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Aula 6 TÍTULO II – DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO TÍTULO II – DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Capítulo I: Do furto (Arts. 155 e 156) Capítulo II: Do roubo e da extorsão (Arts. 157 a 160) Capítulo III: Da usurpação (Arts. 161 e 162) Capítulo IV: Do dano (Arts. 163 a 167) Capítulo V: Da apropriação indébita (Arts. 168 a 170) Capítulo VI: Do estelionato e outras fraudes (Arts. 171 a 179) Capítulo VII: Da receptação (Art. 180) Capítulo VIII: Disposições gerais (Arts. 181 a 183) Capítulo I – Do Furto (Arts. 155 e 156) Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. - Bem juridicamente tutelado: propriedade (usar, gozar e dispor) e posse (usar e gozar) * coisa móvel é qualquer coisa que pode ser retirada do local (ex: animais, casa de madeira, objetos) – coisa de ninguém ou coisa abandonada não constituem crime, mas a coisa perdida configura crime de apropriação de coisa achada (Art. 169, § único, II, CP) ** Ex: posse (carro alugado) – Para Nelson Hungria, o tipo penal protege principalmente a propriedade e só acessoriamente a posse (quem na realidade tem o patrimônio desfalcado é o proprietário) - Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum) * só não pode ser o proprietário ou possuidor da coisa (o tipo penal fala em coisa alheia) ** Proprietário que subtrai coisa sua que estava em poder de terceiro (ex: carro emprestado), incorre no crime de exercício arbitrário das próprias razões (Art. 346). *** Possuidor que não restitui coisa ao seu verdadeiro dono incorre no crime de apropriação indébita (Art. 168) - Sujeito passivo: qualquer pessoa *qualquer pessoa que seja proprietária ou possuidora da coisa - Elemento subjetivo: dolo (de obter definitivamente a coisa para si ou para outrem) – animus furandi *não há modalidade culposa, pois é necessária a vontade do agente de subtrair a coisa para si ou para outrem OBS: Furto de uso: não haverá crime quando a pessoa apenas pega a coisa momentaneamente para usar e pretende tão logo devolvê-la; o entendimento majoritário é que só se aplica para coisas infungíveis; para coisas fungíveis, como dinheiro, haverá furto) - Consumação e tentativa: * 4 correntes para a consumação: 1ª) contraectio: a consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a coisa; não precisa deslocar a coisa (basta o contato do agente com o objeto) 2ª) amotio: a consumação se dá quando a coisa passa para o poder do agente, ainda que por um curto período de tempo, independente da posse pacífica do bem (basta o bem seja retirado do sujeito passivo) 3ª) ablatio: a consumação se dá quando o agente desloca a coisa para longe do dono (retira de sua vigilâcia), de forma pacífica e tranquila 4ª) ilatio: a consumação se dá quando o agente leva a coisa ao local pretendido, a fim de que seja mantida a salvo IMP: STF e STJ adotam a 2ª corrente (amotio) O furto se consuma no momento em que a coisa é retirada da posse da vítima, passando à posse do agente, ainda que não tenha a posse tranquila da coisa (ex: esteja sendo perseguido) STF - HC 113. 563/SP “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que, para a consumação do crime de furto ou de roubo, não se faz necessário que o agente logre a posse mansa e pacífica do objeto do crime, bastando a saída, ainda que breve, do bem da chamada esfera de vigilância da vítima.” STJ - HC 169. 557/RJ “Para a consumação do crime de furto, prescindível (dispensável) a posse mansa e pacífica da res. E não há como alterar, nesta via estreita, a conclusão da Corte estadual de que houve o efetivo domínio do bem.” * Admite-se a tentativa (quando o agente é impedido por motivo alheio – ex: pessoa percebe que bandido colou a mão dentro da sua bolsa) Obs: bandido coloca mão no bolso para tentar furtar vítima, que percebe e grita. Se a vítima nada possuía em seu bolso não haverá tentativa de furto, por ser crime impossível, já que nada tinha para ser furtado (impropriedade do objeto) – Art. 17 (não se pune a tentativa) - Causa de aumento de pena (§1º) – furto noturno: § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. * durante o repouso noturno a capacidade de vigilância é