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Aula 00 Direito Constitucional p/ ITEP-RN (Nível Médio) - Com videoaulas Professores: Equipe Ricardo e Nádia, Nádia Carolina, Ricardo Vale 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale !ULA !! TEORIA!GERAL!DA!CONSTITUIÇÃO! Conceito de Constituição ............................................................................................................... 4 A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia das Normas ....................................................................... 4 Aplicabilidade das normas constitucionais ................................................................................ 9 Princípios Fundamentais da República Federativa do Brasil ............................................... 15 1) Regras e Princípios: ............................................................................................................................. 15 2) Princípios Fundamentais: ................................................................................................................... 15 2.1 - Fundamentos da Repblica Federativa do Brasil: ..................................................... 17 2.2- Forma de Estado / Forma de Governo / Regime Poltico: ....................................... 21 2.3- Harmonia e Independncia entre os Poderes: ............................................................. 25 2.3- Objetivos Fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: ................................. 27 2.4- Princpios das Relaes Internacionais: .......................................................................... 29 Questões Comentadas ................................................................................................................... 31 Lista de Questões ........................................................................................................................... 49 Gabarito ........................................................................................................................................... 58 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale APRESENTAÌO E CRONOGRAMA DE AULAS Ol, amigos do Estratgia Concursos, tudo bem? com enorme alegria que damos incio hoje ao nosso ÒNoes de Direito Constitucional p/ ITEP-RN (Nvel Mdio)Ó, focado na banca AOCP. Antes de qualquer coisa, pedimos licena para nos apresentar: - Ndia Carolina: Sou professora de Direito Constitucional do Estratgia Concursos desde 2011. Trabalhei como Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil de 2010 a 2015, tendo sido aprovada no concurso de 2009. Tenho uma larga experincia em concursos pblicos, j tendo sido aprovada para os seguintes cargos: CGU 2008 (6¼ lugar), TRE/GO 2008 (22¼ lugar) ATA-MF 2009 (2¼ lugar), Analista-Tributrio RFB (16¼ lugar) e Auditor-Fiscal RFB (14¼ lugar). - Ricardo Vale: Sou professor e coordenador pedaggico do Estratgia Concursos. Entre 2008-2014, trabalhei como Analista de Comrcio Exterior (ACE/MDIC), concurso no qual fui aprovado em 3¼ lugar. Ministro aulas presenciais e online nas disciplinas de Direito Constitucional, Comrcio Internacional e Legislao Aduaneira. Alm das aulas, tenho trs grandes paixes na minha vida: a Prof» Ndia, a minha pequena Sofia e o pequeno JP (Joo Paulo)!! Como voc j deve ter percebido, esse curso ser elaborado a 4 mos. Eu (Ndia) ficarei responsvel pelas aulas escritas, enquanto o Ricardo ficar por conta das videoaulas. Tenham certeza: iremos nos esforar bastante para produzir o melhor e mais completo contedo para vocs. Vejamos como ser o cronograma do nosso curso: Aulas Tpicos abordados Data Aula 00 Constituio Federal: Dos Princpios Fundamentais (artigos de 01 a 04). 07/11 Aula 01 Direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 01). 09/11 Aula 02 Direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 02). 14/11 Aula 03 Direitos sociais. 16/11 Aula 04 Da Organizao de Estado (artigos de 37 a 41). Da Segurana Pblica (artigo 144). 20/11 Dito tudo isso, j podemos partir para a nossa aula 00! Todos preparados? Um grande abrao, Ndia e Ricardo 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Para tirar dvidas e ter acesso a dicas e contedos gratuitos, acesse nossas redes sociais: Facebook do Prof. Ricardo Vale: https://www.facebook.com/profricardovale Canal do YouTube do Ricardo Vale: https://www.youtube.com/channel/UC32LlMyS96biplI715yzS9Q Periscope do Prof. Ricardo Vale: @profricardovale 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Conceito de Constituio Comeamos esse tpico com a seguinte pergunta: o que se entende por Constituio? Objeto de estudo do Direito Constitucional, a Constituio a lei fundamental e suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do povo. ela que determina a organizao poltico-jurdica do Estado, dispondo sobre a sua forma, os rgos que o integram e as competncias destes e, finalmente, a aquisio e o exerccio do poder. Cabe tambm a ela estabelecer as limitaes ao poder do Estado e enumerar os direitos e garantias fundamentais.1 A concepo de constituio ideal foi preconizada por J. J. Canotilho. Trata- se de constituio de carter liberal, que apresenta os seguintes elementos: a) Deve ser escrita; b) Deve conter um sistema de direitos fundamentais individuais (liberdades negativas); c) Deve conter a definio e o reconhecimento do princpio da separao dos poderes; d) Deve adotar um sistema democrtico formal. Note que todos esses elementos esto intrinsecamente relacionados limitao do poder coercitivo do Estado. Cabe destacar, por estar relacionado ao conceito de constituio ideal, o que dispe o art. 16, da Declarao Universal dos Direitos do Homem e do Cidado (1789): ÒToda sociedade na qual no est assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separao de poderes, no tem constituio.Ó importante ressaltar que a doutrina no pacfica quanto definio do conceito de constituio, podendo este ser analisado a partir de diversas concepes. Isso porque o Direito no pode ser estudado isoladamente de outras cincias sociais, como Sociologia e Poltica, por exemplo. A Pirmide de Kelsen Ð Hierarquia das Normas Para compreender bem o Direito Constitucional, fundamental que estudemos a hierarquia das normas, atravs do que a doutrina denomina Òpirmide de KelsenÓ. Essa pirmide foi concebida pelo jurista austraco para fundamentar 1 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 17. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale a sua teoria, baseada na ideia de que as normas jurdicas inferiores (normas fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jurdicas superiores (normasfundantes). Iremos, a seguir, nos utilizar da Òpirmide de KelsenÓ para explicar o escalonamento normativo no ordenamento jurdico brasileiro. A pirmide de Kelsen tem a Constituio como seu vrtice (topo), por ser esta fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim, nenhuma norma do ordenamento jurdico pode se opor Constituio: ela superior a todas as demais normas jurdicas, as quais so, por isso mesmo, denominadas infraconstitucionais. Na Constituio, h normas constitucionais originrias e normas constitucionais derivadas. As normas constitucionais originrias so produto do Poder Constituinte Originrio (o poder que elabora uma nova Constituio); elas integram o texto constitucional desde que ele foi promulgado, em 1988. J as normas constitucionais derivadas so aquelas que resultam da manifestao do Poder Constituinte Derivado (o poder que altera a Constituio); so as chamadas emendas constitucionais, que tambm se situam no topo da pirmide de Kelsen. relevante destacar, nesse ponto, alguns entendimentos doutrinrios e jurisprudenciais bastante cobrados em prova acerca da hierarquia das normas constitucionais (originrias e derivadas): a) No existe hierarquia entre normas constitucionais originrias. Assim, no importa qual o contedo da norma. Todas as normas constitucionais originrias tm o mesmo status hierrquico. Nessa tica, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais tm a mesma hierarquia do ADCT (Atos das Disposies Constitucionais Transitrias) ou mesmo do art. 242, ¤ 2¼, que dispe que o Colgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser mantido na rbita federal. b) No existe hierarquia entre normas constitucionais originrias e normas constitucionais derivadas. Todas elas se situam no mesmo patamar. c) Embora no exista hierarquia entre normas constitucionais originrias e derivadas, h uma importante diferena entre elas: as normas constitucionais originrias no podem ser declaradas inconstitucionais. Em outras palavras, as normas constitucionais originrias no podem ser objeto de controle de constitucionalidade. J as emendas constitucionais (normas constitucionais derivadas) podero, sim, ser objeto de controle de constitucionalidade. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale d) O alemo Otto Bachof desenvolveu relevante obra doutrinria denominada ÒNormas constitucionais inconstitucionaisÓ, na qual defende a possibilidade de que existam normas constitucionais originrias eivadas de inconstitucionalidade. Para o jurista, o texto constitucional possui dois tipos de normas: as clusulas ptreas (normas cujo contedo no pode ser abolido pelo Poder Constituinte Derivado) e as normas constitucionais originrias. As clusulas ptreas, na viso de Bachof, seriam superiores s demais normas constitucionais originrias e, portanto, serviriam de parmetro para o controle de constitucionalidade destas. Assim, o jurista alemo considerava legtimo o controle de constitucionalidade de normas constitucionais originrias. No entanto, bastante cuidado: no Brasil, a tese de Bachof no admitida. As clusulas ptreas se encontram no mesmo patamar hierrquico das demais normas constitucionais originrias. Com a promulgao da Emenda Constitucional n¼ 45/2004, abriu-se uma nova e importante possibilidade no ordenamento jurdico brasileiro. Os tratados e convenes internacionais de direitos humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional (Cmara dos Deputados e Senado Federal), em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ser equivalentes s emendas constitucionais. Situam-se, portanto, no topo da pirmide de Kelsen, tendo ÒstatusÓ de emenda constitucional. Diz-se que os tratados de direitos humanos, ao serem aprovados por esse rito especial, ingressam no chamado Òbloco de constitucionalidadeÓ. Em virtude da matria de que tratam (direitos humanos), esses tratados esto gravados por clusula ptrea2 e, portanto, imunes denncia3 pelo Estado brasileiro. O primeiro tratado de direitos humanos a receber o status de emenda constitucional foi a ÒConveno Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia e seu Protocolo FacultativoÓ. Os demais tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo rito ordinrio, tm, segundo o STF, ÒstatusÓ supralegal. Isso significa que se situam logo abaixo da Constituio e acima das demais normas do ordenamento jurdico. A EC n¼ 45/2004 trouxe ao Brasil, portanto, segundo o Prof. Valrio Mazzuoli, um novo tipo de controle da produo normativa domstica: o controle de convencionalidade das leis. Assim, as leis internas estariam sujeitas a um 2 Estudaremos mais frente sobre as clusulas ptreas, que so normas que no podem ser objeto de emenda constitucional tendente a aboli-las. As clusulas ptreas esto previstas no art. 60, ¤ 4¼, da CF/88. Os direitos e garantias individuais so clusulas ptreas (art. 60, ¤ 4¼, inciso IV). 3 Denncia o ato unilateral por meio do qual um Estado se desvincula de um tratado internacional. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale duplo processo de compatibilizao vertical, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional e, ainda, aos previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jurdico brasileiro.4 As normas imediatamente abaixo da Constituio (infraconstitucionais) e dos tratados internacionais sobre direitos humanos so as leis (complementares, ordinrias e delegadas), as medidas provisrias, os decretos legislativos, as resolues legislativas, os tratados internacionais em geral incorporados ao ordenamento jurdico e os decretos autnomos. Todas essas normas sero estudadas em detalhes em aula futura, no se preocupe! Neste momento, quero apenas que voc guarde quais so as normas infraconstitucionais e que elas no possuem hierarquia entre si, segundo doutrina majoritria. Essas normas so primrias, sendo capazes de gerar direitos e criar obrigaes, desde que no contrariem a Constituio. Novamente, gostaramos de trazer baila alguns entendimentos doutrinrios e jurisprudenciais muito cobrados em prova: a) Ao contrrio do que muitos podem ser levados a acreditar, as leis federais, estaduais, distritais e municipais possuem o mesmo grau hierrquico. Assim, um eventual conflito entre leis federais e estaduais ou entre leis estaduais e municipais no ser resolvido por um critrio hierrquico; a soluo depender da repartio constitucional de competncias. Deve-se perguntar o seguinte: de qual ente federativo (Unio, Estados ou Municpios) a competncia para tratar do tema objeto da lei? Nessa tica, plenamente possvel que, num caso concreto, uma lei municipal prevalea diante de uma lei federal. b) Existe hierarquia entre a Constituio Federal, as Constituies Estaduais e as Leis Orgnicas dos Municpios? Sim, a Constituio Federal est num patamar superior ao das Constituies Estaduais que, por sua vez, so hierarquicamente superiores s Leis Orgnicas. b) As leis complementares, apesar de serem aprovadas por um procedimento mais dificultoso, tm o mesmo nvel hierrquico das leis ordinrias. O que as diferencia o contedo: ambas tm campos de atuao diversos, ou seja, a matria(contedo) diferente. Como exemplo, citamos o fato de que a CF/88 exige que normas gerais sobre direito tributrio sejam estabelecidas por lei complementar. 4 MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Teoria Geral do Controle de Convencionalidade no Direito Brasileiro. In: Controle de Convencionalidade: um panorama latino-americano. Gazeta Jurdica. Braslia: 2013. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale c) As leis complementares podem tratar de tema reservado s leis ordinrias. Esse entendimento deriva da tica do Òquem pode mais, pode menosÓ. Ora, se a CF/88 exige lei ordinria (cuja aprovao mais simples!) para tratar de determinado assunto, no h bice a que uma lei complementar regule o tema. No entanto, caso isso ocorra, a lei complementar ser considerada materialmente ordinria; essa lei complementar poder, ento, ser revogada ou modificada por simples lei ordinria. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar ir subsumir-se ao regime constitucional da lei ordinria. 5 d) As leis ordinrias no podem tratar de tema reservado s leis complementares. Caso isso ocorra, estaremos diante de um caso de inconstitucionalidade formal (nomodinmica). e) Os regimentos dos tribunais do Poder Judicirio so considerados normas primrias, equiparados hierarquicamente s leis ordinrias. Na mesma situao, encontram-se as resolues do CNMP (Conselho Nacional do Ministrio pblico) e do CNJ (Conselho Nacional de Justia). f) Os regimentos das Casas Legislativas (Senado e Cmara dos Deputados), por constiturem resolues legislativas, tambm so considerados normas primrias, equiparados hierarquicamente s leis ordinrias. Finalmente, abaixo das leis encontram-se as normas infralegais. Elas so normas secundrias, no tendo poder de gerar direitos, nem, tampouco, de impor obrigaes. No podem contrariar as normas primrias, sob pena de invalidade. o caso dos decretos regulamentares, portarias, das instrues normativas, dentre outras. Tenham bastante cuidado para no confundir os decretos autnomos (normas primrias, equiparadas s leis) com os decretos regulamentares (normas secundrias, infralegais). 5AI 467822 RS, p. 04-10-2011. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale (MPE-BA Ð 2015) Existe hierarquia entre lei complementar e lei ordinria, bem como entre lei federal e estadual. Comentrios: No h hierarquia entre lei ordinria e lei complementar. Elas tm o mesmo nvel hierrquico. Tambm no h hierarquia entre lei federal e lei estadual. Questo errada. Aplicabilidade das normas constitucionais O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais essencial correta interpretao da Constituio Federal. a compreenso da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitir entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dispositivos da Constituio. Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. Todas elas so imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as normas constitucionais surtem efeitos jurdicos: o que varia entre elas o grau de eficcia. A doutrina americana (clssica) distingue duas espcies de normas constitucionais quanto aplicabilidade: as normas autoexecutveis (Òself executingÓ) e as normas no-autoexecutveis. CONSTITUIÇÃO, EMENDAS CONSTITUCIONAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS COMO EMENDAS CONSTITUCIONAIS OUTROS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS LEIS COMPLEMENTARES, ORDINÁRIAS E DELEGADAS, MEDIDAS PROVISÓRIAS, DECRETOS LEGISLATIVOS, RESOLUÇÕES LEGISLATIVAS, TRATADOS INTERNACIONAIS EM GERAL E DECRETOS AUTÔNOMOS NORMAS INFRALEGAIS 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale As normas autoexecutveis so normas que podem ser aplicadas sem a necessidade de qualquer complementao. So normas completas, bastantes em si mesmas. J as normas no-autoexecutveis dependem de complementao legislativa antes de serem aplicadas: so as normas incompletas, as normas programticas (que definem diretrizes para as polticas pblicas) e as normas de estruturao (instituem rgos, mas deixam para a lei a tarefa de organizar o seu funcionamento). 6 Embora a doutrina americana seja bastante didtica, a classificao das normas quanto sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo Prof. Jos Afonso da Silva. A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, Jos Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em trs grupos: i) normas de eficcia plena; ii) normas de eficcia contida e; iii) normas de eficcia limitada. 1) Normas de eficcia plena: So aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituio, produzem, ou tm possibilidade de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte quis regular. o caso do art. 2¼ da CF/88, que diz: Òso Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o JudicirioÓ. As normas de eficcia plena possuem as seguintes caractersticas: a) so autoaplicveis, dizer, elas independem de lei posterior regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido. Isso no quer dizer que no possa haver lei regulamentadora versando sobre uma norma de eficcia plena; a lei regulamentadora at pode existir, mas a norma de eficcia plena j produz todos os seus efeitos de imediato, independentemente de qualquer tipo de regulamentao. b) so no-restringveis, ou seja, caso exista uma lei tratando de uma norma de eficcia plena, esta no poder limitar sua aplicao. c) possuem aplicabilidade direta (no dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que promulgada a Constituio) e integral (no podem sofrer limitaes ou restries em sua aplicao). 2) Normas constitucionais de eficcia contida ou prospectiva: 6 FERREIRA FILHO, Manoel Gonalves. Curso de Direito Constitucional, 38» edio. Editora Saraiva, So Paulo: 2012, pp. 417-418. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale So normas que esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento da promulgao da Constituio, mas que podem ser restringidas por parte do Poder Pblico. Cabe destacar que a atuao do legislador, no caso das normas de eficcia contida, discricionria: ele no precisa editar a lei, mas poder faz-lo. Um exemplo clssico de norma de eficcia contida o art.5¼, inciso XIII, da CF/88, segundo o qual Ò livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecerÓ. Em razo desse dispositivo, assegurada a liberdade profissional: desde a promulgao da Constituio, todos j podem exercer qualquer trabalho, ofcio ou profisso. No entanto, a lei poder estabelecer restries ao exerccio de algumas profisses. Citamos,por exemplo, a exigncia de aprovao no exame da OAB como pr-requisito para o exerccio da advocacia. As normas de eficcia contida possuem as seguintes caractersticas: a) so autoaplicveis, ou seja, esto aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de lei regulamentadora. Em outras palavras, no precisam de lei regulamentadora que lhes complete o alcance ou sentido. Vale destacar que, antes da lei regulamentadora ser publicada, o direito previsto em uma norma de eficcia contida pode ser exercitado de maneira ampla (plena); s depois da regulamentao que haver restries ao exerccio do direito. b) so restringveis, isto , esto sujeitas a limitaes ou restries, que podem ser impostas por: - uma lei: o direito de greve, na iniciativa privada, norma de eficcia contida prevista no art. 9¼, da CF/88. Desde a promulgao da CF/88, o direito de greve j pode exercido pelos trabalhadores do regime celetista; no entanto, a lei poder restringi-lo, definindo os Òservios ou atividades essenciaisÓ e dispondo sobre Òo atendimento das necessidades inadiveis da comunidadeÓ. Art. 9¼ assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. ¤ 1¼ - A lei definir os servios ou atividades essenciais e dispor sobre o atendimento das necessidades inadiveis da comunidade. - outra norma constitucional: o art. 139, da CF/88 prev a possibilidade de que sejam impostas restries a certos direitos e garantias fundamentais durante o estado de stio. - conceitos tico-jurdicos indeterminados: o art. 5¼, inciso XXV, da CF/88 estabelece que, no caso de Òiminente perigo pblicoÓ, o 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Estado poder requisitar propriedade particular. Esse um conceito tico-jurdico que poder, ento, limitar o direito de propriedade. c) possuem aplicabilidade direta (no dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que promulgada a Constituio) e possivelmente no-integral (esto sujeitas a limitaes ou restries). (Advogado FUNASG Ð 2015) As normas de eficcia contida tm eficcia plena at que seja materializado o fator de restrio imposto pela lei infraconstitucional. Comentrios: As normas de eficcia contida so restringveis por lei infraconstitucional. At que essa lei seja publicada, a norma de eficcia contida ter aplicao integral. Questo correta 3) Normas constitucionais de eficcia limitada: So aquelas que dependem de regulamentao futura para produzirem todos os seus efeitos. Um exemplo de norma de eficcia limitada o art. 37, inciso VII, da CF/88, que trata do direito de greve dos servidores pblicos (Òo direito de greve ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei especficaÓ). Ao ler o dispositivo supracitado, possvel perceber que a Constituio Federal de 1988 outorga aos servidores pblicos o direito de greve; no entanto, para que este possa ser exercido, faz-se necessria a edio de lei ordinria que o regulamente. Assim, enquanto no editada essa norma, o direito no pode ser usufrudo. As normas constitucionais de eficcia limitada possuem as seguintes caractersticas: a) so no-autoaplicveis, ou seja, dependem de complementao legislativa para que possam produzir os seus efeitos. b) possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos) mediata (a promulgao do texto constitucional no suficiente para que possam produzir todos os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de eficcia restrito quando da promulgao da Constituio). 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Muito cuidado para no confundir! As normas de eficcia contida esto aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que a Constituio promulgada. A lei posterior, caso editada, ir restringir a sua aplicao. As normas de eficcia limitada no esto aptas a produzirem todos os seus efeitos com a promulgao da Constituio; elas dependem, para isso, de uma lei posterior, que ir ampliar o seu alcance. Jos Afonso da Silva subdivide as normas de eficcia limitada em dois grupos: a) normas declaratrias de princpios institutivos ou organizativos: so aquelas que dependem de lei para estruturar e organizar as atribuies de instituies, pessoas e rgos previstos na Constituio. o caso, por exemplo, do art. 88, da CF/88, segundo o qual Òa lei dispor sobre a criao e extino de Ministrios e rgos da administrao pblica.