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Antropologia e cultura brasileira unid II

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Unidade II
5 A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Na primeira unidade apresentamos a Antropologia e suas escolas, bem como a cultura como objeto 
desta ciência.
Na segunda unidade, trataremos da formação da sociedade brasileira e da identidade cultural do 
nosso povo a partir das análises de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro. Mostrando 
como a Antropologia elaborada aqui percebe o surgimento do povo brasileiro e como resultou em nossa 
identidade cultural. Finalizando a unidade, com apresentação das diversas categorias culturais como: 
popular, erudita e de massa.
5.1 Histórico da formação da sociedade brasileira
Para falar do povo brasileiro citarei alguns dos grandes autores da história das ciências sociais. Entre 
eles, destacamos principalmente Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro.
A compreensão da alteridade é dependente do olhar que daremos ao “outro”, como poderá ser percebido 
ao lermos sobre os intelectuais citados acima. Pois poderá perceber como cada um analisa as relações sociais, 
como percebem a estrutura de classe, a relação da raça com as demais dimensões das relações de trabalho 
tanto no período colonial como no modo de produção capitalista.
Vamos conhecer um novo conceito, agora, que é muito utilizado em Antropologia: o de identidade. Porém, não 
estamos falando daquele documento chamado RG nem dos traços marcantes da personalidade de uma pessoa.
Identidade, em Antropologia, é um conceito interligado a outros, como grupo social e cultura. A 
identidade dos sujeitos se forma a partir das condições históricas e culturais em que vivem – condições 
que não escolheram, pois ao nascer tudo já estava pronto, então se deparam com um grupo familiar e 
social, com uma língua usada por todos e com um conjunto de regras, hábitos e tradições utilizadas. A 
sociedade e a cultura delimitam a nossa vida. Porém, chega um momento da vida em que a pessoa tem 
a possibilidade de negociar e alterar essas limitações, já que a cultura é dinâmica. Assim, a constituição 
das identidades é vista como processos de identificação: no cotidiano, há situações em que precisamos 
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
tomar decisões e escolhas quanto à conduta que vamos ter e os valores que nos cercam, tanto no plano 
pessoal quanto no social.
“Nós e os outros, os semelhantes e os diferentes: as noções que construímos socialmente de igualdade 
e diferença são a moeda do jogo de construção das identidades”. (KEMP, 2003, p. 66). É a cultura que nos 
dá o referencial para desenvolver os papéis sociais.
A Antropologia busca conhecer “o incessante movimento de diálogo entre os símbolos que fazem 
parte da cultura dos diferentes sujeitos” (KEMP, 2003, p. 66). Assim sendo, podemos pensar sobre as várias 
identidades que utilizamos para cada situação social, levando em consideração os fatores que interferem 
nesse processo: a idade, a participação nos grupos, a atuação de papéis socialmente reconhecidos. 
Por exemplo: hippie, rapper, homossexual, careca, compatriota, estrangeiro, negro, oriental, índio. A 
rotulação social faz parte da forma de categorizar as identidades culturais na nossa sociedade.
São esses os fatores que fundamentam a identidade que cada sujeito se atribui e a que os outros 
reconhecem nas pessoas. Por isso, podemos possuir várias identidades como: nacional, regional, de 
classe, de grupo, de profissional, de gênero (feminino/masculino) etc.
Segundo Alves e Barros (2007), no caso do Brasil, já que houve um período referente a um processo de 
colonização, a questão da raça se tornou um adjetivo que acaba por dar significado a nossa identidade, 
como por exemplo: “trabalhadores negros”, “índios”, “operários italianos”, “alemães”, “imigrantes brancos”. 
Essas raças se tornaram adjetivo que acabaram dando à identidade de trabalhador uma singularidade, 
de forma que passam a ser reproduzidas nas relações sociais de trabalho.
Nesse sentido, o discurso da Antropologia aqui tem o intuito de levá-lo a perceber que as desigualdades 
sociais são históricas e que a naturalização da pobreza passa por uma falta de postura crítica quanto à 
vida desses pobres, dos seus direitos como cidadão brasileiro.
Já que a constituição de identidades é decorrente do jogo simbólico, como a forma de apreensão do 
mundo, preste atenção na explicação de Kênia Kemp (2003, p. 83):
Manipulamos socialmente nossa identidade, e também a dos outros, para 
demarcar lugares. Numa sociedade com uma hierarquia complexa como a nossa, 
as categorias sociais movem-se o tempo todo – em certos contextos, nossa 
identidade nos faz ser respeitados e, em outros, sofremos preconceito. A partir 
disso, elegemos os que consideramos diferentes simbolicamente, porém iguais 
em direitos e posição social e aqueles que consideramos iguais simbolicamente, 
porém desiguais na posição que ocupam em relação à nossa.
 Lembrete
A cultura é percebida como um sistema de símbolos e significados 
partilhados pelos membros dessa cultura que sabem as regras existentes 
nas relações sociais e modos de comportamento.
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Agora vamos entender como se formou a sociedade e a cultura brasileira?
A história do Brasil e do povo brasileiro coloca sempre os portugueses como a matriz de nossa etnia3. 
Porém, como já foi falado, os europeus – em especial, neste caso, os portugueses – vinham para os 
novos continentes para descobrir as características culturais dos povos que ali habitavam com fins de 
exploração. Assim, os europeus elaboraram versões da história, de suas colonizações segundo um olhar 
etnocêntrico.
 Lembrete
Uma posição etnocentrista é quando consideramos a nossa cultura 
como a melhor e analisamos o outro, nesse caso, o indígena, a partir de 
nossos valores e conhecimentos.
Porém, a Antropologia, aqui, tem como objetivo mostrar este processo, de constituição do povo 
brasileiro, de outra perspectiva, buscando, a partir de autores brasileiros, como eles analisaram a nossa 
origem, como se forma nossa identidade nacional, já que a identidade não vem pronta: pelo contrário, 
ela é resultado de uma construção contínua. Existem interesses de “legitimação do próprio grupo, ou 
interesses em retirar a legitimidade do outro” (KEMP, 2003, p. 83). Existe uma relação de poder.
 Lembrete
O povo que vivia no Brasil antes da colonização tinha seus costumes, 
hábitos, forma de se comportar, linguagem, conhecimento e religião, muito 
diferente do que temos hoje. A cultura deles era outra.
Figura 8 – Índios adaptados à cultura brasileira contemporânea
3 Significado de Etnia: Grupo social, pessoas que compartilham cultura, origens e história. Povo, raça”. Disponível 
em: http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=etnia&id=5406. Acesso em: 01 abr. 2011.
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Os povos indígenas que habitavam as terras brasileiras antes do encontro com os europeus eram 
povos autóctones4, Isto é, havia povos, tribos diferentes entre si que viviam aqui, sendo os mesmos os 
mais antigos deste território.
Estimativas demográficas apontam que, por volta de 1500, quando 
da chegada de Pedro Álvares Cabral à terra hoje conhecida como Brasil, 
essa região era habitada pelo menos por 5 milhões de índios. Hoje, essa 
população está reduzida a pouco mais de 700.000 índios em todo o Brasil, 
segundo dados de 2001do IBGE. A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e a 
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) trabalham com dados ainda muito 
inferiores: pouco mais de 300.000 índios (...) distribuídos em 3.225 aldeias, 
pertencentes a 291 etnias e falantes de 180 línguas divididas por 35 grupos 
linguísticos (FUNASA, Relatório DESAI, 2002, p. 3). Dos 374.123 indígenas 
atendidos pela FUNASA, 192.773 são homens e 181.350 são mulheres. 
Ainda segundo os dados da FUNASA, a população indígena está dispersa 
por todo o território brasileiro, sendo que na região Norte concentra-se o 
maior contingente populacional indígena, com 49%, e na região Sudeste 
está o menor contingente populacional indígena do país, com apenas 2%. 
(BANIWA, 2006, p. 27-28).
Se havia 5 milhões de índios e atualmente a população é pouco maior do que 700.000, é porque 
muita tragédia ocorreu na vida destes, com a colonização: escravidão, guerras, doenças e massacres. 
Segundo Darcy Ribeiro (apud MARCONI; PRESOTTO, 1998), em 1900 havia 230 grupos tribais, que foram 
reduzidos, em 1957, a apenas 43. Desapareceram 187 grupos indígenas do nosso território.
Muito desses habitantes eram nômades, isto é, eram pessoas que não ficavam em um lugar por muito tempo. 
Mudavam em busca de alimento. Além disso, viviam de caça, da pesca e coletavam alimentos da floresta e, por 
isso mesmo, havia uma grande disputa por território entre os povos que possuíam abundância de recursos.
Índios dominadores e bons guerreiros, que falavam a língua tupi, instalaram-se pelo território brasileiro. 
Eles eram mais corajosos e diversificados em sua cultura que os demais. Desenvolveram muitos nomes para 
as coisas, objetos, animais e plantas. O que os diferenciava era o fato destes serem os primeiros a realizar a 
produção agrícola, isto é, domesticaram plantas e raízes, “como a mandioca, o milho, a batata-doce, o cará, 
o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá, cuias e cabaças, as pimentas, o 
abacaxi, o mamão, a erva-mate, o guaraná, entre muitas outras plantas” (RIBEIRO, 1995, p. 28), o que lhes 
permitiu deixar de ser nômades, podendo se estabelecer em determinado território e formar as aldeias.
