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Cursos Online EDUCA www.CursosOnlineEDUCA.com.br Acredite no seu potencial, bons estudos! Curso Gratuito Alimentação Vegana Carga horária: 60hs Conteúdo Origem do vegetarianismo ................................................................................... Pág. 7 O que é ser vegetariano? ..................................................................................... Pág. 19 Vegetarianismo e religião ..................................................................................... Pág. 22 Vegetarianismo e solidariedade animal ............................................................... Pág. 26 Vegetarianismo e meio ambiente ......................................................................... Pág. 30 As dificuldades enfrentadas pelos vegetarianos .................................................. Pág. 32 Crianças vegetarianas.......................................................................................... Pág. 35 Algumas mentiras sobre a alimentação vegetariana ............................................ Pág. 41 Vantagens e desvantagens da dieta vegetariana ................................................ Pág. 43 A transição de dietas ............................................................................................ Pág. 47 Pirâmide alimentar vegetariana ............................................................................ Pág. 50 A ingestão diária recomendada ............................................................................ Pág. 56 Alimentos derivados da soja ................................................................................ Pág. 63 É preciso substituir a carne? ................................................................................ Pág. 68 Receitas vegetarianas .......................................................................................... Pág. 70 Bibliografia........................................................................................................... Pág. 77 7 1.1 – Origem do vegetarianismo Os primeiros relatos de pessoas que optaram por excluir as carnes de sua alimentação datam ainda de antes de Cristo. O filósofo e matemático grego Pitágoras, nascido por volta de 570 a.C., optou por abandonar a carne por motivos religiosos, de saúde e de consciência ecológica. De acordo com os documentos escritos, ele foi um dos primeiros vegetarianos da história, sendo que todos aqueles que seguiam seu sistema alimentar, tinham uma dieta “pitagórica”. Há uma obra chamada Metamorfoses, escrita pelo poeta romano Ovídio que retrata muitas passagens da mitologia grega. Ele atribui a Pitágoras a seguinte fala: “Que crime horrível lançar em nossas entranhas as entranhas de seres animados, nutrir na sua substância e no seu sangue o nosso corpo! Para conservar a vida a um animal, porventura, é mister que morra um outro? Porventura, é mister que em meio de tantos bens que a melhor das mães, a terra, dá aos homens com tamanha profusão, prodigamente, se tenha ainda de recorrer à morte para o sustento, como fizeram ciclopes, e que só degolando animais seja possível cevar a nossa fome? […] É desumanidade não nos comovermos com a morte do cabrito, cujos gritos tanto se assemelham aos das crianças, e comermos as aves a que tantas vezes demos de comer. Ah! quão pouco dista dum enorme crime!” 8 Essa fala não foi proferida por Pitágoras, visto que Ovídio nasceu quase quinhentos anos depois dele, mas reflete sua forma de pensar e os ensinamentos que passava a outras pessoas. O trecho do livro mostra a indignação do filósofo grego perante as mortes de animais que serviam de alimentos para outras pessoas. Em sua visão, essa atitude era um crime, um ato desumano. Afinal, para ele, a natureza era tão generosa para oferecer inúmeras fontes de alimentação que os homens não precisavam sacrificar animais para sobreviverem. Embora muitas pessoas afirmem que o homem é um animal que não foi “projetado” para comer carne e que num tempo muito antigo se alimentava apenas de folhas e frutos, alguns primitivos sacrificavam animais para garantir sua sobrevivência. Era a forma que eles conheciam para se alimentar. Os Neandertais, ou popularmente conhecidos como homens das cavernas, caçavam animais com a ajuda de armas feitas por eles, para que pudessem usar suas peles como proteção ao frio e se alimentar de suas carnes. Eles possuíam hábitos nômades, ou seja, migravam para diversas regiões em busca de abrigo e alimentos. Onde houvesse mais animais para caça, por lá permaneciam até que as fontes de alimento se tornassem escassas. Comer carne era, então, uma forma de sobrevivência. Com o passar dos anos e a evolução da espécie humana, o hábito de comer carne continuou, mas ganhou outras conotações. Em algumas épocas não comer carne não era uma escolha, como fez Pitágoras; era uma imposição social. Na Idade Média, por exemplo, época em que havia grandes diferenças sociais na Europa, nem todas as pessoas tinham acesso à carne. A sociedade, naquela época era dividida em clero, que faziam parte da Igreja, a nobreza e o povo. O clero e a nobreza detinham grande poder político e financeiro, enquanto o povo vivia nas condições mais precárias. Só poderia comer carne quem pertencesse às classes sociais mais elevadas. O povo só comia o que era de origem vegetal ou o que sobrava das demais classes sociais. Comer carne era símbolo de riqueza e poder. O povo comia da mesma comida que davam aos animais, que também se alimentavam de grãos, legumes e verduras. Mas há quem tenha optado por deixar de comer carne por outros motivos. O filósofo Thomas Tyron, em um ato de negação dos desejos do ego, decidiu mudar radicalmente alguns hábitos. 9 Para ele, seria sinal de sabedoria se ele se isolasse do mundo e se privasse de comer carne e peixe. Tyron também não tomava outro líquido além de água. Em 1691, o filósofo publicou um livro chamado “O Caminho da Saúde”, o qual influenciou muitas pessoas com sua defesa do vegetarianismo. Um dos principais influenciados por essa obra foi o médico britânico George Cheyne, que chegou a pesar cerca de 250 quilos. Cheyne, antes de conhecer a obra de Tyron, tinha uma vida desregrada em relação à sua alimentação. Depois que se viu em uma situação delicada devido ao seu excesso de peso, iniciou a dieta proposta em “O Caminho da Saúde” e sentiu os benefícios do vegetarianismo. O médico aderiu com tanta garra a essa nova dieta que publicou a obra “Ensaio sobre Saúde e Vida Longeva” em 1724. Por ser muito influente em Londres, Cheyne conseguiu fazer com que pessoas importantes aderissem ao vegetarianismo, entre elas o poeta britânico Alexander Pope, o escritor irlandês Jonathan Swift, dentre muitos outros. Outro médico que teve contato com a obra de Cheyne foi o italiano Antonio Cocchi. Cocchi também publicou um livro chamado “Del vitto pitagorico per uso della medicina”, cuja tradução para o português é “Da alimentação pitagórica para o uso da medicina”. Essas obras publicadas defendiam o vegetarianismo com justificativas baseadas especialmente na promoção da saúde, sendo que havia uma menção à crueldade com os animais. Mas um dos pensadores influentes do vegetarianismo, Willian Cowherd, afirmava que a opção de não se alimentar de carne era religiosa. Cowherd fez parte do clero da Igreja da Inglaterra até 1800, ano em que rompeu com a Igreja e estabeleceu sua própria seita. Ele afirmava que o vegetarianismo estava prescrito na Bíblia, em Gênesis, capítulo 1, versículo 29. O trecho é o seguinte: “Disse-lhes mais: Eisque vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser- vos-ão para mantimento”. Com base no trecho citado, Cowherd entendeu que Deus deu aos homens todas as ervas, árvores, frutos para que os homens se alimentassem, não citando a alimentação com carne. Por isso, para fazer parte da seita de Cowherd só era necessário ser vegetariano há, pelo menos, seis meses. 10 Cowherd faleceu em 1816, mas seus discípulos deram continuidade à seu trabalho, mantendo sua seita em atividade. Os mais notórios eram James Simpson e Joseph Brotherton, cuja esposa Martha escreveu o primeiro livro de receitas vegetarianas. Alguns anos depois, em 30 de setembro de 1847, Joseph Brotherton e outros adeptos da dieta vegetariana fundaram a Sociedade Britânica Vegetariana, a Vegetarian Society, que está ativa até hoje. Essa Sociedade nasceu em um hospital chamado Northwood Villa e já de início, possuía 150 inscritos. A reunião que deu origem à fundação da Sociedade foi presidida por Brotherton. Outro discípulo de Cowhwer, William Medcalfe, também teve sua importância na propagação da dieta vegetariana. Ele entrou para a seita em 1809 e foi o responsável por disseminar o vegetarianismo pela América. Em 1817 fez uma viagem de uma semana com alguns membros da seita para a América para propagar essa dieta religiosa. Por conta dessa viagem, o livro de Medcalfe, “Abstinência de Carne Animal”, lançado em 1823, foi o primeiro livro a ser publicado nos Estados Unidos que abordava o vegetarianismo. Um americano que ajudou muito na propagação dos ideais religiosos de Cowherd e Medcalfe foi o reverendo William Sylvester Graham. Graham, em suas palestras sobre saúde, recomendava a todos os presentes que seguissem a dieta vegetariana. Graham também desenvolveu uma farinha integral e fez um pão conhecido como pão de Graham. Outros célebres americanos foram influenciados por Graham, tais como Willian e Bronson Alcott, Russel Trall, entre outros. Eles, juntamente com Medcalfe, fundaram em 1850 a Sociedade Vegetariana Americana, que acabou algum tempo depois. Outra americana bastante notável na defesa da dieta vegetariana é Ellen White. White era membro e fundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia e ajudou essa Igreja a construir um instituto de saúde em 1866, local onde era promovida essa dieta. Mais adiante, com a ajuda da Igreja Adventista do Sétimo Dia, John Harvey Kellogg foi estudar medicina com o intuito de manter o instituto de saúde, já que precisava de um médico para sobreviver. Kellogg chegou a se tornar diretor do instituto, mudando seu nome para Battle Creek Sanitarium, em homenagem à cidade de Battle Creek. Kellogg também desenvolveu alimentos à base de cereais, os chamados cereais matinais que receberam seu sobrenome. 