Buscar

Direitos Individuais Apostila

Prévia do material em texto

APOSTILA 
DE 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
TEMA: DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: HISTÓRICO, CONCEITO E EXTENSÃO
Material de apoio para a disciplina “Direitos Humanos” – LEITURA COMPLEMENTAR
Elaborado por : Denis Domingues Hermida
SUMÁRIO 
I - Introdução ...................................................................................................2
II - Conceito e histórico dos direitos fundamentais.........................................4
III - Conceito e histórico de direitos e garantias individuais.........................23
IV - Os direitos e garantias individuais consagrados na Constituição de 1988 e sua extensão......................................................................................................29
V - Conceito de cláusula pétrea.....................................................................112
VI- Interpretação do parágrafo 4o do artigo 60 da Constituição de 1988...135
VII – Conclusão.................................................................................................195
VIII – Bibliografia.............................................................................................198
I – INTRODUÇÃO
Os direitos e garantias individuais estão abrigados dentro da categoria dos direitos fundamentais do homem, em razão de sua essencialidade. O trabalho que ora se apresenta procura desenvolver um estudo específico sobre essa espécie de direito fundamental, destacando principalmente o tratamento diferenciado que a Constituição Federal destinou a esses direitos. 
	Buscando atingir os objetivos propostos pelo trabalho, primeiramente se realizou um estudo histórico dos direitos e garantias individuais, destacando inclusive a evolução dos próprios direitos fundamentais. 
	Num segundo momento, se procurou formular um conceito de direito individual, verificando o que a doutrina brasileira compreende por tal termo. Para tanto, fez-se necessário abordar não apenas o conceito de direito individual, mas também distinguí-lo dos direitos coletivos e dos direitos sociais, não objeto do presente estudo. Também se procedeu à diferenciação entre os termos direitos e garantias, demonstrando a íntima conexão que existe entre eles.
	Cumpridas tais etapas, se analisou os direitos e garantias individuais consagrados na Constituição Federal, identificando seu conteúdo, as questões problemáticas implicadas em cada um deles e ainda a extensão de tais direitos e garantias. Embora se tenha procurado fazer uma abordagem ampla, estudando os inúmeros direitos fundamentais dessa espécie, certamente restaram alguns que não foram abordados, até em razão da dificuldade de sua identificação no corpo constitucional.
	Por fim, se desenvolveu um estudo das cláusulas pétreas com o intuito de demonstrar qual a interpretação mais adequada do artigo 60, §4º da Constituição Federal. Neste mesmo contexto, se analisou qual o tratamento destinado aos direitos e garantias individuais, considerando que a Lei Maior expressamente os elevou à categoria de cláusulas pétreas. Verificou-se também a possibilidade de se considerar outros direitos fundamentais, além dos direitos individuais, cláusulas pétreas.
II - HISTÓRICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
1. A denominação direitos e garantias fundamentais
Antes de adentrarmos no estudo dos direitos e garantias individuais é de suma importância estudarmos os direitos fundamentais dos seres humanos, uma vez que, já adiantamos, direitos individuais são espécies daqueles.
Para tanto, vamos abeberar nos ensinamentos do professor Vidal Serrano Nunes Junior, cujo trabalho serviu de base para as definições que seguem.
É importante salientar que esta categoria jurídica tem diversas expressões terminológicas, como Liberdades Públicas, Direitos do Homem, Direitos Humanos, Direitos Públicos Subjetivos.
A expressão Liberdades Públicas é muito restrita, pois traduz apenas a essência dos direitos individuais ou civis. É a preservação da liberdade do indivíduo frente a possíveis atos de prepotência do Poder Público. É direito de resistência. É utilizado pela doutrina francesa, em especial.
A denominação Direitos do Homem ou Humanos indica predicados inerentes à natureza humana enquanto tal, independente de um sistema jurídico específico, é de dimensão congênita e universalista. Vem antes da existência do direito positivado.
J.J Gomes Canotilho, p.529, assim nos ensina:
«As expressões “direitos do homem” e “direitos fundamentais” são freqüentemente utilizadas como sinônimas. Segundo a sua origem e significado poderíamos distingui-las da seguinte maneira: direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos (dimensão jurisnaturalista-universalista); direitos fundamentais são os direitos do homem,jurídico-institucionalmente garantidos espácio-temporalmente. Os direitos do homem arrancariam da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal; os direitos fundamentais seriam direitos objetivamente vigentes numa ordem jurídica.»
	Os Direitos Públicos Subjetivos limitam suas abrangências às relações estabelecidas entre os indivíduos e o Poder Público, deixando de agregar em seu significado os deveres coletivos ou o propósito de limitação do poder econômico.
	Já a denominação Direitos Fundamentais traduz o acúmulo evolutivo dos níveis de alforria dos seres humanos e os coloca inerentes à condição humana e são passíveis de reivindicação judicial .
1.2.- Classificação e conceito dos direitos fundamentais
Os Direitos Fundamentais são vocacionados para a proteção da dignidade humana em todas as suas dimensões. São de natureza poliédrica e prestam-se ao resguardo da liberdade (direitos e garantias individuais); necessidades (direitos econômicos, sociais e culturais); preservação (direitos à fraternidade e à solidariedade).
Os Direitos Fundamentais são frutos da evolução econômica e social em simultaneidade com a evolução das relações jurídicas da humanidade. Não surgem das mãos dos legisladores, mas por estes foram reconhecidos e positivados, inclusive nas Constituições.
	
1.2.1. Classificação
 
Os Direitos Fundamentais podem ser abordados sob diversos enfoques, resultando, assim,em muitas classificações:
conteudística ; b) jurídico positivo ; c) evolutivo cumulativo
1.2.1.1. Enfoque Conteudística
Por este enfoque, os Direitos Fundamentais são classificados conforme os valores específicos que estão destinados a proteger: proteção da dignidade humana em todas as suas dimensões é o valor genérico que deseja proteger.
As diversas dimensões são segmentadas segundo os valores específicos que venham contemplar e mesmo distintos entre si permanecem ligados pela finalidade que os une.
São três as dimensões conteudísticas: a) direitos fundamentais protetivos da liberdade, os quais tem por finalidade limitar a atuação estatal em relação às liberdades individuais; é direito de resistência; b) direitos protetivos dos indivíduos diante das necessidades materiais, ao contrário do item anterior, neste caso o indivíduo tem direito a ações compensatórias do Estado, cuja finalidade é a diminuição das desigualdades econômicas, sociais e culturais; c) direitos protetivos da preservação do ser humano ou de solidariedade, que é o direito à paz, ao desenvolvimento, à comunicação social.
1.2.1.2. O enfoque jurídico positivo
São os Direitos Fundamentais que estão expressamente indicados no plano do direito positivado.
A nossa Constituição reuniu num mesmo capítulo direitos de natureza diversa. Assim, não adotou corte metodológico, mas positivou os diversos Direitos Fundamentais historicamente reconhecidos pela humanidade, tanto os individuais, como os sociais,econômicos, culturais, políticose coletivos.
Poderíamos classificar o enfoque jurídico positivo no seguinte:
a)direitos individuais, aqueles destinados à limitação do Estado, cuja finalidade é atribuir aos indivíduos direitos de liberdade, fruíveis e reinvindicáveis individualmente;
b)direitos coletivos, são aqueles transindividuais, cujos titulares são pessoas indetermináveis, ligadas a circunstâncias de fato(difusas) ou grupo, categoria ou classe, as quais estão ligadas entre si pela parte contrária a uma relação jurídica básica;
c)direitos sociais (art.6º ); 
d)direitos de nacionalidade;
e)direitos políticos;
 f) partidos políticos.
Neste caso não existe divergência com José Afonso da Silva, p.164. Porém, ele não fala de partidos políticos, mas lembra dos direitos econômicos, artigo 170 e ss., com o qual concordamos.
1.2.1.3. O enfoque evolutivo cumulativo
Existe um processo de evolução, uma vez que a positivação dos Direitos Fundamentais dos seres humanos é resultado de um aumento progressivo de aspectos da dignidade humana que passaram ao longo da história a serem objetos de proteção jurídica.
Basicamente são três as gerações de Direitos Fundamentais:
Direitos de 1ª geração, são os individuais e políticos, que visam a resguardar as liberdades individuais oponíveis ao Estado e a instrumentalizar a participação popular;
Direitos de 2ª geração, são os direitos às ações positivas do Estado, aos serviços públicos, `a intervenção do Estado para diminuir as desigualdades por meio de diversas políticas compensatórias;
Direitos de 3ª geração, são aqueles intrínsecos à preservação da espécie humana, à solidariedade, à paz, ao desenvolvimento econômico
1.2.2. Características intrínsecas dos direitos fundamentais
Os Direitos Fundamentais por constituírem uma categoria jurídica trazem consigo algumas características, cuja essência os unificam e os diferenciam dos demais direitos expressos na Constituição.