Os grupos indígenas eram diferentes, tinham uma ampla diversidade linguística e de origem, mas 
também possuíam uma série de características comuns. Cada um deles tinha a sua casa, tinha sua roça. A 
divisão de terras era feita com base em guerras entre povos, em laços de parentesco ou clãs (famílias).
4 Significado de Autóctone: próprio do lugar, que nasceu naquele lugar e guarda dentro de si costumes, cultura e 
jeitos dos costumes daquele povo que ali nasceu. Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?pal
avra=aut%F3ctone&id=18327. Acesso em: 01 abr. 2011
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No mapa abaixo apresento as quantidades de línguas indígenas faladas no Brasil, para que você 
perceba a diversidade cultural indígena presente em nosso país:
Figura 9 – Mapa das línguas indígenas faladas atualmente no Brasil
Segundo Ribeiro (1995), a autoridade dentro de um grupo indígena é exercida pelo chefe, geralmente 
o representante mais velho da tribo, ligada mais diretamente às tradições da cultura e à experiência 
do povo. Ele é uma espécie de mediador. Dentro das sociedades indígenas existem instituições e 
organizações culturais que se prestam à manutenção da tradição e que funcionam à base do exercício 
de poder. Alguns ritos de passagem envolvem mortificações e experiências extremamente dolorosas 
e marcantes. Ritos de passagem, rituais religiosos e papéis sociais bem definidos. A força da estrutura 
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e poder das regras sociais são tão fortes que, em alguns grupos, as mulheres chegam a passar a vida 
inteira em entrar em determinado lugar da aldeia, reservado aos homens, sem nem saber o que se 
passa lá dentro.
 Lembrete
Em nossos dias, estas mesmas divisões e instituições também fazem 
parte de nossas vidas. Também encontramos uma série de órgãos sociais 
instituídos e que servem para a manutenção da ordem e o cumprimento 
das regras culturais. É importante sabermos sobre as instituições sociais 
e, principalmente, sermos críticos quanto aos valores e regras que essas 
buscam manter, já que as mesmas influenciam diretamente à nossa vida 
cotidiana.
Os índios eram povos praticamente autossuficientes. Eles se bastavam a si mesmos. Um índio sabia, 
antigamente, produzir tudo o que precisaria ao longo da sua vida. Suas ferramentas, suas armas, sua 
casa, sua roça, o plantio e a colheita, seus instrumentos de trabalho, sua canoa. Esteira, rede onde 
dormia, além de identificar os elementos do seu ambiente que poderiam servir para alimentação ou 
como medicamento. O conceito utilizado aqui é o de etnia, isto é, grupo com as mesmas características 
biológicas, físicas e culturais, valores, instituições etc.
 Lembrete
Algo que talvez você já tenha se perguntado algumas vezes: “Por que o 
índio é chamado de índio?”.
Pois bem, índio ou indígena é aquele que é nativo, natural de um lugar. 
Os índios encontrados aqui no Brasil pelos portugueses, por exemplo, são 
nativos da América.
A partir da colonização do nosso país, em 1500, segundo Cristina Costa (2005), a cultura que 
será imposta a esse povo que aqui vivia será a dos europeus, trazida principalmente pelos religiosos, 
particularmente pelos jesuítas, que mantiveram durante três séculos o domínio da educação, do 
pensamento culto e da produção artística desenvolvida em nosso território. Esses religiosos elegeram 
o tupi como a “língua geral”, popular, e o latim e o português como as línguas cultas. Além disso, 
combinaram a exploração do trabalho indígena com o ensino religioso. Desta forma, aos poucos, 
destruíram a cultura nativa. A população indígena se tornou escrava e se distinguia das camadas cultas, 
que se dedicavam ao saber. Essa distinção social e a alienação quanto aos problemas reais da colônia 
marcaram profundamente a área intelectual que se formou no Brasil.
O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza 
que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. A mesma, em suma, 
Connection
Realce
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que se tinha acostumado a lançar na Índia com as especiarias e os metais 
preciosos. Os lucros que proporcionou de início, o esforço de plantar a cana e 
fabricar o açúcar para mercados europeus, compensavam abundantemente 
esse esforço – efetuado, de resto, com as mãos e os pés dos negros (...).” 
(HOLANDA, 1995, p. 49).
A colonização de um povo era uma iniciativa bastante grande e com alto custo. Desta forma, a coroa 
portuguesa não estava interessada em investir na colonização do Brasil, já que estava envolvida com a 
expansão e o mercado de especiarias no oriente. Em um primeiro momento, averiguou e colocou alguns 
representantes na terra, a partir de várias expedições exploratórias com o objetivo de mapear e trazer 
informações para a metrópole. Porém, com a crise do comércio na Europa da época, Portugal volta-se 
para a colônia em busca de pedras preciosas e outras fontes de lucro.
Os portugueses (HOLANDA, 1995) tinham grande conhecimento sobre navegação e, a partir da 
iniciativa política e econômica, chegaram e descobriram estas terras, às quais, de início, não deram 
muito valor. No entanto, depois da organização de expedições para a exploração e instalação de missões 
jesuíticas no Brasil, vamos ter os relatos feitos pelos padres e pelos exploradores sobre as riquezas desta 
terra– e isso era o que interessava aos portugueses. Os índios adoeceram, com as doenças trazidas pelos 
portugueses, e milhares morreram indefesos. Houve também o papel da religião que, nesse processo, 
buscava ampliar os domínios da Igreja. Por isso, foram enviados muitos religiosos para catequizar os 
índios, o que levou a uma grande quantidade de mortes de índios a partir da transmissão de doenças e 
da contaminação das águas.
Os índios viviam aqui muito antes dos portugueses desembarcarem no Brasil. Eles tinham sua 
organização social e uma cultura com vários elementos simbólicos e os mesmos foram deixados de 
lado, negligenciados.
A busca pela riqueza trouxe sérias consequências para a terra do Brasil, já que foi castigada pelos 
vastos campos latifundiários (grandes porções de terras) de monocultura (a plantação de uma única 
espécie) e pastagens de animais. A monocultura aconteceu porque muitos produtos que não eram 
produzidos na Europa passaram a ser produzidos aqui, devido ao clima quente e por estarem em alta 
no mercado europeu. A Europa não estava industrializada na época dos descobrimentos e produzia os 
bens agrários para o próprio consumo, como na produção da cana-de-açúcar para exportação. Essa 
colonização será marcada pela escravidão, em um primeiro momento os indígenas; em um segundo, os 
negros africanos. (HOLANDA, 1995, p. 47-49).
Segundo Cristina Costa (2005), é a partir do século XVIII, por causa da mineração, que houve 
transformações sociais. Minas Gerais passa pela urbanização, contando com atividades comerciais 
e para exportação, mudando a organização social colonial, passando a ser dividida por dois grupos: 
os donos de terra e administradores e os escravos. Novas profissões começam a surgir: comerciantes, 
criadores de animais, artífices, funcionários administrativos para controlar a mineração e a exportação. 
Nesse momento, a população livre é maior do que a escrava e essa camada intermediária precisa de uma 
cultura que seja diferente da do escravo inculto e dedicado ao trabalho braçal. Será essa camada, as dos 
homens livres e sem propriedade, que irá consumir a erudição e a cultura europeia, o conhecimento 
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como forma de ostentação. Em um primeiro momento, os jesuítas os ensinarão a cultura literária e a 
retórica. Após a expulsão destes do Brasil, as escolas régias se encarregarão do ensino.
Há mudanças com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, já que, conjuntamente com 
esses, vem a cultura portuguesa, trazendo modernidade. Criam a Academia de Belas-Artes, fundam 
a imprensa, lançam um jornal, instalam a primeira biblioteca e surgem os primeiros cursos superiores. 
(COSTA, 2005).
Quanto à produção intelectual, Cristina Costa (2005) conta que destinava-se a descrever a 
colônia a partir de estudos naturalistas, com o nome de História Natural, e passaram a recrutar da 
classe intermediária intelectuais que estivessem dispostos a servir ao rei e às classes dominantes. 
Continuava a ser uma produção alienada, ditada pelos europeus, com o objetivo de organizar o 
saber descritivo, funcional e de ostentação. Havia um grupo que possuía conhecimento jurídico e 
descritivo, mas sem pensamento crítico. Era uma formação filosófica e humanística desempenhada 
por professores, jornalistas e funcionários públicos que eram dependentes da corte e dos donos de 
terras.
 Lembrete
Nessa época, ter um diploma era a mesma coisa que ter uma propriedade 
de terra.
Somente após 1870 é que vão haver mudanças na sociedade brasileira. Com o crescimento da 
população, com a expansão da produção cafeeira, tem-se a implantação das ferrovias e aumenta 
a pressão das camadas médias urbanas para que possam participar mais da política do país. Essas 
mudanças vão repercutir na literatura e na crítica social nas obras de:
Aluísio Azevedo, no Maranhão, Adolfo Caminha, no Ceará, Tobias Barreto, 
em Pernambuco, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, no Rio de Janeiro (...) 
Machado de Assis e Castro Alves, Sílvio Romero, desenvolvendo a crítica 
literária, e Euclides da Cunha, que traça em Os Sertões uma elaborada 
análise da rebelião camponesa de Canudos, explicitando o conflito de uma 
sociedade dividida em dois mundos aparentemente irreconciliáveis: o das 
cidades litorâneas, receptivas à influencia externa, e o do interior, agrário e 
tradicional. (COSTA, 2005, p. 149).
