina-dinucleótido 
OF Ordem dos Farmacêuticos 
OMS Organização Mundial de Saúde 
OTC Over the Counter 
POC Plano Oficial de Contas 
PVP Preço de Venda ao Público 
SIFARMA 2000® Sistema Informático das Farmácias 
SNC Sistema Nervoso Central 
SNS Sistema Nacional de Saúde 
SSTI Serviço de Sistemas e Tecnologia de Informação 
SUG Serviço de Urgência Geral 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
Relatório de Estágio - Farmácia Comunitária 
 
 xx 
TAE Teor de Álcool Etílico no Ar Expirado 
TAS Taxa de Álcool no Sangue 
UBI Universidade da Beira Interior 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo I 
Intoxicação Alcoólica Aguda - Casuística no 
Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar 
Cova Da Beira, E.P.E. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 3 
1. Introdução 
 
O Homem experiencia um contacto com o álcool etílico muito maior do que com 
qualquer outro solvente [1]. Além da sua ampla utilização a nível industrial (usado nos 
combustíveis, indústria farmacêutica, solvente químico, entre outros) [1,2,3], é fortemente 
consumido na forma de bebida alcoólica. O seu consumo tem sido uma característica de 
muitas culturas desde as civilizações mais antigas [3,4,5,6], cujo uso está hoje difundido entre 
jovens e adultos de todos os grupos socioeconómicos [7], gozando de uma conotação cultural 
positiva, sendo que uma das causas para tal facto estará no efeito psicotrópico do álcool 
etílico [8]. 
Contudo, esta ampla aceitação social e os padrões de consumo, que levam 
rapidamente a níveis elevados de etanol no sangue [8,9], tornam este mesmo consumo um 
problema não apenas individual [10]. Efetivamente trata-se de um problema de saúde pública, 
conduzindo a situações associadas à intoxicação aguda, tais como acidentes, lesões e 
violência, com consequências que se traduzem num elevado custo económico e social para o 
país [3,10,11,12]. Representa, portanto, um enorme custo financeiro e social para a sociedade 
[7,13]. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de etanol é o terceiro 
maior fator de risco no mundo para doenças e incapacidades, sendo que quase 4% de todas as 
mortes no mundo são atribuídas ao etanol, maior do que as mortes causadas por VIH ou 
tuberculose [10]. 
O impacto do consumo do álcool sobre a saúde e a economia de um país, e em última 
instância, sobre a humanidade, pode ser analisado através do consumo de álcool per capita e 
dos padrões de consumo. Segundo o último relatório mundial da OMS sobre álcool e saúde, 
Global status report on alcohol and health, de 2011 [10], o consumo mundial de bebidas 
alcoólicas é equivalente a 6,13 litros de puro álcool consumido por cada pessoa com idade 
superior a 15 anos, sendo os países desenvolvidos os que apresentam níveis de consumo 
superiores [10]. Portugal apresenta um consumo per capita de 14,55 litros de puro álcool 
(últimos dados em 2005) [10], sendo que em relação à restante Europa, Portugal é um dos 
países com consumo mais elevado, encontrando-se à frente de países como a Espanha, 
França, Alemanha e Itália, de acordo com os dados do mesmo relatório. 
Os padrões de consumo também permitem inferir do impacto do consumo de álcool, 
como atrás referido. Particularmente importante é o consumo ocasional elevado, responsável 
por muitas intoxicações alcoólicas agudas, que a nível mundial representa cerca de 11,5% de 
todos os consumidores [10]. Trata-se de um dos mais importantes indicadores de consequências 
agudas do consumo de etanol, destacando-se acidentes de viação e trabalho, inúmeros 
transtornos familiares e sociais [10,12,14]. 
Assim, considerando os dados da OMS anteriormente referidos, e todas as 
consequências para a saúde resultantes do consumo abusivo de etanol, tem toda a 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 4 
pertinência a realização de estudos epidemiológicos para consciencialização do perigo que o 
consumo abusivo de álcool representa para a saúde pública. Não somente os que contemplam 
dados gerais de um país, mas também estudos com uma abordagem epidemiológica mais 
local, afetos a uma determinada região, por forma a indagar quais as faixas etárias mais 
vulneráveis à intoxicação por etanol, em que profissões predominam e de que meio são os 
doentes intoxicados (meio rural ou urbano). Deste modo, os dados resultantes de doentes que 
acorrem ao serviço de urgência geral de um hospital (que presta cuidados a uma determinada 
região) são os indicados para a abordagem epidemiológica pretendida. 
 
1.1 Intoxicação Alcoólica Aguda 
1.1.1 Etanol 
1.1.1.1 Caraterização Química 
 
O etanol (CH3CH2OH), álcool etílico, ou vulgarmente designado apenas como álcool, é 
um composto químico pertencente ao grupo dos álcoois. Trata-se de um hidrocarboneto 
líquido, incolor e volátil [2,4,7,13,15]. É um composto solúvel em água, que atravessa 
rapidamente as membranas celulares, conduzindo a um rápido equilíbrio entre as 
concentrações intra e extra celular, o que explica o seu efeito em diversos orgãos [7,15,16]. 
É produzido a partir da fermentação alcoólica de hidratos de carbono, tal como a 
glucose, sob a influência de leveduras ou ainda através da hidratação de etileno [2,13,17], como 
demonstram as seguintes reações: 
 
 (1) 
 
 (2) 
 
1.1.1.2 Mecanismo de Ação 
 
O álcool etílico exerce o seu efeito tóxico através de vários mecanismos 
farmacológicos/toxicológicos [17], afetando particularmente áreas do cérebro envolvidas na 
formação da memória, decisão, controlo de impulsos, alterando o balanço que existe entre as 
vias inibitórias e excitatórias [4,6,7,17]. 
O etanol induz alteração da composição e fluidez das membranas [4,17,18], provocando 
aumento da concentração de fosfoglicerídeos, o que conduz a uma maior fluidez, tornando a 
membrana particularmente sensível [17,18]. Em consequência, ocorrem alterações funcionais 
nas membranas, tomando este efeito especial importância nas células do sistema nervoso 
central (SNC), nomeadamente no sistema ativador reticular [18]. A depressão que o etanol 
provocaneste sistema é responsável pela inibição de várias funções de controlo, observando-
se alterações comportamentais, caraterísticas da intoxicação alcoólica aguda [18]. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 5 
A ação toxicológica do álcool etílico envolve também a atuação a nível dos 
neurotransmissores e seus receptores [4,6,14]. Provoca a potenciação dos efeitos inibitórios do 
Gamma Amynobutiric-Acid (GABA) nos recetores GABAA 
[6,7,14], que se encontram associados a 
canais de cloro, formando um complexo funcional [4,6]. A estimulação deste sistema de canais 
contribui para os sintomas de sonolência e relaxamento muscular associados à ingestão aguda 
de etanol [6]. Por outro lado, o etanol induz bloqueio dos recetores de glutamato 
(neurotransmissor excitatório), nomeadamente do N-metil-D-aspartato (NMDA) [4,6,7,14,18], 
causando assim efeito depressor no SNC [4]. De acordo com estudos feitos em animais, este 
bloqueio deve-se à inibição competitiva da ligação das glicinas à subunidade Glu-N1, no 
recetor NMDA, conduzindo a um bloqueio na neurotransmissão do glutamato [7,18,19]. Do 
bloqueio do receptor NMDA resulta uma diminuição no influxo de cálcio pelos neurónios. Estes 
efeitos, resultantes do excessivo consumo de etanol, ajudam a compreender a perda de 
memória a curto prazo e, também a deterioração da função motora [18]. 
Para além dos mecanismos supracitados, o recetor nicotínico da acetilcolina (ACh) 
também é sensível aos efeitos do etanol, pois a ingestão aguda de etanol aumenta a 
quantidade de ACh na área tegmentar ventral, com aumento subsequente da concentração de 
dopamina no núcleo acumbente [6], desempenhando um papel importante nas sensações de 
euforia e gratificação, efeitos resultante do consumo excessivo de etanol [4,6,14,20]. A atividade 
dopaminérgica do núcleo acumbente também pode ser afetada por vários tipos de recetores 
opióides e tendo em consideração que a ingestão aguda de etanol provoca a libertação de 
péptidos opiáceos endógenos, a ativação destes recetores (do tegmento ventral e do núcleo 
acumbente) provoca libertação de dopamina, o que contribui para o caraterístico estado de 
euforia, como havia sido referido anteriormente [4,14,20]. 
 
