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1 BIORREFINARIA: CANA-DE-AÇÚCAR E DERIVADOS DA GLICOSE Aluno: Maycon Vinícius de Senna Ribeiro 1. Introdução 1.1. Histórico A origem das fermentações é atribuída à história da humanidade, talvez até remonte à pré-história. Sabe-se que os egípcios e os sumérios já utilizavam técnicas para transformar grãos estocados em álcool nos dias antigos. A maioria desses processos, incluindo processos de panificação, produção de iogurtes primitivos são referências antigas à palavra “fermentação”. Desde então, muitos outros subprodutos foram descobertos, adventos de atividade microbiológica [1]. Na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha necessitava sintetizar glicerol para produzir explosivos. Descobriu-se nesse período, que o glicerol é produzido na fermentação alcoólica, influenciado positivamente com a adição de bisulfito de sódio durante o processo. Assim, a Alemanha desenvolveu um scale-up de 1000 toneladas de glicerol por mês. Esses acontecimentos impulsionaram os processos fermentativos, assim como o estudo sobre as reações que produziriam produtos e subprodutos de interesse comercial [2]. 1.2. Derivados da glicose Carboidratos são, de longe, a classe mais importante de nutrientes a base de carbono para processos fermentativos. Basicamente todo carboidrato, ou seu composto relacionado, é fermentado por um microrganismo, evidenciando a grande diversidade biológica. Dentre essas moléculas está a glicose, composto no qual a maioria dos microrganismo utilizam como fonte de energia [3]. Figura 1 - Estrutura da Glicose. Existem pelo menos sete rotas metabólicas, variando de microrganismo pra microrganismo, em que são produzidos diversos metabólitos de interesse [3]. Metabólitos primários como ácido cítrico e a goma xantana são substâncias utilizadas na indústria alimentícia, e secundários como a penicilina e eritromicina são utilizados como fármacos antibióticos. Nesse sentido, a glicose e os seus precursores são de grande interesse comercial na produção de diversos compostos [1]. 2 2. Bioetanol a partir da cana-de-açúcar 2.1. A cana-de-açúcar A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) é uma planta tropical amplamente cultivada devido ao seu alto teor de sacarose [4]. De acordo com a Conab, as usinas brasileiras processaram mais de 602 milhões de toneladas de cana-de- açúcar na safra de 2012/2013, fornecendo cerca de 39 milhões de toneladas de açúcar e 24 bilhões de litros de etanol [5]. Na Figura 2 está apresentada a composição genérica da cana-de-açúcar. Figura 2 - Diagrama de composição da cana-de-açúcar [5]. No processamento da cana-de-açúcar uma parcela da solução rica em açúcares é direcionada para a fermentação alcoólica e a outra parte para a cristalização do açúcar. O bagaço restante é queimado nas caldeiras para a geração de vapor e eletricidade. 2.2. Processo O processamento da cana-de-açúcar resume-se em retirar da cana o seu caldo, este composto basicamente de açúcares e água; purifica-lo e dirigi-lo para a produção de açúcar (cristalização do caldo) e fermentação alcoólica. Na Figura 3 tem-se um diagrama de processo comum do processamento da cana-de- açúcar. No aspecto biotecnológico, o processo de maior interesse nas usinas é a fermentação alcoólica, realizada por cepas de Saccharomyces cerevisiae. 2.2.1. Fermentação Geralmente o processo de fermentação ocorre em reatores de batelada alimentada, chamados de dornas. O caldo é fermentado junto do reciclo de leveduras tratadas, produzindo etanol, subprodutos e gás carbônico. A fermentação é controlada entre 30 e 34 ºC produzindo um vinho de concentração relativamente baixa de álcool (em torno de 10 ºGL), devido a problemas relacionados a inibição pelo substrato. Esse vinho é destinado às torres de destilação, após ser centrifugado e as leveduras tratadas quimicamente [6]. 3 Figura 3 - Diagrama de processamento da cana-de-açúcar em uma usina sucroalcooleira [6]. 