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1 ESTUDO DE TEMPOS, MOVIMENTOS E MÉTODOS Professor José Alberto INTRODUÇÃO O estudo de tempos e movimentos, também conhecido como cronoanálise, é uma forma de mensurar o trabalho por meio de métodos estatísticos, permitindo calcular o tempo padrão que é utilizado para determinar a capacidade produtiva da empresa, elaborar programas de produção e determinar o valor da mão- de-obra direta no cálculo do custo do produto vendido (CPV). INTRODUÇÃO O tempo padrão engloba a determinação da velocidade de trabalho do operador e aplica fatores de tolerância para atendimento às necessidades pessoais, alívio a fadiga e tempo de espera. Estes fatores são geralmente encontrados em tabelas na literatura especializada. O QUE É ESTUDO DE TEMPOS, MOVIMENTOS E MÉTODOS O estudo de tempos, movimentos e métodos aborda técnicas que submetem a uma detalhada análise de cada operação de uma dada tarefa, com o objetivo de eliminar qualquer elemento desnecessário à operação e determinar o melhor e mais eficiente método para executá-la. 2 O QUE É ESTUDO DE TEMPOS, MOVIMENTOS E MÉTODOS O estudo de tempos, movimentos e métodos mantém estreito vínculo com três importantes definições do vocabulário empresarial: A engenharia de métodos, projeto de trabalho e ergonomia. Engenharia de métodos É a atividade dedicada à melhoria e desenvolvimento de equipamentos de conformação e processos de produção para suportar a fabricação. Preocupa-se em estabelecer o método de trabalho mais eficiente, ou seja, procura otimizar o local de trabalho com relação a ajuste de máquinas, manuseio e movimentação de materiais, leiaute, ferramentas e dispositivos específicos, medição de tempos e racionalização de movimentos. Também é chamada de engenharia industrial, engenharia de processo ou engenharia de manufatura. Projeto de trabalho O projeto de trabalho define a forma pela qual as pessoas agem em relação a seu trabalho. O projeto de trabalho leva em consideração as atividades que influenciam o relacionamento entre as pessoas, a tecnologia que elas usam e os métodos de trabalho empregados pela produção. Ergonomia A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem e vice-versa. A ergonomia parte do conhecimento do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-se às capacidades e limitações humanas. 3 Ergonomia O instituto Ergonomics Research Society, da Inglaterra, define ergonomia como o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente da aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. DIAGRAMA DE PROCESSO DE DUAS MÃOS O diagrama de processo de duas mãos, também conhecido como diagrama SIMO (movimentos simultâneos) é uma técnica utilizada para estudos de fluxos de produção que envolve montagem ou desmontagem de componentes. Para a elaboração do diagrama de duas mãos, é preciso: apresentar o produto final e seus componentes; elaborar leiaute dos componentes que serão montados dentro da área normal de montagem; definir a seqüência de movimentos em que deve ser efetuada a montagem; registrar, em forma de documento, o método que será utilizado como padrão de referência; padronizar o processo. DIAGRAMA DE PROCESSO DE DUAS MÃOS A seqüência de movimentos é feita obedecendo a maior economia de movimento possível. Por meio desta técnica, pode-se otimizar a seqüência de trabalho e minimizar os tempos envolvidos, objetivando um aumento de produtividade. 1 – As duas mãos devem iniciar e terminar os seus movimentos ao mesmo tempo. 2 – As mãos não devem permanecer paradas ao mesmo tempo. 3 – Os braços devem ser movimentados simetricamente e em direções opostas. 