 
1.1.1.3 Farmacocinética/Toxicocinética 
 
 Absorção 
 
A grande maioria das intoxicações pelo etanol ocorrem pela via digestiva [17], com 
absorção através das mucosas da boca, esófago, estômago e cólon. A maior parte ocorre a 
nível da porção proximal do intestino delgado [21], sendo que pode também ocorrer absorção 
pelas vias pulmonar e cutânea numa percentagem muito menor [17]. 
Por via pulmonar, o etanol é facilmente absorvido por difusão, atravessando a 
membrana alvéolo-capilar. A absorção cutânea, ainda que pouco comum como anteriormente 
referido, permite compreender a facilidade do etanol em atravessar membranas biológicas. O 
processo ocorre por difusão passiva, em função da lei de Fick, que devido ao baixo peso 
molecular do etanol e sua elevada solubilidade em água passa através de canais membranares 
pelos quais a água passa [17,22]. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 6 
O etanol é usado como solvente na indústria e em muitos detergentes e produtos 
farmacêuticos utilizados no dia a dia, sendo que nestas situações podem ocorrer episódios de 
absorção indevida de álcool etílico. No entanto, a quase totalidade do etanol é ingerido em 
bebidas alcoólicas [1]. 
No sistema gastrointestinal, a absorção do álcool etílico é efetuada no estômago em 
cerca de 20 a 30%, sendo a restante efetuada no intestino delgado, principalmente no 
duodeno [7,4,15,16,17,21], pela sua elevada área de superfície e eficiente mecanismo das 
microvilosidades [15]. 
A absorção do álcool etílico é extremamente rápida [7,4,23], iniciando-se 5 a 10 minutos 
após a ingestão do mesmo, e cerca dos 15 minutos metade da quantidade ingerida já está 
absorvida [4]. A concentração máxima sérica de álcool etílico é atingida em cerca de 30 
minutos a uma hora [14,17], sendo que a absorção do etanol é total, não se encontrando 
vestígios do mesmo nas fezes [17]. Duas a três horas depois da ingestão, a absorção é completa 
[4]. 
A absorção é afetada por diversos fatores, sendo que um deles é a quantidade de 
alimentos no sistema digestivo. Em jejum, a absorção duodenal é ainda mais rápida [6,7,17,21,22]. 
Uma vez que a absorção ao nível do intestino delgado é mais rápida que ao nível gástrico, a 
velocidade de esvaziamento no estômago influencia a absorção na mucosa gástrica [4,15]. 
Assim, fatores como a presença de alimentos ou de alguns fármacos como o ácido 
acetilsalicílico, doença gástrica ou tempo entre o início e o fim da ingestão de bebidas 
alcoólicas podem contribuir para o atraso na absorção [4,6,7,15,17,22]. Estes fatores podem fazer 
com que a absorção se atrase até 6h [7]. De notar que no intestino os alimentos não têm 
qualquer influencia na absorção do etanol [4]. A concentração de etanol é também um dos 
fatores que influencia o processo de absorção [4,7,17,22]. Segundo a lei de Fick, a velocidade de 
difusão do etanol através da mucosa gastrointestinal deve ser proporcional ao gradiente de 
concentração [22], contudo a elevadas concentrações de etanol, superiores a 30% v/v [4], 
ocorre diminuição na absorção. A partir desta concentração pode ocorrer vasoconstrição da 
mucosa gastrointestinal, nomeadamente piloroespasmo, causando atraso no esvaziamento 
gástrico [4,7,17,22]. As bebidas moderadamente alcoólicas (20% v/v) são as mais rapidamente 
absorvidas [17]. 
 
 Distribuição 
 
O álcool etílico é uma molécula relativamente simples e apresenta um peso molecular 
baixo, fatores que ajudam a que se dissolva completamente em água [4,22,23], como atrás 
referido. Por essa razão, a sua difusão através das membranas biológicas é extremamente 
rápida e fácil [4]. 
A distribuição do etanol pelos tecidos corporais é efetuada através do processo de 
difusão, que é maioritariamente regulado por dois fatores principais: a concentração da água 
no sangue e a concentração do álcool etílico no sangue [17]. Estes fatores determinam que, por 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 7 
exemplo, a concentração de álcool no sangue possa ser diferente caso se trate de sangue 
venoso ou arterial, dependendo da quantidade de água de cada um [17]. A concentração do 
álcool nos diferentes tecidos depende, assim, da quantidade de água presente nesses mesmos 
tecidos [15,17]. Assim, dado que com o aumento da idade ocorre diminuição da água corporal, 
espera-se maior concentração de etanol no sangue nos indivíduos mais velhos. O mesmo 
ocorre para as mulheres em relação aos homens, que possuem menor percentagem de água 
corporal (com maior percentagem de tecido adiposo) [17]. 
Aquando da distribuição do etanol para os tecidos, em certo momento alcança-se um 
equilíbrio de difusão entre o sangue e os tecidos, e a partir deste ponto de equilíbrio pode 
calcular-se a concentração de etanol no sangue. A equação de Widmark permite tal: C = A/ (r 
x p), em que “C” é a concentração de etanol no sangue (g/L), “A” é a quantidade de etanol 
ingerida, “p” é o peso do indivíduo em Kg e o “r” é o fator Widmark (sendo no Homem igual a 
0,68 e na Mulher de 0,55), que relaciona a concentração de álcool nos tecidos e no sangue 
[17]. 
No caso específico da gravidez, aquando da ingestão de bebidas alcoólicas, o álcool 
etílico atravessa com celeridade a placenta, atingindo concentrações no feto semelhantes às 
apresentadas pelamãe [4,7]. Em órgãos com abundante irrigação sanguínea, como o encéfalo, 
em que a velocidade de acumulação é determinada pelo fluxo sanguíneo [4,7], a distribuição 
do etanol processa-se muito rapidamente e este atinge com rapidez concentrações 
significativas para lá da barreira hematoencefálica [4]. 
Para além de ser solúvel em água, e como tal, ser distribuído facilmente pelos tecidos 
corporais, o etanol sofre também uma distribuição pelo tecido adiposo do organismo, ainda 
que a uma escala menor [1]. 
 
