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Sociologia Organizacional Aula 3 Profa. Carolina de Souza Walger Introdução Olá, já estamos no terceiro encontro da disciplina Sociologia Organizacional. Hoje temos assuntos bem interessantes como: economia e sociedade, capitalismo, Karl Marx, Sociologia Econômica... Gostou? Vamos começar ... O debate sobre a Economia perpassa a discussão da Sociologia, compreendendo a mútua relação entre economia e sociedade. Considerando que vivemos em um sistema capitalista, discutiremos inicialmente a visão de Marx sobre o capitalismo. Posteriormente teremos uma a visão de um campo de Estudo chamado de Sociologia Econômica, área da sociologia que se dedica à compreensão da atividade econômica como um agir social. Problematização Leia o fragmento abaixo: Em todas as outras formas de dominação histórica anteriores, o dominado sabia que era dominado e sabia quem era o seu dominador. O escravo sabia que o seu senhor o mantinha em cativeiro e o obrigava a trabalhar para si à força, o servo sabia que o dono do feudo lhe arrancava a maior parte do que plantava e colhia. No capitalismo ao contrário, o trabalhador acha que é justo que ele seja separado do fruto de seu trabalho mediante o pagamento do salário. O máximo de injustiça contra a qual o trabalhador normalmente se revolta diz respeito aos salários baixos e às condições ruins de trabalho (jornadas longas demais, insalubridade, etc.). (Rodrigues, 2004, p. 47) A partir da leitura, como você compreende a questão da dominação no capitalismo? a) No sistema capitalista não há dominação, o texto revela a dominação que existia entre senhor feudal e escravo, relação que já finalizou, tendo em vista a abolição da escravatura e o início do capitalismo. b) No capitalismo há dominação do dinheiro sobre qualquer outra coisa, já que o capital que determina a forma como as coisas devem ser. c) No capitalismo há dominação do dono do capital sobre o trabalhador, o que configura a luta de classes entre o proletariado, dono da força de trabalho, e o capitalista, dono dos modos de produção. Comentário: Araújo et al (2009) consideram que as relações de produção na sociedade capitalista são essencialmente de dominação, pois envolvem interesses de classes que são antagônicos. Os capitalistas formam a classe dominante e o proletariado a classe dominada. Teoria Marxista sobre o Modo de Produção Capitalista O trabalho de Karl Marx se desenvolveu na busca pela compreensão de como o homem se forma em sociedade. Para essa compreensão baseou-se na análise da maneira como os bens necessários são produzidos para que o homem mantenha sua sobrevivência. Ou seja, para Marx, a forma ou as formas como os homens produzem as coisas que necessitam condiciona a maneira como vivem (PAIXÃO, 2012). Como explicam Araújo et al (2009), Marx compreende a sociedade a partir das suas relações sociais básicas, que são aquelas ligadas às esferas da produção, as relações que os homens estabelecem entre si para garantir a sobrevivência material. Na busca por compreender a relação entre o homem e suas obras, Marx almejava descobrir leis gerais da sociedade capitalista. Conclui o sociólogo que a lei geral da sociedade capitalista é a luta de classes. Mas, o que são classes sociais? As classes sociais emanam a partir da divisão social do trabalho. De acordo com Paixão (2012, p.92), a classe social define-se a partir da inserção dos indivíduos na produção da vida material, ou seja, o que os indivíduos são no momento do trabalho, se são escravos ou senhores, trabalhadores ou patrões. É em razão das classes sociais que a sociedade se divide, caracterizando os detentores e os não detentores dos meios de produção. Como explica Paixão (2012, p.92) é com base nessas inserções dos indivíduos na produção da vida material que teremos uma determinada posição em relação às formas de propriedade. Na sociedade capitalista as relações de produção definem dois grandes grupos sociais: os capitalistas e os trabalhadores. Os trabalhadores têm como propriedade a sua