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304-P01 J U N H O 0 6 , 2 0 0 6 ________________________________________________________________________________________________________________ Caso LACC # 304-P01 é a versão traduzida para Português do caso # 399-179 da HBS. Os casos da HBS são desenvolvidos somente como base para discussões em classe. Casos não devem servir como aprovação, fonte primária de dados ou informação, ou como ilustração de um gerenciamento eficaz ou ineficaz. Copyright 2006 President and Fellows of Harvard College. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de dados, usada em uma tabela de dados, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocopiada, gravada, ou qualquer outra - sem a permissão da Harvard Business School. Os Processos de Definição e Implementação de Estratégias Quando descritas em casos da Harvard Business School concisos e bem-escritos, as estratégias empresariais geralmente parecem ser o resultado de um processo de planejamento analítico, linear, organizado e rigoroso. Contudo, a forma como as estratégias empresariais são definidas no mundo real é na verdade bem diferente. Novas estratégias freqüentemente tomam forma através da somatória de decisões operacionais e de prioridades estabelecidas no dia-a-dia, sem levar necessariamente em conta as intenções dos altos executivos. Para dirigir suas empresas com eficácia, os líderes das organizações precisam compreender os processos através dos quais as estratégias tomam forma. Estratégias Intencionais e Estratégias Emergentes Henry Mintzberg e James Waters definem estratégia como um padrão em um conjunto de decisões1. Esta definição enfatiza as ações de uma organização, em vez das afirmações que ela faz com respeito a seus planos e objetivos. Eles chamam de estratégias intencionais os planos criados pela liderança de uma organização ou por consultores contratados pelos altos executivos. Geralmente as estratégias intencionais são desenvolvidas em projetos singulares através de processos analíticos as empresas costumam investir quantidades significativas de tempo e dinheiro para definir com precisão onde se enquadra o seu negócio. Na verdade, estratégias intencionais podem ser implementadas exatamente como imaginadas apenas sob três condições. Primeira, os envolvidos na organização precisam entender todos os detalhes importantes da estratégia intencional da diretoria. Segunda, para que a organização tome ação de forma coletiva, a estratégia precisa fazer sentido para a visão de mundo de cada membro da organização, tanto quanto para a visão da diretoria. Finalmente, as intenções coletivas precisam ocorrer sob pouca influência de forças políticas, tecnológicas e de mercado não previstas. Como é difícil encontrar uma situação onde todas as três condições ocorram, é raro que uma estratégia intencional possa ser implementada sem alterações importantes. 1 Mintzberg, Henry e James Waters Of Strategies, Deliberate and Emergent, Strategic Management Journal, Vol. 6, 1985. This document is authorized for use only in 2014-06-02 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from June 2014 to December 2014. 304-P01 Os Processos de Definição e Implementação de Estratégias 2 Em muitas das empresas estudadas, Mintzberg e Waters observaram um padrão nas ações tomadas a despeito ou na ausência de intenções. Estas estratégias emergentes resultam de outras ameaças e oportunidades, freqüentemente não antecipadas, que demandam resposta no trabalho diário daqueles executivos e gerentes que têm a tarefa de implementar a estratégia da organização. Outros autores comentaram a desconexão entre as estratégias que os altos executivos das empresas desenvolvem e as estratégias que acabam sendo implementadas através das decisões do dia-a-dia operacional dos gerentes de linha. Andrew Grove, ex-CEO da Intel, descreveu a diferença entre planos estratégicos e ações estratégicas em seu livro Só os Paranóicos Sobrevivem. Estou convencido de que a estratégia corporativa é formulada por uma série de [ações estratégicas], muito mais do que através do planejamento estratégico convencionalde cima para baixo... Em minha experiência, este último sempre acaba em afirmações estéreis, raramente ganhando aderência no trabalho real da corporação. Ações estratégicas, por outro lado, sempre têm impacto real.2 Em resumo, para compreender as estratégias efetivas das empresas é preciso prestar atenção mais ao que elas fazem do que ao que elas dizem. Um exemplo3 disto é o esforço que a Honda fez no mercado americano de motocicletas. Durante o pós-guerra, a Honda tornou-se a principal fornecedora de pequenas e robustas motocicletas Superclub no Japão, muito mais fáceis de serem conduzidas nas ruas congestionadas das áreas urbanas. Em 1959, as vendas atingiram quase 300.000 unidades, e a direção da empresa, na expectativa de tirar vantagem dos baixos custos de produção para exportação, tomou como alvo o mercado norte-americano. Pesquisas indicavam que os americanos utilizavam motocicletas para passeios longos nas estradas, e não para pequenos percursos, para os quais as Superclubs haviam sido desenhadas. Desta forma, os engenheiros da Honda desenvolveram uma motocicleta mais potente, embora isto desviasse a empresa de sua área de especialização. Com sua estratégia intencional bem elaborada, a direção da Honda enviou três funcionários para Los Angeles a fim de acelerar os esforços de vendas e marketing para a nova e mais potente motocicleta. Os três funcionários depararam com uma série de problemas. A maioria dos revendedores não desejava receber uma linha de produtos