Ó As normas definidoras de princpios institutivos ou organizativos podem ser impositivas (quando impem ao legislador uma obrigao de elaborar a lei regulamentadora) ou facultativas (quando estabelecem mera faculdade ao legislador). O art. 88, da CF/88, exemplo de norma impositiva; como exemplo de norma facultativa citamos o art. 125, ¤ 3¼, CF/88, que dispe que a Òlei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar estadualÓ. b) normas declaratrias de princpios programticos: so aquelas que estabelecem programas a serem desenvolvidos pelo legislador infraconstitucional. Um exemplo o art. 196 da Carta Magna (Òa sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperaoÓ). Cabe destacar que a presena de normas programticas na Constituio Federal que nos permite classific-la como uma Constituio-dirigente. importante destacar que as normas de eficcia limitada, embora tenham aplicabilidade reduzida e no produzam todos os seus efeitos desde a promulgao da Constituio, possuem eficcia jurdica. Guarde bem isso: a 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale eficcia dessas normas limitada, porm existente! Diz-se que as normas de eficcia limitada possuem eficcia mnima. Diante dessa afirmao, cabe-nos fazer a seguinte pergunta: quais so os efeitos jurdicos produzidos pelas normas de eficcia limitada? As normas de eficcia limitada produzem imediatamente, desde a promulgao da Constituio, dois tipos de efeitos: i) efeito negativo; e ii) efeito vinculativo. O efeito negativo consiste na revogao de disposies anteriores em sentido contrrio e na proibio de leis posteriores que se oponham a seus comandos. Sobre esse ltimo ponto, vale destacar que as normas de eficcia limitada servem de parmetro para o controle de constitucionalidade das leis. O efeito vinculativo, por sua vez, se manifesta na obrigao de que o legislador ordinrio edite leis regulamentadoras, sob pena de haver omisso inconstitucional, que pode ser combatida por meio de mandado de injuno ou Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso. Ressalte-se que o efeito vinculativo tambm se manifesta na obrigao de que o Poder Pblico concretize as normas programticas previstas no texto constitucional. A Constituio no pode ser uma mera Òfolhade papelÓ; as normas constitucionais devem refletir a realidade poltico-social do Estado e as polticas pblicas devem seguir as diretrizes traadas pelo Poder Constituinte Originrio. (Advogado FUNASG Ð 2015) As normas constitucionais de eficcia limitada so aquelas que, no momento em que a Constituio promulgada, no tm o condo de produzir todos os seus efeitos, necessitando de lei integrativa infraconstitucional. Comentrios: isso mesmo! As normas de eficcia limitada no produzem todos os seus efeitos no momento em que a Constituio promulgada. Para produzirem todos os seus efeitos, elas dependem da edio de lei regulamentadora. Questo correta. (CNMP Ð 2015) As normas constitucionais de aplicabilidade diferida e mediata, que no so dotadas de eficcia jurdica e no vinculam o legislador infraconstitucional aos seus vetores, so de eficcia contida. Comentrios: 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale As normas de eficcia limitada que tm aplicabilidade diferida e mediata. Cabe destacar que as normas de eficcia limitada possuem eficcia jurdica e vinculam o legislador infraconstitucional. Questo errada. Princpios Fundamentais da Repblica Federativa do Brasil 1) Regras e Princpios: Antes de tratarmos dos princpios fundamentais da Repblica Federativa do Brasil, necessrio que compreendamos dois conceitos: o de regras e o de princpios. De incio, vale destacar que as normas se dividem em dois tipos: i) regras e; ii) princpios. Em outras palavras, regras e princpios so espcie do gnero normas; se estivermos tratando de regras e princpios (implcitos e explcitos) previstos na Constituio, estaremos nos referindo a normas constitucionais. As regras so mais concretas, servindo para definir condutas. J os princpios so mais abstratos: no definem condutas, mas sim diretrizes para que se alcance a mxima concretizao da norma. As regras no admitem o cumprimento ou descumprimento parcial, seguindo a lgica do Òtudo ou nadaÓ. Ou so cumpridas totalmente, ou, ento, descumpridas. Portanto, quando duas regras entram em conflito, cabe ao aplicador do direito determinar qual delas foi suprimida pela outra. Por outro lado, os princpios podem ser cumpridos apenas parcialmente. No caso de coliso entre princpios, o conflito apenas aparente, ou seja, um no ser excludo pelo outro. Assim, apesar de a Constituio, por exemplo, garantir a livre manifestao do pensamento (art. 5¼, IV, CF/88), esse direito no absoluto. Ele encontra limites na proteo vida privada (art. 5¼, X, CF/88), outro direito protegido constitucionalmente. 2) Princpios Fundamentais: Os princpios constitucionais, segundo Canotilho, podem ser de duas espcies: a) Princpios poltico-constitucionais: representam decises polticas fundamentais, conformadoras de nossa Constituio. So os chamados princpios fundamentais, que estudaremos a seguir, os quais preveem as caractersticas essenciais do Estado brasileiro. Como exemplo de princpios poltico-constitucionais, citamos o princpio da separao de poderes, a indissolubilidade do vnculo federativo, o pluralismo poltico e a dignidade da pessoa humana. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale b) Princpios jurdico-constitucionais: so princpios gerais referentes ordem jurdica nacional, encontrando-se dispersos pelo texto constitucional. Em regra, derivam dos princpios poltico- constitucionais. Como exemplo de princpios jurdico constitucionais, citamos os princpios do devido processo legal, do juiz natural e da legalidade. Uma vez entendidos esses conceitos, passaremos anlise dos princpios fundamentais (poltico-constitucionais), responsveis pela determinao das caractersticas essenciais do Estado brasileiro. Princpios Fundamentais so os valores que orientaram o Poder Constituinte Originrio na elaborao da Constituio, ou seja, so suas escolhas polticas fundamentais. Segundo Canotilho, so os princpios constitucionais politicamente conformadores do Estado, que explicitam as valoraes polticas fundamentais do legislador constituinte, revelando as concepes polticas triunfantes numa Assembleia Constituinte, constituindo- se, assim, no cerne poltico de uma Constituio poltica. 7 Na Constituio Federal de 1988, os princpios fundamentais esto dispostos no Ttulo I, o qual composto por quatro artigos. Cada um desses dispositivos apresenta um tipo de princpio fundamental. O art. 1¼ trata dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil (RFB); o art. 2¼, do princpio da separao de Poderes; o art. 3¼, dos objetivos fundamentais; e o art. 4¼, dos princpios da RFB nas relaes internacionais. Se uma questo disser que um determinado fundamento da RFB (por exemplo, a soberania) um princpio fundamental, ela estar correta. Da mesma forma, se uma questo disser que um objetivo fundamental da RFB (por exemplo, Òconstruir uma sociedade livre, justa e solidriaÓ), um princpio fundamental, ela tambm estar correta. Ou, ainda, se a questo afirmar que um princpio das relaes internacionais (por exemplo, Òigualdade entre os EstadosÓ), um princpio fundamental, esta, mais uma vez, estar correta. A explicao para isso o fato de que os art. 1¼ - art. 4¼ evidenciam, todos eles, espcies de princpios fundamentais. 7 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio, p. 1091-92. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 2.1 - Fundamentos da Repblica Federativa do Brasil: Os fundamentos da Repblica Federativa do Brasil esto previstos no art. 1¼, da Constituio Federal de 1988. So eles os pilares, a base do ordenamento jurdico brasileiro. Art. 1¼ A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo poltico. Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio. Para memoriz-los, usamos a famosa sigla ÒSOCIDIVAPLUÓ: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo poltico. A soberania um atributo essencial ao Estado, garantindo que sua vontade no se subordine a qualquer outro poder, seja no plano interno ou no plano internacional. A soberania considerada um poder supremo e independente: supremo porque no est limitado a nenhum outro poder na S O C ID IV A P L U SOBERANIA CIDADANIA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA PLURALISMO POLÍTICO 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale ordem interna; independente porque, no plano internacional, nose subordina vontade de outros Estados.8 Assim, no mbito interno, as normas e decises elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as emanadas de grupos sociais intermedirios como famlia, escola e igreja, por exemplo. Por sua vez, na rbita internacional, o Estado somente se submete a regras em relao s quais manifestar livremente o seu consentimento. A soberania guarda correlao direta com o princpio da igualdade entre os Estados, que um dos princpios adotados pela Repblica Federativa do Brasil em suas relaes internacionais (art. 4¼, V, CF/88). relevante destacar que a soberania deve ser vista sob uma perspectiva (sentido) democrtica, donde surge a expresso Òsoberania popularÓ. Com efeito, o art. 1¼, pargrafo nico, dispe que Òtodo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenteÓ nos termos da Constituio. A cidadania, por sua vez, simultaneamente um objeto e um direito fundamental das pessoas; ela representa um verdadeiro status do ser humano: o de ser cidado e, com isso, ter assegurado o seu direito de participao na vida poltica do Estado. 9 A previso da cidadania como fundamento do Estado brasileiro exige que o Poder Pblico incentive a participao popular nas decises polticas do Estado. Nesse sentido, est intimamente ligada ao conceito de democracia, pois supe que o cidado se sinta responsvel pela construo de seu Estado, pelo bom funcionamento das instituies. A dignidade da pessoa humana outro fundamento da Repblica Federativa do Brasil e consiste no valor-fonte do ordenamento jurdico, a base de todos os direitos fundamentais. Trata-se de princpio que coloca o ser humano como a preocupao central para o Estado brasileiro: a proteo s pessoas deve ser vista como um fim em si mesmo. Segundo o STF, a dignidade da pessoa humana princpio supremo, Òsignificativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso Pas e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre ns, a ordem republicana e democrtica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo.Ó10 8 CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional, 2» edio. Rio de Janeiro, Forense, 1987, volume 1, pag. 169. 9 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 61. 10 STF, HC 85.237, Rel. Min. Celso de Mello, j. 17.03.05, DJ de 29.04.05. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale O princpio da dignidade da pessoa humana possui elevada densidade normativa e pode ser usado, por si s e independentemente de regulamentao, como fundamento de deciso judicial. Alm de possuir eficcia negativa (invalidando qualquer norma com ele conflitante), o princpio da dignidade da pessoa humana vincula o Poder Pblico, impelindo-o a adotar polticas para sua total implementao. Em razo da importncia do princpio da dignidade da pessoa humana, o STF j o utilizou como fundamento de diversas decises importantes. A seguir, comentaremos os principais entendimentos do STF acerca da dignidade humana: a) O STF considerou legtima a unio homoafetiva como entidade familiar, em razo do princpio da dignidade da pessoa humana e do direito busca pela felicidade. Segundo a Corte: Òa extenso, s unies homoafetivas, do mesmo regime jurdico aplicvel unio estvel entre pessoas de gnero distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidncia, dentre outros, dos princpios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurana jurdica e do postulado constitucional implcito que consagra o direito busca da felicidade, os quais configuram, numa estrita dimenso que privilegia o sentido de incluso decorrente da prpria Constituio da Repblica (art. 1¼, III, e art. 3¼, IV), fundamentos autnomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador qualificao das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como espcie do gnero entidade familiarÓ. 11 b) O STF considera que no ofende o direito vida e a dignidade da pessoa humana a pesquisa com clulas-tronco embrionrias obtidas de embries humanos produzidos por fertilizao Òin vitroÓ e no utilizados neste procedimento.12 Sobre esse ponto, vale a pena esclarecer que, quando realizada uma fertilizao Òin vitroÓ, so produzidos vrios embries e apenas alguns deles so implantados no tero da futura me. Os embries no utilizados no procedimento (que seriam congelados ou descartados) que podero ser objeto de pesquisa com clulas-tronco. 11 RE 477554 MG, DJe-164 DIVULG 25-08-2011 PUBLIC 26-08-2011 EMENT VOL-02574-02 PP- 00287. 12 STF, ADI 3510/DF Ð Rel. Min Ayres Britto, DJe 27.05.2010 00000000000 - DEMO 0 www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale c) O STF entende que no possvel, por violar o princpio da dignidade da pessoa humana, a submisso compulsria do pai ao exame de DNA na ao de investigao de paternidade.13 ... Voltando anlise dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil, a elevao dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa a essa condio refora que o nosso Estado capitalista, e, simultaneamente, demonstra que o trabalho tem um valor social. o trabalho, afinal, ferramenta essencial para garantir, em perspectiva menos ampla, a subsistncia das pessoas e, em perspectiva mais abrangente, o desenvolvimento e crescimento econmico do Pas. Observe que o art. 170 da CF/88 reitera esse fundamento, ao determinar que Òa ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia socialÓ. Por ltimo, o Estado brasileiro tambm tem como fundamento o pluralismo poltico. Esse princpio visa garantir a incluso dos diferentes grupos sociais no processo poltico nacional, outorgando aos cidados liberdade de convico filosfica e poltica. Como seu corolrio, tem-se a liberdade de criao e funcionamento dos partidos polticos. O STF entende que a crtica jornalstica um direito cujo suporte legitimador o pluralismo poltico; o exerccio desse direito deve, assim, ser preservado contra ensaios autoritrios de represso penal. 14 Cabe destacar que o pluralismo poltico exclui os discursos de dio, assim considerada qualquer comunicao que tenha como objetivo inferiorizar uma pessoa com base em raa, gnero, nacionalidade, religio ou orientao sexual. No Brasil, considera-se que os discursos de dio no esto amparados pela liberdade de manifestao de pensamento. (FUB Ð 2015) O pluralismo poltico, fundamento da Repblica Federativa do Brasil, pautado pela tolerncia a ideologias diversas, o que exclui discursos de dio, no amparados pela liberdade de manifestao do pensamento. Comentrios: O discurso de dio no est protegido pela liberdade de manifestao de pensamento. Por isso, o pluralismo poltico 13 STF, Pleno, HC 71.373/RS, rel. Min. Francisco Rezek, Dirio da Justia, Seo I, 22.11.1996. 14 STF Ð Pet 3486/DF, Rel. Ministro Celso de Mello. DJe. 22.08.2005. 00000000000 - DEMOwww.estrategiaconcursos.com.br 21 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale exclui discursos de dio. Questo correta. (TJ-SE Ð 2014) A dignidade da pessoa humana, princpio fundamental da Repblica Federativa do Brasil, promove o direito vida digna em sociedade, em prol do bem comum, fazendo prevalecer o interesse coletivo em detrimento do direito individual. Comentrios: A dignidade da pessoa humana um fundamento da Repblica Federativa do Brasil. Enquadra-se como princpio fundamental, assim como todos os outros inscritos dos art. 1¼ a art. 4¼, CF/88. Esse princpio coloca o indviduo (o ser humano) como a preocupao central do Estado. Assim, no h que se falar em Òprevalncia do interesse coletivo em detrimento do direito individualÓ. Questo errada. 2.2- Forma de Estado / Forma de Governo / Regime Poltico: Dentre as decises polticas fundamentais, esto a definio da forma de Estado e a forma de governo. Essas opes polticas foram escolhidas pelo Poder Constituinte Originrio logo no incio do texto constitucional (art. 1¼, caput). a) Forma de estado diz respeito maneira pela qual o poder est territorialmente repartido; em outras palavras, a repartio territorial do Poder que ir definir a forma de Estado. Nesse sentido, um Estado poder ser unitrio (quando o poder est territorialmente centralizado) ou federal (quando o poder est territorialmente descentralizado). 