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Resenha: Castro, Josué. Geografia da Fome

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1 
 
Castro, Josué, 1908-1973. 
Geografia da fome: (o dilema brasileiro: pão ou aço) 
Josué de Castro. — Rio de Janeiro: Edições Antares, 1984 
 
Resenhado por/by: Leidiane de Paula Rezende 
(Universidade Federal do Triângulo Mineiro) 
 
O livro Geografia da Fome já em sua décima edição, o então autor Josué de Castro 
busca retratar com maior evidência o Brasil em vários aspectos, quantos aos fatores 
físicos, culturais, biológicos e todos aqueles que de certa maneira influenciam as 
diversas áreas do Brasil aos seus índices de subnutrição e fome. O autor é natural 
de Recife, se formou em Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro, foi professor de 
Antropologia Física na Universidade do Distrito Federal. Teve sua primeira docência 
em Fisiologia, foi estagiário em 1938 no Instituto Bioquímico de Roma e deu cursos 
nas Universidades de Roma, Nápoles e Gênova, dessa experiência resultou a 
publicação em 1939 do estudo Alimentazione e Acclimatazione Umana nei Tropici. 
Voltando ao Brasil foi integrante do corpo docente da Faculdade de Filosofia, 
Ciências e Letras da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, onde conquistou a Cátedra de Geografia Humana, em 1947. Como tese “A 
cidade do Recife. Ensaio da Geografia Urbana.” Em 1939 e 1945 promoveu cursos 
sobre Alimentação e Nutrição no Departamento Nacional de Saúde Pública e na 
Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, foi Presidente da Sociedade 
Brasileira de Nutrição, criou o Serviço de Alimentação da Providência Social, foi 
chefe do Departamento Técnico de Alimentação da Coordenação da Mobilização. O 
autor se distinguiu pela publicação de numerosos livros podendo destacar os 
seguintes: A Alimentação no Brasil, Alimentação e Raça, Documentário do Nordeste, 
A Alimentação Brasileira à luz da Geografia Humana, Fisiologia dos Tabus. E mais 
adiante, o autor se tornaria mundialmente lido e admirado por meio de suas duas 
grandes obras, A Geografia da Fome (1946) e a Geopolítica da Fome (1951). 
O livro Geografia da Fome, (O dilema do brasileiro: Pão ou Aço), é dividido em 
partes onde se encontra a princípio um prefácio à sua nona edição por André Meyer, 
logo em seguida o prefácio à décima edição pelo autor Alceu Amoroso Lima, e 
também um prefácio do autor. A primeira parte do livro é dada pela introdução, que 
segue por uma segunda parte em que se trata da Área Amazônica, em seguida na 
terceira parte do livro se apresenta a Área do Nordeste açucareiro, na quarta parte 
do livro temos a Área do sertão Nordeste, em sua quinta parte destaca se as Áreas 
de subnutrição: Centro e Sul. Na sexta parte, se dá o Estudo do Conjunto Brasileiro, 
enquanto que na sétima parte do livro se trata do glossário. E por fim teremos em 
sua parte final, uma apêndice à oitava edição, seguida pela biografia já citada no 
início e a bibliografia. 
O objetivo do livro, segundo o autor, era que fossem trazidos a tona as investigações 
feitas quanto a perplexidade na qual se encontrava a situação do Brasil, quanto ao 
seu desenvolvimento sócio-econômico e suas complexas falhas. Se trata de um livro 
2 
 
criado para tentar amenizar os efeitos em que se dá o desenvolvimento econômico, 
como este esteve em tempos atrás, como hoje se encontra e quanto ao que se pode 
ser feito futuramente e de que como seria promover o desenvolvimento do país, com 
suas escassas disponibilidades em um ritmo acelerado e sem ter que sacrificar as 
condições sociais de seu povo. Certo de que com seus avanços e atrasos, está 
incluído pessoas e com todas elas as terríveis consequências. Nesse dilema de não 
saber em qual área se deve mais investimentos, se é a área industrial ou se será a 
área do setor agrícola, fica se uma população a mercê, sem saber ao certo o que 
fazer e do que viver. 
Passando para a primeira parte do livro na qual se trata da introdução, o autor 
destaca as áreas em questões alimentares a serem analisadas no Brasil, seriam 
elas a Área da Amazônia, Área da Mata do Nordeste, Área do Sertão do Nordeste, 
Área do Centro-Oeste e Área do Extremo Sul. Dada a diferença de uma área para a 
outra, onde em algumas os erros e defeitos são mais graves e se vive num estado 
de fome crônica, já em outras áreas á situação passa a ser um pouco mais amena e 
tem somente à subnutrição. E dentro deste estudo de áreas alimentares, seria 
consideradas áreas de fome aquelas em que metade da população apresentaria 
carência quanto ao seu estado de nutrição, mesmos que estas áreas fossem 
permanentes ou transitórias. Das cinco áreas que formavam o mosaico alimentar 
brasileiro, três são nítidamentes áreas de fome nas quais seriam a Área da 
Amazônia, a da Mata e a do Sertão Nordestino. Nessas áreas viviam pessoas, ou 
que vivem ainda, com marcas de fome coletivas. Nas outras áreas, no entanto, não 
se apresenta tanta deficiência alimentar quanto às primeiras citadas, porém, estão 
longe de serem dadas como áreas de alimentação correta. São áreas designadas 
como que de subnutrição e não propriamente áreas de fome, sendo que o estudo 
geral da obra se destaca mais para a região em que se encontram as áreas de fome 
propriamente ditas. 
