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Prof.Monica Reforma do Judiciario artigo completo

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1
Emenda Constitucional n. 45/2004. 
 
Monica Herman Caggiano 
Professora Associada de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da USP. 
Coordenadora do Curso de Especialização em Direito Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Diretora Cultural do CEPES. 
 
 
Sumário: Aspectos Introdutórios. Das Medidas Inovatórias em Geral. O avanço do efeito vinculante 
 A Valorização do precedente. O efeito vinculante no Direito Comparado. Efeito vinculante na Constituição 
 brasileira. O impacto da E.C. n. 45/2004. A súmula vinculante. Reengenharia do Poder Judiciário. Poder 
 Judiciário/ Órgãos e competências da nova estrutura. Os Conselhos. Tratamento constitucional. 
 
 
I.- Um Gigantesco Desafio ao Poder Judiciário. 
 
 Após longo período de reflexão e 
construção legislativa, eis que ao final do ano de 2004 foi 
promulgada e publicada1 a reforma do Poder Judiciário, 
medida reiteradamente reclamada com a expectativa de se 
modernizar a engrenagem jurisdicional, assegurar-lhe a 
necessária agilidade, eficiência na solução dos litígios 
 
 
Aspectos Introdutórios 
e a garantir menor nível de desmandos, a lisura e o equilíbrio, bem assim o 
sentido de segurança e de efetiva tutela para as relações que se processam no 
seio da nossa sociedade. 
 
 Tarefa das mais árduas, o espinhoso trajeto de tramitação 
desta propositura acabou sendo marcado por profundos e prolongados debates, 
constante pressão de lobbies, das mais diferentes nuanças – oriundos do próprio 
Judiciário, de segmentos da sociedade civil organizada, da mídia e da imprensa – 
e acompanhada, durante todo o seu percurso, por um profundo descrédito de 
todos. 
 
 Impactante, pois, referida Emenda Constitucional n. 
45/2004, porquanto a par de poucos terem acreditado na sua real emergência, 
quando, a final, editada, a ausência de primor de técnica legislativa, a falta de 
precisão e a superficialidade com que trata determinados tópicos, impôs de 
imediato à comunidade jurídica uma nova e urgente tarefa: a de dissecá-la e neste 
ensaio de prática de verdadeira anatomia, identificar a exata extensão de seus 
efeitos e sua aptidão à, concretamente, alinhar a atuação do Poder Judiciário às 
demandas da sociedade brasileira do século XXI. 
 
 Para os operadores do Direito, o advento das novas regras 
implicará, certamente, num atento debruçar sobre novas competências, rearranjos 
estruturais e de organização do Poder Judiciário, revisitação do quadro normativo 
recursal, enfim temas que integram o cotidiano do advogado, do procurador e do 
 
1
 A Emenda Constitucional n. 45/2004 foi promulgada em 8 de dezembro de 2004, sendo publicada, no 
entanto, apenas em data de 31 de dezembro de 2004. 
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 2
promotor público. Para o Judiciário, no entanto, a inovação introduz uma 
monumental incumbência – a de extrair da aplicação e fórmulas adotadas na 
implementação dos preceitos reformulatórios a reconquista de sua credibilidade. E 
esta nos parece uma ingrata atribuição, porquanto tímidos e frágeis são os 
instrumentos para tanto concebidos pelo constituinte. 
 
 O presente estudo não tem a pretensão de exaurir a análise 
da mais recente remodelação constitucional aplicada ao Estatuto Fundamental de 
1988. Isto seria até absurdo, porque a sua efetiva concreção processar-se-á 
paulatinamente, por intermédio de uma trajetória a integrar a edição de leis, 
resoluções e o reiterado pronunciamento dos Tribunais – enfim, o tempo irá 
comandar a sua fática consolidação. Neste espaço, porém, pretende-se tão 
somente oferecer um exercício de reflexão sobre o produto da referida reforma, tal 
como lançado. Assim, nesta primeira etapa, a perspectiva é a de examinar, 
genericamente, os instrumentos criados para, a seguir, em dois diferentes e 
subseqüentes blocos, serem abordadas as espinhosas questões atinentes à 
súmula vinculante e às novas configurações dos tribunais. 
 
 Múltiplas e multifárias as medidas 
novidadeiras introduzidas por força da E.C. n. 45/2004. 
Aproveitou o constituinte a oportunidade, inclusive, para 
alargar o já invejável catálogo dos direitos 
fundamentais do art. 5º, inscrevendo o “princípio da 
razoável duração do processo (com) os meios que 
garantam a celeridade de sua tramitação” (inciso LXXVIII) 
 
 
Das Medidas 
Inovatórias 
em Geral 
e a imposição de reconhecimento das “decisões de Tribunal Penal 
Internacional para cuja criação (o Brasil) tenha manifestado adesão” (§4º), o que 
irá provocar calorosas discussões sobre eventual redução da soberania – embora 
esta posição tenha resultado do exercício da soberania – a qualidade das 
decisões a que o país deva se subordinar, a solução de eventual conflito entre o 
pronunciamento da Corte Internacional e a de um Tribunal interno. 
 
 No bojo desta reformulação, conferiu-se, ainda, “status” 
constitucional “aos tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 
três quintos dos votos dos respectivos membros”. (art. 5º, § 3º) tópico que, a seu 
turno conduzirá a refletir sobre eventual possibilidade de recepcionar2 os acordos 
anteriores, em matéria de direitos humanos, com o mesmo efeito. Alcançar um 
consenso nestes domínios não nos parece tarefa cômoda e não há dúvida de que 
a opinião pública e a pressão internacional deverão marcar presença como 
ingredientes obrigatórios. No entanto, do exame, ainda que perfunctório do 
dispositivo, depreende-se que o constituinte outorgou um tratamento muito exato, 
específico e restritivo à questão. Conferiu o pedestal constitucional tão só aqueles 
 
2
 O instituto da RECEPÇÃO opera mediante a integração do quadro normativo (leis, decretos, regulamentos, 
etc.) editado sob a égide da ordem constitucional anterior ao novo panorama jurídico advindo da promulgação 
de uma nova Constituição ou de reforma efetuada, desde que com esta compatível. 
 3
tratados e convenções que cuidassem de direitos humanos e que atendessem às 
regras de aprovação legislativa estabelecida para as emendas constitucionais. Em 
se afigurando excepcional o dispositivo, restrito o seu campo interpretativo, 
porquanto ausente a flexibilidade necessária a exercícios de hermenêutica. 
 
 De resto, circunscreveu o legislador sua atuação a incisões 
precisas sobre o Poder Judiciário, perseguindo praticamente três objetivos: (1) 
conferir celeridade a sua ação, como anunciado pelo atual inciso LXXVIII, do 
artigo 5º, com a estréia do standard da “razoável duração do processo”; (2) torna-
lo imune à ação corrosiva, assegurando lisura na prestação jurisdicional e 
evitando os repetidamente denunciados desmandos; (3) blindar o Supremo 
Tribunal Federal, modelando-o de forma a assumir, na ordem jurídica brasileira, a 
postura de Corte Constitucional. 
 
 Nessa esteira, a par da criação do Conselho Nacional de 
Justiça (art. 103-B), providência complementada com a previsão do Conselho da 
Justiça Federal (art. 105, p.ú., II) e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (art. 
111-A, § 2º, II), preconizou o constituinte a Escola Nacional de Formação e 
Aperfeiçoamento de Magistrados, tanto no âmbito da Justiça comum, vinculando-a 
ao Superior Tribunal de Justiça (Art. 105, § 1º, I), como também para a área 
especializada, trabalhista, onde a ligação foi estabelecida com o Tribunal Superiordo Trabalho (art. 111-A, § 2º, I). A par disso, vedou expressamente o recebimento de 
auxílio ou contribuição por magistrado (art. 95, p.ú., IV) e instituiu a quarentena para 
os membros da magistratura – três anos de impedimento para atuar perante o 
juízo ou Tribunal do qual tenha se afastado por aposentadoria ou exoneração (art. 
95, p. ú. , V), o que não obstruiu a possibilidade de patrocinar causas na área 
judiciária, em outras instâncias e entrâncias. 
 
 Complementando o mecanismo de controle, a Emenda 
Constitucional n. 45/2004 idealiza, também, uma figura inovadora na estrutura do 
Ministério Público, promovendo a estréia do Conselho Nacional do Ministério 
Público (art. 130-A), composto por quatorze membros (14) – uma quase reprodução 
do Conselho Nacional de Justiça e que, a exemplo do que se verifica neste último 
ambiente, acolhe um clima de clara preponderância da área do Judiciário 
(Ministério Público e do Poder Judiciário). 
 
 De fato, geneticamente resultante do polêmico debate sobre a 
viabilidade de se estabelecer um sistema de controle em relação ao Poder 
Judiciário, o desenho final dos Conselhos e sua fórmula constitutiva3 oferece uma 
solução frágil no que toca à exigência de fiscalização e imposição de limites, 
visando a adequação da prestação jurisdicional à perspectiva constitucional e à 
expectativa da comunidade. Configura, porém, o instrumento que a Constituição 
 
3
 A constituição e a competência atribuída aos Conselhos evidenciam claramente que o controle visualizado 
permanece nas mãos e sob o domínio do próprio órgão, o que, a primeira vista, gera dúvidas sobre a 
eficacidade do mecanismo. A matéria será analisada com maior profundidade na terceira etapa deste estudo. 
 4
idealizou, considerando notadamente a prevalência do macro-princípio da 
independência4 desta instituição, o que não pode ser desprezado. 
 