Metabolismo 
 
A quase totalidade do álcool etílico ingerido, aproximadamente 90 a 95%, é 
metabolizado por um processo de oxidação em duas etapas, que ocorre nos hepatócitos [17]. 
A primeira etapa desta oxidação é a passagem do etanol a acetaldeído e tem lugar no 
citoplasma celular [2,4,17,21]. Esta reação pode ocorrer através de três mecanismos diferentes 
dependentes de três enzimas distintas [17]. 
A principal via de oxidação do etanol é a da álcool-desidrogenase (ADH), que até há 
poucos anos era a única via conhecida para esta degradação [1,4,7,16,17,21]. O etanol é 
transformado em acetaldeído por ação desta enzima tendo como cofator a nicotinamida-
adenina-dinucleótido (NAD), que é reduzida a NADH [4,7,17,21]. A ADH tem elevada incidência 
nos hepatócitos do fígado, mas também nas células do estômago[1,7,17]. Esta reação é 
catalisada pela NAD que se consome muito rapidamente em todo o processo [17]. Assim, a 
velocidade desta reação será determinada pela reoxidação da NADH, que pode ocorrer por 
diversas vias, nomeadamente pela redução do piruvato em lactato, por ação da lactato 
desidrogenase (LDH) [17]. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 8 
A segunda via de metabolização do álcool etílico em acetaldeído envolve o sistema 
microssomal de oxidação do etanol, que se encontra no retículo endoplasmático [4,16,17,21]. 
Neste são oxidados cerca de 10% do etanol, desde que se apresente em concentrações 
elevadas no sangue [6,21] e ocorre principalmente em situações de consumo crónico de álcool 
etílico [6,4,7,17,21]. A principal enzima envolvida nesta via é a isoforma do citocromo P-450, a 
CYP2E1 [6,16,17,18]. Esta reação tem como cofator o NADPH, sendo reduzido a NADP no decorrer 
da oxidação do etanol [7,17]. Este sistema não é específico do etanol, como não é nenhuma das 
vias de oxidação desta molécula [4,17], pelo que pode ser um importante local de interação do 
álcool etílico com outros fármacos devido à competição para o mesmo sistema de oxidação 
[4,6,7,17]. Por essa razão, o consumo agudo de etanol pode diminuir a metabolização de diversos 
fármacos como antidepressivos tricíclicos, neurolépticos ou benzodiazepinas, potenciando 
assim o seu efeito a nível do SNC [4,6,7,23]. 
A terceira via de metabolização do etanol em acetaldeído ocorre por ação da enzima 
catalase [1,4,6,7,17] que está presente na maioria dos tecidos, com especial incidência nos 
microssomas hepáticos [17]. Esta via oxidativa tem uma importância menor na degradação do 
etanol uma vez que utiliza peróxido de hidrogénio, composto que está presente em pouca 
quantidade nos hepatócitos [1,6,17,18]. 
De notar que estas vias não são específicas do etanol podendo ocorrer com outros 
álcoois [17]. 
Esta primeira reação de oxidação pode ser reversível, mas o acetaldeído é 
rapidamente metabolizado, sendo que raramente ocorre a reação inversa [1, 17]. 
A segunda etapa da oxidação do etanol é a oxidação do acetaldeído previamente 
formado em ácido acético [1,4,7,17]. Esta reação é catalisada pela enzima aldeído desidrogenase 
(ALDH) e ocorre na mitocôndria, utilizando também o NAD como cofactor [4,7,17,18]. Se a 
regeneração deste cofator for insuficiente, esta via de metabolização torna-se saturada [4]. 
A figura seguinte (Figura 1) demonstra as diferentes vias e etapas da oxidação do 
etanol: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Metabolismo do Etanol, (adaptado de Calabuig, (2004)) [17] 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 9 
O acetaldeído é bastante tóxico e é responsável por sintomas típicos da intoxicação 
por etanol, nomeadamente rubor facial, hipotensão, náuseas ou vómitos [4]. Esta situação 
toma particular importância em situações de défice genético de ALDH, como acontece nos 
povos orientais e originários do Anel do Pacífico [7,17,24]. 
O ácido acético é finalmente oxidado em dióxido de carbono e água numa última 
etapa que envolve o ciclo de Krebs [4,17,21]. 
 
Excreção 
 
Como já descrito anteriormente, a grande maioria do etanol ingerido é eliminado 
metabolicamente no fígado através de oxidações enzimáticas (cerca de 90 a 95%), sendo que 
a restante quantidade é excretada sem alterações pelos rins, pulmões e pele (através do suor) 
[1,4,7,14,15,22]. Há ainda uma ínfima quantidade que pode ser excretada pela saliva ou pelo leite 
em mães lactantes [17]. 
A excreção através dos pulmões ocorre devido à elevada volatilidade do álcool etílico. 
Representa cerca de 2 a 3% do total do etanol excretado e é extremamente importante em 
termos analíticos, uma vez que é através deste tipo de eliminação que se determina a 
quantidade de álcool etílico presente no ar expirado, de onde se estima a quantidade de 
álcool no sangue [17]. 
Calcula-se que o álcool etílico detetado em 2000 mL de ar expirado corresponda à 
mesma quantidade em 1 mL de sangue arterial [9], o que significa que a concentração de 
etanol no ar expirado equivale a cerca de 0,05% da concentração sanguínea [4]. Esta 
determinação é extremamente importante devido à relação causal entre a ingestão de álcool 
etílico e os acidentes rodoviários, havendo por isso uma restrição legal que limita a condução 
sob o efeito deste composto [4]. 
No rim, o etanol chega sem ter sido metabolizado e passa através do glomérulo sem 
sofrer qualquer alteração, não ocorrendo reabsorção tubular, fazendo com que haja sempre 
uma pequena concentração de álcool etílico na urina em caso de ingestão alcoólica [17]. 
 
 
1.1.2 Caraterização da Intoxicação Alcoólica Aguda 
1.1.2.1 Definição de intoxicação aguda 
 
Uma intoxicação aguda ocorre por exposição a uma determinada substância 
psicoativa, tóxica para o organismo, de absorção rápida e cuja exposição é de curta duração. 
Caracteriza-se por distúrbios no nível da consciência, cognição, perceção e comportamento. 
As manifestações clínicas ocorrem logo após o contacto com o tóxico, e portanto com 
rapidez, sendo que a duração dos sintomas resultante da intoxicação é habitualmente curta 
[17,25]. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 10 
1.1.2.2 Caraterização da intoxicação alcoólica aguda 
 
