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INTRODUÇÃO Olá, pessoal! estamos de volta para fechar o ciclo de preparação para o Enem 2013 na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias na disciplina de História. Dessa vez vamos trabalhar um assunto que sem dúvida é marcado por polêmicas e controvérsias. Vamos estudar a evolução das leis e do direito ao longo da história e mais especifi camente na história recente do Brasil. Ainda que tenhamos como foco principal a habilidade 12 da Matriz de Referência do Novo Enem que destaca o papel da justiça como instituição na organização das sociedades, poderemos sem dúvida contemplar outras habilidades neste mesmo contexto, afi nal cidadania e democracia estão diretamente associadas ao cumprimento de deveres e na garantia de direitos (H24). Outra situação que poderemos relacionar ao direito diz respeito às lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas (H22). OBJETO DO CONHECIMENTO Movimentos sociais – junho de 2013: O que estará nos livros de história está sendo escrito agora! sossus Juntos por um Brasil melhor Educaç ão Saúde Para Todos A transformação é Resultado de Mobilização. VivaO povo! Fora Corrupção! #vemprarua Ao que parece, a afi rmativa de Sérgio Buarque de Holanda de que o brasileiro é um povo cordial, e que despertou tantos debates, precisará ser revista. Ainda é cedo para avaliar, pois o processo ainda não está concluído, mas, ao que parece, junho de 2013 poderá representar um novo marco na história dos movimentos sociais brasileiros. CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS 13 Fascículo ENEM EM FASCÍCULOS - 2013 No mundo, a realização de manifestações sociais não é nenhuma novidade. Estudiosos, principalmente historiadores, sociólogos, antropólogos e até jornalistas costumam atribuir determinados rótulos a muitas dessas manifestações de acordo com as características e com o contexto que gerou cada movimento. Nos momentos fi nais do século XX e no início do século XXI assistimos a várias dessas manifestações, e ainda que possuíssem objetivos distintos, mostravam o desejo de mudança por uma parcela signifi cativa da população. Consequência da globalização, em que a informação é instantânea devido especialmente ao uso da Internet, as redes sociais passaram a desempenhar um papel fundamental na organização de eventos como passeatas, greves, comícios, entre outros. Como exemplo disso podemos fazer referência aos movimentos que na Europa exigiam do Estado soluções para a crise econômica de seus países. Nesse caso, a elevada carga tributária, as altas taxas de desemprego e a recessão econômica fi guram entre os principais problemas que mobilizaram a população desses países a irem às ruas. No Oriente Médio e no norte da África, a população, a despeito de todo o controle exercido pelo Estado, usando da força das redes sociais, saiu às ruas para protestar contra governantes autoritários que se perpetuavam no poder. Nesses países, o desejo de ter direitos políticos foi o principal mobilizador das manifestações que fi caram conhecidas como “Primavera Árabe”. Desde o período colonial, passando pelo Império até chegar à fase republicana, tivemos movimentos sociais de composições e objetivos diversos, mas poucos ganharam uma dimensão nacional como o que estamos presenciando em 2013. Em junho de 2013, no Brasil, irromperam dezenas de manifestações que se espalharam por todo o país, e porque não dizer, pelo mundo. Brasileiros espalhados pelo mundo fi zeram manifestações de apoio e solidariedade ao movimento no Brasil. Com este fascículo de Ciências Humanas e suas Tecnologias, encerramos nossa contribuição para o seu sucesso no Enem 2013, após tratarmos de relevantes objetos do conhecimento dessa Área ao longo do nosso projeto. Para fi nalizar, no fascículo 13, trataremos dos Movimentos Sociais, da Crise Alimentar Global, do Agronegócio no Brasil e da Ideologia, Cultura e Meios de Comunicação de Massa. Bom estudo para você! CARO ALUNO, http://paroutudo.com/2013/06/18/protesto-com-criatividade-fi ca-melhor- ainda-conhecam-os-melhores-cartazes-e-virais-da-internet-bcq/protestos- manifestacao-todo-brasil-brasilia-cartazes-criativos-vem-pra-rua-babado- confusao-queirda-11-2/ Enem em fascículos 2013 3Ciências Humanas e suas Tecnologias Tudo teria iniciado com os protestos da população em São Paulo contra o aumento de R$ 0,20 determinado em conjunto pela prefeitura e pelo governo do Estado sobre as tarifas de ônibus. Embora não existisse alguém que personifi casse uma liderança única, a mobilização foi articulada pelo movimento Passe Livre (MPL), que, segundo alguns, teria se inspirado nas lutas sociais de 13 anos antes, de grupos do PT em Florianópolis com refl exos em Salvador. Em São Paulo, aos poucos o movimento foi ganhando a adesão de vários grupos insatisfeitos com as políticas públicas em nível municipal, estadual e mesmo federal. As declarações do prefeito Fernando Haddad (PT) e do governador Geraldo Alkmim (PSDB) sobre a impossibilidade de retroceder no que se refere ao aumento já decretado fez o movimento crescer, obrigando a ambos reverem suas posições. Depois de receberem representantes do Movimento Passe Livre o aumento acabou revogado em São Paulo. Nesse contexto, podemos destacar que não se tratava apenas de um movimento em busca da redução da tarifa de ônibus, pois vários cartazes diziam: “NÃO É SOMENTE PELOS R$ 0,20”; afi nal, mesmo com o avanço das negociações e da declaração do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que revogava o aumento, o movimento não arrefeceu. De fato, nos cartazes escritos à mão, nas faixas ou nas pinturas nos rostos de muitos jovens que participavam do movimento fi cava claro que existia uma grande e heterogênea pauta de reivindicações, como a necessidade de maiores investimentos na saúde e na educação, a crítica aos Projetos de Emenda Constitucional de número 30 e 37, além do questionamento dos gastos do governo em megaeventos esportivos (Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos). Aliás, neste período muitos protestos ocorreram em dias de jogos da Copa das Confederações nas cidades-sedes. http://frasesdatelinha.blogspot.com.br/2013/06/frases-protestos-2013-brasil. html#.Ud3-O9i2Yek http://s2.glbimg.com/DymcqJWYZKm4m3gUd8i0BE6yXbo=/620x470/s.glbimg. com/es/ge/f/original/2013/06/19/gata_cartaz_protesto_brasil_mexico_reu.jpg Tais manifestações e questionamentos ocorrem em meio a um contexto de avanço da infl ação e das ameaças das organizações econômicas internacionais de classifi cação de risco de rebaixar a classifi cação do Brasil, contribuindo para diminuir os índices de aceitação do governo da presidente Dilma. Outra situação que chama a atenção é que os manifestantes buscaram um distanciamento de grupos e legendas políticas. Os que insistiam em levar para os protestos bandeiras de partidos logo foram hostilizados pela grande maioria dos manifestantes. As redes sociais, assim como na Primavera Árabe, tiveram um papel importantíssimo, conseguindo mobilizar milhares de pessoas em curto espaço de tempo. No Twiter era comum a conclamação da população com #vemprarua ou ainda #ogiganteacordou. Vídeos no Youtube, fotos no Instagran, grupos no Facebook trouxeram a maior mobilização desde o “Fora Collor”, nos anos 1990, e da campanha das Diretas Já, nos anos 1980. http://ecosdaslutas.blogspot.com.br/2013/06/sao-luis- vem-pra-rua-maior-arquibancada.html http://www.macacosmemordam.com/os-melhores -cartazes-dos-protestos-no-brasil/ Embora fossem as manifestações de composição bastante heterogênea, pode-se observar que, embora predominassem jovens, não era raro encontrar representantes de diversas gerações. http://paroutudo.com/2013/06/18/protesto-com-criatividade-fica-melhor- ainda-conhecam-os-melhores-cartazes-e-virais-da-internet-bcq/protestos- manifestacao-todo-brasil-brasilia-cartazes-criativos-vem-pra-rua-babado- confusao-queirda-8/ Enem em fascículos 2013 4 Ciências Humanas e suas Tecnologias Nesses dias observou-se que o sentimento de brasilidade escondido e adormecido parecia ter tomado conta do País. Mesmo durante os jogos da Copa da Confederações esse sentimento não se reduzia a um ufanismo pela atuação do Brasil. Mesmo com algumas substanciais diferenças, naquele momento fazíamos um exercício histórico de resgate na memória de momentos marcantes como os que ocorreram em 1992, quando a população foi às ruas exigir o impeachment do presidente Collor, ou mesmo em 1983, na Campanha das Diretas Já, quando multidões cantavam o hino nacional com o orgulho que tem aquele que é verdadeiramente cidadão e que luta por seus direitos. Nem tudo, no entanto, é motivo de comemoração nesses movimentos. Em muitas localidades houve confrontos entre manifestantes e a polícia, que se por um lado mostra o despreparo do poder público para lidar com essa nova realidade, por outro evidenciou também extrapolação de alguns elementos que, infi ltrados no movimento, atuaram incitando a violência, promovendo depredação do patrimônio público e particular ao praticar atos de vandalismo. http://www.ceschini.com.br/wp-content/uploads/2013/06/p4.jpg http://www.blogdacidadania.com.br/2013/06/por-que-levam- coqueteis-molotov-a-manifestacoes-pacifi cas/ A atuação desses movimentos, seus métodos e resultados tem despertado discussões nos mais variados segmentos da sociedade. Alguns questionam o abuso dos manifestantes