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Súmula 567 STJ

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Súmula 567-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Súmula 567-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
FURTO 
Alegação de crime impossível pela existência de sistema de vigilância por monitoramento 
eletrônico ou por segurança no interior de estabelecimento comercial 
 
Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por 
existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna 
impossível a configuração do crime de furto. 
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/02/2016. DJe 29/02/2016. 
 
Crime impossível 
Se o agente praticou uma conduta que é descrita na lei como crime, mas o meio que ele escolheu para 
praticar o delito é ineficaz, ele deverá responder pelo delito? 
Ex.: João, pretendendo matar Pedro, pega uma arma que viu na gaveta e efetua disparos contra a vítima; o 
que João não sabia é que a arma tinha balas de festim, razão pela qual Pedro não morreu. O agente 
responderá por tentativa de homicídio? 
 
Se o agente praticou uma conduta que é descrita na lei como crime, mas o objeto material (a pessoa ou a 
coisa sobre a qual recai a conduta) é inexistente, ele deverá responder pelo delito? 
Ex.: João pretende matar Pedro; ele avista seu inimigo deitado no sofá e, pensando que este estivesse 
dormindo, dispara diversos tiros nele; o que João não sabia é que Pedro havia morrido 15 minutos antes 
de parada cardíaca; João atirou, portanto, em um cadáver, em um corpo sem vida. Logo, não foram os 
tiros que mataram Pedro. O agente responderá por tentativa de homicídio? 
 
Teorias sobre o crime impossível 
Para discutir o tema, os estudiosos do Direito Penal desenvolveram algumas teorias tratando sobre o 
“crime impossível”. Vejamos: 
 
1) TEORIA SUBJETIVA 
Os que defendem a teoria subjetiva afirmam que não importa se o meio ou o objeto são absoluta ou 
relativamente ineficazes ou impróprios. Para que haja crime, basta que a pessoa tenha agido com vontade 
de praticar a infração penal. Tendo o agente agido com vontade, configura-se a tentativa de crime mesmo 
que o meio seja ineficaz ou o objeto seja impróprio. 
É chamada de subjetiva porque, para essa teoria, o que importa é o elemento subjetivo. 
Assim, o agente é punido pela sua intenção delituosa, mesmo que, no caso concreto, não tenha colocado 
nenhum bem em situação de perigo. 
 
2) TEORIAS OBJETIVAS 
Os que defendem essa teoria afirmam que não se pode analisar apenas o elemento subjetivo para saber se 
houve crime. É indispensável examinar se está presente o elemento objetivo. 
Diz-se que há elemento objetivo quando a tentativa tinha possibilidade de gerar perigo de lesão para o 
bem jurídico. 
Se a tentativa não gera perigo de lesão, ela é inidônea. 
 
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A inidoneidade pode ser: 
a) absoluta (aquela conduta jamais conseguiria fazer com que o crime se consumasse); ou 
b) relativa (a conduta poderia ter consumado o delito, o que somente não ocorreu em razão de 
circunstâncias estranhas à vontade do agente). 
 
A teoria objetiva se subdivide em: 
 
2.1) OBJETIVA PURA: para esta corrente, não haverá crime se a tentativa for inidônea (não importa se 
inidoneidade absoluta ou relativa). Enfim, em caso de inidoneidade, não interessa saber se ela é absoluta 
ou relativa, não haverá crime. 
 
2.2) OBJETIVA TEMPERADA: esta segunda corrente faz a seguinte distinção: 
 Se os meios ou objetos forem relativamente inidôneos, haverá crime tentado. 
 Se os meios ou objetos forem absolutamente inidôneos, haverá crime impossível. 
 
Qual foi a teoria adotada pelo Brasil? 
A teoria OBJETIVA TEMPERADA. Veja o que diz o art. 17 do CP: 
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade 
do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
 
Ineficácia absoluta do meio 
Ocorre quando o meio empregado jamais poderia levar à consumação do crime. Trata-se de um meio 
absolutamente ineficaz para aquele crime. 
Ex.: uma pessoa diz que vai fazer uma feitiçaria para que a outra morra. Não há crime de ameaça por 
absoluta ineficácia do meio. É crime impossível. 
Ex.2: tentar fazer uso de documento falso com uma falsificação muito grosseira. 
 