 Avanços, todavia, há. Neste escaninho, a tão reivindicada 
transparência das decisões de perfil administrativo proferidas, introduzida por 
força da alteração da norma do inciso X do art. 93 da Constituição5. Vale a pena 
lembrar, a este passo, a sinalização do Professor Cláudio Lembo, no começo dos 
anos 90, apresentando sua proposta no 5º Encontro Nacional de Direito 
Constitucional, onde registrou: “O princípio da publicidade e seu correlato direito 
fundamental à visibilidade exigem a publicação da integridade dos decisórios finais 
proferidos em procedimentos administrativos disciplinares desenvolvidos no 
âmbito do Judiciário. A coletividade necessita saber que o Judiciário é imparcial e 
age cumprindo os imperativos impostos pelo Estado de Direito.... O mau juiz 
desfigura a instituição e, por isso, seus atos e atitudes devem ser conhecidos por 
toda a gente.”.6 
 
 A busca de aprimoramento da atuação do Judiciário revela-se, 
ainda, por via de outros mecanismos coadjuvantes. Moldados, talvez, com o 
preciso escopo de fortalecer a peça central desta engrenagem e que se 
consubstancia na criação dos Conselhos. É o que se depreende do exame do 
novo requisito de aferição do merecimento de seus membros: “produtividade e 
presteza no exercício da jurisdição” (art. 93, II, “c”). Ou, ainda, da inovadora 
hipótese obstrutiva de promoção: “não será promovido o juiz que, 
injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal....” (art. 
93,II,”e”). E mais, houve flexibilização das possibilidades de remoção, 
aposentadoria e disponibilidade do magistrado, por interesse público, reduzindo-
se o quorum para maioria absoluta e outorgando-se, também, ao Conselho 
Nacional de Justiça esta competência, quando inerte o órgão de origem (art. 
93,VIII). 
 
 No capítulo da garantia da efetividade e presteza da prestação 
jurisdicional, inseriu o constituinte revisor regras de reforço, a exemplo da 
abolição do recesso forense (art. 93, XII), da exigência de proporcionalidade do 
número de juízes à efetiva demanda judicial e à respectiva população (Art. 93, XIII), 
da possibilidade de delegação de tarefas administrativas – sem perfil 
jurisdicional – aos servidores (art. 93, XIV), da determinação de imediata 
distribuição dos processos, em todos os graus (art. 93, XV). 
 
 
 
4
 Ainda que evidente se afigure a preponderância do Poder Judiciário, que detém o poder decisório no âmbito 
destes órgãos em razão da presença maciça de seus representantes, a AMB – Associação dos Magistrados 
Brasileiros ajuizou, em data de 7 de janeiro/2005, ação Direta de Inconstitucionalidade apontando a 
desconformidade do art. 103—B aos princípios constitucionais que asseguram a independência do Poder 
Judiciário e a inamovibilidade de seus membros. 
5
 Inciso X, art. 93 da C.F (redação atual): “as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em 
sessão pública, ...”. 
6
 A palestra Direito Fundamental à Visibilidade e Processos Secretos integra hoje o livro O Futuro da 
Liberdade, São Paulo, Loyola, 1999, p. 169. 
 5
 Por derradeiro, é de se anotar a 
blindagem efetuada em relação ao Supremo Tribunal 
Federal, com o reforço do efeito vinculante e a introdução 
de mais um requisito de admissibilidade para os recursos 
extraordinários – repercussão geral da questão. Aliás, é 
de se remarcar o avanço do efeito vinculante das 
decisões do STF, obstando praticamente a renovação do 
 
 
O avanço do efeito 
vinculante 
debate de matérias que já contam com o seu pronunciamento. De fato, o 
alargamento da abrangência do § 2º, do art. 102, da Constituição para atribuir 
efeito vinculante também aos decisórios em ações diretas de inconstitucionalidade 
(Adins), acoplado à elaboração da figura da súmula vinculante consagra uma 
tendência que vem se robustecendo desde a edição da Emenda Constitucional n. 
3/1993 (previu a ação declaratória de constitucionalidade e a argüição de 
descumprimento de preceito fundamental) e que ensejou o advento das Leis de n. 
9868, de 10 de novembro de 1999,7 e 9 882, de 3 de dezembro de 19998. 
 
 É certo que a mecânica consistente em se cometer efeito 
vinculante às decisões do Excelso Pretório, a par de bloquear o reiterado ingresso 
de casos similares a já apreciados e matérias decididas por consenso dos 
ministros julgadores, tem por finalidade desanuviar o Poder Judiciário, liberá-lo da 
avalanche de papeis que se avolumam sobre as mesas dos magistrados, 
impedindo a presteza que, hoje, encontra na Constituição status de princípio. 
 
 O problema que se oferece à análise, contudo, é identificar 
em que medida o alongamento do efeito vinculante, como preconizado pelo 
constituinte reformador, não invade, reduzindo-lhe o espectro de incidência, o 
cânone da inafastabilidade do controle do Judiciário (art. 5º, XXXV), entre nós 
acolhido pelo Estatuto Fundamental de 1988 como verdadeiro princípio 
conformador. 
 
 Mais ainda, não há que ignorar que, em território dominado 
pelo efeito vinculante – como o concebido pela reforma constitucional em exame – 
não teria tido espaço, nem viabilidade, a tutela da propriedade alcançada por via 
do acionamento do sistema de controle de constitucionalidade difuso, por ocasião 
do “bloqueio dos cruzados”, medida implantada pelo Plano Econômico do 
Presidente Color de Mello, no início da década 90. 
 
 Atenta a esta espinhosa questão – provavelmente – a E. C. 
n.45/2004, ao cuidar do tópico súmula vinculante (art. 103-A), já previu a 
possibilidade de sua revisão ou cancelamento, procedimentos que podem vir a 
ser provocados, inclusive, pelos constitucionalmente titulados para o ajuizamento 
da Adin (art. 103). Mas, como este acionamento restou na dependência de7
 Dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de 
constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. 
8
 Dispõe sobre o processo e julgamento da argüição de descumprimento de preceito fundamental, nos termos 
do § 1º do artigo 102 da Constituição Federal. 
 6
legislação regulamentadora, infra-constitucional, é cedo, ainda, para visualizar o 
grau da blindagem do Poder Judiciário e o eventual efeito perverso em relação à 
concreta prestação jurisdicional e à construção e revitalização de um quadro 
jurisprudencial em contínuo desenvolvimento. 
 
II. A expansão do efeito vinculante 
 
Na primeira parte desta análise, já foi identificada uma 
intensa inquietação com o exacerbado acolhimento, 
em sede de controle de constitucionalidade, do caráter 
vinculante em relação às decisões do Supremo 
Tribunal Federal, medida que, privilegiando o reino 
do precedente, busca respaldo, prima facie, na real e 
urgente exigência de se agilizar a atuação do Poder 
 
 
 
A Valorização do precedente 
Judiciário, desafogá-lo e aparelhá-lo de molde a tornar mais célere a solução dos 
litígios. Desta idéia é que decorre, também, a elevação da tradicional e clássica 
expectativa de celeridade nos pronunciamentos dos tribunais à nobre postura de 
princípio constitucional, o que veio a ser standartizado mediante a inserção do 
cânone da razoável duração do processo (C.F. – E.C. n. 45/2004 – art. 5º, LXXVIII), 
complementado pela exigência de “produtividade e presteza no exercício da 
jurisdição” (C.F. – E.C. n. 45/2004 - art. 93, II, “c”). Suportado talvez no objetivo de 
homenagear o novo princípio, o constituinte revisor acabou por se exceder na 
dosimetria do caráter vinculante acoplado a pronunciamentos do Supremo 
Tribunal Federal. 
 
 Forçoso convir que a idéia de vinculação às decisões 
proferidas por Cortes Superiores, da valorização do precedente, é própria desta 
especialíssima plataforma do controle incidente sobre a conformização das leis e 
atos normativos primários9 à Constituição. É o que os portugueses denominam de 
processo de fiscalização de constitucionalidade, os franceses de contrôle de 
constitutionnalité des lois e os americanos de judicial review. Enfim é o domínio da 
Justiça Constitucional. Neste peculiar cenário, a imposição de respeito ao 
precedente remonta mesmo à common law10, constituindo o cerne da doutrina 
conhecida por stare decisis11. Esta, transportada para a paisagem norte-
americana, ofereceu suporte à imposição de observância das decisões da 
Suprema Corte quando declara a inconstitucionalidade de lei. Aliás, a própria 
 
9
 Atos normativos primários são os editados com fundamento diretamente na Constituição. São leis, 
resoluções do Senado, etc. que retiram a sua base no próprio texto da Lei Fundamental. Ao lado desses e 
neles respaldando-se, há os atos normativos secundários (decretos, portarias, ordens internas, resoluções). 
Ver ainda sobre a classificação dos atos normativos: CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL, Manoel 
Gonçalves Ferreira Filho, São Paulo, Saraiva. 
10
 Sistema legal oriundo da Inglaterra e praticado nos Estados Unidos da América. Tem por base a aplicação 
de precedentes. 
11
 “Let the decision stand” – deixe a decisão perdurar. Sustenta a autoridade do precedente, que deve ser 
aplicado em hipóteses similares. 
 7
configuração do judicial review12 repousa sobre a necessidade da preservação dos 
“standards” nas decisões, pois reclama e tem por corolário a adoção de soluções 
idênticas para casos similares. 
 