que impedem o direito de ir e vir dos demais cidadãos ao fecharem uma rua ou avenida. http://2.bp.blogspot.com/-Ni8ZXkdzX10/UcY1rxaRJ6I/AAAAAAAASUk/ GV5qVOruX-M/s1600/cartaz7.jpg E os resultados práticos? O que de fato mudou depois dessas dezenas de manifestações por todo o Brasil? De fato, o clamor das ruas obteve algumas respostas imediatas. Antes mesmo do auge dos protestos ocorridos no dia 20/06, quando mais de 80 cidades promoveram manifestações, pelo menos 7 gestores anunciaram a redução das tarifas de ônibus em suas localidades. Outra evidência que foi resultado da pressão popular veio com a votação de projetos no Congresso Nacional, que adotou uma agenda “positiva” abordando temas que estavam na pauta das reivindicações vindas das ruas. A Câmara dos Deputados em Brasília rejeitou por ampla maioria (430 votos), no dia 25/06, em votação extraordinária, a famigerada PEC 37, que na prática limitava a atuação do Ministério Público em investigações, sendo conhecida por alguns como PEC da impunidade. Nessa mesma sessão, que seguiu pela madrugada, também foi votado o projeto enviado pelo Governo que previa o uso de 100% dos recursos dos royalties do petróleo para educação. O texto original foi alterado pelos parlamentares com os recursos sendo divididos da seguinte forma: 75% destinados à educação e 25% para a saúde. Na sessão do dia 26 de junho, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) aprovou a Proposta de Emenda à Constituição que estabelece o voto aberto para os casos de perda de mandato de deputados e senadores, por exemplo, por falta de decoro parlamentar. A proposta, que já foi aprovada no Senado, vai agora a uma comissão especial da Câmara que será criada para analisá-la. Em seguida, precisa ser aprovada em dois turnos no plenário da Casa, afi rmava a notícia do provedor UOL1 . O presidente da Câmara, Henrique Alves, comentou o resultado das votações. “Foi um dia de encontro com as ruas, que são as nossas ruas. Aliás, para dizer a verdade, cumprimos simplesmente o nosso dever”. O Senado também debateu temas de interesse popular. Parado há dois anos, voltou a ser discutido pelos senadores o projeto que torna a corrupção crime hediondo, como afi rma o site de notícias G12. Dias antes, mais precisamente no dia 21/06, a presidente Dilma fez um discurso em rede nacional afi rmando seu respeito e admiração aos movimentos que ocorreram em todo o País, mas confi rmou a necessidade de manter a lei e a ordem combatendo e punindo a atuação de uma minoria de vândalos e baderneiros. Aproveitou para tentar esclarecer uma das maiores críticas dos manifestantes em todo o País sobre a origem dos recursos investidos na construção de estádios para sediar a Copa do Mundo de 2014, afi rmando: “O dinheiro do Governo Federal, gasto com as arenas, é fruto do fi nanciamento que será devidamente pago pelas empresas e governo que estão explorando esses estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a saúde e a educação.” No dia 24/06, em reunião com prefeitos e governadores, a presidente Dilma apresentou um conjunto de medidas, uma espécie de grande pacto, como resposta às manifestações que tomaram conta do País. Questões como a reforma política, combate à corrupção com leis mais severas, aceleração de investimentos na saúde foram os principais temas do seu pronunciamento. No discurso, o pacto pela responsabilidade fiscal e pela estabilidade econômica que permitisse o controle da infl ação tiveram lugar de destaque. Algumas de suas propostas geraram polêmicas, como a questão que envolve a realização de um plebiscito ou referendo que autorizasse a convocação de uma Constituinte específi ca para tratar da reforma política e 1 ttp://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/06/26/comissao- da-camara-aprova-fim-do-voto-secreto-em-processos-de-cassacao-de- parlamentares.htm 2 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/06/congresso-vota-projetos- cobrados-nas-ruas-e-derruba-pec-37.html Enem em fascículos 2013 5Ciências Humanas e suas Tecnologias que provocou várias críticas de especialistas e de membros dos demais poderes. Outro ponto que gerou polêmica foi a questão da contratação, quando da falta de médicos brasileiros, de profi ssionais da saúde estrangeiros para atenuar os problemas da saúde. Há pouco mais de dois meses do auge das manifestações, continua sendo difícil promover uma avaliação sobre o que presenciamos nesses protestos. Saber até que ponto as manifestações vão provocar mudanças estruturais no sistema político e no quadro social do País ainda não se sabe, porém podemos afi rmar que houve uma mudança prognosticada no samba-enredo do Carnaval de 1989 Made In Brazil. Yes, Nós Temos Banana: Já é hora, oi Do gigante adormecido despertar (despertar) Do jeito que a coisa anda Não pode continuar A serra que é pelada até no nome, oi Pelada há muito está Quero é saber de todo ouro Onde está nosso “tesouro” Onde estará Quero é saber de todo ouro Onde está nosso “tesouro” Oh tesouro, onde estará Parece brincadeira mas não é (mas não é) O dólar valorizado O coitado do cruzado Não pode se envolver na transação O aço volta manufaturado Jacaré vira sapato Lembrando até piada de salão Exportam até nossa gasolina Por quantia pequenina E também nosso melhor café Os craques se mandando de montão Já está faltando craque Pra jogar na nossa Seleção Eu choro, eu grito E falo porque amo meu país (meu país) Só não podem exportar (bis) A esperança desse povo ser feliz QUESTÃO COMENTADA Compreendendo a Habilidade – Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfi ca. C-2 H-10 • (Sampaio/2013 ) http://noticias.gospelmais.com.br/fi les/2013/06/protesto.jpg http://www.macacosmemordam.com/os-melhores-cartazes-dos-protestos-no- brasil/ A partir das imagens acima e dos conhecimentos sobre a onda de protestos que tomou conta do Brasil em junho de 2013, pode-se afi rmar historicamente que a) os protestosno Brasil ocorreram pelas mesmas razões que mobilizaram milhares de pessoas no Oriente Médio e norte da África em 2010, na chamada Primavera Árabe. Devido à censura nesses países, só no Brasil as redes sociais tiveram importância na mobilização popular. b) embora com ampla repercussão no Brasil e no Mundo, as manifestações tiveram até então alcance limitado, não conseguindo mais do que impedir o aumento das tarifas de transporte público de algumas cidades. c) para a grande mobilização popular foi determinante o uso das redes sociais e a participação de vários partidos políticos que se solidarizaram com clamor das ruas. Foi essa pressão popular que provocou a aprovação imediata de mecanismos de controle da corrupção. d) embora seja complexo, é possível perceber que os protestos tiveram sua composição estritamente ligada aos setores mais pobres que criticavam as políticas de transporte público, não contando com a adesão dos segmentos médios. e) as manifestações, embora tivessem pautas diversifi cadas, em linhas gerais, criticavam a corrupção e exigiam maiores investimentos na área social. A pressão popular fez com que o Congresso adotasse uma “agenda positiva”, discutindo temas de interesse popular. Comentário A onda de protestos que ganhou intensidade em Junho de 2013 no Brasil é o tema dessa questão. Na verdade ainda é cedo para avaliar o que foi, o que representou e qual o legado das manifestações que ganharam as ruas do Brasil neste período. Observe que na letra “a” existe uma comparação entre os protestos no Brasil e as manifestações que foram denominadas de Primavera Árabe. Nos dois casos é possível verifi car a infl uência da tecnologia da era da globalização, pois as redes sociais se tornaram importantes instrumentos de mobilização, ainda que em algumas áreas no Oriente Médio e no norte da África existam restrições ao uso das informações da rede mundial de computadores. Mas as diferenças não param por aí, pois na grande maioria das manifestações da chamada Primavera Árabe havia um clamor contra os regimes ditatoriais. O povo buscava liberdade e desejava exercer a cidadania na sua plenitude. Em síntese, era uma luta por direitos Civis e políticos. No caso do Brasil, essa luta remonta aos momentos fi nais do Regime Militar em meados dos anos 1980. As manifestações de hoje são voltados principalmente contra a corrupção e em favor de investimentos nas áreas sociais como saúde e educação, sem esquecer, é claro, do questionamento dos altos investimentos em megaeventos esportivos (Copa FIFA e Olimpíadas). No caso da letra “b” precisamos estar atentos. Sem querer ser depreciativo, podemos afi rmar que o “estouro da boiada”, como se diz na linguagem popular, veio com os protestos em São Paulo contra a elevação de 0,20 centavos nas tarifas de ônibus liderados pelo Movimento Passe Livre (MPL). Aos poucos outras reivindicações foram sendo incorporadas aos protestos. Tinha de tudo um pouco: da pressão contra a aprovação da PEC 37 que limitava a atuação do Ministério Público à crítica ao projeto da Cura Gay. Como disse anteriormente, ainda é cedo para avaliar os resultados. Mas é certo que a pressão popular provocou alguns efeitos imediatos além da decisão de São Paulo de recuar da manutenção do aumento das tarifas de ônibus. A Presidente Dilma fez pronunciamento enumerando algumas medidas que iam ao encontro do clamor das ruas, propondo uma reforma política Enem em fascículos 2013 6 Ciências Humanas e suas Tecnologias e convocação