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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS- SOCIOLOGIA JURÍDICA Alunos: Heloisa Helena Teixeira Pagy Marcus Vinícius de Freitas Resumo esquemático do capítulo 15, Cor e Dor Moral, sobre o racismo na ralé, da obra A Ralé Brasileira- Quem é e como vive, de Jessé de Souza COR E DOR MORAL, SOBRE O RACISMO NA RALÉ 1) Entre pessoas de toda cor Nesse tópico, o autor introduz a história de vida de Lídia, uma mulher negra, filha de mãe negra e pai branco, retrata suas impressões e sentimentos acerca da condição do indivíduo negro no Brasil, partindo de suas experiências pessoais. Refletindo sobre seus sofrimentos íntimos, Lídia é provocada pelo pesquisador a investigar a “origem dessa inarticulada vergonha de ser negra sobre a qual ainda hoje ela tenta impor seu próprio senso de dignidade e autoestima”. Ela relembra seus tempos de escola (onde a beleza era algo extremamente valorizado, especialmente entre as meninas),sua chegada à puberdade(quando passa a ser desejada, devido aos atrativos estéticos femininos ligados ao desejo erótico) e relembra da sua relação com seu pai Luiz ( o qual, de forma velada, era racista com as filhas). Lidia e suas irmãs travaram uma batalha constante contra o próprio corpo e cor durante toda a infância. 2) A comparação com os Estados Unidos e a dificuldade para designar o racismo brasileiro A história de Lídia foi montada com o objetivo de induzir o leitor a certa sensibilidade diante da dramaticidade da experiência viva do racismo, mantendo a ambiguidade inerente à vida. Neste tópico, o autor inicia sua investigação acerca do que é o racismo, o que é gênero e o que situação de classe, uma vez que esses fatores relacionam-se com a identidade e crenças do ser humano. Primeiramente, a origem da ideia de “racismo brasileiro” é buscada. Para isso, parte da noção de preconceito de marca, proposta por Oracy Nogueira, que foi elaborado em oposição ao conceito de “preconceito de origem”, próprio dos Estados Unidos.Contudo, a comparação com os norte- americanos é um empecilho à compreensão do racismo no Brasil. A comparação entre Brasil e Estados Unidos apresentou-se como resposta para a questão do fracasso histórico brasileiro, partindo da noção de “raça”.O caso norte- americano tem a função de oferecer um tipo mais puro do que seria o racismo, e é responsável pela dificuldade de designar o racismo brasileiro. 3)Definindo o racismo brasileiro Apesar dos Estados Unidos terem construído um modelo de segregação racial que nunca existiu no Brasil, observa-se naquele país outro tipo de discriminação racial,o qual é semelhante ao caso brasileiro: um racismo que só pode ser compreendido em termos de um “continuum racial” Partindo de uma perspectiva sociológica, a questão estética é menosprezada fazendo com que a compressão acerca do racismo seja fragmentária. O tema preterição estética, que é chave para a compreensão do “ continuum racial”, permanece secundarizado nos trabalhos sociológicos . Mas a despeito do conhecimento fragmentário, a estética é uma dimensão muito importante na ação humana e na dinâmica das instituições.Toda uma maquinaria é movida apenas para reunir nas mesmas pessoas aquilo que é considerado bom e belo pela sociedade. Desse modo,partindo de uma grande esforço humano, estabelece-se uma equação entre o ideal do que é bom e o ideal do que é belo. O belo é bom,e o bom é belo. O racismo presente no Brasil e também nos Estados Unidos se caracteriza por reagir movimentação do negro no espaço social gerando sofrimentos subjetivos toda vez que esse movimento contradiz a equação entre o bom e o belo . O racismo brasileiro impede o movimento do negro no espaço social; age reagindo a esse movimento se manifesta no momento em que o negro se move contra a doxa estética. Para se compreender de forma satisfatória o racismo, é necessário compreender qual a diferença entre quem sofre racismo a partir de uma condição de classe inferior e quem o sofre estando em situação mais favorável, também o que difere da mulher para o homem. A mulher é mais radicalmente afetada se comparada ao homem, uma vez que o critério estético de avaliação social pesa mais significativamente sobre ela. Já a relação entre racismo e situação de classe pode ser verificada no modo como a classe social de uma pessoa é determinante na aquisição de autoconfiança, autoestima e autorrespeito. Em relação ao racismo e classe social, racismo que a “ralé estrutural” sofre implica sofrimentos subjetivos mais radicais se comprados ao sofrimento dos negros de classe média.Essas pessoas têm menores chances de superar o racismo, de sustentar uma autorrelação prática positiva a despeito da preterição estética. Por fim, resta investigar o que motiva certos exercícios de discriminação; porque o comportamento ostensivamente racista ocorre. A despeito de haver várias razões, a maioria possui uma característica comum: o esforço para suprir uma carência emocional através do racismo. Tais carências podem tem várias origens, como a busca no orgulho racial como fonte substitutiva de autoafimação. De modo semelhante há o negro racista, que buscando negar sua condição de negro, projeta o que odeia em si mesmo em uma figura frágil o bastante para que se possa exercer sobre ela esse ódio. 4) A insistência no elogio erótico Uma das ideologias mais nocivas à compreensão sóbria do dilema do racismo no Brasil é a mítica sobre o erotismo atribuído ao negro.. A oposição entre natureza e cultura e invocada e analisada em dois eixos: “eixo normativo” e o “eixo erótico”. No “eixo normativo”, o negro e a mulher são associados à natureza e, por conseguinte, postos em posição inferior na hierarquia natureza/cultura. No “eixo erótico” as coisas se invertem: ali a ligação do negro com a natureza o dota com maiores atributos sexuais. Essa divisão dos dois eixos trata-se de uma percepção fragmentária .Os “elementos de prestígio” sexual do negro devem ser compreendidos em relação de contiguidade, e não de oposição ao chamado “eixo normativo”. 5) Questão racial, a reformulação multiculturalista do mito da brasilidade e a sua aliança liberal com o economicismo liberal Mito da brasilidade: Interpretação vinculada à necessidade de criação e sustentação de uma identidade nacional brasileira, traduzida pela noção de cordialidade do povo brasileiro. O mito da brasilidade entravou por muito tempo o reconhecimento do racismo no Brasil.Com o aumento do número de negros integrados à sociedade, em condições de se organizarem politicamente, a ideologia da cordialidade foi superada no âmbito do debate político. O multiculturalismo vem ganhando espaço no debate sobre as questões sociais brasileiras. O mito da brasilidade tende a assumir o tema do racismo em uma nova formula mistificadora., com a substituição, ou, no mínimo, alternância do “mulato” pelo “negro marginalizado” como emblema da fantasia compensatória do povo brasileiro. Da unidade integradora do mulato às diferentes manifestações de uma brasilidade multiforme que povoaria as periferias e os rincões do Brasil, chega-se ao multiculturalismo. É de fundamental importância para os negros a adesão de pautas afins ao multiculturalismo. Entretanto, estes esforços não devem se alinham com o multiculturalismo liberal, que ignora a dimensão não econômica da desigualdade.
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