Ao mesmo tempo, tem início o processo de desenvolvimento científico, com a criação da Escola 
Politécnica de Ouro Preto, em 1874, e a Escola de Engenharia de São Paulo, em 1893 (COSTA, 2005). No 
início do século XX, tem-se a criação dos institutos Biológico e Butantã, em São Paulo; o Agronômico, 
em Campinas; e o de Patologia Experimental, em Belém.
O modo de pensar foi revolucionado pela atividade comercial, exportação e pela expansão 
do modo de produção capitalista do início do século XX, com a formação da burguesia nacional. 
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Essa nova classe precisava de um pensamento mais racional e estruturado para transformar o país 
de colônia em uma nação capitalista. Para tal, se faz necessário chegar às camadas populares e 
desenvolver novos interesses de defender o comércio e a produção nacional. Para tal, rompe-se 
com passado e buscam “acabar com o analfabetismo, homogeneizar os valores e o discurso, criar 
um sentimento de patriotismo que levasse a mudanças reais na estrutura social.” (COSTA, 2005, p. 
149).
Ao término da Primeira Guerra Mundial, enquanto a crise se instala na Europa, aqui no 
Brasil a burguesia cresce econômica e politicamente. Além disso, o nacionalismo aflora na 
sociedade brasileira, buscando unir a nação. Este nacionalismo se apresentou no desejo de se 
conhecer o povo brasileiro, rejeitando os traços do colonialismo de atraso e de importação 
cultural. Esse movimento no início do século XX reorientou o pensamento social, refletindo 
em estudos históricos de cunho literário ou sociológico. Assim, a Sociologia e a Antropologia, 
como conhecimentos científicos, só surgem no século XX, na década de 1930, com a criação 
da Universidade de São Paulo (USP) e com a produção de intelectuais como Caio Prado Júnior, 
Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre.
Assim, na década de 1930, as preocupações dos intelectuais serão (COSTA, 2005):
• A descoberta do Brasil como realmente é (e não o que foi contado pela visão etnocêntrica 
europeia).
• A busca pelo sentimento de nacionalismo para unir as camadas sociais (levando em conta que 
este pensamento foi inspirador para a política e a economia como meta de proteção ao comércio 
e à indústria brasileira).
• Valorização da ciência, para explicar a nação.
• Um grande desejo de modernizar toda estrutura social da nossa sociedade.
Neste momento, surge a chamada geração de 1930, representada por Caio Prado Júnior e Fernando 
de Azevedo, na Sociologia; e Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, na Antropologia.
Os estudos clássicos de Gilberto Freyre e de Sérgio Buarque de Holanda contribuíram para construir 
um olhar antropológico sobre a formação da sociedade brasileira. Esses estudos tiveram como principal 
proposta entender as características presentes na sociedade brasileira, considerando seu passado.
Freyre dedicou-se à interpretação do nordeste açucareiro em obras como Casa-grande e senzala 
e Sobrados e mucambos, enquanto Sérgio Buarque de Holanda priorizou em suas análises o processo 
colonizador em sua clássica obra Raízes do Brasil. A publicação dessas obras aconteceu na década de 
1930, período de intensas transformações no país, marcado pela expansão das atividades urbanas em 
relação ao processo de decadênciadas áreas rurais.
A partir de agora vamos ver como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro 
pensaram o povo brasileiro.
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
6 UMA ANTROPOLOGIA DO BRASIL: OS PILARES
6.1 A perspectiva de Gilberto Freyre em Casa-grande e senzala
O primeiro livro de Gilberto Freyre foi Casa-grande e senzala, e é a partir deste autor que teremos a 
introdução da Antropologia moderna no Brasil.
Nesta obra, ele descreve a vida cotidiana nos engenhos e como acontece a formação da economia 
brasileira a partir da escravidão.
Ao elaborar sua pesquisa a partir do cotidiano, coloca esse elemento como foco de importância 
para o estudo de Antropologia e Sociologia, e esse elemento é adotado, posteriormente, por outros 
pesquisadores.
Seu livro é publicado em 1936 e, nesse momento, Gilberto Freyre representa o pensamento dessa 
época em Pernambuco.
Teve como influência intelectual o antropólogo culturalista Franz Boas, devido a sua pós-graduação 
em Ciências políticas, jurídicas e sociais, realizado nos EUA, na Universidade de Columbia. O seu tema de 
mestrado foi sobre “A vida social do Brasil no século XIX” e, deste, resultou sua obra clássica Casa-grande 
e senzala.
A forma de pesquisar do culturalismo americano vai fundamentar o antropólogo Gilberto Freyre, 
em Casa-grande e senzala, resultando em uma representação da Antropologia brasileira nesta linha de 
pesquisa.
Quadro 11 – Principais obras publicadas de Gilberto Freyre. Fonte: Shvoong.
Ano de publicação Título
1933 Casa-grande e senzala
1935 Sobrado e mucambos
1940 O mundo que o português criou
1947 Interpretação do Brasil
1950 Quase política
1962 Arte, ciência e trópico
1979 Heróis e vilões no romance brasileiro
 Lembrete
O culturalismo norte-americano, também chamado de difusionismo, é a 
linha de Franz Boas. Nesta forma de pesquisa, o antropólogo precisa buscar 
a particularidade de cada sociedade, precisa reconstruir a história dos povos 
para entender a sua cultura, entendendo que cada cultura é única.
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Nesse livro, Casa-grande e senzala, você notará que a cultura brasileira pode ser apreendida pela 
observação do universo cotidiano a partir dos detalhes das práticas sociais, a observação do micro.
Freyre busca aquilo que é específico da nossa cultura e muitas vezes sua explicação se embasa nos 
aspectos geográficos, em outro momento pela “raça” e pela personalidade dos povos que formam a 
cultura brasileira, como também, a partir da língua utilizada. Esses aspectos são os que o levarão a 
formar o conceito de cultura brasileira. E são justamente esses aspectos que fazem parte da forma de se 
fazer pesquisa no culturalismo americano de Franz Boas.
Segundo Gilberto Velho (2008), Gilberto Freyre se destaca, nesse momento, devido à ousadia na 
forma como vai interpretar o Brasil e os brasileiros – a partir das características geográficas, das origens 
étnicas ou da raça, como ele usa em seu texto, buscando descrever a formação do nosso povo.
Ao escrever Casa-grande e senzala, Gilberto Freyre deu início às análises da cultura brasileira de uma 
maneira bastante original, na medida em que viu com otimismo a miscigenação racial e as particularidades 
das relações sociais no Brasil. De maneira diferente dos estudos anteriores desenvolvidos no Brasil, 
Freyre busca compreender a relação entre raça e cultura, demonstrando que a questão genética não está 
acima da dimensão cultural, ou seja, a existência dos problemas sociais não estaria, necessariamente, 
relacionada ao caráter mestiço do povo brasileiro, demonstrando, assim, pensamento contrário ao 
determinismo biológico.
 Lembrete
Determinismo biológico afirma que a cultura é resultado das 
características genéticas que são transmitidas pela hereditariedade.
Freyre (1997) diz que a sociedade brasileira vai se organizar tanto economicamente como enquanto 
civilização somente depois de quase um século do contato dos portugueses com outros povos. Pois Portugal, 
em seu momento mercantilista, realizava suas relações comerciais com a Índia e com a África. Com o Brasil, a 
relação será outra: a da produção agrícola. E será justamente esta que organizará a sociedade brasileira colonial 
em base sólida e favorável, como você pode notar na citação retirada do livro Casa-grande e senzala, de 
Freyre, a caracterização da base da sociedade brasileira (1997, p. 4): “a agricultura, as condições, a estabilidade 
patriarcal da família, a regularidade do trabalho por meio da escravidão, a união do português com a mulher 
índia, incorporada assim à cultura econômica e social do invasor”.
Percebe-se que a sociedade que toma forma aqui é agrária em sua estrutura, com a mão de obra 
escrava, a técnica de exploração econômica, híbrida5 dos índios, em um primeiro momento, depois de 
negros.
No ponto de vista de Freyre (1997), as pessoas pertencentes a essa sociedade se preocupavam menos 
com a questão da raça, em especial os portugueses, do que a esfera religiosa, que se desdobrava em uma 
5 Híbrida significa aquele que se formou da relação do português com o índio, com o negro, isto é, o mestiço.
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fiscalização social e política. Isto não é demonstrado a partir de ações oficiais, mas em ações particulares 
com agressões físicas, castigos nos quais, muitas vezes, ocorria a morte da pessoa vitimada. Porém, tudo 
isso é dependente da organização política, econômica e jurídica que o povo português implantou na 
sociedade brasileira. Assim, a sociedade estava hierarquizada6 em famílias proprietárias e autônomas, os 
senhores de engenho e o capelão (conhecido hoje como padre, o representante da religião) dentro da 
casa-grande; e os demais (índios ou negros), os que obedeciam a suas ordens, fora. São esses senhores, 
os donos de terras e de escravos, que defendiam a colônia politicamente; bem como seus filhos doutores, 
estudados, que defendiam os escravos dos abusos cometidos tanto por Portugal quanto pela Igreja.