de um plebiscito. O Congresso Nacional (deputados e senadores) adotou o que eles chamaram de “agenda positiva”, trabalhando em “regime especial”, debatendo temas que também se relacionam à pauta de reivindicação dos protestos. Mesmo que a maior parte dessas discussões não tenham se materializado em medidas claras e efetivas, podemos perceber que ao menos saímos da inércia. Na letra “c” percebemos dois equívocos. Primeiro que os protestos procuraram ao máximo se distanciar dos grupos e partidos políticos, além do que, passado mais de um mês do epicentro desses manifestos, não foram aprovadas ainda medidas efetivas de combate à corrupção. Na letra “d” a avaliação de que os protestos eram compostos estritamente por elementos das camadas mais pobres da sociedade é um equívoco. Era visível a participação de diversos grupos sociais, em especial jovens da classe média. Fica fácil então chegar à resposta correta, no caso, a letra “e”. Resposta correta: e EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Compreendendo a Habilidade – Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfi ca. C-2 H-10 01. (Sampaio/2013) Veja as notícias abaixo. JORNAL DO BRASIL 16 de abril de 1984 – “Diretas Já” reúne 1 milhão e 300 mil pessoas No vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, 1 milhão e 300 mil pessoas (1 milhão e 500 mil, segundo a Polícia Militar) reuniram-se no último e maior comício realizado no Brasil pela aprovação da emenda Dante de Oliveira, que restabeleceria e le i ções d i re tas para Pres idente da Repúbl ica imediatamente. O povo reuniu-se às 17h30 na Praça da Sé e começou a dispersar-se cerca de três horas depois. Disponível em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=20637 Capa da Tribuna do Norte (RN) sobre o movimento das Diretas Já, em 1984 Reprodução disponível em: http://tribunadonorte.com.br /news.php?not_id=221192 MAIS DE 80 CIDADES REALIZAM MANIFESTAÇÕES HOJE NO BRASIL Após redução da tarifa, atos são mantidos. Além de São Paulo e Rio, mais de 80 cidades do País realizam manifestações nesta quinta-feira, 20. Postado em: 20 jun 2013 às 12:14. http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/06/ mais-de-80-cidades-realizam-manifestacoes-hoje-no-brasil.html As manchetes acima se referem à Campanha Diretas Já que ocorreu entre 1983 e 1984 e à Primavera Brasileira, termo usado por alguns especialistas para designar o conjunto de manifestações que ocorreram a partir de junho de 2013. Comparando esses dois momentos de grande mobilização da história do Brasil, podemos afi rmar corretamente que a) diferentemente do que aconteceu em 2013, quando as redes sociais tiveram grande importância na mobilização de milhares de pessoas, nos anos 1980, a campanha das Diretas só repercutiu no eixo Rio-São Paulo. b) nos dois casos a mobilização popular teve objetivos idênticos. Ambas só obtiveram sucesso nas suas reivindicações centrais devido à mobilização de milhares de pessoas em todo o País. c) embora a emenda que garantia o retorno das eleições diretas para presidente não tenha sido aprovada, a mobilização social nos anos 1980 contribuiu decisivamente para a redemocratização. d) ambas representam importantes exemplos de movimentos suprapartidários em que se destacaram a atuação de políticos de diversas legendas que superaram antigas divergências ideológicas. e) nos dois momentos o quadro era de estabilidade e crescimento econômico, o que prova o alto grau de consciência dos manifestantes, que exigiam em seus respectivos momentos melhorias nas políticas públicas. Compreendendo a Habilidade – Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder. C-3 H-13 02. (PUCCAMP) “Nesses 25 anos, acompanhei com entusiasmo cada fase da vida política nacional. Depositei fé no país em momentos como as Diretas Já, em 1984. Vibrei com a eleição, mesmo indireta, de Tancredo Neves e chorei com sua morte. No Plano Cruzado, fui fi scal do Sarney e fi quei nas fi las do leite e da carne. Meu maior momento de descrença e pessimismo foi o confi sco da poupança, promovido pelo assaltante que se instalou no Planalto. No ano passado fui paraas ruas pedir sua saída.” Sobre o período relatado no texto (1968-1993), é correto afi rmar que a) a campanha das Diretas Já foi desencadeada após a morte de Tancredo Neves como reação à posse de José Sarney. b) a Emenda Dante de Oliveira foi votada e rejeitada pelo Congresso em Brasília, com a capital sob estado decretado de emergência. c) o confisco da poupança como parte do plano de estabilização da moeda pelo governo Collor foi a causa imediata do movimento pelo seu impeachment. d) o voto direto para Presidente da República, retirado do cidadão brasileiro pelo Estado Novo, só lhe foi restituído pela Constituição de 1988. e) o período da Ditadura Militar, tal como o da Ditadura Vargas, foi resultante de um golpe de Estado articulado pelo imperialismo norte-americano. Enem em fascículos 2013 7Ciências Humanas e suas Tecnologias DE OLHO NO ENEM Se for para elevar o padrão político em geral, a moralidade do Congresso e combater a corrupção, três medidas são indispensáveis. Sem elas, pode haver remendo em um outro ponto, mas não haverá reforma política. Mas nenhum dos três está nas discussões. Fim do arrastão É preciso que só se tornem deputados os que recebam votos para tanto. A legitimidade da Câmara depende dessa obviedade eleitoral. O sistema vigente faz a alta quantidade de votos de um candidato completar a votação insufi ciente de outros e torná-los deputados. É, portanto, um arrastão às avessas, em favor de quem perdeu. Já houve deputada com 200 votos, entre os puxados pelo exótico recordista Enéas. A cada legislatura, a Câmara recebe um contingente desses deputados não eleitos. A deformação eleitoral é ainda agravada pelas coligações partidárias. Partidos miúdos, tantos deles formados como vias para o enriquecimento fácil, fazem deputados ao aproveitarem a votação nos partidos maiores a que se coligam. Ao arrastão devem-se, além da ilegitimidade da representação parlamentar, outros três efeitos devastadores. Um, o baixíssimo nível mental (nem se pode dizer nível intelectual ou cultural) preponderante na Câmara. Outro, a falta de sentido de uma Câmara tão grande, com seus 513 integrantes a um custo imoralmente gigantesco. E ainda o altíssimo nível da corrupção no ambiente, desde a corrupção implícita no “é dando que se recebe” com o governo à corrupção pelos negócios com projetos e votos. Acabar com os suplentes de senador, como convém fazer, e manter a posse de não eleitos é contraditório. Mas o arrastão não está sozinho nas responsabilidades negativas. Fim das doações empresariais Uma das grandes fontes de corrupção, seja política ou administrativa, é o sistema de doações em nome de empresas para as campanhas eleitorais. Sua fi nalidade mais comum é a compra mesmo. Na melhor hipótese, como um seguro contra más eventualidades. Como regra, para ter um intermediário, um agente nos governos, no Legislativo e, nada raro, também no Judiciário. A doação empresarial é usada para encobrir identidades e, com isso, dificultar possíveis comprometimentos e responsabilizações legais de doadores-compradores. O fi nanciamento das campanhas, no entanto, precisa ser claro e objeto de fi scalização rigorosa em mão dupla: da Justiça Eleitoral, na contabilidade do candidato ou partido, e da Receita Federal na parte doadora. Toda obscuridade eleitoral deslegitima o processo democrático e amplia a corrupção. Fim do Fundo Partidário e alguns outros Na democracia, os partidos têm de viver por seus próprios meios – mensalidades, eventos, edições, doações até um total determinado. Dinheiro público na sustentação dos partidos é uma forma de autoritarismo: impõe a contribuição dos cidadãos, ainda que indireta, para a propagação de ideias e propósitos que não são os seus. Ou até contrários aos seus. As coligações para absorção de um tempinho a mais na propaganda eleitoral dita gratuita, em TV e rádio, resultam em corrupção maior a cada eleição. Tornaram-se comuns as coligações para que dirigentes de partidos pequenos vendam o tempo de propaganda que caberia à sua sigla. Junte-se esse negócio ao dinheiro do fundo partidário, e aí está a razão de ser de muitos dos partidos miúdos, como também da pretendida formação de outros (mais 30, a somar-se ao outro tanto já existente). Dinheiro fácil, tomado dos contribuintes em geral, para os bolsos de grupelhos profi ssionais em degeneração eleitoral. Reforma política que não contribui para a moralização e a representação legítima não é reforma. Com sorte, não é apenas embuste. Daniel Marenco/Folhapress Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno “Poder” aos domingos, terças e quintas-feiras. http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2013/07/1305938-o- essencial-esta-fora.shtm INTRODUÇÃO Nesta seção, trataremos sobre dois temas de suma importância para a compreensão da realidade brasileira e mundial: o formidável desenvolvimento do agronegócio no Brasil e a crise de alimentos no mundo. OBJETO DO CONHECIMENTO Agropecuária no Brasil O agronegócio pode ser defi nido como a soma total das operações de produção e distribuição de insumos e novas tecnologias agrícolas, produção propriamente dita, armazenamento, transporte, processamento e distribuição dos produtos e seus derivados. Essa atividade é um dos alicerces da moderna economia brasileira, uma