As características dos Direitos Fundamentais são as seguintes:a)historicidade; b) autogeneratividade; c) universalidade; d) limitabilidade; e)concorrência. Analisemos cada uma delas : 
Historicidade,não existe consenso doutrinário em relação ao momento histórico.Mas é certo que os Direitos Fundamentais não surgiram do nada, mas de um processo histórico evolutivo. É resultado da luta da humanidade, em diferentes momentos históricos e lugares para assegurar a dignidade da pessoa humana e com o passar dos séculos foram sendo positivados.
Este tema será aprofundado no item 2 deste capítulo.
b) A autogeneralidade dos Direitos Fundamentais estão incluídos entre os elementos fundantes das Constituições. No entanto, na prática, elas só existem porque incorporam estes direitos juntamente com os elementos constitutivos do Estado ( população, governo, finalidade, território).
Pablo Lucas Murillo, in “El Derecho a la Autodeterminación Informativa”, p.17, assim fundamenta:
 « no hay duda de que constituyen el núcleo del ordenamiento constitucional y, por tanto, del ordenamiento jurídico. El Estado como organización política juridicamente organizada tiene sua razón de ser en la realización de los derechos fundamentales»
Já Carl Schimitt, leciona que « Por tener um concepto utilizable por la ciencia es preciso dejar afirmado que e el Estado burguès de Derecho son derechos fundamentales sólo aquellos que el Estado, no es que otorgue con arreglo a suas leyes, sino que reconece e protege com dados antes que él...»
 Assim, os Direitos Fundamentais possuem legitimidade, sua positivação não desqualifica o momento da jusnaturalização, aspectos forjados a partir de conceitos como dignidade humana, igualdade, liberdade, fraternidade.
J.J.Gomes Canotilho: «a positivação constitucional não significa que os direitos fundamentais deixem de ser elementos constitutivos da legitimidade autogenerativa... e, por conseguinte, elemento legitimativo-fundante da própria ordem jurídica constitucional positiva....a positivação jurídica constitucional não “ dissolve” nem “consome” quer o momento de “jurisnaturalização” quer as raízes fundantes dos direitos fundamentais.» 
c) A universalidade dos Direitos Fundamentais existe, porque sua razão de ser é o gênero humano. Por isso, é incompatível sua restrição a um grupo, categoria, casta, classe ou estamento de pessoas.
Afirmar os Direitos Fundamentais é colocar o ser humano acima de e independente de qualquer outra configuração de caráter econômico, social, racial, político, origem, cultural.
d) A limitabilidade dos direitos fundamentais significa que estes direitos não são absolutos,logo a norma jurídica não pode, na sua aplicação ao caso concreto ser aplicada em toda a sua extensão e alcance em decorrência do fenômeno da colisão de direitos.
Existe o fenômeno de colisão de direitos quando duas pessoas ou grupos de pessoas têm direito ao mesmo direito, porém estão com reivindicações opostas um ao outro.
Citamos como exemplo: passseata de um sindicato em via pública x direito de locomoção de outros indivíduos que não fazem parte da passeata.
Neste caso, dois direitos fundamentais se chocam.Assim, precisamos encontrar uma solução, a qual resume-se no seguinte: 1- admite-se que os direitos fundamentais são limitáveis e, portanto, não absolutos; 2- a limitabilidade não deve ser definida no plano normativo, mas no plano fenomênico, diante da colisão de direitos concretamente exercidos.
e) Irrenunciabilidade, posto que são intrínsecos aos seres humanos, a renúncia seria à própria condição de humanidade.
f) Concorrência de direitos fundamentais significa que tais direitos são acumuláveis pelos indivíduos. Portanto,uma única conduta pode ser portegida simultaneamente por mais de uma norma constitucional.
Citamos como exemplo , a veiculação de uma notícia por meio de comunicação de massa. Neste caso, o indivíduo receptor pode ao mesmo tempo exercer o direito de comunicação, de informação e de opinião.
José Afonso da Silva, p.162, in Curso de Direito Constitucional Positivo 6ª ed., 1990, São Paulo, Revista dos Tribunais, fala apenas das seguintes características dos direitos fundamentais: historicidade( afirmando que aparecem com a Revolução francesa e que sua historicidade rechaça toda fundamentação baseada no direito natural, na essência do homem ou na natureza das coisas); inalienabilidade ( são direitos intransferíveis, inegociávies, porque não são de conteúdo econômico-patrimonial, indisponíveis); imprescritíveis ( a prescritibilidade somente atinge direitos patrimoniais e não os personalíssimos); irrenunciáveis ( podem até não serem exercidos, mas podem potencialmente serem exercidos a qualquer tempo).
Coloca, ainda, José Afonso, que os direitos fundamentais absolutos são aqueles cujo conteúdo e incidência decorrem inteiramente da Constituição, enquanto os relativos decorrem quando a lei preencher o conteúdo e a incidência.
Na nossa opinião, a doutrina de Vidal Serrano é melhor, pois ajuda a solucionar os problemas concretos.
1.2.3. Características Extrínsecas dos Direitos Fundamentais
Lembramos que as características intrínsecas identificam a essência de um direito fundamental.
Já as extrínsecas são as características identificas na Constituição, as quais podemos caracteriza-las nas seguintes: a)rigidez; b) imodificabilidade das cláusulas pétreas; c) aplicabilidade imediata . Analisemos cada uma : 
a) rigidez, neste caso suas normas submetem-se a um processo mais gravoso de modificação via o legislador ordinário e todas as normas infra-constitucionais guardam dever de compatibilidade vertical com elas.
b) direitos e garantias individuais clausuladas em cláusulas pétreas, conforme o artigo 60, § 4º da Constituição, o que torna esta espécie de Direitos Fundamentais impermeável à eventuais modificações via o legislador ordinário;
c) aplicabilidade imediata de seus preceitos, segundo o artigo 5º,§1º da Constituição.
1.3. Conclusão deste tópico
1- Os Direitos Humanos são inerentes e intrínsecos aos seres humanos enquanto tal. Portanto, são universais e intemporais e independem de positivação jurídica para serem reconhecidos, segundo a visão jurisnaturalista.
2- Os Direitos Humanos, quando positivados, foram denominados de Direitos Fundamentais, conforme doutrina de José Joaquim Gomes Canotilho.
3- Os Direitos Fundamentais são gêneros, cujas espécies são basicamente as seguintes: a) Liberdades Públicas ou Direitos Individuais (direito de resistência ao Estado e à participação política); b) Direitos econômicos, sociais, culturais; c) Direitos à preservação da espécie humana.
4- Os Direitos Fundamentais são direitos públicos subjetivos.
5- Classificação dos Direitos Fundamentais: a)conteudística (direitos protetivos da liberdade; direitos protetivos dos indivíduos diante das necessidades materiais; direitos protetivos da preservação do ser humano; b) jurírico-postivo(direitos individuais, coletivos, sociais, de nacionalidade, políticos, de partidos políticos),c)evolutivo-histórico, ( direitos de preservação, à paz, à solidariedade, à fraternidade, ao desenvolvimento).
6- Os Direitos Fundamentais, conforme o processo evolutivo-histórico podem ser:
- Direitos de 1ª geração( individuais e políticos, participação popular);
- Direitos de 2ª geração (direitos às ações positivas do Estado, como os serviços públicos essenciais, com a finalidade de compensar desigualdades);
- Direitos de 3ª geração (direitos de prevervação: paz, solidariedade, fraternidade, deselvolvimento).
7- Características intrínsecas dos direitos fundamentais.A essência, aquilo que o diferencia de outros direitos: historicidade; limitabilidade(fenômeno da colisão de direitos); irrenunciabilidade; concorrência.
8-Características extrínsecas. São as identificadas no direito positivo. Na Constituição: rigidez( processo mais gravoso de modificação); direitos individuais impermeáveis à modificação, cláusulas pétreas ( artigo 60, § 1º ); aplicação imediata de sues preceitos, artigo 5º,§ 1º da Constituição.
2) História dos Direitos Fundamentais
Com a finalidade de conceituar Direitos Fundamentais nos utilizamos, basicamente, dos ensinamentos do professor doutor Vidal Serrano Nunes Junior e de outros doutrinadores utilizados em suas obras. Agora, no entanto, concluímos que a obra do professor doutor José Afonso da Silva é mais extensa, no aspecto histórico-evolutivo destes direitos.Assim, utilizaremos, especialmente, seus ensinamentos no trabalho que segue.
Porém, é importante salientar que não existe consenso doutrinário em relação ao momento histórico que surgiram os Direitos Fundamentais. Mas é certo, segundo Vidal Serrano Nunes Junior, que a idéia foi consolidada com o advento do cristianismo que preconizava o homem à imagem e semelhança de Deus e, portanto, foi necessário a preservação da essência humana, da autodeterminação.
José Afonso da Silva classifica os Direitos Fundamentais do Homem: individuais, políticos, sociais e econômicos, a exemplo da grande maioria dos doutrinadores.
Antecedentes das Declarações de Direitos
O reconhecimento de direitos fundamentais é mais que uma conquista. É uma reconquista de algo que se perdeu quando a sociedade se dividira entre proprietários e não proprietários.
