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LEI MARIA DA PENHA

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LEI MARIA DA PENHA -------------> - 11.340/06
HISTÓRIA DA LEI
Maria da Penha Maia Fernandes é uma farmacêutica brasileira que, no ano de 1983, sofreu severas agressões de seu próprio marido, o professor universitário colombiano Marco Antonio Heredia Viveros. Em duas ocasiões, Heredia tentou matar Maria. Na primeira, com um tiro de espingarda, deixou-a paraplégica. Depois de passar quatro meses no hospital e realizar inúmeras cirurgias, Maria voltou para casa, ocasião em Heredia tentou eletrocutá-la durante seu banho.
Maria pôde sair de casa graças a uma ordem judicial e iniciou uma árdua batalha para que seu agressor fosse condenado. Isso só aconteceria em 1991, mas a defesa alegou irregularidades no procedimento do júri. O caso foi julgado novamente em 1996, com nova condenação. Mais uma vez, a defesa fez alegações de irregularidades e o processo continuou em aberto por mais alguns anos. Enquanto isso, Heredia continuou em liberdade.
Maria da Penha lançou um livro, no ano de 1994, em que relata as agressões que ela e suas filhas sofreram do marido. Alguns anos depois, conseguiu contato com duas organizações – Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) – que a ajudaram a levar seu caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1998.
No ano de 2001, o Estado brasileiro foi condenado pela Comissão por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres. Foi recomendada a finalização do processo penal do agressor de Maria da Penha (que ocorreria finalmente no ano de 2002); a realização de investigações sobre as irregularidades e atrasos no processo; reparação simbólica e material à vitima pela falha do Estado em oferecer um recurso adequado para a vítima; e a adoção de políticas públicas voltadas à prevenção, punição e erradicação da violência contra a mulher.
Foi assim que o governo brasileiro se viu obrigado a criar um novo dispositivo legal que trouxesse maior eficácia na prevenção e punição da violência doméstica no Brasil. Em 2006, o Congresso aprovou por unanimidade a Lei Maria da Penha, que já foi considerada pela ONU como a terceira melhor lei contra violência doméstica do mundo.
A LEI 11.340/2006
A lei 11.340/2006 foi criada com o objetivo de trazer maior proteção à mulher que vinha tendo um alto índice de violência no âmbito doméstico e familiar, entretanto a lei não trouxe novas tipificações de crimes, e sim uma tratamento mais rigoroso aos crimes já existentes.
Inicialmente, cumpre salientar que o Código Penal trouxe a figura da lesão corporal no âmbito doméstico com a reforma realizada pela lei 10.886/2004 (§§9º e 10º do art. 129), e este possui incidência também para sujeito passivo do sexo masculino.
O art. 5º da lei ao declarar que “configura-se como violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada na relação de gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher” englobou não só os crimes que causem danos físicos, como a lesão corporal, como também a ameaça, coação, abuso, entre outros, quebrando, assim, a sistemática da lei penal que ao dizer a “violência” refere-se apenas à violência física.
Já a lei 11.340/06 por possuir por objetivo a proteção da mulher permite apenas que o sujeito passivo da ação seja do sexo feminino, consubstanciadora de violência de gênero (mulher em situação de vulnerabilidade), enquanto o sujeito ativo pode ser mulher ou homem, abrangindo namorados, noivos, maridos, ex-maridos, pais, irmãos ou qualquer outra pessoa do sexo masculino que seja considerada parte da família. Em relação a transexuais, é aplicável desde que o sujeito tenha passado a ser considerado legalmente como mulher. Abrange também as relações homoafetivas lésbicas e as empregadas domésticas, desde que essas sejam consideradas membros da família ou participem ativamente da vida familiar, não sendo necessário que esta durma no serviço, uma vez que esta enquadra-se nos incisos do art. 5º da lei.
Destaca-se que caso ocorra lesões corporais recíprocas entre os sujeitos, como pai e filha, marido e mulher, o juiz poderá substituir a pena de detenção por multa, na forma do §5º do art. 129 do CP.
No que tange a competência dos crimes de violência doméstica contra a mulher, a competência para julgar é dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher. Caso não haja um juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher, a competência será das varas criminais, uma vez que, apesar da pena imposta, o art. 41 da lei afasta a aplicabilidade da lei 9.099/95. Nos demais casos de violência doméstica, e nos casos que a mulher seja vítima porém não em decorrência de violência de gênero, a competência será determinada pela pena in abstractu.
A lei 11.340/06 não alterou o tipo de ação penal dos crimes que podem ser empregados como meio de violência doméstica contra mulher, exceto no caso da lesão corporal leve, que passou a ser ação pública incondicionada. Nos casos de ação pública condicionada à representação da vítima, só será aceita a renúncia da vítima perante o juiz, antes do recebimento da denúncia e ouvido o MP, e nos casos de ameaça poderá o juiz designar audiência especial para saber se a vítima possui interesse em prosseguir com a ação penal. 