4 – O movimento das mãos devem ser os mais simples possíveis. De classe mais baixa possível. DIAGRAMA DE PROCESSO DE DUAS MÃOS Classes de movimentos 1ª classe: movimenta apenas os dedos. 2ª classe: movimenta os dedos e uma parte do punho. 3ª classe: movimenta os dedos, uma parte do punho e uma parte da mão. 4ª classe: movimenta os dedos, o punho a mão e o braço. 5ª classe: movimenta os dedos, o punho a mão, o braço e o corpo. 4 DIAGRAMA DE PROCESSO DE DUAS MÃOS 5 – Deve-se utilizar a função deslizar. 6 – As mãos devem executar movimentos suaves e contínuos. 7 – Usar a posição fixa sempre que necessário. 8 – Manter o ritmo de trabalho. 9 – Usar pedais quando possível. 10 – As peças devem ser colhidas, não agarradas. 11 – Usar entrada e saída por gravidade. 12 – Pré-posicionar ferramentas e componentes. DIAGRAMA DE PROCESSO DE DUAS MÃOS Produto: Caneta Esferográfica Componentes: Corpo, carga, tampa e tampa traseira MÃO ESQUERDA MÃO DIREITA Nº Descrição da atividade Descrição da atividade Nº 1 Deslocamento para corpo O →D □ V O →D □ V Deslocamento para carga 1 2 Colhe corpo O →D □ V O →D □ V Colhe carga 2 3 Deslocamento para área de trabalho O →D □ V O →D □ V Deslocamento para área de trabalho 3 4 Preposiciona corpo na carga O →D □ V O →D □ V Preposiciona carga no corpo 4 5 Monta copo na carga O →D □ V O →D □ V Monta carga no corpo 5 6 Deslocamento para suporte O →D □ V O →D □ V Deslocamento pra suporte 6 7 Fixa caneta no suporte O →D □ V O →D □ V Fixa caneta no suporte 7 8 Deslocamento da tampa traseira O →D □ V O →D □ V Deslocamento da tampa dianteira 8 9 Colhe tampa traseira O →D □ V O →D □ V Colhe tampa dianteira 9 10 Deslocamento para área de trabalho O →D □ V O →D □ V Deslocamento para área de trabalho 10 11 Preposiciona tampa traseira no corpo O →D □ V O →D □ V Preposiciona tampa dianteira no corpo 11 12 Mona tampa traseira no corpo O →D □ V O →D □ V Monta tampa dianteira no corpo 12 13 Solta caneta do suporte O →D □ V O →D □ V Solta caneta do suporte 13 14 Deslocamento para área de saída O →D □ V O →D □ V Aguarda 14 15 Solta caneta montada O →D □ V O →D □ V Aguarda 15 ESTUDO DOS ALIMENTADORES Outro aspecto relevante diz respeito ao formato dos recipientes de alimentação dos componentes, geralmente conhecidos como alimentadores. O desenho adequado de uma caixa alimentadora pode eliminar problemas relacionadas à lesão por movimentos repetitivos, ocasionada por tensões musculares resultante da necessidade de utilização de uma classe de movimento mais alta, como ilustrado na figura a seguir. ESTUDO DOS ALIMENTADORES Alimentador incorreto 5 ESTUDO DOS ALIMENTADORES O alimentador de peças apresentado na figura anterior, é considerado deficiente por apresentar duas grandes falhas em seu desenho. Segundo Lida (2000), quando a mão é introduzida em seu interior para a coleta de peças, a parte situada sob o punho é fina e imprópria para o apoio, a mão precisa permanecer desencostada desta aresta. Outra característica não ergonômica consiste no tamanho e no grau de inclinação da janela de abertura para coleta das peças, que causa tensão muscular quando a mão é introduzida para coleta de peças. ESTUDO DOS ALIMENTADORES Alimentador correto ESTUDO DOS ALIMENTADORES Em outras palavras, um bom projeto de caixas alimentadoras permite que se apanhem as peças com maior rapidez, produzindo mais, sem forçar, em demasia, o punho do operador. ESTUDO DE TEMPOS O objetivo da medida dos tempos de trabalho era determinar a melhor e mais eficiente forma de desenvolver uma tarefa específica. 