11 Ele também foi nomeado porta-voz da Sociedade Vegetariana Americana em 1886, quando esta se instituiu novamente. Em 1923, Kellogg publicou um livro chamado “Dieta Natural para o Homem” que teve grande repercussão entre os americanos. A mãe do vegetarianismo Como foi possível notar, a propagação da dieta vegetariana foi feita por muitas pessoas com grande influência na época. Mas há uma mulher considerada a mãe do vegetarianismo no Ocidente. Seu nome é Anna Bonus Kingsford, nascida na Inglaterra no ano de 1846. 12 Anna tinha o desejo de se tornar médica, entretanto, em seu país as mulheres eram proibidas de cursar a faculdade de medicina. Para conseguir alcançar seus ideais, Anna viajou à Paris, na França, e lá cursou medicina com o objetivo de aprofundar seus estudos sobre a dieta vegetariana. Ela queria provar que deixar de comer carne era saudável para o ser humano e, se fosse médica, suas afirmações teriam maior valor. Essas pesquisas sobre o vegetarianismo foram o objeto de estudo de sua tese, defendida em 1880, com o título em francês “De l’Alimentation Végétale chez l’Homme”, o qual seria em português “Da Alimentação Vegetal do Ser Humano”. Essa tese defendida por Anna Kingsford trazia vários argumentos a favor do vegetarianismo, muitos dos quais tem validade até hoje. Posteriormente, a tese foi reformulada e traduzida para o inglês a fim de se tornar acessível a um maior número de leitores. Na tese, cujo título em inglês foi “The Perfect Way in Diet” (em português “O Caminho Perfeito na Dieta”), Anna pregava os benefícios de não comer carne, o que agregava de positivo para a saúde humana, para o meio ambiente e para os animais. Ela afirmava que matar animais para comer era um ato bárbaro e cruel e que as pessoas só poderiam ser consideradas civilizadas quando parassem de se alimentar de carne. A médica chegou a afirmar que todos aqueles profissionais que trabalhavam com morte e venda de animais para consumo, tais como os fazendeiros e açougueiros, eram desmoralizados e precisavam se elevar para alcançar a civilização. Anna Kingsford é lembrada e mencionada até hoje por aqueles que estudam o vegetarianismo. Ela foi autora de diversas obras, algumas delas em parceria com o escritor inglês Edward Maitland, que a ajudou em muitas lutas a favor dos direitos das mulheres e dos animais. Após a morte de Anna Kingsford em 1888, Edward Maitland escreveu uma biografia da médica, que foi publicada em 1896, chamada “Vida de Anna Kingsford”. Vegetarianismo no Brasil Depois que o vegetarianismo foi levado aos Estados Unidos, seu conhecimento por parte da América Latina se tornou mais facilitado. No Brasil, os primeiros relatos de ações em defesa do vegetarianismo datam de 1921, quando foi fundada a primeira Sociedade Vegetariana Brasileira. Veja a foto: 13 A foto retrata a leitura de “20 argumentos em favor do vegetarianismo”, por Juan Esteve Dulin em uma palestra organizada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, a SVB. À direita da foto estão o presidente e o secretário da então Sociedade Vegetariana Brasileira. Esse fato ocorreu no dia 18 de janeiro de 1921 e foi um marco para a criação da SVB. Juan Esteve Dulin era um médico naturista e foi responsável por divulgar inúmeras informações acerca de hábitos saudáveis por todo o mundo. Viveu no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, entre os anos de 1920 a 1923, chegando a receber o diploma de "Membro Honorário da Sociedade Naturista Brasileiro", no ano de 1927. Depois da criação dessa primeira Sociedade Vegetariana Brasileira, não houve mais registros de sua continuidade. Não se sabe ao certo, até que ano ela existiu e porque se encerrou. Entretanto, existe atualmente uma Sociedade Vegetariana Brasileira, fundada no dia 16 de agosto de 2003. De acordo com o portal da Sociedade Vegetariana Brasileira, “a SVB é uma sociedade sem fins lucrativos, organizada em âmbito nacional, que trabalha para que o vegetarianismo seja conhecido e aceito como uma opção alimentar benéfica para a saúde humana, dos animais e do planeta”. 14 Essa Sociedade é filiada à International Vegetarian Union (IVU), em português União Vegetariana Internacional, que é uma união de várias sociedades vegetarianas ao redor do mundo. Os objetivos da Sociedade Vegetariana Brasileira, de acordo com seu estatuto são: “- a promoção do vegetarianismo em todos os seus aspectos; - a cooperação com organizações de âmbito local, regional, nacional e internacional com objetivos semelhantes. Para alcançar esses objetivos, a SVB se propõe a: - estimular a formação de grupos e organizações que promovam a causa do vegetarianismo,bem como a cooperação entre esses grupos e organizações; - promover e organizar eventos vegetarianos locais, regionais, nacionais e internacionais para divulgar e desenvolver o interesse pela causa do vegetarianismo e dar oportunidade para os vegetarianos se reunirem; - estimular a pesquisa de todos os aspectos do vegetarianismo e a coleta e publicação de materiais sobre o tema; - estudar e sugerir medidas que visem à segurança alimentar e nutricional; - representar a causa do vegetarianismo em organismos locais, regionais, nacionais e internacionais; - impetrar ações judiciais com o fim de preservar os objetivos dos presentes Estatutos; - desenvolver materiais educativos sobre a causa do vegetarianismo e divulgá-los o mais amplamente possível; - angariar fundos para a realização de seus objetivos e dar suporte aos membros e grupos filiados.”. A presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira é Marly Winckler e não há como abordar o vegetarianismo no Brasil sem mencionar seu nome. 15 Marly é vegetariana desde 1982 e, além de ser presidente da SVB, ela é coordenadora da União Vegetariana Internacional para a América Latina e o Caribe. É autora do livro “Vegetarianismo – Elementos para uma Conversa Sobre”, e tradutora de uma obra muito importante para o movimento vegetariano, a “Libertação Animal” de Peter Singer. No Brasil existem alguns movimentos e festivais dedicados aos vegetarianos. É possível citar alguns deles, como uma feira chamada Veg Cultura – Feira de Consumo Ético e Sustentável, onde os expositores não vendem nada de origem animal. Há congressos realizados pelo país, organizados pela Sociedade Brasileira Vegetariana, e lá são ministradas palestras, demonstrações culinárias, exposições de trabalhos, entre muitas outras atividades. Um festival conhecido especialmente pelos vegetarianos da cidade de São Paulo e região é a Verdurada. Nesse evento, há shows de bandas que apoiam o vegetarianismo, palestras sobre assuntos políticos, venda e exposição de materiais, entre outras atividades. Ao final dos shows, é distribuído um jantar vegetariano aos presentes. Esse evento ocorre bimestralmente na cidade de São Paulo. 