 Não se afigura novidadeira, pois, a postura do 
constituinte reformador (E.C. n.45/2004) ao potencializar o prestígio do precedente, 
ampliando o efeito vinculante, antes assegurado, tão só, em relação às decisões 
proferidas em ações declaratórias de constitucionalidade (C.F. § 2º, art.102)13. Alargou 
o círculo da vinculação para abarcar todas as decisões proferidas em sede de 
controle de constitucionalidade. De fato, foi além: acoplou efeito vinculante 
também às súmulas editadas, fortalecendo o quadro sumular e reduzindo 
sensivelmente o acesso ao Judiciário de casos novos que, no entanto, viessem a 
se enquadrar em precedentes e súmulas portadoras deste caráter vinculante. 
 
 Em verdade, entusiasmado com a inspiração obtida a 
partir do clássico sistema do stare decisis anglo-saxônico, do modelo germânico (§ 
31, abs. 1 da Lei do Tribunal Constitucional alemão) e, principalmente, do desenho das 
competências que a Constituição portuguesa atribuiu ao Tribunal Constitucional 
(art. 282/Efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade), o nosso legislador 
extrapolou as suas musas e adotou com todo o vigor a conotação 
vinculativa, acolhendo-a em terrenos em que não é reconhecida em outros 
ordenamentos, a exemplo da declaratória de constitucionalidade, hipótese que, 
tanto no panorama norte-americano, como no germânico14, no italiano15 e no 
português16, é autorizado o reexame da matéria em qualquer outro tempo e caso. 
 
 Destarte, resta a este passo, examinar a abrangência 
do efeito vinculante, como entre nós plasmado pelo constituinte revisor de 2004, 
identificar a quem vincula, qual a área de domínio desta vinculação, quais os 
seus limites temporais, enfim, qual o seu modus operandi. E, para tanto, 
impende, antes, visitar experiências e soluções anteriores, no segmento do Direito 
Comparado. 
 
 
12
 Trata-se do modelo norte-americano de controle de constitucionalidade, controle de natureza jurisdicional, 
que encontra sua certidão de nascimento no célebre caso Marbury v Madison, na corte do Juiz Marshall 
(1803). 
13
 E.C. n. 3/93 
14
 Na Alemanha é polêmico o tema atinente à eficácia das decisões que afirmam a constitucionalidade de 
norma que passa pelo processo de controle, questão ainda bastante controvertida e que não alcançou 
consenso. (V. a respeito Rui Medeiros, A DECISÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, Lisboa, Universidade 
Católica Editora, 1999. 
15
 “Hoje, ..., é quase unânime a tese de que as decisões de constitucionalidade não produzem efeitos em 
processos ulteriores”- Rui Medeiros, A decisão de Inconstitucionalidade, Lisboa, Universidade Católica 
Editora, 1999, p. 785. 
16
 Em território português também não há efeito preclusivo em relação às decisões que rejeitam a argüição de 
inconstitucionalidade. Isto quer dizer que, reconhecida a constitucionalidade da norma atacada, a questão 
pode vir a ser ressuscitada pelo mesmo requerente ou por outro. (J.J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional 
e Teoria da Constituição, 4a Ed., Portugal, Almedina, p. 993. Ver, neste sentido, ainda, L. Nunes de Almeida, 
A Justiça Constitucional no Quadro das Funções do Estado, in VII Conferência dos Tribunais Constitucionais 
Europeus, José Manuel Cardoso da Costa, A Justiça Constitucional, p. 59). 
 8
 
Em ambiente norte-americano, a regra do stare 
decisis não detém o poder de impor os pronunciamentos 
de declaração de inconstitucionalidade ao legislador, 
castrando-o quanto à competência, que lhe é própria, de 
produzir novo direito (lei), até porque isto viria lesar a 
separação de poderes, e nem mesmo de cercear a 
liberdade da Corte que proferiu a decisão de rever 
 
 
O efeito vinculante 
 no 
Direito Comparado 
 
casos em que a matéria contida na lei inquinada de inconstitucionalidade venha a 
constituir objeto de nova análise. Esta observação, aliás, vem registrada até por 
Kelsen, o pai do sistema europeu de justiça constitucional, em trabalho que dedica 
ao exame comparativo, do controlede constitucionalidade, dissecando as linhas 
de discrímen entre o modelo austríaco e o americano17. Neste diapasão é que 
registra Kelsen o fato de que referido princípio não pode ser concebido como 
absoluto, pois as questões constitucionais são sempre passíveis de 
reexame. Daí, a viabilidade de detectarmos decisões da Suprema Corte 
entendendo, num caso, uma determinada lei não conforme à Constituição e, em 
outro, pronunciamento em sentido oposto. E mais ainda, não opera o stare decisis 
sobre o domínio da coisa julgada, que fica a salvo dos novos posicionamentos da 
Suprema Corte. 
 
 De se anotar, ainda, que em território norte-americano já se 
afigura robusto o entendimento de que o precedente não pode excluir a 
especificidade de interpretação e aplicação das normas constitucionais de 
conformidade com as exigências reais da sociedade, implicando, pois, a 
admissibilidade do que vem a ser denominado de overruling18. 
 
 Na Alemanha, o efeito vinculante das decisões de 
inconstitucionalidade do Tribunal Constitucional atinge, por determinação legal, os 
órgãos constitucionais da Federação e dos Länder, os tribunais e as autoridades (§ 
31, Abs.1 da BverfGG – Lei do Tribunal Constitucional). Não se estende aos particulares e há 
razoável consenso no sentido de que não pode atingir o legislador, impedindo-o 
de reproduzir norma declarada inconstitucional pela Corte de Karlsruhe19. Aliás, 
identifica-se neste panorama plena consciência quanto ao efeito perverso do 
excessivo alongamento do efeito vinculante que acaba por produzir a 
estagnação do Direito e, mais particularmente, do Direito Constitucional, dinâmico. 
Daí a polêmica envolvendo a auto-vinculação da Corte as suas próprias decisões, 
 
17
 Le controle de constitutionnalité des lois, Hans Kelsen, in Revue Française de Droit Constitutionnel, 1990, n. 
1, p. 17. 
18
 Rui Medeiros, op. cit., p. 813. 
19
 É acentuada, na realidade, a polêmica acerca da proibição do legislador alemão de reproduzir norma 
declarada inconstitucional pelo Tribunal (§ 31, Abs.1 da BverfGG). Muitos dos que apóiam a tese da vedação 
buscam respaldo nos caracteres de coisa julgada e força de lei (§ 31, Abs.2 da BverfGG) atribuídos à 
decisão de inconstitucionalidade. De qualquer forma, há consenso pacífico sobre a viabilidade de reorientação 
legislativa e reprodução das normas atingidas por decisão de inconstitucionalidade por força do limite 
temporal imposto a tais pronunciamentos. Ver ainda, Rui Medeiros, A decisão de Inconstitucionalidade, op. 
cit., p. 778 e seguintes. 
 9
o que implica em fator redutor do potencial de inovação da justiça constitucional20, 
o que seria absurdo. É de se registrar, de outra parte, preocupação com a 
exigência de limites temporais para o efeito vinculante, porquanto as situações 
mudam, as demandas sociais evoluem e a realidade constitucional passa a 
reclamar atenção. Sem atingir a qualidade de coisa julgada, limites temporais são 
impostos ao efeito vinculante, liberando o legislador e a própria Corte 
Constitucional da observância de decisões anteriores; isto para impedir um 
processo – inevitável – de petrificação da própria constituição21. 
 
 O cenário italiano em matéria de controle de 
constitucionalidade é comandado a partir do art. 136 da Constituição, que se limita 
a assegurar eficácia erga omnes às decisões que acolhem a inconstitucionalidade 
de lei ou ato com força de lei. Coube à doutrina e à jurisprudência explicitar o 
alcance da decisão de inconstitucionalidade, em especial no que toca à posição 
do legislador e sua liberdade de lege ferrenda. Assim é que, hoje, predomina o 
entendimento de que a sentença de acolhimento da inconstitucionalidade veda ao 
legislador a atividade de reprodução de norma idêntica à atacada. Porém esta 
proibição não se estende para o futuro. Neste sentido, a anotação de Rui 
Medeiros, com esteio nas lições de Asessandro Pizzorusso: “Para o futuro, (desde 
que não se aplicando as mesmas fattispecies) ..., o legislador é juridicamente livre de 
aprovar nova regulamentação idêntica, embora correndo o risco de a nova lei ser 
declarada inconstitucional pelos mesmos motivos”22. 
 
 Portugal, na realidade, é que inspirou a marcha 
ascendente e progressiva do caráter vinculante das decisões do Supremo Tribunal 
Federal entre nós. Motivado pelo tratamento que o texto constitucional lusitano 
(Constituição/art.282)23 ofereceu ao tema, avançou o constituinte em território 
doméstico, culminando com a edição da E.C. n. 45/2004. 
 