Na sociedade primitiva, gentílica, o poder era interno à própria sociedade. Não existia poder dominante. Os seres humanos buscavam libertar-se da opressão da natureza, mediante descobertas e invenções, conforme Rudolf von Jhering, in “ L’Esprit du Droit Romain dans lês Diverses Fhases de son Developpement”.
A forma de poder externo surge com o desenvolvimento do sistema de propriedade. Aparece, então, a opressão e a subordinação. Surge a escravidão sistemática.
O Estado se forma para amparar e sustentar o sistema de dominação.
A partir daí, o homem, além de lutar contra os empecilhos da natureza, viu-se diante das opressões sociais e políticas e sua história é a luta para se libertar da opressão e da dominação.
O intelecto humano luta para dominar a propriedade, através da definição das relações entre o Estado e a propriedade: as obrigações e as limitações dos seus donos e as salvaguardas para as suas garantias.
Tendo em vista que os interesses da sociedade são maiores que os interesses dos indivíduos isoladamente. A humanidade luta pela democracia no governo e a fraternidade na sociedade, pela igualdade de direitos e privilégios, pela educação universal, entre outras lutas até chegar às declarações formais de direitos ou aos direitos da primeira geração.
O pensamento sofístico da Antiguidade Clássica elaborou divagações sobre o princípio da igualdade, porém o pensamento dominante não colocava preocupações humanitárias ( livro do Vidal Serrano Nunes Junior)
Podemos citar como antecedentes das declarações formais de direitos: 
- O veto do Tribuno da Plebe contra ações injustas dos patrícios em Roma;
- A lei de Valério Publícola que proibe penas corporais contra cidadãos em determinadas situações;
- O Interdicto de Homine Libero Exhibendo que dava a proteção jurídica da liberdade e é antecedente remoto do Hábeas Corpus
Porém, essas medidas não eram universais, uma vez que se limitavam a proteger os membros da classe dominante.
Durante a Idade Média surgiram os antecedentes diretos das declarações de direitos.Nesta fase da história da humanidade, em muito contribuiu a teoria do direito natural a qual condicionou o aparecimento do princípio das leis fundamentais do reino, sendo estas limitadoras do poder do monarca.
Muitas denominações apareceram: “pactos”; “florais”; “cartas de franquia”; “estatutos e cartas assecuratórias de direitos”, cujos objetivos eram a proteção de direitos grupais e de estamentos, mas com reflexos nos direitos individuais.
Os espanhóis elaboraram, os seguintes documentos que visavam limitar o poder do rei:
-Leon e Castela-1188, o qual falava de segurança, domicílio, propriedade, atuação em juízo;
-Aragão- 1265- reconhecimento de direitos e limitação do poder dos nobres;
-Viscaia-1526- reconhecendo privilégios, franquias e liberdades.
Para os ingleses e toda a história da humanidade, podemos citar a Magna Carta-1215-1225- como um marco histórico e o Mayflower Compact de 1620, que por si só, é um documento de garantia de governo limitado, além dos seguintes documentos : 
 
- Petition of Rights-1628 : a petição de direitos é de origem parlamentar. É um documento do parlamento inglês solicitando do rei o reconhecimento dos direitos e liberdades para os súditos. Na realidade foi um meio de transação entre o reio e o parlamento e na verdade foi uma solicitação para que os direitos já expressos no artigo 39ª da Magna Carta fosse colocado em prática. O rei cedeu porque necessitava de autorização do parlamento para executar as finanças públicas. ;
- o Hábeas Corpus Amendment Act- 1679; tinha por objetivo suspender as prisões arbitrárias, foi um grande golpe nos déspotas; 
- o Bill of Rights- esta declaração de direitos é fruto da da Revolução liberal de 1688, a qual conquistou de uma vez por todas a supremacia do parlamento, a monarquia constitucionalista e submissa à soberania popular. A partir daí superou-se, assim, a realeza de direito divino.
É verdade que estes textos são estamentais e se condicionam à formação de regras consuetudinárias. Porém, foram importantíssimos símbolos das liberdades públicas e serviram de base para que juristas extraíssem, especialmente, da Magna Carta os fundamentos da ordem jurídica democrática inglesa.
A estabilidade e o firme desenvolvimento das instituições inglesas bastaram para tornar ociosa uma lista maior de liberdades públicas. As constantes afirmações do Parlamento e dos precentes judiciais formando a Common Law foram suficientes para assegurar o mais firme respeito pelos DireitosFundamentais dos seres humanos.
Citamos, ainda, os diversos documentos das Colônias inglesas da América do Norte, os quais são estatutos e cartas assecuratórios de direitos fundamentais, como: Charter of New Englant- 1620; Charter of Massachusetts Bay- 1629; Charter of Maryland- 1632; Charter of Carolina- 1663; Charter of Geórgia- 1732 ; Massachusetts Body of Liberties- 1641; New York Charter of Liberties- 1683; Pensylvania Charter of Privileges-1701. 
2.2 As Declarações Universais de Direitos	
	
De grande envergadura foram as declarações de direitos dos Estados da Virgínia e Pensylvania de 1776, as quais precederam à Revolução burguesa na França, mas comungavam das mesmas idéias e tinha como filosofia os mesmos pensadores.
Porém, a carta de maior pujança foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, na França, fruto da Revolução burguesa. Esta sim de cunho universalista.
Conforme Paulo Bonavides:
“Constatou-se então com irrecusável veracidade que as declarações antecedentes de ingleses e americanos podiam talvez ganhar em concretude, mas perdiam em espaço de abrangência, porquanto se dirigiam a uma camada social privilegiada ( os barões feudais), quando muito a um povo ou a uma sociedade que se libertava politicamente, conforme era o caso das antigas colônias americanas, ao passo que a Declaração francesa de 1789 tinha por destinatário o gênero humano.” 
Após a revolução francesa a grande maioria dos ordenamentos jurídicos dos diversos Estados constitucionalizou estas declarações, transformando-as em normas jurídicas, geradoras de direitos subjetivos.
Podemos citar como marco a Constituição Belga de 1831, conforme Paulo Biscaretti de Rufia, in Curso de Direito Constitucional, p.516 , mas antes deste meio consenso histórico, podemos citar, também, a Constituição brasileira de 1824, a qual foi outorgada ao povo, por d.Pedro I.
É importante frisar as características da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789: a) intelectualismo, porque foi uma operação de ordem puramente intelectual que se desenrolaria somente no plano das idéias, era antes de tudo um documento filosófico e jurídico que visava uma sociedade ideal, mas baseada no consentimento popular, na legitimidade; b) mundialismo, pois pretendia ultrapassar os indivíduos franceses, desejava um valor geral, universal; c) individualismo ,uma vez que somente consagra os valores individuais e não menciona a liberdade de associação e nem a liberdade de reunião, preocupa-se apenas em defender o indivíduo contra o Estado, declara o direito de resistência. É de cunho estritamente liberal, burguês.
Assim, a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, traz apenas os direitos da primeira geração; isto é, os direitos individuais e políticos, esquecendo-se dos direitos materiais(de segunda geração) e dos direitos à preservação, à paz, à solidariedade ( direitos da terceira geração). Portanto, apesar de pretender-se universal, acabava, na prática, não atingindo nem a totalidade do povo francês. Formalmente, todos tinham direitos.Mas, era apenas perante a lei e não na lei; isto é, à igualdade substancial. Logo, atendia, apenas o povo burguês.
 Tal fato se explica, uma vez que a burguesia do século XVIII estava oprimida apenas do ponto de vista político, uma vez que tinha o poder econômico.
Com o desenvolvimento industrial e o consequente surgimento de uma classe operária o povo desprovido de poder econômico percebeu logo que aquelas garantias eram apenas formais e que, muitas vezes, serviam apenas para proteger as propriedades da burguesia e seus direitos políticos contra greves, assembléias de trabalhadores, direitos de associações, de reunião.
Assim, nos explica Juan Ferrando Badía, p.49: (J.AS. pág.142): 
“A burguesia liberal aperenta conceder a todos a liberdade de imprensa, a liberdade de associação, os direitos políticos, as possibilidades de oposição política: mas , de fato, tais direitos e liberdades não podem ser exercidos realmente senão pelos capitalistas, que são os que têm os meios econômicos indispensáveis para que tais liberdades sejam reais. E assim, no caso do direito de sufrágio, este serve para camuflar diante dos olhos dos proletários uma papeleta de voto, mas a propaganda eleitoral se encontra nas mãos das forças do dinheiro. Simula conceder-lhes o direito de formar sindicatos e partidos políticos, mas as oligarquias capitalistas conservam, direta ou indiretamente, o controle.”
Em oposição a este estado de coisas surgem novas doutrinas: os socialistas, primeiro os utopistas (Saint-Simon, Fourier, Louis Blanc, Owen ) e depois os cientistas(Karl Marx , Engels), os quais submeteram as concepções abstratas da liberdade, da igualdade a severas críticas, uma vez que medravam as injustiças e as iniqüidades na repartição da riqueza e faziam prosperar a miséria das massas proletárias, enquanto a burguesia acumulava cada vez mais riquezas. O sistema favorecia poucos e gerava crises econômicas para a grande maioria do povo.