Passando para a segunda parte do livro, onde o autor destaca toda a área da 
Amazônia, em questões ecológicas, fatores que influenciam tanto quanto o clima, 
fatores biológicos, econômicos e as questões sociais. Quanto à alimentação, é 
introduzido diante do contexto todo, qualquer tipo de alimento ali consumido na 
região como forma de sobrevivência, dando suas avaliações quanto aos seus 
valores energéticos ou a falta deles, e destaca como alimento básico a farinha de 
mandioca, sendo consumida em toda extensão da área, o que modifica é sua forma 
de produção e a maneira diversificada de ser consumida na qual cada grupo 
consome de um jeito diferente. Geograficamente é a mais vasta floresta equatorial 
do mundo, e em termos de demografia representa mais um dos desertos do planeta, 
sendo muito pouca habitada. Se trata de uma região com uma população do tipo 
homeopática, são pouquíssimas pessoas espalhadas a esmo na imensidade da 
floresta, pessoas estas que vivem esmagadas pela força da natureza quase que 
impenetrável, e sem acesso técnico de recursos e com isso sem força suficientes 
para dominar o meio em que vivem. E mais adiante o autor ressaltaria essa 
dificuldade por meio do individualismo, pois cada membro desse grupo populacional 
3 
 
que ali vive, busca por si só, uma forma de dominação ao meio e que se fosse de tal 
forma feita por grupos maiores de pessoas, talvez estes conseguiriam alcançar 
algum resultado. Porém é preciso se pensar que a natureza é vasta, mas também é 
preciso se preservar sua forma ecológica, e que um domínio exacerbado da região 
resultaria na degradação da própria, era preciso pensar num domínio que de certa 
maneira não prejudicasse quanto sua forma natural. Para utilizar as possibilidades 
de terra, num sistema produtivo, as populações até então tem vivido quase que 
exclusivamente num regime de economia destrutiva. Pessoas que ali sobrevivem 
apenas da simples coleta de produtos nativos, a caça, a pesca, da colheita de 
sementes silvestres, de frutos, de raízes e de cascas de árvores, do látex, dos óleos 
e de resinas vegetais. Apenas em áreas limitadas e sob processos rudimentares se 
estabeleceu uma cultura primitiva de produtos de alimentação como a mandioca, do 
milho, do arroz e do feijão. Josué de Castro destaca também quanto a outros 
trabalho agrícolas que foram realizados objetivando a horticultura e a avicultura em 
bases racionais ou não, e cita um exemplo da Cooperativa de Tomé de Açu, cujos 
associados dedicam ao cultivo de plantas hortícolas, alémde cobrirem grandes 
extensões de terras com plantio de pimenta-do-reino e juca, outra também citada, é 
na região de Guamá onde foi instalado um Núcleo Colonial do Instituto Nacional de 
Imigração e Colonização, cujo principal objetivo era o abastecimento de Belém em 
gêneros de primeira necessidade inclusive produtos hortigranjeiros e foi com esses 
poucos recursos que constituiu, na época, o tipo de alimentação do homem da 
Amazônia, alimentação essa baseada pela forte influência cultural indígena sobre as 
das outras culturas, a portuguesa e a negra, que também influenciaram . Mas 
segundo Josué, a participação negra na formação amazônica é bem insignificante, 
pois a princípio o negro era raríssimo e a política de colonização preservou essa 
região de certa forma, do sangue africano. E mesmo com a febre em que se deu na 
região por conta da exploração da borracha, o negro também esteve quase que 
ausente. 
Seguindo o contexto ainda sobre a Área da Amazônia, até pelo seu acesso quase 
que inacessível, vimos que a criação de gado se torna um obstáculo, as árvores 
frondosas, e a ausência de luz diretamente ao solo, não se permite o crescimento da 
vegetação rasteira que formaria as pastagens, e mesmo que por outro lado, o clima 
úmido predispõe o gado à ação dos insetos transmissores de doenças. E essa baixa 
produtividade na pecuária dessa região, a dificuldade quanto aos meios de 
transporte em que ligaria uma região a outra, faz com que o abastecimento de carne 
ou de leite nessas regiões seja quase que escasso. O leite existe apenas em 
algumas poucas cidades em destaque, com controle reduzido e sem meios 
sanitários adequados. E com isso os derivados do leite assim como a manteiga e o 
queijo também quase não são vistos por lá. A dificuldade também da criação de 
galinhas faz com que os ovos produzidos se tornem alimentos de luxo, e de carne 
resta apenas o recurso da caça. Josué procura deixar claro que a população 
existente da Amazônia tem como característica seu aspecto ribeirinho, vivem a beira 
das encostas dos rios, pois ali se encontra as maiores riquezas econômicas para a 
4 
 
sua subsistência, e que são poucos os que ousam se afastar da beira da água. Mas 
que apesar de ser favorável por um lado, em grandes inundações essas áreas 
passam a ser um caos na vida dessas pessoas ribeirinhas, que acabam por ter seu 
habitat invadido pelas águas dos rios tornando ainda mais difícil a vida de quem ali 
vive. A esse aguaceiro existente na Amazônia se compara a grande seca do 
Nordeste, ambos as regiões flageladas por eventos distintos. “O Nordeste durante as 
secas e a Amazônia durante as inundações constituem desgraçadamente modelos 
incontrastáveis no catálogo das grandes tragédias coletivas.” 