ainda não testada no mercado. Quando a equipe da Honda finalmente conseguiu vender algumas centenas de unidades, a falta de experiência da Honda no desenho de veículos para uso em auto-estradas tornou-se evidente nos problemas de engrenagens e vazamentos de óleo que danificavam seriamente os motores. As manutenções realizadas dentro do período de garantia resultaram em importante dreno de recursos da empresa. Os funcionários da Honda responsáveis pelo esforço de vendas nos EUA tentaram aliviar suas frustrações fazendo enduros com as Superclubs nas montanhas de Los Angeles. Alguns vizinhos viram estes enduros e acharam que eram divertidos. À medida que mais e mais pessoas passaram a solicitar uma motocicleta para participar destes enduros, os representantes da Honda perceberam 2 Grove, Andrew. Somente os Paranóicos Sobrevivem. (Doubleday: New York, 1996). 3 Christensen, Clayton M. The Innovators Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail. (Harvard Business Press: Boston, 1997) This document is authorized for use only in 2014-06-02 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from June 2014 to December 2014. Os Processos de Definição e Implementação de Estratégias 304-P01 3 que eles tinham algo de importante à sua frente. Eles tentaram convencer a diretoria a mudar a estratégia, deixando de lado as difíceis oportunidades no mercado de motocicletas potentes para estradas, e, ao contrário, focando o mercado ainda inexplorado de motocicletas recreativas para enduros. Uma estratégia emergente começava a tomar forma. Contudo, os funcionários da Honda ainda achavam difícil colocar seus produtos através do canal de distribuição representado pelos revendedores de motocicletas. Em vez de continuar insistindo neste canal, eles convenceram lojas de artigos esportivos a oferecer a nova linha de produtos. O design das pequenas motocicletas da Honda tinha classe mundial, e, uma vez estabelecida uma base sólida neste novo canal, a popularidade destas motocicletas cresceu vertiginosamente.As quantidades produzidas aumentaram, os preços foram reduzidos, e a Honda tornou-se o protagonista dominante no mercado de motocicletas americano. Nesse momento, com uma compreensão maior das forças atuantes no mercado, a estratégia intencional da Honda passava a ter condições de se concretizar. Os gigantes tradicionais do mercado de motocicletas, percebendo que não podiam competir com a Honda nesse segmento crescente do mercado, tentaram explorar seus pontos fortes, enfatizando as vendas de motocicletas maiores e mais potentes. Por volta de 1970, já solidamente entrincheirada no mercado americano, a Honda começou a introduzir produtos mais caros, causando erosão ainda maior na posição dos demais concorrentes. Por volta de 1988, Honda tornou-se a marca dominante nos EUA, quase por acaso. O Processo de Alocação de Recursos O processo-chave que filtra os fatores tanto intencionais quanto emergentes durante a formulação e implementação da estratégia é chamado de processo de alocação de recursos. É o processo pelo qual são avaliadas as propostas de investimento de capital, talento e outros recursos para o desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos. No processo de alocação de recursos, algumas propostas são aprovadas e recebem alta prioridade. Outras são aprovadas, mas recebem baixa prioridade. Muitas propostas nunca são aprovadas e nunca conseguem os recursos de que precisam para ser desenvolvidas e implementadas com sucesso. O Professor Joseph L. Bower, da Harvard Business School, e o Professor Kobert Burgelman, da Stanford Business School, que documentaram como os recursos são alocados entre propostas concorrentes, observam que a grande maioria das idéias para o desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos borbulham a partir dos empregados da organização. Os gerentes médios não podem levar todas as idéias para aprovação e financiamento da alta direção e devem decidir quais das idéias que "borbulham" até eles vão apoiar e quais eles deixarão de lado. As decisões dos gerentes médios desempenham um papel crucial no processo de alocação de recursos, que, por sua vez, tem um efeito básico na definição e implementação da estratégia. Bower afirma que, em geral, as propostas passam por um processo formado por quatro componentes: definição a enunciação do problema ou idéia; ímpeto a determinação de se a proposta definida é viável e digna de apoio ou financiamento; contexto estrutural as forças organizacionais que influenciam os processos de definição e ímpeto; e medição a determinação do retorno sobre o investimento da proposta. This document is authorized for use only in 2014-06-02 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from June 2014 to December 2014. 304-P01 Os Processos de Definição e Implementação de Estratégias 4 O processo do ímpeto que ocorre durante o processo de alocação de recursos pode ser moldado por uma variedade de circunstâncias. Na tomada de suas decisões sobre quais propostas apoiar quando submetidas à alta direção, os gerentes médios aplicam certos critérios às propostas formais e informais que recebem. Alguns desses critérios vêm da alta direção na forma de estratégias intencionais e taxas de retorno mínimo sobre o investimento. Alguns critérios vêm da escolha de clientes feita pela organização, ou da pressão para satisfazer os acionistas e Wall Street. Outros, no entanto, são criados na própria camada de gerência média. Por exemplo, os gerentes médios na maioria das empresas ficam sob grande pressão para cumprir os orçamentos operacionais. Eles estão dispostos a apoiar idéias que ajudarão