 Assim é que, em razão do disposto no já referido art. 282, 
inciso 1, da Constituição portuguesa, às decisões declaratórias de 
inconstitucionalidade foi atribuída “força obrigatória geral”, fórmula sintetizada pela 
doutrina e jurisprudência na idéia de vinculação geral, impondo-se ao legislador e 
ao próprio Tribunal Constitucional24. Neste clima, entendeu-se que ao legislador 
restara vedada a reprodução de lei considerada inconstitucional, salvo se esta 
inconstitucionalidade tiver sido operada por força de vício formal e a nova norma 
venha a observar os preceitos constitucionais antes lesados. 
 
 
20
 Ver neste sentido, Rui Medeiros, A decisão de Inconstitucionalidade, op. cit., p. 773 e seguintes. 
21
 Rui Medeiros, A decisão de Inconstitucionalidade, op. cit., p. 780. 
22
 Id.ibid. 
23
 Art. 282 (Constituição portuguesa, com o aditamento da Reforma de 1982): “I. A declaração de 
inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória geral produz efeitos desde a entrada em vigor da 
norma declarada inconstitucional ou ilegal e determina a repristinação das normas que ela, eventualmente, 
haja revogado. ... “ in Constituição da República Portuguesa, Coimbra Editora, 6a ed., 2002. – grifo nosso. 
24
 Ver neste sentido J.J. Canotilho, op. cit., p. 983. 
 10
 Conquanto ainda robusta e respaldada em respeitável 
doutrina25, a tese da vinculação do legislador vem encontrando cada vez mais 
opositores26. Isto, em razão do prejuízo que a proibição da reprodução de normas 
atingidas por inconstitucionalidade declarada pelo Tribunal Constitucional imporia 
à própria evolução do Direito, conduzindo, ademais, a uma “canonização da 
interpretação acolhida”27 por esse e introduzindo, assim, um flagrante desequilíbrio 
entre o Legislativo e a Corte Constitucional. Nessa esteira, o registro de Rui 
Medeiros da inviabilidade jurídica de “qualquer proibição de reprodução da norma 
declarada inconstitucional, porquanto o legislador não se encontra assim numa 
posição subordinada em face do Tribunal Constitucional. Pelo contrário, a 
admissibilidade da renovação do acto conduz a uma solução de equilíbrio entre os 
dois órgãos de soberania”28. 
 
 
 
A Constituição brasileira de 5 de outubro de 1988 
impactou pelo privilegiado tratamento cometido aos 
direitos fundamentais, promovendo o seu alongamento 
não apenas no que toca à enumeração de direitos 
(alojando as, hoje célebres, três gerações) como, 
ainda, introduzindo um novo rol de garantias, 
concretizadas por ações judiciais que, de uma parte, 
propiciaram o polêmico fenômeno da politização da 
 
Efeito vinculante 
na 
 Constituição brasileira 
 
O impacto da E.C. n. 45/2004 
Justiça29 e, de outra, abriram a porta para a invasão do Poder Judiciário por um 
número significativo de demandas girando em torno dos novos mecanismos de 
defesa das liberdades.O efeito vinculante a ornamentar as decisões proferidas pelo 
Supremo Tribunal Federal tem por direção, exatamente, desarticular esta explosão 
de litigiosidade, afastando do Judiciário o ônus de vir a se manifestar em centenas 
de casos absolutamente semelhantes. Buscou-se, para tanto, a técnica do 
precedente, bloqueando-se a possibilidade de ingresso de novos casos similares 
 
25
 Ver neste sentido: Jorge Miranda, Canotilho, etc. 
26
 Nessa linha o magistério de Paulo Otero (Ensaio sobre o caso julgado Inconstitucional, Lisboa, 1993), que 
registra a inoportunidade da tese. Esta, a seu ver, implicaria numa preclusão da liberdade conformadora do 
legislador e numa dominação de elevado risco do Tribunal Constitucional. E, deste mesmo sentir Luís Nunes 
de Almeida (Les Effets des arretes du Tribunal Constitutionnelle au Portugal, in La Justice Constitutionnele, 
Paris, 1989.) 
27
 Rui Medeiros, op. cit., p. 826. 
28
 Id. p. 870 
29
 A politização do Judiciário ou judicialização da política, fenômeno que vem despertando a atenção dos 
especialistas e que se manifestou de forma mais evidente após o advento da Constituição Federal de 1988 
implica no transporte de questões políticas para a esfera judicial. Como o magistrado, uma vez acionado, 
deve se manifestar sobre os casos submetidos a sua apreciação, a inserção dos novos instrumentos de 
defesa dos direitos fundamentais (ações civis públicas, mandados de segurança coletivos, o mandado de 
injunção, a omissão legislativa) ensejaram um infindar de litígios – muitos extremamente semelhantes, 
ingressando em esfera judicial. O sistema de controle de constitucionalidade que o constituinte buscou 
aperfeiçoar, a seu turno, contribuiu para esta avalanche de ações a assolar o Poder Judiciário. 
 11
aos já decididos pelo Supremo Tribunal Federal e criou-se uma ligadura 
irremovível das instâncias inferiores a pronunciamentos do Excelso Pretório. 
 
 Esta obstrução iniciou sua trajetória com a 
promulgação da Emenda Constitucional n. 3/1993, que introduziu a ação 
declaratória de constitucionalidade e uma novíssima figura no campo da tutela dos 
direitos fundamentais: a argüição de descumprimento de preceito fundamental. 
Em particular, no tocante à ação declaratória de constitucionalidade, atribuiu 
às decisões definitivas de mérito “eficácia contra todos e efeito vinculante, 
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo” 
(C.F. § 2º, art. 102). Em 1999, foram editadas as Leis de n. 9.868, de 10 de 
novembro30, e 9.882, de 03 de dezembro, configurando este último texto a 
regulamentação do processo e do julgamento da argüição de descumprimento de 
preceito fundamental, que a já referida E.C. n. 3/93 idealizara, por força da 
inserção do § 1º, ao artigo 102, da Constituição Federal. E, por via infra-
constitucional, o documento acabou estendendo o efeito vinculante ao campo da 
argüição de descumprimento de preceito fundamental, estatuindo no § 3º do seu 
art. 10: “A decisão terá eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente 
aos demais órgãos do Poder Público”. 
 
 Com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004 
a redação do assinalado § 2º, art. 102 da Constituição passou a acoplar efeito 
vinculante às “decisões definitivas de mérito proferidas pelo Supremo Tribunal 
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de 
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, (que) produzirão eficácia 
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder 
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, 
estadual e municipal”. E, progredindo nesta empreitada, por via da inserção do 
art. 103-A fixou o desenho da nova figura jurídica: a súmula vinculante: “O 
Supremo Tribunal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois 
terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, 
aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito 
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à 
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e 
municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma 
estabelecida em lei”. 
 
 Pois bem, da mais breve incursão neste quadro da 
vinculação, idealizado pelo constituinte doméstico, alguns registros evidenciam-se 
desde logo: 
 
(1) a inequívoca tendência em se adotar o modelo europeu de controle de 
constitucionalidade, erigindo-se o Supremo Tribunal Federal à Corte 
Constitucional; 
 
30
 Dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação 
declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. 
 12
(2) não há, entre nós, de que questionar se as decisões proferidas pelo STF, 
em sede de controle de constitucionalidade, vinculam a atividade do 
legislador. Este em nenhum momento foi abarcado pelo constituinte 
que, de forma clara, exige a observância dos pronunciamentos 
vinculantes, apenas e tão somente, por parte do Poder Judiciário e 
dos órgãos do Poder Executivo, nas três esferas de governo. Nada 
obsta, daí, que o legislador venha a reproduzir norma entendida 
inconstitucional pelo STF; 
(3) deixou o constituinte de constitucionalizar o efeito vinculante que a Lei n. 
9.882, de 3 de dezembro de 1999, cometeu à decisão prolatada em 
argüição de descumprimento de preceito fundamental (§ 3º, art. 10). Parece-
nos, portanto, revogada esta regra, porquanto não pode vir a ser 
recepcionada pelo novo ordenamento, afigurando-se, ademais, 
incompatível com esta. É que esta qualificação de vinculante às 
decisões judiciais é acoplada em caráter especialíssimo pelo 
constituinte, que a concretiza de forma explícita nas hipóteses que 
contempla expressamente. Por comparecer como conotação peculiar e 
extraordinária não admite interpretações flexíveis, ampliadoras, nem por 
parte do legislador e nem mesmo para o aplicador dos princípios contidos 
no Estatuto Fundamental. O constituinte revisional de 2004 poderia ter 
elevado a vinculação, preconizada na Lei n. 9.882, de 3 de dezembro de 
1999, a nível constitucional, convalidando a interferência do texto infra- 
constitucional. Não o fez; ao invés ampliou o domínio de abrangência da 
idéia de vinculação e deixou fora do seu círculo a hipótese da argüição de 
descumprimento de preceito fundamental. Sob a nova incursão do 
constituinte, destarte, o indigitado preceito do § 3º, art. 10, da Lei n. 9 
882/99 não detém condições de resistência e, conseqüentemente, de 
sobrevivência; 
(4) contrariamente ao entendimento dominante no universo da prática da 
vinculação31, o constituinte brasileiro insiste em resguardar o efeito 
vinculante para as decisões proferidas em ações declaratórias de 
constitucionalidade, degradando o instituto e transformando-o em 
mecanismo de preservação do poder, à disposição do governo para 
impedir a evolução jurisprudencial nas matérias de seu interesse; 
(5) a vinculação não atinge os particulares. Estes, a qualquer tempo, podem 
ressuscitar a questão, o que na prática apresenta-se perfeitamente viável 
no espectro das interpretações conforme à Constituição. De fato se, de 
uma parte, é certo que a invalidação da lei ou ato normativo inquinado de 
inconstitucional ocasiona um quadro de inexistência da referida lei – ou ato 
– o que inviabiliza que este venha a servir de superfície, no futuro, para 
qualquer nova situação jurídica, de outra, também é verdade que, em se 
tratando de mera interpretação conforme, esta poderá sofrer alteração por 
parte dos particulares, até mesmopor via de mediação ou arbitragem. 
 