Já finalizando sobre a área amazônica, quanto à análise biológica e química, e 
questões alimentares, esta se revela com um regime de alimentação com inúmeras 
deficiências nutritivas e com grandes eventos de anemia de quase toda população, e 
como dito, tem se a impressão da sua impropriedade na extrema pobreza, ou 
mesmo, a ausência de alguns alimentos ricos em carboidratos, proteínas, vitaminas 
e sais. Josué de Castro faz uma citação em seu livro do então autor Araújo Lima em 
que este diz: “A parcimônia alimentar dos nossos caboclos reduz, num paralelo que se 
impõe, o mérito da sobriedade japonesa: o nipônico come pouco, mas fá-lo regularmente, o 
nosso caboclo que é capaz de comer despropositadamente, em geral come pouco e 
irregularmente, jejuando por dias e semanas.” E falando sobre a leitura universal de 
nutrição, era preciso que se levasse em consideração, à análise do problema 
regional, como a influência do clima, reagindo sobre o metabolismo e a troca de 
energia. Com isso as necessidades calóricas do homem habitante dessa região 
equatorial, tendo base nos estudos feitos no Brasil, levou em consideração a baixa 
do metabolismo como consequência direta do clima, atuando com um conjunto de 
fatores que levam á essa queda de metabolismo. Mas que, no entanto, a anemia 
tropical não pode ser dada como uma fatalidade climática, pois se trata da ausência 
de fontes de ferros em virtude da baixa existência de alimentos constituídos de tais 
fontes, isso sim atribuído a atividade climática da região que impossibilita a presença 
de plantas com presença de tais minerais. Com esses defeitos graves em suas 
reservas, umas bem e outras mal aproveitadas, a região amazônica consegue 
fornecer, como Josué destaca, subsistência as suas populações ralas e 
qualitativamente inferiorizadas em suas deficiências alimentares e em características 
antropofisiológicas de um tanto precárias. E por conta da subnutrição correm as 
soltas os grandes índices de mortalidade da região, destacando para a mortalidade 
infantil. Todas as interfaces da área desfavoráveis ao homem, condicionados pela 
subnutrição e pela fome, tem contribuído muito para o relativo marasmo demográfico 
em que permanece a região. Para que fossem melhoradas as condições alimentares 
da área amazônica, era necessário que fosse feito todo um programa de 
transformações econômico-sociais na região. E que sem uma alimentação suficiente 
e correta a Amazônia sempre será um deserto demográfico. “Assim se apresenta o 
caso da conquista econômica da Amazônia: luta tenaz do homem contra a floresta e contra 
a água, Contra o excesso de vitalidade da floresta e contra a desordenada abundância da 
água dos seus rios. Água e floresta que parecem ter feito um pacto de natureza ecológica 
para se apoderarem de todos os domínios da região.” 
5 
 
Na terceira parte do livro em que se apresenta a área do Nordeste Açucareiro, com 
sua típica paisagem natural profundamente alterada nos seus traços geográficos 
fundamentais pela ação humana. Teve a vida do seu solo, de suas águas, de suas 
plantas e do seu próprio clima, tudo alterado pela ação desequilibrante e intespetiva 
do colonizador. Geograficamente esta área, abrange uma estreita faixa de terrenos 
de decomposição e de sedimentação, estendendo-se ao longo de todo litoral do 
Nordeste brasileiro, do estado da Bahia até o Ceará. Quando se estuda as 
condições de alimentação dessa área, logo se percebe o contraste marcante entre 
as possibilidades geográfica e a extrema exiguidade dos recursos alimentares da 
região. E como o autor descreve, não se pode jogar a pobreza dos recursos 
alimentares explicando à base de razões naturais, porque as condições eram assim 
por dizer favoráveis, tanto do solo, quanto do clima. Mas de nada valeram as 
grandes possibilidades naturais da região, pois foram inteiramente desaproveitadas 
em sua capacidade de fornecer alimentos as populações regionais. Josué, em seu 
livro, faz uma citação interessante do geógrafo Preston James em relação ao ser 
antrópico: “O homem, em sua ação modificadora do meio ambiente, atua as vezes com 
inteligência, mas na maioria dos casos de maneira cega, sem nenhuma premeditação, 
satisfazendo apenas os seus interesses imediatos.”De fato, a relação em que o homem 
se mantém com a natureza é de inteira exploração. Existem leis que buscam de 
alguma forma preservar e intervir em beneficio a natureza mas que no entanto, 
quando se trata de fatores econômicos um tanto expressivos, à natureza é sempre 
deixada de lado, favorecendo assim a ambição do homem e da classe econômica 
envolvida. 