6 Estudo de tempos É a determinação, com o uso de um cronômetro, do tempo necessário para se realizar uma tarefa. O termo “cronoanálise” é bastante utilizado nas empresas brasileiras para designar o processo de estudo, mensuração e determinação do tempo padrão em uma organização.Cronoanalista O vocabulário cronoanalista dói bastante utilizado nas industrias brasileiras para desinar o cargo e função do profissional que executava as tomadas de tempo. Esta função foi largamente utilizada para registro na carteira de trabalho. Atualmente, devido à constante redução do contigente overhead , o cargo de cronoanalista foi substituído por outras descrições de cargo mais abrangentes e menos específicas, tais como analista industrial ou analista de processos. Finalidade do estudo dos tempos O estudo de tempos não tem apenas a finalidade de estabelecer a melhor forma de trabalho. O estudo de tempos procura encontrar um padrão de referência que servirá para: determinação da capacidade produtiva da empresa; elaboração dos programas de produção; determinação do valor da mão-de-obra direta no calculo do custo do produto vendido (CPV); estimativa do custo de um novo produto durante seu projeto e criação; balanceamento das linhas de produção e montagem. Equipamentos para o estudo de tempos Cronômetro de hora centesimal: a cronometragem do tempo de execução de determinada tarefa pode ser realizada com a utilização de um cronômetro normal facilmente encontrado no mercado. Tempo medido com cronômetro comum Tempo transformado para o sistema centesimal Cálculo 1 minuto e 10 segundos 1,17 minutos 1 + 10/60 = 1,17 1 minuto e 20 segundos 1,33 minutos 1 + 20/60 = 1,33 1 minuto e 30 segundos 1,50 minutos 1 + 30/60 = 1,50 1 horas, 47 min e 15 seg. 1,83 horas 1 + 47/60 + 15/3600 = 1,7875 7 Equipamentos para o estudo de tempos Filmadora: a utilização de filmadora tem a vantagem de registrar fielmente todos os movimentos executados pelo operador, e, se bem utilizada, pode eliminar a tensão psicológica que o operador sente quando está sendo observado diretamente por um cronoanalista. Equipamentos para o estudo de tempos Prancheta: na maioria das vezes, exceto quando a mensuração é feita por filmes, a tomada de tempos é feita no local onde ocorre a operação. Desta forma. É comum o uso de uma prancheta para o apoio do cronômetro e da folha de observações, de forma a permitir que o cronoanalista possa anotar suas tomadas de tempo em pé. Folha de observação: trata-se de um documento em que são registrados os tempos e demais observações relativas à operação cronometrada. É comum que cada empresa desenvolva sua folha de observação específica. Determinação do tempo cronometrado Divisão da operação em elementos: em primeiro lugar, a operação total cujo tempo padrão se deseja determinar deve ser dividida em partes para que o método de trabalho possa ter uma medida precisa, deve-se tomar cuidado de não dividir a operação em exageradamente muitos ou demasiadamente poucos elementos. Algumas regras gerais para este desdobramento são: separar o trabalho em partes, de maneira que sejam mais curtas possíveis, mas longas o suficiente para que possam ser medidas com o cronômetro; as ações do operador, quando independentes das ações das máquinas devem ser medidas em separado; definir o atraso ocasionado pelo operador e pelo equipamento separadamente. EXEMPLO Uma indústria de confecções deseja cronometrar o tempo de costura de uma camiseta. Em que elementos esta operação pode ser dividida ? Resolução Seria difícil cronometrar todas as atividades independentemente e detalhadamente como no “diagrama das duas mãos” dado o pequeno espaço de tempo que cada atividade demanda. Assim é possível dividir a atividade em: Elemento 1 – Costura dos ombros (costura da frente com as costas unindo os ombros) 8 EXEMPLO Elemento 2 – Costura das mangas (costura fechando as duas mangas independentes) Elemento 3 – Costura das mangas nos conjuntos frente e costa Elemento 4 – Fechamento de frente e