16 Leitura Complementar Vegetarianismo no Brasil – Revista dos Vegetarianos Marly Winckler, uma das principais personalidades do vegetarianismo no Brasil, conta como está o movimento vegetariano no País Vegetariana desde 1982, Marly Winckler é coordenadora para a América Latina e o Caribe da União Vegetariana Internacional, preside a Sociedade Vegetariana Brasileira e foi responsável por organizar o 36º Congresso Vegetariano Mundial, que aconteceu na cidade de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, em 2005. Ela é autora do livro Vegetarianismo – Elementos para uma Conversa Sobre e foi tradutora do livro Libertação Animal, de Peter Singer, considerado a bíblia do movimento de libertação animal. Nesta entrevista, Marly conta como o vegetarianismo entrou em sua vida e como está o movimento vegetariano no Brasil. Quando e como você decidiu se tornar vegetariana? Foi em 1982. Tive um namorado nesta época que era vegetariano e estava voltando da Índia. Ele me apresentou a parte ética do vegetarianismo e eu comprei a ideia. Então, virei ovo-lacto vegetariana. Desde então, o vegetarianismo tem uma presença cada vez maior na minha vida. Tem uma curiosidade também: quando minha mãe ficou grávida de mim, apareceu um livro na frente dela falando sobre vegetarianismo e ela virou vegetariana nos meses em que estava me esperando. Eu nasci e ela abandonou a dieta. Então, já estava predestinado... (risos). E como foi a transição do ovo-lacto para o veganismo? Naquela época, o veganismo não era divulgado como é hoje. Atualmente, as pessoas estão se tornando veganas por causa de como os animais são criados. Na época em que eu virei vegetariana, as pessoas adotavam o vegetarianismo mais por saúde ou por motivos religiosos e espirituais ou por respeito aos animais. Mas era uma coisa mais por compaixão e não pelos motivos de como os animais eram confinados, como acontece hoje. Quando eu tive notícias desse movimento, que nasceu na Inglaterra e já tem mais de 50 anos, eu fui a um festival vegano, que aconteceu na Califórnia, e lá eu conheci toda essa cultura. Então eu adotei também o veganismo. Isso foi em 1994. Era mais difícil ser vegetariana na década de 80 comparado com hoje? Atualmente, há uma oferta maior de produtos e este tema está entrando em debate. Nos anos 80, você falava que não comia carne e o médico dizia que você tinha que comer. Hoje, ele não pode mais dizer isso. Podemos mostrar para ele, com documentos científicos, que ele está equivocado. O próprio documento da Associação Dietética Americana, que não é uma associação vegetariana, estudou o assunto e tem um parecer favorável ao vegetarianismo. Vários elementos facilitam a vida do vegetariano hoje. A internet é um deles. Nos anos 1980, cada um enfrentava o seu meio sozinho. Com os grupos online e as comunidades virtuais, um dá apoio para o outro. E isso é muito importante. Principalmente para o adolescente, pois sem esse apoio fica muito difícil enfrentar a família. Ele pode trazer informação e conversar com pessoas idôneas e com conhecimento, que irão dar subsídios para ele conversar com os pais e dizer que isso não é coisa de maluco e é uma coisa bem embasada. Hoje, no Brasil, temos a Sociedade Vegetariana, com uma boa organização, possibilitando dar suporte para todos os vegetarianos. 17 Existe algum indício de que o vegetarianismo está crescendo no Brasil? Não temos pesquisas específicas sobre isto no Brasil, mas há muitos indícios de que o vegetarianismo está crescendo. Temos tranquilamente 5% da população que é vegetariana ou simpatizante e estamos caminhando, como nos países da Europa e Estados Unidos, para os 10% ou 12%. E esses indícios são os sites que são visitados. O site que criei em 1999, hoje tem 3 mil visitas por dia. O próprio mercado está oferecendo um leque de produtos que antes nós não encontrávamos, tanto para vegetarianos como para veganos, abordando no rótulo que é um produto sem ingredientes de origem animal e que não é testado em animais. Estive com o presidente da Associação dos Supermercadistas de São Paulo e ele me disse que os únicos setores que estão em crescimento nos supermercados são as seções de produtos orgânicos e naturais. Esses são os setores onde o vegetariano se abastece. Outro indício de crescimento é que as duas grandes indústrias de carne do Brasil estão com produtos para vegetarianos. De repente eles começaram a ter pena dos animais? Não. É porque eles viram que é um nicho de mercado e querem estar presentes nesse segmento. Alias, é o que eu digo sempre: eles não matam os animais porque eles têm gosto por isso. No momento em que você mostrar as vantagens do vegetarianismo para a saúde, para o planeta, para a preservação do meio ambiente e para os próprios animais, mais pessoas irão se tornar vegetarianas e a indústria terá que transferir seus interesses para outras áreas. Como está o Brasil em relação aos outros países na área de proteção dos direitos dos animais? Acho que o debate sobre os direitos dos animais está mais do que na hora de ser feito. A sociedade tem o direito de saber que, por trás de quase todos os produtos que ela consome, são feitos testes muito cruéis com animais, muitas vezes desnecessários. Esses testes não são imprescindíveis para que a ciência avance. O Brasil, em algumas áreas, tem uma legislação muito boa. Mas ela precisa ser implementada e cumprida. Há muitos grupos se organizando hoje e a coisa está avançando. Os Estados Unidos já fizeram esse debate da vivissecção,e a Europa em sua maioria, mas é um assunto no qual ainda assim estão atrasados. Eles não atingiram o que é desejável. Recentemente, um menino organizou um protesto em favor dos testes e isto teve uma repercussão muito grande. A sociedade não foi à raiz do problema e não está toda posicionada. Como surgiu a ideia de criar a Sociedade Vegetariana Brasileira? A Sociedade Vegetariana Brasileira, a SVB, é o resultado de um processo de vários anos. Tive a felicidade de ser pioneira em certas coisas, como criar a primeira lista de discussão na internet sobre vegetarianismo no Brasil e o primeiro site em português. Isso foi um processo que foi arregimentando os vegetarianos, até chegar o momento em que sentimos a necessidade de criar a Sociedade. Até porque, a SVB já nasceu com a grande atribuição de criar o primeiro Congresso Vegetariano Mundial no Brasil, que é organizado pela União Vegetariana Internacional e acontece a cada dois anos em algum país do mundo. Ele foi o primeiro a ser realizado na América Latina. Então, nós precisávamos de uma sociedade para organizar esse congresso. A SVB foi criada em 2003 e está indo muito bem. Temos 20 grupos, em diversas cidades do Brasil, e sócios em mais de 100 cidades. Como funciona a SVB? A Sociedade é organizada em grupos e departamentos. Para criar um grupo da SVB, e cada cidade pode ter vários, bastam três sócios. Os sócios criam um grupo, dão um nome, escolhem um coordenador e podem começar a sua vida como um grupo da SVB. Existem grupos pequenos e grupos com mais de 50 sócios. O objetivo é organizar toda a "teia" da Sociedade. A ideia, como na cidade de São Paulo, por exemplo, é que cada bairro tenha o seu grupo. Assim, ele estará disponível à comunidade fornecendo informações, tendo um centro onde a pessoa possa fazer um curso de culinária, aprender a cultura vegetariana e conviver nesse meio. Temos os departamentos nacionais para qualificar nossa ação, como o de medicina e nutrição, com uma pessoa preparada para coordená-los e apta para dar suporte nessa área para todos os grupos, sócios, a mídia e etc. Além disso, os grupos organizam encontros periódicos, pois nada substitui o contato pessoal. Você acha que a mídia e os veículos em geral dão o devido espaço para o vegetarianismo? Eu acho que menos do que deveria. A mídia tem a obrigação de considerar o vegetarianismo com a importância que ele tem. Nós temos uma mensagem que não é vazia. O vegetarianismo tem implicações importantíssimas na vida da sociedade e na preservação do meio ambiente. Essa dieta eleita no Brasil, que é a Standard American Diet, a dieta americana padrão, cujo acrônimo em inglês é SAD, que traduzindo significa triste, ela é triste mesmo. Essa dieta centrada na carne está ligada a uma destruição do planeta. As produções de carne e de soja estão destruindo as florestas. A soja produzida no País é utilizada para ser ração para o gado. O brasileiro, tirando o óleo, não consome soja. Não é um produto que faz parte da sua dieta. A soja produzida é para dar de ração ou para exportar, também para uso como ração. São necessários de 7 a 9 quilos de soja para produzir 1 quilo de carne. Essa é uma dieta que tem um desperdício embutido muito grande num mundo onde existe fome. Um quinto da população é desnutrida e tem muita morte por causa da fome. A cada dois segundos uma criança morre de fome. Isto é uma realidade. Hoje, temos abundância de alimentos. É uma questão mais política de distribuição. Mas em um mundo futuro de 12 ou 14 bilhões de habitantes, essa dieta não daria para todos. Ela é antiética porque não pode ser estendida para todos. Não fica bem você defendê-la. Além disso, ela está ligada às principais doenças que levam ao óbito da sociedade ocidental. E tem também a questão fundamental que é como estamos criando e abatendo os animais. Tudo isso é muito bem escondido por trás dos frigoríficos e dessa indústria toda para que a população não veja. E nós queremos colocar esse debate em pauta. A população tem o direito de se posicionar, tendo conhecimento de causa. A realidade é que a dieta vegetariana é saudável, adequada em termos nutricionais e benéfica para o planeta e para os animais. Que conselho você daria para uma pessoa que está abolindo a carne do cardápio? Primeiro, procure se unir a um dos grupos da internet que estão por aí. Ali, você vai encontrar apoio e discutir todas as questões com que nos deparamos ao adotar uma dieta vegetariana. Em segundo, procure uma organização, como a Sociedade Vegetariana Brasileira, que vai fornecer um subsídio correto sobre nutrição, para você não ficar desassistido e se sentir mais tranquilo e fortalecido na sua opção. 