O empobrecimento dessa região se deve, sem nenhuma dúvida, pelo 
desenvolvimento do plantio de cana-de-açúcar que se deu nessa região, com todos 
os seus nocivos exageros de planta individualista, como o autor descreve. Lançando 
se nessa aventura açucareira, mesmo que exigisse escravidão tremendamente dura, 
não só do homem, mas também da terra. Assimfoi constituído o cenário do 
Nordeste Açucareiro, apenas cana-de-açúcar. O processo de transformação e de 
desvalorização que a cana realizou no Nordeste começou pela destruição da 
floresta, abrindo com queimadas as clareiras para seu cultivo, alargando para 
canaviais sem fim, e assim devastando toda fauna e flora acerca do caminho. Mas a 
absorção das terras pelo latifundiarismo progrediu assustadoramente, fazendo com 
que a miséria alimentar nesta zona fosse ainda mais acentuada. A destruição da 
floresta alcançou tal intensidade e se processou em tal extensão que nesta região 
chamada de Mata do Nordeste, restam-nos hoje apenas pequenos feixes de floresta 
primitiva. Fenômeno alarmante principalmente por seu caráter irreversível. Josué 
destaca então que “A verdade é que o fertilizante representa para a vida da planta 
apenas um complemento de sua nutrição. Como não é possível alimentar o ser humano 
apenas com preparados de vitaminas e sais minerais, que constitui complementos 
alimentares, também o adubo não pode refazer inteiramente o solo que foi dissolvido e 
arrastado pelas águas”. Na página cento e dezenove de seu livro, temos o primeiro 
obstáculo, a transmissão e fixação de hábitos alimentares sadios ao novo grupo 
6 
 
humano, assim chegado no Brasil. Foi à impossibilidade de encontrar ou de produzir 
nestas terras quentes dos trópicos o trigo, que teve sua substituição forçada pela 
mandioca indígena. E procurando se ajustar as novas contingências naturais, o 
colonizador não só incentivou de inicio o cultivo da mandioca e de outras plantas 
nativas, mas procurou introduzir no Nordeste outras plantas, em que sua experiência 
de conquistadores sabiam serem próprias ao novo quadro geográfico. Assim se fez, 
de início, uma tentativa de policultura, ajudada pela colheita de frutas silvestres e 
pela caça dos animais. 
Dos processos culinários indígenas, poucos se fixaram no panorama da cozinha 
regional, fora o preparo da pamonha, da canjica de milho, do beiju, da farinha de 
mandioca e da paçoca. Outra influência favorável, a mais expressiva e valorizada 
dos hábitos alimentares desta região foi sem dúvida a do negro africano. A 
interferência do negro no sentido de melhorar o padrão de nutrição do Nordeste fez 
sentir ainda mais do que no campo na produção em escala econômica. Através da 
introdução feliz de certas plantas africanas e do uso de certos processos culinários 
que se mostraram excelentes no aproveitamento dos recursos alimentares da 
região. O trigo antes importado, agora dava lugar à mandioca. É dessa alimentação 
pobre em vegetais, frutas e verduras, carne e leite, por falta de culturas agrícolas e 
de criação de extensa zona nordestina que nos falam os relatos de historiadores e 
viajantes que ali passaram. O domínio holandês acabou deixando um hábito que até 
hoje se constitui na alimentação de todo povo brasileiro e até do mundo, a mistura 
do café com leite. 
Enfim, no inquérito feito pelos autores e pesquisadores, veio nos confirmar que pelo 
menos naquela região do Nordeste Açucareiro, o que mais se morria era de fome. O 
primeiro grave defeito, no tipo de dieta estudado foi a monotonia, a falta de 
variedades das substâncias alimentares que entram em sua composição. Sob um 
ponto de vista qualitativo, o regime local se mostrou com um excesso proporcional 
de hidrocarbonetos, mas com uma deficiência patente em proteínas, taxas muito 
baixas de gordura, apresentando deficiência também de vitaminas. Quanto a cotas 
de sais minerais, se revelaram muito insuficientes as de cálcio e as de ferro. Este 
regime alimentar insuficiente e carenciado das populações do Recife exprimem até 
certo ponto, os hábitos alimentares de toda a região. Desta alimentação precária 
resultam graves consequências para as populações nordestinas, umas específicas, 
presas em relação de causa e efeito as diferentes carências que a dieta acarreta, 
outras inespecíficas, refletindo a miséria orgânica a que o meio social reduziu o 
homem a bagaceira. 
As populações costeiras têm sua vida ligada ao mundo aquático. Destas populações 
fazem parte os famosos jangadeiros do Nordeste, pescadores que passam a maior 
parte do seu tempo em alto mar. A riqueza protéica de sua alimentação, assim como 
o maior teor de sais minerais que os alimentos marinhos fornecem, constituem 
fatores importantes na diferenciação antropológica desse tipo de homem de praia. E 
também lançaram mão de dois produtos vegetais de alto valor nutritivo, o coco e o 
7 
 
caju. O que me chama a atenção em parte do livro, é a enorme existência de tabus 
referentes a algum tipo de alimento em relação a outro, e isso acaba por constituir 
verdadeiras barreiras contra o uso de frutas. Frutas essas que de longe de serem 
nocivas, e que caso contrário, seriam de maior proveito para a saúde dessa gente. 
Em geral, o povo que constitui essa região não possui gosto por frutas, ou 
simplesmente, não criaram o hábito de frutas em sua dieta alimentar. 