Figura 10 – Construções típicas do período colonial, em Paraty, RJ
Figura 11 – Porta da casa dos escravos, Ilha de Gorée, Senegal
Segundo Freyre (1997), a aceitabilidade dos portugueses quanto à colonização híbrida, o resultado 
da mistura entre eles e os índios e negros, era consequência do seu passado étnico e cultural, já que os 
mesmos receberam influências sexuais, alimentícias e religiosas nas suas relações com a África. A partir 
disto, já havia o mestiço, da relação do português com o negro, na própria África.
6 Hierarquia é a ordem ou a organização de acordo com a ordem de importância.
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O pensador demonstra a influência dos africanos sobre os europeus de uma forma poética e 
romântica. Observe:
A influência africana fervendo sob a europeia e dando um acre requeime à vida 
sexual, à alimentação, à religião; o sangue mouro ou negro correndo por uma 
grande população brancarana quando não predominando em regiões ainda 
hoje de gente escura; o ar da África, um ar quente, oleoso, amolecendo nas 
instituições e nas formas de cultura as durezas germânicas; corrompendo a 
rigidez moral e doutrinária da Igreja medieval; tirando os ossos ao Cristianismo, 
ao feudalismo, à arquitetura gótica, à disciplina carônica, ao direito visigótico, 
ao latim, ao próprio caráter do povo. A Europa reinando, mas sem governar;governado antes a África. (FREYRE, 1997, p. 5).
 Lembrete
O livro Casa-grande e senzala foi publicado em 1936. Assim, seu 
conteúdo representa o pensamento daquela época.
Perceba, na citação acima, a influência da escola culturalista norte-americana, de Franz Boas, no 
pensamento de Gilberto Freyre, já que o mesmo afirma que as características climáticas da África 
levaram a mudanças das instituições e da cultura europeias.
Por mais que Freyre (1997) demonstre a existência de uma forte ligação sexual entre os portugueses 
e seus escravos, que resultou na miscigenação e no encontro cultural, ele não deixa de demonstrar, 
também, que a atitude do português era a do colonizador sobre o trabalho agrícola, industrial, na forma 
da escravidão ou da semiescravidão dos africanos e indígenas. Assim, segundo Freyre (1997), esse contato 
cultural transformou o português, levando-o a não se importar com a raça. A partir disto, os traços de 
comportamento do português são caracterizados como “vagos e imprecisos”. Isto é, ao mesmo tempo 
que são utilitaristas, caem em sonho, saem da alegria para tristeza, alternando o amor com a aventura. 
Essas contradições, para Freyre (1997), são resultantes do encontro entre as duas culturas, a europeia e 
a africana, repercutindo na vida, na economia, na moral, na arte do povo português, que se alternam 
em momentos de equilíbrio ou desarmonia. É justamente esse caráter que vai formar, na sociedade 
brasileira, no momento da colonização, o antagonismo (ideias opostas, comportamentos opostos).
 Observação
Veja, no parágrafo acima, a forma de análise de Gilberto Freyre, que usa as 
influências do ambiente geográfico (clima), personalidade e raça, para explicar 
ao povo brasileiro os fundamentos utilizados no culturalismo americano.
Os portugueses são apresentados por Freyre (1997) como homens de condições físicas e psíquicas 
importantes para suas conquistas e resistências. Por exemplo, o realismo econômico, que não os 
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deixou se exceder nas conquistas militares e nem religiosas na formação brasileira. Segundo ele, o 
desenvolvimento do povo português se deve a suas conquistas coloniais na Ásia, na África, na América, 
onde houve, como resultado destas conquistas, um aumento populacional de mestiços. Sendo que os 
portugueses que eram visto pelo Estado como homens de valor. Bons administradores e técnicos eram 
colocados nas colônias “como peças num tabuleiro de gamão: da Ásia para a América ou daí para a 
África, conforme conveniências de momento ou de religião”. (FREYRE, 1997, p. 9).
Assim, a mistura do colonizador com os colonizados, para Freyre (1997) demonstra uma particularidade 
dos portugueses em relação a outros povos, porque nenhum se misturou aos colonizados tanto quanto 
eles. E esta, mais do que mobilidade ou mudança de posição social, foi a forma de compensarem por 
terem poucos habitantes portugueses em seu próprio território. Isso os levou à colonização de muitos 
povos e aumentaram muita sua área e sua população.
As mulheres índias brasileiras, no pensar de Freyre (1997), são preferidas pelos portugueses devido 
ao fato destas se parecerem muito no aspecto físico com as mulheres da colônia da Península:
Ao longo contato com os sarracenos deixara idealizada entre os portugueses 
a figura da moura-encantada, tipo delicioso de mulher morena e de olhos 
pretos, envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado, sempre 
penteando os cabelos ou banhando-se nos rios ou nas águas das fontes 
mal-assombradas – que os colonizadores vieram encontrar parecido, quase 
igual, entre as índias nuas e de cabelos soltos do Brasil. Que estas tinham 
também os olhos e os cabelos pretos, o corpo pardo pintado de vermelho, e, 
tanto quanto as nereidas mouriscas, eram doidas por um banho de rio onde 
se refrescasse sua ardente nudez e por um pente para pentear o cabelo. Além 
do que, eram gordas como as mouras. Apenas menos ariscas: por qualquer 
bugiganga ou caco de espelho estavam se entregando, de pernas abertas, 
aos “caraíbas” gulosos de mulher. (FREYRE, 1997, p. 9-11).
Figura 12 – índia tomando banho na lagoa Mawaiaka. Festa do Kuarup, na aldeia Kamayurá
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O livro Casa-grande e senzala é criticado por apresentar uma relação social entre portugueses, 
índios e negros de uma maneira fantasiosa. Há intelectuais que o criticam por encontrar na obra uma 
mensagem de que, naquele tempo, existia uma “democracia racial”. Mas esse termo não é usado por 
Freyre em seu texto. É preciso ter claro que toda obra tem um contexto histórico que precisa ser levado 
em conta para sua compreensão.
Para tanto, perceba que, por mais que os portugueses preferissem a mulher brasileira, assim mesmo 
transparece na fala de Freyre (1997, p. 10) o pré-conceito racial existente na sociedade, a partir de ditado 
usual: “Branca para casar, mulata para f..., negra para trabalhar”, esse ditado demonstra a superioridade 
em que é colocada a mulher branca e a inferioridade das demais.
Além desses aspectos – da miscigenação e da mobilidade –, o que ajudou o português a conquistar 
novos territórios foi também a sua facilidade em se aclimatar, chamado por Freyre (1997) de 
aclimatabilidade.
As condições geográficas de Portugal eram parecidas mais com a África do que com a própria 
Europa, por isso eles não sentiram tanta diferença no Brasil. Desta forma, isso os ajudará em sua 
fixação na formação da colônia híbrida (mestiça). Sendo que as duas regiões de grande foco de 
início da miscigenação é São Paulo e Pernambuco. Assim, Freyre (1997) coloca os portugueses como 
melhores homens em comparação a outros povos europeus, já que estes conseguiram se adaptar às 
condições geográficas, sociais e culturais, chegando a colocar que os portugueses superaram até a 
falta de pessoas brancas, a partir da miscigenação, ao se unir à mulher de cor – e isso o ajudou na 
adaptação social.
Esse fator, o clima tropical do Brasil é referido por Freyre (1997) porque o mesmo o considera um 
forte influenciador na formação e no desenvolvimento econômico das sociedades: a produtividade 
da terra, a fonte de nutrição, os recursos naturais para o povo. Além disso, devemos considerar 
também as doenças tropicais, que levavam os habitantes à diminuição da sua capacidade para o 
trabalho; ou seja, também neste aspecto o clima surge como característica fundamental em sua 
análise. Porém, o que chama a atenção é que Freyre percebe que a capacidade para o trabalho, 
a eficiência econômica dos homens e seu metabolismo são piores onde não existem higiene e 
engenharia sanitária. Além disso, aponta a necessidade adaptação da vida cotidiana do homem ao 
local onde vive, como por exemplo, a dieta, o vestuário, a habitação que tem que ser de acordo com 
a temperatura da região. Problemas que são resolvidos com a criação de aparelhos e tecnologias, 
como a navegação a vapor, ajudando no transporte mais rápido, para a melhora da qualidade e 
para a preservação do alimento.
Outro problema enfrentado pelos portugueses foi o fato de o clima não permitir que eles 
desenvolvessem aqui os produtos que consumiam na Europa. Por isso, tiveram que mudar radicalmente 
sua alimentação, trocando, por exemplo, o trigo pela mandioca.
Freyre (1997) vê a colonização como uma nova fase, já que se caracteriza a partir da plantação, com 
base agrícola, com a permanência do colono na terra, do ponto de vista econômico e de uma política 
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social porutilizar os nativos, especialmente a mulher, no trabalho, bem como para a formação da 
família. A sociedade colonial brasileira se desenvolveu a partir das grandes plantações de açúcar, mas 
isto não se deu por causa do Estado colonizador, mas sim de iniciativas particulares, que povoaram e 
defenderam militarmente a terra. Assim, a partir de 1532, o que caracteriza nossa colonização perante 
as outras é o domínio da família rural ou semirrural. Maior que esse poder, apenas o da Igreja, com a 
atividade dos padres da Companhia de Jesus, sendo que a família representava a unidade produtiva do 
solo, das fazendas, com compra de escravos, animais, ferramentas. Foi essa força social que imperou no 
Brasil colônia e que atingiu a política, a aristocracia (nobreza) colonial poderosa, já que os senados de 
Câmara vão delimitar o poder dos reis e, depois, do imperialismo.
