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CONSTITUIÇÃO DA ECONOMIA MERCANTIL ESCRAVISTA CAFEEIRA NACIONAL

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CONSTITUIÇÃO DA ECONOMIA MERCANTIL-ESCRAVISTA CAFEEIRA NACIONAL
O Capitalismo Tardio – João Manoel Cardoso de Mello
 
O processo de produção em qualquer economia mercantil-escravista principia-se com a existência de um ‘quantum’ de capital-dinheiro, que se metamorfoseia, em seguida, em terras, escravos e meios de produção, os quais, combinados de um certo modo, se transformam em mercadorias. As mercadorias, ao serem realizadas, assumem novamente a forma de capital-dinheiro, agora acrescido de um plus, o lucro.
Para entender a gênese da economia cafeeira mercantil-escravista precisamos:
Investigar as origens do capital-dinheiro que a ela se dirigiu
Examinar a existência e a mobilização dos recursos produtivos
Considerar o nascimento e o sentido da demanda externa por café, que, em última análise, lhe confere o caráter mercantil
O capital mercantil utilizado na gênese da economia mercantil-escravista cafeeira nacional veio se formando, por assim dizer, nos poros da colônia, mas ganhou notável impulso com a queda do monopólio de comércio metropolitano e com o surgimento de um ainda precário sistema monetário nacional, conseqüências da vinda da família Real portuguesa para o Brasil.
Muitas fazendas foram formadas com o capital transferido diretamente do setor mercantil (comércio de mulas, capital usurário urbano, tráfico de escravos, etc.).
A figura do comissário de café foi que encarnou esse capital e financiou a montagem da economia cafeeira (passando por suas mãos a maior parte do café negociado e, além disso, participando do custeio da montagem das fazendas, invadindo a própria esfera da produção, financiando-a).
Existiam ainda recursos produtivos prévios subtilizados, terras próximas ao Rio de Janeiro e próprias para o cultivo do café, bem como escravos liberados pela desagregação da economia mineradora.
Nos dois casos (escravos e terras), estamos lidando com propriedades que necessitam de capital para obtenção dos mesmos.
O café exige, por sua vez, considerável emprego de mão-de-obra tanto para o plantio, quanto para sua manutenção, que duram quase todo o ano.
Existe a necessidade então de cobrir as despesas antes que o cafezal entrasse em produção (subsistência do escravo, salários para os demais empregados, etc.).
A demanda externa por café nasce da oferta do café de produção brasileira. A generalização do consumo de café ocorreu a partir da baixa dos preços internacionais, gerados pela oferta de café do Brasil. A expansão da produção do café no Brasil aumenta a demanda por café no exterior.
A utilização de latifúndios na produção cafeeira brasileira se dá pela prévia repartição de terras existente à cultura brasileira de café, e também, pela produção extensiva e predatória, tal como na colônia. Também era necessária uma determinada produção para tornar o negócio lucrativo, determinando investimentos vultosos, travando a entrada de muitos ao negócio.
Era escravista não somente pela disponibilidade da mão-de-obra, mas também porque, devido à demanda externa e o investimento exigido, o trabalho escravo, superexplorado, mostrou-se o mais rentável. Excluía-se dessa forma, o trabalho assalariado, sendo o custo de reprodução do escravo menor do que do trabalhador livre.
Em 1830 o Brasil já era o maior produtor mundial de café.
A característica da lavoura cafeeira não seria muito diferente das anteriores no Brasil: grande empresa produzindo em larga escala, apoiada no trabalho escravo, articulada a um sistema comercial-financeiro, controlados, uma e outro, nacionalmente.
A queda do exclusivo metropolitano e, em seguida, a formação do Estado Nacional brasileiro criaram a possibilidade de que se nacionalizasse a apropriação do excedente e de que se internalizasse as decisões de investir.
O desenvolvimento da economia mercantil-escravista está sujeito à três condições:
à disponibilidade de trabalho escravo a preços lucrativos
à existência de terras em que a produção pudesse ser rentável
às condições de realização, relativamente autônomas, porque dependem, também, do comportamento das economias importadoras
Esgotado o reservatório representado pelos ‘restos’ da economia mineira, o tráfico internacional surgiu, naturalmente, como fonte de abastecimento de mão-de-obra barata; este setor de fornecimento de mão-de-obra externo irá desaparecer em 1850 (?)
Em síntese:
	Com a liquidação do tráfico, a economia 	cafeeira não se viu condenada.
	Para que se acumulasse ou, ao menos, mantivesse a produção no mesmo nível, após a interrupção do tráfico internacional, era absolutamente imprescindível “produzir” escravos internamente – tráfico interprovincial – o que implicaria no aumento dos preços destes.
que a economia cafeeira fosse capaz ou não de absorver
este aumento de preços, dependeria da queda necessária
da taxa de exploração e da taxa de lucro prévia a ele
ainda que isto fosse inviável, a acumulação prosseguiria
até absorver a totalidade da escravaria existente
=> Imigração!
A disponibilidade de terras em que a produção pudesse ser lucrativa, advém do uso extensivo da acumulação, próprio ao crescimento de qualquer economia mercantil-escravista.
A acumulação somente poderia ir adiante se houvesse, constantemente, novas terras próprias para o cultivo do café, supondo uma técnica ‘extensiva' e invariável, bem como constante a fertilidade natural do solo;
A busca por essas terras significaria interiorização, o que aumentaria os custos com transportes, que dentro da economia mercantil-escravista era dependente do trabalho escravo, da força animal, impondo limites estreitos à tecnologia adotada;
Essa elevação dos custos de transportes promoveria a queda da taxa de lucro, até o ponto em que travaria a acumulação;
A economia cafeeira tenderia a uma lenta e inexorável regressão;
=> ferrovias!
Mapa da expansão da economia cafeeira no sudeste - sécs. XIX e XX
Mapa da expansão da economia cafeeira no sudeste - sécs. XIX e XX
A realização da produção cafeeira nos mercados externos compreende dois períodos: o de generalização do consumo e o de pós-generalização. No primeiro seria inevitável que o café sofresse uma queda nos preços para ser integrado ao consumo de amplas camadas da população dos países importadores, perdendo seu caráter de produto colonial. No segundo momento, não se delimitaria qualquer tendência definida de preços, mas se estabeleceria tão somente um limite superior, acima do qual o café seria excluído do consumo popular
O limite superior de preços seria imposto por três fatores:
concorrência de outros substitutos quase perfeitos (chá) e, ultrapassando o limite, a demanda se deslocaria para eles
concorrência de outros países produtores e, transposto o preço-teto, a oferta brasileira seria deslocada do mercado
ao atingir certo preço, o café seria excluído da ‘cesta de consumo popular’

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