19 1.2 – O que é ser vegetariano? Sempre que uma pessoa se declara vegetariana, muitos mal entendidos podem ocorrer, principalmente por parte dos menos esclarecidos sobre o assunto. É muito comum quando um vegetariano é convidado a almoçar na casa de um amigo ou parente desinformado, o anfitrião lhe sirva somente uma salada. Entretanto, as pessoas se esquecem de que é vasto o número de pratos que podem ser feitos sem carne. De acordo com a obra “Alimentação Vegetariana: Chega de Abobrinha!”, escrita pelo Mestre DeRose, o vegetariano é aquele que não come carnes de nenhuma espécie, nem vermelha, nem branca, nem de crustáceos ou moluscos. O mestre afirma que o vegetarianismo pode ser dividido em três grupos: - O vegetarianismo, também chamado de lacto-ovo-vegetarianismo, que é a dieta que inclui todos os alimentos que compõem uma dieta comum, com exceção das carnes. O vegetariano pode comer frutas, legumes, verduras, cereais cozidos ou cruz e também ovos e leite. - O vegetalianismo, também chamado de lacto-vegetarianismo, é aquele em que os indivíduos se alimentam dos mesmos alimentos do vegetarianismo, entretanto não comem ovos de nenhuma espécie, pois afirmam que os ovos poderiam, um dia, se tornar seres vivos. Os lacto- vegetarianos tomam leite. - O vegetarismo, também chamado de vegetarianismo puro ou dieta vegana, que não inclui em sua dieta nenhum alimento de origem animal, nem leite, nem ovos, nem carnes. Dentre as pessoas que se declaram vegetarianas, a maioria pertence ao primeiro grupo. O vegetalianismo e os veganos (ou vegans) constituem uma menor parcela, e essa escolha, muitas vezes, tem mais relação com comportamentos doutrinários do que com a busca de hábitos saudáveis. Existem também outros sistemas alimentares entre os animais. Alguns podem ser adotados pelos humanos, entretanto é muito importante ter um acompanhamento médico e nutricional antes de mudar radicalmente qualquer dieta. São eles: - Frugivorismo: quem opta por esse sistema se alimenta apenas de frutas. A razão da escolha desse sistema é que as frutas não deixam resíduos no organismo e não é necessário matar, nem animais nem vegetais, para se alimentar. 20 É um sistema bastante restrito e não se devem cozinhar os alimentos, ou seja, tirá-los de sua forma naturais, caso contrário, nutrientes seriam perdidos. Não se deve acrescentar nem sal nem açúcar nos alimentos. O Mestre DeRose afirma que o único alimento que o ser humano ingere em seu estado natural, ou seja, sem cozimento ou adição de temperos, são as frutas e que, por isso, fomos projetados para nos alimentarmos de frutas. Mas quem decidir seguir esse tipo de dieta não deve fazê-lo de um dia para o outro. A transição deve ser lenta e gradativa. Mestre DeRose recomenda que um vegetariano que queira se tornar frugívoro faça a transição em cinco anos. Um onívoro (que se alimenta de tudo) levaria, em média, dez anos para alcançar essa dieta. - Naturismo ou Crudivorismo: nessa forma dese alimentar, os alimentos devem ser ingeridos crus, pois assim é sua forma natural. Quem adere essa dieta afirma que os alimentos perdem nutrientes e vitalidade ao serem cozidos. É importante lembrar-se de sempre lavar bem os alimentos para retirar as sujeiras e micro-organismos que fazem mal à saúde. O cozimento mataria esses micro-organismos, no entanto, o alimento não será cozido. Embora seja considerada uma dieta bastante saudável, há quem não se adapte a ela pelo fato de sentir falta da comida quente e cozida. Também não é permitido acrescentar sal ou temperos que não sejam naturais aos alimentos. - Cerealismo: no cerealismo, como o próprio nome sugere, a base da alimentação é composta por cereais, tais como o trigo, arroz, aveia, centeio entre outros. Os cereais podem ser consumidos crus ou mesmo cozidos, entretanto, há quem prefira desnaturá-los, ou seja, tirar sua forma natural, o mínimo possível e, por isso, os deixa somente de molho na água para serem hidratados. É isso que se faz com o trigo para kibe, o qual é utilizado para fazer o tabule. O cerealismo originou a chamada alimentação macrobiótica. O nome macrobiótico é de origem grega em que macro significa “grande” e bio significa “vida”, por isso, proporcionaria vida longa. Nessa dieta, há a preferência por muitos cereais integrais, especialmente o arroz integral, legumes, algas marinhas e até mesmo peixe. Não se pode dizer que dieta macrobiótica é vegetariana, pois alguns adeptos podem comer peixe ou outros produtos de origem animal. 21 A alimentação macrobiótica é baseada no equilíbrio entre alimentos. Alguns são considerados yin, outros são considerados yang. O yin-yang é uma filosofia chinesa que prega a existência de duas forças opostas, sendo que o yin representa o lado escuro, noturno, frio, passivo e é associado à força feminina; o yang é o lado mais claro, quente, ativo e associado à força masculina. Os adeptos dessa dieta buscam alimentar-se com alimentos que proporcionem um equilíbrio a seu organismo, ingerindo tanto alimentos yin quanto alimentos yang. Por isso, preferem aqueles extraídos da natureza, como os cereais, os legumes, as sementes e outros, já que a natureza é dotada desse equilíbrio. Como exemplo de alimentos yin podem ser citados a beringela, o tomate, o milho, a aveia, a ervilha, a beterraba, a couve-flor, a lentilha, entre outros. Alguns exemplos de alimentos yang são o trigo, o grão-de-bico, o arroz, a cebola, a salsa, leite, queijos, cenoura, amêndoas e outros. - Onivorismo: os animais onívoros são aqueles que comem alimentos de qualquer origem, seja vegetal, animal e até mesmo alimentos industrializados, ou seja, se alimentam com legumes, verduras, carnes, ovos, leite e tudo mais que desejarem. O nome onivorismo, antigamente era grafado omnivorismo, pois omni significa “tudo”, já que os onívoros comem tudo o que possam mastigar. Esse sistema alimentar, embora seja o escolhido por um grande número de pessoas, é muito criticado por conferir odores fortes que exalam do corpo, pois a mistura de alimentos vai fermentando e gerando um odor desagradável. O Mestre DeRose propõe uma experiência: “experimente colocar num saco plástico um pouco de tudo o que você ingerir na próxima refeição. Acrescente um cálice de ácido gástrico (se não tiver, esprema um limão). Em seguida, coloque por meia hora num forno a 36 graus centígrados, a temperatura do seu corpo. Depois, abra e cheire”. Quem é contra o onivorismo chega a comparar o ser humano que se alimenta de todos os tipos de alimentos a um porco, animal que come de tudo e cheira muito mal. - Carnivorismo: esse tipo de sistema alimentar não é comum entre os humanos, pois os animais carnívoros são aqueles que caçam suas presas e as comem ainda com o sangue quente. Para exemplos podemos citar os leões, os tigres, os tubarões, e outros predadores. Os carnívoros se alimentam exclusivamente de carne. 22 - Carniceirismo: os animais carniceiros, diferentemente dos animais carnívoros, não matam suas presas, mas comem carne quando ela já está em início de putrefação, ou seja, virando carniça. Podemos citar entre os animais carniceiros os abutres, os urubus e as hienas. As pessoas que são radicalmente contra a ingestão de carnes chegam a afirmar que muitos seres humanos são carniceiros. O que os diferiria dos abutres, urubus e hienas é o fato de não comerem a carne em início de putrefação, pois ela é estocada em frigoríficos e quando vai para a venda, os comerciantes usam produtos que devolvem a coloração vermelha, mais viva, para que pareça mais saudável. Cada pessoa pode escolher o sistema alimentar que mais considera adequado. Essa escolha pode ser influenciada pela cultura de seu país, por hábitos familiares ou até mesmo por questões de saúde. Todos eles vão possuir adeptos e pessoas que criticam. Cabe a cada um saber discernir os argumentos e escolher sua dieta com sabedoria. Afinal, tudo aquilo que comemos reflete em nosso organismo. É também muito importante procurar, sempre que possível um médico e um nutricionista para comunicá-lo de sua decisão. Ele poderá auxiliar na escolha adequada dos alimentos para que não haja nenhuma deficiência de nutrientes e consequentes enfermidades. 1.3 – Vegetarianismo e religião O vegetarianismo associado a crenças religiosas não é um fato recente. Sabe-se que as civilizações mais antigas acreditavam em mitos e deuses, como é o caso dos gregos, dos egípcios, dos hindus, e outros povos cujas mitologias são estudadas até hoje. Os egípcios antigos, que viviam há milhares de anos antes de Cristo, eram politeístas, ou seja, eles acreditavam em vários deuses (palavra de origem grega: poli = muitos, théos = deuses). Alguns desses deuses se manifestavam em forma de animais como o crocodilo, o gato, o boi e outros. Por isso, os animais eram considerados sagrados para o povo egípcio, o que os levava a comer somente alimentos de origem vegetal. 23 A ilustração acima mostra os deuses Anúbis, Thot e Hórus, muito cultuados pela civilização egípcia antiga. E não eram somente os egípcios que cultuavam deuses animais. Na mitologia hindu também é possível encontrarmos deuses com formas híbridas, ou seja, que misturam humanos e animais. Um dos mais populares deuses hindus é o Ganesh, ou Ganesha como alguns o conhecem. Ele possui corpo de criança e uma cabeça de elefante. De acordo com a mitologia, Ganesh é filho de Shiva e Parvati, dois deuses. Sua história é a seguinte: Shiva gostava de viajar, de meditar nas montanhas e praticar a yoga. Depois que se casou com Parvati, a deusa da beleza, Shiva parou de viajar para ficar com sua amada. Mas Parvati viu que seu marido sentia falta de suas viagens e o aconselhou a reviver suas aventuras. Shiva aceitou seus conselhos, colocou uma pele de tigre nas costas, enrolou duas cobras no pescoço, montou em sua vaca e foi para as montanhas. 