vez que o país é considerado o “celeiro do mundo”. Segundo dados da OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil é o terceiro maior produtor global de alimentos, com Enem em fascículos 2013 8 Ciências Humanas e suas Tecnologias 157 milhões de toneladas de grãos, só perdendo para os Estados Unidos e para a União Europeia. Contudo, deveremos nos tornar, nas próximas décadas, a maior potência do setor devido aos vários fatores presentes no nosso território: • Grandes extensões de áreas agricultáveis, ainda não aproveitadas. Em um planeta onde vários países já esgotaram o seu espaço agrário, o Brasil utiliza apenas 6% das terras disponíveis para o plantio; • Abundância de recursos hídricos, já que a agricultura é o segundo maior consumidor desse recurso; • A diversidade climática, que possibilita duas ou mais safras por ano, e o plantio de gêneros de diferentes zonas de temperatura, variando do equatorial ao temperado; • Tecnologias modernas, por conta dos avanços tecnológicos realizados pela Embrapa. O desenvolvimento do nosso espaço agrário deu-se de modo pontual. Ocorreu, inicialmente, na região Sudeste do País, em particular no interior paulista, quando ocorreu a penetração de capitais e tecnologia no campo. Na mesma época, o espaço agrário da região Sul também foi incorporado ao novo modelo capitalista de produção, especialmente os estados do Paraná e Rio Grande do Sul. Nas décadas de 1970 e 1980, a região central do Brasil tornou-se a fronteira agrícola, com a incorporação da técnica de calagem, que corrigiu a acidez do solo local. Atualmente, essa nova fronteira se encontra nas bordas da Amazônia, em uma região denominada de arco de desmatamento, que corresponde à parte sul dos estados do Pará, Tocantins e Rondônia. Até mesmo a região Nordeste foi atingida pela ocupação de novos espaços, onde o sul do Piauí, Maranhão e o oeste da Bahia sofrem uma verdadeira revolução, com a chegada de agricultores sulistas e empresas de capital nacional e multinacionais. O aumento da produção foi setorial, uma vez que não ocorreu em todos os gêneros agrícolas. Nota-se um aumento considerável na produção de gêneros voltados para o mercado externo, em particular, as commodities. O País destaca-se no cenário internacionalcomo grande exportador, apresentando uma pauta de exportação agrícola diversifi cada, na qual os principais produtos são: café, suco de laranja, grãos, farelo e óleo de soja, açúcar, fumo e cigarros, papel e celulose, carnes bovina, suína e de aves. Entretanto, para abastecer o mercado interno de consumo, há a necessidade de importação de alguns produtos, com destaque para o trigo. BALANÇA DO AGRONEGÓCIO De Janeiro a outubro (US$ bilhões) 75.000 18.000 16,424 8,477 9,689 7,608 5,829 3,465 2,320 3,311 2,347 4,4053,7064,4534,162 10,462 China Fonte: Ministério da Agricultura. Países Baixos Estados Unidos Rússia Alemanha 4,438 2,243 7,624 11,044 15,833 11,376 Complexo soja Complexo sucroalcooleiro Produtos florestais CaféCarnes 15.000 12.000 9.000 6.000 1.000 0 10.000 12.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 60.000 54,894 Saldo Soja puxa embarques Liderança chinesa Principais produtos exportados de janeiro a outubro (US$ bilhões) Destinos das exportações de janeiro a outubro (US$ bilhões) 2009 46,944 53,243 2010 63,989 Exportações 2009 2010 Importações 7,950 10,746 45.000 30.000 15.000 0 2009 2010 O País apresenta a segunda maior concentração de terras do planeta, só perdendo para o Paraguai. No Brasil, 1% da população concentra cerca de 47% das terras. Essa concentração é histórica e teve início na época da colônia, mas se intensifi cou nas últimas décadas em um processo denominado de fagocitose rural. Essa concentração é responsável pelos vários confl itos existentes que têm como foco principal a região denominada de “Bico de Papagaio” (Tocantins, Pará e Maranhão). Desde a morte do ambientalista Chico Mendes, já foram registradas mais de 1500 mortes no país ligadas à questão fundiária. A agropecuária emprega 20% da população economicamente ativa e representa cerca de 12% do PIB nacional, considerando-se apenas o valor da produção. Se considerarmos todas as etapas da produção, a participação alcança mais de 35% do PIB, evidenciando o efeito multiplicador que esse setor exerce sobre a economia como um todo e sobre o interior do País, em particular. Já na pauta de exportações brasileiras, a participação da agricultura, apesar de ter recuado signifi cativamente com o processo de industrialização do País, ainda é fundamental. Mais de 1/3 das exportações ainda são oriundas deste setor. Enem em fascículos 2013 9Ciências Humanas e suas Tecnologias O Ministério da Agricultura esperava que as exportações do agronegócio brasileiro ultrapassem US$ 90 bilhões em 2011. No primeiro semestre desse ano, foram embarcados US$ 43,2 bilhões, com destaque para o complexo soja – o Brasil é o segundo maior exportador mundial – responsável por US$ 12,7 bilhões. Uma alta de 9% no Produto Interno Bruto do setor, o dobro da expansão esperada para o PIB nacional. O cenário aquecido pela demanda internacional por alimentos, puxada pelos países emergentes, principalmente a China, e o aumento no poder de compra da classe C brasileira estão entre os fatores apontados como âncoras para o excelente desempenho do setor. Saldo da Balança Comercial dos Agronegócios. Brasil, 1997-2009 Fonte: Elaborado pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC. 50,00 45,00 40,00 35,00 U S$ b ilh õe s US$ bilhões 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 1997 12,2810,7712,56 12,3116,45 18,3823,92 31,3136,23 40,1844,6749,7849,03 1998 1999 2000 2001 20022003 2004 20052006 200720082009 Crise de alimentos Em 2011, os preços dos gêneros alimentícios atingiram a maior alta, pela segunda vez, em menos de quatro anos. Na outra crise, entre 2007 e 2008, milhares de pessoas atravessaram a linha que separa a pobreza da miséria. A atual crise alimentar tem duas formas de expressão: o aumento dos preços e a escassez de alimentos nos mercados. Atualmente, cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome em diferentes partes do globo. A crise dos alimentos é fruto do desequilíbrio na relação econômica entre oferta e procura. A população mundial é estimada em 6,7 bilhões de habitantes, enquanto que a produção de alimentos é sufi ciente para abastecer mais de 8 bilhões de pessoas, o que coloca em descrédito os defensores da Teoria Malthusiana. Segundo as previsões da FAO, as reservas mundiais de cereais caíram para o seu nível mais baixo em 25 anos, com 405 milhões de toneladas. A crise afeta principalmente países pobres e dependentes da exportação de alimentos, mas também está por trás da maior onda de manifestações ocorridas no Oriente Médio, que derrubou ditadores da Tunísia e do Egito e que agora ameaça o regime na Líbia. O fi m da comida barata vai coincidir com a explosão populacional. Entre 2011 e 2012, a estimativa era que a população mundial atingisse 7 bilhões. Para 2050, serão 9 bilhões de pessoas na Terra. Por conta disso, as potências incluíram a alta dos alimentos na lista de suas preocupações, junto com as fi nanças mundiais. O assunto foi parar no topo da agenda do G20 (grupo formado pelas 19 maiores economias, mais a União Europeia). Os líderes discutem medidas como pacotes de estímulo à agricultura. O desafi o de alimentar a população nas próximas quatro décadas vai exigir política, tecnologia e, sobretudo, mudança de hábitos das sociedades modernas. Maiores perdedores (balança comercial piorando mais de 1% do PIB de 2005) A ALTA DOS ALIMENTOS AMÉRICA DO NORTE Impacto do aumento projetado dos preços de alimentos no comércio exterior em 2007 e 2008 Perdedores moderados (balança comercial piorando menos que 1% do PIB de 2005) Ganhadores moderados (balança comercial melhorando menos que 1% do PIB de 2005) Maiores ganhadores (balança comercial melhorando mais que 1% do PIB de 2005) Sem informação Fonte: FMI AMÉRICA DO SUL ÁFRICA OCEANIA ÁSIA EUROPA Principais causas da crise de alimentos Aumento do consumo A população mundial está comendo mais, especialmente nas economias que têm registrado maior expansão, como a da China, que tem 1,4 bilhão de habitantes, a Índia, com 1,2 bilhão e o Brasil. Com mais gente comprando, vale a lei da oferta e da procura: os produtos se valorizam no mercado e fi cam mais caros. Alta do petróleo A agricultura demanda grande quantidade de óleo no maquinário, em fertilizantes e no transporte de produtos, até que esses cheguem ao consumidor. O petróleo passa a ser mais procurado e, por consequência, tem seu preço elevado, fazendo com que o preço fi nal dos alimentos também aumente. Hoje, a agricultura é totalmente industrializada e depende, em boa medida, do petróleo, usado como matéria-prima para uma série de produtos, como defensivos agrícolas e químicas de preparação da lavoura. Enem em fascículos 2013 10 Ciências Humanas e suas Tecnologias Especulação Com a queda do dólar, investidores que ganhavam dinheiro investindo na moeda norte-americana migraram para a aplicação em outras commodities, como os produtos agrícolas. Muitos fundos têm usado as bolsas de mercadorias para especular com a antecipação da compra de safras futuras, em busca de melhor rentabilidade. Condições climáticas O clima é outro fator que reduziu a quantidade de alimentos produzida no mundo, segundo relatório da ONU. As condições