costas nas laterais (abaixo das mangas) Elemento 5 – Costura da barra das mangas Elemento 6 – Costura da barra inferior do corpo Elemento 7 – Colocação da ribana. Determinação do número de ciclos a serem cronometrados É obvio e intuitivo que apenas uma tomada de tempo não é suficiente para se determinar o tempo de uma atividade. É necessário que se façam várias tomadas de tempo para obtenção de uma média aritmética destes tempos. A questão é: quantas tomadas de tempos são necessárias ara que a meda obtida seja estatisticamente aceitável? Neste caso é necessário utilizar um cálculo estatístico de determinação do número de observações, dado na fórmula a seguir. Determinação do número de ciclos a serem cronometrados Número de ciclos a serem cronometrados N = 2 2 X x dEr x R x Z ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ Onde: N: número de ciclos a serem cronometrados Z: coeficiente de distribuição normal para uma probabilidade determinada R: amplitude da amostra Er: erro relativo da medida d2: coeficiente em função do número de cronometragem realizadas preliminarm X : média dos valores das observações Determinação do número de ciclos a serem cronometrados Na prática costuma-se utilizar probabilidades para o grau de confiabilidade da medida entre 90% e 95%, e erro relativo aceitável variando entre 5% e 10%. Em outras palavras, supondo que seja encontrada uma média de cronometragens no valor de 10 segundos para um grau de confiabilidade de 95% e um erro de 5% isto significa que, estatisticamente, existe 95% de certeza que o tempo da atividade está entre 9,5 segundos e 10,5 segundos. 9 Tabelas de coeficientes Tabelas de coeficientes Os valores típicos dos coeficientes Z e d2 utilizados nos cálculos são apresentados na tabelas a seguir: Tabela 1 - Coeficiente de distribuição normal Probabilidade 90% 91% 92% 93% 94% 95% 96% 97% 98% 99% Z 1,65 1,70 1,75 1,81 1,88 1,96 2,05 2,17 2,33 2,58 Tabela 2 - Coeficiente d2 para o número de cronometragens iniciais N 2 3 4 5 6 7 8 9 10 D2 1,128 1,693 2,059 2,326 2,534 2,704 2,847 2,970 3,078 EXEMPLO Um analista de processos de uma grande fábrica de produtos de linha branca cronometrou a operação de montagem de determinada porta de um modelo de refrigerador. Foram feitas sete cronometragens iniciais para as quais foram obtidos os seguintes valores em segundos: 10,5 – 10,3 – 9,3 – 9,2 – 8,5 – 9,9 – 10,0 A empresa determinou, como regra geral, o grau de confiança para os tempos cronometrados fosse de 95%, com um erro relativo inferior a 5%. EXEMPLO Resolução X = 7 10,0 9,9 8,5 9,2 9,3 10,3 10,5 ++++++ = 9,8 R = 10,5 – 9,2 = 1,3 (a amplitude é a subtração envolvendo o maior e o menor tempo das medições) Z = 1,96 (de acordo com a tabela 2, para um grau de confiança 95%) d2 = 2,704 (de acordo com a Tabela 2, para 7 tomadas de tempo iniciais) Er = 5% ou seja 0,05 N = 2 2 X x dEr x R x Z ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ = 2 9,8 x 2,704 x 0,05 1,3 x 1,96 ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ = 3,7 cronometragens EXEMPLO Em outras palavras, foram realizadas sete cronometragens iniciais e a fórmula, utilizando estes valores preliminares, determinou que apenas quatro cronometragens seriam suficientes. Como o valor obtido com a fórmula é inferior ao número de cronometragens inicialmente executado, isto significa que a tomada de tempos foi valida e é possível utilizar a média encontrada de 9,8 segundos como sendo o “tempo cronometrado” necessário para a realização da tarefa, com 95 % de chance de ser acerto. 