24 Lá ele meditou, entretanto, quando Shiva meditava nada conseguia acordá-lo. Por isso, passou anos meditando e quando acordou, sentiu falta da esposa e foi para sua casa. O que Shiva não sabia é que sua esposa estava grávida quando partiu. Ela deu a luz a um menino chamado Ganapati. Parvati também melhorou sua casa deixando-a mais confortável. Quando Shiva chegou, encontrou um menino guardando a casa enquanto sua mãe tomava banho. Estranhando a situação, Shiva quis entrar, mas o menino não deixou, afinal, não se conheciam. Foi então que Shiva cortou a cabeça de Ganapati e Parvati, quando viu o que havia acontecido, explicou a situaçãoe ordenou que Shiva encontrasse outra cabeça para por no lugar da do filho e que trouxesse a primeira que encontrasse. Mas o primeiro animal que apareceu, não era humano, mas sim um filhote de elefante. Quando Ganapati recebeu a cabeça do elefante, se tornou, então, Ganesha. Ele é conhecido como o deus da sabedoria e seu nome significa “senhor de todos os seres”. Há outro deus hindu, o Hanuman, que é um deus macaco. Ele é considerado uma reencarnação do deus Shiva e é tido como um grande e fiel devoto de Rama. Rama é um avatar (representação) do deus Vishnu. 25 Por terem os deuses hindus formas animais, o povo que adorava a esses deuses respeitava os animais e também não os comiam, afinal, eles eram sagrados. Essa adoração por animais transcendeu o tempo e pode ser vista até os dias atuais em algumas culturas. É o caso dos indianos que consideram a vaca (e o boi) como um animal sagrado, sendo mais puro que um indivíduo da casta mais alta, um brâmane (a sociedade indiana é dividida em castas). O deus Shiva montava em uma vaca conhecida como Nandi e os indianos, povo que descende dos hindus, consideram que há um pouco de Nandi em cada vaca que existe. Os deuses hindus, quando precisam vir a Terra, se manifestam na forma de alguns animais. Um deles seria a própria vaca. Até hoje, os indianos utilizam os produtos da vaca como leite e urina, em rituais de purificação. A vaca não é morta, tampouco serve de alimento para os indianos. A Igreja Adventista do Sétimo Dia também prega uma dieta vegetariana por ter em seus princípios levar uma vida pacífica, com busca de uma boa saúde e preservação do meio ambiente. Para ter uma vida pacífica e em harmonia com o meio ambiente, eles não devem comer carne. Alguns cristãos, como o citado Willian Cowherd, acreditavam que o vegetarianismo estava designado na Bíblia, como vimos com o trecho do Gênesis. 26 O budismo também tem uma dieta vegetariana por acreditar no carma. O carma, em sânscrito, significa “ato”, “ação”. Ele funciona mais ou menos como uma lei de causa e efeito, ou seja, tudo o que se faz terá suas consequências. Os budistas acreditam que se matarem um animal, um dia serão responsabilizados por esse ato de crueldade. Nos mosteiros, os monges não comem carne, entretanto, como alguns deles vivem em situação de mendicância por abrirem mão de seus bens materiais, eles comem o que lhes é oferecido. Também se são convidados a comer em uma casa, devem comer o que lhes é servido, pois não devem se achar superiores por não comerem carne. Isso iria contra seus princípios. Os motivos religiosos para não se comer carne são diversos. Algumas religiões consideram os animais como sagrados, outras acreditam que fomos predestinados a comer somente o que a natureza nos oferece, como plantas, raízes, frutas e outros alimentos e que, se Deus fez os animais como seres que sofrem e sentem dor, significa que não se deve fazê-los sofrer. 1.4 – Vegetarianismo e solidariedade animal Os vegetarianos que não escolheram seguir essa dieta por influência de religião, têm como principais argumentos a defesa dos animais e a preservação do meio ambiente. Os ovo-lacto-vegetarianos e os lacto-vegetarianos ainda consomem ovos ou leite. Já os veganos não consomem nada que tenha origem animal, incluindo ovos e leite. Os adeptos do veganismo também não usam roupas de origem animal, como o couro, peles, nem mesmo lã. Suas roupas são todas feitas com produtos sintéticos ou vegetais. Os vegetarianos, seja de qualquer um dos sistemas alimentares, têm como premissa evitar o sofrimento animal. Para eles, os animais não devem sofrer e um ser humano não teria o direito de fazer isso. Deixar de comer carne é um sinal de respeito para os vegetarianos. Os animais são tão respeitados por algumas pessoas que em 27 de janeiro de 1978 foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Animais, em Bruxelas, capital da Bélgica. O órgão responsável por essa Declaração foi a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a UNESCO. 27 Veja o que consta na Declaração: DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS PREÂMBULO Considerando que todo o animal possui direitos; Considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza; Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo; Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros; Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante, Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais. PROCLAMA-SE O SEGUINTE: Art. 1º - Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência. Art. 2º 1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado. 2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais. 3. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem. Art. 3º 1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis. 2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia. Art. 4º 1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir. 28 2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito. Art. 5º 1. Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie. 2. Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito. Art. 6º 1. Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural. 2. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. Art. 7º Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso. Art. 8º 1. A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação. 2. As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas. Art. 9º Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor. Art. 10º 1. Nenhum animal deve ser explorado para divertimento do homem. 2. As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal. Art. 11º Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida. Art. 12º 1. Todo o ato que implique a morte de um grande número de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie. 29 2. A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.Art. 13º 1. O animal morto deve ser tratado com respeito. 2. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem ser interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos do animal. Art. 14º 1. Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar representados a nível governamental. 2. Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem. O fato de os animais possuírem seus direitos não lhes coloca em situação de igualdade com os humanos. Ou seja, não se pode afirmar que os animais têm os mesmos direitos dos humanos, caso contrário eles teriam direito à educação, ao voto, entre outros. Os animais devem ter seus direitos e serem respeitados pelo que são. Os defensores dos direitos animais se preocupam com o fato de os animais estarem sendo meramente produtos de compra e venda ou estarem sendo usados para benefício humano. O assunto dos direitos animais gera alguma polêmica, pois existem duas vertentes que defendem diferentes posições. A primeira afirma que os animais são seres que possuem uma vida e habilidades cognitivas, ou seja, sentem, se comunicam, entre outras capacidades. Essa vertente é contra o uso de animais para comida, para testes, para caça comercial ou qualquer outro tipo de posse que prejudique sua vida. Os animais sencientes, ou seja, aqueles que têm sensações, de acordo com esse ponto de vista, devem ser tão respeitados quanto os humanos. Já a segunda vertente é a posição utilitarista que prega que o respeito aos animais não deve se basear em suas capacidades cognitivas ou em sua inteligência, mas sim no fato de sentirem dor. Os seguidores dessa linha de pensamento afirmam que os produtos e serviços conseguidos na base da dor animal, podem muito bem serem conseguidos sem que nenhum ser vivo necessite sofrer. Um animal pode ser morto, desde que seja de uma forma indolor e sem nenhum sofrimento. 30 O escritor norte-americano Gary Francione pontua que não existem atualmente leis de proteção animal, visto que eles são propriedades dos humanos. O que existem, para ele, são leis que visam o bem-estar e protegem o animal enquanto for propriedade de algum ser humano. Francione diz ainda que é possível proteger mais os animais, mas critica que isso não será feito se não houver um lucro para os humanos. Segundo o escritor, para que os animais não sejam “coisas”, eles não devem ser propriedade dos humanos. O uso e exploração de animais são condenados por Francione, sejam eles animais grandes ou pequenos. Se tiverem senciência, ou seja, se forem capazes de sentir, já devem ter o mesmo respeito que teria um ser humano. Cada vegetariano concorda com a vertente e as afirmações que mais lhe são sensatas. Não se deve dizer que há uma certa e outra errada, pois todas são fundamentadas em pesquisas e possuem argumentos plausíveis. 