climáticas desfavoráveis devastaram culturas na Austrália e reduziram as colheitas em muitos outros países, em particular na Europa, segundo a FAO. Biocombustíveis Nos Estados Unidos, o etanol é produzido a partir do milho; com a redução da oferta de milho subiu o preço dos derivados, o que fez começar um processo em cadeia: aumentouo preço da ração dos animais e, consequentemente, das carnes. No Brasil (onde o etanol é feito a partir da cana-de-açúcar), a realidade é bem diferente, tanto que, no nosso histórico dos últimos 30 anos, aumentamos a produção não só de etanol, mas também de alimentos. Subsídios agrícolas Os subsídios dos países ricos à agricultura contribuem para a elevação dos preços e escassez de alimentos no mundo. A assistência que a União Europeia dá aos agricultores de países membros como França, Inglaterra e Alemanha, entre outros, barateia seus custos, mas inibe a produção nos países em desenvolvimento. Apenas no contexto da chamada Política Agrícola Comum, a União Europeia injeta US$ 50 bilhões por ano para seus agricultores. Nos EUA e em outros países industrializados, os subsídios chegam a US$ 1 bilhão por dia. Seguem algumas soluções apontadas para tentar minorar a atual crise alimentar: • Promover a autossufi ciência alimentar dos países e comunidades locais; • Melhorar a eficiência energética no processo de produção alimentar; • Reduzir os desperdícios alimentares. grave Índice Mundial da Fome 2009 moderada mínima não há dados país industrializado muito preocupante preocupante Ação Agrária Alemã, IFPRI, Concern. QUESTÃO COMENTADA Compreendendo as Habilidades – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais. – Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. C-4 H-18 H-19 • Analise o gráfi co para responder à questão. GRANDES REGIÕES ESTRUTURA FUNDIÁRIA Regiões Grande propriedade Média propriedade Pequena propriedade 1 2 3 4 5 0 20 40 60 80 0 20 40 60 80 0 20 40 60 80 % % % FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfi co: espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2010. p. 143. A leitura do gráfi co permite afi rmar que 1 a) e 2 correspondem, respectivamente, ao Centro-Oeste e ao Norte, regiões de ocupação agropecuária mais recente. b) e 2 apresentam a distribuição das propriedades de terra nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, ambas com forte concentração fundiária. c) identifica a estrutura fundiária do Sul, tradicionalmente a região com maior avanço tecnológico no setor agropecuário. d) destaca o predomínio das grandes propriedades no Nordeste, historicamente a região com maiores desigualdades sociais. e) apresenta a distribuição das propriedades no Norte, região com fraca participação da agricultura familiar em pequenas propriedades. Comentário A estrutura fundiária diz respeito ao tamanho e à forma como estão distribuídas as propriedades rurais de um país. O Brasil possui atualmente a maior concentração fundiária do planeta, onde 1% da população concentra 47% das terras agricultáveis. Observando o gráfico, podemos constatar que a maior concentração ocorre nas regiões Centro-Oeste e Norte, que compõem a atual fronteira agrícola, onde terras são incorporadas e destinadas ao plantio da soja e de pastos destinados à pecuária extensiva. Resposta correta: A Enem em fascículos 2013 11Ciências Humanas e suas Tecnologias EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Compreendendo as Habilidades – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais. – Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. C-4 H-18 H-19 03. Examine o mapa. EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS E ALIMENTOS NO MUNDO, EM 2010 América do Sul e Central 53 8 27 10 40 5 América do Norte 36 44 80 Europa 832 37 33 6 15 26 30 20 África 11 71 29 34 14 14 22 20 61 Oriente Médio 8 9 39 CEI 13 413 Ásia 300 78 62 O comércio intrarregional é representando por círculos, por motivos de legibilidade. Caso contrário, as setas teriam os tamanhos representados abaixo. Em bilhões de dólares EUA Intrarregional (superfície dos círculos) Inter-regional (espessura das setas) Somente os valores superiores a 5 bilhões de dólares são representados. Fonte: Organização Munidal do Comércio (OMC), International Trade Statistics 2011, www.wto.org Europa Ásia África CEI América do Sul e Central América do Norte Oriente Médio http://cartographie.sciences-po.fr/fr/exporta-o-de-produtos-agr-colas-ealiment- cios-no-mundo-2010 Sobre a geografia do comércio mundial de produtos agrícolas e alimentícios, representada no mapa acima, é correto afi rmar: a) O comércio mundial de produtos agrícolas e alimentícios é dominado pelos países mais pobres, que não dispõem das tecnologias necessárias para a produção de manufaturas. b) A maior parte do comércio europeu de produtos agrícolas e alimentícios é realizada entre os países do próprio continente. c) Considerando-se apenas o comércio inter-regional, a Europa e a Ásia ocupam, respectivamente, as duas primeiras posições entre os principais polos exportadores de produtos agrícolas e alimentícios do mundo. d) A África apresenta no comércio inter-regional de produtos agrícolas e alimentícios, pois as exportações superam as importações. e) Mais da metade das exportações de produtos agrícolas e alimentícios realizada pela América do Sul e Central é direcionada para o mercado europeu. Compreendendo as Habilidades – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais. – Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. C-4 H-18 H-19 04. Analise o gráfi co. 160.000.000 140.000.000 120.000.000 100.000.000 80.000.000 60.000.000 40.000.000 20.000.000 0 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 Cereais, leguminosas e oleaginosas Área e Produção – Brasil 1980 a 2011 Produção (t) Área (h) % % www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/ lspa/lspa_201107comentarios.pdf A partir da leitura do gráfi co e dos conhecimentos sobre a dinâmica territorial da agricultura brasileira, é correto afi rmar que, no período analisado, a) a produtividade agrícola do país apresentou crescimento signifi cativo. b) a maior parte da área cultivada no país destinou-se à produção de cereais. c) o fraco aumento da área cultivada indicou o esgotamento da fronteira agrícola. d) a instabilidade da produção esteve relacionada aos problemas climáticos. e) a região Sudeste é a que apresenta maior área e produção agrícola do País. DE OLHO NO ENEM A África oriental vive hoje a “crise alimentar mais grave do mundo”, que afeta cerca de 10 milhões de pessoas de Djibuti, Etiópia, Quênia, Somália e Uganda. O alerta emitido pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) informa que a Somália é o país mais atingido da região, com relatos de mortes em algumas áreas, além do alarmante índice de desnutrição. “Não estamos mais à beira de um desastre humanitário; já estamos no meio dele. Está acontecendo e ninguém está ajudando”, ressaltou o presidente Isaq Ahmed, da Organização Mubarak de Ajuda e Desenvolvimento (MURDO), ONG local que trabalha no baixo Shabelle, região da Somália, ao OCHA no dia 28 de junho – segundo reporta o IRIN, serviço de notícias e análisehumanitária. A pior seca desde 1950 Segundo o OCHA, em muitas zonas pastoris registra-se a estação mais seca desde 1950. A seca na Somália traz implicações regionais, fazendo com que os refugiados fujam para o Quênia, Etiópia e Djibuti. Um assistente de ajuda humanitária em Mogadício, que preferiu não ser identifi cado, contou à IRIN que o número de pessoas que chegam aos campos de refugiados de Afgooye, provenientes das regiões de Bay, Bakol e do baixo Shabelle têm aumentado nos últimos meses. Enem em fascículos 2013 12 Ciências Humanas e suas Tecnologias De acordo com a organização Save the Children, as crianças que chegam da Somália no campo de refugiados Dadaab, localizado ao norte do Quênia, estão exauridas, desnutridas e gravemente desidratadas. Somente na Etiópia 3,2 milhões de pessoas necessitam urgentemente de alimentos Na Etiópia, a estimativa do número de pessoas com necessidade emergencial de alimentos e outros itens subiu de 2,8 milhões para 3,2 milhões. Quase dois terços dos pedidos vêm do sul das regiões do sul da Somália e Oromia, assim como da região das Nações, Nacionalidades e Povos do Sul, onde foi registrada escassez de água e alimentos. Alimentos caros e infl ação alta Ali, os preços dos cereais continuam a subir, com o índice de infl ação na casa de 30% registrado em abril. O fórum regional, Grupo de Trabalho para a Segurança Alimentar e Nutrição, relata que a taxa de refugiados somalis que chegam ao sul da Etiópia saltou de 5000 pessoas por mês para mais de 30000, somente na segunda semana de junho. Taxa de desnutrição grave chega a 45% Entre os recém-chegados a dois campos da área de Dolo Ado, a taxa de Desnutrição Aguda Global (GAM, acrônimo em inglês) é de 45%, superando em 15% o patamar emergencial estabelecido pela Organização Mundial da Saúde. Djibuti, preços de alimentos disparam Em Djibuti, a chuva escassa de março e maio deste ano prejudicou a segurança alimentar familiar e provocou a disparada de preços. O preço médio da farinha de trigo aumentou 17% entre janeiro e fevereiro de 2011, chegando a US$ 620,00/ton., segundo o Sistema Global de Alerta Antecipado (GVIEWS) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Quase todas as crianças ou pais relatam que eles não