10 Interpretação da fórmula A formula do cálculo do número de ciclos a serem cronometrados foi desenvolvida em bases estatísticas. O tamanho da amostra vai depender: do grau de confiança desejado: Assim, quanto maior o grau de confiança, maior o valor de Z (vide Tabela2). Como Z está no numerador da fórmula, quanto maior o Z, maior o tamanho de N. da dispersão entre valores individuais da população: Quanto maior a amplitude da amostra, maior o valor de N, já que R também está no numerador da fórmula. do erro tolerável: Quanto maior o valor do erro tolerável Er, menor o tamanho da amostra exigido, uma vez que Er esta no denominador da fórmula. Interpretação da fórmula da média das observações: Quanto maior for o valor da média, menor será o tamanho da amostra necessário, já que x está no denominador da fórmula. Isto será relacionado ao fato que o grau de precisão na mensuração do tempo de atividades longas é maior que na mensuração de atividades curtas. do tamanho da amostra inicial: quanto maior o tamanho da amostra inicial, mais precisa será a mensuração. Como se pode perceber a partir da Tabela 2, d2 aumenta à medida que aumenta o número de cronometragens iniciais. Assim, como d2 se encontra no denominador da fórmula, quanto maior a amostragem inicial, menor será o valor d N. Determinação do tempo normal Slack et al. (2002) adotam a seguinte definição para a avaliação de ritmo dos tempos observados: Processo de avaliar a velocidade de trabalho do trabalhador relativamente ao conceito do observador a respeito da velocidade correspondente ao desempenho padrão. O observador pode levar em consideração, separadamente ou em combinação, um ou mais fatores necessários para realizar o trabalho, como a velocidade de movimento, esforço, destreza, consistência etc. Avaliação da velocidade do operador É o processo por meio do qual o cronoanalista compara o ritmo do operador em observação com o seu próprio conceito de ritmo normal. Velocidade acima do normal: o operador que está sendo avaliado pode estar trabalhando acima da velocidade normal. Isto pode acontecer por vários motivos, como por exemplo: Tratar-se do início de expediente na segunda-feira; O operador ter acabado de ser repreendido por seu superior; O operador estar buscando um prêmio de produtividade; 11 Avaliação da velocidade do operador O operador possuir uma destreza para aquela tarefa que pouca gente possui (neste caso a velocidade de trabalho pode ser normal para aquele operador específico, porém não servirá para um operador “normal”); Simplesmente, por estar sendo observado pelo cronoanalista. Neste caso, o tempo cronometrado encontrado deverá ser ajustado para cima, já que outros operadores não conseguirão repetir esse desempenho. Avaliação da velocidade do operador Velocidade abaixo do normal: nesta situação, o operador pode estar realizando a tarefa que está sendo cronometrada em velocidade lenta, ou que pode acontecer por fadiga, como por exemplo em uma sexta-feira à tarde. A lentidão também pode decorrer de o operador observado ainda não ter prática suficiente na tarefa, por estar intimidado ao sentir seu trabalho sendo cronometrado ou por qualquer outra razão. Neste caso, o tempo cronometrado encontrado deverá ser ajustado para baixo, já que menos tempo será necessário para que outros operadores realizem a mesma tarefa. Determinação da velocidade Talvez a parte mais importante e mais difícil do estudo de tempos consista na avaliação da velocidade ou ritmo com o qual o operador trabalha, durante a execução da cronoanálise. A velocidade do operador é determinada subjetivamente pelo cronoanalista. Para a velocidade de operação normal do operador é atribuída uma taxa de velocidade, ou ritmo, de 100%. Determinação da velocidade Em outras palavras, o cronoanalista deve saber se um trabalhador está em ritmo lento ou acelerado da mesma forma que é possível perceber as pessoas andando na rua. É fácil observar quem está andando depressa, quem anda em velocidade normal e quem esta andando mais devagar. Assim, se for convencionado que andar a 3 km/h é normal (100%) então andar a 4 km/h equivale a um ritmo de 133% e andar a 2 km/h equivale a um ritmo de 67%. 