	O fruto destas críticas foi a Declaração de Direitos do Povo Trabalhador e Explorado: o Manifesto Comunista de 1848, cuja influência é comparado por Harold Laski , p.27 com a Declaração de Independência Norte Americana e com a Declaração de Direitos de 1789. A partir daí surgiram outras concepções em bases teóricas da sociedade e do Estado, além de documentos de outras correntes, como as encíclicas papais, a Rerun Novarum, 1891, de Leão XIII.
	No plano jurídico, a Revolução de 1848, em Paris, garantiu o direito do trabalho em sua constituição de curta duração. Mas foi a Constituição do México de 1917 a primeira que sistematizou um conjunto de direitos sociais do homem, denominado de Declaração de Direitos Socais, artigo 123	, sem romper com o sistema capitalista Em seguida veio a Constituição alemã de Weimar, 1919, qual sob o signo de Direitos e Deveres Fundamentais dos Alemães, incluiu os direitos da pessoa individual, os direitos da vida social, os da vida religiosa, os da educação e escola e os da vida econômica.Apesar da Constituição mexicana ser a mais avançada foi a alemã de Waimar que teve mais influência no constitucionalismo após a primeira grande guerra mundial, inclusive na brasileira de 1934.	
			
	Porém, apesar de suas contradições, foi uma marco histórico, uma passo muito grande para a humanidade, pois através de seus ideais foi pos+sivel a conquista de outros direitos fundamentais.
Em 10 de dezembro de 1948 a ONU- Organização das Nações Unidas- sacramentou a idéia de reconhecimento universal dos Direitos Humanos, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
III - CONCEITO DE DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS
	Como dito anteriormente, os direitos e garantias individuais estão inseridos na categoria dos direitos fundamentais, ou seja, aqueles direitos são espécies do gênero direitos fundamentais. 
	Partindo desse pressuposto, faz-se necessário compreender o significado do termo direito fundamental, para posteriormente analisar o conceito de direito individual.
	Para tanto, recorre-se às lições de Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior, os quais afirmam que “os direitos fundamentais podem ser conceituados como a categoria jurídica instituída com a finalidade de proteger a dignidade humana em todas as dimensões”�. Os referidos autores analisam ainda o conteúdo de cada uma das palavras que compõem a expressão, concluindo que “o vocábulo direito serve para indicar tanto a situação em que se pretende a defesa do cidadão perante o Estado como os interesses jurídicos de caráter social, político ou difuso protegidos pela Constituição. De outro lado, o termo fundamental destaca a imprescindibilidade desses direitos à condição humana.”�
	Em relação aos direitos individuais, também denominados de direitos de liberdade, liberdades públicas, ou ainda direitos civis, pode-se afirmarque correspondem aos direitos fundamentais de primeira geração, que impõem uma limitação à atuação do Estado e dos particulares. 
Reforçando esta idéia, encontram-se as considerações realizadas por Vladimir Brega Filho, para quem os direitos individuais “são concebidos para serem exercidos pela pessoa humana individualmente considerada e trazem como característica principal a imposição de limites ao poder estatal e aos demais indivíduos.”� A partir desse conceito, Vladimir Braga Filho constata que os direitos individuais podem ser visualizados através de duas perspectivas diferentes, pois por um lado concedem o exercício de um direito ao indivíduo e, por outro, impõem ao Estado e aos demais membros da sociedade o dever de se abster, de não se intrometer na esfera pessoal do indivíduo. 
Nesta mesma linha, identificando os direitos individuais com os direitos fundamentais de primeira geração, destacam-se os ensinamentos de José Afonso da Silva, o qual define os direitos individuais como sendo os “direitos fundamentais do homem-indivíduo, que são aqueles que reconhecem autonomia aos particulares, garantindo iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais membros da sociedade política e do próprio estado.”�
Em seu “Curso de direito constitucional”, Celso Ribeiro Bastos� destaca uma importante característica dos direitos individuais que se refere ao fato de incidirem sobre a pessoa pela simples razão dela existir, não necessitando de nenhum fato aquisitivo. Em conformidade com os demais autores mencionados, destaca também que tais direitos garantem ao Homem o exercício de uma autonomia e impõem limitações ao Estado. 
Embora reconheça que a maioria dos direitos individuais impõe apenas deveres de abstenção ao Estado, Celso Bastos ressalta que atualmente já se pode notar na Constituição Federal a existência de alguns direitos individuais que implicam em um investimento estatal, ou seja, que implicam em uma atuação positiva do Estado. Mesmo reconhecendo essa realidade, o autor aponta a necessidade de se distinguir tais direitos individuais dos direitos econômicos, sociais, etc
As considerações realizadas trazem então uma importante reflexão para o trabalho que consiste em diferenciar os direitos individuais dos direitos sociais.
Primeiramente, é preciso confessar que em muitos momentos tais direitos se entrelaçam, em razão dos direitos sociais assumirem o papel de instrumentos hábeis a garantir e a concretizar direitos individuais. Dito de outro modo, pode-se afirmar que os direitos sociais, em diversas hipóteses, constituem-se pressupostos para a eficácia de direitos individuais.�
Neste mesmo sentido, transcreve-se o conceito de direito social formulado por José Afonso da Silva, o qual serve para comprovar a conexão existente entre esse e os direitos individuais:
 “Direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do homem, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais propícias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível como o exercício efetivo da liberdade.”�
Para demonstrar os aspectos comuns e os divergentes entre os direitos individuais e os direitos sociais, pode-se também fazer referência ao pensamento de Gustavo Just da Costa e Silva. 
Em relação às diferenças existentes entre essas espécies de direitos fundamentais afirma o autor que “os direitos de liberdade e os direitos sociais estão associados a distintas etapas da formação e evolução do Estado constitucional. Suas consagrações positivas refletem por isso diferentes concepções do Estado e da constituição, e diferente é o papel que cada uma dessas espécies de direitos desempenha na legitimação das constituições contemporâneas”�. Por outro lado observa que ambos os direitos “são reconhecidas ao indivíduo em decorrência de sua simples condição de membro da coletividade, sendo esse reconhecimento essencial para a própria definição do regime político adotado. E é por isso que se trata, em ambos os casos, de direitos fundamentais.”�
Como mencionado anteriormente, Celso Ribeiro Bastos também se ocupa da tarefa de diferenciar os direitos individuais dos direitos sociais, concluindo que aqueles exigem do Estado no máximo a edição de normas e a fiscalização do seu cumprimento, enquanto que os segundos dependem da realização de despesas específicas, ou seja, exigem a aplicação de recursos orçamentários para atingir os objetivos que integram tais direitos.
Em relação aos direitos individuais mostra-se também útil apresentar a classificação proposta por alguns autores tendo em vista a localização dos direitos individuais. Para abordar esta questão, é preciso analisar a regra constitucional que indica onde se localizam os direitos e garantias individuais. Conforme disciplina o artigo 5º, §2º da Constituição Federal, “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”
No entendimento de José Afonso da Silva�, os direitos individuais podem ser agrupados em três categorias: direitos individuais expressos, que são aqueles enunciados no artigo 5º da Constituição Federal; direitos individuais implícitos, que são aqueles subentendidos nas regras de garantia; e direitos individuais decorrentes do regime e de tratados internacionais subscritos pelo Brasil. 
Embora semelhante à classificação proposta por José Afonso da Silva, Vladimir Brega Filho� propõe que dentre os direitos individuais expressos sejam englobados não apenas os enunciados no artigo 5º da Constituição Federal, mas também todos os direitos individuais explícitos distribuídos ao longo de todo o texto constitucional.
Como o intuito deste trabalho é estudar os direitos individuais, faz-se necessário também compreender o que são direitos coletivos, para não confundi-los com os direitos individuais.
Ao tratar dos direitos coletivos, Vladimir Brega Filho� expõe a teoria do constitucionalista português J. J. Gomes Canotilho, o qual, por sua vez faz uma distinção entre direitos fundamentais coletivos e direitos fundamentais de exercício coletivos. De acordo com o entendimento de Canotilho, os direitos coletivos só podem ser exercidos por pessoas coletivas, não se admitindo que os membros, individualmente, exerçam tais direitos.
Os direitos fundamentais de exercício coletivo, por sua vez, são direitos que embora exercidos coletivamente, também podem ser exercidos individualmente por cada um dos membros integrantes daquela coletividade. No entendimento do constitucionalista português, o fato de tais direitos poderem ser exercidos coletivamente, não os faz perder a natureza jurídica de direitos individuais. 
Analisando as considerações de José Afonso da Silva, constata-se que esse autor realiza a mesma distinção proposta por Canotilho, pois considera que a liberdade de reunião e a de associação não são propriamente direitos coletivos, mas sim direitos individuais de expressão coletiva.