Em magistrais estudos demográficos levados ao Laboratório de Estatística sob a 
direção do Prof. Giorgio Mortara ficou demonstrado que o crescimento demográfico 
do Nordeste foi inferior ao das regiões do Norte, do Centro e do Sul do país, apesar 
dos seus altos índices de natalidade. É que nasce muita gente, mas morre cedo e 
quase tudo sempre de fome. Quanto à situação atual do Nordeste, decorrente de 
graves erros acumulados durante anos, fica responsável pela alimentação 
deficiente, contribuindo para o agravamento das endemias, e não será possível a 
erradicação dessas endemias sem que a estrutura econômico-social e os hábitos 
alimentares sejam modificados os programas sociais de saúde não têm resultados 
duradouros, nem objetivos sociais que modifiquem a infra-estrutura econômico-
social. É preciso que o Nordeste se integre a economia nacional, carecendo de 
medidas de iniciativa pública e privada, capazes de promover seu crescimento 
econômico e melhorias na distribuição de riquezas. É urgente que se eleve a 
produtividade do Nordeste para que se possa melhorar os níveis de saúde e 
dominar a incidência de endemias. A subcapitalização e o subemprego são 
obstáculos à exploração racional das riquezas e potencialidades do Nordeste. Os 
projetos e obras de emergência só atendem as situações transitórias e de 
calamidade. A indústria e a agricultura na região necessitam de organização técnica 
e ajuda financeira, para diminuir o custo de produção, criar e desenvolver mercados 
e permitir o largo emprego dos indivíduos úteis dessa zona, promovendo assim a 
fixação do homem nordestino. E assim se encerra a parte da Área do Nordeste 
Açucareiro, carecendo cada vez mais de políticas voltadas a uma ocupação 
subjetiva e de uma agricultura afirmativa para a região. Sabemos que muita coisa 
mudou de um tempo pra cá, mas ainda há muito que se fazer para o 
desenvolvimento de tão carecida área. 
Na quarta parte do livro, se dá ao destaque á Área do Sertão do Nordeste, no qual 
encontraremos um novo tipo de fome por assim dizer, não mais de maneira 
permanente, condicionada pelos hábitos de vida, mas apresentando se em surtos 
epidêmicos. Fome que surge com as secas. São epidemias de fome global 
quantitativa, alcançando com incrível violência os limites extremos de desnutrição e 
da inanição aguda, e atingindo a todos, ricos e pobres, todos açoitados de maneia 
impiedosa pelo terrível flagelo das secas. A chamada área do Sertão do Nordeste se 
estende desde as proximidades da margem direita do Rio Parnaíba, no seu extremo 
Norte, até o Rio Itapicuru, no seu extremo Sul, abrangendo terras centrais do Piauí, 
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. 
Nestaextensa zona semi-árida viviam ali na época, cerca de sete milhões de 
8 
 
habitantes, num regime que tinha como alimento básico, o milho. O que pude 
verificar também em meio ao contexto, é que no mundo inteiro, as áreas de 
plantações de milhos são áreas de extrema miséria alimentar, à exceção do sertão 
nordestino. É que com certas condições naturais e principalmente pelo gênero de 
vida local, com seus hábitos tradicionais, acabaram criando na zona, um complexo 
alimentar em que as graves deficiências protéicas e vitamínicas do milho são 
compensadas por outros componentes habituais da dieta. Infelizmente as secas 
periódicas acabaram extinguindo as fontes naturais de vida, crestando as 
pastagens, dizimando o gado e arrasando as lavouras, reduzindo assim o sertão 
uma paisagem desértica, com seus habitantes sempre desprovidos de reservas, 
morrendo a míngua de água e de alimentos. O característico fundamental desta 
extensa área geográfica é o seu clima semi-árido. No solo do sertão, em geral pouco 
espesso, erodido pelas torrentes esporádicas e condicionada por este clima com 
suas eventuais descontinuidades de chuvas, desenvolvem tipos de vegetação que 
permitem ao geógrafo a caracterização de três subáreas, o agreste, a caatinga e o 
alto sertão. A flora de toda a região é do tipo xerófila, adaptadas aos rigores da 
secura ambiente, as espécies arbóreas, reduzem seu porte, a exemplo dos cajueiros 
anões das chapadas arenosas. Entre as plantas que compõem a flora xerófita estão 
às cactáceas, como as palmatórias, as mandacarus, os xique-xiques, e os facheiros. 
A fauna também do sertão nordestino é bem pobre de recursos alimentares, os rios, 
os açudes, têm suas águas bem mais pobres em peixes do que as da zona da mata, 
só rios perenes como o São Francisco mantém apreciável riqueza em seu leito, e a 
fauna terrestre está longe também de fornecer auxílio alimentar. No entanto há um 
elemento em destaque na fauna nordestina, que no caso as abelhas, cujo mel 
substitui muitas vezes o açúcar e a rapadura no tempero dos alimentos. A 
agropecuária na região é limitadíssima, mas a criação de gado, no entanto, 
desenvolveram no Nordeste as fazendas. Por Pernambuco o gado se espalhou em 
currais nos sertões, fazendo se entradas pelas estradas naturais dos rios, 
principalmente através do São Francisco, considerando a grande artéria viva do ciclo 
econômico do couro no Nordeste. As criações da cabras acabaram por contribuir 
como verdadeiro fator geográfico para a modificação da fisionomia botânica da 
mesma, porém passou a ser muito favorável em questão a alimentação da região, 
pois tanto a carne como o leite, são consumidos quase que em totalidade nos 
mercados locais. Com o tempo, se observa que acabou criando-se uma saudável 
atuação colonizadora, vaqueiro e agricultor ao mesmo tempo, lutando contra os 
intempérios da região. 