Os efeitos tóxicos do etanol no organismo podem resultar de uma ação tóxica aguda, 
designada intoxicação alcoólica aguda, vulgarmente conhecida como embriaguez e, uma ação 
tóxica crónica (alcoolismo crónico). Embora a intoxicação crónica pelo etanol também 
constitua um grave problema de saúde pública, o foco deste estudo incidirá sobre a 
intoxicação alcoólica aguda, cujas manifestações agudas estão relacionadas com a ação direta 
do álcool sobre o sistema nervoso central. 
Os efeitos tóxicos associado à ingestão de etanol e as suas consequências nefastas 
para o organismo são hoje reconhecidos pela sociedade e, inclusivamente enfatiza-se a 
importância de um consumo moderado [6]. Todavia, a ocorrência de intoxicações alcoólicas 
agudas registadas pelos serviços de urgência dos hospitais não deixa de ocorrer. 
A intoxicação alcoólicaaguda decorre do elevado consumo de etanol [17]. Apresenta 
um conjunto de sinais e sintomas relacionados com a ação direta do etanol sobre o SNC 
[2,4,6,26], exercendo o seu efeito depressor, após absorção, ao atingir as formações corticais e à 
medida que a concentração vai aumentando, alcança as funções vegetativas [13]. Os sintomas 
são dependentes de vários fatores, nomeadamente da concentração de etanol no sangue 
[2,4,7,14,17]. Portanto, apresenta um efeito dose dependente [4]. 
Considerando a sintomatologia apresentada pelo doente intoxicado e, correlacionando 
a mesma com as concentrações de etanol no sangue, a intoxicação alcoólica aguda pode 
classificar-se em vários graus [17,27]. Na intoxicação moderada, considerando concentrações 
entre 20 e 60 mg/dL) [4,7,23], o indivíduo começa por exibir euforia, relaxamento, diminuição 
da preocupação e rubor facial. À medida que as concentrações de etanol aumentam pode 
ocorrer ataxia, discurso arrastado, aumento do tempo de reação, taquicardia, redução 
gradual da acuidade visual, nistagmo e diaforese [4,7,6,17,18,23]. Para níveis acima de 130 mg/dL, 
começa a surgir disforia, em detrimento da euforia, e podem surgir náuseas, vómitos e 
desequilíbrio [4]. 
Em intoxicação profunda produz-se sedação que progride para um estado de 
inconsciência, coma, depressão respiratória [4,6,7,17,18] e pode ocorrer aspiração pulmonar [23]. 
Os indivíduos podem também apresentar temperatura corporal, pressão sanguínea, e pulso 
baixos [18,23]. Estes sintomas podem levar à morte, sendo que a linha entre os efeitos 
anestésicos do etanol e os letais é muito ténue [4,18]. A concentração a que estes efeitos se 
manifestam é variável [16,18,23] estando dependentes de fatores a seguir explicados. Contudo, é 
provável que para níveis iguais ou superiores a 300 mg/dL a maioria dos indivíduos (com 
consumo não crónico de álcool) se encontre em estado de coma [18,23]. 
Os sintomas referidos são potenciados quando administrados em concomitância com 
fármacos depressores do SNC, como sejam as benzodiazepinas [6,7]. 
Além da concentração sanguínea, os efeitos do etanol no indivíduo dependem da 
habituação do organismo ao tóxico, isto é, a tolerância a nível farmacocinético (metabolismo 
pela ADH e pelo sistema CYP2E1 está aumentado) e a nível farmacodinâmico (resistência aos 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 11 
efeitos do etanol a nível celular) [7,16]. Como resultado dessa tolerância, em casos de 
alcoolismo crónico o indivíduo pode estar acordado com concentrações sanguíneas de etanol 
entre 500 e 600 mg/dL [23]. Assim, apesar de os indivíduos com intoxicação alcoólica aguda 
passarem por uma sequência progressiva de eventos, não é, no entanto, possível, associar a 
uma determinada concentração de etanol no sangue os sintomas particulares da intoxicação 
sem conhecer os padrões de consumo do doente [7]. 
 
 
1.1.2.3 Tratamento da intoxicação alcoólica aguda 
 
Para o tratamento da intoxicação alcoólica aguda não existe um antídoto específico, 
ao contrário do que acontece para outros tóxicos [23]. Ao nível da descontaminação, 
considerando a rápida absorção do etanol, não é indicada a lavagem gástrica, a não ser que 
se suspeite da ingestão concomitante de outro tóxico, ou ainda se se tratar da ingestão 
massiva de etanol, e, no máximo, deve ser feita após os primeiros 30 a 45 minutos que se 
sucedem à ingestão [23]. 
Deste modo, na intoxicação alcoólica aguda o tratamento a realizar é de suporte [23], 
sendo os principais objetivos o de acelerar a eliminação do etanol e neutralizar os seus 
efeitos depressores sobre o SNC [13], permitindo a estabilização da condição clínica do doente 
[16]. O tipo de intervenção a realizar para a sua estabilização estará necessariamente 
dependente da apresentação clínica do intoxicado [16]. 
O tratamento deve assegurar uma função respiratória adequada [28], sendo que a 
observação da respiração deve ser feita e, se necessário proceder à proteção das vias aéreas 
para prevenir aspiração. A intubação e ventilação assistida são realizadas quando o doente se 
encontra extremamente intoxicado ou já em estado comatoso [7,16,23]. A administração de 
fluidos por via intravenosa, quando clinicamente indicada, tem como objetivo a reidratação 
do doente e simultaneamente correção do desequilíbrio eletrolítico, assim como da 
hipoglicemia e eventuais hipovitaminoses [28]. São administrados por esta via glucose, tiamina 
(vit.B1) e cloreto de sódio [7,16,23]. A tiamina é administrada em simultâneo com a glucose para 
evitar a diminuição induzida por esta última, impedindo que ocorra uma encefalopatia de 
Wernicke, particularmente em alcoólicos. Em doentes com demarcada agitação e, até 
violência, poderão ser administrados fármacos com propriedades farmacológicas sedativas, 
nomeadamente benzodiazepinas ou mesmo neuroléticos (habitualmente tiaprida ou 
haloperidol) [7,16,27]. Contudo, é de salientar a possibilidade de ocorrência de interações dos 
fármacos referidos com o álcool, pelo efeito aditivo de ambos, o que pode conduzir a um 
quadro de depressão respiratória [7,16]. 
De um modo geral, o tratamento de suporte é suficiente para estabilizar o doente 
intoxicado. Todavia, em situações de graves intoxicações que resultam em depressão 
respiratória ou coma, pode ser necessário acelerar o processo de eliminação do etanol 
recorrendo à hemodiálise [7,23]. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 12 
A maioria dos intoxicados após o tratamento de suporte recupera num período de 4 a 
6h [23]. 
Uma outra via para acelerar o processo de eliminação é a utilização de metadoxina 
(piridoxol L-2-pirrolidona-5-carboxilato) [17,27,28]. Este composto permite uma maior taxa de 
eliminação do etanol [17,28,27], e portanto, uma diminuição na concentração de etanol no 
sangue e tecidos. Assim, diminui o tempo de meia vida no sangue, o que se traduz numa 
redução do dano celular causado pelo acetaldeído [17]. A recuperação clínica do doente é 
também mais rápida [6,17], mas não dependente do processo acelerado de biotransformação do 
etanol [6]. Um estudo controlo, randomizado e duplamente cego, Shpilenya, Leonid S. et al 
indica que a melhoria dos sintomas num menor espaço de tempo, em relação ao grupo 
controlo, estará relacionada com o efeito direto no sistema nervoso central. Assim, estes dois 
efeitos da metadoxina atuarão de modo sinérgico no tratamento da intoxicação alcoólica 
aguda [28]. 
 