força de trabalho e o patrão tem a propriedade dos meios de produção. Importante notar que as classes sociais estão em constante conflito, em uma relação de oposição e complementaridade. Complementaridade pela necessidade que um tem do outro, o dono do capital necessita da mão de obra e o trabalhador necessita do dinheiro que recebe pelo seu trabalho. De oposição, pois os trabalhadores querem os seus salários e os capitalistas almejam o lucro. Assim, Araújo et al (2009) consideram que as relações de produção na sociedade capitalista são essencialmente de dominação, pois envolvem interesses de classes que são antagônicos. Os capitalistas formam a classe dominante e o proletariado a classe dominada. Como podemos observar a relação de produção no modelo capitalista é uma relação de trabalho, na qual o trabalhador vende a sua força de trabalho para os donos do capital ou dos meios de produção. Assim, se faz necessário examinar a concepção de Marx sobre o trabalho, pois é elemento essencial para a compreensão da forma como os homens vivem. Hirano (2001, p.1) enfatiza que o trabalho, na concepção de Marx, é uma condição natural da existência humana e sem o trabalho não haveria a produção e a reprodução histórico-social da vida humana. Paixão (2012), explica que para Marx, o trabalho é a interação do homem com a natureza para prover sobrevivência. Ao produzir a sua sobrevivência por meio da transformação da natureza, o homem acaba por transformar a si próprio e a totalidade da qual faz parte. Também é por intermédio do trabalho que os homens entram em contato uns com os outros e, assim, transformam a realidade que os cerca. Desta forma, o trabalho promove o intercâmbio do homem com a natureza e com os outros homens. Percebe-se, então, que o processo de trabalho se dá por meio de relações sociais, que organizam o modo de trabalho, a propriedade, a distribuição e divisão do trabalho. O conjunto das relações sociais de produção, as relações de propriedade, a divisão do trabalho e o desenvolvimento das forças produtivas constroem a base da sociedade ou a estrutura econômica da sociedade. Assim, para compreender uma sociedade, sua política e sua cultura é necessário entender a relação econômica básica que condiciona todo o conjunto da sociedade, ou seja, a história da sociedade é a história dos modos de produção (PAIXÃO, 2012). No modo de produção capitalista, os meios de produção pertencem ao capitalista e a força de trabalho aos trabalhadores, assim o capitalista compra a parte da força de trabalho de que necessita, configurando o trabalho assalariado. Por considerar o modo de produção como condicionante da sociedade, para Marx o capitalismo é um modo de produção que contrasta com os demais modos de produção da história. Paixão (2012) explica que na visão de Marx a especificidade do capitalismo está em produzir mercadorias visando o acumulo e a reprodução da riqueza social, de forma a assegurar a apropriação privada da riqueza pelos proprietários dos meios de produção. Para Marx o capitalismo é um sistema contraditório e suas contradições permitem a compreensão da sociedade. Araujo et al (2009) alegam que o eixo explicativo da teoria de Marx é o paradigma da contradição social. Paixão (2012) aponta que as contradições do capitalismo assinaladas por Marx são: 1) as forças produtivas não param de crescer e as relações de produção (relações de propriedade e de distribuição derenda) não se transformam no mesmo ritmo; 2) crescimento da riqueza e aumento da miséria. Para entender a primeira contradição elencada, vamos buscar explicação para o que são forças produtivas e relações de produção, de acordo com Paixão (2012): Forças produtivas: são formadas pelo trabalho humano e por tudo aquilo que a sociedade utiliza para produzir os bens necessários à sobrevivência das pessoas, por exemplo, a energia elétrica e a mão de obra assalariada. São todas as forças, meios, técnicas e formas de organizar o trabalho que a sociedade utiliza para produzir aquilo de que necessita. Inclui as tecnologias, as