As pessoas que vieram para colonizar o Brasil eram “soldados da fortuna, aventureiros, degredados, 
cristão-novos fugidos à perseguição religiosa, náufragos, traficantes de escravos, de papagaios e de 
madeira”, características não muito desejadas para o povo brasileiro. Porém, para Freyre (1997, p. 19), 
esses não deixaram suas características indesejadas na área econômica de nosso país. Além de não 
aceitar que todos fossem realmente criminosos.
Quanto às características genéticas destes portugueses que chegam ao Brasil, para o autor, a única 
que permaneceu foram os traços de fisionomia coletiva do nosso povo. Freyre (1997, p. 19) ainda 
crítica Azevedo Amaral por exagero, quando o segundo considera os colonizadores como “tarados, 
criminosos e semiloucos”, pois não havia fundamento para tal opinião, já que alguns deles eram 
pessoas boas, porém foram categorizadas como criminosos ou de má índole, devido ao fato do direito 
português considerar o misticismo como delito, além do fato da religião também colocá-los como 
criminosos, feiticeiros.
De outra perspectiva, Freyre (1997) acredita que a coroa portuguesa tenha enviado para cá homens que 
cometiam excessos em sua vida sexual em sua terra natal, e que isso foi uma estratégia política e econômica, 
já que esses viriam para cá para ficarem livres da cadeia, e também por ficarem soltos em meio às mulheres 
nuas, levando-os a povoar a colônia com seus filhos. Porém, segundo o autor, é a partir de 1532 que nós 
teremos nossa formação social, em família rural e semirrural, a partir da vinda de gente casada de Portugal ou 
pela união de colonos com moças caboclas, órfãs ou até de à-toa, vinda do território português pelos padres 
casamenteiros.
A formação social do Brasil se deu a partir da família colonial, sobre a base econômica 
agrícola e o trabalho escravo, com variadas funções sociais e econômicas. Por exemplo, o mando 
político, a oligarquia (governo de poucos, de uma minoria) ou nepotismo (corrupção na qual um 
funcionário público, a partir de sua posição, dá cargo público para as pessoas com quem possui 
laços familiares).
Muitos dos colonos se tornaram grandes proprietários rurais, porém os mesmos não tinham o menor 
amor pela terra e nem por sua cultura. Assim, o colono se desenvolveu devido às próprias características 
da terra e dos povos que aqui viviam, sem a menor organização comercial, restando-lhes apenas a 
produção rural.
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 Saiba mais
Sobre oligarquia, leia:
http://www.brasilescola.com/sociologia/democracia-oligarquia.htm
Sobre nepotismo, leia:
http://www.brasilescola.com/politica/nepotismo.htm
Segundo Freyre (1997), os portugueses eram despreocupados com a unidade ou pureza de raça. O 
único requisito exigido para um estrangeiro vir ao Brasil era que professasse a religião católica, chegando 
ao ponto de Portugal, no século XVI, mandar um frade a bordo de cada navio que vinha para o Brasil, 
com o objetivo de verificar se os estrangeiros eram mesmo católicos.
Não só os estrangeiros vieram para o Brasil, mas com eles as doenças físicas, como sífilis e lepra. 
Entravam com os europeus e os negros de todos os territórios, sendo a religião católica o “cimento da 
nossa unidade.” (FREYRE, 1997, p. 30).
A cana-de-açúcar foi sendo cultivada em São Vicente, em Pernambuco e, depois, na Bahia e no 
Maranhão, de forma que foi se formando uma tendência aristocrática (governo que fica nas mãos 
de poucos) e escravocrata (a produção por meio de escravos). Assim, teremos os homens com mais 
condições financeiras, que irão se manter na produção agrícola da cana; e os menos favorecidos, que 
irão para os sertões buscar escravos ou criar gado (os sertanejos ou vaqueiros).
Freyre (1997) afirma que é essa a aproximação entre os interesses agrários e escravocratas, que 
nos séculos XVI e XVII vão predominar na colônia, dedicada à cultura do açúcar. Porém, a mesma não 
foi perturbada pela descoberta das minas e nem pela introdução do café. Pois o que aconteceu foi a 
transferência do interesse no açúcar para o ouro, depois para o café. Porém, a base se manteve: a terra 
e o instrumento de exploração, o trabalho escravo. Além disso, o açúcar ficou no Nordeste; o ouro, 
em Minas Gerais; e, em São Paulo, o café – e, em todas essas regiões, a escravidão da mão de obra 
africana.
A base da alimentação da colônia era a farinha de mandioca e o milho, alterando-se apenas por 
meio das especialidades das frutas e verduras de cada região. O latifúndio (grandes porções de terras, 
pouco usadas para agricultura), foi característico no período colonial. Assim sendo, para Freyre (1997), 
este contexto não permitiu que a população tivesse a oportunidade de uma alimentação equilibrada, 
por mais que coloquem que a inferioridade física do brasileiro é totalmente relacionada à raça, ao clima 
– não podemos deixar de ver que o mau aproveitamento dos recursos naturais para nutrição é o que 
levou a essa inferioridade.
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 Observação
A análise realizada por Freyre destrói a teoria do determinismo biológico 
e a do geográfico.
O povo dessa época não era bem alimentado, segundo Freyre (1997). Lembre que há uma diferença 
gritante quanto à quantidade de comida que os proprietários brancos das casas-grandes recebem, em 
comparação com a quantidade de comida que os escravos negros da senzala recebem, já que esses 
precisavam de mais alimento para se manter no trabalho duro. Desta forma, foi a alimentação escassa 
na variedade que levou o povo brasileiro a ser mais deficiente e instável do que os europeus, e não a 
mistura de raças e o clima, como muitos intelectuais falaram.
Na formação da nossa sociedade, o mau regime alimentar decorrente da 
monocultura, por um lado, e por outro da inadaptação ao clima, agiu sobre 
o desenvolvimento físico e sobre a eficiência econômica do brasileiro no 
mesmo mau sentido do clima deprimente e do solo quimicamente pobre. 
A mesma economia latifundiária e escravocrata que tornou possível o 
desenvolvimento econômico do Brasil, sua relativa estabilidade em contraste 
com as turbulências nos países vizinhos, envenenou-o e perverteu-o nas 
suas fontes de nutrição e de vida. (FREYRE, 1997, p. 34)
Os melhores alimentados eram os senhores e os escravos, mas não esqueça que havia homens livres, 
mais miseráveis, sendo mais débeis e incapazes de terem melhor alimento. Por isso, havia muitas pessoas 
com anemia, verminoses e outras doenças.
Assim, para Freyre (1997), o problema social é o que debilita a população brasileira e não a mestiçagem, 
já que não é a mistura de raça que traz a debilidade a esse povo, mas a pobreza, a escassez de alimentação, 
o regime escravo, a química dos alimentos tradicionais que consomem, a irregularidade alimentar,a 
falta de higiene na conservação e distribuição dos alimentos. Não só os homens livres passam por esses 
problemas alimentares, mas também os senhores de engenho de Pernambuco e da Bahia, já que os 
mesmos comiam pouca carne de boi e, de vez em quando, poucos frutos, geralmente bichados. Além 
disso, raramente os legumes faziam parte de seu prato. Por isso que, os médicos atribuíam aos “maus 
ares” muitas das doenças digestivas.
É dentro desse antagonismo que será formada a sociedade brasileira: de um lado, a grande lavoura, a 
monocultura do litoral; e, de outro, a pecuária do sertão. Porém, tanto monocultores quanto pecuaristas 
não tinham uma alimentação sadia.
Freyre (1997) diz que durante os três séculos de colonização a vida foi difícil, pois a monocultura 
esterilizou a terra, os senhores rurais se endividaram, as formigas, as enchentes e as secas dificultaram 
a produção dos alimentos. Não havia luxo. No Norte açucareiro, as famílias mais ricas da Bahia e de 
Pernambuco tinham algum luxo a partir de dívidas, mas em outras localidades, eram deficientes, com as 
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casas forradas de seda, mas com bichos caindo em suas camas. No Pará do século XVII, por exemplo, os 
nobres não tinham como ir para a festa de Natal da cidade, porque suas filhas não tinham o que vestir 
para a missa.
Em contrapartida, os colonos de São Paulo, devido ao ambiente geográfico e ao clima, teve uma 
produção agrícola que lhes favoreceu, concedendo maior riqueza alimentar. Além disso, nessa região 
ocorreu tanto a produção agrícola quanto a pastoril, resultando em uma alimentação equilibrada e rica 
em variedades.
Os negros, segundo Freyre (1997), eram bem alimentados porque os senhores de engenho queriam 
utilizá-los o máximo possível. Então, para os escravos nunca faltava comida, com abundância de milho, 
toucinho e feijão, comida forte para o trabalho duro ao qual iria se dedicar na agricultura. Apesar de 
toda deficiência alimentar, o escravo foi o quem melhor pôde aproveitar os nutrientes utilizados em sua 
dieta alimentar. E seus descendentes conservaram tal hábito, demonstrados em sua beleza física e nas 
expressões de vigor das mulatas, das baianas, dos crioulos, dos atletas, dos capoeiristas, dos jagunços dos 
sertões baianos e dos cangaceiros do Nordeste.
