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1 ASPECTOS DA FISIOLOGIA DO SONO NO TRABALHO EM TURNOS João Carlos do Amaral Lozovey, Doutorando Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção e Sistemas Disciplina de FISIOLOGIA DO TRABALHO Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências da Saúde Departamento de Saúde Comunitária Rua Washington Mansur, 270. 80.540-210 - Curitiba - Paraná lozovey@netpar.com.br 2 RESUMO Aspectos da fisiologia do sono no trabalho em turnos. O homem, mamífero de hábitos diurnos, apresenta ritmo circadiano regulado pelo núcleo suprachiasmático do hipotálamo e pela rafe. Os sincronizadores externos, “zeitgebers”, mais importantes são a luz, o relógio e as questões profissionais. O trabalho noturno interfere nesse relógio biológico, através das alterações da temperatura corporal, central e periférica, nos ritmos sono-vigília e nas secreções humorais de melatonina e corticosteróides substancialmente. Na discussão do papel da temperatura corporal, encontramos que o gradiente de velocidade de queda na temperatura tem maior poder de indução do sono. Isso poderia estar implicado na insônia de indução presente na idade avançada, decorrente de alterações na temorregulação. Por outro lado, tem sido demonstrado que a alteração na curva térmica diária dos trabalhadores de turnos é temporário e retorna ao normal quando do retorno à condição normal de sono noturno. A relação sono-vigília fica desregulada em sonos diurnos. Torna-se mais curto, com mais ondas lentas, fases 2 e 3, e sono paradoxal (REM) encurtados, por isso não recuperador. A luz tem sido demostrada como o principal ciclador no homem. Interfere diretamente na secreção de melatonina pelo hipotálamo-hipófise, mesmo em exposições curtas como cinco minutos . Surgem reacionalmente interferências de secreções de hormônios adrenocorticotróficos, 17- corticosteróides e 17-cetosteróides. Apresentamos a interferência dos níveis plasmáticos de magnésio na excitabilidade neuronal incluindo a qualidade do sono, e possível influência gênica na perda renal de magnésio e estresse. Como estudo de campo entrevistamos 30 trabalhadores de indústria petroquímica da região metropolitana de Curitiba-Pr, 15 de regime diurno e 15 de trabalhos em turnos de revezamento. Foram classificados por testagem como vespertinos (8), indiferentes (21) e matutinos (1). Discutimos aspectos gerais de mal adaptação ao sono, como luz, barulho, cansaço, relação familiar. Falaram de ganhos e perdas sociais e pecuniárias. ABSTRACT Physiological aspects of sleep and shift work. The man was considered a diurnal mamalian, with circadian rhythm regulated by suprachiasmatic hipotalamic nuclei. The most important external syncronizer are the light, the clock and the professional questions. Night-work interfers on this biologic clock, trough the core-temperature, central and peripheral, at the sleep-wake relatioship and over the hormonal secretion of melatonin and corticosteroids. The speed gradiend of heat loss represents important way to sleep induce. Age related insomnia with sleep induced difficulty can be explained by this disruped pathway. The internal structure of sleep was disruped too, in a diurnal sleep. It was short, whit less slow-waves sleep and short phase REM. Brigh-ligth has the principal paper as a stimulant in men. Interfers directly in melatonin secretion at the pineal-hipotalamus axis, increasing secretions of adrenal hormons, even in short periods of exposition like five minuts during a sleep episodes. We discuss some magnesium papers in neuronal excitation, including the sleep-wake mechanism and sleep quality. We chose 30 petrochemical workers, 15 at the daily normal squedule and other15 shift workers, to study their relation with sleep complience crossing with light, noise conditions and social satisfaction. They talked about social and economics loss and gains. We can´t demonstated difference betwen diurnal or noturnal behavior type of workers. palavras chave :sono, ritmo circadiano, melatonina, relógio biológico,trabalhos em turnos. key words : sleep, circadian rhythm, melatonin, biologic clock, shift works. 