Em relação aos direitos coletivos, merece também ser ressaltada a concepção de Celso Ribeiro Bastos, o qual considera que os direitos coletivos “dizem respeito também ao homem, mas tomado, ou melhor, considerado em conjunto com outros dando lugar a um fenômeno necessariamente meta-individual. O mundo moderno, ao massificar as relações humanas, tanto do ponto de vista do consumo como da produção, trouxe a necessidade de muitas vezes discutir-se globalmente uma determinada situação que pertine a um grupo muito grande de pessoas.”�
Para que se possa completar a abordagem do conceitode direitos e garantias individuais, é preciso ainda distinguir o que são direitos e o que são garantias.
Com o intuito acima mencionado, recorre-se aos ensinamentos de Jorge Miranda, para quem:
“Clássica e bem atual é a contraposição dos direitos fundamentais, pela sua estrutura, pela sua natureza e pela sua função, em direitos propriamente ditos ou direitos e liberdade, por um lado, e garantias, por outro lado.
Os direitos representam só por si certos bens, as garantias destinam-se a assegurar a fruição desses bens; os direitos são principais, as garantias são acessórias e, muitas delas, adjectivas (ainda que possam ser objecto de um regime constitucional substantivo); os direitos permitem a realização das pessoas e inserem-se directa e imediatamente, por isso, nas respectivas esferas jurídicas, as garantias só nelas se projectam pelo nexo que possuem com os direitos; na acepção jusracionalista inicial, os direitos declaram-se, as garantias estabelecem-se.”�
	No Brasil, bastante lembradas são as lições de Rui Barbosa�, o qual entendia que os direitos eram disposições declaratórias, enquanto que as garantias eram disposições assecuratórias que, buscando defender os direitos, limitavam o poder.
	
A distinção entre direitos e garantias nem sempre se mostra uma tarefa fácil, pois em muitas ocasiões um direito é também uma garantia e uma garantia é também um direito. Além disso, outra dificuldade que se impõe é o fato do texto constitucional em muitas ocasiões utilizar expressões como “é garantido” ou “é assegurado” para se referir a direitos. 
Por fim, ressalta-se que atualmente estão reconhecidas no texto constitucional inúmeras garantias, pois percebeu-se que nada adianta declarar um direito sem que haja uma norma que lhe assegure, isto é, sem que haja uma norma contendo uma garantia capaz de dar efetividade ao direito.
IV – OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONSAGRADOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 E SUA EXTENSÃO
		Partindo do conceito de “direitos e garantias individuais” obtido no capítulo anterior, apresentamos abaixo a enumeração dos direitos e garantias individuais consagrados pela CF/88, apresentando a extensão de cada um deles : 
1- O direito à igualdade
		O direito à igualdade, também denominado princípio da igualdade e princípio da isonomia é, em realidade, norma jurídica extraído do enunciado constante do caput do artigo 5o. da CF/88, in verbis : 
“ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”
		Para que possamos ter a real noção do conteúdo da norma jurídica constitucional da isonomia, necessitamos interpretar o que vem a ser “iguais perante a lei” e “sem distinção de qualquer natureza”.
		Iniciemos o nosso trabalho interpretativo que, ressaltamos, tem por objetivo verificar a real extensão do princípio da igualdade previsto na Constituição Federal de 1988, através de uma análise do conceito de igualdade.
		Da leitura da expressão “iguais perante a lei”, poderíamos, pela técnica interpretativa gramatical, extrair 2(duas) hipóteses semânticas possíveis, quais sejam: 
que, absolutamente, todos deveriam ser tratados pela lei da exata mesma forma, ignorando-se a existência de grupos heterogêneos e de circunstâncias individuais que careceriam qualquer espécie de tratamento individual
que a igualdade está relacionada às características do indivíduo ou de determinado grupo, isto é, indivíduos iguais deveriam ser tratados da mesma forma, indivíduos diferentes deveriam sofrer normatizações de comportamento diversas
Também da mesma expressão, poderíamos, ainda gramaticalmente, construir outras possibilidades relacionadas ao destinatário da ordem de tratamento igual : 
o destinatário é somente o legislador que, no ato de produção de enunciados prescritivos, deveria considerar a igualdade
o destinatário seria o intérprete da lei, que, no momento de interpretar os enunciados prescritivos, formando as normas jurídicas aplicáveis aos casos concretos, deveria levar em consideração a igualdade, isto é, o valor a ser utilizado na interpretação (técnica interpretativa axiológica) deveria ser, entre outros cabíveis, o da igualdade
 os destinatários seriam o legislador que, no ato de produção de enunciados prescritivos, deveria considerar a igualdade e o intérprete da lei, que, no momento de interpretar os enunciados prescritivos, formando as normas jurídicas aplicáveis aos casos concretos, deveria levar em consideração a igualdade, isto é, o valor a ser utilizado na interpretação (técnica interpretativa axiológica) deveria ser, entre outros cabíveis, o da igualdade
Continuando o nosso procedimento interpretativo da expressão “iguais perante a lei”, importante é a utilização da técnica interpretativa histórica, valendo, nesse ponto, citar José Afonso da Silva� no sentido de que : 
“Nossas Constituições, desde o Império inscreveram o princípio da igualdade, como igualdade perante a lei, enunciado que, na sua literalidade, se confunde com a mera isonomia formal, no sentido de que a lei e sua aplicação tratam a todos igualmente, sem levar em conta as distinções de grupos. A compreensão do dispositivo vigente, nos termos do art. 5o., caput, não deve ser assim tão estreita. O intérprete há que aferi-lo com outras normas constitucionais, conforme apontamos supra e, especialmente, com as exigências da justiça social, objetivo da ordem econômica e da ordem social”
	Isto é, a tradição constitucional brasileira é no sentido da utilização do termo “igualdade” como “igualdade perante a lei”, isto é, igualmente formal, no sentido de que a igualdade está relacionada às características do indivíduo ou de determinado grupo, isto é, indivíduos iguais deveriam ser tratados da mesma forma, indivíduos diferentes deveriam sofrer normatizações de comportamento diversas
			Além, utilizando-se as técnicas interpretativas sistemática e axiológica, também concluímos pela versão formal e relativa da igualdade, somente satisfeita se o legislador tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais. Isto porque, não se poderia interpretar de outra forma se levarmos em consideração que os fundamentos da República Federativa do Brasil, na forma do artigo 3o. da CF/88, é, entre outros “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”(inciso III). Ora, a única forma de buscar a igualdade entre desiguais é tratando os desiguais de forma que, privilegiados pela norma jurídica, logrem atingir um patamar próximo do status dos demais indivíduos que, inicialmente, situavam-se em situação mais privilegiada por diversos fatores como, por exemplo, o cultural, o econômico, o político etc.
			No entanto, é importante que se destaca que a questão da igualdade deve ser considerada em relação a determinado fator como, por exemplo, do ponto de vista econômico ou do ponto de vista físico. E é nesse sentido que introduzimos os elementos que devem ser levados em consideração para a ocorrência concreta do princípio da igualdade, apresentados por Celso Antônio Bandeira de Mello, citado por Luiz Alberto David Araujo� : 
fator adotado como critério discriminatório;
correlação lógica entre o fator discriminatório e o tratamento jurídico atribuído em face da desigualdade apontada;
afinidade entre a correlação apontada no item anterior e os valores protegidos pelo ordenamento constitucional
É da análise conjunta desses três elementos que se alcança a conclusão quanto à ocorrência ou não in concreto do princípio da isonomia. Observe-se que esse procedimento proposto leva em consideração não só as diferenças entre os indivíduos, como também a razão da normatização discriminatória, possuindo profundo interesse axiológico.
Também, nessa esteira, importante o magistério de Alexandre de Moraes� , para quem “o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas,pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois o que se protege são certas finalidade, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito, sem que se esqueça, porém, como ressalvado por Fábio Konder Comparato, que as chamadas liberdades materiais têm por objetivo a igualdade de condições sociais, meta a ser alcançada, não só por meio de leis, mas também pela aplicação ou programas de ação estatal”
Se de um lado Alexandre de Moraes não nos apresenta um procedimento para a verificação in concreto do respeito ao princípio da igualdade, o que muito bem o faz Bandeira de Mello, de outro lado, apresenta-nos o grau axiológico que deve acompanhar qualquer discussão sobre o princípio da igualdade.
Para que possamos por conclusão apontar a real extensão do princípio da igualdade, temos que definir quem é o real destinatário do princípio da igualdade : é o legislador, é o interprete ou ambos ?
O Direito tem por função o controle social, sendo que para que atinja o seu desiderato, o Direito faz uso das normas jurídicas que podem ser vistas como estruturas lógica-deônticas. As normas jurídicas, como já destacamos em outras partes dessa monografia são produzidas através do trabalho interpretativo que, num Estado Democrático de Direito como o Brasil, com a imposição do princípio da legalidade, deve partir das possibilidades semânticas dos enunciados prescritivos (textos legais-constitucionais). Ora, se as normas jurídicas são extraídas do processo interpretativo e se o trabalho de interpretação não deve se afastar das possibilidades semânticas do direito positivo, concluímos que são destinatários do princípio da igualdade não só o legislador, como também o intérprete. 