Figura 13 – Grupo de capoeira do Centro Cultural Sol Nascente da Cidade Satélite de Ceilândia (DF)
Freyre (1997) crítica autores como Euclides da Cunha, por acreditarem que o caboclo-índio, advindo 
do índio civilizado ou do resultado da miscigenação do índio com o branco, seja a raça mais pura quanto 
à capacidade física, a beleza, e de resistência moral, pois para o autor, o brasileiro é resultado da união 
das três raças: indígenas, negros e brancos, uma vez que os negros que fugiam para os quilombos 
raptavam as índias ou as caboclas para com eles viverem, porque as negras dificilmente conseguiam 
fugir. Desta forma, espalharam em muito seu sangue em várias regiões do país, formando a sociedade 
brasileira com base nessas três raças. Sobretudo a partir da abolição, os negros puderam se espalhar e 
perpetuar sua descendência sadia e vigorosa.
A doença desse período foi a sífilis, que ocorria tanto na casa-grande quanto na senzala, já que o 
filho do senhor contraia com as negras e com as mulatas essa doença, quando tinham entre doze e 
treze anos. Isso porque a marca da doença no corpo era usada para ostentação, pois quem não tinha as 
marcas da sífilis era donzelo, virgem. Por isso, era ridicularizado: por não ter conhecido mulher.
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ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
 Saiba mais
Ainda hoje a sífilis atinge muitas pessoas. Para descobrir mais sobre esta 
doença, acesse:
http://www.jornalnovafronteira.com.br/?p=MConteudo&i=1780
De um lado, tem-se a formação do brasileiro, um homem dos trópicos, resultado do europeu com 
sangue índio ou negro fornecendo-lhe energia; de outro, a sífilis, que o deformava. Freyre (1997) critica 
aqueles que culpam a feiura do nosso povo por causa da miscigenação das três raças, pois, para ele, a 
feiura é resultado dos afetados pela sífilis ou pela verminose e deveriam ter responsabilizado as doenças, 
no lugar de responsabilizarem a miscigenação.
Segundo Freyre (1997), a deformação da beleza do povo brasileiro é resultado da má alimentação 
e da sífilis trazida pelos europeus (portugueses, franceses e espanhóis), que passaram a doença para as 
índias, a partir das relações sexuais. Muitos destes europeus acabavam tomando gosto por essa vida e 
eram deixados aqui.
A relação do europeu com a índia foi uma relação de colonizador como possuidor de suas escravas. 
Essa forma de pensar e agir resultou historicamente em um sadismo dos homens brancos com mulheres 
em condições desfavoráveis, prosseguindo no trato da exploração do senhor com as escravas africanas.
Havia também o sadismo em que o menino que acompanhava o filho senhor em suas brincadeiras e 
chamado de “leva-pancadas” e que muitas vezes foi o instrumento de iniciação sexual do menino branco. 
Freyre (1997) já destaca, citando Moll, que nesta época a direção tomada quanto ao impulso sexual, 
na criança, depende muito mais da oportunidade e das influências sociais do que da predisposição ou 
perversão inata.
 Observação
Você percebeu qual teoria Freyre está criticando ao dizer que a perversão 
não é inata? E qual teoria ele utiliza ao afirmar que o impulso sexual é 
resultado da oportunidade e influências sociais?
Esse sadismo de menino levava ao gosto de surrar, judiar do negro, tornando-se violento e perverso 
no exercício de profissão elevada, na política, na administração pública; o gosto pelo mando, pelo 
autoritarismo. Freyre (1997) coloca o senhor na posição do sádico e o negro como o masoquista – lógico 
que, isso se dava em função das condições econômicas –, e afirma que essa relação sexual e doméstica 
acaba por levar-nos à nossa conhecida formação patriarcal, colocando a mulher sempre como a vítima 
do domínio e abuso do homem, sempre reprimida pelo pai e pelo marido. Além disso, há também o 
sadismo da mulher branca sobre as escravas, por inveja sexual e ciúmes.
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O sadismo do senhor para com o escravo resulta na nossa vida política: no mandonismo, em relação 
às suas vitimas, disfarçado de autoridade ou defesa da ordem. É assim que surge a democracia, que 
tenta se equilibrar na sociedade que acaba de sair do regime de escravos e senhores.
Freyre (1997) vê a missão jesuíta como importantíssima na formação cultural da sociedade brasileira. Os 
jesuítas trouxeram a cultura europeia para os indígenas e foram influenciados pelos africanos. Trouxeram 
a técnica, a cultura, a moral e a intelectualidade dos europeus para os indígenas. A conquista da confiança 
dos indígenas, pelos europeus, se deu por meio do cristianismo e seus instrumentos: a música, o canto, a 
liturgia, as profissões, as festas, as danças, as comédias, os cordões e os rosários. Além de terem passado a 
rígida cultura europeia, os jesuítas receberam a influência dos africanos, tornando-se, assim, os mediadores 
entre os índios e os europeus.
Na análise de Freyre (1997), o que caracteriza a formação da sociedade brasileira é o equilíbrio de 
antagonismo:
Antagonismos de economia e de cultura. A cultura europeia e a indígena. 
A europeia e a africana. A africana e a indígena. A economia agrária 
e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o 
fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O paulista e oemboaba. O 
pernambucano e o mascate. O grande proprietário e o pária. O bacharel e o 
analfabeto. Mas predominando sobre todos os antagonismos, o mais geral e 
o mais profundo: o senhor e o escravo. (FREYRE, 1997, p. 53).
Porém, o autor vê que o antagonismo é harmonizado pela confraternização e mobilidade social, 
a partir da miscigenação, pela mudança de profissão, de residência, pelo acesso a cargos, posições 
políticas e sociais de mestiços, pela tolerância moral e pela hospitalidade aos estrangeiros, bem como a 
intercomunicação entre as longínquas terras do país.
Freyre, segundo Cristina Costa (2001), compreendia o nacionalismo como união de raças, regiões, 
culturas e grupos sociais permitida pelas características da colonização pela qual passou o Brasil. 
Colocando o papel do negro e do mestiço como primordial na adaptação da cultura do europeu ao 
Brasil e na formação da nossa identidade cultural.
Dessa forma, na visão do autor, é a organização do sistema econômico, e não a mestiçagem, como 
era tradicionalmente citada, a responsável pelos problemas sociais existentes em nosso país.
Apesar das críticas por minimizar os conflitos presentes nas relações raciais e defender o processo 
de mestiçagem como remédio para os males da sociedade brasileira, a obra de Freyre é considerada 
inovadora pelo fato de destacar, pela primeira vez, algumas características positivas nos grupos indígenas 
e negros.
Em relação aos costumes indígenas, por exemplo, Freyre (1997) destaca sua influência na 
introdução dos hábitos de higiene e na dieta do colonizador português, com a introdução de 
alimentos nutritivos como a mandioca e o conhecimento do poder de algumas ervas. Para este 
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antropólogo, coube à mulher indígena o papel de transmitir esses costumes, pois o homem índio 
tendia a ser nômade, enquanto a mulher, por se fixar em um só local, teria a facilidade de se 
amancebar com os portugueses e, consequentemente, transmitir ao europeu um pouco da sua 
cultura. Quanto ao homem indígena, coube a responsabilidade de transmitir aos portugueses o 
gosto pela guerra.
Quanto à marca da influência negra na sociedade brasileira, Freyre (1997) destaca algumas 
características como a ternura, a mímica excessiva, o catolicismo, a música, o andar, entre outras. Sem 
negar a importância do negro na vida estética e no progresso econômico do Brasil, o autor enfatiza, 
em sua análise, a separação entre negro e escravo, contrariando as teorias eugênicas predominantes na 
época, que, influenciadas pelo cientificismo e darwinismo social, descreviam o negro como uma raça 
inferior. Para Freyre, o negro brasileiro não era inferior, mas sim, foi inferiorizado durante a escravidão.
A escravidão desenraizou o negro do seu meio social e de sua família, 
soltando-o entre gente estranha e, muitas vezes, hostil. (...) É absurdo 
responsabilizar o negro pelo que não foi obra sua nem do índio, mas do 
sistema social e econômico em que funcionaram passiva e mecanicamente. 
Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesmo do regime... 
(FREYRE, 1997, p. 315-316).
No entanto, a violência e os conflitos que envolveram a escravidão, presentes nas relações entre 
senhores e escravos, foram minimizados em Casa-grande e senzala, reproduzidos em apenas algumas 
citações sobre as humilhações, castigos e torturas aos quais os negros eram submetidos.
De forma geral, a ideia que se difunde é a de que portugueses, índios e negros trocaram, de 
forma natural e pacífica, seus costumes, suas diferentes culturas, transformando-se em um exemplo 
de convívio racial. Ao aplicar o termo “assimilação” para descrever os contatos entre colonizadores 
e colonizados, Freyre (1997) traz a visão antropológica da ideia de solidariedade e interação entre os 
grupos, minimizando os aspectos que demonstram a exploração e a violência que marcaram a história 
da colonização brasileira.