 
1.2 Enquadramento legal da condução sob influência do etanol 
 
Os acidentes de viação são uma das consequências mais graves do consumo de álcool. 
No ano de 2011, ano a que se refere o presente estudo, registaram-se, em Portugal, 52.115 
condutores implicados em acidentes de viação, dos quais 90,8% foram submetidos ao teste do 
álcool. Destes, 5,6% apresentaram uma taxa de álcool no sangue (TAS) igual ou superior a 0,5 
gramas por litro de sangue. As estatísticas revelam de facto a postura despreocupada dos 
condutores em relação ao consumo de etanol. De entre várias medida para alterar esta 
realidade, cabe ao Estado, por via da legislação controlar este grave problema de saúde 
pública [26]. 
A TAS, como referido anteriormente, depende de uma série de fatores do próprio 
indivíduo e do tipo de bebida, impedindo o condutor de quantificar o quanto pode beber sem 
pôr em risco a segurança da condução e/ou sem incorrer em infração. A generalidade da 
população considera conhecer o seu próprio “limite” em termos de consumo de etanol, 
contudo, a realidade demonstra que, de um modo geral, quando se admiteque se está a 
chegar ao "ponto crítico" há muito que este já foi ultrapassado e o indivíduo já não está em 
condições de efetuar uma condução com segurança. Isto porque, a ação do etanol no SNC, já 
descrita anteriormente, compromete uma série de faculdades do condutor, nomeadamente o 
aumento do tempo de reação, a diminuição do campo visual, a diminuição do estado de 
alerta que permita uma condução preventiva, o aumento da autoconfiança e predisposição 
para correr riscos, a falta de coordenação psicomotora, entre outros, que põem em risco o 
exercício da condução [29]. 
Deste modo, em Portugal, foi criada legislação com o objetivo de regular a condução 
automóvel sob a influência do etanol, nomeadamente o Decreto-Lei n.º 114/94, de 03 de 
maio, vulgarmente conhecido como Código da Estrada, sujeito desde então a diversas 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 13 
alterações ao longo dos anos, introduzidas por inúmeros diplomas. Este estipula claramente 
no seu artigo nº 81 que é proibido por lei conduzir veículos automóveis sob o efeito de 
bebidas alcoólicas, sendo que na prática tal não acontece, uma vez que existe um limite 
abaixo do qual é permitido conduzir. Atualmente, estão estabelecidos os limites permitidos 
por lei para a condução sobre o efeito do etanol. Assim, considera-se sob a influência do 
etanol o condutor que apresentar uma TAS superior a 0,5 g/L, constituindo uma contra-
ordenação grave até 0,79g/L. Sendo a TAS igual ou superior a 0,8 g/L e inferior a 1,2 g/L, a 
contra-ordenação cometida é muito grave. Caso a TAS seja igual ou superior a 1,2 g/L 
considera-se crime, punido com pena de prisão até um ano ou pena de multa até 120 dias, 
com inibição de conduzir de 3 a 36 meses [30]. 
Presentemente existe a possibilidade de reduzir a taxa máxima de alcoolemia de 0,5 
para 0,2 g/L de sangue para alguns condutores, nomeadamente para os condutores em regime 
probatório e de veículos de socorro ou de serviço urgente, de transportes coletivos de 
crianças, táxis, automóveis pesados de passageiros e de mercadorias perigosas. Esta medida 
faz parte de outras que em breve poderão fazer parte do Código da Estrada e que realça a 
atenção que a tutela está a dar à questão da condição sob o efeito do etanol e que é 
responsável por inúmeros acidentes ano após ano nas estradas portuguesas [31]. 
Segundo a Lei n.º 18/2007, de 17 de maio, elaborada para avaliação da influência do 
etanol nos condutores ou peões envolvidos em acidentes de viação, é necessário proceder à 
deteção e quantificação da TAS [32]. Como já foi referido anteriormente, a conversão dos 
valores do teor de álcool etílico no ar expirado (TAE) em TAS é baseada no princípio de que 1 
mg de álcool por litro de ar expirado é equivalente a 2,3 g de álcool por litro de sangue [17]. 
Assim, a quantificação é feita por teste no ar expirado, efetuado em analisador qualitativo ou 
quantitativo, ou por análise de sangue (quando não for possível realizar o teste em analisador 
quantitativo). A colheita de sangue decorre no mais curto prazo possível, após o ato de 
fiscalização ou a ocorrência do acidente. Tem de ser efetuada numa instituição pública, 
normalmente é feita recorrendo a um Serviço de Urgência Hospitalar. Posteriormente, a 
amostra de sangue é enviada ao Serviço de Química e Toxicologia Forenses do Instituto de 
Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) da área respetiva, pelo estabelecimento que 
procedeu à colheita. O exame para quantificação da TAS é efetuado com recurso a 
procedimentos analíticos, que incluem a cromatografia em fase gasosa. No prazo máximo de 
30 dias a respetiva delegação do INMLCF envia o resultado obtido à entidade fiscalizadora que 
o requereu, por meio de um relatório. O resultado do exame de sangue para quantificação da 
TAS prevalece sobre o resultado do TAE realizado em analisador quantitativo [30]. Nas 
situações em que é requerida contraprova, de acordo com a vontade do examinando, é feito 
novo teste no ar expirado, efetuado em analisador quantitativo, ou análise de sangue, 
devendo ser de imediato a ele sujeito, qualquer que seja a opção pretendida. O resultado da 
contraprova prevalece sobre o resultado do exame inicial [30,32]. 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
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 14 
2. Objetivos 
 
Portugal encontra-se entre os dez países da Europa com maior consumo de álcool, 
segundo um relatório de Março de 2012, da Organização Mundial de Saúde, intitulado “Álcool 
na União Europeia” [33]. Deste exagero no consumo resultam uma série de consequências 
adversas para o indivíduo, mas também para a sociedade civil, tornando o consumo de álcool 
um problema de saúde pública. 
Tendo em conta que em Portugal existem poucos estudos epidemiológicos 
relacionados com o consumo agudo de etanol, a população que dá entrada num SUG, por 
intoxicação devida ao etanol, é a amostra ideal para o principal objetivo deste estudo que 
consiste em determinar o perfil epidemiológico da população referida, nomeadamente 
doentes do CHCB, bem como a influência dessas caraterísticas demográficas no excessivo 
consumo de etanol. 
São objetivos específicos do estudo: 
 Avaliar as caraterísticas demográficas dos doentes intoxicados; 
 Identificar, se possível, eventuais estupefacientes ou outros medicamentos 
concomitantes com a intoxicação alcoólica aguda; 
 Identificar, sempre que possível, o tratamento e destino instaurados aos 
doentes intoxicados; 
 Analisar as concentrações de etanol no sangue; 
 Identificar os casos de reincidência do doente, pela mesma causa, ao SUG do 
CHCB; 
 Perceber os períodos de maior afluência ao serviço de urgência do CHCB por 
intoxicação alcoólica aguda. 
 
 
3.Materiais e Métodos 
3.1 Tipo de estudo 
 
 Este é um estudo retrospetivo, observacional que incluiu doentes maiores de 18 anos, 
que recorreram ao SUG do CHCB por intoxicação alcoólica aguda, de 1 de janeiro até 31 de 
dezembro de 2011. 
 