No estudo da cozinha do sertanejo nordestino, a mais isenta da influência tanto 
indígena como africana, quase que podendo chamá-la de colonial pura, tiveram 
influência árabe sempre favorável. Muitos dos aventureiros que se internaram pelo 
sertão adentro, em sua penetração pastoril foram certamente de cristãos novos 
como os judeus e árabes, trazendo suas experiências de vida e de sobrevivências 
as intempestivas secas ao deserto saariano. Mas como já visto, alimento de 
destaque dessa região era o milho, apresentado por suas falhas graves por seu 
9 
 
baixo teor protéico, mas que tem sua base calórica, ficando o fornecimento dos 
outros princípios alimentares a cargo de outras substâncias, usado sob as suas mais 
variadas formas, como o angu, o cuscuz, a canjica e sempre acompanhado e dado 
em conjunto com o leite. Além do milho, do leite, o sertanejo também conta com 
outra fonte liberal de proteína, a carne. A carne de boi, de carneiro, e principalmente 
a carne de cabrito, que constitui o alto consumo na região. As pessoas dessa região, 
alimentam-se das famosas buchadas de bode e paneladas, reservando a carne seca 
como charque, ou secada ao sol e ao vento. Já os ovos constituem o tipo de 
alimento raro, sendo a criação de galinha pouco desenvolvida na região, até porque 
se viveria na disputa contra os predadores famintos da região, como os gaviões, os 
lobos, além dos inúmeros cascáveis, que acercam a região, em resumo as secas 
extensas, que acabam por deixar os animais eufóricos. Podemos destacar também 
na região como tipo de alimento básico em períodos mais avantajados em questão 
da seca, a farinha, o feijão, a batata-doce, inhame, a rapadura e o café. Das terras 
umedecidas pelos açudes particulares se podia encontrar bananas, as vezes frutas 
cítricas como a laranja, mas as frutas em geral, eram quase que inexistentes em 
razão as altas temperaturas. Infelizmente pouca coisa tem mudado, e a fruticultura 
na região se resume em bem pouca coisa, como a produção de cereais, algumas 
verduras e legumes, mas somente junto aos açudes, onde se é capaz de encontrar 
o solo um pouco mais umedecido, mas mesmo assim a proporção é bem reduzida. E 
sem muito o cultivo de plantas frutíferas, restava apenas ao sertanejo o recurso das 
frutas silvestres, como o pequi, o umbu, a quixaba e etc... O consumo de legumes 
quando encontrado na região, é limitado à abóbora, ao maxixe e as cebolinhas e 
coentros. As características da alimentação ao seu preparo simples, 
desnaturalizando ao mínimo os alimentos, criando combinações de admirável 
primitivismo, como da abóbora com leite, do queijo com rapadura, da batata-doce 
com café. O regime alimentar desse povo, embora na aparência pouco abundante, 
alcança alto potencial energético, graças ás doses liberais em que entram o milho, a 
batata-doce e a manteiga. É a alimentação bem servida de proteínas que dá ao 
sertanejo a resistência um tanto impressionante, para os habitantes de outras zonas 
do país. 
Mas virando se o outro lado da moeda, á coisa passa ser diferente, como Josué de 
Castro já vem citando no decorrer, sobre a área do sertão nordestino, quando que 
flagelados pela seca em grande escala, como dito também pelo autor Amadeu Filho 
no seu Relatório sobre a seca de 1932. “Esgotados os recursos naturais de alimentação, 
tangidos pela fome, estes infelizes se atiram aos últimos recursos vegetais, em geral 
impróprios à alimentação, ricos apenas de celulose, por vezes mesmo tóxicos, tais como a 
mucunã, e a macambira, que tantos casos fatais ocasionaram nas secas planadas e que 
agora mesmo alguns produzem.” O fato é, que esgotadas as suas esperanças e 
reservas alimentares de toda ordem, os sertanejos iniciam se em retirada, já não 
suprindo de mais nada, sem água, sem comida, começa o terrível êxodo. Assim a 
fome vai se propagando ao nordeste assolado, aflagelando-os, roendo-lhes as 
vísceras e abrindo chagas e buracos na pele, é a seca e a fome, aniquilando a vida 
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dos sertanejos, atuando também sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta 
social, seu espírito. Nenhuma calamidade é capaz de desagregar tão profundamente 
e num sentido tão nocivo a personalidade humana como a fome, quando alcança os 
limites de verdadeira inanição, se colocando assim Josué de Castro. E assim 
contribuem as secas e as fomes periódicas, que delas decorrem para uma 
cristalização dos tipos característicos da vida social do sertão: o cangaceiro e o 
beato fanático. Típicos e tão inseridos significativamente por suas raízes culturais na 
vida sertaneja, a tal ponto associados em sua atuação social que se constituem 
muitas vezes como uma só personalidade. Dentre as carências múltiplas que se 
associam nos casos de fome absoluta entre os sertanejos, provoca distúrbios 
nervosos por conta destas várias deficiências.E o que o chama de neurastenia 
tropical não é uma doença peculiar destas áreas, nem é causada por nenhuma ação 
enervante do clima, mas produto de múltiplas causas, entre as quais a má 
alimentação. A luta, no entanto, no Nordeste não se deve ser encarada em termos 
simplistas de luta contra a seca muito menos de luta contra os efeitos da mesma. 
Mas há de se exigir uma luta contra o subdesenvolvimento em todo o seu complexo 
regional, expressão da monocultura e do latifúndio, do feudalismo agrário e da 
subcapitalização na exploração dos recursos naturais da região, sem a ela ressarcir 
lhe o que é de direito. 