facilmente a atingir seus números, mas achariam difícil apoiar propostas que poderiam diminuir seus níveis de performance, mesmo que temporariamente. Similarmente, as próprias ambições de carreira dos gerentes médios exercem uma influência poderosa no modo como os recursos serão alocados. Apoiar uma proposta inovadora, porém arriscada, que acaba fracassando pode acabar com a carreira de um bom gerente. Muitos sistemas de recursos humanos são projetados para promover bons gerentes a cada dois anos. Como suas performances determinam a rapidez com que subirão de cargos na empresa, os gerentes médios sentem-se muito pressionados a atingir resultados dentro do período de tempo determinado pela trajetória de sua carreira e tomarão decisões de prioridade baseadas nesse critério. Bower escreve que o gerente não só coloca sua reputação de bom julgamento em risco, mas também é cuidadoso no cálculo dos custos e benefícios para ele próprio de tal comprometimento. Os gerentes tenderão a apoiar as propostas que certamente atingirão resultados dentro do período de tempo determinado pelos sistemas de promoção interna e, naturalmente, deixarão muitas vezes as idéias arriscadas fenecerem, sem investir nelas. Muitos fatores influenciam o modo pelo qual as decisões de alocação de recursos são realmente tomadas e elas são tomadas em todos os níveis da empresa, desde decisões de nível executivo de adquirir empresas e construir fábricas até decisões do pessoal de vendas de quais produtos apoiar e para quais clientes ligar. O diagrama abaixo mostra como o processo de alocação de recursos funciona como o portão pelo qual devem passar as entradas intencionais e emergentes para o processo de desenvolvimento de estratégia. Os que alocam recursos precisam triar as alternativas através de filtros como a cultura e capacitações da organização, as exigências dos clientes, a gestão de suas próprias carreiras, a pressão do mercado financeiro, os métodos de planejamento organizacional e a necessidade de atingir o resultado financeiro final. Uma vez tomadas as decisões de alocação de recursos, desenvolvem-se novos produtos, serviços e processos que definem a estratégia real implementada. Isso leva a resultados, que depois geram um melhor entendimento que realimenta o fluxo da estratégia intencional. Os resultados também criam novas crises e oportunidades não previstas, que realimentam o fluxo de estratégia emergente em um processo contínuo. Vista sob esse prisma, a divisão nas mentes de algumas pessoas de que as estratégias são primeiramente formuladas e depois implementadas é falsa. A formulação da estratégia intencional ou emergente ocorre no começo do processo e depois continua à medida que o processo de alocação de recursos define o que a empresa realmente faz. A estratégia nunca é estática cada decisão de alocação de recursos, por menor que seja, continuamente modela o que a empresa realmente faz, cria This document is authorized for use only in 2014-06-02 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from June 2014 to December 2014. Os Processos de Definição e Implementação de Estratégias 304-P01 5 uma nova série de oportunidades e gera novas contribuições intencionais e emergentes para o processo. Figura 1: Processos de Formulação e Implementação de Estratégia Implicações: A Mistura de Estratégias Intencionais e Emergentes Descrever a estratégia de uma empresa como emergente ou intencional não significa julgar a eficácia da estratégia ou da administração da empresa. Os tipos de estratégias explicados acima têm diferentes benefícios e inconvenientes, dependendo do ambiente da empresa. Em particular, Mintzberg e Waters indicam que uma tendência na direção de estratégias emergentes não significa que a administração ou a organização esteja despreparada. Estratégias emergentes implicam aprender o que funciona tomar uma ação por vez em busca de um padrão viável ou Filtros Processo de Alocação de Recursos: Decisões sobre o que fazer, o que não fazer e o que priorizar. Estratégia Pretendida: Projeto analítico seguido de implementação Estratégia Emergente: Resposta para oportunidades ecrises imprevistas Novos produtos, serviços, processos e aquisições Estratégia atual que é implementada Resultados Lo op de Fe ed ba ck Me lho r Co mp ree ns ão Loop de Feedback Novas crises e oportunidades This document is authorized for use only in 2014-06-02 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from June 2014 to December 2014. 304-P01 Os Processos de Definição e Implementação de Estratégias 6 consistente. É importante lembrar que estratégia emergente não significa o caos, mas, em essência, uma ordem não-premeditada. Empresas ou setores econômicos que se encontram em estágios iniciais de desenvolvimento tendem a ser dominados por forças emergentes. Muitas estratégias que são descritas após sua execução como intencionais eram, de fato, estratégias emergentes cujo sucesso foi mais tarde reconhecido e compreendido. Estas estratégias foram então formalizadas pela organização. Elementos emergentes no processo de desenvolvimento de estratégias podem ser considerados como um ciclo de realimentação para ajustar a direção da organização de forma contínua. A abertura para aceitar estratégias emergentes permite à administração agir antes que tudo seja completamente compreendido, isto é, reagir a uma realidade em constante evolução ao invés de se concentrar em uma fantasia estável. This document is authorized for use only in 2014-06-02 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from June 2014 to December 2014.
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