Antes de concluirmos é importante esclarecer que, a despeito de alguns autores, como, por exemplo, Luiz Alberto David Araujo�, entenderem que o princípio da igualdade não é um direito individual, mas somente uma regra-mestra para a interpretação das demais normas constitucionais, entendemos que o direito à igualdade é um direito individual, perfeitamente aplicável no caso concreto sob a forma de norma jurídica específica.
Em suma, apresentaos a extensão do princípio da igualdade : a igualdade está relacionada às características do indivíduo ou de determinado grupo, isto é, indivíduos iguais devem ser tratados da mesma forma, indivíduos diferentes devem sofrer normatizações de comportamento diversas, tudo no sentido de se lograr a igualdade entre os indivíduos, compondo as suas diferenças. O trabalho de busca da igualdade mediante o tratamento desigual dos desiguais, se faz por critério discriminatório baseado em determinado fator, que deve manter correlação lógica com o tratamento jurídico atribuído em face da desigualdade apontada e afinidade com os valores protegidos pelo ordenamento jurídico constitucional pátrio. Tal princípio, na extensão acima apontada, é de aplicação obrigatória, não só pelo legislador, como também pelo intérprete.
Eis o conteúdo petrificado !
2 – A proibição de tortura
A proibição de tortura consta do inciso III do artigo 5o da CF/88, sendo que a interpretação do citado enunciado constitucional será capaz de nos apresentar a real extensão de tal direito individual.
Consta do inciso III do artigo 5o. da CF/88 que : 
“ ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; “
Devemos buscar o significado buscado pela Constituição para o termo “tortura” para, após, verificarmos se possui alguma relação com a “tratamento desumano ou degradante”, somente assim verificaremos a real extensão de tal direito petrificado.
Poderíamos buscar diretamente a Lei 9.455, de 7 de abril de 1997 que tipificou o crime de tortura, a fim de buscar o significado de tal termo. No entanto, entendemos não ser correto interpretar a Constituição com base em conceitos infra-constitucionais. 
Partimos, assim, do significado denontativa para, após, analisar sistemática e axiologicamente o enunciado sob exame.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira� apresenta : 
“ tortura sf 1. Suplício, tormento, infligido a alguém. 2. Fig. Grande mágoa. 3. Fig. Lance difícil”
Fancisco da Silveira Bueno� apresenta significações idênticas às apresentadas por Aurélio Buarque, isto é, tortura como “suplício, tormento, tortuosidade, grande mágoa, lance difícil”.
Isto é, “tortura” é ato que se qualifica pelos seus efeitos em relação a seu sujeito passivo, efeitos esses que podem ser de natureza física ou psicológica, não possuindo vínculo necessário com específico fim do comportamento ativo de torturar.
E mais, do ponto de vista sistemático e axiológico, necessário é esclarecermos que a classe dos atos de tortura proibidos deve ser a maior possível, e deverá ter como limites o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da proporcionalidade.
	Adentremos mais profundamente nessa discussão. A prisão, por exemplo, é um ato que, sem dúvida alguma, pode se enquadrar entre aqueles que tem como efeito o suplício, o tormento do prisioneiro, podendo se enquadrar na classe dos “atos de tortura”. No entanto, a prisão é instrumento extremado, mas necessário para o controle do comportamento dos indivíduos que compõem a sociedade, isto é, trata-se de instrumento de preservação da própria sociedade, sendo portanto, admitido através do próprio princípio da proporcionalidade, no sentido de que a restrição da liberdade do indivíduo somente deve ser considerada como forma necessária para a liberdade e segurança da sociedade, isto é, como ensina Lenio Luiz Streck : 
“ a difícil linha demarcatória estabelecida pelo princípio da proporcionalidade, tão bem especificada por Jelineck já no longínquo ano de 1971, quando afirmou que “o Estado somente pode limitar com legitimidade a liberdade do indivíduo na medida em que isso for necessário à liberdade e à segurança de todos.”�
Se o princípio da proporcionalidade é capaz de apresentar o limite negativo da proibição da tortura. O princípio da dignidade da pessoa humana, visto como instrumento de acesso do ser humano à felicidade, compõe o limite positivo da proibição da tortura, no sentido de que qualquer sofrimento, seja ele físico ou moral, é contrário à felicidade e, por conseguinte, à dignidade da pessoa humana.
Entendemos já possuir elementos para fixar a extensão da norma jurídica extraída do inciso III do artigo 5o da CF/88, mas, antes, devemos analisar a expressão “tratamento desumano ou degradante”, que compõe a parte final do citado inciso. 
Não temos dúvida de que a expressão “tratamento desumano ou degradante” significa conjunto de situações fáticas que já se encontram incorporados na classe dos atos de tortura, mas não devemos, de forma alguma, entender que o Constituinte foi prolixo, mas, sim, tomarmos tal repetição como forma de reiterar a necessidade de interpretação ampla do termo “tortura”.
Em suma, a “proibição de tortura” tem como extensão a proibição de ato que se qualifica pelos seus efeitos em relação a seu sujeito passivo, efeitos esses que podem ser de natureza física ou psicológica, não possuindo vínculo necessário com específico fim do comportamento ativo de torturar, sendo que tal proibição deverá ter como limites o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da proporcionalidade. Isto é, pelo princípio da proporcionalidade, algumas formas de “tortura” ou “tratamento desumano ou degradante” poderão ser aceitos pelo ordenamento jurídico desde que seja condição sine qua non para a manutenção da sociedade (princípio da proporcionalidade). De outro lado, pelo princípio da dignidade da pessoa humana, qualquer sofrimento, seja ele físico ou moral, é contrário à felicidade e, por conseguinte, à dignidade da pessoa humana.
3 - A liberdade de crença religiosa
		
A liberdadede crença religiosa é extraída do enunciado constante do inciso VI do artigo 5o. da CF/88, qual seja : 
“ é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.”
Destaque-se, antes de adentrarmos no processo efetivo de busca da extensão de tal direito, que além do inciso IV do artigo 5o., os enunciados constantes dos incisos VII e VIII do próprio artigo 5o., além do inciso I do artigo 19, da alínea b do inciso VI do artigo 150 e o parágrafo 1o. do artigo 210 compõem o tratamento jurídico apresentado pela Constituição de 1988 ao tema “liberdade de crença religiosa”.
Para a verificação do conteúdo da norma jurídica de liberdade de crença religiosa, importante é o estudo quanto ao significado da expressão “crença religiosa”.
Nosso dicionários apresentam que crença é o ato ou efeito de crer, de ter por certo ou verdadeiro alguma coisa e que religioso é a qualidade daquilo ligado à religião, à crença na existência de força ou forças sobrenaturais�.
A crença religiosa, em síntese, é a situação fática inerente a determinado indivíduo ou a determinada classe de indivíduos que tomam como verdadeira a existência de determinada força sobrenatural, normalmente denominada “Deus” ou outro termo que remeta ao mesmo significado de onipotência, de sobrenaturalidade).
Destaque-se que essa crença não se revela somente do ponto de vista passivo, isto é, na simples situação de entender verdadeira a existência de um “Deus”�, mas também em comportamentos comissivos de “agrado” a essas forças sobrenaturais, comportamentos esses que são denominados ritos ou cultos.
Assim, quando se fala em liberdade religiosa, entende-se a amplitude da liberdade tanto quanto ao fator “acreditar ser verdadeira a força sobrenatural” como também o direito de comportar-se de determinada forma em cultos ou ritos de exaltação de tal força sobrenatural acreditada. Essa liberdade religiosa também envolve a permissibilidade de instrumentos inerentes ao seu desenvolvimento, como o ensino religioso e a associação religiosa.
A própria composição cultural, a origem e a história da população brasileira gera a existência de pluralidade de formas de desempenho de crenças religiosas, devendo todas serem respeitadas pelo Estado.
Agora, é verdadeiro que tal liberdade possui restrições, restrições essas que são impostas por outros direitos e garantias fundamentais, como, por exemplo, a inviolabilidade do direito à vida (no sentido de impedir que os cultos ou os ritos destruam vidas, seja sob a forma de homicídio, seja sob a forma de suicídio), a proibição de tortura (no sentido de impedir que os cultos ou os ritos imponham tratamento de suplício aos cultuadores ou a terceiros) e ao princípio da liberdade de associação para fins lícitos (no sentido de impedir que a associação religiosa se destine à prática de atos ilícitos).
Em suma, eis a extensão da “liberdade de crença religiosa” : o Estado não pode impedir ou dificultar a situação fática inerente a determinado indivíduo ou a determinada classe de indivíduos que tomam como verdadeira a existência de determinada força sobrenatural, normalmente denominada “Deus” ou outro termo que remeta ao mesmo significado de onipotência, de sobrenaturalidade), como também o direito de se comportar de determinada forma em cultos ou ritos de exaltação de tal força sobrenatural acreditada, desde que o comportamento religioso não viole o direito à vida (no sentido de impedir que os cultos ou os ritos destruam vidas, seja sob a forma de homicídio, seja sob a forma de suicídio), a proibição de tortura (no sentido de impedir que os cultos ou os ritos imponham tratamento de suplício aos cultuadores ou a terceiros) e o princípio da liberdade de associação para fins lícitos (no sentido de impedir que a associação religiosa se destine à prática de atos ilícitos). 