 
31
 Ver acima e, notadamente, as notas de ns. 6, 7 e 8 deste artigo. 
 13
 Aspecto sensível no plano da eficácia vinculante toca 
de perto a sua limitação no tempo. Não se questiona aqui a prevalência da 
“coisa julgada” e nem o efeito “erga omnes”, aquela, consubstanciando-se em 
caráter específico da decisão proferida em sede judiciária e este próprio das 
decisões do sistema de controle de constitucionalidade concentrado. Já que as 
condições da vida em sociedade são mutáveis e considerando, ademais, que no 
acelerado processo de desenvolvimento do mundo contemporâneo emergem a 
toda hora reclamos e novas situações a solicitar a lente do jurista, do legislador e 
do Judiciário, impende verificar, em que medida este efeito vinculante deve ou 
pode resistir ao tempo; em outras palavras, mister é investigar se há limites 
temporais a obstar a perpetuidade da vinculação e petrificar o direito. E, 
nesta perspectiva, impõe-se, a nosso ver, a adoção das fórmulas já consagradas 
em outros ordenamentos, autorizando-se, para o futuro, a reformulação dos 
posicionamentos adotados – e agora vinculantes – do STF, mormente no plano 
das interpretações conformes, onde não se dá a invalidação plena e fatal do texto 
inquinado de inconstitucional, oferecendo-se-lhe uma interpretação mais próxima 
da norma fundamental. 
 
 O tema da prevalência no tempo das decisões do 
Supremo Tribunal Federal detecta questionamentos mais inquietantes no campo 
de outra figura inovadora do constituinte revisor de 2004: a súmula vinculante 
que a seguir, será objeto do nosso exame. 
 
 
Instituto estreante no campo processual, esta figura 
vem apresentada pelo constituinte com contornos 
definidos, impondo-se-lhe, para a edição, tanto 
requisitos de forma – quorum qualificado de 2/3 dos 
membros do STF, como ainda de fundo – (a) 
reiteradas decisões sobre matéria constitucional; (b) 
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre 
esses e a administração pública sobre a matéria; 
 
 
 
 
A súmula vinculante 
(c) grave insegurança jurídica; (d) relevante multiplicação de processos sobre 
questão idêntica. Há, ainda, evidente limitação quanto à matéria versada e 
inviabilizada, restando a sua elaboração sobre temário que não envolva 
questões constitucionais. Importa, contudo, registrar que a construção desta 
figura toda particular é que acaba por forçar a adoção entre nós do “precedente”, 
buscando o seu robustecimento e valorização. E, mais, ao desenhá-la, a 
Constituição promoveu o alongamento da idéia de vinculação, transbordando do 
espectro do controle de constitucionalidade para alcançar casos à margem do 
denominado judicial review. 
 
 Com efeito, preceitua o art. 103-A da Constituição, 
introduzido pela E.C. n. 45/2004: 
 
Art. 103-A: O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, 
mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões 
sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação 
 14
na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do 
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas 
federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou 
cancelamento, na forma estabelecida em lei. 
§ 1º : A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de 
normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos 
judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave 
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão 
idêntica. 
 § 2º: Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão 
ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem 
propor a ação direta de inconstitucionalidade. 
 § 3º: Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula 
aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo 
Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou 
cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida 
com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. 
 
 
 Ora, esta idéia emerge dentro de um contexto 
circunscrito pela imposição de limites materiais, temporais e dos requisitos 
de fundo e de forma que devem ser observados – a expectativa é a de que 
efetivamente o sejam – para a sua confecção. Ainda assim, significativa a 
inquietação, porquanto, a par de novidadeira, representa mecanismo otimizador 
da estagnação da jurisprudência e, mais que isto, relevante fator repressivo e 
inibidor do talento construtivo que lhe é próprio e que a posiciona como força 
motriz na renovação do direito. 
 
 A nova figura, como acima anotado, não opera no 
campo do controle de constitucionalidade; ao menos, aparentemente, não foi 
idealizada para incidir sobre esta esfera, principalmente no concentrado. No 
entanto, pode ser aplicada em sede de controle difuso, pois esta parece ser a 
perspectiva delineada no § 1º do art. 103-A, ao prever: “A súmula terá por objetivo 
a validade,...... e a eficácia de normas determinadas”. Assim é que, por força 
sumular poderá ser declarada a invalidade de normas ou, ainda, cessada sua 
eficácia, o que, em verdade somente é viável em terreno de controle de 
constitucionalidade. 
 
 De outra parte, há inequívoca interrogação a respeito do 
potencial vinculativo desta espécie de súmula. A quem vincula? Por quanto 
tempo vincula? Da leitura do texto constitucional depreende-se como 
razoavelmente correto o fato de que este vínculo jurídico-constitucional não 
atinge o legislador, que mantém ampla liberdade de reproduzir normas 
similares àquelas atacadas, objeto de súmula, como ainda não alcança o 
particular. Inviabiliza uma atuação inovadora tão só em relação ao Poder 
Judiciário – incluindo a Corte que a editou – e aos órgãos do Poder Executivo, nas 
três esferas governamentais. Neste contexto, pois, não há óbices à reedição das 
normas pelo Poder Legislativo e, também, é viável sua aplicação, por 
exemplo, via arbitragem ou técnicas de mediação. A obstrução diz respeito 
única e exclusivamente aos órgãos do Poder Judiciário e aos da Administração 
Pública cuja atuação, contrariando à súmula, resta vedada. 
 
 15
 A questão atinente à limitação no tempo, a própria 
Emenda Constitucional 45/2004 contemplou, preconizando a possibilidade de 
revisão e cancelamento (art. 103-A caput e § 2º), tanto por provocação como, ainda, 
pelo próprio órgão emissor, isto é o Supremo Tribunal Federal. É certo que para 
sua remodelação cuidou o constituinte de exigir procedimento próprio e 
atribuiu a tarefa ao legislador ordinário, o que, em última análise, implica que, 
estabelecida a súmula vinculante, esta só possa se submeter a processo de 
revisão após a edição do texto regulamentador, restando na dependência da 
operosidade do legislador que, também, poderá permanecer omisso e hibernando 
por um bom período. 
 
 Ponto de acentuada polêmica, contudo, constitui a 
fórmula indicada para a fixação da súmula vinculante. Isto porque, se as 
hipóteses de revisão e cancelamento foram inequivocamente subordinadas à 
regência de lei ordinária posterior, em relação ao tratamento cometido à técnica de 
aprovação o constituinte não logrou este grau de clareza. Em verdade, previu dois 
diferentesprocedimentos para a sua aprovação: (1) de ofício; (2) por provocação. 
 No tocante a segunda modalidade, por provocação, 
legitimou os titulares da ação direta genérica de inconstitucionalidade (art. 103) para 
a sua propositura e advertiu para a possibilidade de o legislador ordinário vir a 
disciplinar todo o procedimento, ampliando ou reduzindo o campo do ajuizamento 
de propostas de novas súmulas e, até mesmo, de revisão e cancelamento destas. 
Aliás, dispondo “sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei” (art. 103-A , § 
2º), acolheu o constituinte a modalidade de construção de norma constitucional 
conhecida como “de aplicabilidade imediata e eficácia contida”32, o que, a nosso 
ver, permite a imediata operabilidade desta hipótese, viabilizando a apreciação 
de propostas de aprovação desde logo, ainda que inexista o documento 
legal de regulamentação. Advindo este, todavia, o procedimento de provocação 
a ele deverá se sujeitar, observando as novas condições impostas. 
 A aprovação de ofício, por outro turno, não nos parece 
tenha curvado o constituinte à edição de norma regulamentadora. O dispositivo 
constitucional apresenta-se auto-executável, impondo-se a ligadura à lei posterior 
tão somente para os processos revisionais. Nada obsta, contudo, que a própria 
Corte Superior, por resolução, venha a disciplinar os trâmites da aprovação, 
sistematizando o procedimento. 
 Por derradeiro, demanda atenção o especialíssimo 
preceito do art. 8º, da E.C. n. 45/2004, que autoriza o Supremo a outorgar o 
 
32
 Na doutrina clássica norte-americana, as normas constitucionais podem se apresentar auto-excutáveis ou 
não-auto-executáveis. São os célebres tipos: mandatory provisions e as derectory provisions. José Afonso 
da Silva é que, inspirado pelas lições do italiano Vezio Crisafulli (La Costituzione e lê sue disposizioni di 
princípio, Milão, Giuffrè Ed., 1952, acabou apresentando uma tipologia revolucionária apontando: as normas 
de eficácia plena (auto-executáveis) e mais duas categorias: as de eficácia contida e as de eficácia limitada 
ou reduzida (Aplicabilidade das Normas Constitucionais, São Paulo, RT Ed. , 1982.) 
 16
caráter vinculante a súmulas já em vigor, anteriores à constitucionalização da 
espécie. 
 E para este particular escaninho, previu um 
procedimento de confirmação, individualizado e submetido às condições de 
forma e de fundo estabelecidos para a atividade de aprovação. Ainda aqui, 
não nos parece tenha demandado o constituinte a edição de lei a dispor sobre o 
processo de confirmação de súmulas, para fins de outorga da qualificação de 
vinculante. Certo, no entanto, se nos afigura a exigência de regulamentação 
especial, cuidando da respectiva tramitação, a ser editada pelo STF. 
 De qualquer forma a atribuição de efeito vinculante às 
decisões do STF, ainda que em sede de controle de constitucionalidade, alinhada 
à nova modelagem assegurada às súmulas – vinculante, constituem fatores que 
corroboram a visão de um processo de blindagem do Poder Judiciário, 
bloqueando o acesso a uma solução judicial dos litígios. Isto, de certo, ofende o 
standard da inafastabilidade do controle judicial, inscrito, pelo constituinte 
originário, no art. 5º, XXXV, da nossa Lei Maior, inicia um pernicioso percurso de 
petrificação do Direito, propiciando, assim, até uma involução do próprio Direito 
Constitucional, que avança por força da construção jurisprudencial produzida em 
panorama de controle de constitucionalidade e, enseja o desenvolvimento de 
outras receitas de solução da litigiosidade, mediante, por exemplo, mediação e 
arbitragem. 
 