3 INTRODUÇÃO A busca da excelência quanto à gestão do trabalho na atual sociedade exige dos profissionais com ela envolvidos, um entendimento de como pode ser alcançado o equilíbrio entre a gestão da produção e o respeito e crescimento do homem, fazendo com que essas questões sejam estratégicas e como tal recebam um tratamento estratégico, estabelecendo dessa forma um novo paradigma organizacional. Neste contexto alguns pressupostos básicos se fazem necessários e se voltam para o entendimento do comportamento do homem no trabalho, como também, para a satisfação das suas necessidades básicas e para o entendimento da visão de mundo deste homem. Em higiene ocupacional e ergonomia, nas interações com o homem trabalhador e sua atividade, temos que adotar o princípio do entendimento e avaliação antecipada dos riscos da exposição, e modificar o curso dos determinantes de saúde, na busca da qualidade e quantidade reflexa da vida dessa população abordada. Na clínica diária, dentre as citações e queixas dos trabalhadores, temos encontrado com alguma frequência questões vinculadas às atividades em horários anormais de trabalho. Percebemos que o grupo de manifestações independe da profissão ou do tipo de relação funcional, de trabalho autônomo ou de vínculo empregatício. Embora dependa do grau de complexidade da tarefa e dos componentes de consumo e comprometimento fisiológico, depende primordialmente do horário trabalhado e da organização, ou melhor, da desorganização de vida gerada pelo fato. O sono, sua fisiologia e os comprometimentos decorrentes das modificações introduzidas pelos horários ditos anormais, constituem ponto peculiar e recorrente nas pesquisas e estudos internacionais. Passa a existir, então, a necessidade de se aprofundar os conhecimentos nas relações dos turnos de trabalho, nos ritmos pessoais de sono e de dinâmica de vida, como condicionantes e como resultados de saúde. 4 REVISÃO O homem é um mamífero de hábitos diurnos. Social e biologicamente programado para as atividades essencialmente diurnas. Essa ritmicidade funcional, com duração aproximada de um dia (20 a 28 horas) é chamada de circadiana (“circa dies” do latim, cerca de um dia), expressão introduzida por HALBERG em 1959 e já difundida como conceito biológico. Também chamado de relógio biológico, esse sistema de controle fisiológico é processo adaptativo de milhões de anos e acha-se incorporado ao patrimônio filogenético da espécie, e manifesta-se através de multioscilações temporais variadas . Veja-se a reprodução, os batimentos cardíacos, a respiração, cuja temporização varia de anos a segundos e que recebe as características individuais qualitativas, além das características da espécie ¹. Em humanos, o sítio do relógio biológico, ou marcapasso circadiano, é o núcleo anterior, suprachiasmático do hipotálamo.² A ritmicidade individual, intrínseca, é capaz de agir independentemente de influências externas, habitualmente com tendências à extensão no tempo, mas sem grandes desvios apesar de expontânea ³ (RUTENFRANZ et al., 1989, pp. 44-45). São esses sincronizadores que mantém a homeostase enquanto os externos se modificam, e são também os responsáveis ou os implicados na não total adaptação do homem aos regimes de turnos. Falam em anatomia física e anatomia temporal. Esses três últimos grupos de autores citados, chamam classicamente os indicadores externos de tempo de “Zeitgebers”, ou doadores de tempo, em alemão. Para o homem,os sincronizadores mais importantes dos ritmos biológicos são os fatores sócio-ecológicos que se repetem com uma periodicidade próxima às 24 horas, especialmente a luz, o relógio e as questões profissionais. Os horários de trabalho determinam a maioria dos horários em torno dos quais a sociedade se articula : funcionamento dos serviços, das escolas, das atividades familiares, das refeições, do transporte e do lazer, e fazem com que a vida esteja sincronizada a um ritmo de 24 horas com a maioria das atividades sendo exercidas durante o dia e o descanso à noite. Quando se trabalha de dia e dorme-se à noite tudo corre bem. Quando inverte-se a situação, os sincronizadores conflitantes e a inércia do sistema circadiano geram uma “desordem temporal”, na expressão de ASCHOFF, citado por FERREIRA 4. 