4 - A inviolabidade do domicílio
A inviolabilidade do domicílio é extraída do inciso XI do artigo 5o. da CF/88, in verbis : 
“ a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;”
O objetivo da norma jurídica extraída do enunciado acima indicado não é, em realidade, uma simples proteção da estrutura física da “casa”, mas da intimidade e da privacidade dos indivíduos que ocupam a casa. É na sua casa, entendido o termo “casa” como todo e qualquer ambiente onde uma pessoa se estabelece, podendo no conceito de casa também se incluírem “a própria residência ou de outrem, seja ela fixa ao solo, estabelecimento rodante ou casa flutuante; ou o aposento de habitação coletiva, em pensões, hotéis, casas de pousada, e, tratando-se de local não acessível ao público em geral, está caracterizado o domicílio, constitucionalmente falando”�, que o indivíduo cultua a sua privacidade, os seus segredos, suas manias, suas conquistas... 
Nesse sentido, Alexandre de Moraes� : 
“ No sentido constitucional, o termo domicílio tem amplitude maior do que no direito privado ou no senso comum, não sendo somente a residência, ou ainda, a habitação com intenção definitiva de estabelecimento. Considera-se, pois, domicílio todo local, delimitado e separado, que alguém ocupa com exclusividade, a qualquer título, inclusive profissionalmente, pois nessa relação entre pessoa e espaço, preserva-se, mediatamente, a vida privada do sujeito”
Não temos dúvida de que, mesmo que não houvesse o enunciado constante do inciso XI do artigo 5o. da CF/88, a norma jurídica de inviolabilidade de domicílio seria extraída do conteúdo do inciso X do mesmo artigo constitucional, onde consta a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas. A importância da especificação do inciso XI se deve, no nosso entendimento, da necessidade de reforçar a importância do domicílio como local de gozo da intimidade e da privacidade humana, como também para fixar, expressamente, os limites da inviolabilidade do domicílio.
Destacamos que, da leitura dos enunciados que inserem direitos e garantias individuais, percebemos que, em sua maioria, não fixam limites expressos para o gozo das liberdades, cabendo ao intérprete, com base em princípios, como o da proporcionalidade, ponderar os limites e fixar a real extensão de tais direitos. No entanto, o inciso XI do artigo 5o apresenta interessante descrição dos limites do direito individual ali enunciado, descrição essa explícita e que traz claridade para o intérprete.
Os limites à inviolabilidade do domicílio são expressos : “salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.”. Entendemos que, nesses limites, já se encontra, implicitamente, que o direito à inviolabilidade se curva a outros direitos individuais, como o direito à vida (já que a limitação a casos de desastre ou de prestação de socorro evidenciam a proteção da vida física) e o direito à segurança (“salvo em caso de flagrante delito”) e à tutela jurisdicional (“durante o dia, por determinação judicial”). 
Esse raciocínio nos leva à conclusão de que : entende-se como “desastre” qualquer fato de destruição, atual ou iminente, movido por forças naturais ou pela voluntariedade humana e que possam colocar em risco a vida humana; como “flagrante delito” o momento de ocorrência de um delito, independentemente de sua gravidade e “durante o dia” como a situação de fato em que há luminosidade natural, sendo que a fixação de horário se torna difícil, do ponto de vista genérico, vez que em cada região do Brasil, há um horário específico para o pôr do sol. 
Eis a extensão petrificada do direito à inviolabilidade do domicílio : é proibida a entrada não autorizada na residência de outrem, seja ela fixa ao solo, estabelecimento rodante ou casa flutuante;ou o aposento de habitação coletiva, em pensões, hotéis, casas de pousada, em suma, de qualquer de local não acessível ao público em geral, salvo para proteção da inviolabilidade de direitos individuais como : o direito à vida (já que a limitação a casos de desastre ou de prestação de socorro evidenciam a proteção da vida física) e o direito à segurança (“salvo em caso de flagrante delito”) e à tutela jurisdicional (“durante o dia, por determinação judicial).
5 – Da inviolabilidade das comunicações
Compreender e fixar a extensão do direito à inviolabilidade das comunicações é interpretar o inciso XII do artigo 5o. da CF/88, in verbis : 
“ é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelece para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.”
Interpretaremos o presente enunciado analisando primeiramente a inviolabilidade do sigilo de correspondência e das comunicações telegráficas e de dados” e a inviolabilidade das comunicações telefônicas para, após, apresentarmos as limitações a tais sigilos.
Quanto à inviolabilidade do sigilo de correspondência, devemos compreender como a proibição de interceptação da comunicação (entendida como ato de intercâmbio, de troca de dados) entre duas ou mais pessoas feita através de “correspondência”, isto é, através de cartas, telegramas ou similares. Necessitamos de maior atenção quanto à fixação de um sentido para o termo “correspondência”.
O vocábulo ordinário, no seu sentido denotativo, apresenta que “correspondência” é sinônimo de carta, de telegrama�. Tanto o telegrama quanto a carta são documentos onde, através de escrita, manuscrita ou mecânica/eletrônica, duas ou mais pessoas trocam dados. Ora, o que se protege pelo enunciado constitucional em comentário, não é especificamente a carta e/ou o telegrama, mas o conteúdo de qualquer instrumento que, através da escrita, manuscrita ou mecânica/eletrônica, serve para a comunicação entre pessoas, motivo pelo qual entendemos que se incluem no conceito de “correspondência”, entre outros, os e-mails e os fac-similes.
Quanto às “comunicações telegráficas”, temos que são trocas de informações feitas entre duas ou mais pessoas através de “processo de transmissão de mensagens a distância mediante um código de sinais”�, nessa modalidade incluindo-se não somente as mensagens via telex, como também as mensagens através de códigos como o “código morse” e, até mesmo o fac-similes. Entendemos que o conceito de comunicações telegráficas juntamente com o conceito de comunicações através de correspondência são indivíduos que compõem, junto com outros indivíduos, a classe das “comunicações através de escrita, manuscrita ou eletrônica/mecânica”
E nessa mesma classe das “comunicações através de escrita, manuscrita ou eletrônica/mecânica” encontram-se também os “dados”, termo normalmente utilizado para os meios tecnológicos mais avançados de transmissão de informações, onde se incluem os e-mails (que entendemos se enquadrar também na classe das correspondências) entre outros.
As “comunicações telefônicas”, a seu turno, são trocas de informações entre duas ou mais pessoas através de “processo de transmissão de sons a distância, através de cabos, fios”�, ou qualquer outro meio de transporte de sons”.
Vamos à análise dos limites. O enunciado do inciso XII do artigo 5o fixa limite expresso somente à inviolabilidade do sigilo às comunicações telefônicas, sendo que, já adiantamos, entendemos pela existência de limites à inviolabilidade do sigilo das outras formas de comunicação previstas no inciso em exame, isso em razão da necessidade de harmonia entre os direitos individuais.
Citemos como exemplo, se temos fortes indícios que dentro de determinada “carta” há, em depósito, quantidade de pó tóxico capaz de levar o destinatário ou outra pessoa que abra a carta, a óbito, é justo, a contrario sensu do princípio da inviolabilidade da vida, impedir-se a violação de tal carta ? E se numa carta há escritos que são capazes de levar o seu destinatário, pessoa depressiva, a cometer o suicídio, devemos, em nome do sigilo de correspondência, permitir a ocorrência da instigação ao suicídio ? Claro que não.
Os limites da inviolabilidade das comunicações em geral existem e se consubstanciam na necessidade de manutenção de outros direitos individuais, com a aplicação do princípio da harmonia, compondo conflitos entre direitos individuais.
Assim, apresentamos a extensão do direito à inviolabilidade do sigilo das comunicações : é proibida a violação da troca de informações entre duas ou mais pessoas, seja tal violação procedida via correspondência (qualquer instrumento que, através da escrita, manuscrita ou mecânica/eletrônica, serve para a comunicação entre pessoas), via telegrafia (processo de transmissão de mensagens a distância mediante um código de sinais) ou via telefônica (processo de transmissão de sons a distância, através de cabos, fios”�, ou qualquer outro meio de transporte de sons), desde que tal violação não seja capaz de levar a iminente risco de afronta a outros direitos individuais, como o direito à vida e à segurança, necessitando-se de autorização judicial somente se tal violação for necessária à comunicação telefônica e para fins de investigação criminAl ou instrução processual penal.
6- A liberdade de profissão
Enuncia o inciso XIII do artigo 5o. da CF/88 que : 
“ é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.”