III - A nova estrutura do Poder Judiciário 
 
 
Como demonstrado ao início deste estudo, a Reforma 
concretizada por via da E.C. n. 45/2004, sintetiza um 
verdadeiro esforço de reengenharia, perseguindo, por 
força da introdução de novas estruturas e rearranjos 
no campo da atribuição de competências, 
 
Reengenharia 
do 
Poder Judiciário 
assegurar ao Judiciário maior agilidade no desempenho de sua tarefa básica, qual 
seja, a prestação jurisdicional, e, concomitantemente, oferecer-lhe o instrumental 
apto a resgatar a idéia de lisura e da desejada densidade quanto à segurança 
jurídica que deve impregnar seus pronunciamentos. 
 
 Perquirindo o universo da referida reforma 
constitucional, o analista, de fato, vem a se surpreender com o volume e a 
qualidade das novas figuras estreantes: os novos órgãos; a fixação de novos 
princípios; o rompimento de velhos tabus, a exemplo da sigilosidade das decisões 
de caráter administrativo que, agora, passam a se sujeitar, a seu turno, ao 
standard da transparência (Constituição, art. 93, IX e X); a projeção de uma Justiça mais 
próxima do cidadão, instalando-se a Justiça itinerante (Constituição, arts.107, § 2º, 115, § 1º, 
125, § 7º) e, acolhendo uma forte linha de descentralização, as Câmaras regionais 
(Constituição, arts.107, § 3º, 115, § 2º, 125, § 6º); uma Justiça tecnicamente mais preparada 
 17
(Constituição, arts. 105, p.ú., I, 111-A, § 2º, I, 93, IV), mais célere, sob a permanente vigilância da 
sociedade e, em especial, de organismos superiores. Contudo, a leitura mais 
detida impacta pela periculosidade das inovações, dentre as quais, um 
considerável número pode conduzir a sérias lesões à segurança jurídica, em razão 
do rompimento de princípios já consagrados no plano constitucional, como é o 
caso do respeito à coisa julgada (Constituição, art. 5º, XXXVI), a exigência de duplo grau 
de jurisdição e o dogma do juiz natural. Isto implica, afinal, numa excêntrica 
suspeita de que a nova configuração judiciária não passaria de um falso front para 
medidas autoritárias e invasivas, pois que viriam a afrontar o desenho do Estado 
de Direito nos moldes plasmados pelo constituinte originário; chegariam, até 
mesmo, a aniquilá-lo. 
 
 Pois bem, a última parte desta análise, focada sobre a 
reorientação constitucional a incidir sobre o Poder Judiciário, ensejando sua 
revitalização, será tratada em dois diferentes planos: o primeiro buscando uma 
sucinta apresentação da inovadora arquitetura utilizada para oferecer solidez e 
modernidade à estrutura do sistema judiciário, reservando para um segundo tópico 
o exame dos pontos de maior complexidade e que, sob a ótica constitucional, 
importam em elevado risco à preservação do modelo acolhido pela Constituição 
de 1988, o do Estado de Direito. 
 
 
Desde a primeira das constituições republicanas – a 
de 1891, a figura do Supremo Tribunal Federal33 
preside, em território doméstico, a pirâmide do 
Judiciário, consagrando-se mesmo como cúpula deste 
Poder. Revolucionária na estruturação do Judiciário, a 
Constituição de 1988 introduziu novas figuras, 
preservando, no entanto, a postura sobranceira do 
STF. Criou o Superior Tribunal de Justiça, mediante 
processo de transformação do antigo Tribunal Federal 
 
 
Poder Judiciário. 
Órgãos e competências 
da nova estrutura 
de Recursos e os juizados especiais, no campo cível (pequenas causas) e criminal 
(infrações de menor potencial ofensivo). É verdade, também, que a E.C. n. 3/93 
criou a ação declaratória de constitucionalidade, em tudo similar à draconiana 
avocatória34; concretamente, porém, restou assegurada a apreciação judicial de 
qualquer demanda, podendo esta galgar o mais elevado degrau desde que se 
discutisse questão constitucional. E tudo isto, atendido o cânone do devido 
processo legal, princípio altamente densificado, por compreender no seu bojo aampla defesa, o juiz natural, o contraditório, o duplo grau, enfim a legalidade na 
sua amplitude democrática. 
 
 
33
 Ainda que a Constituição de 1934 tenha passado a denominá-lo de Corte Suprema, retomando a clássica 
nomenclatura de Supremo Tribunal Federal com o advento da Carta de 1937, a verdade é que em todos os 
momentos da história constitucional republicana brasileira coube ao Supremo Tribunal Federal este honroso 
posto de expoente máximo no plano jurisdicional. 
34
 A ação declaratória de constitucionalidade vem analisada na Parte II deste estudo dedicado à E.C. n. 
45/2004. 
 18
Poder Judiciário 
Configuração 
(Constituição de 5.10.1988) 
 
 
Supremo Tribunal Federal 
 
 
Superior Tribunal de Justiça 
 
Conselho da Justiça Federal 
 Tribunal Superior do 
Trabalho 
 Tribunal Superior 
Eleitoral 
 Superior 
Tribunal 
Militar3 
(Justiça 
federal) 
 
 
Tribunal de Justiça 
ou 
Tribunal de Justiça 
Militar 
(efetivo da PM 
acima de 20.000 
integrantes) 
 Tribunal de Justiça 
(Justiça estadual) 
+ 
Tribunais de Alçada 
 Tribunais Regionais 
Federais 
(Justiça federal) 
 Tribunais Regionais do 
Trabalho 
(Justiça federal) 
 Tribunais Regionais 
Eleitorais 
(Justiça federal) 
 
 
 
 
Conselhos de Justiça Juízes de Direito 
(Justiça estadual) 
 
+ 
Juizados de Pequenas 
causas 
Cíveis e criminais 
 Varas da Justiça 
Federal 
(Justiça federal 
+ 
Juizados de Pequenas 
causas 
 
 Varas da Justiça do 
Trabalho 
(Justiça federal) 
 Justiça Eleitoral 
(Justiça federal) 
 Auditorias 
Militares 
(Justiça federal) 
 
Justiça 
especializada do 
Estado 
 Justiça Comum Justiça Especializada Federal 
 
 A revisão constitucional de 2004 alterou, 
significativamente, esta estrutura, introduzindo na modelagem original o Conselho 
Nacional de Justiça, composto por quinze (15) membros, seis dos quais não 
pertencentes aos quadros da magistratura35, com a competência do “controle da 
atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos 
deveres funcionais dos juízes,...”. (art. 103-B, § 4º). Ora, conquanto o novo colegiado 
seja presidido por Ministro do Supremo Tribunal Federal e a esta Corte seja 
cometida a apreciação das causas contra ele propostas, a função de 
controle com que foi agraciado não deixa dúvidas do pedestal a que este 
novo organismo foi erigido, passando a ocupar na pirâmide judiciária o seu 
ápice. 
 