12 Determinação da velocidade Tempo normal TN = TC x v Onde: TN = Tempo normal TC = Tempo cronometrado v = Velocidade do operador Uma forma confiável de avaliação da velocidade do operador, que tem sido utilizada em vários estudos práticos de cronoanálise, consiste em simplesmente em perguntar para um experiente chefe do setor se o ritmo está correto. EXEMPLO Utilizando o tempo cronometrado encontrado no exemplo anterior de 9,8 segundos, qual seria o tempo normal se a velocidade do operador fosse avaliada em 116%? E se a velocidade fosse avaliada em 97%? Resolução a) velocidade em 116% TN = TC x v = 9,8 x 1,16 = 11,37 seg b) velocidade em 97% TN = TC x v = 9,8 x 0,97 = 9,51 seg Determinação do tempo padrão Uma vez determinado o tempo normal que é o tempo cronometrado ajustado a uma velocidade ou ritmo normal, será preciso levar em consideração que não é possível um operário trabalhar o dia inteiro, sem nenhuma interrupção, tanto por necessidades pessoais, como por motivos alheios à sua vontade. O tempo padrão é calculado multiplicando-se o tempo normal por um fator de tolerância para compensar o período que o trabalhador, efetivamente, não trabalha. O cálculo é feito utilizando-se a seguinte fórmula: TP = TN x FT Onde: TP = Tempo Padrão TN = Tempo Normal FT = Fator de Tolerância Tolerância para atendimento às necessidades pessoais Como se tratam de necessidades fisiológicas do organismo, estas tolerâncias costumam ser consideradas em primeiro lugar. Em trabalhos leves, para uma jornada de trabalho de oito horas diárias, sem intervalos de descanso pré- estabelecidas (exceto almoço, naturalmente) o tempo médio de parada, geralmente utilizado, varia de 10 a 24 minutos, ou seja de 2% a 5% da jornada de trabalho. É importante observar que esta tolerância pode variar de indivíduo para indivíduo, de país para país, e de acordo com a natureza do trabalho. Em geral, trabalhos mais pesados e ambientes quentes e úmidos requerem maior tempo para necessidades. 13 Tolerância para alívio da fadiga Até hoje não existe uma forma satisfatória de se medir a fadiga, que é proveniente não só da natureza do trabalho, mas também das condições ambientais do local de trabalho. O quadro logo a seguir apresenta as tolerâncias propostas por Benjamin W. Niebel, em seu livro Motion and Study, as quais são comumente mencionadas na literatura sobre administração da produção. Na praticadas empresas brasileiras, o que se tem observado é a utilização de uma tolerância de 15% e 20% do tempo para trabalhos normais, em condições de ambientes normais. Tolerâncias de trabalho DESCRIÇÃO % DESCRIÇÃO % A. Tolerâncias Invariáveis: 4. Iluminação deficiente 1. Tolerâncias para necessidades pessoais 5 a) ligeiramente abaixo do recomendável 0 2. Tolerâncias básicas para fadiga 4 b) bem abaixo do recomendável 2 B. Tolerâncias Variáveis: c) muito inadequada 5 1. Tolerância para ficar em pé 2 5. Condições atmosféricas 0 - 10 2. Tolerância quanto à postura (calor e umidade) - variáveis a) ligeiramente desajeitada 0 6. Atenção cuidadosa b) desajeitada (recurvada) 2 a) trabalho razoavelmente fino 0 c) muito desajeitada (deitada, esticada) 7 b) trabalho fino ou de precisão 2 3. Uso de força ou energia muscular c) trabalho fino ou de grande precisão 5 (erguer, puxar ou levantar) 7. Nível de ruído Peso levantado em quilos a) contínuo 0 2,5 0 b) intermitente – volume alto 2 5,0 2 c) intermitente – volume muito alto 5 7,5 2 d) timbre elevado – volume