15 O Brasil um Estado federal, ou seja, adota a federao como forma de Estado. H diversos entes federativos (Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios), todos eles autnomos, dotados de governo prprio e de capacidade poltica. So pessoas jurdicas de direito pblico que mantm entre si um vnculo indissolvel. Em razo dessa indissolubilidade, um estado ou municpio brasileiro no pode se separar do Brasil; diz-se que, em uma federao no h o direito de secesso. esse o princpio da indissolubilidade do vnculo federativo, o qual reforado pelo fato de que a federao clusula ptrea da CF/88 (art. 60¤ 4¼, I, CF), no podendo, portanto, ser objeto de emenda constitucional tendente sua abolio. 15 O objetivo dessa aula no nos aprofundarmos no conceito de Estado unitrio e Estado federal. Nesse momento, os conceitos acima mencionados j so suficientes ao nosso aprendizado. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale O Estado federal, segundo a doutrina, apresenta duas caractersticas: autonomia e participao. A autonomia traduz-se na possibilidade de os Estados e Municpios terem sua prpria estrutura governamental e competncias, distintas daquelas da Unio. A participao, por sua vez, consiste em dar aos Estados a possibilidade de interferir na formao das leis. Ela garantida, em nosso ordenamento jurdico, pelo Senado, rgo legislativo que representa os Estados. Cabe destacar que autonomia difere de soberania. No Brasil, apenas a Repblica Federativa do Brasil (RFB) considerada soberana, inclusive para fins de direito internacional; s ela possui personalidade internacional. Isso porque, na Federao, os entes reunidos, apesar de no perderem suas personalidades jurdicas, abrem mo de algumas prerrogativas, em benefcio do todo (Estado Federal). Dessas, a principal a soberania. A Unio quem representa a RFB no plano internacional (art. 21, inciso I), mas possui apenas autonomia, jamais soberania. Destaque-se, todavia, que os outros entes federativos at podem atuar no plano internacional, mas apenas na medida em que a RFB os autoriza. Como exemplo, pode-se citar a contratao de emprstimo junto ao Banco Mundial pelo Estado de So Paulo, para fins de construo de uma rodovia. Na CF/88, os Municpios foram includos, pela primeira vez, como entidades federativas. Com essa previso constitucional, o federalismo brasileiro passou a ser considerado um federalismo de terceiro grau: temos uma federao composta por Unio, Estados e Municpios.16 No Brasil, a Unio, os Estados-membros e os Municpios, todos igualmente autnomos, tm o mesmo ÒstatusÓ hierrquico, recebendo tratamento jurdico isonmico. O governo de qualquer um deles no pode determinar o que o governo do outro pode ou no fazer. Cada um exerce suas competncias dentro dos limites reservados pela Constituio. A federao brasileira tem como caracterstica ser resultado de um movimento centrfugo, ou seja, formou-se por segregao. Isso porque no Brasil, at a Constituio de 1891, o Estado era unitrio (centralizado), tendo, ento, se desmembrado para a formao dos estados-membros. J nos Estados Unidos, por exemplo, os Estados se agregaram, num movimento centrpeto, para formar o Estado federal. Outra caracterstica de nosso federalismo que ele cooperativo. A repartio de competncias entre os entes da federao se d de forma que todos eles contribuam para que o Estado alcance seus objetivos. Algumas 16 O Prof. Manoel Gonalves Ferreira Filho diz que o Brasil um federalismo de 2¼ grau, mas essa a posio minoritria. Para esse autor, haveria dois graus: um da Unio para os Estados, e outro, dos Estados para os Municpios. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale competncias so comuns a todos, havendo, ainda, a colaborao tcnica e financeira entre eles para a prestao de alguns servios pblicos, bem como repartio das receitas tributrias. b) Forma de Governo o modo como se d a instituio do poder na sociedade e a relao entre governantes e governados. Quanto forma de governo, um Estado poder ser uma monarquia ou uma repblica. No Brasil, a forma de governo adotada (art. 1¼, caput), foi a repblica. So caractersticas da Repblica o carter eletivo, representativo e transitrio dos detentores do poder poltico e responsabilidade dos governantes. Os governantes, na Repblica, so eleitos pelo povo, o que vincula essa forma de governo democracia. Alm disso, na Repblica, o governo limitado e responsvel, surgindo a ideia de responsabilidade da Administrao Pblica. Finalmente, o carter transitrio dos detentores do poder poltico inerente ao governo republicano, sendo ressaltado, por exemplo, no art. 60, ¤4¼ da CF/88, que impede que seja objeto de deliberao a proposta de emenda constitucional tendente a abolir o Òvoto direto, secreto, universal e peridicoÓ. Outra importante caracterstica da Repblica que ela fundada na igualdade formal das pessoas. Nessa forma de governo intolervel a discriminao, sendo todos formalmente iguais, ou seja, iguais perante o Direito. c) O regime poltico adotado pelo Brasil a democracia, o que fica claro quando o art. 1¼, caput, da CF/88 dispe que a Repblica Federativa do Brasil constitui-se um Estado democrtico de direito. O Estado de Direito aquele no qual existe uma limitao dos poderes estatais; ele representa uma superao do antigo modelo absolutista, no qual o governante tinha poderes ilimitados. O surgimento do Estado de direito se deve aos movimentos constitucionalistas modernos. A evoluo histrica do Estado de Direito nos evidencia que, inicialmente, predominava a ideologia liberal; era o chamado Estado Liberal de Direito, no qual a limitao do poderestatal e a garantia das liberdades negativas eram os principais objetivos. Posteriormente, com a Revoluo Industrial e a Revoluo Russa, o Estado liberal d lugar ao Estado Social de Direito, marcado pela exigncia de que o Estado oferte prestaes positivas em favor dos indivduos (direitos sociais). Hoje, vive-se o momento do Estado Constitucional, que , ao mesmo tempo, um Estado de Direito e um Estado democrtico. Cabe destacar que a 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale expresso ÒEstado Democrtico de DireitoÓ no implica uma mera reunio dos princpios do Estado de Direito e do Estado Democrtico, uma vez que os supera, trazendo em si um conceito novo, mais abrangente. Trata-se, na verdade, da garantia de uma sociedade pluralista, em que todas as pessoas se submetem s leis e ao Direito, que, por sua vez, so criados pelo povo, por meio de seus representantes. A lei e o Direito, nesse Estado, visam a garantir o respeito aos direitos fundamentais, assegurando a todos uma igualdade material, ou seja, condies materiais mnimas a uma existncia digna. Nos dizeres de Dirley da Cunha Jr, Òo Estado Democrtico de Direito, portanto, o Estado Constitucional submetido Constituio e aos valores humanos nela consagrados.Ó 17 O princpio democrtico reforado pelo pargrafo nico do art.1¼ da Constituio Federal. Segundo esse dispositivo, todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamenteÓ nos termos da Constituio.Ó No Brasil, existe uma democracia semidireta ou participativa, assim caracterizada pelo fato de que o povo, alm de participar das decises polticas por meio de seus representantes eleitos, tambm possui instrumentos de participao direta. So formas de participao direta do povo na vida poltica do Brasil o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular de leis e ao popular. Esses mecanismos so o que a doutrina chama Òinstitutos da democracia semidiretaÓ. Cuidado para no confundir plebiscito e referendo! simples: o plebiscito convocado antes da criao da norma (ato legislativo ou administrativo) para que os cidados, por meio do voto, aprovem ou no a questo que lhes foi submetida. J o referendo convocado aps a edio da norma, devendo esta ser ratificada pelos cidados para ter validade. (FUB Ð 2015) O regime poltico adotado na CF caracteriza a Repblica Federativa do Brasil como um estado democrtico de direito em que se conjuga o princpio representativo com a participao direta do povo por meio do voto, do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular. 17CUNHA JòNIOR, Dirley. Curso de Direito Constitucional, 6» edio, p. 543. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Comentrios: No Brasil, vigora uma democracia semidireta, na qual se conjuga o princpio representativo com a participao direta do povo atravs do voto, plebiscito, referendo e iniciativa popular. Questo correta. (Cmara dos Deputados Ð 2014) A democracia brasileira indireta, ou representativa, haja vista que o poder popular se expressa por meio de representantes eleitos, que recebem mandato para a elaborao das leis e a fiscalizao dos atos estatais. Comentrios: No Brasil, vigora uma democracia semidireta. Questo errada. (Polcia Federal Ð 2014) A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos estados, municpios e Distrito Federal (DF), adota a federao como forma de Estado. Comentrios: A forma de Estado adotada pela RFB a federao. Questo correta. (TRE-AM Ð 2014) O Brasil adotou como sistema de govemo a Repblica, o presidencialismo como forma de governo e a Federao como forma de Estado. Comentrios: O examinador inverteu as coisas. A forma de governo adotado pelo Brasil a Repblica; o presidencialismo o sistema de governo. Questo errada. 2.3- Harmonia e Independncia entre os Poderes: A separao de poderes um princpio cujo objetivo evitar arbitrariedades e o desrespeito aos direitos fundamentais18; ele se baseia na premissa de que 18 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 72. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale quando o poder poltico est concentrado nas mos de uma s pessoa, h uma tendncia ao abuso do poder. Sob essa perspectiva, a separao de poderes verdadeira tcnica de limitao do poder estatal. As origens da separao de poderes remontam a Aristteles, com a obra ÒA PolticaÓ. Posteriormente, o tema tambm foi trabalhado por Joo Locke e, finalmente, por Montesquieu, em sua clebre obra ÒO esprito das leisÓ. Modernamente, a separao de poderes no vista como algo rgido. Com efeito, o poder poltico uno, indivisvel; assim, o que pode ser objeto de separao so as funes estatais (e no o poder poltico). Assim, apesar de a Constituio falar em trs Poderes, na verdade ela est se referindo a funes distintas de um mesmo Poder: a legislativa, a executiva e a judiciria. A Constituio Federal de 1988 adotou, assim, uma separao de Poderes flexvel. Isso significa que eles no exercem exclusivamente suas funes tpicas, mas tambm outras, denominadas atpicas. Um exemplo disso o exerccio da funo administrativa (tpica do Executivo) pelo Judicirio e pelo Legislativo, quando dispem sobre sua organizao interna e sobre seus servidores, nomeando-os ou exonerando-os. Ou, ento, quando o Poder Executivo exerce funo legislativa (tpica do Poder Legislativo), ao editar medidas provisrias ou leis delegadas. A Constituio Federal de 1988, em seu art. 2¼, trata da separao de poderes, dispondo que Òso poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.Ó Chama-nos a ateno o fato de que a Constituio explicita que os trs Poderes so Òindependentes e harmnicosÓ. Independncia a ausncia de subordinao, de hierarquia entre os Poderes; cada um deles livre para se organizar e no pode intervir indevidamente (fora dos limites constitucionais) na atuao do outro. Harmonia, por sua vez, significa colaborao, cooperao; visa garantir que os Poderes expressem uniformemente a vontade da Unio. A independncia entre os Poderes no absoluta. Ela limitada pelo sistema de freios e contrapesos, de origem norte-americana. Esse sistema prev a interferncia legtima de um Poder sobre o outro, nos limites estabelecidos constitucionalmente. o que acontece, por exemplo, quando o Congresso Nacional (Poder Legislativo) fiscaliza os atos do Poder Executivo (art. 49, X, CF/88). Ou, ento, quando o Poder Judicirio controla a constitucionalidade de leis elaboradas pelo Poder Legislativo. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Alguns entendimentos importantes do STF sobre o sistema de freios e contrapesos: 1)Os mecanismos de controle recprocos entre os Poderes (os freios e contrapesos) previstos nas Constituies Estaduais somente se legitimam quando guardarem estreita similaridade com os previstos na Constituio Federal (ADI 1.905-MC) 2) Os mecanismos de freios e contrapesos esto previstos na Constituio Federal, sendo vedado Constituio Estadual criar outras formas de interferncia de um Poder sobre o outro. (ADI 3046) 3) inconstitucional, por ofensa ao princpio da independncia e harmonia entre os Poderes, norma que subordina acordos, convnios, contratos e atos de Secretrios de Estado aprovao da Assembleia Legislativa. (ADI 476). 2.3- Objetivos Fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: Os objetivos fundamentais so as finalidades que devem ser perseguidas pelo Estado brasileiro. Que tal analisarmos o art. 3¼ da Carta Magna? Art. 3¼ Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao. Como se lembrar do rol de objetivos da Repblica Federativa do Brasil, uma vez que o art. 3¼ da CF/88 costuma ser cobrado em sua literalidade? Leia-o e releia-o at decor-lo! Para ajud-lo na memorizao do mesmo, peo que preste ateno nos verbos, sempre no infinitivo: construir, garantir, erradicar e promover. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Calma, o curso no descambou para o Portugus! que apenas com essa observao, voc poder resolver a questo de sua prova, mesmo se no se lembrar de nada que esteja escrito no art. 3¼, CF/88. Outra dica que esses verbos formam a sigla ÒConga Erra ProÓ, que serve de memorizao. Pense em um rapaz, de apelido CONGA, que tem como OBJETIVO no ERRAr na PROva: A promoo do bem de todos, sem preconceitos, alada pela Carta Magna condio de objetivo fundamental da Repblica Federativa do Brasil, consagra a igualdade material como um dos objetivos da Repblica Federativa do Brasil. O Estado no pode se contentar com a atribuio de igualdade perante a lei aos indivduos; ao invs disso, deve buscar reduzir as disparidades econmicas e sociais. Um exemplo da aplicao desse princpio a reserva de vagas nas Universidades Federais, a serem ocupadas exclusivamente por alunos egressos de escolas pblicas (cotas raciais). Busca-se tornar o sistema educacional mais justo, mais igual. No se trata de preconceito, mas de uma ao afirmativa do Estado. Elucidando esse conceito, o STJ disps o seguinte: Òaes afirmativas so medidas especiais tomadas com o objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais, sociais ou tnicos ou indivduos que necessitem de proteo, e que possam ser necessrias e teis para proporcionar a tais grupos ou indivduos igual O B JE T IV O S F U N D A M E N TA IS D A R FB CONstruir uma sociedade livre, justa e solidária GArantir o desenvolvimento nacional ERRAdicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais PROmover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale gozo ou exerccio de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas no conduzam, em consequncia, manuteno de direitos separados para diferentes grupos raciais, e no prossigam aps terem sido alcanados os seus objetivosÓ (REsp 1132476/PR, Rel. Ministro Humberto Martins, 2» Turma, julgado em 13/10/2009, DJe 21/10/2009) (MPE-SC Ð 2014) Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: construir uma sociedade soberana, justa e solidria; garantir o desenvolvimento internacional; erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao. Comentrios: H dois erros na assertiva. Primeiro, objetivo fundamental construir uma sociedade livre, justa e solidria. Segundo, o objetivo fundamental garantir o desenvolvimento nacional. Questo errada. 2.4- Princpios das Relaes Internacionais: Estudaremos, agora, os princpios que regem a Repblica Federativa do Brasil em suas relaes internacionais, os quais esto relacionados no art. 4¼, da Constituio Federal. Art. 4¼ A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos seguintes princpios: I - independncia nacional; II - prevalncia dos direitos humanos; III - autodeterminao dos povos; IV - no-interveno; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - soluo pacfica dos conflitos; 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperao entre os povos para o progresso da humanidade; X - concesso de asilo poltico. Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes. Como costuma ser cobrado esse artigo? Geralmente o examinador tenta confundir esses princpios com os objetivos expostos no art. 3¼ e os fundamentos da RFB, apresentados no art. 1¼ da Carta Magna. O legislador constituinte se inspirou na Carta da ONU, assinada em 1945, ao escrever o art. 4¼ da CF/88. Naquela Carta, expressou-se o maior sentimento da humanidade aps o incio da II Guerra Mundial: busca da paz. Em nossa Constituio, tal sentimento foi registrado nos incisos III, IV, VI, VII e IX. Observe que nela determina-se que a RFB buscar a autodeterminao dos povos, ou seja, respeitar a sua soberania, no intervindo em suas decises. Isso porque defende a paz e, para tal, a soluo pacfica dos conflitos, assumindo que as relaes entre os povos deve ser de cooperao. Uma das consequncias da II Guerra Mundial foi a independncia das colnias. Percebeu-se que, para haver paz, necessrio independncia nacional, ou seja, ter sua soberania respeitada pelas outras naes. Alm disso, verificou- se que a paz somente possvel com a igualdade entre os Estados, pois a existncia de colnias e as sanes impostas Alemanha aps a Primeira Guerra Mundial foram as principais causas para a ecloso da Segunda. A igualdade entre os Estados uma contrapartida independncia nacional: o compromisso de que uns respeitem a soberania dos outros. Esses so os motivos pelos quais os incisos I e V do art. 4¼ foram escolhidos por nosso constituinte como princpios das relaes internacionais do Brasil. Finalmente, qual a imagem mais forte da II Guerra Mundial? O massacre dos judeus, nos campos de concentrao, promovido pelos nazistas. Uma vergonha para a Humanidade. A Carta da ONU, em consequncia, assume como princpio o estmulo aos direitos humanos. Inspirado naquela Carta,nosso constituinte elevou condio de princpios a serem buscados pela RFB em suas relaes internacionais a prevalncia dos direitos humanos e o repdio ao terrorismo e ao racismo. O pargrafo nico do art. 4¼ da Constituio traz um objetivo a ser buscado pelo Brasil em suas relaes internacionais: a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale formao de uma comunidade latino-americana de naes. Quando cobrado, o examinador geralmente troca Amrica Latina por Amrica do Sul, para confundi-lo(a). Portanto, fique atento! (UFRB Ð 2015) A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos das Amricas, visando formao de uma comunidade americana de naes. Comentrios: A CF/88 prev a busca pela integrao na Amrica Latina. Questo errada. (DPE-PR Ð 2014) So fundamentos da Repblica Federativa do Brasil: o pluralismo poltico, a cidadania, a soberania, a dignidade da pessoa humana, os valores do trabalho e da livre iniciativa. E so princpios expressos adotados pelo Brasil no mbito internacional: a independncia nacional, o desenvolvimento nacional, a no interveno, a prevalncia dos direitos humanos, a concesso de asilo poltico e a soluo pacfica das controvrsias. Comentrios: Pegadinha! O desenvolvimento nacional no princpio das relaes internacionais. Questo errada. (TRT 13 Regio Ð 2013) A Constituio Federal de 1988 (CF) no prev expressamente o princpio da concesso de asilo poltico. Comentrios: A concesso de asilo poltico um princpio que rege a Repblica Federativa do Brasil em suas relaes internacionais. Questo errada. Questes Comentadas 1. A Pirmide de Kelsen Ð A Hierarquia das Normas 1. (FGV / AL-MT Ð 2013) A tese de que h hierarquia entre normas constitucionais originrias, dando azo declarao de 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale inconstitucionalidade de uma em face de outras, incompatvel com o sistema de Constituio rgida. Comentrios: No Brasil, considera-se que no existe hierarquia entre normas constitucionais originrias. Todavia, destacamos a tese de Otto Bachof, para quem as clusulas ptreas so hierarquicamente superiores s demais normas constitucionais originrias. Essa tese, todavia, incompatvel com o sistema de Constituio rgida, conforme j decidiu o STF na ADI n¼ 815-3. Questo correta. 2. (FGV / SEFAZ-RJ Ð 2011) No norma de mesma hierarquia o(a): a) lei ordinria. b) lei complementar. c) medida provisria. d) decreto. e) lei delegada Comentrios: As leis (ordinrias, complementares e delegadas), as medidas provisrias, os decretos legislativos, as resolues e os decretos autnomos so normas primrias e esto todas no mesmo nvel hierrquico. Por outro lado, os decretos executivos (ou simplesmente decretos) so normas secundrias, infralegais. O gabarito a letra D. 3. (FGV / SEFAZ-RJ Ð 2008) So elementos orgnicos da Constituio: a) a estruturao do Estado e os direitos fundamentais. b) a diviso dos poderes e o sistema de governo. c) a tributao e o oramento e os direitos sociais. d) as foras armadas e a nacionalidade. e) a segurana pblica e a interveno. Comentrios: 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Letra A: errada. Os direitos fundamentais so elementos limitativos, exceo dos direitos sociais (que so elementos socioideolgicos). Letra B: correta. A organizao do Estado e a organizao dos Poderes so, de fato, elementos orgnicos. Letra C: errada. Os direitos sociais e a tributao e oramento so elementos socioideolgicos. Letra D: errada. As Foras Armadas so elemento de estabilizao constitucional. Os direitos de nacionalidade so elementos limitativos. Letra E: errada. A segurana pblica e a interveno so elementos de estabilizao constitucional. 2. Aplicabilidade das normas constitucionais 4. (FGV / DPE-MT Ð Advogado Ð 2015) Considerando a classificao das normas constitucionais, assinale a opo que indica a norma de eficcia contida. a) livre o exerccio de qualquer profisso, atendidas as qualificaes que a lei venha a estabelecer. b) O Estado deve garantir o desenvolvimento nacional. c) O Presidente da Repblica no est sujeito priso antes da sentena penal condenatria. d) As atribuies do Conselho de Defesa das Minorias sero definidas em lei. e) dever da sociedade proteger os idosos, na forma definida em lei. Comentrios: Letra A: correta. A liberdade profissional uma norma de eficcia contida. Isso porque, desde a promulgao da Constituio, todos j podem exercer qualquer trabalho, ofcio ou profisso. No entanto, a lei poder estabelecer restries ao exerccio de algumas profisses. Letra B: errada. uma norma de eficcia limitada, de natureza programtica. Para garantir o desenvolvimento nacional, o Estar dever implementar polticas pblicas que tenham essa finalidade. Letra C: errada. uma norma de eficcia plena, pois j produz todos os seus efeitos e no restringvel. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 58 DIREITO CONSTITUCIONAL – ITEP/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Letra D: errada. uma norma de eficcia limitada. H necessidade de edio de lei regulamentadora para definir as atribuies do Conselho de Defesa Nacional. Letra E: errada. Essa uma norma de eficcia limitada, uma vez que necessita da edio de lei regulamentadora para produzir todos os seus efeitos. a lei que ir definir como ser a proteo aos idosos. O gabarito a letra A. 5. (FGV / CGE-MA Ð 2014) A Constituio Federal estabelece que livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer. Observadas as regras de aplicabilidade das normas constitucionais, trata-se de norma considerada de eficcia: a) plena. b) organizacional. c) contida. d) institutiva. e) programtica. Comentrios: A liberdade de exerccio profissional norma de eficcia contida. Desde a promulgao da Constituio, j possvel exercer o direito ao livre exerccio profissional. Todavia, a lei poder restringir esse direito, estabelecendo critrios para o exerccio de determinadas profisses. A resposta a letra C. 6. (FGV/TCE-BA Ð 2013) As normas de eficcia contida so aquelas que somente produzem efeitos essenciais aps um desenvolvimento normativo, a cargo dos poderes constitudos. Comentrios: Esse o conceito de normas constitucionais de eficcia limitada (e no de eficcia contida!). As normas de eficcia limitada dependem de regulamentao para que possam produzir todos os seus efeitos. As normas de eficcia contida, por outro lado, j produzem todos os seus efeitos desde a promulgao da Constituio; todavia, podem ser restringidas por lei. Questo incorreta. 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br
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