fogem apenas da luta na Somália, a seca e a crise alimentar também são igualmente perigosas. Quênia: Preço dos alimentos triplica O crescente aumento nos índices de infl ação também afetou o poder de compra de alimentos. Os preços de itens essenciais, como o milho, mais que triplicaram, de 13.300 xelins (R$ 22,50) em janeiro para 45.000 (R$ 78,00), por saca de 90 kg. A IRIN relata que, recentemente, o governo anunciou a isenção de tributos sobre o milho importado em anúncio de licitação para aliviar a pressão sobre os consumidores. Os plantadores de milho dizem que o aumento global do preço do milho terá pouco impacto sobre o preço do produto local. As “longas chuvas” que caem de março a maio no Quênia foram insufi cientes pela segunda ou terceira safra seguida na maior parte das regiões montanhosas e das planícies plantadas, sendo que muitas dessas áreas receberam apenas de 10 a 15% de chuvas normais, observou a Rede de Sistemas de Alerta Antecipado sobre a Falta Extrema de Alimentos (FEWSNET). Menos água, menor área de pastagem e morte do gado A escassez de água e a deterioração das terras de pastagens causaram a morte do gado. Ao norte, área predominantemente pastoril, o baixo fornecimento de leite contribuiu para o elevado nível de desnutrição de 35%. O índice GAM em Turcana, no noroeste do país, atingiu 37,4%, o mais elevado do distrito. Em todo o país, pelo menos 3,2 milhões de pessoas vivem a insegurança da fome, com aumento na projeção de 1,6 para 2,4 milhões, respectivamente, em janeiro e abril. Até mesmo na região costeira do Quênia, milhares enfrentam a escassez de alimentos, ressaltou o gerente regional Gerald Bombe, da Sociedade da Cruz Vermelha do Quênia (KRCS). INTRODUÇÃO Olá, querido estudante, Qual é a infl uência dos meios de comunicação de massa, como a TV, sobre uma sociedade? Como as pessoas são mobilizadas a acompanhar um noticiário como se estivessem assistindo a uma telenovela? Os primeiros fi lósofos que detectaram a dissolução das fronteiras entre informação, consumo, entretenimento e política, ocasionada pela mídia, bem como seus efeitos nocivos na formação crítica de uma sociedade, foram os pensadores da Escola de Frankfurt. Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor W. Adorno (1903-1969) são os principais representantes da escola, fundada em 1924 na Universidade de Frankfurt, na Alemanha. No local, um conjunto de teóricos, entre eles Walter Benjamin (1892-1940), Jürgen Habermas (1929), Herbert Marcuse (1898-1979) e Erich Fromm (1900-1980), desenvolveram estudos de orientação marxista. Os estudos dos fi lósofos de Frankfurt fi caram conhecidos como Teoria Crítica, que se contrapõe à Teoria Tradicional. A diferença é que enquanto a tradicional é “neutra” em seu uso, a crítica busca analisar as condições sociopolíticas e econômicas de sua aplicação, visando à transformação da realidade. Um exemplo de como isso funciona é a análise dos meios de comunicação caracterizados como indústria cultural. Em um texto clássico escrito em 1947, Dialética do Iluminismo, Adorno e Horkheimer defi niram indústria cultural como um sistema político e econômico que tem por fi nalidade produzir bens de cultura – filmes, livros, música popular, programas de TV etc. – como mercadorias e como estratégia de controle social. A ideia é a seguinte: os meios de comunicação de massa, como TV, rádio, jornais e portais da Internet, são propriedades de algumas empresas que possuem interesse em obter lucros e manter o sistema econômico vigente que as permitem continuar lucrando. Portanto, vendem-se fi lmes e seriados norte-americanos, músicas (funk, pagode, sertaneja etc.) e novelas não como bens artísticos ou culturais, mas como produtos de consumo que, neste aspecto, em nada se diferenciariam de sapatos ou sabão em pó. Com isso, ao invés de contribuírem para formar cidadãos críticos, manteriam as pessoas “alienadas” da realidade. Para Adorno, os receptores das mensagens dos meios de comunicação seriam vítimas dessa indústria. Eles teriam o gosto padronizado e seriam induzidos a consumir produtos de baixa qualidade. Por essa razão, indústria cultural substitui o termo cultura de massa, pois não se trata de uma cultura popular representada em novelas da Rede Globo, por exemplo, mas de uma ideologia imposta às pessoas. E como a indústria cultural torna-se mecanismo de dominação política? Adorno e Horkheimer vislumbraram os meios de comunicação de massa como uma perversão dos ideais iluministas do século 18. Para o Iluminismo, o progresso da razão e da tecnologia iria libertar o homem das crenças mitológicas e superstições, resultando numa sociedade mais livre e democrática. Mas os pensadores da Escola de Frankfurt, que eram judeus, se viram alvos da campanha nazista com a chegada de Hitler ao poder nos anos 30, na Alemanha. Com o apoio de uma máquina de propaganda que, pela primeira vez, usou Enem em fascículos 2013 13Ciências Humanas e suas Tecnologias em larga escala os meios de comunicação como instrumentos ideológicos, o nazismo era uma prova de como a racionalidade técnica, que no Iluminismo serviria para libertar o homem, estava escravizando o indivíduo na sociedade moderna. Nas mãos de um poder econômico e político, a tecnologia e a ciência seriam empregadas para impedir que as pessoas tomassem consciência de suas condições de desigualdade. Um trabalhador que em seu horário de lazer deveria ler bons livros, ir ao teatro ou a concertos musicais, tornando-seuma pessoa mais culta, questionadora e engajada politicamente, chega em casa e senta-se à frente da TV para esquecer seus problemas, absorvendo os mesmos valores que predominam em sua rotina de trabalho. É dessa forma que a indústria cultural exerceria controle sobre a massa. Como resultado, ao invés de cidadãos conscientes, teríamos apenas consumidores passivos. Adorno e Horkheimer tiveram o mérito de serem os precursores da denúncia de um “totalitarismo eletrônico”, em que diversão e assuntos importantes são “mixados” num só produto; em que representantes políticos são escolhidos como se fossem sabonetes. Nesse sentido, a crítica permanece atual. OBJETO DO CONHECIMENTO Ideologia, cultura e meios de comunicação de massa A partir da Segunda Revolução Industrial no século XIX e prosseguindo no que se denomina agora sociedade pós-industrial ou pós-moderna (iniciada nos anos 70 do século passado), as artes foram submetidas a uma nova servidão: as regras do mercado capitalista e a ideologia da indústria cultural, baseada na ideia e na prática do consumo de “produtos culturais” fabricados em série. As obras de arte são mercadorias, como tudo o que existe no capitalismo. Perdida à aura, a arte não se democratizou, massifi cou-se para consumo rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa, transformando-se em propaganda e publicidade, sinal de status social, prestígio político e controle cultural. Cabe à indústria cultural o trabalho de massifi car a cultura. Em primeiro lugar, porque separa os bens culturais pelo seu suposto valor de mercado: há obras “caras” e “raras”, destinadas aos privilegiados que podem pagar por elas, formando uma elite cultural; e há obras “baratas” e “comuns”, destinadas à massa. Assim, em vez de garantir o mesmo direito de todos à totalidade da produção cultural, a indústria cultural introduz a divisão social entre elite “culta” e massa “inculta”. O que é a massa? É um agregado sem forma, sem rosto, sem identidade e sem pleno direito à cultura. Em segundo lugar, porque cria a ilusão de que todos têm acesso aos mesmos bens culturais, cada um escolhendo livremente o que deseja, como o consumidor num supermercado. No entanto, basta darmos atenção aos horários dos programas de rádio e televisão ou ao que é vendido nas bancas de jornais e revistas para vermos que, através dos preços, as empresas de divulgação cultural já selecionaram de antemão o que cada grupo social pode e deve ouvir, ver ou ler. Em terceiro lugar, porque inventa uma fi gura chamada “espectador médio”, “ouvinte médio” e “leitor médio”, aos quais são atribuídas certas capacidades mentais “médias”, certos conhecimentos “médios” e certos gostos “médios”, oferecendo-lhes produtos culturais “médios”. Que signifi ca isso? A indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez. A “média” é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova. Em quarto lugar, porque defi ne a cultura como lazer e entretenimento, diversão e distração, de modo que tudo o que nas obras de arte e de pensamento signifi ca trabalho da sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da refl exão e da crítica não tem interesse, não “vende”. Massifi car é, assim, banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e divulgar a cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos conhecimentos. Um último traço da indústria cultural que merece nossa atenção é seu autoritarismo, sob a aparência de democracia. De fato, como a mídia nos infantiliza, diminui nossa atenção e capacidade de pensamento, inverte realidade e fi cção e promete, por meio da publicidade, colocar a felicidade imediatamente ao alcance de nossas mãos, transforma-nos num público dócil e passivo. Uma vez que nos tornamos dóceis e passivos, os programas de aconselhamento, longe de divulgar informações (como parece ser a intenção generosa dos especialistas) tornam-se um processo de inculcação de valores, hábitos, comportamentos e ideias, pois não estamos preparados para pensar, avaliar e julgar o que vemos, ouvimos e lemos. Por isso, fi camos intimidados, isto é, passamos a considerar que nada sabemos, que somos incompetentes para viver e agir se não seguirmos a autoridade competente do especialista. Dessa maneira, um conjunto de programas e publicações que poderiam ter verdadeiro signifi cado cultural tornam-se o contrário da cultura e de sua democratização, pois se dirigem a um público transformado em massa inculta, desinformada e passiva. QUESTÃO COMENTADA Compreendendo a Habilidade – Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos. C-1 H-3 Abóbora só se for com carne seca – Raloim Caipira. Desenho de José Luis Ohi. • Atente para as informações abaixo: A mobilização de políticos, artistas e educadores pela comemoração do Dia do Saci em 31 de outubro não tem agradado todo mundo. A ideia de se homenagear o personagem do folclore nacional no Dia das Bruxas, deixando fantasias e abóboras de lado, não é aprovada por empresários, nem por bruxas. SANTINI, Daniel. Bruxas e criadores de Saci disputam o dia 31 de outubro. 