5 Essa desordem temporal implica em quatro maiores interferências fisiológicas: alterações na temperatura corporal; no ciclo vigília-sono; na produção de hormônios da córtex e da medular da supra-renal. Em decorrência disso os três principais marcadores do ritmo usados em estudos circadianos no homem são: temperatura corporal, que pode ser monitorada continuamente sem procedimento invasivo, e as determinações dos níveis plasmáticos de cortisol e de melatonina, que dependem de acompanhamentos laboratoriais após coletas populacionais invasivas. TEMPERATURA CORPORAL Evidências de pesquisas através da expressão de proteína c-Fos em animais, inclusive mamíferos, tem sugerido um componente hipnogênico de ativação de neurônios termo- sensíveis no núcleo pré-óptico do hipotálamo.5 Aumentos de temperatura local foram descritos como indutores do início do sono, e do aumento da frequência de ondas delta ( 0,5 a 4 Hz.) no EEG, e concomitante estágio de sono NREM. Essas alterações encontradas carcterísticamente em répteis e aves, poderiam justificar a sonolência em seres humanos em climas e situações de exposição à maiores temperaturas. Outros estudos referenciam justamente o contrário. Gilbert e col. 6 demostram que em diversas situações experimentais, mudanças na temperatura corporal tem sido inversamente relacionadas com mudanças na propensão ao sono. Nos casos de administração de substâncias hipnogênicas como melatonina, adenosina, agonistas da adenosina e benzodiazepínicos, induzem sonolência ao mesmo tempo que induzem queda na temperatura corporal central. Em contraste, substâncias como cafeína, anfetaminas, nicotina, cocaína, diminuem a sonolência e aumentam a temperatura corporal. Mais recentemente o grau de indução do sono tem sido correlacionado com o gradiente/velocidade do abaixamento da temperatura central, condição de perda de calor, mais do que com a própria temperatura. Essa interferência do centro termorregulatório na fisiologia do sono, poderia estar também vinculada à insônia de desencadeamento do sono relacionada à idade. Ao longo do dia, nas 24 horas, a temperatura do corpo humano varia de 1,1° a 1,2° C, elevando-se durante as horas de maior atividade, até um máximo ao redor de 20 a 22 horas e caindo a um mínimo entre 02 e 04 horas, na madrugada. COLQUHOUM e EDWARDS (1970) e BONJAR (1960), citados por FISCHER 7 apresentam graficamente o ritmo circadiano da temperatura, em situações normais de trabalho em turnos. 6 Figura 1. - Ritmo circadiano normal de temperatura corporal. FISCHER et al. 7 Figura 2. Evolução das curvas de temperatura noturna entre trabalhadores de turnos Linha tracejada – trabalhador diurno. Linha A – curva típica de temperatura de trabalhador noturno. Linha B - curva da temperatura da 5ª à 13ª semanas, trabalhadores noturnos. Linha C – curva de temperatura média da 1ª à 4ª semanas de trabalhadores em turnos noturnos sem experiência anterior. FISCHER et al. 7 7 Nota-se que, apesar da adaptação e da mudança das curvas como passar das semanas, não chegam a fazer uma inversão total dia-noite, e os valores da temperatura não alcançam à noite os mesmos picos diurnos. Mais do que isso, MEERS, também citado por FISCHER 7 verificou que a adaptação da temperatura corporal ao turno noturno desaparecia, retornando aos padrões diurnos, tão logo houvesse um dia de folga. E não há sistema possível em que o trabalhador esteja sempre e continuamente à noite, sem folga alguma. RELAÇÃO VIGÍLIA-SONO Entre as alterações fisiológicas geradas pelos turnos de trabalho a relação vigília-sono é uma das mais estudadas. Nos ambulatórios das empresas, durante os exames periódicos e nas consultas por problemas de saúde, as alterações do sono são queixas permanentes dos trabalhadores. As alterações do sono são as mais abordadas pela literatura. Como foi comentado acima, o déficit de sono é crônico, pois o turneiro dorme pouco tempo e a estrutura interna do sono é alterada. Os cochilos são frequentes. A utilização das horas de folga