 Deduz-se, daí, um novo desenho arquitetônico para o 
Poder Judiciário, superfície onde se identifica: 
 
 
 
 
 
 
 
3
 Em área estadual, também, pode (como de fato o foi ) ser criada uma linha especializada na área militar: a 
Justiça Militar estadual, de primeiro e segundo grau (C.F. art. 125, § 3º). 
35
 Art. 103-B, caput, da Constituição. 
 19
 
Poder Judiciário 
(Constituição de 5.10.1988 
com a redação da E.C. n. 45/2004) 
 
Conselho Nacional de Justiça 
 
 
Supremo Tribunal Federal 
 
 
 
 
Conselho da Justiça Federal 
(competência correicional e decisões com caráter 
vinculante)36 
 
 
Superior Tribunal de Justiça 
 Conselho Superior da Justiça do 
Trabalho 
(competência correicional e 
decisões com caráter vinculante)37 
 
Tribunal Superior do Trabalho 
 Tribunal Superior 
Eleitoral 
 Superior 
Tribunal Militar 
(Justiça federal) 
 
 
Tribunal de Justiça 
ou 
 Tribunal de Justiça 
Militar 
(efetivo da PM acima de 
20.000 integrantes) 
 
 Tribunal de Justiça 
(Justiça estadual) 
+ 
 
Câmaras Regionais 
 Tribunais Regionais 
Federais 
(Justiça federal) 
+ 
Câmaras Regionais 
 Tribunais Regionais do Trabalho 
(Justiça federal) 
+ 
 
Câmaras Regionais 
 Tribunais Regionais 
Eleitorais 
(Justiça federal) 
 
 
 
Conselhos de Justiça 
Presididos por Juiz 
de Direito 
+ 
Juízes de Direito 
 Juízes de Direito 
(Justiça estadual) 
 
+ 
Juizados especiais 
+ 
Justiça itinerante 
+ 
Varas especializadas 
para questões 
agrárias. 
 Varas da Justiça 
Federal 
(Justiça federal 
+ 
Juizados especiais 
+ 
 
Justiça itinerante 
 Varas da Justiça do Trabalho 
(Justiça federal) 
 
 
+ 
 
 
Justiça itinerante 
 Justiça Eleitoral 
(Justiça federal) 
 Auditorias 
Militares 
(Justiça federal) 
 
Justiça 
Especializada do 
Estado 
 Justiça Comum Justiça Especializada Federal 
 
 
 Mais ainda, como acima ilustrado, no universo das 
linhas da justiça federal, atribuiu competência correicional aos Conselhos (Conselho 
da Justiça Federal e Conselho Superior da Justiça do Trabalho, este recém criado38), propiciando, ainda, 
às suas decisões caráter vinculante39, robustecendo a idéia de que o Poder 
Judiciário passará a vivenciar um clima de permanente controle superior, o que, 
não resta dúvida, investe contra a independência do magistrado40, podendo 
 
36
 Constituição , Art. 105, p.ú., II. 
37
 Constituição, Art. 112, § 2º, II. 
38
 Constituição, Art. 111, § 2º, II – preceito introduzido pela E.C. 45/2004. 
39
 O Conselho da Justiça Federal, na idealização original (parágrafo único do art. 105, detinha meras funções 
de supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus. Isto quer dizer 
que o constituinte lhe propiciara tarefas de ordem técnica (supervisão administrativa e orçamentária) e de 
mero órgão de apoio para o próprio Tribunal. 
40
 A tônica da independência do Poder Judiciário já foi suscitada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, 
que ajuizou Ação Direta de inconstitucionalidade, rebelando-se contra a fórmula utilizada na criação do 
Conselho Nacional de Justiça, atacando-a por entendê-la antagônica ao princípio constitucional da 
 20
conduzir a sérios desvios na prestação jurisdicional, que impõe a observância da 
cláusula do “devido processo legal”. 
 
 Ainda, no escaninho da Justiça Federal, no campo 
da Justiça do Trabalho, admitiu o constituinte reformador que os juízes de direito 
(dos quadros da justiça estadual) possam apreciar e decidir litígios nas comarcas em 
que não haja vara especializada, de natureza trabalhista. (art. 112/Constituição). 
 
 De relevância, a nosso ver, a determinação 
constitucional tendente a ampliar o espectro de atendimento do Poder Judiciário. A 
Justiça mais perto do cidadão, parece consubstanciar-se no elemento vetorial 
desta inovadora perspectiva atinente à introdução obrigatória do juiz itinerante, 
da viabilização de o juiz de direito – integrante da magistratura estadual – vir a 
apreciar causas de perfil trabalhista onde inexista Justiça do Trabalho e do 
sistema de descentralização (criação de Câmaras regionais) proposto em caráter 
facultativo, tanto em nível federal, como, ainda no estadual41. Mais ainda, nesta 
linha, a imposição aos Tribunais de Justiça (esfera estadual) de instalação de varas 
especializadas, com competência exclusiva para as questões agrárias42 (art. 126, 
caput). 
 
 Em sede de justiça estadual, importa anotar, ainda: 
 
(1) A extinção dos Tribunais de Alçada (art. 4º da E.C. n. 45/2004), 
atendendo-se a uma perspectiva já antiga dos Estados da federação brasileira. 
Aliás, no panorama paulista, a Emenda ConstitucionalEstadual n. 08, de 20 de 
maio de 1999, já previa o fim dos Tribunais de Alçada no Estado de São Paulo, 
excluindo-os da estrutura do Poder Judiciário estadual. Suspensa, no entanto, a 
nova redação dada ao art. 54 da Constituição paulista, por força da Adin n. 2 011-
1, até o advento da Reforma, veiculada por Emenda à Constituição Federal, o 
quadro dos Tribunais de Alçada permaneceu inalterado. Agora, sob reorientação 
da Constituição Federal, os Tribunais de Justiça estaduais devem, no prazo de 
180 (cento e oitenta) dias, contados da promulgação da E.C. 45/2004 (6.06.2005), 
promover a integração dos quadros dos Tribunais de Alçada na sua própria 
estrutura, elevando os juízes, membros daquelas Cortes, a posto de 
desembargador43. 
 
 (2) A inovação na estrutura da justiça militar estadual. Esta foi 
alvo de reformulação mais significativa. De fato, nos antigos moldes, era 
preconizada uma primeira instância atribuída aos Conselhos de Justiça e uma 
segunda instância, um grau recursal, função cometida ao próprio Tribunal de 
Justiça do Estado ou, nas hipóteses de efetivo, da polícia militar, superior a vinte 
 
independência dos poderes, inerente ao standard da separação de poderes, entre nós acolhido. Não há, 
até o momento, notícia de liminar. 
41
 Ver neste sentido, os artigos da C.F. acima citados: arts.107, § 3º, 115, § 2º, 125, § 6º. 
42
 A Constituição do Estado de São Paulo já prevê a designação de juiz de direito com competência exclusiva 
para questões agrárias (art. 86). 
43
 Art. 4º, parágrafo único da E.C. n. 45/2004. 
 21
mil integrantes, a Tribunais de Justiça Militar, que poderiam vir a ser criados. O 
novo modelo altera esta estrutura. E o faz por via de um processo de 
esvaziamento, retirando-lhe competências. Em verdade, a reformulação acabou 
constitucionalizando medida já adotada por via da Lei n. 9 299, de 7 de agosto de 
1996, que retirou da apreciação militar “os crimes dolosos contra a vida cometidos 
contra civil”44. Na nova configuração, no primeiro grau, posicionam-se juízes de 
direito e Conselhos de Justiça, estes sempre sob a presidência de juiz de direito, 
mantida, porém, em instância superior, o Tribunal de Justiça Militar ou, na 
ausência desse, o Tribunal de Justiça. (C.F. art. 125, § 3º). Nessa esteira, poder-se-ia 
ilustrar referida reorganização como infra esquematizado: 
 
 Justiça militar estadual 
 
 
Antes da E.C. n. 45/2004 Depois da E.C. n. 45/2004 
 
Tribunal de Justiça 
ou 
Tribunal de Justiça Militar 
(efetivo da PM acima de 20.000 integrantes) 
 
 Tribunal de Justiça 
ou 
Tribunal de Justiça Militar 
(efetivo da PM acima de 20.000 integrantes) 
 
 
JURI 
 
Conselhos de Justiça 
Conselhos de Justiça 
Presididos por Juiz de Direito 
 
 + 
Juízes de Direito 
 
 
 
 
 
(2.1.) O mecanismo de atuação oferecido a esta nova estrutura, 
decorrente da revisão constitucional, é apreendido a partir da análise das 
competências, tema que passa a atender a renovadas regras. Com efeito, a 
primeira inovação neste domínio é a inserção da figura do Júri, que, em se 
tratando de civil, como vítima, desloca, chamando a si, a atribuição anteriormente 
cometida à Justiça Militar – de julgar “os militares dos Estados nos crimes militares 
definidos em lei...”. Preservada restou, todavia, a tarefa cometida ao Tribunal, de 
decidir “sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das 
praças” (C.F., art. 125, § 4º - preceito remodelado pela E.C. n. 45/2004). 
 
 
44
 A Lei n. 9 299, de 7 de agosto de 1996 alterou os Decretos-leis n. 1.001 e 1.002, de 21 de outubro de 1969 
– Código Penal Militar e Código de Processo Penal Militar, criando polêmica e uma série de demandas 
girando em torno da viabilidade de, por via de lei, alterar competência preconizada em esfera constitucional. 
 22
(2.2.) Outro fator de impacto constitui a inserção da competência 
outorgada a juiz de direito, designado para atuar junto à Justiça Militar, para, 
singularmente, processar e julgar os crimes militares contra civis e as ações 
judiciais contra atos disciplinares militares, restando aos Conselhos de 
Justiça, necessariamente presididos por juiz de direito, “processar e julgar os 
demais crimes militares” (C.F., art. 125, § 5º- preceito introduzido pela E.C. n. 45/2004) . 
 
 
O ponto nevrálgico da remodelação do Poder 
Judiciário, produto da E.C. n. 45/2004, parece 
repousar, essencialmente na configuração dos 
Conselhos. A estes, aliás, como acima apontado, 
contemplou o constituinte revisor com poderes de 
 
Os Conselhos. 
Tratamento constitucional 
controle que vão além da mera competência fiscalizatória, de uma singela 
vigilância, para alcançar o status de verdadeira postura de dominação. Controle, 
na acepção do control americano, ou seja, um sentido de comando. 
 