Há intelectuais que não entendem dessa forma, como o antropólogo Hermano Vianna (2000), que 
em seu artigo na Folha de São Paulo coloca:
Como dizer que “Casa-Grande & Senzala” criou uma imagem idílica 
da sociedade brasileira se, logo no prefácio de sua primeira edição, 
aprendemos que senhores mandavam “queimar vivas, em fornalhas 
de engenho, escravas prenhes, as crianças estourando ao calor das 
chamas”, ou ouvimos a história de um senhor que, na tentativa de 
dar longevidade às paredes de sua casa-grande, “mandou matar dois 
escravos e enterrá-los nos alicerces”? Que país é esse? Que paraíso 
tropical é esse? Que “democracia racial” é essa? Como diz Ricardo 
Benzaquem de Araújo, para Gilberto Freyre “o inferno parecia conviver 
muito bem com o paraíso em nossa experiência colonial”.
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 Saiba mais
Leia a matéria completa de Hermano Vianna publicada no caderno 
Mais!, da Folha de São Paulo, em 12/03/2000, e reflita:
O texto pode ser encontrado no seguinte endereço da internet:
http://www.cefetsp.br/edu/eso/patricia/antagonismosfreyre.html
Seguem aqui algumas obras que certamente enriquecerão seu 
conhecimento de Antropologia brasileira:
AMADO, Gilberto et al. Gilberto Freyre: sua ciência, sua filosofia, sua 
arte (ensaios sobre o autor de Casa-grande & senzala e sua influência na 
moderna cultura do Brasil). Rio de Janeiro: José Olympio, 1962.
CANDIDO, Antônio. “O significado de ‘Raízes do Brasil’”. In: HOLANDA, 
Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.
DEBRUN, Michel. A identidade nacional brasileira: estudos avançados. 
Vol. 4, nº 8, 1990, p. 39-49.
6.2 A perspectiva de Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil
Os trabalhos de Sérgio Buarque de Holanda estão elaborados da mesma forma que os de Gilberto 
Freyre, que, segundo Cristina Costa (2005), iniciou sua produção intelectual a partir da crítica literária 
para a crítica cultural.
Publicou, em 1936, seu primeiro livro, Raízes do Brasil, sendo este um clássico da Sociologia, da 
Antropologia e da História brasileira. É uma obra na qual elabora uma análise social criticando a 
formação das elites culturais e políticas do Brasil. Ao elaborar essa obra, tinha como objetivo delinear 
uma “psicologia” do povo brasileiro, a partir do processo colonizador.
Em sua grande obra, Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda (1995) conta a História do 
Brasil com um foco sociológico e tem como influências intelectuais as obras de Max Weber e 
George Simmel. Influências estas que recebera a partir dos textos lido diretamente quando esteve 
na Alemanha entre 1929-1930. Desta forma, nesta obra ele recorre à Sociologia weberiana, 
buscando identificar entre os ocupantes do nosso território os “tipos ideais” de homens brasileiros, 
cunhando então as figuras do semeador e do ladrilhador, para melhor explicar a diferença entre 
a colonização lusitana da espanhola.
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Sérgio Buarque crítica a falta de preocupação dos portugueses com a educação, com a linguagem e 
com a imprensa, resultando em três séculos de ignorância para o nosso país.
Em Raízes do Brasil, o autor, a partir de uma análise dos contrários, demonstra nossas origens. 
Demonstra que o povo português trouxe para a colonização características próprias de seus estilos 
de vida como: ausência da hierarquia social e a utilização do prestígio social em busca de privilégios. 
Assim, um dos temas fundamentais deste livro será o não interesse pelo trabalho e por atividades úteis, 
resultando na falta de organização,pois os ibéricos não abrem mão de sua vaidade, de seus caprichos 
ou interesses particulares para beneficiar o seu grupo.
Buarque de Holanda (1995) distingue o trabalhador e o aventureiro, demonstrando duas formas 
opostas de comportamento psicológico, dois tipos ideais, para analisar o espanhol e o português. 
O aventureiro seria o homem que busca novas experiências, vive uma vida provisória e tem 
como objetivo apenas descobrir. Já o trabalhador seria o homem que analisa as dificuldades que 
enfrentará e a partir do esforço lento e continuo persiste planejando para tirar o maior proveito 
possível. Há uma ética do trabalho, por isso, para o trabalhador, só tem valor moral positivo às 
ações que tem vontade de realizar para melhor organizar o seu trabalho e, contrariamente, os 
aventureiros só realizarão os imorais e desprezíveis como a ousadia, o descuido, o desleixo, a falta 
de responsabilidade, a inconstância, a vagabundagem... enfim, tudo o que é desprezível, buscando 
sempre dirigir seus esforços para uma compensação imediata. O ideal do trabalhador é algo estúpido 
para o aventureiro.
Quadro 12 – Principais obras publicadas de Sérgio Buarque de Holanda.
Ano publicação Título
1936 Raízes do Brasil
1946 Monções
1949 Índios e mamelucos na expansão paulista
1957 Caminhos e fronteiras
1958 Visões do paraíso
1960-72 História geral da civilização brasileira (org.)
 Observação
Essa categorização, de “trabalhador” e “aventureiro”, é o tipo ideal 
de Weber. Não existe, na realidade, uma pessoa que seja apenas um 
tipo. É uma construção teórica para poder explicar a realidade. Mas a 
construção teórica nos ajuda a obter conhecimento sobre o homem e 
a sociedade.
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 Saiba mais
Para ampliar seu leque de conhecimentos, leia:
Cristina Costa. Sociologia: introdução à Ciência da Sociedade. 3ª ed. São 
Paulo: Moderna, 2005.
6.2.1 Pedagogia moderna e as virtudes antifamiliares
Buarque de Holanda descreve de maneira inovadora os costumes e as características do povo 
brasileiro, destacando sua formação colonial em uma sociedade dividida entre senhores e escravos.
Holanda (1995) explica que a busca pela propriedade e riqueza sem muito esforço é uma característica 
do nosso povo, a partir da influência do tipo de homem aventureiro, que influenciou a formação da 
vida nacional. Isso se deve a vários fatores, como: as raças que se encontraram aqui, os hábitos que 
trouxeram e as condições geográficas (terra, clima) às quais se adaptaram.
Segundo Sérgio Buarque de Holanda (1995), em especial, os portugueses foram os mais perfeitos 
quanto à sua adaptação ao nosso território, já que substituíram o trigo pela mandioca, a cama pela rede, 
chegando ao ponto de beber e mascar fumo. Aprendendo com os índios a andar de canoa, a caçar e a 
pescar.
A produção de cana-de-açúcar, no pensar deste autor, ocorre devido à boa qualidade da terra 
do Nordeste e à abundância de terras para serem desbravadas, sendo a exploração latifundiária e a 
monocultura o cenário típico da organização agrária deste território. Assim, a agricultura se tornou 
nossa forma de produção. Porém, havia o problema da mão de obra, pois a utilização da mão de obra 
indígena não foi possível, sendo necessária a utilização da mão de obra africana. O negro foi um fator 
obrigatório para o desenvolvimento dos latifúndios da colônia. Para Buarque de Holanda (1995), os índios 
foram prestativos na extração de madeira, na caça e na pesca. No entanto, devido à sua versatilidade, 
não conseguiam aprender noções de tempo, de ordem, de exatidão, características necessárias para a 
formação social e civil. Os indígenas apresentavam uma resistência obstinada, mesmo que silenciosa e 
passiva.
Os portugueses buscavam riqueza, sem que isso lhe custasse esforços ou trabalho. Assim, o lucro 
que advinha da exportação do açúcar era efetuado pelos negros africanos escravizados. Além do mais, 
os portugueses que vieram para o Brasil não eram “uma civilização tipicamente agrícola” (HOLANDA, 
1995, p. 49). Primeiro porque eram aventureiros, segundo porque devido a pouca população que havia 
em Portugal, não concedia mandar para cá muitos trabalhadores rurais, e, por último, porque a atividade 
agrícola não era colocada como primeira grandeza nem mesmo no seu território de origem – era uma 
atividade desprezada pelos portugueses, que preferiam as aventuras marítimas e conquistas para 
obtenção de riquezas.
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Assim, o Brasil permaneceu, segundo Buarque de Holanda (1995), sem progresso técnico na 
agricultura, sem aumento da produção.
Outra característica do comportamento do português é “a ausência completa, ou praticamente 
completa, entre eles, de qualquer orgulho da raça” (HOLANDA, 1995, p. 53). Isto se dá devido ao fato deles 
serem já um povo de mestiços. Por isso, a mistura dos portugueses com os africanos não era novidade 
alguma para eles, pois antes de 1500, já traziam negros para plantar, desbravar terras, para trabalhar em 
suas casas e, por meio das relações sexuais com os negros, formavam uma nação de mestiços.