 
3.2 Seleção da amostra 
 
 Após prévia autorização do Conselho de Administração, da Comissão de Ética e da 
Direção do SUG do CHCB, deu-se início à seleção da amostra de interesse. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 15 
Para a seleção da amostra foram consultados episódios de urgência (EU´s) dos 
doentes com intoxicação alcoólica aguda, em formato digital. Em cada EU consultado 
constava o relatório clínico elaborado pelo médico (aquando do respetivo EU). 
Antes da seleção propriamente dita da amostra, os Serviço de Sistemas e Tecnologias 
de Informação (SSTI) do CHCB procederam a uma pré-seleção de possíveis EU de interesse, de 
entre todos os 61.598 EU´s ocorridos durante o ano de 2011. Para isso realizaram uma 
pesquisa informática em três parâmetros principais dos relatórios clínicos resultantes desses 
EU’s (diagnóstico, história e queixas do doente) garantindo assim uma maior abrangência de 
EU´s. Para o efeito foram utilizadas palavras-chave relacionadas com o tema em estudo, 
como sejam “álcool”; “etanol”; “intoxicação alcoólica aguda”; “embriaguez”; “alcoolismo”; 
“etilismo”, entre outras. Contudo, EU´s resultantes de intoxicação alcoólica aguda poderão 
não ter sido pré-selecionados nesta pesquisa, pelos motivos a seguir enunciados: 
 Em muitos casos o doente recorre ao SUG, não pela intoxicação alcoólica 
aguda em si, mas por uma consequência da mesma, como por exemplo uma 
fratura provocada por queda da própria altura. Nestes casos, se o clínico, em 
nenhum dos parâmetros em análise do relatórioreferiu que o doente estava 
etilizado, o EU não foi selecionado para este estudo; 
 Quando o diagnóstico foi referido como “Outro” e no restante relatório não se 
indicou qualquer informação acerca da intoxicação alcoólica aguda do 
doente; 
 Quando foi dada alta ao doente sem qualquer diagnóstico estabelecido; 
 
Assim, como resultado desta pré-seleção surgiram 1.574 EU’s, dos quais 386 foram 
selecionados constituindo a amostra em estudo, sendo que os restantes 1.188 episódios foram 
excluídos por diversos motivos (ausência de dados de intoxicação, situações relacionadas com 
etilismo crónico ou ainda alguns casos em que o doente intoxicado era menor, porque apesar 
de a pesquisa ter sido direcionada para indivíduos maiores de 18 anos, foram selecionados 
alguns EU’s, pois a pesquisa feita pelos SSTI contempla apenas o ano e não o mês, 
considerando erradamente esses doentes como tendo 18 anos, quando tinham 17 anos à data 
do EU). 
Os 386 episódios referem-se a 386 doentes diferentes. Quando o mesmo doente 
recorreu mais que uma vez ao SUG ao longo de 2011, foi contabilizado uma vez, todas as 
outras vezes em que pode ter-se dirigido ao SUG pela mesma causa (intoxicação alcoólica 
aguda) não contaram para efeitos de amostra, tratando-se de um dado analisado em cada 
doente (“reincidência pela mesma causa”). O episódio considerado em cada doente, no caso 
de ser reincidente, foi o último registado em 2011. 
 
 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 16 
3.3 Recolha de dados e análise estatística dos mesmos 
 
Após seleção da amostra, a recolha de dados no CHCB consistiu em consultar, 
individualmente, cada um dos relatórios referentes aos EU´s. Tendo em conta que os 
relatórios estão disponíveis informaticamente, para a consulta foi utilizado o Alert®, software 
que permite a informatização do SUG do CHCB. 
Os dados recolhidos em cada relatório de EU foram os seguintes: 
 
 Idade; 
 Sexo; 
 Naturalidade; 
 Hora de entrada no SU; 
 Antecedentes toxicológicos/psiquiátricos; 
 Vias de entrada (oral, inalação, anal); 
 Concentração de etanol no sangue; 
 Medicamentos detetados; 
 Estupefacientes detetados; 
 Reincidência do doente ao SU pela mesma causa; 
 Processo assistencial (tratamento); 
 Destino do doente após o EU. 
 
 A análise dos dados foi feita recorrendo à estatística descritiva, utilizando o programa 
da Microsoft: Office Excel 2010™. Os resultados obtidos foram apresentados em percentagem 
no caso de variáveis qualitativas, sendo que nas variáveis quantitativas os resultados foram 
apresentados também sob a forma de média (± desvio padrão). Outras formas de 
apresentação dos resultados serão oportunamente referidas. 
 
 
4. Resultados e Discussão 
 
4.1 Caraterização da amostra 
 
 Durante o ano de 2011, foram atendidos no SUG do CHCB 36.029 doentes, dos quais 
386 representaram intoxicações alcoólicas agudas, significando 1,07% de doentes nesse ano. 
De acordo com as caraterísticas demográficas dos indivíduos em estudo, verificou-se uma 
maior percentagem de indivíduos do sexo masculino (83%). 
Este resultado está de acordo com um estudo publicado por Verelst S. et al, 2012, 
onde num total de 635 doentes (maiores de 16 anos), 67,6% eram do sexo masculino [34]. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 17 
Apesar de se assistir a um crescente consumo de etanol por parte das mulheres ao 
longo dos últimos anos, os hábitos sociais ainda se prendem com quem deve ou não beber, 
isto porque, ainda é mais aceite socialmente a embriaguez de um homem do que a de uma 
mulher. 
A média de idades foi de 41,99 (±18,18), sendo que a idade mínima, já referida 
anteriormente, foi de 18 anos e a máxima registada foi de 91 anos. Esta média de idades 
encontra-se próxima da média de 38 anos referida num estudo de Barrios et al, 2006 [35]. 
A distribuição por faixas etárias encontra-se representada no gráfico 1. Analisando o mesmo 
gráfico, mais de metade dos doentes (60,7%) apresentaram uma idade entre os 28 e os 48 
anos, abrangendo portanto uma faixa etária relativamente jovem. Destaque-se os 30,6% de 
jovens adultos que se encontrava entre os 18 e os 28 anos. Os doentes idosos (indivíduos 
maiores de 65 anos) representaram 13,2% do total de 386 doentes. 
O estudo publicado por Verelst S. et al não se encontra de acordo com os dados aqui 
obtidos, onde 48,3% dos doentes se encontra entre os 41 e os 60 anos [34]. 
 
 
Gráfico 1: Distribuição dos doentes por faixas etárias. 
 
 
4.2 Habilitações literárias/profissão dos doentes intoxicados 
 
 Este é um parâmetro importante para perceber a influência das habilitações literárias 
no consumo e intoxicação por etanol, no entanto este parâmetro não pôde ser analisado 
estatisticamente neste estudo porque este não era um dado constante nos relatórios dos EU 
dos doentes intoxicados. Para o obter, teria de ser feita uma abordagem direta ao doente e 
não apenas a consulta de dados disponíveis no relatório. 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 18 
4.3 Proveniência dos doentes intoxicados 
 
 Aproximadamente metade dos 386 doentes intoxicados (49%) provieram do concelho 
da Covilhã, como mostra o gráfico 2. 
O CHCB presta cuidados de saúde às populações residentes nos concelhos da Covilhã, 
Fundão, Belmonte e Penamacor, sendo por isso pertinente analisar esta distribuição, com 
incidência nos três primeiros concelhos referidos, anexos à cidade da Covilhã. 
 
Gráfico 2: Proveniência dos doentes intoxicados por concelho. 
 