Passamos agora para quinta parte do livro, na qual trataremos das áreas de 
subnutrição, Centro e Sul. Áreas em que as deficiências alimentares são mais 
discretas e menos generalizadas. Abrangendo as terras do Centro- Oeste brasileiro, 
encontraremos uma nova área alimentar típica, tirando como alimento básico o 
milho, diferenciando, no entanto, da área do sertão nordestino pelas associações 
com que este alimento se combina a diferentes outras substâncias alimentares. Área 
que possui os maiores rebanhos de porcos no país, gerando em conjunto dois 
mapas de produção, o do milho e da carne de porco, há também a criação 
abundante de gado bovino e o cultivo de variados produtos agrícolas como o feijão, 
o café, o arroz e a cana-de-açúcar, sendo a sua paisagem regional um verdadeiro 
mosaico de manchas agrícolas e de pastagens. Hoje vemos a região tomada pela 
soja, cana-de-açúcar, que parece uma peste sem fim, as plantações de eucaliptos, 
matéria-prima as indústrias. Mas apesar da criação de gado em grande escala na 
região, a alimentação associada a esta zona é o feijão e a gordura de porco, cuja 
expressão típica é o tutu de feijão mineiro, complexo alimentar de alto valor calórico, 
mas qualitativamente de valor nutritivo inferior. Inferioridade essa que é compensada 
pelo consumo mais liberal que se faz nessa região dos vegetais verdes, como a 
couve mineira por exemplo. Outras hortaliças, assim como as frutas, são de 
consumo mais amplo do que comparado a outras áreas. A análise química deste 
regime nos permitiu verificar, que não há déficits calóricos, pelo contrário, deveria 
haver até excesso quantitativo, por conta do amido do milho e das gorduras do 
porco, o que resulta numa maior incidência nesta área, de obesidade e de diabete, e 
na formação do tipo biológico de mineiros lentos e pesados, conservadores e 
pachorrentos. 
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Na área Sul, que abrange geograficamente o Estado do Rio, Espírito Santo, São 
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é caracterizada pela maior 
variedade de elementos componentes de seu regime alimentar e pelo consumo mais 
elevado de verduras e frutas, sendo a zona mais rica do país, de maior 
desenvolvimento, tanto agrícola como industrial, compreendendo a maior 
porcentagem de rendimentos concentrados de toda a nação, por isso não é de se 
estranhar que essa região se disponha para tornar um tanto mais elevado o seu 
padrão alimentar. O primeiro fator de melhoria está na sua base econômica mais 
sólida, desde que a capacidade de produção per capita, em certos pontos dessa 
área como no Rio de Janeiro e em São Paulo, era dez vezes mais alta do que a dos 
estados do Norte, e se comparado hoje em dia veremos que ela se extrapolou ainda 
mais. Outro fator decisivo dessa superioridade regional é a própria produção mais 
abundante, tanto as condições de seu solo e clima como a influência favorável dos 
recentes migrantes que vêm se fixando cada vez mais a essa região, e tudo isso tem 
trabalhado no sentido de diversificar os recursos alimentares da região e de utilizá-
los de maneira mais racional. As altas cotas de italianos, alemães, poloneses, 
japoneses, lituanos que migraram para o Brasil acabaram por colorir o quadro 
etnológico nacional principalmente nessa zona, fazendo dessa área alimentar uma 
espécie de mosaico, como se diz o mesmo autor, mosaico este nos quais os 
alimentos básicos variam e os seus arranjos e tipos de preparo variam ainda mais. 
Assim encontraremos uma alimentação vegetariana predominante, caracterizada por 
um largo uso do trigo, sob a forma de macarrão, como na área paulista. 
Encontraremos também o tipo oposto de alimentação, de predominância carnívora, 
da região dos pampas gaúchos, Rio Grande do Sul, caracterizado pelo complexo 
alimentar do churrasco e do mate-chimarrão. As colônias japonesas localizadas nas 
proximidades dos centros urbanos como em torno da capital de São Paulo, deram 
grande incremento as culturas hortícolas. Nas áreas de influência germânica vamos 
encontrar um consumo mais freqüente de aveia, centeio, lentilhas, hortaliças e 
frutas, assim como de carne de porco, em suas inúmeras variedades de salsichas, 
bacon, presunto caseiro, comidos com pão preto, chucrute e cerveja. Apesar da 
alimentação nessa área ser superior a das outras áreas brasileiras estudadas, 
mesmo assim ainda esta longe de ser aquele tipo de alimentação sadia e 
considerada perfeita como dos habitantes da Califórnia, por exemplo. 
Aos inquéritos realizados em diferentes pontos da área Sul, mostraram que as dietas 
locais apresentam incompletas e impróprias, foi verificado que parte estava 
deficiente de cálcio, ferro e vitamina. Deficiência que resulta no baixo consumo do 
leite, de verduras em dadas as regiões, de legumes verdes, de cereais integrais e de 
frutas em outras partes. Em algumas subáreas um tanto discretas, porém com 
alguma carência, uma dessas carências gritantes se dá a falta de proteínas entre as 
crianças pobres dos grandes centros urbanos da região. Área essa que embora 
libertada em sua forma mais grave de fome está, no entanto, longe de gozar dos 
benefícios de um metabolismo completamente perfeito e equilibrado. 