para repor o sono é uma constante, gerando inconvenientes sociais e familiares. O ritmo de vigília-sono tem comando na formação reticular ascendente e nas atividades hipotalâmicas, chegando a um máximo de alerta em torno do meio-dia e nivelando em um mínimo em torno do adormecer e acordar. Antes de mais nada, é preciso lembrar que o sono faz parte do ciclo de 24 horas do ser humano. Ao dormir, uma pessoa está armazenando e recuperando energia para o resto da tempo vital. À medida que se adormece, o corpo humano é alvo de diversas variações. A temperatura corporal diminui, os olhos se acalmam, o ritmo cardíaco e a respiração tornam-se mais lentos. Simplificadamente podemos dividir o sono normal em cinco fases. O adormecimento e o sono leve, das fases 1 e 2, são seguidos por um aprofundamento, ainda com tonus muscular e ondas eletroencefalográficas lentas das fases 3 e 4. Segue-se a fase 5, de “sono paradoxal”, com relaxamento profundo, sonhos e movimentos rápidos dos alhos (fase REM do inglês rapid eyes movement). Essa fase recorre a cada 90-100 minutos e aprofunda-se à medida que o sono avança, mais longo no fim da madrugada, após 4 a 5 repetições. Normalmente a média de sono ideal para um adulto é de sete e meia horas por dia, o que permite de cinco a sete ciclos completos. Também os ciclos do sonhar repetem-se, 8 inicialmente com duração de dez minutos, chegando a 30/40 minutos nos últimos, geralmente aqueles que são lembrados FERREIRA 8 estudando 1250 turneiros encontrou a resposta de questionários que 10% não dormem bem após o turno da manhã (06-14 horas), 7,5% após o turno da tarde (14-22 horas) e 50% após o turno da noite (22-06 horas). Justifica o problema da manhã, pela amputação do período final do sono, pois o trabalhador deve acordar muito cedo para ir ao serviço, diminuindo a quantidade do sono paradoxal. Quanto ao turno da noite, o sono sofre grandes perturbações tanto na estrutura interna quanto na sua duração, que é menor que a de um sono noturno. CAMPOS e DIAS 9 aplicando questionários a 277 turneiros de uma empresa petroquímica no Rio de Janeiro, só homens, encontraram como manifestação não-excludente, 49% de insônia, 41% de sonolência e 46% de necessidade de cochilos durante o dia para repor as perdas. Três quartos dos trabalhadores, 76%, queixaram-se do barulho como fator complicante para dormir em casa durante o dia, acarretando déficit crônico e uma perturbação qualitativa crônica. A irregularidade do sono/insônia ocorre porque o sistema todo desregula, fica fora do padrão 10. Não há fase mais importante do sono, segundo o autor, todas tem que ser atravessadas adequadamente. Hélio Lemmi, neurologista brasileiro radicado nos Estados Unidos, profissional do Centrode Estudos do Sono, do Hospital Batista de Memphis, Tenesse, afirma que qualquer hora é hora para dormir, mas que em virtude de condicionamento social, 95% das dormidas ocorrem à noite 10. No entanto, o sono diurno, é, em geral, mais curto que o noturno, tem sua estrutura interna desregulada e por isso considerado menos repousante e recuperador 4. A ordem temporal interna está inversa, favorável à vigília. A resistência ao dormir é tanto menor quanto maior for o período anterior de vigília. É o resultado da interação dos ritmos circadianos e a regulação homeostática do organismo, na sua recuperação. O sono diurno contém menos estágios 2, e menos sono profundo. O estágio REM, às vezes, aparece mais precocemente e até com perda de duração 11. Pior ainda são as repetidas interrupções sócio familiares, que não permitem um desenrolar normal do ciclo. Por isso o déficit crônico, mesmo dormindo em alguns casos, maior tempo total. A qualidade do sono é que está comprometida . 