reduzida; basta que seja no período da noite, não importa se é casa, loja, se tem gente dormindo, se não tem; o que importa é que o furto tenha ocorrido à noite. "Para a incidência da causa especial de aumento em questão, para o delito de furto, é suficiente que a infração ocorra durante o repouso noturno, período de maior vulnerabilidade para as residências, lojas e veículos.” (HC 29153 – MS) - Modalidade privilegiada (§2º) - furto privilegiado: § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. . primário = não reincidente (não ter praticado nova infração após 5 anos do cumprimento ou extinção da pena aplicada por infração anterior – Art. 64, I, CP) . pequeno valor tem-se convencionado que é até um salário mínimo Obs: É diferente do princípio da insignificância, quando o agente será absolvido por não ter havido um relevante penal, pois a coisa é de valor ínfimo (excludente de tipicidade – conduta atípica). - Furto de energia (§3º): “gato” § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. * É diferente de quem adultera o medidor (crime de estelionato, pois induz a vítima, no caso a empresa de energia, a erro sobre seu real consumo, obtendo vantagem ilícita – Art. 171) Obs: Furto de sinal de tv a cabo: Há divergências, mas o STF já se pronunciou no sentido de que não se equipara à energia elétrica, pois tv a cabo não é energia e não é possível analogia in malam partem “O sinal de TV a cabo não é energia, e assim, não pode ser objeto material do delito previsto no art. 155, §3º, do Código Penal. Daí a impossibilidade de se equiparar o desvio de sinal de TV a cabo ao delito descrito no referido dispositivo. Ademais, na esfera penal não se admite a aplicação da analogia para suprir lacunas, de modo a se criar penalidade não mencionada na lei (analogia in malam partem), sob pena de violação ao princípio constitucional da estrita legalidade. Precedentes. Ordem concedida.” (HC 97261/RS) - Modalidades qualificadas (§4º e §5º) – furto qualificado: § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. * Análise dos incisos: I) Destruição (elimina o obstáculo, destruindo-o) ou rompimento (elimina o obstáculo sem destruí-lo) de obstáculo: arromba fechadura; destroi cadeado com pé de cabra; II) Abuso de confiança é por exemplo a empregada doméstica que trabalhava há anos na casa e furta coisas; a escalada é ingressar em determinado local por vias anormais (escalar paredes, passar por túnel de esgoto, passar por baixo de cerca); a fraude é quando o agente engana a vítima (ex: veste uniforme de grande supermercado e furta coisas sem que a vítima perceba); a destreza é uma espécie de esperteza, p. ex., “trombadinha” que puxa colar da vítima e sai correndo entre os carros. Obs: furto mediante fraude (usa-se a fraude para facilitar a subtração do bem) x estelionato (usa-se a fraude para que a vítima entregue o bem) III) Emprego de chave falsa: qualquer instrumento que abra fechaduras (grampos, cartão magnético, chave mestra) * Há quem entenda que a chave verdadeira quando furtada também deve ser considerada chave falsa, mas para quem não considera, pode enquadrar como a qualificadora “fraude” (Edgard Noronha) IV) Concurso de pessoas (acordo de vontades – liame subjetivo): haverá tal qualificadora mesmo que só um dos agentes seja maior * Se já existe um grupo que pratica tais crimes de forma constante responderão pelo furto simples e pelo crime de associação criminosa (Art. 288), não havendo a incidência da qualificadora para não haver bis in idem (só responderá por furto qualificado se houver outra qualificadora). § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. OBS: 1. Quem furta veículo, por não haver outro meio de transporte, para socorrer pessoa doente com risco de morrer, estará acobertado pelo estado de necessidade (excludente de ilicitude) 2. Súmula 511, STJ (jun/2014): É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. Apesar da posição topográfica da privilegiadora (§2º), também se aplica ao furto qualificado (§4º e §5º), uma vez que beneficia o réu (seria uma espécie de furto qualificado-privilegiado). Furto famélico: furto cometido por quem tem fome (haveria uma excludente de ilicitude pelo estado de necessidade). Patrimônio