2006. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/ SaoPaulo/0,,AA1329256-5605,00.html. Acesso: 17 nov. 2011. Enem em fascículos 2013 14 Ciências Humanas e suas Tecnologias Jô Amado, jornalista e um dos fundadores da Sosaci [Sociedade dos Observadores de Saci], diz que o perneta é “dentre todos os mitos e lendas do nosso folclore, a essência da brasilidade”. Isso porque ele integra as diversas raízes do povo brasileiro – indígena, africana e europeia. “O mito do Saci nasceu entre os indígenas da região de Missões. [...] Quando o mito entrou em contato com a mitologia africana, ele virou um negrinho que perdeu uma perna [...] e herdou também [...] o inseparável pito”, disserta. E, fi nalmente, ele encontra a mitologia europeia quando herda o gorrinho vermelho chamado píleo, que os romanos davam aos escravos libertos. “Portanto, o Saci também é símbolo do Homem Livre, o que tem tudo a ver com resistência cultural”, afi rma Amado. Saci pode se tornar arma brasileira no combate a bruxas americanas. 2005. Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/ red/2005/11/335690.S.html. Acesso: 17 nov. 2011. A análise atenta das informações anteriores nos permite concluir que dizem respeito a) à infl uência direta de culturas estrangeiras na formação da cultura brasileira. O mito do Saci, por exemplo, de acordo com as informações, apresenta, efetivamente, traços de culturas europeias, sendo, por isso, a maior expressão da infl uência de culturas estrangeiras no Brasil. b) à tentativa de preservação de padrões culturais brasileiros, buscando reduzir a infl uência de culturas estrangeiras. Aponta, ainda, o Saci como o mito que melhor representa a formação da cultura nacional, por sofrer infl uências dos principais grupos que se fundiram no Brasil desde os tempos da colonização. c) à originalidade no processo de criação da cultura brasileira. No mito do Saci, por exemplo, podemos observar que apenas padrões culturais existentes no país, antes e durante o processo de colonização, se combinaram para sua criação e difusão por todo o território. d) ao processo de formação da cultura brasileira, representado pela fi gura do Saci. De acordo com as informações, o mito não apresenta nada de original, tendo sido criado por meio da fusão de padrões culturais estrangeiros, como os europeus e os africanos.e) à tentativa de preservação da cultura brasileira. Aponta, ainda, o mito do Saci como sendo a única expressão cultural nativa do Brasil, apesar de receber infl uências de culturas estrangeiras, como a europeia, trazida pelos colonizadores, e a africana, trazida pelos escravos. Comentário O Saci é reconhecido como uma força da resistência cultural à invasão da indústria cultural moderna, proveniente principalmente dos EUA e da Europa. Na fi gura simpática e travessa do insigne perneta, esbarram hoje, impotentes, os X-men, os Pokémon, os Vingadores e os jogos de guerra, como esbarravam ontem os personagens da Disney. A cultura popular é um elemento essencial à identidade de um povo. As tentativas insidiosas de apagar do imaginário do povo brasileiro sua cultura, seus mitos, suas lendas, representam a tentativa de destruir a identidade do nosso país. A história de todas as culturas até hoje existentes é a história de opressores e oprimidos. Hoje, como ontem, o Saci apoia, em qualquer lugar e em qualquer tempo, qualquer iniciativa no sentido de contestar a arrogância, a prepotência e a destruição de que é portadora a indústria cultural do império. O Saci de Monteiro Lobato tem a força de um arquétipo racial e é o símbolo do Brasil mestiço e do sangrento período da escravidão. Originariamente, o Saci é um ente lendário da cultura indígena. Era um menino ameríndio de uma perna só. Tinha como função defender a natureza. Era uma espécie de guarda fl orestal. As escravas, que eram ótimas contadoras de histórias, transformaram o Saci indígena em Saci negro. Neste caso, o alinhamento foi fácil. Tudo aconteceu no período da escravidão. Naquela época, quando os negros fugiam das senzalas iam se refugiar nos quilombos dentro das fl orestas. Assim como o Saci armava ciladas para os índios que destruíssem desnecessariamente as árvores, os arbustos, as fl orestas etc., do mesmo modo os negros, que já tinham desenvolvido a dança ou luta Capoeira, armavam ciladas para os portugueses que iam até lá armados, tentando recapturá-los e levá-los de volta para o trabalho forçado. Algumas lendas até explicam que o Saci teria perdido a outra perna durante uma luta de capoeira na fl oresta (devia ser um quilombo). Então a reconfi guração do símbolo foi praticamente automática. Foi só tirar uma perna do escravo e dar cor negra ao Saci. Estava pronta a lenda do Saci que Monteiro Lobato ouviu das escravas. Visto por este ponto de vista, o imaginário coletivo daquela sociedade criou o arquétipo racial ou cultural como elemento representativo do tipo étnico brasileiro, o Saci. Ele então passa a ter uma carga cultural imensa. Resposta correta: b EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Compreendendo a Habilidade – Identifi car o papel dos meios de comunicação na construção da vida social. C-5 H-21 05. Analise a charge e leia o texto seguintes. No limiar deste século XXI, desponta um fenômeno que tende a alterar toda a relação dos movimentos sociais com os meios de comunicação. Organizações não governamentais e entidades civis dos quatro quadrantes estão utilizando cada vez mais a Internet para divulgar suas reivindicações e desenvolver espaços de interação e de mobilização pelos direitos da cidadania. Está surgindo um modelo de militância que espelha as vias orgânicas, descentralizadas e interligadas da Internet. A Internet contribui para dinamizar as lutas em favor da justiça social num mundo que globaliza desigualdades de toda ordem. A rede digital maximiza intercâmbios entre produtores, emissores e receptores. Entra em curto-circuito a imagem clássica dos aparelhos de divulgação no topo da pirâmide e dos destinatários confi nados na base. Na Internet, os usuários têm a chance de assumirem-se como atores comunicantes, ou, se preferirmos a bela metáfora do escritor Jöel de Rosnay, como “neurônios de um cérebro planetário”, que nunca para de produzir, de pensar, de analisar e de combinar. http://www.semiosfera.eco.ufrj.br/anteriores/semiosfera03 /perfi l/mat1/frmat1.htm Enem em fascículos 2013 15Ciências Humanas e suas Tecnologias A Internet revelou-se um poderoso instrumento para a ação política de ONGs e de movimentos sociais. A respeito das formas de expressão de necessidades coletivas no mundo globalizado, assinale a alternativa correta. a) As ONGs e os novos movimentos sociais têm como característica comum a construção de estruturas hierarquizadas e rígidas para a realização das lutas coletivas. b) Como toda luta política, a conquista do poder de Estado é o referencial a partir do qual se constroem as ações das novas reivindicações coletivas de ONGs e movimentos sociais. c) Demandas ligadas ao trabalho perderam sua importância para as novas lutas coletivas expressas pelas ONGs e pelos recentes movimentos sociais. d) Nas novas lutas coletivas há o predomínio dos novos sujeitos sociais, os grupos sociologicamente minoritários, com um projeto defi nido e uniforme de construção da sociedade. e) O ativismo de ONGs e de movimentos sociais nas redes virtuais diversifi ca as agendas políticas e as práticas que buscam inovar o modo de fazer política. Compreendendo a Habilidade – Identifi car registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social. C-4 H-16 06. Leia o texto. “[...] uma grande marca enaltece e acrescenta um maior sentido de propósito à experiência, seja o desafi o de dar o melhor de si nos esportes e nos exercícios físicos ou a afi rmação de que a xícara de café que você bebe realmente importa [...] Segundo o velho paradigma, tudo o que o marketing vendia era um produto. De acordo com o novo modelo, contudo, o produto sempre é secundário ao verdadeiro produto, a marca, e a venda de uma marca adquire um componente adicional que só pode ser descrito como espiritual”. O efeito desse processo pode ser observado na fala de um empresário da Internet comentando sua decisão de tatuar o logo da Nike em seu umbigo: “Acordo toda manhã, pulo para o chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia como tenho de agir”. KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 45-76. Com base no texto e nos conhecimentos sobre ideologia, é correto afi rmar: a) A atual tendência do capitalismo globalizado é produzir marcas que estimulam a conscientização em detrimento dos processos de alienação. b) O capitalismo globalizado, ao tornar o ser humano desideologizado, aproximou-se dos ideais marxistas quanto ao ideal humano. c) Graças às marcas e à infl uência da mídia, em sua atuação educativa, as pessoas tornaram-se menos sujeitas ao consumo. d) O trabalho ideológico em torno das marcas solucionou as crises vividas desde a década de 1970 pelo capital oligopólico. e) Por meio da ideologia associada à mundialização do capital, ampliou-se o fetichismo das mercadorias, o qual se refl ete na resposta social às marcas. DE OLHO NO ENEM MÍDIA X COMPORTAMENTO: A NOVELA DA VIDA REAL Como já havia dito o tão carismático Hitler: “Que sorte para os líderes que os homens não pensam”. E esse dilema vem carregando a sociedade atual, já que é fácil manipular uma massa ignorante, e a mídia do grande público atualmente vem fazendo um papel de Goebbels nessa sociedade moderna, fazendo com que o povo goste daquilo que a elite delimita. Espetáculos, como novelas vazias ou f i lmes hollywoodianos, fazem com que as massas não tenham que pensar, e distraem a maioria da população para os reais problemas da humanidade. O povo até pensa em se revoltar, mas aparecem glúteos sambando na televisão, e esquece-se de toda desigualdade que vem envolvendo o Brasil. A mídia exerce a política de Pão e Circo, distraindo a população, efazendo as massas esquecerem dos grandes problemas que estão destruindo a sociedade. As pessoas estão tão preocupadas com os mistérios de Sangue Bom e Amor à vida e acabam fi cando felizes com as migalhas que recebem do governo, sendo que um engravatado ladrão está organizando banquetes e comendo um pão inteiro enquanto ri das massas e curte férias com a família em Miami. – viajando em avião da FAB e pagando suas contas com cartão corporativo para nós pagarmos com nossos inúmeros impostos. E a mídia vai manipulando a mente das pessoas, pois quando ocorrem movimentos como Ocupally Wall Street ou mesmo os recentes protestos organizados pelas redes sociais, a Rede Globo exibe pequenas notas sobre o assunto, já que se a bolha estourar vai cair tudo em cima de aliados corruptos da emissora. As massas fi cam com preguiça de mudar de canal, e assim são entorpecidos com casos idiotas que são transmitidos, enquanto aquilo que realmente importa é ocultado. Até mesmo o trabalho serve para distrair a população, já que um homem trabalha por toda a tarde e quando chega em casa está cansado demais para entender sobre os “causos” do mundo, assim opta por assistir algo light como algum fi lme tão inútil quanto Transformers. A música também é um inteligente instrumento de alienação. Pois existem muitas bandas boas com letras de protesto que conseguem ser inteligentes, porém a grande mídia ignora bandas inteligentes e abre espaço para outras que possuem letras mais leves, monossilábicas e açucaradas nos holofotes. Isso tudo ocorre porque a televisão empanturra nossos ouvidos com música ruim. Nós não gostamos da banda tal, mas eles vão ao programa do Faustão, Eliana, Gugu e fazem parte das Trilhas Sonoras de Novelas. Assim, decoramos aquele refrão tocado repetidas vezes e sem perceber nos pegamos a cantarolar mais um “oi, oi, oi”, “tchu, tcha” ou coisa parecida. O mundo conspira para manter as massas ignorantes e infl uenciáveis, eles roubam todo nosso tempo e energia, para poder continuar roubando com tranquilidade. A mídia torna a sociedade escrava do consumismo, somos apenas mais uma forma de renda da elite, nossa vida não vale nada além do nosso poder de compra. A mídia e o trabalho árduo deixa a população distraída, sem tempo para enxergar a tenebrosa realidade em que o mundo está envolvido. Quando alguns políticos querem fugir da punição já estabelecida pelo Supremo aos envolvidos no “Escândalo do Mensalão”, colocam o caso Carlinhos Cachoeira nos holofotes e mantêm a população ocupada com um caso que já sabiam há muito tempo, para esquecerem do julgamento de um dos maiores casos de corrupção da história brasileira. Enem em fascículos 2013 16 Ciências Humanas e suas Tecnologias O mais deprimente de toda essa situação é que isso ocorre em todo o mundo, não sendo diferente em nenhum continente. Quando Franklin Roosevelt quis entrar na guerra, ele simplesmente permitiu os ataques em Pearl Harbor, para contar com o apoio da população, e é assim que ao longo dos anos a sociedade vai sendo dominada por aquilo que a mídia fala. Políticos respeitam apenas emissoras de televisão que vão incitar a população, aliando-se a elas e deixando as massas ocupadas para tomar providências, mas quando necessitam do apoio da população, exigem que a mídia condicione o povo a isso. Tanto que em todas as ditaduras que ocorreram, o governo sempre censurava a mídia. Na Ditadura Militar brasileira, os políticos de extrema direita contaram com o apoio da mídia para deixar a população com medo de João Goulart e infl uenciar as massas a fi carem contra o político. Logo após o Presidente largar o cargo, os militares tomaram conta do poder e censuraram os meios de comunicação. Isso prova como a mídia é poderosa, e quão grande é o poder dela para alienar nossa população. Em resumo, é necessário um acordar da sociedade moderna para dar um basta ao modo de vida enraizado pela própria indústria capitalista, que mecaniza o ser humano e o trata como objeto descartável. Essa indústria que produz uma cultura (chamada pelos teóricos críticos de “cultura de massa”) que estimula a dependência da sociedade ao consumismo, vendendo estilos de vida, oculta, dessa maneira, a verdadeira função dos bens. O hedonismo, por sua vez, mostra-se como uma prática criada a partir da inversão de valores da sociedade, que, infl uenciada pela indústria cultural, segue o que for tomado como padrão ou o que for julgado como perfeição para o alcance de um prazer utópico. A essa indústria que possui como membros os meios de comunicação, às grandes empresas e às marcas, é a quem interessa o bom funcionamento e a adaptação rápida da sociedade para com seus produtos. Os consumidores da cultura industrial passam por um processo de alienação, no qual podemos identifi car uma dependência da sociedade com o ter e acumular, não refl etindo sobre uma utilidade essencial que o produto pode favorecer. Esse produto pode ser também, além de bens materiais, as informações passadas pelos meios de comunicação, em que a maioria das pessoas não procura ter um discernimento para filtrá-las no intuito de desmistificar posições tendenciosas. Os sistemas de televisão possuem opiniões obscuras e posições políticas que não são divulgadas. No aspecto econômico, temos a participação desses na promoção de campanhas publicitárias capitalistas e o fomento na continuidade desses valores. O impacto na sociedade é imediato e poderoso, afastando o ser humano de seu senso crítico e denegrindo sua intelectualidade. EXERCÍCIOS PROPOSTOS Compreendendo a Habilidade – Comparar o signifi cado histórico-geográfi co das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial. C-2 H-9 01. (Enem/2011) É difícil encontrar um texto sobre a Proclamação da República no Brasil que não cite a afi rmação de Aristides Lobo, no Diário Popular de São Paulo, de que “o povo assistiu àquilo bestializado”. Essa versão foi relida pelos enaltecedores da Revolução de 1930, que não descuidaram da forma republicana, mas realçaram a exclusão social, o militarismo e o estrangeirismo da fórmula implantada em 1889. Isto porque o Brasil brasileiro teria nascido em 1930. MELLO, M. T. C. A república consentida: cultura democrática e científi ca no fi nal do Império. Rio de Janeiro: FGV, 2007 (adaptado). O texto defende que a consolidação de uma determinada memória sobre a Proclamação da República no Brasil teve, na Revolução de 1930, um de seus momentos mais importantes. Os defensores da Revolução de 1930 procuraram construir uma visão negativa para os eventos de 1889, porque esta era uma maneira de a) valorizar as propostas políticas democráticas e liberais vitoriosas. b) resgatar simbolicamente as fi guras políticas ligadas à Monarquia. c) criticar a política educacional adotada durante a República Velha. d) legitimar a ordem política inaugurada com a chegada desse grupo ao poder. e) destacar a ampla participação popular obtida no processo da Proclamação. Compreendendo a Habilidade – Avaliar criticamente confl itos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história. C-3 H-15 02. (Sampaio/2013) Ainda que o termo revolução seja discutido por sociólogos e historiadores quando aplicado aos episódios de 1930, não podemos ignorar as transformações que resultaram deste processo. Além disso, a Revolução de 1930 inaugurou um período que duraria 15 anos em que o comando do país estaria nas mãos da mesma pessoa. No Governo Provisório, iniciado em 1930 e que durou quase quatro anos, já era possível perceber as pretensões de Vargas, que governou sem uma Constituição, tendo fechado o Poder Legislativo, além de ter indicado interventores para os estados. Nesse período era visível também
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