 Assim, o primeiro problema a enfrentar diz respeito à 
previsão arquitetônica do Conselho Nacional de Justiça, conforme delineamento 
do art. 103-B, que o idealiza composto por quinze membros, seis dentre os quais 
não integrantes das carreiras da magistratura. Até aí, desde que inexistisse o 
poder de controle (cf. art. 103-B, § 4º), não haveria inquietação, porque a maioria do 
colegiado (9 membros) é originária, de fato, do ambiente jurisdicional, e de meras 
tarefas fiscalizatórias poderia vir a ser encarregado. O tema ganha 
preponderância, no entanto, no momento em que se verifica a presença desta 
função de controle (comando/dominação) nas mãos de personagens não 
integrantes do Poder Judiciário, abalando a idéia de independência do 
Poder, standard colocado a salvo da ingerência do Poder reformador por conta do 
art. 60, § 4º, da Constituição, que o erige à cláusula intocável, compondo o cerne 
fixo do nosso Estatuto Fundamental, no seio do princípio da separação dos 
poderes. E não há, parece-nos, como insistir em que indigitada regra do § 4º, do 
art. 103-B, traduza simples competência de supervisão. Se assim fosse, o 
constituinte, como o fez em outras matérias, teria utilizado os vocábulos vigilância 
ou fiscalização. Empregou, todavia, a expressão controle e foi além; contemplou 
este organismo com funções que, a este passo, o posicionam como a real cúpula 
do Judiciário45. 
 
 Na realidade, da mais breve incursão no elenco de 
competências que o mesmo preceito do § 4º, do art. 103-B, insculpe no âmbito do 
poder de controle, ressalta à evidência a soberana postura do CNJ, rompendo-se, 
em prol desta superioridade, cláusulas assecuratórias exatamente da 
independência do Poder Judiciário. Nesta linha, basta tentar compreender as 
duras tarefas que lhe foram conferidas por intermédio dos preceitos dos incisos III 
e V da já mencionada norma constitucional, in verbis: 
 
 
45
 Ver a nova configuração do Poder Judiciário, fls. deste trabalho. 
 23
C.F. art. 103-B, § 4º 
III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou 
órgãos do Poder Judiciário, ...podendo avocar processos 
disciplinares em curso e determinar a remoção, a 
disponibilidade ou a aposentadoria...  “; 
............................................................................................................ 
V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos 
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há 
menos de um ano;Ora, a par de ressuscitar a autoritária medida em que se 
consubstancia a avocatória – digna, aliás, do entulho autoritário com que se 
convencionou adornar o célebre pacote de abril/1977 que a previa46 e que rompe 
com a idéia do duplo grau de jurisdição, própria do devido processo legal – o novo 
texto atinge em cheio a força da coisa julgada, autorizando a revisão – até 
mesmo de ofício – de casos julgados há menos de um ano. Convém advertir, 
contudo, que não nos parece viável relativizar o princípio da certeza da coisa 
julgada, sob pena de subverter a segurança jurídica. Não são tais valores dotados 
de plasticidade e uma interpretação flexível viria a romper todo o sistema de tutela 
dos direitos fundamentais, sistema que, dúvida não há, envolve e tutela também 
os membros do Poder Judiciário. 
 
 Demais disso, referida regra do inciso V, § 4º, art. 103-B, 
colide frontalmente com garantias de independência do Judiciário. Nesta 
esteira, basta lembrar a norma assecuratória de vitaliciedade (C.F.art. 95,I), que 
concebe a perda do cargo de juiz tão só mediante processo judicial. Daí porque, 
deve permanecer à margem do nosso ordenamento e carente de qualquer 
respaldo constitucional a inovação do revisor ao autorizar a ruptura da coisa 
julgada (rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e 
membros de tribunais julgados há menos de um ano) e a reformulação de decisões de 
competência privativa e exclusiva do Judiciário. 
 
 No entanto, forçoso convir que esta linha de elevada 
periculosidade quanto à sobrevivência de históricos e clássicos standards 
integrantes da idéia de Estado de Direito veio a ser privilegiada pela reforma 
constitucional de dezembro de 2004. Neste diapasão, basta examinar a 
remodelação do Conselho da Justiça Federal e do recém criado Conselho 
Superior da Justiça do Trabalho. Os dois, idealizados sob idêntico padrão, 
conquistaram poderes correicionais, sobrepondo-se aos próprios Tribunais que 
integram. E mais que isto, contagiado pelo espírito vinculante, o constituinte 
revisor acoplou esta perversa conotação, também, às decisões emanadas destes 
colegiados, fortalecendo ainda mais a supremacia de sua postura na estrutura 
judicial, como, de fato, retro apontado. 
 
 É verdade que a figura do Estado de Direito tem sido 
alvo, nos últimos anos, de sérios e relevantes ataques, até porque vem se 
 
46
 A avocatória foi medida preconizada pela Emenda Constitucional n. 7/77 à Constituição de 1967. 
 24
dilacerando e se apresentando frágil diante dos novos fatos sociais, situações e 
demandas sempre em dinâmico processo de mutação. Configura, contudo, o 
único modelo a oferecer suporte à concretização do regime democrático e, mais, 
foi o cânone adotado pelo constituinte de 1988 como moldura para a organização 
e a estrutura do Estado brasileiro. Destarte, enquanto não promovida a alteração 
deste padrão, por via de nova Constituição, indisponíveis à ação reformadora 
restam os seus postulados básicos, a exemplo do sistema de tutela dos direitos 
fundamentais, a separação de poderes, a preservação da segurança jurídica, etc. 
 
Fevereiro de 2005. 
 B I B L I O G R A F I A BÁSICA 
 
ALMEIDA, L. Nunes de, A Justiça Constitucional no Quadro das Funções do Estado, in VII Conferência dos Tribunais Constitucionais 
Europeus. 
ALMEIDA, L. Nunes de, Les Effets des arretes du Tribunal Constitutionnelle au Portugal, in La Justice Constitutionnele, Paris, 1989. 
CANOTILHO, J.J. Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 4ª Edição, Portugal, Almedina. 
........................................................, Constituição da República Portuguesa, Coimbra Editora, 6ª Edição, 2002. 
COSTA, José Manoel Cardoso da, A Justiça Constitucional. 
CRISAFULLI, La Constituzione e lê sue disposizioni di princípio, Milão, Giuffrè Ed., 1952.FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Curso de 
Direito Constitucional, São Paulo, Saraiva. 
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HORTA, Raul Machado, Estudos de Direito Constitucional, Belo Horizonte, Del Rey Ed., 1995. 
KELSEN, Hans, Le controle de constitutionnalité des lois, in Revue Française de Droit Constitutionnel, 1990, n. 1. 
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MEDEIROS, Rui, A Decisão de Inconstitucionalidade, Lisboa, Universidade Católica Editora, 1999. 
MIRANDA, Jorge, Teoria do Estado e da Constituição, Rio de Janeiro, Forense, 2002. 
OTERO, Paulo, Ensaio sobre o caso julgado Inconstitucional, Lisboa, 1993. 
SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo, 17a ed., São Paulo, Malheiros Editora, 2000. 
SILVA, José Afonso da, Aplicabilidade das Normas Constitucionais, São Paulo, RT Ed., 1982. 
VERGOTTINI, Giuseppe de, Diritto Costituzionale Comparato, Itália, Padova, CEDAM, 2004. 
 
 
RESUMO: O presente estudo, sem a pretensão de 
exaurir o tema, tem por objetivo examinar a mais 
recente remodelação constitucional aplicada ao 
Estatuto Fundamental de 1988, ou seja a Emenda 
Constitucional n. 45/2004, conhecida como a Reforma 
do Judiciário. Neste espaço, destarte, pretende-se 
oferecer um mero exercício de reflexão sobre o 
produto da referida revisão do Estatuto Fundamental, 
examinando-se, numa primeira etapa, 
genericamente, os instrumentos criados para, a 
seguir, em dois diferentes e subseqüentes blocos, 
serem abordadas as espinhosas questões atinentes à 
súmula vinculante e às novas configurações dos 
tribunais. A efetiva concreção dos novos dispositivos 
processar-se-á, certamente, de forma paulatina, por 
intermédio de uma trajetória que deverá integrar a 
edição de leis, resoluções e o reiterado 
pronunciamento dos Tribunais. Enfim, o tempo é que 
irá comandar a sua fática consolidação. 
 
ABSTRACT: This work does not intend to present a 
whole view over the new constitutional rules 
introduced by the 45th. Amendment to the brazilian 
Constitution, that came into force at the end of the 
year of 2004. But it pretends to be a tool for those who 
seek informations about the recent changes suffered 
by the Brazilian Constitution (E.C. n. 45/2004), with 
new rules concerning the judiciary branch of our 
government. Indeed, this article offers a constitutional 
approach to some new instruments, new structure for 
the judiciary system, new commissions and new 
powers that the 45th. Amendment vested these new 
bodies and the old ones. The “precedent effect” (a 
brazilan kind of stare decisis) conceived as a new 
legal principle is one of the most important points of 
this specific Amendment and it is particularly studied 
here. And, on another hand, is to be discussed the 
expected results of this large amending constitutional 
process. What the author hopes is to show that the 
concrete performance of this new Amendment will 
depend upon a future and difficult debate and that the 
constitutionalists must prepare themselves for the new 
issues.

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