fontes de energia, o tipo de trabalho utilizado. Relações de produção: são constituídas pelas relações de propriedade, distribuição das propriedades e dos bens na sociedade, por exemplo, os trabalhadores são proprietários da sua força de trabalho e os burgueses são proprietários dos meios de produção e para sobreviver os trabalhadores alugam a sua força de trabalho aos burgueses recebendo em troca um salário. Compreendendo a primeira contradição apontada, pode-se identificar que Marx percebe que as forças produtivas se desenvolvem de forma acelerada (novas fontes de energia, novos materiais, máquinas e técnicas), mas que as relações de propriedade e de distribuição não se desenvolvem, ou seja, trabalhadores continuam proprietários apenas da sua força de trabalho e continuam sendo assalariados, dependentes do trabalho para sobreviver. Da mesma forma, o sociólogo percebe que a riqueza aumenta, como reflexo do desenvolvimento das forças produtivas, mas aumenta, também, a pobreza e a miséria, como consequência do não desenvolvimento das relações de propriedade e de distribuição. Assim, a miséria as desigualdades e a pobreza das classes trabalhadoras são elementos estruturais do sistema capitalista (PAIXÃO, 2012). Conceitos Sociológicos Fundamentais O debate a respeito da Economia permeia a Sociologia de maneira geral. Além de Karl Marx, Max Weber, também se dedica à essa discussão, o que fica evidente na obra “Economia e Sociedade”. De acordo com Lepsius (2012), a sociologia econômica de Weber analisa o agir econômico de modo realista, considerando a relação da economia com outros fenômenos culturais, portanto a atividade econômica é um agir social de indivíduos e de associações. Assim, como explica Lallement (2006), a sociologia econômica almeja analisar os fatos econômicos imbricados no contexto social, jurídico e histórico. Swedberg (2004) esclarece que a sociologia econômica se importa com a aplicação de ideias, conceitos e métodos sociológicos aos fenômenos econômicos (como mercados, empresas, lojas, sindicatos e etc.), portanto estuda os fenômenos econômicos e a maneira como esses influenciam a sociedade ou são influenciados por ela. Novamente, constata-se que os fenômenos econômicos são sociais por natureza, o que faz com que os sociólogos da economia se posicionem contrários ao conceito de homo economicus, pois concebem a existência apenas de atores sociais que constroem socialmente a economia. Serva (2002, p.106-118) analisa as contribuições da sociologia econômica para o campo da administração e pontua os seguintes itens: 1. Análise institucional dos mercados Os mercados como instituições: A sociologia econômica trabalha a temática da análise social do mercado, aproximando a economia e a sociologia, o que gera impacto nos estudos organizacionais pela consideração de uma sociologia e uma economia de mercado. Desse enfoque decorrem as pesquisas sobre o estudo das transações comerciais e a regulação social da competição entre agentes econômicos. 2. A competição empresarial A consideração do mercado como instituição conduz a sociologia econômica ao estudo da competição entre empresas, tema que ganha ainda mais importância com o fenômeno da internacionalização dos mercados ou ainda da globalização. Via de regra, os estudos organizacionais focam suas pesquisas nessa área em temas como dimensão tecnológica, soluções de logística, índices econômicos, disponibilidade de capital, economias de escala, sistema de preços, quantidade de competidores, dentre outros, deixando de lado fatores sociais que envolvem a competição, o que pode ser estudado pela sociologia econômica. Como afirma Etzioni (1988) citado por Serva (2002), a competição empresarial é um processo "socialmente encapsulado", pois é uma forma de conflito organizado e enquadrado socialmente, o que permite a sua limitação e também a sua sustentação. 