9 Existe, no entanto, um percentual de pessoas que adapta-se bem aos períodos não- diurnos de vida. OSTBERG e HORN 12 descrevem dois tipos de indivíduos: o matutino, introvertido, de ritmo circadiano mais precoce no dia, e o tipo vespertino, com tendência extrovertida e um retardo na curva de temperatura, iniciando a subida duas horas mais tarde, e chegando ao mínimo também com duas horas de atraso. Comentam ser mais acentuada a diferença acima dos quarenta anos. Há indivíduos com um comportamento bem claro de um lado e de outro, e um contingente intermediário. Esses estudos têm demonstrado que os vespertinos suportam melhor o trabalho noturno. SECREÇÕES HORMONAIS Essas diferenças de adaptação, além de culturais, baseiam-se também nas atividades endócrinas. Em condições normais de repouso noturno e atividade diurna as secreções córtico-esteróides são baixas à noite e elevadas durante o dia. O despertar matutino, entre 05 e 08 horas, tem relação com o pico plasmático de cortisol. Da mesma maneira, os 17-hidroxi- corticosteróides e os 17-cetosteróides têm picos plasmáticos e excreção urinárias maiores nessa fase do dia e da atividade, independentemente do trabalho ser diurno ou noturno. São necessários longos períodos em uma rotina de trabalho em um determinado turno para aproximar-se da adaptação. As secreções de hormônios medulares da supra-renal, especialmente as catecolaminas, têm comportamento diferenciado. Na situação normal, os baixos valores presentes durante o sono elevam-se ao longo do dia até um pico no final da tarde. Se houver privação do sono e persistência da luz, de atividade ou alimentação, o ciclo de nor-adrenalina é abolido. Isso não ocorre com a adrenalina, e retrata uma não-adaptação funcional. O “coração” do sistema circadiano dos vertebrados está no diencéfalo: a rede hipotálamo-hipófise ( núcleo suprachiasmático) e nas retinas. Fundamentalmente ativado via luz/melatonina. 13 A luz é o principal sincronizador circadiano no homem 13,14. Mesmo em curtos períodos de exposição visual, retiniana, como 5 minutos, pode-se produzir um resset temporal semelhante à cinco horas de luz, modificando a interação sono-vigília. Isso sugere que para o sono diurno, induzido mesmo no escuro, ou para a vigília durante a noite, momentos de foto-estimulação são capazes de interferir significativamente nos estados de base dessa relação, aumentando a alerta. Deve-se atentar para o detalhe dos trabalhadores noturnos que são interrompidos com luz em seus períodos de dormidas diurnas, o quanto isso 10 pode interferir na sua recuperação . Por outro lado é fator de desenvolvimento/tratamento de distúrbios decorrentes de viagens trans-meridianas e de inadaptações sazonais do ritmo circadiano. Em todos os mamíferos a melatonina é envolvida nos sistemas de regulação do relógio biológico diário e nos processos sazonais como reprodução, ganho de peso, hibernação e termoregulação 15. Sintetizada na hipófise a partir da serotonina, por N-acetilação e O- metilação, é degradada no fígado, na retina, e no plexo coróide. Muito pequenas quantidades podem ser produzida pela própria retina, para efeito fototrópico, sem quantidade para ação circadiana. Sua produção obedece o inverso da exposição luminosa, e responde mesmo à exposições de curta duração. Além da ação local, retiniana de contração e alongamento dos fotóforos (cones e bastões), desempenha papel fundamental no ciclo sono-vigília. Age diretamente sobre o núcleo suprachiasmático do hipotálamo, interferindo no controle da temperatura corporal, e nos níveis de secreção de gonadotropinas. Portanto as variações das exposições luminosas diárias e sazonais geram comportamentos diferentes em diferentes grupos de pessoas. Horne, citado por BUGUET 16, sugeriu que o aquecimento corporal e cerebral induzido pelo exercício físico modificaria o sono pós exercício, em tempo variável , mais evidente dentro das duas horas seguintes. Quando a carga é muito grande ou o sujeito é não condicionado, o eixo hipotálamo – hipófise - supra-renal é fortemente ativado, gerando diminuição do tempo total de sono e redução das ondas lentas, com a consequente deterioração da qualidade do sono, como diminuição da fase REM. Quando o exercício é moderado, ou o sujeito é condicionado, existe aumento do tempo de sono às custas da fase REM, com aumento das ondas lentas. A aclimatação ao calor e à atividade física melhoram a estrutura interna. Quanto à exposição noturna ao frio, durante o sono, há o retardo e encurtamento do REM, que pode ser arrumado pela aclimatação, retornando a estrutura inicial. Importantes nessas discussões, são as variações sazonais e geográficas aos trabalhadores que se transladam. Para manutenção da qualidade do sono e da vida há necessidade de tempo de aclimatação. Outras observações “in vivo” no homem, tem demonstrado interação na depleção cerebral e periférica de íons magnésio em convulsões generalizadas, esquizofrenia, ansiedade, agressividade, estresse e aumento da atividade psicomotora. O Mg está fortemente implicado na regulação da excitabilidade neuronal, principalmente de SNC 17. 