alto 5 10,0 3 8. Estresse mental 12,5 4 a) processo razoavelmente complexo1 15,0 5 b) processo complexo 4 17,5 7 c) processo muito complexo 8 20,0 9 9. Monotonia 22,5 11 a) baixa 0 25,0 13 b) média 1 27,5 17 c) elevada 4 30,0 22 10. Grau de tédio a) um tanto tedioso 0 b) tedioso 2 c) muito tedioso 5 Tolerância para alívio da fadiga Muitas vezes a tolerância é calculada em função dos tempos de permissão que a empresa está disposta a conceder. Neste caso determina-se a porcentagem de tempo p concedida em relação ao tempo de trabalho diário e calcula-se o fator de tolerâncias por meio da seguinte formula: Fator de tolerância FT = p - 1 1 Onde: FT = Fator de Tolerância P = tempo de intervalo dado dividido pelo tempo tempo de trabalho (% do tempo ocioso) Tolerância para espera Além das tolerâncias necessárias para as necessidades pessoais e para o alivio de fadiga, existe um outro tipo de tolerância para situações sobre as quais o trabalhador não tem domínio, dentre as quais as mais usuais são as esperas por trabalho. As esperas podem ter vários motivos dentre eles é possível citar: necessidades de pequenos ajustes de máquina, interrupções do trabalho pelo próprio supervisor, falta de material, falta de energia e necessidades de manutenção preventiva. Este tipo de tolerância não necessariamente deve fazer parte do tempo padrão. 14 EXEMPLO Uma empresa do ramo metalúrgico deseja determinar o tempo padrão necessário, com 90% de confiabilidade e um erro relativo de 5%, para a fabricação de determinado componente que será utilizado na linha de montagem. O analista de processos realizou uma cronometragem preliminar de nove tomadas de tempo, obtendo os dados a seguir. Pergunta-se: a) o número de amostragens é suficiente ? b) qual o tempo cronometrado (TC) e o tempo normal (TN) ? c) qual o tempo padrão (TP) se a fabrica definir um índice de tolerância de 15%? d) Caso a empresa conceda 12 minutos para necessidades pessoais, 15 minutos para lanches e 20 minutos para alivio de fadiga em um dia de 8 horas de trabalho, qual será o novo tempo padrão ? EXEMPLO Tempos cronometrados (centésimo de hora)Folha de observação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Cortar a chapa 0,07 0,08 0,09 0,09 0,08 0,07 0,07 0,08 0,07 Dobrar a chapa 0,07 0,06 0,07 0,06 0,05 0,07 0,06 0,06 0,06 Furar a chapa 0,15 0,14 0,16 0,15 0,14 0,13 0,13 0,15 0,14 Remover rebarbas 0,05 0,05 0,04 0,05 0,04 0,04 0,04 0,05 0,05 Velocidade avaliada: 94% Resolução Cálculo do número de cronometragens da operação cortar chapa. X = 9 07,008,007,007,008,009,009,008,007,0 ++++++++ = 0,078 R = 0,09 – 0,07 = 0,02 EXEMPLO Z = 1,65 (de acordo com a Tabela 1) d2 = 2,970 (de acordo com a Tabela 2) N = 2 2 X x dEr x R x Z ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ = 2 0,078 x 2,97 x 0,05 0,02 x 1,65 ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ = 8,1 De forma análoga obtém-se: Número de cronometragens da operação de dobrar chapa, N = 12,8 Número de cronometragens da operação de furar chapa, N = 5,4 Número de cronometragens da operação de remover rebarbas, N = 10,4 Logo o número de observações cronometradas é suficiente. EXEMPLO Neste caso, o tempo cronometrado é a soma dos tempos médios cronometrados individualmente por operação: TC = 0,078 + 0,062 + 0,143 + 0,046 = 0,33 horas O tempo padrão para uma tolerância de 15% será: TN = TC x v → TN = 0,33 x 0,94 = 0,32 horas TP = TN x FT → TP = 0,32 x 1,15 = 0,37 horas Quando o fator de tolerância é dado pelo tempo permitido, deve-se calcular o fator de tolerância em primeiro lugar: P = 480 201512 ++ = 0,098 → FT = p - 1 1 → FT = 0,098 - 1 1 =1,109 TP = TN x FT → TP = 0,32 x 1,109 → 0,35 horas
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