x Vida/Saúde . Só se aceita se furtar coisa que cause menor prejuízo à vítima (ex: se em vez de furtar frango furta camarão não irá se enquadrar no furto famélico). “A res furtiva considerada - alimentos e fraldas descartáveis-, caracteriza a hipótese de furto famélico. Deve ser concedida a ordem para anular a decisão condenatória e trancar a ação penal por falta de justa causa.” (STJ - HABEAS CORPUS : HC 62417 SP) “Admite-se o furto famélico quando o agente pratica o delito em estado de necessidade extrema com o propósito de saciar sua fome imediata. Réu que furtou aparelho de som avaliado em R$800,00. Não configurada a situação de urgência na obtenção do alimento.” (TJ-RJ - APELACAO : APL 00019290520138190068 RJ 0001929-05.2013.8.19.0068) - Distinção entre furto e outros crimes: apropriação indébita (Art. 168): o agente recebe o bem de forma lícita do proprietário, mas não o devolve. estelionato (Art. 171): o agente utiliza-se da fraude para fazer com que a vítima lhe entregue o bem voluntariamente (é diferente do furto mediante fraude, quando a fraude é usada para distrair a vigilância da vítima sobre a coisa a ser subtraída pelo agente). exercício arbitrário das próprias razões (Art. 345): quando o agente faz justiça com as próprias mãos (ex: furta tv para compensar dívida não paga) favorecimento real (Art. 349): quando o agente presta auxílio após a consumação do crime, sem que tenha havido prévio acordo (ex: amigo pede a outro que guarde o objeto que acaba de furtar). Se houver prévio acordo, ambos responderão pelo furto qualificado por concurso de agentes. 5. receptação (Art. 180): pessoa que adquire objeto que sabe ser produto de crime ou que não sabe, mas adquire-o culposamente (tinha condições de saber). 6. roubo (Art. 157): quando há emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que diminua a resistência da vítima. 7. peculato-furto (Art. 312, §1º): praticado por funcionário público, que se vale de sua função para subtrair ou facilitar a subtração por terceiro de dinheiro ou outros bens. Art. 156 – Furto de coisa comum Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. - Bem juridicamente tutelado: coisa comum Ex: Co-herdeiro furta carro da garagem do pai falecido antes da partilha - Sujeito ativo: condômino, co-herdeiro ou sócio (crime próprio) * Sociedade sem personalidade jurídica, pois os bens dos sócios se confundem com o da sociedade (coisa comum); na sociedade com personalidade jurídica, os bens individuais dos sócios não se confundem com o da P.J., sendo furto simples, pois o bem pertence à pessoa jurídica (bem de terceiro) e não aos sócios (majoritário). - Sujeito passivo: condômino, co-herdeiro ou sócio (crime próprio) - Ação penal: pública condicionada (§1º) § 1º - Somente se procede mediante representação. - Exclusão do crime (Art. 156, §2º): § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. coisas fungíveis (Art. 85, CC – podem ser substituídas por outras da mesma espécie, quantidade e qualidade) – ex: dinheiro Não está prejudicando o co-proprietário, pois tem a sua parte resguardada. EXERCÍCIO: A respeito do crime de furto, é correto afirmar que: caracteriza a escalada o ingresso no imóvel pela porta dos fundos. (b) considera-se repouso noturno somente o período das 12 às 6 horas. (c) a energia elétrica pode ser objeto de furto. (d) se admite na forma culposa a aplicação apenas de sanção pecuniária. (e) configura o crime de furto a subtração de ser humano vivo. EXERCÍCIO: A respeito do crime de furto, é correto afirmar que: caracteriza a escalada o ingresso no imóvel pela porta dos fundos. Só o ingresso por meios anormais. (b) considera-se repouso noturno somente o período das 12 às 6 horas. O legislador não estabeleceu horário, pois depende de cada localidade (horário que a população costuma dormir) (c) a energia elétrica pode ser objeto de furto. Art. 155, § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. (d) se admite na forma culposa a aplicação apenas de sanção pecuniária. Não há previsão para a modalidade culposa. (e) configura o crime de furto a subtração de ser humano vivo. Apenas se pode furtar coisa alheia móvel.
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