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AULA 09 - DA TROCA OU PERMUTA_ DO CONTRATO ESTIMATÓRIO_ DA DOAÇÃO.

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Profª. Silmara H. Fuzaro Saidel
Direito Civil – Dos Contratos
	AULA 09
DA TROCA OU PERMUTA; DO CONTRATO ESTIMATÓRIO; 
DA DOAÇÃO
1.) TROCA OU PERMUTA - art. 533
1.1) Conceito 
A troca ou permuta é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. 
É negócio jurídico: sinalagmático, oneroso, comutativo, consensual (não tendo caráter real, mas apenas obrigacional: gera para os permutantes a obrigação de transferir, um para o outro, o domínio de determinada coisa) e solene, por exceção.
Quando um deles faz a reposição parcial em dinheiro, a troca não se transmuda em compra e venda, salvo se representar mais da metade do pagamento.
1.2.) Regulamentação Jurídica 
Aplicasse à troca todas as disposições relativas à compra e venda, com apenas duas modificações: 
a) salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o contrato; 
b) é nula a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento expresso dos outros descendentes.
2.) DO CONTRATO ESTIMATÓRIO - arts. 534 a 537
2.1.) Conceito
Contrato estimatório ou de vendas em consignação é aquele em que uma das partes (consignante) entrega bens móveis a outra (consignatária), ficando esta autorizada a vendê-la, obrigando-se a pagar preço previamente ajustado, se não preferir restituir as coisas consignadas dentro de prazo ajustado. 
Tem natureza mercantil.
É negócio jurídico sinalagmático, comutativo, oneroso, e real.
2.2) Requisitos 
o consignante deve entregar a coisa ao consignatário;
a coisa objeto do contrato deve ser móvel;
o consignatário tem a obrigação de restituir a coisa ou pagar o preço no prazo previamente estabelecido;
o consignante transfere ao consignatário a disponibilidade da coisa.
2.3) Regulamentação
- O contrato estimatório transfere ao consignatário os riscos; logo a perda ou a deterioração (com culpa ou não) da coisa não exime o consignatário de cumprir a obrigação que tem para com o consignante . (art. 535)
- Os credores do consignatário não têm direito sobre o objeto consignado, embora o consignatário ostente a condição de dono da coisa. (art. 536)
- O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição. (art. 537)
3.) DOAÇÃO - arts 538 a 564
3.1) Conceito
Doação é o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita.
É negócio jurídico: gratuito, unilateral, formal (porque se aperfeiçoa com o acordo de vontade das partes), solene, ato inter vivos. 
3.2) Características
a) Natureza contratual e, portanto requer:
I- Capacidade das partes
Capacidade ativa: qualquer pessoa, desde que capaz. Podem os cônjuges fazer doações recíprocas.
Capacidade passiva: qualquer pessoa natural ou jurídica, o nascituro (art. 542), os incapazes (art. 543) e a prole eventual de determinado casal (art. 546) 
II - Licitude do objeto - art 538
Transferência de bens ou vantagens do patrimônio do doador para o do donatário.
Problemática dos bens futuros: possibilidade de doação de bens futuros, mediante a condição: Ex. Frutos, se estes existirem. 
III - Forma prescrita em lei - art. 541; 
A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular.
A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.
b) O animus donandi, - a intenção do doador de fazer uma liberalidade; 
c) A transferência de bens para o patrimônio do donatário 
Deve acarretar um desfalque no patrimônio do doador, e um acréscimo no patrimônio do donatário.
Se aperfeiçoa com a aceitação, não necessitado da entrega para a concretização;
d) A aceitação do donatário, que pode ser:
Expressa 
Tácita - 
Presumida - 
a.) quando, em doação pura, o doador fixa prazo para o donatário se manifestar, sendo que o silêncio entende-se pela aceitação (art. 539)
b.) b) Quando a doação é feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa e o casamento se realiza, (art 546)
Ficta - no caso onde o donatário é incapaz. (art 543) 
3.3) Promessa de doação
Assim como há promessa (ou compromisso) de compra e venda, pode haver, também, promessa de doação.
3.4) Espécies de doação
a) Pura e simples ou típica - Quando o doador não impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário, nem subordina a sua eficácia a qualquer condição. O ato constitui uma liberalidade plena.
Obs: Doação com reserva de usufruto é pura e simples
b) Onerosa, modal, com encargo ou gravada - Aquela em que o doador impõe ao donatário uma incumbência ou dever. 
O encargo pode ser imposto a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral (Art. 553)
c) Remuneratória - É a feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário, por estar prescrito, por exemplo.
O excedente não perde a qualidade de liberalidade - art 540
d) Mista - Decorre da inserção de liberalidade em alguma modalidade diversa de contrato (p. ex., venda a preço vil, que é venda na aparência, e doação na realidade). Embora haja a intenção de doar, existe um preço fixado, caracterizando a venda. Pode ocorrer, também, na aquisição de um bem por preço superior ao valor real (paga-se R$ 1.500,00, sabendo-se que o valor real é R$ 1000,00). O sobrepreço inspira-se na liberalidade que o adquirente deseja praticar.
e) Em contemplação do merecimento do donatário (contemplativa) - Quando o doador menciona, expressamente, o motivo da liberalidade (Ex. donatário é meu amigo), e não sendo caso de recompensa por um favor ou por um serviço.
f) Feita ao nascituro - Dispõe o art. 542 do Código Civil que tal espécie de doação "valerá, sendo aceita pelos pais".
g.) Em forma de subvenção periódica - Trata-se de uma pensão, como favor pessoal ao donatário, cujo pagamento termina com a morte do doador, não se transferindo a obrigação a seus herdeiros, salvo se ele próprio houver estipulado o contrário (art. 545)
h) Em contemplação de casamento futuro (propter nuptias) - É o presente de casamento, dado em consideração às núpcias próximas do donatário com certa e determinada pessoa.( art. 546). 