Desta forma, é possível compreender o sentimento dos dominadores, os portugueses, para com os 
dominados. A massa trabalhadora de homens de cor representava apenas a energia necessária para 
produção. “O escravo das plantações e das minas não era um simples manancial de energia, um carvão 
humano à espera que a época industrial o substituísse pelo combustível.” (HOLANDA, 1995, p. 55). A 
relação entre dono e escravo oscilava com frequência, isto é, de dependente ao protegido, chegando 
o negro a influenciar a esfera doméstica, mas isso não quer dizer que não houve casos particulares de 
tentativa de acabar com a influência destes na vida da colônia, como por exemplo:
Aquela ordem régia de 1726, que vedava a qualquer mulato, até a quarta 
geração, o exercício de cargos municipais em Minas Gerais, tornando tal 
proibição extensiva aos brancos casados com mulheres de cor. (HOLANDA, 
1995, p. 55)
Mesmo havendo essa tentativa de barrar a influência dos negros e mulatos, a tendência da sociedade 
brasileira era a de abandonar as barreiras sociais, políticas e econômicas entre as diferentes categorias 
de homem, de cor, livres e escravos. Para fundamentar este pensamento, Holanda (1995) coloca como 
exemplo o fato de um governador de Pernambuco, em 1731, ter nomeado ao ofício de procurador um 
bacharel mulato, como podemos ler abaixo:
Porque, diz a ordem de D. João V, “o defeito de ser pardo não obsta para 
este ministério e se separa muito que vós, por este acidente, excluísseis 
um bacharel formado provido por mim para introduzirdes e conservardes 
um homem que não é formado, o qual nunca o podia ser por lei, havendo 
bacharel formado”. (HOLANDA, 1995, p. 55).
 Lembrete
Perceba que isso não era lei geral. Pois, em sua maioria, os negros eram 
obrigados a viver em regime de escravidão.
No pensar de Holanda (1995), o índio, mesmo não tendo liberdade, tinha certa liberdade “tutelada”, 
sendo distanciado do estigma social da escravidão. Deram-lhes características que os deixam menos 
competentes para realização de tarefas como: “preguiçoso”, “imprevidente”, “aventureiro”, sendo mais 
parecidos com os padrões de classe nobres do que com escravo, virtudes de fidalgos e cavaleiros. Já aos 
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negros era dado o rótulo de vítima ou rebelde. Tanto era assim, que o governo português não condenava 
casamentos entre índios e brancos. Em 1755, cria o alvará que determina que, nesses casos, o cônjuge 
e seus filhos podem ocupar cargo em qualquer emprego, com honra e dignidade, ficando os demais 
proibidos de chamar-lhes de caboclos ou coisa semelhante. Porém, os negros e seus descendentes 
ficavam direcionados aos trabalhos de baixa reputação.
Para demonstrar esta posição, Holanda nos dá um exemplo:
... em portaria de 6 de agosto de 1771, o vice-rei do Brasil mandou dar baixa 
do posto de capitão-mor a um índio, porque “se mostrara de tão baixos 
sentimentos que casou com uma preta, manchando o seu sangue com esta 
aliança, e tornando-se assim indigno de exercer o referido posto”. (HOLANDA, 
1995, p. 56)
Um problema causado pela escravidão e pela monocultura latifundiária na economia brasileira 
colonial foi a ausência de outras atividades produtoras, o que aconteceu em outros países. Enquanto 
nos outros países houve a criação de grêmios de artesãos, aqui a organização dos ofícios ficou sob a 
utilização do trabalho escravo em indústria caseira, tendo como único objetivo a independência dos 
mais ricos, não deixando o comércio crescer, sem artesões livres nas vilas e cidades. Aquele que tinha um 
ofício muitas vezes o deixava para ter as regalias que sua função não lhe concedia. Por exemplo, “a certo 
Manuel Alves, de São Paulo, que deixa em 1639 sua profissão de seleiro para subir à posição de ‘homem 
nobre’ e servir os cargos da República”. (HOLANDA, 1995, p. 58)
A lei não estabelecia hierarquias, mas os costumes diferenciavam os trabalhos manuais, principalmente 
os ofícios de baixa reputação social. Na cidade, segundo Holanda (1995), os valores que vão ser utilizados 
serão o de que o melhor ofício é aquele de ganho fácil, que tanto caracteriza o Brasil. Desta forma, ao final 
do colonialismo, as tendas de comércio tinham de todas as coisas para serem vendidas, pois nenhum dos 
proprietários havia aprendido a se especializar em determinado ramo, já que sempre estavam atraídos 
pelo ganho que outro produto poderia lhe trazer. Nem sequer o mesmo oficio era passado de uma 
geração a outra, contrariamente ao que ocorria na área rural, que já possuía maior estabilidade.
Foi devido a essa tradição trazida da base familiar que não se propiciou o desenvolvimento entre 
nós de um conjunto de ofícios, artesanatos e oficinas habilitados para desenvolver a área dos serviços. 
Além disso, outro fator negativo eram os chamados “negros de ganho” ou “moços de ganho”, isto é, 
escravos que trabalhavam segundo a permissão de seus senhores para que recebessem pelos trabalhos 
dos negros.
Assim, os portugueses não contribuíram para desenvolver aqui oficinas, pois, segundo o autor, eles 
gostavam muito mais de espetáculos coloridos do que de trabalho. Assim sendo, preferiam procissões reais.
Um tipo de trabalho que vai ter êxito era o coletivo, contanto que fosse para satisfazer questões 
emocionais, como culto religioso. Por exemplo, a construção da matriz de Iguape, no século XVII, no 
qual tanto homens de classe como o povo da vila se organizaram para carregar as pedras da praia até 
a obra. (HOLANDA, 1995, p. 60)
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Além destes, há outros costumes, como o do mutirão, em que os roceiros ajudam uns aos outros para 
derrubar mato, plantar, colher, fazer casa etc. Um auxílio recíproco, tanto no trabalho como na ceia, na 
dança – em tudo que acompanha esse evento.
O momento crucial de nossa história se dá com a abolição (TERRA, 2007), pois, a partir 
de 1888, teremos uma revolução silenciosa, uma busca pelo progresso tanto material quanto 
moral. Pois, a partir disto, o povo brasileiro se deslocou do mundo rural para o urbano, tendo 
acabado o Império e, com isso, destruindo as marcas dos portugueses. A partir da sociedade 
urbana, rompe-se com a ordem agrária e algo novo surge: a organização político-administrativa 
moderna.
No ponto de vista do autor, o Estado não é uma ampliação da família, muito menos um conjunto de 
pessoas que tenta atender as suas vontades, não existe um contínuo entre o particular e o público, mas 
pelo contrário, uma oposição.
Segundo Holanda (1995), no século XIX acreditava-se que as instituições evoluíam em uma linha 
reta da família até chegar ao Estado. Porém, a realidade é que essas instituições pertencem a esferas 
diferentes. Somente o homem saindo da esfera doméstico-familiar, que passa necessitar do Estado, por 
meio do qual se faz cidadão, eleitor e responsável pela cidade. O geral sobre o particular, o intelectual 
sobre o material e o público sobre o familiar.
Nas corporações de ofício, a relação entre aprendizes e mestres era como se os mesmos 
pertencessem à mesma família, pertencentes a uma hierarquia, com as mesmas privações e 
conforto. Com a revolução industrial, haverá a separação entre empregadores e empregados, 
diferenciando-os em suas funções, acabando com as relações íntimas, aumentado as diferenças 
de classe, deixando mais fácil para o capitalista a sua exploração sobre os empregados, com um 
salário mísero.
Na sociedade capitalista, o trabalhador se torna um número para seu patrão, desaparecendo assim 
as relações sociais entre eles. Compare:
Quadro 13 – Comparação dos sistemas de produção. Fonte: Holanda (1995, p. 144).
Relação social Organização
Mestre e aprendiz Na mesma sala e usando os mesmos instrumentos. Relação 
pessoal e direta.
Capitalista e proletariado Entre o dono da empresa e o trabalhador temos: o diretor-
geral, o presidente, os executivos da diretoria, chefes de setor; 
há uma hierarquia, assim fica fácil pagar salários inadequados e 
oferecer condições anti-higienicas para o trabalhador.
Segundo Holanda (1995), é preciso compreender a crise que acompanha a transição do trabalho 
rural para o trabalho industrial a partir da dificuldade de abolir a ordem familiar e implantar outra, pois 
a ordem familiar tem base no afeto e no sangue e a outra é a substituição dessas por instituições sociais 
e relações sociais. Tanto é que, segundo o autor, quando ele lança Raízes do Brasil, ainda havia famílias 
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que educavam seus filhos em casa. Porém, isso desaparece devido às novas condições de vida, libertando 
o indivíduo da comunidade doméstica.
Holanda (1995) afirma que a pedagogia moderna se coloca como favorável a essa separação, 
colocando a liberdade como condição necessária para o ser humano se adaptar à vida prática. E 
reconhece que a sociedade brasileira possui base muito sólida na família, em especial a patriarcal. 
Para ele, isto passa a ser um problema, já que acaba por não auxiliar na formação de uma sociedade do 
modo de produção capitalista, isto é, não incentiva valores como a iniciativa pessoal e concorrência 
entre os cidadãos.
Tanto é que Holanda (1995) afirma que, mesmo no Império, em 1827, a fundação do ensino superior, 
em São Paulo e Olinda, foi de grande ajuda para formar profissionais públicos competentes, fazendo com 
que esses conseguissem se libertar das amarras familiares, conforme se desenvolviam em sua faculdade 
de curso jurídico.
Assim, com essa nova pedagogia, os jovens eram levados para estudar longe de seus pais, 
para adquirirem responsabilidade, já que, como crianças, ficaram dependentes dos mesmos. 
Porém, nem sempre isso bastava para destruir os vínculos familiares, valores que eram opostos 
às necessidades de uma sociedade de homens livres. Tanto é que Holanda (1995, p. 144) cita o 
pensamento de Joaquim Nabuco, o qual afirmava

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