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Na sexta parte do livro teremos o estudo do conjunto brasileiro. Dada a fome do 
Brasil, que ainda perdura, apesar de alguns progressos hoje vistos em vários 
setores da nossa sociedade, porém existe uma consequência que perdura do seu 
passado histórico, como os seus grupos humanos, que estão sempre em luta e 
quase nunca em harmonia com os quadros naturais. A situação do desenvolvimento 
econômico e social foi consequência da inaptidão do Estado Político para servir de 
poder equilibrante entre os interesses privados e o interesse coletivo. Baseada pelos 
colonizadores europeus e depois pelo capital estrangeiro, a agricultura extensiva de 
produtos exportáveis ganhou lugar a agricultura intensiva de subsistência, capaz de 
matar a fome dos nossos irmãos do sertão. O que o colonialismo promoveu em certa 
forma até de progresso pelo mundo, mas sempre a serviço dos seus lucros 
exclusivos, daí sempre a ocorrência de um desenvolvimento limitado, com maior 
atrativo para o capital especulativo, deixando no abandono outros setores básicos, 
indispensáveis ao projeto social. E só agora que diria estarmos tentando nos libertar, 
mas mesmo assim temos um progresso bem ineficiente à base de um progresso 
econômico a curto prazo. Outro aspecto do nosso desenvolvimento pouco favorável, 
têm sido o abandono das regiões mais pobres do país, tendo em vista que os 
recursos não devem apenas se concentrarem somente a áreas mais adiantadas, 
deixando de lado áreas capazes de participar também desse processo econômico. E 
segundo Josué, “faz se necessário que as áreas mais ricas, de maior poder, tanto 
econômico como político, tenham mais respeito pelas regiões mais pobres e procurem 
cooperar para sua emancipação, em benefício da nacionalidade”. (Pág.271). E é certo, 
pois, para que um país esteja em fase de desenvolvimento, é necessário que ele 
cresça igualitariamente, nem que sejaum pouco. 
Os planos de desenvolvimento econômicos postos em execução no país não têm 
proporcionado ao nivelamento reequilibrante do conjunto econômico nacional, e por 
isso, não tem contribuído com a necessária eficácia para eliminar a fome de certas 
áreas do país. A distorção econômica vem pesando na situação alimentar do nosso 
povo, acentuando cada vez mais a inflação, que se exterioriza principalmente na alta 
dos preços dos gêneros alimentícios. Pela falta de amparo à economia agrícola, é 
que se desloca anualmente enorme massa de pessoas do campo para a cidade, 
vindo a supersaturar a vida urbana, criando assim grandes embaraços aos 
problemas de abastecimento. E tenho visto que está longe de se atenuar pelo forte 
desequilíbrio em que se mantém a cidade e o campo, ficando sempre o dilema do 
pão ou do aço, ficando entre a obtenção de bens de consumo ou a industrialização 
intensiva. E a meu ver, o Brasil tem a capacidade de produzir as duas coisas sem 
atrapalhar o desenvolvimento de uma ou de outra, o que falta na verdade é 
organização orçamentária coerente. 
Em conclusões gerais, o Brasil sendo um país subdesenvolvido não conseguiu ainda 
se libertar da fome e da subnutrição e a dualidade da civilização brasileira é a 
principal responsável pela presença de fome no quadro social brasileiro. Outros 
fatores negativos são o regime inadequado de propriedade, os baixos índices de 
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produtividade agrícolas, a inflação provocando a alta dos preços dos produtos 
alimentares e a baixa capacidade de compra da população, o surto de expansão 
industrial no país também se torna um fator de agravamento da situação alimentar, a 
alimentação imprópria por parte dos brasileiros, visto que alguns até comem muito, 
mas comem mal. É necessário por partes dos poderes públicos o condicionamento e 
orientar para fins definidos, dos quis não haja sobreposição da emancipação 
alimentar do povo. 
Aqui concluo o livro de Josué de Castro, Geografia da Fome, buscando ao máximo 
deixar parecer impressionante a leitura do livro, apesar de bem resumido em vista 
ao contexto do livro, pois o autor generaliza muito e em todas as partes, deixando o 
leitor a par de todo o conhecimento necessário em quesito de fome no Brasil. Mas 
digo que basta dar uma passada pela bibliografia do autor, em que já é um convite a 
leitura atenciosa ao livro. Pois de fato o que estudamos e vimos em Geografia ou 
qualquer matéria que seja, nunca nos é ressaltado o problema da fome de forma tão 
expressiva e exemplificada, como vimos ao decorrer desse livro. Pude perceber de 
fato, a preocupação do autor em levar ao conhecimento este problema tão 
agravante que é a fome, não só nacional, mas de forma global. Livro este que 
recomendo a todos a fazer uma leitura ateniosa, buscando aprofundar em matéria 
de conhecimento, que de forma expressiva, concreta e eficaz o livro vem nos trazer. 
Quem saiba dessa leitura não saia uma idéia proporcional fundamentalista que 
venha nos trazer algum progresso em questão de erradicar à fome de uma vez por 
todas. Aconselho a todos esse livro, deixando aqui meu parecer agradável à leitura 
desse livro, e simplesmente pensando, que se somos nós os responsáveis pela 
mudança econômica, social, cultural do país, o porque que não conseguimos ainda 
unificar a nação como um todo, o porque de tantas divisões afluentes no país se 
podemos multiplicar a nossa economia, temos espaço e vantagem para que isso 
ocorra, seria necessário que deixamos talvez o comodismo em que se encontra a 
situação real brasileira, e fazer com que o país cresça, mas de forma igualitária sem 
repressões de algumas áreas.

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