1.5 – Vegetarianismo e meio ambiente A proteção ao meio ambiente é um dos argumentos que alguns vegetarianos usam para seguir uma dieta sem carnes. Eles alegam que a criação de gado traz sérios prejuízos ao solo e à biodiversidade local. No ano de 1996 a Food and Agriculture Organization of the United Nations, FAO (em português Organização da Alimentação e Cultura das Nações Unidas), lançou um relatório que aponta os problemas que podem ser causados quando um pasto é formado. Para fazer um pasto, árvores são cortadas e algumas vezes são feitas queimadas para limpar o campo. Com isso, há a diminuição da fauna local, ou seja, dos animais que habitavam aquele espaço antes de haver o desmatamento. O solo fica prejudicado e corre-se o risco de haver desertificação, ou seja, o solo começa a se tornar semelhante ao solo de um deserto, que é arenoso e não se produz nada. Os pesticidas usados para manter o pasto também podem ser agressivos tanto para o solo quanto para a água, pois podem alcançar os lençóis freáticos, aqueles que se encontram embaixo da terra. Os criadores de gado que não tratam de forma adequada os excrementos dos animais acabam por poluir rios e tornar o ar bastante mal cheiroso no local da fazenda. 31 Quando os excrementos animais vão para os rios, eles podem matar os peixes e outros animais que dependem daquela água e podem, até mesmo, contaminar os humanos. As árvores ajudam no controle da temperatura do ambiente. Sabe-se que onde há mais árvores, há menos gás carbônico (CO2) no ar, pois ele é usado pelas plantas na fotossíntese. Por isso, onde há pastos, há menos árvores e, consequentemente, há mais CO2 no ar. O gás carbônico é um dos gases que provocam o chamado “efeito estufa”, que é um fenômeno em que os gases poluentes formam uma espécie de barreira que impede que o calor se dissipe. Outro gás poluente que contribui muito para o efeito estufa é o óxido nitroso. Esse gás é mais poderoso que o CO2 em efeitos poluentes e grande parte desse gás sai do esterco do gado. Além desses gases, é possível citar o gás metano, produzido naturalmente pelo corpo dos animais. O gás metano encontra o ar quando há uma flatulência. O solo do pasto, depois de algum tempo, passa a não servir nem mais para a pastagem, pois sofreu muita erosão. Torna-se, então, uma área inutilizada. Aqueles que são contra a criação de gado afirmam que essas áreas onde são cultivados pastos poderiam servir para plantação de diversos outros alimentos que seriam fornecidos a um grande número de pessoas. Veja essas informações retiradas do relatório da FAO: Dieta quase puramente vegetariana 6,3 bilhões de pessoas 15% de calorias de fonte animal 4,2 bilhões de pessoas 25% de calorias de fonte animal 3,2 bilhões de pessoas Na tabela acima, a FAO demonstra que um maior número de pessoas seria alimentado caso sua dieta se baseasse no vegetarianismo. Quanto mais carne há na dieta de uma pessoa, mais espaço do solo ela ocuparia, pois para manter um animal vivo, alimentando-o e cuidando de sua saúde, é necessário mais espaço na terra, além de ser mais caro criar gado do que plantar. O gado necessita de cuidados especiais para estar preparado para o corte. Ele tomará vacinas, medicamentos que garantam sua saúde e engorda e funcionários treinados para realizar todo esse trabalho. 32 Tudo isso faz com que o preço da carne seja muito alto em comparação ao preço dos produtos de origem vegetal. Afinal, antes de chegar ao consumidor, o animal precisa ser morto, limpo, cortado, transportado, conservado, embalado e isso requer muitos profissionais envolvidos, além de outros gastos como energia elétrica. Por esses motivos é que se alega que o vegetarianismo pode ajudar a diminuir gastos que, num futuro, seriam usados para suprir as necessidades alimentares de um maior número de pessoas. 2.1 – As dificuldades enfrentadas pelos vegetarianos Não é algo incomum encontrar um “ex-vegetariano”. Quando uma pessoa passa grande parte de sua vida comendo carne e decide virar vegetariana, ela precisa de muita força de vontade, especialmente se sua família e amigos continuarem em uma dieta onívora. Para aquele que compra e faz sua própria comida, talvez seja mais fácil se alimentar de tudo aquilo que gosta. Entretanto, quando não há essa possibilidade, tudo se torna mais difícil. 33 Isso porque, muitas pessoas ainda acreditam que um vegetariano se alimenta somente de salada ou carne de soja, o que reduziria muito seu cardápio. E nem todos estão dispostos a mudar seus hábitos e aprenderem novas receitas, somente para satisfazer as preferências de outrapessoa. As famílias desinformadas podem até mesmo ameaçar o novo vegetariano dizendo que ele corre o risco de ficar anêmico e até mesmo de morrer caso não coma carne. É claro que se ele agir com irresponsabilidade pode mesmo correr algum risco. E esse é um dos problemas enfrentados quando alguém decide se tornar vegetariano: não saber substituir os nutrientes encontrados na carne por outros de origem vegetal. Por isso, a partir do momento da decisão tomada, é importante consultar um nutricionista, informá-lo de sua decisão para receber as orientações necessárias. Caso contrário, não será possível levar essa dieta adiante, pois o organismo necessita de certas proteínas para manter seu bom funcionamento. O profissional pode indicar os alimentos que entrarão no lugar da carne sem prejuízos para a sua saúde. Seria contraditório buscar a dieta vegetariana para se ter uma vida mais saudável e começar a se sentir fraco justamente em razão da dieta. Daí a importância de agir corretamente. Há também os que tentaram ser vegetarianos por um tempo, mas sentiram muita falta de comer carne. Gostar de comer carne e conviver com pessoas não vegetarianas é de fato um obstáculo. Embora o número de restaurantes vegetarianos e de produtos de origem vegetal tenha crescido, ainda não há uma grande variedade nem acessibilidade para os consumidores. Nem todos os mercados vendem essas opções por acreditarem ter pouca saída. Os fast foods que servem especialmente lanches com hambúrguer são um exemplo de falta de opções vegetarianas. Quando o cardápio é analisado, as opções que restam são algumas saladas, a batata frita e as bebidas. É raro encontrar um fast food dessa espécie servindo hambúrguer vegetariano. Muitas pessoas que decidem iniciar uma dieta vegetariana sofrem pressão de alguns amigos. Eles acham que não é saudável, fazem gozações com o amigo vegetariano, o que pode ser desestimulante. Por isso, se o vegetariano tem seu propósito firme não deve considerar as brincadeiras dos amigos, tampouco mudar por pressão deles. É importante estar certo de seus objetivos e seguir em frente. 34 Nos relacionamentos amorosos também pode haver divergências por conta dos sistemas alimentares diferentes, especialmente se os casais moram juntos. Em alguns casos, um dos dois passa para o sistema alimentar do companheiro, seja por praticidade ou por outras razões. O fato é que tudo fica mais simples quando os dois se alimentam com as mesmas refeições. Ainda mais pelo fato de a escolha do vegetarianismo ter implícitas razões políticas ou éticas. Isso significa que um vegetariano tem opiniões diferentes de um não vegetariano acerca de muitos assuntos. Nem todos conseguem conviver com pessoas que pensam de forma oposta, seja em um casamento, seja com os amigos, ou em outras situações. Como nem todas as pessoas sabem lidar com alguém que seja diferente, se o vegetariano não quiser ter problemas, é melhor deixar essa informação em segredo em certas ocasiões. Se você vai almoçar em algum restaurante não vegetariano com alguns colegas, por exemplo, não peça um prato vegetariano, pois certamente dirão que não tem. Escolha você o seu prato com base naquilo que gosta. Se for preciso, peça para tirar algum ingrediente de origem animal. Se o restaurante for do sistema self service, melhor, pegue apenas aquilo que está incluso em sua dieta. Dessa forma, evitam-se perguntas desnecessárias, gozações e privações de alimentos que você gosta. Veja a experiência que o Mestre DeRose vivenciou: “Certa vez, numa viagem internacional, minha mesinha já estava posta quando tive a infeliz ideia de informar a comissária de bordo que o pedido de alimentação vegetariana era meu. Ato contínuo ela retirou da minha mesa o queijo, a manteiga, a maionese, o pão, o biscoito, o chocolate, a sobremesa e tirou até o sal e a pimenta. No lugar, colocou uma lavagem de legumes cozidos à moda de isopor.” (DEROSE, 2004). Isso que ocorreu com o Mestre DeRose pode acontecer com outras pessoas quando mencionarem que são vegetarianas, não só em viagens aéreas, mas até mesmo em casa de amigos e parentes. Alguns amigos e parentes podem evitar convidar o vegetariano para comer em sua casa por não saber o que servir ou para não ter o trabalho de fazer uma comida separada para eles. Mas quando se tem um firme propósito de se manter na dieta vegetariana, é necessário ter foco nos objetivos. Para alguns pode ser mais difícil do que para outros, mas quando se tem uma meta a alcançar é necessário ter força de vontade. 