3. Os grupos econômicos – grupos empresariais Tem sido comum determinados grupos empresariais aumentarem significativamente o seu poder, podendo enfraquecer até o Estado frente a questões econômicas. Grandes grupos empresariais detém uma boa parte dos produtos e serviços essenciais para a vida cotidiana. Em geral, os trabalhos realizados sobre os grandes grupos empresariais abordam aspectos específicos da sua gestão, como a ação estratégica adotada e seus resultados em um determinado período, as relações de trabalho em algumas unidades do grupo, a entrada em um novo mercado, mas dificilmente buscam esclarecer a origem e as formas de manutenção do grupo em si. Granovetter (1994) citado por Serva (2002) sugere que os grupos empresariais devem ser objetos de estudo em uma perspectiva comparativa, analisando: as relações de propriedade, os princípios de solidariedade, a estrutura de autoridade, a dimensão moral, finanças e relações com o Estado. 4. Empreendedorismo Ações empreendedoras e estudos sobre empreendedorismo vêm ganhando espaço nos últimos anos decorrente de mudanças no cenário econômico. Isso faz com que as teorias de gestão tenham que dar respostas sobre as mudanças sociais trazidas por esse fenômeno. A Sociologia Econômica contribui para delinear o ambiente institucional onde o empreendedor age e para conhecer aspectos constitutivos das relações sociais em que a ação empreendedora torna-se possível. Considera-se, assim, o empreendedor como um ator social, havendo uma dimensão social da ação econômica do empreendedor na busca dos recursos necessários ao seu negócio. 5. Economia solidária Uma abordagem da Sociologia Econômica são as dimensões não-monetárias e não-mercantis da economia contemporânea, o que contempla a chamada Economia Solidária. Nesse contexto, as organizações surgem da sociedade civil, por meio de atividades econômicas sem fins lucrativos, pois gerem recursos diversificados e proporcionam empregos. As organizações de economia solidária captam e utilizam recursos provenientes tanto do Estado (recursos públicos, financiamentos), do mercado (venda de produtos, parcerias com empresas privadas), como da sociedade civil (voluntariado, dons, etc.). Síntese Nessa rota tivemos como tema a Sociedade de Mercado, que concebe a liberdade de venda e compra de bens, serviços e capital por parte dos agentes econômicos (empresas e instituições). Nesse contexto cada grupo passa a agir em função de seus interesses e o lucro e o objetivo final representante do sucesso. A fim de promover um posicionamento crítico em relação a esse modelo, discutimos a visão de Marx sobre o capitalismo, o qual é marcado pela luta de classes e pela dominação de uma sobre a outra. Também identificamos os pressupostos da Sociologia Econômica, perspectiva que considera as atividades econômicas como atividades sociais, entendendo que a economia interfere na organização social e a sociedade interfere na economia. Aplicação Prática Analise o quadrinho:http://www.updateordie.com/2015/05/27/um-quadrinho-para- entender-sobre-privilegio/ Leu? O que achou? Agora, a partir da visão marxista sobre o modo de produção capitalista, apresente uma análise crítica da história revelada nos quadrinhos. Referências ARAÚJO, Silvia Maria; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi. Sociologia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto, 2009. HIRANO, Sedi. Política e economia como formas de dominação: o trabalho intelectual de Marx. Tempo Social. São Paulo, v.13, n.2, nov, 2001. LALLEMENT, Michel. Raízes Alemãs da Sociologia Econômica. Tempo Social. São Paulo, v.18, n.1, 2006. LEPSIUS, M. Rainer. Economia e Sociedade: a herança de Max Weber à luz da edição de sua Obra Completa (MWG). Tempo Social. São Paulo, v.24, n.1, 2012. PAIXÃO, Alessandro Eziquiel. Sociologia Geral. Curitiba: Intersaberes, 2012. RAUD, Cécile. Bourdieu e a nova sociologia econômica. Tempo Social. São Paulo, v.19, n.2, 2007. SERVA, Maurício. Contribuições da Sociologia Econômica à Teoria das Organizações. Sociedade e Estado. Brasília, v.17, n.1, 2002. SWEDBERG. Richard. Sociologia Econômica: hoje e amanhã. Tempo Social. São Paulo, v.16, n.2, 2004.
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