11 Assim, o aumento do Mg tem sido correlacionado com a perda da qualidade do sono, tempo total maior, maior período de ondas lentas e perda do sono paradoxal. Com a diminuição do íon, temos a perda dos estágios 3 e 4, fases mais profundas, e perda da sensibilidade para acordar, isto é, sonolência. Esses processos poderiam justificar as alterações do sono presentes na síndrome da fadiga crônica que acompanha a perda renal de Mg decorrente de estresse. Recentemente, segundo esse autor, teria sido possível a vinculação da perda renal de Mg com áreas do cromossomo 11, e a hereditariedade. Estariam também vinculas geneticamente à qualidade do sono e adaptação ? Essas alternâncias endócrinas normais modulam inúmeras reações metabólicas e vitais ao longo do dia, imprimindo a característica circadiana dos indivíduos. Acreditam inúmeros autores que haja, portanto, uma seleção natural entre as pessoas para que trabalhem em turnos. Aqueles que não se adaptam mas que permanecem em horários normais de trabalho passam a apresentar alterações biológicas e sociais diversas. 12 ESTUDO POPULACIONAL Metodologia Entrevistamos na primeira semana de dezembro deste ano, 30 trabalhadores de funções diversas de uma indústria petroquímica da região metropolitana de Curitiba – Pr. A finalidade foi a de estudar reflexos dos horários diferenciados de trabalho no ciclo sono- vigília. Há na empresa dois regimes de trabalhos característicos : o horário diurno, dito normal,das 07:45 às 16:45 horas, de segundas às sextas-feiras; outro, de turnos contínuos de revezamento, com grupos de trabalho em esquema de rodízio às 07:30 – 15:30 – 23:30 horas, também 8h/dia, média de 36,5 horas /semana. Escolhemos 15 empregados de cada um dos dois regime, aleatoriamente percorrendo as áreas de trabalho, e solicitando a participação das pessoas até o número previsto. Todos foram de áreas operacionais e supervisão. Nenhum gerente. Aplicamos um questionário de classificação do comportamento frente ao sono-vigília como matutino/indiferente/vespertino, e que foi apresentado à empresa em maio de 2000, durante a Semana de Saúde, em palestra proferida por Alexandre Lowen, intitulada “O Prazer”, onde se abordou qualidade de vida. Apresentamos em anexo o questionário. Trata-se de instrumento não referenciado, não parametrizado e não validado epidemiologica e metodologicamente. Serviu como ponto de partida para uma entrevista aberta com os trabalhadores sobre a relação entre turnos, horários, cargas de trabalho e sono. Resultados comportamento Número pessoas mulheres Média de idade Pontuação média matutino indiferente vespertino Diurnos 15 5 38a 16,0 zero 12 3 Turnos de revezamento 15 3 37a 17,7 1 5 13 Discussão Somente dois entrevistados nunca trabalharam em turnos. Todos queixaram-se das complicações do sono em relação aos horários anormais. Raros foram os entrevistados que afirmaram sentirem-se normalmente após o sono diurno pós trabalho da madrugada. Não encontramos diferenças de respostas entre os dois grupos, nos questionários e nas entrevistas. Semelhante aos achados de Ferreira 8, o pior horário na opinião do grupo, é o noturno, sendo o horário das 07:30 ruim por ter que acordar muito cedo. O mais bem aceito é o de 15:30-23:30 – “ atrapalha um pouco a noite da família, mas é o melhor para o trabalho, e ainda tem a manhã de folga para outras atividades” segundo os operadores. As maiores dificuldades para dormir de dia são a luz e o barulho. Completamente diferentes da situação noturna. Referem que é difícil a relação familiar de pressão para Ter sossego. Mesmo assim o sono não é