Vamos, de início, aos significados de “trabalho”, “ofício” e “profissão”, buscando-os em Aurélio Buarque de Holanda� : 
“ trabalho sm 1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim. 2. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. 3. Trabalho (2) remunerado ou assalariado; serviço, emprego. 4. Local onde se exerce essa atividade 5. Qualquer obra realizada. 6. Lida, labuta. 7. Brás. V.bruxaria (1)”
“ emprego sm 1. ato de empregar; aplicação. 2. cargo ou ocupação em serviçco particular, público, etc; colocação”
“ ofício sm 1. Trabalho, ocupação, função, mister. 2. V. profissão(2). 3. Incumbência, missão” 
Dos significados denotativos acima apresentados, não é difícil concluir que os três termos utilizados no inciso XIII refletem, se não sinônimos, indivíduos de uma mesma classe, espécies de um mesmo gênero, classe ou gênero de prestação de labor (disposição de força de trabalho) com o objetivo de percepção de determinada remuneração.
Tal prestação de labor pode ser praticada sob várias formas, em vínculo empregatício (na forma do artigo 3o da CLT), em prestação de serviço autônomo, em prestação de serviço eventual etc, sendo certo que qualquer dessas formas refletem a necessidade do ser humana de, mediante o recebimento de remuneração, ter condições de arcar com o custo financeiro da subsistência sua e de sua família, necessidade essa que se torna ainda mais rígida num mundo capitalista como o em que vivemos.
Em suma, o enunciado sob exame defende a liberdade de prestação de labor, sendo, entretanto, uma norma jurídica de eficácia contida “permitindo que lei infraconstitucional venha a limita-la, criando requisitos e qualificações para o exercício de determinadas profissões. Logo, enquanto não existir lei acerca dessa ou daquela profissão, a permissão constitucional tem alcance amplo”�
É importante, para que possamos fixar a extensão do direito de liberdade de profissão, analisemos os limites da lei capaz de limitar a eficácia da norma jurídica em exame. Entendemos que a melhor forma de analisar tal limitação é perguntar : até que ponto a lei pode impedir o exercício de uma profissão ou impor requisitos mínimos para o seu exercício ?
Por exemplo, afrontao princípio da liberdade de profissão a determinação legal que somente pessoas formadas em medicina, com tantos anos de residência médica, possam exercer a profissão de médico ?
É claro que não, há determinadas profissões que necessitam de qualidades especiais, sejam elas físicas, sejam elas intelectuais, dos indivíduos propostos a exerce-las e é exatamente essa necessidade de qualidades especiais que deve motivar o legislador a reduzir a eficácia da princípio da liberdade de profissão.
Assim, a limitação ao exercício de determinada profissão deverá ter nexo de causalidade com as qualidades especiais, sejam elas físicas, sejam intelectuais, impostas, pela própria característica da profissão, para o seu bom desempenho. Qualquer limitação que extrapole essa causalidade afronta a Constituição.
Eis a extensão do direito à liberdade de profissão : É proibida a limitação pelo Estado do exercício de qualquer profissão (prestação de labor com objetivos remuneratórios), sendo possível somente limitação que imponha requisitos especiais, físicos ou intelectuais, para o exercício de determinadas profissões que necessitem características especiais de seus exercentes para o seu desempenho a contento.
7- A limitação da retroatividade da lei
Impõe o inciso XXXVI do artigo 5o. da CF/88 que : 
“a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”
Vamos iniciar a interpretação desse inciso apreendendo os conceitos de direito adquirido, de ato jurídico perfeito e de coisa julgada. Apesar de defendermos, em nome na alta constitucionalidade, que não se há de interpretar a constituição com base em conceitos apresentados por legislação infraconstitucional, entendemos que conceitos como os que ora estamos a analisar, advém da própria cultura jurídica nacional, são termos técnicos e que foram utilizados pelo Constituinte Originária com o papel de terem o seu significado técnico utilizado não só pela legislação anterior à CF/88, mas também pela doutrina e pela jurisprudência, motivo pelo qual, nesse caso específico, basearemos a nossa interpretação nos conceitos apresentados pelo Decreto-Lei no. 4.657, de 4 de setembro de 1942, conhecido por “Lei de Introdução ao Código Civil”, que, em seu artigo 6o. enuncia que : 
“ A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
 Par. 1o. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou
 Par. 2o. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, com o aqueles cujo começo do exercício tenha pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
 Par. 3o. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.” 
Quanto à coisa julgada, é necessário diferenciarmos a coisa julgada formal (situação jurídica em que uma decisão é imutável por não lhe caber mais qualquer recurso previsto em lei, mas somente a rescisão mediante ação judicial específica, por motivos específicos, denomina ação rescisória) e a coisa julgada material ( situação jurídica em que uma decisão é imutável por não lhe caber mais qualquer recurso previsto em lei, nem sequer cabe a rescisão mediante ação rescisória, ou porque já extrapolado o prazo legal para a propositura de tal ação rescisórias ou porque a situação da decisão não se enquadra em qualquer das hipóteses legais para a propositura da rescisória), entendemos, entretanto, que somente a coisa julgada material se enquadra no conceito de “coisa julgada” constante do inciso XXXVI do artigo 5o. da CF/88 e, neste ponto, vale transcrevermos os ensinamentos de José Afonso da Silva� :
“ A garantia, aqui, refere-se à coisa julgada material, não à coisa julgada formal. Ficou, pois, superada a definição do art. 6o., parágrafo 3o., da Lei de Introdução ao Código Civil. Prevalece, hoje, o conceito do Código de Processo Civil : 
 Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário(art. 467).”
Dizemos que o texto constitucional só se refere à coisa julgada material, em oposição à opinião de Pontes de Miranda, porque o que se protege é a prestação jurisdicional definitivamente outorgada”
Quanto ao direito adquirido, podemos conceitua-lo como situação fático-jurídica em que estão completos, em concreto, todos os requisitos para o enquadramento de um determinado fato a uma hipótese legal, proporcionando ao detentor de tal direito (sujeito ativo de tal situação fática) a possibilidade do gozo de determinada regalia. Valendo esclarecer que, como bem aponta Celso Bastos�, “toda conceituação é perigosa. A de direito adquirido é, contudo, um permanente desafio. Ouça-se, ainda uma vez, o insigne Vicente Ráo : “Seja qual for a doutrina que se aceite, o que não sofre dúvida é não haverem os juristas, até hoje, encontrado uma fórmula única e geral, aplicável a todos os aspectos do conflito das leis no tempo. E por haver-se, afinal, verificado a impossibilidade da compreensão de toda a disciplina em uma só fórmula, em um só princípio, Roubier, em sua citada exposição de motivos do anteprojeto de reforma do Código Civil Francês, procura apresentar tantos princípios, ou quando menos, tantas regras gerais, quantas se revelarem necessárias”.
José Afonso da Silva� explica que “a doutrina não fixou com precisão o conceito de direito adquirido. É ainda a opinião de Gabba que orienta sua noção, destacando como seus elementos caracterizadores : 1o.) ter sido produzido por um fato idôneo para a sua produção; 2o.) ter se incorporado definitivamente ao patrimônio do titular. A Lei de Introdução ao Código Civil declara que se consideram adquiridos os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. “ 
Já o ato jurídico perfeito tem conceituação que se confundo com a de direito adquirido, sendo que “a diferença entre direito adquirido e ato jurídico perfeito está em que aquele emana diretamente da lei em favor de um titular, enquanto o segundo é negócio fundado na lei “ O ato jurídico perfeito, a que se refere o art. 153, parágrafo 3o. (agora, art. 5o., XXXVI), é o negócio jurídico, ou ato jurídico stricto sensu; portanto, assim as declarações unilaterais de vontade como os negócios jurídicos bilaterais, assim os negócios jurídicos como as reclamações, interpretações, a fixação de prazo para aceitação de doação, as comunicações, a constituição de domicílio, as notificações, o reconhecimento para interromper a prescrição ou com sua eficácia (ato jurídico stricto sensu). Ato jurídico perfeito, nos termos do art. 153, parágrafo 3o. (art. 5o., XXXVI) “é aquele que sob o regime da lei antiga se tornou apto para produzir os seus efeitos pela verificação de todos os requisitos a isso indispensável�”. �
Ora, o papel do Direito é estabilizar a sociedade, evitando conflitos, motivo pelo qual as regras aplicáveis em determinado período devem, efetivamente, nortear o comportamento social no período de sua vigência. De outra forma, impossível seria a estabilidade das relações, motivo pelo qual é direito individual previsto na CF/88 que a retroatividade das leis não alcance a coisa julgada material, o direito adquirido (situação fático-jurídica em que estão completos, em concreto, todos os requisitos para o enquadramento de um determinado fato a uma hipótese legal, proporcionando ao detentor de tal direito (sujeito ativo de tal situação fática) a possibilidade do gozo de determinada regalia) e o ato jurídico perfeito (aquele que sob o regime da lei antiga se tornou apto para produzir os seus efeitos pela verificação de todos os requisitos a isso indispensável).
8- O princípio do devido processo legal. Direito à ampla defesa. Direito ao

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes