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9 SONO ASPECTOS DA FISIOLOGIA

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASPECTOS DA FISIOLOGIA DO SONO 
NO TRABALHO EM TURNOS 
 
 
 
João Carlos do Amaral Lozovey, Doutorando 
 
 
Universidade Federal de Santa Catarina 
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção e Sistemas 
Disciplina de FISIOLOGIA DO TRABALHO 
 
 
 
Universidade Federal do Paraná 
Setor de Ciências da Saúde 
Departamento de Saúde Comunitária 
Rua Washington Mansur, 270. 
80.540-210 - Curitiba - Paraná 
lozovey@netpar.com.br 
 
 2 
RESUMO 
Aspectos da fisiologia do sono no trabalho em turnos. O homem, mamífero de hábitos 
diurnos, apresenta ritmo circadiano regulado pelo núcleo suprachiasmático do hipotálamo e 
pela rafe. Os sincronizadores externos, “zeitgebers”, mais importantes são a luz, o relógio e as 
questões profissionais. O trabalho noturno interfere nesse relógio biológico, através das 
alterações da temperatura corporal, central e periférica, nos ritmos sono-vigília e nas 
secreções humorais de melatonina e corticosteróides substancialmente. Na discussão do papel 
da temperatura corporal, encontramos que o gradiente de velocidade de queda na temperatura 
tem maior poder de indução do sono. Isso poderia estar implicado na insônia de indução 
presente na idade avançada, decorrente de alterações na temorregulação. Por outro lado, tem 
sido demonstrado que a alteração na curva térmica diária dos trabalhadores de turnos é 
temporário e retorna ao normal quando do retorno à condição normal de sono noturno. A 
relação sono-vigília fica desregulada em sonos diurnos. Torna-se mais curto, com mais ondas 
lentas, fases 2 e 3, e sono paradoxal (REM) encurtados, por isso não recuperador. A luz tem 
sido demostrada como o principal ciclador no homem. Interfere diretamente na secreção de 
melatonina pelo hipotálamo-hipófise, mesmo em exposições curtas como cinco minutos . 
Surgem reacionalmente interferências de secreções de hormônios adrenocorticotróficos, 17-
corticosteróides e 17-cetosteróides. Apresentamos a interferência dos níveis plasmáticos de 
magnésio na excitabilidade neuronal incluindo a qualidade do sono, e possível influência 
gênica na perda renal de magnésio e estresse. Como estudo de campo entrevistamos 30 
trabalhadores de indústria petroquímica da região metropolitana de Curitiba-Pr, 15 de regime 
diurno e 15 de trabalhos em turnos de revezamento. Foram classificados por testagem como 
vespertinos (8), indiferentes (21) e matutinos (1). Discutimos aspectos gerais de mal 
adaptação ao sono, como luz, barulho, cansaço, relação familiar. Falaram de ganhos e perdas 
sociais e pecuniárias. 
 
ABSTRACT 
Physiological aspects of sleep and shift work. The man was considered a diurnal mamalian, 
with circadian rhythm regulated by suprachiasmatic hipotalamic nuclei. The most important 
external syncronizer are the light, the clock and the professional questions. Night-work 
interfers on this biologic clock, trough the core-temperature, central and peripheral, at the 
sleep-wake relatioship and over the hormonal secretion of melatonin and corticosteroids. The 
speed gradiend of heat loss represents important way to sleep induce. Age related insomnia 
with sleep induced difficulty can be explained by this disruped pathway. The internal 
structure of sleep was disruped too, in a diurnal sleep. It was short, whit less slow-waves sleep 
and short phase REM. Brigh-ligth has the principal paper as a stimulant in men. Interfers 
directly in melatonin secretion at the pineal-hipotalamus axis, increasing secretions of adrenal 
hormons, even in short periods of exposition like five minuts during a sleep episodes. We 
discuss some magnesium papers in neuronal excitation, including the sleep-wake mechanism 
and sleep quality. We chose 30 petrochemical workers, 15 at the daily normal squedule and 
other15 shift workers, to study their relation with sleep complience crossing with light, noise 
conditions and social satisfaction. They talked about social and economics loss and gains. We 
can´t demonstated difference betwen diurnal or noturnal behavior type of workers. 
 
palavras chave :sono, ritmo circadiano, melatonina, relógio biológico,trabalhos em turnos. 
key words : sleep, circadian rhythm, melatonin, biologic clock, shift works. 
 3 
INTRODUÇÃO 
 
A busca da excelência quanto à gestão do trabalho na atual sociedade exige dos 
profissionais com ela envolvidos, um entendimento de como pode ser alcançado o 
equilíbrio entre a gestão da produção e o respeito e crescimento do homem, fazendo com que 
essas questões sejam estratégicas e como tal recebam um tratamento estratégico, 
estabelecendo dessa forma um novo paradigma organizacional. 
Neste contexto alguns pressupostos básicos se fazem necessários e se voltam para o 
entendimento do comportamento do homem no trabalho, como também, para a satisfação das 
suas necessidades básicas e para o entendimento da visão de mundo deste homem. 
 Em higiene ocupacional e ergonomia, nas interações com o homem trabalhador e sua 
atividade, temos que adotar o princípio do entendimento e avaliação antecipada dos riscos da 
exposição, e modificar o curso dos determinantes de saúde, na busca da qualidade e 
quantidade reflexa da vida dessa população abordada. 
 Na clínica diária, dentre as citações e queixas dos trabalhadores, temos encontrado 
com alguma frequência questões vinculadas às atividades em horários anormais de trabalho. 
Percebemos que o grupo de manifestações independe da profissão ou do tipo de relação 
funcional, de trabalho autônomo ou de vínculo empregatício. Embora dependa do grau de 
complexidade da tarefa e dos componentes de consumo e comprometimento fisiológico, 
depende primordialmente do horário trabalhado e da organização, ou melhor, da 
desorganização de vida gerada pelo fato. 
 O sono, sua fisiologia e os comprometimentos decorrentes das modificações 
introduzidas pelos horários ditos anormais, constituem ponto peculiar e recorrente nas 
pesquisas e estudos internacionais. Passa a existir, então, a necessidade de se aprofundar os 
conhecimentos nas relações dos turnos de trabalho, nos ritmos pessoais de sono e de dinâmica 
de vida, como condicionantes e como resultados de saúde. 
 4 
REVISÃO 
 
 O homem é um mamífero de hábitos diurnos. Social e biologicamente programado 
para as atividades essencialmente diurnas. Essa ritmicidade funcional, com duração 
aproximada de um dia (20 a 28 horas) é chamada de circadiana (“circa dies” do latim, cerca 
de um dia), expressão introduzida por HALBERG em 1959 e já difundida como conceito 
biológico. 
 Também chamado de relógio biológico, esse sistema de controle fisiológico é processo 
adaptativo de milhões de anos e acha-se incorporado ao patrimônio filogenético da espécie, e 
manifesta-se através de multioscilações temporais variadas . Veja-se a reprodução, os 
batimentos cardíacos, a respiração, cuja temporização varia de anos a segundos e que recebe 
as características individuais qualitativas, além das características da espécie ¹. 
 Em humanos, o sítio do relógio biológico, ou marcapasso circadiano, é o núcleo 
anterior, suprachiasmático do hipotálamo.² 
 A ritmicidade individual, intrínseca, é capaz de agir independentemente de influências 
externas, habitualmente com tendências à extensão no tempo, mas sem grandes desvios apesar 
de expontânea ³ (RUTENFRANZ et al., 1989, pp. 44-45). São esses sincronizadores que 
mantém a homeostase enquanto os externos se modificam, e são também os responsáveis ou 
os implicados na não total adaptação do homem aos regimes de turnos. Falam em anatomia 
física e anatomia temporal. 
 Esses três últimos grupos de autores citados, chamam classicamente os indicadores 
externos de tempo de “Zeitgebers”, ou doadores de tempo, em alemão. 
 Para o homem,os sincronizadores mais importantes dos ritmos biológicos são os 
fatores sócio-ecológicos que se repetem com uma periodicidade próxima às 24 horas, 
especialmente a luz, o relógio e as questões profissionais. Os horários de trabalho determinam 
a maioria dos horários em torno dos quais a sociedade se articula : funcionamento dos 
serviços, das escolas, das atividades familiares, das refeições, do transporte e do lazer, e 
fazem com que a vida esteja sincronizada a um ritmo de 24 horas com a maioria das 
atividades sendo exercidas durante o dia e o descanso à noite. 
 Quando se trabalha de dia e dorme-se à noite tudo corre bem. Quando inverte-se a 
situação, os sincronizadores conflitantes e a inércia do sistema circadiano geram uma 
“desordem temporal”, na expressão de ASCHOFF, citado por FERREIRA 4.
 5 
 Essa desordem temporal implica em quatro maiores interferências fisiológicas: 
alterações na temperatura corporal; no ciclo vigília-sono; na produção de hormônios da córtex 
e da medular da supra-renal. 
 Em decorrência disso os três principais marcadores do ritmo usados em estudos 
circadianos no homem são: temperatura corporal, que pode ser monitorada continuamente 
sem procedimento invasivo, e as determinações dos níveis plasmáticos de cortisol e de 
melatonina, que dependem de acompanhamentos laboratoriais após coletas populacionais 
invasivas. 
 
 TEMPERATURA CORPORAL 
 Evidências de pesquisas através da expressão de proteína c-Fos em animais, inclusive 
mamíferos, tem sugerido um componente hipnogênico de ativação de neurônios termo-
sensíveis no núcleo pré-óptico do hipotálamo.5 Aumentos de temperatura local foram 
descritos como indutores do início do sono, e do aumento da frequência de ondas delta ( 0,5 a 
4 Hz.) no EEG, e concomitante estágio de sono NREM. Essas alterações encontradas 
carcterísticamente em répteis e aves, poderiam justificar a sonolência em seres humanos em 
climas e situações de exposição à maiores temperaturas. 
 Outros estudos referenciam justamente o contrário. Gilbert e col. 6 demostram que em 
diversas situações experimentais, mudanças na temperatura corporal tem sido inversamente 
relacionadas com mudanças na propensão ao sono. Nos casos de administração de substâncias 
hipnogênicas como melatonina, adenosina, agonistas da adenosina e benzodiazepínicos, 
induzem sonolência ao mesmo tempo que induzem queda na temperatura corporal central. Em 
contraste, substâncias como cafeína, anfetaminas, nicotina, cocaína, diminuem a sonolência e 
aumentam a temperatura corporal. 
Mais recentemente o grau de indução do sono tem sido correlacionado com o 
gradiente/velocidade do abaixamento da temperatura central, condição de perda de calor, mais 
do que com a própria temperatura. Essa interferência do centro termorregulatório na fisiologia 
do sono, poderia estar também vinculada à insônia de desencadeamento do sono relacionada 
à idade. 
 Ao longo do dia, nas 24 horas, a temperatura do corpo humano varia de 1,1° a 1,2° C, 
elevando-se durante as horas de maior atividade, até um máximo ao redor de 20 a 22 horas e 
caindo a um mínimo entre 02 e 04 horas, na madrugada. COLQUHOUM e EDWARDS 
(1970) e BONJAR (1960), citados por FISCHER 7 apresentam graficamente o ritmo 
circadiano da temperatura, em situações normais de trabalho em turnos. 
 6 
 
 
Figura 1. - Ritmo circadiano normal de temperatura corporal. 
FISCHER et al. 7 
 
Figura 2. 
Evolução das curvas de temperatura noturna entre trabalhadores de turnos 
Linha tracejada – trabalhador diurno. 
Linha A – curva típica de temperatura de trabalhador noturno. 
Linha B - curva da temperatura da 5ª à 13ª semanas, trabalhadores noturnos. 
Linha C – curva de temperatura média da 1ª à 4ª semanas de trabalhadores em turnos 
 noturnos sem experiência anterior. 
FISCHER et al. 7 
 7 
 
Nota-se que, apesar da adaptação e da mudança das curvas como passar das semanas, não 
chegam a fazer uma inversão total dia-noite, e os valores da temperatura não alcançam à noite 
os mesmos picos diurnos. Mais do que isso, MEERS, também citado por FISCHER 7 
verificou que a adaptação da temperatura corporal ao turno noturno desaparecia, retornando 
aos padrões diurnos, tão logo houvesse um dia de folga. E não há sistema possível em que o 
trabalhador esteja sempre e continuamente à noite, sem folga alguma. 
 
 RELAÇÃO VIGÍLIA-SONO 
 Entre as alterações fisiológicas geradas pelos turnos de trabalho a relação vigília-sono 
é uma das mais estudadas. Nos ambulatórios das empresas, durante os exames periódicos e 
nas consultas por problemas de saúde, as alterações do sono são queixas permanentes dos 
trabalhadores. 
As alterações do sono são as mais abordadas pela literatura. Como foi comentado 
acima, o déficit de sono é crônico, pois o turneiro dorme pouco tempo e a estrutura interna do 
sono é alterada. Os cochilos são frequentes. A utilização das horas de folga para repor o sono 
é uma constante, gerando inconvenientes sociais e familiares. 
 O ritmo de vigília-sono tem comando na formação reticular ascendente e nas 
atividades hipotalâmicas, chegando a um máximo de alerta em torno do meio-dia e nivelando 
em um mínimo em torno do adormecer e acordar. 
 Antes de mais nada, é preciso lembrar que o sono faz parte do ciclo de 24 horas do ser 
humano. Ao dormir, uma pessoa está armazenando e recuperando energia para o resto da 
tempo vital. À medida que se adormece, o corpo humano é alvo de diversas variações. A 
temperatura corporal diminui, os olhos se acalmam, o ritmo cardíaco e a respiração tornam-se 
mais lentos. 
 Simplificadamente podemos dividir o sono normal em cinco fases. O adormecimento e 
o sono leve, das fases 1 e 2, são seguidos por um aprofundamento, ainda com tonus muscular 
e ondas eletroencefalográficas lentas das fases 3 e 4. Segue-se a fase 5, de “sono paradoxal”, 
com relaxamento profundo, sonhos e movimentos rápidos dos alhos (fase REM do inglês 
rapid eyes movement). Essa fase recorre a cada 90-100 minutos e aprofunda-se à medida que 
o sono avança, mais longo no fim da madrugada, após 4 a 5 repetições. 
 Normalmente a média de sono ideal para um adulto é de sete e meia horas por dia, o 
que permite de cinco a sete ciclos completos. Também os ciclos do sonhar repetem-se, 
 8 
inicialmente com duração de dez minutos, chegando a 30/40 minutos nos últimos, geralmente 
aqueles que são lembrados 
 FERREIRA 8 estudando 1250 turneiros encontrou a resposta de questionários que 10% 
não dormem bem após o turno da manhã (06-14 horas), 7,5% após o turno da tarde (14-22 
horas) e 50% após o turno da noite (22-06 horas). Justifica o problema da manhã, pela 
amputação do período final do sono, pois o trabalhador deve acordar muito cedo para ir ao 
serviço, diminuindo a quantidade do sono paradoxal. Quanto ao turno da noite, o sono sofre 
grandes perturbações tanto na estrutura interna quanto na sua duração, que é menor que a de 
um sono noturno. 
 CAMPOS e DIAS 9 aplicando questionários a 277 turneiros de uma empresa 
petroquímica no Rio de Janeiro, só homens, encontraram como manifestação não-excludente, 
49% de insônia, 41% de sonolência e 46% de necessidade de cochilos durante o dia para repor 
as perdas. Três quartos dos trabalhadores, 76%, queixaram-se do barulho como fator 
complicante para dormir em casa durante o dia, acarretando déficit crônico e uma perturbação 
qualitativa crônica. 
 A irregularidade do sono/insônia ocorre porque o sistema todo desregula, fica fora do 
padrão 10. Não há fase mais importante do sono, segundo o autor, todas tem que ser 
atravessadas adequadamente. 
 Hélio Lemmi, neurologista brasileiro radicado nos Estados Unidos, profissional do 
Centrode Estudos do Sono, do Hospital Batista de Memphis, Tenesse, afirma que qualquer 
hora é hora para dormir, mas que em virtude de condicionamento social, 95% das dormidas 
ocorrem à noite 10. 
 No entanto, o sono diurno, é, em geral, mais curto que o noturno, tem sua estrutura 
interna desregulada e por isso considerado menos repousante e recuperador 4. A ordem 
temporal interna está inversa, favorável à vigília. A resistência ao dormir é tanto menor 
quanto maior for o período anterior de vigília. É o resultado da interação dos ritmos 
circadianos e a regulação homeostática do organismo, na sua recuperação. 
 O sono diurno contém menos estágios 2, e menos sono profundo. O estágio REM, às 
vezes, aparece mais precocemente e até com perda de duração 11. Pior ainda são as repetidas 
interrupções sócio familiares, que não permitem um desenrolar normal do ciclo. Por isso o 
déficit crônico, mesmo dormindo em alguns casos, maior tempo total. A qualidade do sono é 
que está comprometida . 
 
 9 
Existe, no entanto, um percentual de pessoas que adapta-se bem aos períodos não-
diurnos de vida. OSTBERG e HORN 12 descrevem dois tipos de indivíduos: o matutino, 
introvertido, de ritmo circadiano mais precoce no dia, e o tipo vespertino, com tendência 
extrovertida e um retardo na curva de temperatura, iniciando a subida duas horas mais tarde, e 
chegando ao mínimo também com duas horas de atraso. Comentam ser mais acentuada a 
diferença acima dos quarenta anos. Há indivíduos com um comportamento bem claro de um 
lado e de outro, e um contingente intermediário. Esses estudos têm demonstrado que os 
vespertinos suportam melhor o trabalho noturno. 
 
SECREÇÕES HORMONAIS 
 Essas diferenças de adaptação, além de culturais, baseiam-se também nas atividades 
endócrinas. Em condições normais de repouso noturno e atividade diurna as secreções 
córtico-esteróides são baixas à noite e elevadas durante o dia. O despertar matutino, entre 05 e 
08 horas, tem relação com o pico plasmático de cortisol. Da mesma maneira, os 17-hidroxi-
corticosteróides e os 17-cetosteróides têm picos plasmáticos e excreção urinárias maiores 
nessa fase do dia e da atividade, independentemente do trabalho ser diurno ou noturno. São 
necessários longos períodos em uma rotina de trabalho em um determinado turno para 
aproximar-se da adaptação. 
 As secreções de hormônios medulares da supra-renal, especialmente as catecolaminas, 
têm comportamento diferenciado. Na situação normal, os baixos valores presentes durante o 
sono elevam-se ao longo do dia até um pico no final da tarde. 
 Se houver privação do sono e persistência da luz, de atividade ou alimentação, o ciclo 
de nor-adrenalina é abolido. Isso não ocorre com a adrenalina, e retrata uma não-adaptação 
funcional. 
O “coração” do sistema circadiano dos vertebrados está no diencéfalo: a rede 
hipotálamo-hipófise ( núcleo suprachiasmático) e nas retinas. Fundamentalmente ativado via 
luz/melatonina. 13 A luz é o principal sincronizador circadiano no homem 13,14. Mesmo em 
curtos períodos de exposição visual, retiniana, como 5 minutos, pode-se produzir um resset 
temporal semelhante à cinco horas de luz, modificando a interação sono-vigília. Isso sugere 
que para o sono diurno, induzido mesmo no escuro, ou para a vigília durante a noite, 
momentos de foto-estimulação são capazes de interferir significativamente nos estados de 
base dessa relação, aumentando a alerta. Deve-se atentar para o detalhe dos trabalhadores 
noturnos que são interrompidos com luz em seus períodos de dormidas diurnas, o quanto isso 
 10 
pode interferir na sua recuperação . Por outro lado é fator de desenvolvimento/tratamento de 
distúrbios decorrentes de viagens trans-meridianas e de inadaptações sazonais do ritmo 
circadiano. 
 Em todos os mamíferos a melatonina é envolvida nos sistemas de regulação do relógio 
biológico diário e nos processos sazonais como reprodução, ganho de peso, hibernação e 
termoregulação 15. Sintetizada na hipófise a partir da serotonina, por N-acetilação e O-
metilação, é degradada no fígado, na retina, e no plexo coróide. Muito pequenas quantidades 
podem ser produzida pela própria retina, para efeito fototrópico, sem quantidade para ação 
circadiana. Sua produção obedece o inverso da exposição luminosa, e responde mesmo à 
exposições de curta duração. 
 Além da ação local, retiniana de contração e alongamento dos fotóforos (cones e 
bastões), desempenha papel fundamental no ciclo sono-vigília. Age diretamente sobre o 
núcleo suprachiasmático do hipotálamo, interferindo no controle da temperatura corporal, e 
nos níveis de secreção de gonadotropinas. Portanto as variações das exposições luminosas 
diárias e sazonais geram comportamentos diferentes em diferentes grupos de pessoas. 
 Horne, citado por BUGUET 16, sugeriu que o aquecimento corporal e cerebral 
induzido pelo exercício físico modificaria o sono pós exercício, em tempo variável , mais 
evidente dentro das duas horas seguintes. Quando a carga é muito grande ou o sujeito é não 
condicionado, o eixo hipotálamo – hipófise - supra-renal é fortemente ativado, gerando 
diminuição do tempo total de sono e redução das ondas lentas, com a consequente 
deterioração da qualidade do sono, como diminuição da fase REM. Quando o exercício é 
moderado, ou o sujeito é condicionado, existe aumento do tempo de sono às custas da fase 
REM, com aumento das ondas lentas. A aclimatação ao calor e à atividade física melhoram a 
estrutura interna. 
 Quanto à exposição noturna ao frio, durante o sono, há o retardo e encurtamento do 
REM, que pode ser arrumado pela aclimatação, retornando a estrutura inicial. Importantes 
nessas discussões, são as variações sazonais e geográficas aos trabalhadores que se 
transladam. Para manutenção da qualidade do sono e da vida há necessidade de tempo de 
aclimatação. 
 Outras observações “in vivo” no homem, tem demonstrado interação na depleção 
cerebral e periférica de íons magnésio em convulsões generalizadas, esquizofrenia, ansiedade, 
agressividade, estresse e aumento da atividade psicomotora. O Mg está fortemente implicado 
na regulação da excitabilidade neuronal, principalmente de SNC 17. 
 11 
Assim, o aumento do Mg tem sido correlacionado com a perda da qualidade do sono, 
tempo total maior, maior período de ondas lentas e perda do sono paradoxal. Com a 
diminuição do íon, temos a perda dos estágios 3 e 4, fases mais profundas, e perda da 
sensibilidade para acordar, isto é, sonolência. Esses processos poderiam justificar as 
alterações do sono presentes na síndrome da fadiga crônica que acompanha a perda renal de 
Mg decorrente de estresse. 
Recentemente, segundo esse autor, teria sido possível a vinculação da perda renal de 
Mg com áreas do cromossomo 11, e a hereditariedade. Estariam também vinculas 
geneticamente à qualidade do sono e adaptação ? 
 Essas alternâncias endócrinas normais modulam inúmeras reações metabólicas e 
vitais ao longo do dia, imprimindo a característica circadiana dos indivíduos. 
 Acreditam inúmeros autores que haja, portanto, uma seleção natural entre as pessoas 
para que trabalhem em turnos. Aqueles que não se adaptam mas que permanecem em horários 
normais de trabalho passam a apresentar alterações biológicas e sociais diversas. 
 
 12 
ESTUDO POPULACIONAL 
 
Metodologia 
 
 Entrevistamos na primeira semana de dezembro deste ano, 30 trabalhadores de 
funções diversas de uma indústria petroquímica da região metropolitana de Curitiba – Pr. A 
finalidade foi a de estudar reflexos dos horários diferenciados de trabalho no ciclo sono-
vigília. 
 Há na empresa dois regimes de trabalhos característicos : o horário diurno, dito 
normal,das 07:45 às 16:45 horas, de segundas às sextas-feiras; outro, de turnos contínuos de 
revezamento, com grupos de trabalho em esquema de rodízio às 07:30 – 15:30 – 23:30 horas, 
também 8h/dia, média de 36,5 horas /semana. 
 Escolhemos 15 empregados de cada um dos dois regime, aleatoriamente percorrendo 
as áreas de trabalho, e solicitando a participação das pessoas até o número previsto. Todos 
foram de áreas operacionais e supervisão. Nenhum gerente. 
 Aplicamos um questionário de classificação do comportamento frente ao sono-vigília 
como matutino/indiferente/vespertino, e que foi apresentado à empresa em maio de 2000, 
durante a Semana de Saúde, em palestra proferida por Alexandre Lowen, intitulada “O 
Prazer”, onde se abordou qualidade de vida. Apresentamos em anexo o questionário. 
 Trata-se de instrumento não referenciado, não parametrizado e não validado 
epidemiologica e metodologicamente. Serviu como ponto de partida para uma entrevista 
aberta com os trabalhadores sobre a relação entre turnos, horários, cargas de trabalho e sono. 
 
 
 Resultados 
 
 
comportamento Número 
pessoas 
 
mulheres 
 Média 
de idade
Pontuação 
média matutino indiferente vespertino 
Diurnos 15 5 38a 16,0 zero 12 3 
Turnos de 
revezamento 
15 3 37a 17,7 1 5 
 
 
 13 
 Discussão 
 Somente dois entrevistados nunca trabalharam em turnos. Todos queixaram-se das 
complicações do sono em relação aos horários anormais. Raros foram os entrevistados que 
afirmaram sentirem-se normalmente após o sono diurno pós trabalho da madrugada. Não 
encontramos diferenças de respostas entre os dois grupos, nos questionários e nas entrevistas. 
 Semelhante aos achados de Ferreira 8, o pior horário na opinião do grupo, é o noturno, 
sendo o horário das 07:30 ruim por ter que acordar muito cedo. O mais bem aceito é o de 
15:30-23:30 – “ atrapalha um pouco a noite da família, mas é o melhor para o trabalho, e 
ainda tem a manhã de folga para outras atividades” segundo os operadores. 
 As maiores dificuldades para dormir de dia são a luz e o barulho. Completamente 
diferentes da situação noturna. Referem que é difícil a relação familiar de pressão para Ter 
sossego. Mesmo assim o sono não é tão revigorante como o da noite. Utilizam várias horas 
das folgas para repor o cansaço. Pior é a situação pós três madrugadas seguidas do esquema. 
Leva dois a três dias para voltar ao normal. Gasta toda a folga. 
 Boa parte das pessoas relata que com o passar dos anos surgem dificuldades de manter 
a vigília à noite e conseguir recuperar com o sono do dia. Dizem ser do próprio cansaço, do 
aspecto físico e da falta de disposição e paciência para as perdas sociais que o turno acarreta. 
 Os motivos de permanência em turnos apesar do problemas conhecidos, são 
fundamentalmente pecuniários e de oportunidades de trabalho, como o próprio emprego, e até 
o cargo de supervisão. Citam o excesso de pressão administrativa, o trabalho com 
responsabilidade continuada dia após dia no mesmo assunto, mas realçam mesmo os aspectos 
de salários e de mais folgas. Os que já estão em horários diurnos reconhecem a melhoria de 
qualidade de vida como um todo, mas muitos voltariam aos turnos pelo melhor salário. 
 Chegamos a conversar, em um dos grupos, sobre a hipótese de aceitação de rodízios 
em uma suposta “hora de cochilo” para os turnos da madrugada, institucionalizados para 
recuperação e estabilização. Podemos indagar, como estarão as condições psicomotoras pós 
cochilo ? Qual o reflexo nas condições de segurança do trabalho? Como ficariam as relações 
trabalhistas ? Dormir no trabalho... vagabundagem!! 
 No seu livro A Semente da Vitória , Nuno Cobra 18 diz textualmente : 
 “Respeite seu corpo no sono que relaxa, solta, predispõe, organiza os 
hormônios, elimina os excessos, recompõe todas as células do nosso organismo, 
liberta o inconsciente para o encontro com a energia universal. Sono sem barulho, 
sem interrupções, sem telefone, com cama macia, lençóis de algodão, silêncio, 
tranquilidade.” 
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Anexo I – questionário aplicado à amostra de trabalhadores. 
 
 
ACERTE SEUS PONTEIROS.... 
Você é matutino, indiferente ou vespertino ? 
 
A- Você prefere acordar : 
1. antes das 06:30 horas 
2. entre 06:30 e 07:30 
3. entre 07:30 e 08:30 
4. depois das 08:30. 
 
 
B- A que horas você gostaria de ir dormir 
todas as noites ? 
1. antes das 21 horas 
2. entre 21 e 22 
3. entre 22 e 23 
4. depois das 23 horas. 
 
 
C- Se V. tivesse que se deitar à meia noite, 
como seria ? 
1. pegaria no sono imediatamente 
2. ficaria rolando na cama alguns minutos 
antes de dormir 
3. depende do dia da semana 
4. ficaria rolando na cama por um bom 
tempo. 
 
 
D- Se V. tivesse que acordar sempre às 
06:00 da manhã, como se sentiria? 
1. ótimo 
2. um pouco sonolento no começo, mas 
não seria um grande problema 
3. mal 
4. seria muito desagradável. 
 
E- A que horas costuma perceber os 
primeiros sinais de sono ? 
1. antes das 21 horas 
2. entre 21 e 22 
3. entre 22 e 23 
4. depois das 23 horas. 
 
 
F- Quanto tempo depois de acordar V. se 
sente disposto para sair de casa ? 
1. menos de 20 minutos 
2. entre 20 e 40 min. 
3. entre 40 min. e 01 hora 
4. uma hora ou mais. 
 
 
G- Indique em que medida V. é mais ativo 
pela manhã ou à noite: 
1. muito ativo pela manhã e cansado à 
noite 
2. até certo ponto ativo pela manhã 
3. até certo ponto ativo de noite e cansado 
pela manhã 
4. muito ativo à noite. 
 
 
SOME OS NÚMEROS ASSINALADOS 
EM CADA RESPOSTA 
 
Classificação : 
MATUTINO = de 06 a 11 pontos 
INDIFERENTE = de 12 a 18 pontos 
VESPERTINO = de 19 a 24 pontos
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