Impropriedade absoluta do objeto 
A palavra objeto, aqui, significa a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. 
Diz-se que há impropriedade absoluta do objeto quando ele não existe antes do início da execução ou lhe 
falta alguma qualidade imprescindível para configurar-se a infração. 
Ex.1: João quer matar Pedro, razão pela qual invade seu quarto e, pensando que a vítima está dormindo, 
nela desfere três tiros. Ocorre que Pedro não estava dormindo, mas sim morto, vítima de um ataque 
cardíaco. Dessa forma, João atirou em um morto. Logo, trata-se de crime impossível, porque o objeto era 
absolutamente inidôneo. 
Ex.2: a mulher, acreditando equivocadamente que está grávida, toma medicamento abortivo. 
 
Ineficácia ou impropriedade relativas = crime tentado 
Como no Brasil adotamos a teoria objetiva temperada, se a ineficácia do meio ou a impropriedade do 
objeto forem relativas, haverá crime tentado. 
 
Qual é a natureza jurídica do crime impossível? 
Trata-se de excludente de tipicidade. Nesse sentido: (Juiz Federal TRF1 2013 CESPE) O crime impossível 
constitui causa de exclusão da tipicidade (CERTO). 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João ingressa em um supermercado e, na seção de eletrônicos, subtrai para si um celular que estava na 
prateleira. Ele não percebeu, contudo, que acima deste setor havia uma câmera por meio da qual o 
segurança do estabelecimento monitorava os consumidores, tendo este percebido a conduta de João. 
Quando estava na saída do supermercado com o celular no bolso, João foi parado pelo segurança do 
 
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estabelecimento, que lhe deu voz de prisão e chamou a PM, que o levou até a Delegacia de Polícia. 
João foi denunciado pela prática de tentativa de furto. 
A defesa alegou a tese do crime impossível por ineficácia absoluta do meio: como existia uma câmera 
acima da prateleira, não haveria nenhuma chance de o réu conseguir furtar o objeto sem ser visto. O 
cometimento do crime seria impossível porque o meio por ele escolhido (furtar um celular que era vigiado 
por uma câmera) foi absolutamente ineficaz. 
 
A tese da defesa é aceita pela jurisprudência do STJ? O simples fato de o estabelecimento contar com 
sistema de segurança ou vigilância eletrônica (câmera) já é suficiente para caracterizar o crime 
impossível? 
NÃO. A existência de sistema de segurança ou de vigilância eletrônica não torna impossível, por si só, o 
crime de furto cometido no interior de estabelecimento comercial. 
No caso de furto praticado no interior de estabelecimento comercial (supermercado, p. ex.) equipado com 
câmeras e segurança, o STJ entende que, embora esses mecanismos de vigilância tenham por objetivo 
evitar a ocorrência de furtos, sua eficiência apenas MINIMIZA as perdas dos comerciantes, visto que não 
impedem, de modo absoluto (por completo), a ocorrência de furtos nestes locais. 
Existem muitas variáveis que podem fazer com que, mesmo havendo o equipamento, ainda assim o 
agente tenha êxito na conduta. Exs.: o equipamento pode falhar, o vigilante pode estar desatento e não 
ter visto a câmera no momento da subtração, o agente pode sair rapidamente da loja sem que haja tempo 
de ser parado etc. 
É certo que, na maioria dos casos, o agente não conseguirá consumar a subtração do produto por causa 
das câmeras; no entanto, sempre haverá o risco de que, mesmo com todos esses cuidados, o crime 
aconteça. 
Desse modo, concluindo: na hipótese aqui analisada, não podemos falar em ABSOLUTA ineficácia do meio. 
O que se tem, no caso, é a inidoneidade RELATIVA do meio. Em outras palavras,o meio escolhido pelo 
agente é relativamente ineficaz, visto que existe sim uma possibilidade (ainda que pequena) de o delito se 
consumar. 
Sendo assim, se a ineficácia do meio deu-se apenas de forma relativa, não é possível o reconhecimento do 
instituto do crime impossível previsto no art. 17 do CP. 
STJ. 3ª Seção. REsp 1.385.621-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/5/2015 (recurso 
repetitivo) (Info 563).

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