3. Produção de Ácido cítrico 3.1. Histórico A palavra ácido cítrico vem do latim citrus, um árvore no qual seu fruto parece com o limão. O ácido cítrico foi pela primeira vez isolado do suco de limão em 1784 por Carl Scheele, um químico sueco, que também isolou ácidos orgânicos como o ácido tartárico, málico e lático. O ácido cítrico é usado em diversos setores como o farmacêutico e na indústria de alimentos, atuando como um composto que dá sabor, estabilidade e acidez. Hoje, o ácido cítrico é produzido através do fungo Aspergillus niger em um meio rico em glicose, sais e baixo pH [7]. 3.2. Processo O processo de produção de ácido cítrico pode ser divido em três etapas, incluindo a preparação do inóculo no material, fermentação e recuperação do produto. Diversos tipos de fontes de glicose podem ser utilizadas na produção, como melaços dos mais variados tipos de plantas como inclusive a cana-de- açúcar e resíduos de agroindústrias. A produção em larga escala é realizada muito das vezes com retiradas de material para adequação do meio, adicionando nutrientes como fósforo, magnésio e nitrogênio para o desenvolvimento do micélio e consequente melhor produção do ácido [8]. 4 4. Produção de Goma xantana 4.1. Histórico A goma xantana é um polissacarídeo natural descoberto na década de 1950 pelo Northern Regional Research Laboratories do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. É um composto amplamente utilizado devido a suas propriedades que variam desde estabilidade à temperatura até a sua capacidade de mudar as propriedades reológicas de soluções [9]. 4.2. Processo A produção de goma xantana é realizada pela bactéria Xanthomonas campestres, tendo seu processo influenciado pelas condições do meio como temperatura, pH, oxigênio dissolvido, etc [9]. Um diagrama do processo de produção de goma xantana está apresentado na Figura 4. Figura 4 - Diagrama da produção de goma xantana [9]. 5. Produção de Penicilina A penicilina é um antibiótico produzido pelo fungo Penicillium chrysogenum, em um reator alimentado, como metabólito secundário. Sua produção pode ser dividida em dois estágios, em que o primeiro trata-se do crescimento da cultura e o segundo da produção propriamente dita, chamada também de idiofase. Durante a fase estacionária de crescimento celular, ácido feniloacético é alimentado ao reator, este precursor da penicilina [1]. Uma cultura de crescimento celular, rica em glicose irá promover o crescimento celular, porém o ácido não deve ser adicionado durante o crescimento, devido à toxicidade ao crescimento celular. Dessa forma, apenas com a cultura multiplicada o composto deve ser adicionado, promovendo a produção de metabólitos secundários. 5 6. Referências Bibliográficas [1] MCNEIL, Brian; HARVEY, Linda M. Pratical Fermentation Technology. Strathclyde University, UK: John Wiley & Sons, Ltd, 2008; [2] NAJAFPOUR, Ghasem D. Biochemical Engineering and Biotechnology. University of Mazandaran, Iran: Elsevier, 2007; [3] BAILEY, James E.; OLLIS, David F. Biochemical Engineering Fundamentals. 2. ed. Singapore: McGraw-Hill Book Company, 1986; [4] KIM, M.; DAY, D. F. Composition of sugar cane, energy cane, and sweet sorghum suitable for ethanol production at Louisiana sugar mills. J. Ind. Microbiol. Biotechnol. vol. 38, no. 7, pp. 803-807, 2011; [5] CANILHA, L. et al. Bioconversion of sugarcane biomass into ethanol: An overview about composition, pretreatment methods, detoxification of hydrolysates, enzymatic saccharification, and ethanol fermentation. J. Biomed. Biotechnol. vol. 2012, 2012; [6] SOUZA DIAS, M. O. de et al. Sugarcane processing for ethanol and sugar in Brazil. Environ. Dev. vol. 15, pp. 35-51, 2015; [7] KRISTIANSEN, B.; MATTEY, M.; LINDEN, J. Citric Acid Biotechnology. Philadelphia, USA: Taylor & Francis, 2002; [8] SOCCOL, C. R.; VANDENBERGHE, L. P. S.; RODIGUES, C. New Perspectives for Citric Acid Production and Application. Food Technol. Biotechnol., vol. 44, no. 2, pp. 141-149, 2006; [9] GARCÍA-OCHOA, F.; SANTOS, V. E.; CASAS, J. A.; GÓMEZ, E. Xantham gum: Production, recovery, and proprerties. Biotechnol. Adv. vol 18, no. 7, pp. 549-579, 2000.
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