35 2.2 – Crianças vegetarianas Quando um casal de vegetarianos resolve ter um filho, vale a pena fazê-lo seguir a mesma dieta? Há quem seja contra e há quem seja a favor. Entretanto, a saúde da criança deve estar em primeiro lugar. Cabe aos pais procurarem um nutricionista, logo no início da gravidez para saberem como proceder para que o bebê nasça saudável e sem nenhum problema. Todos os alimentos consumidos pela mãe são revertidos para o bebê durante a gravidez. Nesse período, a mãe deve ingerir muitas vitaminas e nutrientes para fornecer tudo o que o bebê necessita para sua formação. Se ela não abre mão de ser vegetariana, deve buscar suprir todas as necessidades que ela e o bebê precisam, encontrando todos os nutrientes em fontes vegetais. Após o parto e até que a criança complete seis meses, ela deve ser alimentada apenas com o leite materno. Essa é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde, a OMS. O leite materno tem tudo o que o bebê precisa para crescer e se desenvolver com saúde, não sendo necessário incluir nenhum outro alimento na dieta do bebê. Depois dos seis meses é que alguns alimentos podem ser oferecidos ao bebê, mas a amamentação ainda deve continuar por, pelo menos, até a criança completar dois anos. A infância é o período em que a criança está em fase de crescimento e de constante desenvolvimento. Para que esses processos ocorram de forma satisfatória, ela precisa se alimentar bem. Se uma criança tem uma alimentação que não supre todas as suas necessidades, certamente terá problemas de aprendizado, de crescimento, de coordenação motora, de concentração, entre outros problemas que terão reflexos por toda a vida. Mas a alimentação vegetariana poderia suprir todas as necessidades nutricionais de uma criança? Há profissionais de saúde que defendem o vegetarianismo para crianças, outros apoiam. Em uma reportagem exibida no jornal Folha de São Paulo, a nutricionista Silvia Cozzolino, professora titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, USP, e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição afirma o seguinte: 36 “as principais preocupações em relação às crianças vegetarianas se concentram no ferro, no cálcio, na vitamina B12, no zinco e, quando não há suficiente exposição ao sol, na vitamina D. Alimentos de origem animal, fontes mais ricas desses nutrientes, são muito importantes nessa fase de grande desenvolvimento. Os ovo-lacto-vegetarianos ingerem mais proteínas de origem animal e cálcio, além de outras vitaminas e minerais, ao passo que as dietas mais restritas trazem mais riscos, principalmente se seguidas sem orientação.” As dietas mais restritas mencionadas pela nutricionista Silvia Cozzolino são o vegetarianismo puro ou o veganismo, que não consomem nenhum produto de origem animal, nem mesmo leite ou ovos. Os ovos são grande fonte de proteína, já o leite grande fonte de cálcio, essenciais para as crianças em fase de crescimento. Mas a opinião do nutrólogo Eric Slywitch, coordenador do Departamento deMedicina e Nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira é diferente. Ele afirma que mesmo as dietas veganas, se forem bem controladas e ricas em vitaminas e proteínas, podem ser seguidas por crianças. Segundo Slywitch: “a dieta vegetariana bem planejada é adequada nutricionalmente para crianças. Entidades oficiais como a Associação Americana de Pediatria, assim como a Associação Dietética Americana, suportam esse parecer. Exceto pela escolha dos tipos de alimentos para grupos vegetarianos, a única diretriz de complementação dietética que difere dos onívoros está na utilização da vitamina B12. Esta, por segurança, deve ser oferecida inclusive para os ovo-lacto-vegetarianos”. A vitamina B12, citada por Slywitch, é responsável por dar energia ao organismo, ajudar na produção das hemácias (glóbulos vermelhos) do sangue, e auxiliar o bom funcionamento do sistema nervoso. A ausência dessa vitamina causa fraqueza nos músculos, cansaço excessivo, falta de concentração, memória ruim, e outros problemas associados ao sistema nervoso, sistema que controla os neurônios, os músculos, os órgãos, os sentidos e outras ações do corpo. Como as maiores fontes de vitamina B12 são de origem animal, encontrada principalmente em ovos, leite e carne, aqueles que seguem uma dieta vegetariana pura, ou seja, os veganos têm uma maior carência dessa vitamina no organismo. 37 Os ovo-lacto-vegetarianos que consomem ovos e leite têm uma carência menor dessa vitamina em relação aos veganos. É por isso que os pais que decidem que seus filhos devem seguir uma dieta vegetariana, seja a vegana ou a ovo-lacto-vegetariana, precisam fazer uma complementação de vitamina B12, e para isso, devem consultar um médico que indicará onde encontrar essa vitamina. É possível que ele receite algum complemento alimentar em forma de cápsulas ou outras substâncias, ou mesmo algum alimento enriquecido com essa vitamina. O importante é que os pais tenham consciência da importância dessa substância no desenvolvimento infantil. Outros elementos que também podem estar em falta no organismo dos vegetarianos, especialmente os que seguem a dieta vegana, são o zinco, o ferro e a vitamina D. O zinco e o ferro podem ser encontrados em alimentos de origem vegetal, entretanto, essas quantidades são sempre muito pequenas. Mesmo os ovo-lacto-vegetarianos podem ter uma quantidade de ferro no organismo inferior à necessária. O zinco é um mineral que, entre outras ações, auxilia no desenvolvimento do sistema imunológico e como o sistema imunológico das crianças é naturalmente mais frágil, elas necessitam de uma quantidade de zinco adequada para sua proteção. A UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância, realizou em 2009 uma pesquisa que aponta a quantidade de zinco necessária para as crianças, adolescentes e adultos: Idade Homens Mulheres 1 a 3 anos 3,0 mg 3,0 mg 4 a 8 anos 5,0 mg 5,0 mg 9 a 13 anos 8,0 mg 7,0 mg 14 a 50 anos 8,0 mg 7,0 mg Mais de 50 anos 11,0 mg 8,0 mg Fonte: http://www.minhavida.com.br/saude/materias/13078-consuma-mais-zinco-e-deixe-sua-saude-protegida O zinco pode ser encontrado em diversos alimentos vegetais como ameixa, figo, aspargos, espinafre, nabo, arroz, centeio, soja, nozes, entre outros, e também em carnes como a de lula, de caranguejo, camarão, e em carnes vermelhas especialmente fígado. Já o ferro também pode ser encontrado em vegetais, entretanto, ele não é tão bem absorvido como o ferro encontrado nas carnes. O ferro presente em carnes e outros produtos de origem animal é conhecido como “ferro heme”, e o que provém dos vegetais é o “ferro não-heme”. 38 Para que os vegetarianos não tenham deficiência de ferro, devem consumir com frequência os alimentos vegetais que o contém, além de ingerir alimentos que contenham vitamina C, que ajuda o organismo a absorver o ferro. Esses alimentos podem ser feijão, lentilha, soja, grão de bico, agrião, couve, damasco, açúcar mascavo, aveia, jabuticaba, entre outros. A vitamina D pode ser encontrada em peixes, ovos, fígado bovino, leite, mas ela só se torna ativa, quando somos expostos ao sol. Ela é responsável por auxiliar no desenvolvimento das capacidades cognitivas, formação dos ossos e dentes e evitar que as crianças fiquem raquíticas (muito magras e franzinas). Como a maior fonte de vitamina D é de origem animal, se a criança tiver uma dieta muito restrita, precisará de suplementos, ou ingerir alimentos enriquecidos artificialmente com essa vitamina. É importante que a criança se exponha ao sol, pelo menos por alguns minutos no dia para que a vitamina D seja ativada no organismo. Por isso, é sempre muito importante que um nutricionista seja consultado para que ele indique quais alimentos devem ser consumidos para que não haja carência desses nutrientes no organismo da criança. Quando a criança já estiver em idade escolar, os pais podem preparar um lanche vegetariano para que ela leve à escola, caso não tenha disponível na cantina nada que faça parte de sua dieta. A criança pode, no entanto, ter curiosidade de experimentar produtos de origem animal. Cabe aos pais conversar com a criança e explicar-lhe o motivo da escolha de uma dieta sem carne. Simplesmente proibir a criança de comer carne nem sempre pode ser a melhor forma de fazê-la entender a importância da escolha. As crianças mais novas podem não entender e acabar comendo carne sem a consciência do que estão fazendo. Caso isso ocorra na escola, os pais não devem procurar a escola para críticas, mas sim para orientações. A escola deve estar ciente de que aquela criança segue uma dieta vegetariana. E isso não envolve apenas não oferecer carne ao aluno. Envolve questões ideológicas de proteção ao meio ambiente e aos animais. Os professores devem evitar fazer apologia às histórias em que o caçador é o herói da história por ter matado um animal, entre outras posturas. 