Optou-se por não fazer uma análise de mera distinção entre meio rural e urbano das 
freguesias dos diferentes concelhos, tendo sido analisadas as freguesias de cada concelho, 
para uma análise mais realista das diferentes freguesias, como mostram os gráficos 3, 4 e 5. 
Analisando o gráfico 3 verificou-se que metade dos doentes provieram da cidade da 
Covilhã (54%), sendo a outra metade proveniente das restantes freguesias do concelho. 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 19 
 
Gráfico 3: Distribuição dos doentes por freguesias do concelho da Covilhã. Freguesias versus 
Frequência relativa. 
 
Pelo contrário, no concelho do Fundão (gráfico 4) a maior percentagem de doentes 
pertenciam não à cidade, mas às freguesias. 
Assim, 70% dos doentes intoxicados do concelho do Fundão provieram das restantes 
freguesias e 30% da cidade do Fundão. 
 
 
Gráfico 4: Distribuição dos doentes por freguesias do concelho do Fundão. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 20 
No caso do concelho de Belmonte (gráfico 5), à semelhança do concelho da Covilhã, 
cerca de metade (48%) dos doentes intoxicados provieram da vila de Belmonte e 52% das 
freguesias do concelho. 
 
 
Gráfico 5: Distribuição dos doentes por freguesias do concelho de Belmonte. 
 
 
4.4 Afluência ao SUG durante o ano de 2011 
 
 O gráfico 6 apresenta a distribuição do número de doentes intoxicados por mês, que 
se dirigiram ao SUG desde Janeiro até Dezembro de 2011. 
 
 
 
Gráfico 6: Afluência dos doentes intoxicados ao SUG por mês, durante o ano de 2011. 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 21 
 Pela análise do gráfico 6, de um modo geral, verificou-se uma afluênciade doentes 
intoxicados ao SUG do CHCB pouco variável entre cada mês. Destaque-se novembro como o 
mês em que se registou uma maior afluência (13%). Este resultado acrescido foi explicado por 
um evento organizado pelos estudantes da Universidade da Beira Interior (UBI), a designada 
“Latada”, evento este realizado todos os anos. Destina-se a apresentar à comunidade 
académica e à população covilhanense os novos alunos em cada ano. Este evento tem sido 
caraterizado pelo consumo excessivo de etanol pelos vários estudantes, facto que todos os 
anos conduz muitos jovens universitários a uma afluência maior ao SUG do CHCB, por 
intoxicação alcoólica aguda. 
Em 2011 o evento referido realizou-se a 9 de novembro, o que explica uma maior 
afluência ao SUG nesse mesmo mês. O gráfico 7 permitiu analisar esse facto. Destaquem-se os 
67,3% com intervalo de idades entre 18 e 28 anos no mês de novembro. 
 
Gráfico 7: Distribuição dos doentes por faixas etárias durante o mês de novembro de 2011. 
 
 
4.5 Intervalo de horas de afluência ao SUG 
 
Pela análise do gráfico 8 dirigiram-se ao SUG do CHCB, entre as 20 horas e as 8 horas, 
mais de metade dos doentes (67%). Durante o restante dia a afluência ao SUG foi de 33%. 
De facto, a noite é propícia aos excessos e ao consumo desmesurado de bebidas 
alcoólicas, e é também nesta fase do dia que muitos bares iniciam a sua atividade comercial. 
Contribui para esta estatística o facto de o CHCB estar localizado numa cidade universitária, 
em que os jovens adultos são uma das faixas etárias que mais consome etanol durante o 
intervalo referido. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 22 
 
Gráfico 8: Distribuição por intervalo de horas dos indivíduos intoxicados que acederam ao 
SUG do CHCB. 
 
 
4.6 Vias de contacto com o etanol 
 
 A via oral foi a única via registada neste estudo. 
 Atualmente novas vias de intoxicação por etanol têm sido utilizadas, nomeadamente a 
via anal e vaginal, pois permitem uma absorção mais rápida do etanol, pela exposição direta 
com as mucosas das estruturas referidas, conduzindo a um efeito tóxico mais rápido [36]. Esta 
prática tem sido constatada maioritariamente em jovens e, tendo em conta que a Covilhã é 
uma cidade universitária, com este parâmetro pretendia-se averiguar a existência de casos 
em que outras vias de contacto pudessem estar implicadas na intoxicação alcoólica aguda. 
 
 
4.7 Concentração de etanol no sangue (alcoolemia) 
 
Pela análise do gráfico 9, dos 386 doentes que constituem a amostra em estudo foi 
possível obter a concentração de etanol no sangue em 68% dos casos. Os restantes 32% 
representaram os casos em que a determinação do valor não foi requisitada pelo médico 
aquando do EU ou, ainda que requisitada, a mesma não se encontrava disponível no sistema, 
por deficiência informática. De salientar que o método de deteção utilizado na determinação 
da concentração de etanol no sangue, no laboratório de Patologia Clínica do CHCB foi a 
imunoturbidimetria, cujos resultados no relatório do EU foram apresentados em mg/dL. 
Assim, na análise deste parâmetro procedeu-se à conversão de todos os valores para a 
unidade de referência, g/L. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 9: Determinação da concentração de etanol. 
 
O gráfico 10 representa a frequência relativa da concentração de etanol no sangue 
dos 264 doentes aos quais a determinação deste parâmetro foi realizada. 
 Dos 264 doentes cujo valor foi determinado, 94% apresentaram um nível superior a 
0,50g/L e em 26% dos casos a concentração de etanol foi superior a 3,00g/L. No intervalo de 
concentrações entre 2,00 e 2,50g/L verificou-se um maior número de doentes (23%). 
 Para valores mais baixos (menores que 0,50g/L) os sintomas e as complicações da 
intoxicação alcoólica aguda podem não ser tão acentuados (dependendo obviamente do 
padrão de consumo do indivíduo) não ocasionando a deslocação ao hospital por parte do 
doente intoxicado, fazendo-o apenas para valores mais elevados, a partir dos quais a 
sintomatologia se complica. De salientar os 26% de indivíduos, que apresentaram 
concentração de etanol no sangue superior a 3,00g/L. 
 
 
Gráfico 10: Concentração de etanol no sangue. 
32%
68%
Não Medido/Não Disponível Medido
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 24 
4.8 Associação entre etanol e outros tóxicos 
 
 De todos os dados recolhidos dos relatórios dos EU’s dos doentes, relativos à 
ocorrência de intoxicação alcoólica aguda em concomitância com intoxicação medicamentosa 
ou com drogas de abuso, registaram-se apenas 13 casos. 
Deste modo, em 386 doentes intoxicados, registaram-se 8 casos (2,1%) de intoxicações 
medicamentosas em associação com o etanol. Após análise de possíveis interações entre os 
fármacos identificados em cada doente verificou-se que não está descrita nenhuma interação 
potencialmente perigosa. Contudo, é de salientar o efeito potenciador das benzodiazepinas 
quando consumido em concomitância com o etanol, pois, como já referido neste trabalho, o 
risco de depressão respiratória é grave. 
No caso de intoxicação com drogas de abuso em concomitância com etanol foram 
registados 5 casos (1,3%), todos confirmados laboratorialmente por testes rápidos. Eram 
apenas indivíduos do sexo masculino. Verificaram-se três casos de consumo de cannabis 
positivo, um de cannabis duvidoso e um onde foi detetado cocaína e opiáceos. 
 Num dos doente verificou-se uma intoxicação alcoólica aguda com administração 
simultânea de um raticida (não foi especificado qual). 
 
 
Gráfico 11: Tóxicos administrados em concomitância com o etanol. 
 
Em muitos relatórios de EU’s analisados, a hipótese levantada pelo médico careceu de 
confirmação laboratorial, e a sintomatologia e o tratamento também não puderam confirmar 
a intoxicação efetiva, daí terem sido apenas registados os casos referidos. 
 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 25 
4.9 Reincidência pela mesma causa 
 
Com este parâmetro pretendeu-se averiguar a reincidência dos doentes ao SUG do 
CHCB por intoxicação alcoólica aguda, desde 2005 até ao ano em estudo, 2011. Como mostra 
o gráfico 12, dos 386 doentes, 32% são reincidentes no SUG por intoxicação alcoólica aguda. 
Os casos de reincidência traduziram duas situações distintas: doente crónico que se deslocou 
frequentemente ao SU com episódios de intoxicação alcoólica aguda e o doente que não 
sendo crónico teve vários episódios de intoxicação alcoólica aguda. 
 
 
Gráfico 12: Reincidência dos doentes intoxicados pela mesma causa. 
 
 Além de verificar quais os doentes que reincidiram, fez-se o estudo do número total 
de reincidências de cada doente desde 2005 até 2011, como mostra o gráfico 13. 
 Assim, verificou-se que a maioria dos doentes (39%) reincidiu apenas uma vez, 23% 
reincidiram duas vezes, 10% três vezes e os restantes reincidiram mais que três vezes. 
 
 
Gráfico 13: Reincidências entre 2005 e 2011. 
 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 26 
4.10 Tratamento administrado 
 
Os tratamentos efetuados foram agrupados em várias categorias. Como se verifica 
pela análise do gráfico 13, em 67% dos casos foi realizado tratamento de suporte, que inclui, 
como já descrito nesteestudo, administração por via intravenosa de glucose, tiamina 
(vitamina B1) e cloreto de sódio, constituindo 55% do total de 67% referido para todo o 
tratamento de suporte. Em doentes com demarcada agitação foram administrados 
neuroléticos, em 9% dos casos, e benzodiazepinas em 3% dos casos. 
Foi verificado que em 12% dos doentes foram administrados outros tratamentos não 
diretamente relacionados com a sintomatologia da intoxicação alcoólica aguda, como seja a 
utilização de broncodilatadores para doentes asmáticos intoxicados. 
Foi registado um só caso de descontaminação, não justificando uma classificação 
única pela sua percentagem residual, tendo sido incluído em “Outros”. Tratou-se da lavagem 
gástrica com carvão ativado, num um indivíduo do sexo masculino, que apresentou 
simultaneamente uma intoxicação alcoólica aguda e uma intoxicação medicamentosa 
provocada por alprazolam (5 comprimidos de 0,5mg) e sertralina (5 comprimidos de 100mg). 
Também foi registado um caso de tratamento com antídoto, o flumazenilo, num 
doente intoxicado por etanol, mas no relatório do EU não constava qualquer informação 
acerca da intoxicação medicamentosa por benzodiazepinas acerca das benzodiazepinas. Foi 
incluído na categoria “Outros”. 
Em 21% dos casos nenhum tratamento foi instituído ou não foi referido no relatório do 
EU. Em nenhum dos casos foi administrada metadoxina. 
 
 
Gráfico 14: Tipo de tratamento administrado aos doentes. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 27 
4.11 Destino final do doente intoxicado 
 
 O destino do doente após o EU foi classificado de acordo com o gráfico 14. Pela 
análise do referido gráfico verifica-se que 60% dos indivíduos tiveram alta diretamente do SUG 
do CHCB. Seguiram para internamento 25 doentes (6%). 
 Dos 386 doentes, 41 deles (11%) abandonaram o SUG não tendo sido, nestes casos, 
atribuída a alta. 
 A percentagem de doentes transferidos foi de 1%, o que correspondeu a 5 doentes 
transferidos, 3 para os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) e 2 para outros hospitais 
cujo nome não foi mencionado no relatório do EU. 
Relativamente aos 22% de indivíduos cujo destino foi “Outros” englobam-se o 
reencaminhamento para consulta e os doentes intoxicados que permaneceram nas 
especialidades do SUG do CHCB para observação. 
Não foi verificada nenhuma morte nos EU analisados. 
 
 
Gráfico 15: Destino final do doente intoxicado após ter sido atendido no SUG do CHCB. 
 
 Considerando os parâmetros analisados neste estudo, foram poucos os artigos 
publicados que permitiram uma comparação além de alguns dados demográficos, como o sexo 
e a média de idades dos doentes intoxicados. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
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5. Conclusão 
 
O presente estudo permitiu descrever o perfil demográfico dos doentes que dão 
entrada no SU do CHCB por intoxicação alcoólica aguda, no ano de 2011. 
De acordo com os resultados, verificou-se existir um maior número de doentes do sexo 
masculino que se dirigiram ao SUG do CHCB. A média de idades foi de aproximadamente 42 
anos, a maioria proveniente do concelho da Covilhã. O período de maior afluência de 
intoxicados foi entre a meia-noite e as oito horas, tendo sido novembro o mês com maior 
número de doentes. 
A única via de contacto com o etanol foi a via oral. 
A concentração de etanol no sangue foi na maior parte dos casos superior a 50mg/dL, 
tendo sido prevalente o intervalo entre 2,00 e 2,50 g/L. 
No pequeno número de casos em que foi possível analisar que o tóxico envolvido não 
foi somente o etanol, verificou-se que também foram consumidos principalmente 
benzodiazepinas. 
Na maioria dos casos, os doentes não regressaram ao SUG por motivo de intoxicação 
alcoólica aguda. 
O tratamento administrado aos doentes foi maioritariamente de suporte. Nenhum dos 
doentes foi tratado com metadoxina. 
A alta foi o principal destino dos doentes após o EU, não tendo sido verificadas 
mortes. 
A deteção e sinalização de casos que dão entrada num SUG, por via do estudo do 
perfil demográfico são condições fundamentais para a tomada de decisões, naquelas que são 
as estratégias para o desenho de uma política de saúde mais eficaz na área do consumo 
abusivo de etanol. Associado a este estudo realizado seria essencial analisar e compreender o 
efeito dos padrões de consumo de cada doente em concreto, o seu nível educacional e 
capacidade económica, para assim se poder estabelecer correlação entre o perfil demográfico 
dos doentes intoxicados e os padrões de consumo de etanol apresentados. 
Intoxicação Alcoólica Aguda: 
Casuística no Serviço de Urgência Geral do Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. 
 29 
6. Bibliografia – Parte I 
 
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Disponível em: 
http://books.google.pt/books?id=OWFiVaDZnkQC&pg=PA448&dq=Wallgren+H.+Actions
+of+alcohol.+Amsterdam:+Elsevier;+1970&hl=ptPT&sa=X&ei=G06GUca3LqmP7Abis4GIB
A&ved=0CEkQ6AEwBQ#v=onepage&q=Wallgren%20H.%20Actions%20of%20alcohol.%20A

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