tão revigorante como o da noite. Utilizam várias horas das folgas para repor o cansaço. Pior é a situação pós três madrugadas seguidas do esquema. Leva dois a três dias para voltar ao normal. Gasta toda a folga. Boa parte das pessoas relata que com o passar dos anos surgem dificuldades de manter a vigília à noite e conseguir recuperar com o sono do dia. Dizem ser do próprio cansaço, do aspecto físico e da falta de disposição e paciência para as perdas sociais que o turno acarreta. Os motivos de permanência em turnos apesar do problemas conhecidos, são fundamentalmente pecuniários e de oportunidades de trabalho, como o próprio emprego, e até o cargo de supervisão. Citam o excesso de pressão administrativa, o trabalho com responsabilidade continuada dia após dia no mesmo assunto, mas realçam mesmo os aspectos de salários e de mais folgas. Os que já estão em horários diurnos reconhecem a melhoria de qualidade de vida como um todo, mas muitos voltariam aos turnos pelo melhor salário. Chegamos a conversar, em um dos grupos, sobre a hipótese de aceitação de rodízios em uma suposta “hora de cochilo” para os turnos da madrugada, institucionalizados para recuperação e estabilização. Podemos indagar, como estarão as condições psicomotoras pós cochilo ? Qual o reflexo nas condições de segurança do trabalho? Como ficariam as relações trabalhistas ? Dormir no trabalho... vagabundagem!! No seu livro A Semente da Vitória , Nuno Cobra 18 diz textualmente : “Respeite seu corpo no sono que relaxa, solta, predispõe, organiza os hormônios, elimina os excessos, recompõe todas as células do nosso organismo, liberta o inconsciente para o encontro com a energia universal. Sono sem barulho, sem interrupções, sem telefone, com cama macia, lençóis de algodão, silêncio, tranquilidade.” 14 Anexo I – questionário aplicado à amostra de trabalhadores. ACERTE SEUS PONTEIROS.... Você é matutino, indiferente ou vespertino ? A- Você prefere acordar : 1. antes das 06:30 horas 2. entre 06:30 e 07:30 3. entre 07:30 e 08:30 4. depois das 08:30. B- A que horas você gostaria de ir dormir todas as noites ? 1. antes das 21 horas 2. entre 21 e 22 3. entre 22 e 23 4. depois das 23 horas. C- Se V. tivesse que se deitar à meia noite, como seria ? 1. pegaria no sono imediatamente 2. ficaria rolando na cama alguns minutos antes de dormir 3. depende do dia da semana 4. ficaria rolando na cama por um bom tempo. D- Se V. tivesse que acordar sempre às 06:00 da manhã, como se sentiria? 1. ótimo 2. um pouco sonolento no começo, mas não seria um grande problema 3. mal 4. seria muito desagradável. E- A que horas costuma perceber os primeiros sinais de sono ? 1. antes das 21 horas 2. entre 21 e 22 3. entre 22 e 23 4. depois das 23 horas. F- Quanto tempo depois de acordar V. se sente disposto para sair de casa ? 1. menos de 20 minutos 2. entre 20 e 40 min. 3. entre 40 min. e 01 hora 4. uma hora ou mais. G- Indique em que medida V. é mais ativo pela manhã ou à noite: 1. muito ativo pela manhã e cansado à noite 2. até certo ponto ativo pela manhã 3. até certo ponto ativo de noite e cansado pela manhã 4. muito ativo à noite. SOME OS NÚMEROS ASSINALADOS EM CADA RESPOSTA Classificação : MATUTINO = de 06 a 11 pontos INDIFERENTE = de 12 a 18 pontos VESPERTINO = de 19 a 24 pontos 15 Referências bibliográficas 1. FISCHER FM, SILVA AA, MARQUES N, MENNA BARRETO L. Cronobiologia e trabalho humano. Revista CIPA, São Paulo, nº 128, p.20-28, 1990. 2. BROWN EN, CHOE Y, LUITHARDT H, CZEISLER CA. Statistical model of the human core temperature cercadian rhythm. Am J Physiol Endocrinol Metab 279: E669 – E683, 2000. 3. RUTENFRANZ J, KNAUTH P, FISHER FM. Trabalho em turnos e noturno, São Paulo, Ed.Hucitec. 1989, 135 p. 4. FERREIRA LL. Sono de trabalhadores em turnos alternantes. Revista Bras. de Saúde Ocupacional. São Paulo, v. 51, nº 13, p.25-27, jul-set.85. 5. GONG H, SZYMUSIAK R, KING J, STEININGER T, McGINTY D. Sleep – related c- fos proteine expression un the preoptic hipothalamus : effects of ambient warming. Am J Physiol Regulatory Integrative Comp Physiol 279: R2079 – R2088, 2000. 6. 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