39 Entretanto, não são todos os professores que se dão conta desses detalhes. Por isso, os pais devem procurar os professores dos filhos e a direção da escola e pedir que a criança seja respeitada por ter escolhido a dieta vegetariana. Os professores não devem tratar o aluno vegetariano com diferença, ou passar uma atividade diferenciada para ele. Ao contrário, deve incentivar os colegas a respeitar a escolha do aluno, já que a única diferença entre ele e as demais crianças é a alimentação diferenciada. Leitura Complementar Vegetarianismo na Escola Dr George Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas Fevereiro de 2008 Depois de ter enfrentado toda a família durante a gestação e a infância, é chegada a hora de mais um desafio: manter uma dieta vegetariana para o seu filho na escola. Para muitos, as questões vão muito além da alimentação vegetariana em si: os professores usam couro e penas nas aulas de trabalhos manuais? Balas e outras guloseimas nada saudáveis são utilizadas pelos professores como forma de premiação ao aluno? Que tipo de histórias serão contadas na sala de aula, haverá histórias que vangloriam caçadores e domadores de circo? Todos estes aspectos podem ser pesquisados com antecedência junto aos professores, diretores e conversando com outros pais, mas será muito difícil encontrar a escola perfeita. Diante desta realidade, o melhor que se tem a fazer é posicionar-se sobre como ajudar a escola em vez de buscar simplesmente criticá- la. Algumas linhas pedagógicas já partem de um lugar melhor com relação à questão da alimentação, como é o caso, por exemplo, da pedagogia Waldorf, ligada à antroposofia, que já tem em sua filosofia muitos aspectos relacionadosà alimentação integral, orgânica e saudável. No entanto, na prática, a história pode ser diferente. Enquanto as crianças têm aulas práticas de agricultura desde cedo e apesar da antroposofia estar diretamente ligada à agricultura biodinâmica, com um forte discurso ambiental, e os alimentos integrais serem um lugar comum, o que predomina nas festas escolares é as bancas que vendem churrasco, com direito à linguiça e tudo o mais! Na escola dos meus filhos, que é a mais antiga do Brasil, foi apenas em 2006 que houve pela primeira vez em sua história recente, durante o Bazar de Natal que recebe milhares de pessoas em um único dia, uma banca completamente vegana, que serviu pratos à base de tapioca. Esse é apenas um exemplo simples, mas vemos que mesmo as linhas pedagógicas que, em teoria, seriam mais simpáticas ao vegetarianismo possuem incoerências, independentemente do quão belo essa pedagogia possa ser em sua totalidade teórica. Se nem as escolas mais simpáticas a um estilo de alimentação diferenciado são vegetarianas, então o que fazer em qualquer linha pedagógica que seja? 40 Enviar o lanche de casa é certamente o primeiro passo para cuidar da alimentação do seu filho na escola. Mas será que o seu filho será o único a levar alimentos "diferentes" para a escola? Provavelmente não, uma vez que há tantas crianças com alergias e preferências familiares específicas hoje em dia. Talvez ela não terá muitos ou sequer um colega vegetariano, mas é improvável que ela seja a única criança a levar um lanche diferenciado. Seja como for, ao planejar o lanche que ele levará à escola, inove, faça do lanche vegetariano do seu filho não o mais "diferente" de todos, mas o mais atraente de todos. Com isso você poderá inspirar outros a também oferecerem lanches saudáveis para seus próprios filhos. Em reuniões e festas, não leve apenas a marmita exclusiva da família. Ao contrário, aproveite a oportunidade para oferecer aos pais e professores um lanche vegetariano que seja tão criativo quanto saboroso. Vá além do pão integral com geleia e ofereça a eles torradas integrais com tahine, arroz com lentilhas, tortas, quibes, vegetais ao molho de tofu com ervas, bolos de frutas... Para o lanche da criança, aquele pão mais escuro do que o dos colegas ficará mais interessante se for cortado em formato de estrela e aquelas sementes de girassol podem vir acompanhadas de um recorte de uma foto da flor de onde essas sementes vieram, o que despertará o interesse e mudará o alimento de "comida de passarinho" para "comida florida". Quando se tratam de alimentos vegetais, as possibilidades de se trabalhar com formas, imagens e histórias são muitas. Isso tudo inicia o trabalho de mudança dentro da escola por via da curiosidade. Uma vez conquistada esta fase, é necessário ir além e fornecer informações tanto para os professores e para a lanchonete da escola quanto para os outros pais e crianças. Isso pode ser feito criando ou usando as oportunidades de palestras ou simplesmente oferecendo mão de obra voluntária em eventos. Você pode ainda pedir a um especialista que analise o cardápio que está sendo oferecido atualmente. Isso te dará base para argumentar que a sua opção alimentar é uma opção mais saudável. Com isso, ofereça a ajuda que puder para que algumas mudanças sejam implantadas. O que quer que você faça, faça com uma postura positiva, sendo o menos crítico possível, oferecendo soluções ao invés de simplesmente apontar erros. Se for fazer uma palestra, pesquise bem o assunto antes e não queira falar tudo o que sabe sobre vegetarianismo em uma palestra de 30 minutos. Faça uma palestra que desperte o interesse dos outros sem que eles se tornem defensivos, pois é somente assim que eles se abrirão para as suas ideias. Lembre-se de que eles, a princípio, não te solicitaram nada disso e, portanto, vá devagar para não assustá- los. Procure pela escola por aquelas pessoas que tenham ideais comuns aos seus, ainda que seja algo apenas próximo ao vegetarianismo, pois eles poderão ser seus aliados no processo de mudança que você venha a propor. Na medida em que você se dedica a garantir não apenas a alimentação escolar adequada para o seu filho, mas também se dispõe a propor mudanças que serão positivas para a saúde de todos, tenha em mente que você estará influenciando muitas pessoas e o estará fazendo com uma grande chance de que essa mudança dure uma vida toda! Lembre-se sempre disso nos momentos de negociações difíceis com pais e professores, pois com um objetivo grandioso como esse, o trabalho não poderia ser sem dificuldades. Encare o desafio da alimentação escolar do seu filho como uma oportunidade para educar e inspirar outros e faça dessa jornada, em mais esta etapa da alimentação vegetariana do seu filho, algo leve e gratificante. Fonte: http://www.nutriveg.com.br/vegetarianismo-na-escola.html 41 2.3 – Algumas mentiras sobre a alimentação vegetariana A alimentação vegetariana, por não ser muito bem conhecida por todas as pessoas, levanta algumas dúvidas e algumas crenças que nem sempre são verdadeiras. Circulam, atualmente, muitas informações acerca do vegetarianismo que podem não ser verdadeiras. Outras podem até ter comprovação científica. Vejamos algumas delas: - Todos os vegetarianos adquirem anemia por não comerem carne. Mentira. A anemia que acontece com maior frequência, que é a provocada pela diminuição de ferro no sangue, é a anemia ferropriva. É sabido que as carnes possuem maior quantidade de ferro do que os vegetais, o que faria com que um onívoro com anemia se recuperasse antes de um vegetariano. O ferro encontrado na carne, o “ferro-heme”, também é mais bem absorvido pelo organismo do que o ferro presente nos vegetais. Isso não significa, no entanto, que o vegetariano não se cure de sua anemia, pelo contrário, se curaria dentro de um prazo maior. O fato é que todos que não ingerem a quantidade de ferro recomendada estão sujeitos a adquirirem anemia, sejam eles vegetarianos ou não. - Ao me tornar vegetariano terei menos opções de alimentos. Mentira. Quando se tem uma dieta onívora, geralmente o prato principal é a carne. O arroz, o feijão e a salada são apenas complementos. Como na dieta vegetariana não haverá mais a carne, o prato principal serão outros alimentos, o que fará você experimentar aquilo que nunca comeu antes. Há uma enorme variedade de legumes, verduras, raízes e até frutas que podem ser combinadas para montar um prato vegetariano. A pessoa pode, por exemplo, comer uma lasanha de berinjela, ou aquele refogado de abobrinha com escarola, que era considerado um acompanhamento da carne, será agora o prato principal da refeição. 42 - Vegetarianos podem comer peixe e frango. Mentira. O que pode acontecer é que, quando uma pessoa decide seguir uma alimentação vegetariana, ela talvez necessite de um período de transição. Nesse período, ela comerá frango e peixe, que são carnes brancas, mas só será considerada vegetariana quando abandonar totalmente as carnes. Existem nomeações como “polo-vegetarianos”, ou “pisci- vegetarianos”, entre outras, para designar pessoas que comem todos os produtos de origem vegetal, mas comem frango (polo), ou peixe (pisci), mas não é possível afirmar que sejam vegetarianos. - Os vegetarianos nunca ficam doentes. Mentira. Tanto os vegetarianos quanto os onívoros podem ficar doentes, mas existem algumas doenças que os vegetarianos correm menos riscos de adquirir. São aquelas causadas por excessos de gordura e proteína no organismo. As doenças do coração são exemplos de doenças causadas pelo excesso de gordura. - A comida vegetariana é mais cara. Mentira. Os alimentos de origem
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