Ficará sem efeito se o casamento não se realizar. 
E a eficácia se subordina a uma condição suspensiva: a realização do casamento 
i.) Entre cônjuges - art 544
j) Em comum a mais de uma pessoa (conjuntiva) - Entende-se distribuída entre os beneficiados, por igual, salvo se o doador dispuser em contrário (art. 551). 
Se forem marido e mulher, a regra é o direito de acrescer: subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo, em vez da parte do falecido passar aos seus herdeiros.
k) De ascendentes para descendentes - importa adiantamento de legítima (art. 544), salvo se o doador expressamente determinou que o bem doação saia de sua metade disponível.
Não depende da concordância dos demais descendentes.
l) Inoficiosa - É a que excede o limite de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. O art. 549 declara nula somente a parte que exceder tal limite, e não toda a doação.
m) Com cláusula de retorno ou reversão - Permite o art. 547 que o doador estipule o retorno, ao seu patrimônio, dos bens doados, se sobreviver ao donatário. Não fosse essa cláusula, que configura condição resolutiva expressa, os referidos bens passariam aos herdeiros do último. 
A reversão só poderá ser feita a favor do donatário, sendo vedada convertê-la em favor de terceiros.
n) Manual - É a doação verbal de bens móveis de pequeno valor. Será válida se lhe seguir incontinenti a tradição (art. 541, § único). 
Constitui exceção à regra, porque pode ser feita verbalmente, desde que se lhe siga, incontinenti, a tradição. Comoa lei não fornece critério para se aferir o pequeno valor, leva-se em consideração o patrimônio do doador. Em geral, considera-se de pequeno valor a doação que não ultrapassa a dez por cento dele
o) Feita a entidade futura - art. 554 - A doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente.
3.5.) RESTRIÇÕES LEGAIS
Limitações à liberdade de doar, visando preservar o interesse social, o interesse das partes e de terceiros. 
a) Doação pelo devedor já insolvente, ou por ela reduzido à insolvência, por configurar fraude contra credores (art. 158)
b) Doação da parte inoficiosa. - art. 549 
c) Doação de todos os bens do doador. - art. 548 
Considera nula a doação de todos os bens, sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. 
Não haverá restrição se este tiver alguma fonte de renda ou reservar para si o usufruto dos referidos bens, ou de parte deles. 
d) Doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice. - art 550 
A doação pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal 
3.6) REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO
a. ) Nos casos comuns a todos os contratos
Tendo natureza contratual, a doação pode contaminar-se de todos os vícios do negócio jurídico, como erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo, ou fraude contra credores etc., sendo desfeita por ação anulatória. 
Pode ser declarada nula, também, como os demais contratos, se o agente for absolutamente incapaz, o objeto ilícito ou impossível ou não for observada a forma prescrita em lei.
b.) Por descumprimento do encargo
A expressão revogação, utilizada pelo legislador, é inadequada, porque ocorre, na verdade, anulação, rescisão ou resolução. 
É necessário que o donatário tenha incorrido em mora (art. 562). 
Se o doador fixa prazo para o cumprimento do encargo, a mora se dá, automaticamente, pelo seu vencimento. 
A força maior que impede o cumprimento do encargo afasta a mora, porque exclui a culpa.
Não havendo prazo assinado, começa ela desde a interpelação judicial ou extrajudicial (art. 397, § único), devendo ser fixado prazo razoável para a sua execução. 
Só depois de esgotado o prazo é que começa a fluir o lapso prescricional para a propositura da ação revocatória da doação.
c.) Por ingratidão do donatário
O art. 557 admite a revogação da doação também por ingratidão do donatário, mas somente se for pura e simples.
Os arts. 557 e 558 estabelecem rol taxativo das causas, supervenientes à liberalidade, que autorizam a revogação por ingratidão:
Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador.
As doações que não são puras e simples, não podem ser revogadas por ingratidão, nos termos do artigo 564:
3.7.) PRAZOS PARA A REVOGAÇÃO
Prazo de 01 ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor. (art. 559)
A revogação da doação, entretanto, só pode ser pleiteada pelo doador e em juízo, sendo personalíssima a ação. Mas aqueles podem prosseguir na ação iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este falecer depois de ajuizada a lide. (art. 560)
Se vários forem os donatários, e indivisível o encargo, o inadimplemento será considerado total, e assim também a revogação, mesmo que somente um deles não o tenha cumprido.
Se o ônus é divisível, não é justo que a revogação alcance a todos, devendo ser excluídos os que o cumpriram, bem como aqueles a quem o doador quiser perdoar a falta.
Art. 561. No caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto se aquele houver perdoado.
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