Benefícios dados pela lei penal como transação penal ou composição civil extintiva de punibilidade não são aplicáveis ao casos de violência contra mulher, desde que decorrente de violência de gênero, embora a pena de lesão corporal possua penal mínima inferior a 1 ano. 
Parte da doutrina diverge em relação a esta inaplicabilidade, invocando violação ao princípio da isonomia, entretanto o STF decidiu, em adi 4.424, baseando em dados estatísticos, que as mulheres são maioria vítimas de violência doméstica, e que possuiam o hábito de renunciar à representação pela esperança de não sofrer mais este tipo de violência. Porém, a mesma voltava a se repetir de forma mais agressiva, devido a perda do freio inibitório e pela crença que a renúncia voltaria a se repetir.
O juiz deverá no prazo de 48 horas conhecer do expediente e do pedido, determinar o encaminhamento da ofendida à assistência judiciária, comunicar o MP para que tome as medidas cabíveis, e decidir sobre medidas protetivas de urgência, podendo aplicá-las isoladas ou cumulativamente, sendo estas :
•	Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção;
•	Determinar a condução da ofendida e a de seus dependentes ao domicílio, após o afastamento do ofensor;
•	Determinar o afastamento da ofendida do lar;
•	Determinar a separação de corpos;
•	Restituição de bens;
•	Proibição temporária de celebração de atos e contratos de compra, venda ou locação de propriedade em comum;
•	Suspensão de procurações conferidas pela ofendida ao agressor; entre outras.
PROJETO PARA ALTERAÇÃO DA LEI
A criação da Lei Maria da Penha foi uma verdadeira transformação no amparo de mulheres em situação de violência – vocábulo este que também se fez existir por meio de debate sobre a própria condição da mulher nesse contexto, ou seja, lutou-se até para que a mesma deixasse de ser vítima e passasse a ser um sujeito digno de superação. Essa mesma Lei, logo em seu nascimento, também encontrou obstáculos em relação a sua constitucionalidade.
Tendo isso em mente, podemos entender melhor por que alterações legislativas feitas sem prévia consulta popular podem ser capazes de gerar prejuízos para aquelas pessoas que, inicialmente, se visava acolher: 
O Projeto de Lei da Câmara n° 7, de 2016, de autoria do deputado federal Sergio Vidigal (PDT/ES), aprovado no dia 10 de outubro de 2017, traz em sua ementa: “Acrescenta dispositivos à Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, para dispor sobre o direito da vítima de violência doméstica de ter atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado,
preferencialmente, por servidores do sexo feminino, e dá outras providências”.
Enquanto os artigos 10-A e 12-A buscam criar meios para que as delegacias e o atendimento ali oferecido seja melhor adaptado à realidade da mulher em situação de violência – cuidados no atendimento, recintos projetados para tal finalidade, acompanhamento de profissional capacitado no momento da inquirição, criação de delegacias e setores especializados – o art. 12-B confere à autoridade policial um poder que não é condizente com essa mesma realidade e deixa de levar em conta outros fatores.
O grande debate gira em torno da previsão que traz o art. 12-B: a autoridade policial teria poderes para aplicar as medidas protetivas de urgência previstas na Lei.
Segundo o texto, o delegado poderá determinar as medidas protetivas em casos de risco real ou iminente à vida ou à integridade física e psicológica da mulher, e deverá comunicar ao juiz e ao MP em até 24 horas para definir a manutenção da decisão. Entre as medidas que podem ser aplicadas estão a proibição de o agressor manter contato ou se aproximar da mulher, de seus familiares e das testemunhas, vetando-o de frequentar determinados lugares, e o encaminhamento à rede de apoio às vítimas de violência.
PRÓS E CONTRAS
O autor da proposta, deputado Sergio Vidigal (PDT-ES), afirma que dar esse poder à autoridade policial irá acelerar a apreciação dos pedidos das vítimas e garantirá segurança às mulheres. Nesse sentido, a matéria também determina que deve ser priorizada a criação de delegacias especializadas de atendimento à mulher, núcleos investigativos de feminicídio e equipes especializadas para o atendimento e investigação de atos graves de violência contra a mulher. Também estabelece que a vítima de violência deve ser atendida, preferencialmente, por outras mulheres e fixa diretrizes para a escuta dos envolvidos, como a garantia de que sejam ouvidas em local isolado e específico e de que não haverá contato com investigados ou suspeitos.
Para o delegado da Polícia Civil do Paraná Henrique Hoffmann, porém, o projeto não representa qualquer prejuízo à inafastabilidade da jurisdição, pois a decisão, além de não ser definitiva, é submetida à análise judicial. “Em resumo a proposta de alteração não suprime direitos, apenas os acrescenta à Lei 11.340/06”, diz.
A inovação em nada afeta a capacidade postulatória da vítima, garante Hoffmann. Ele argumenta que essas medidas protetivas não se submetem à reserva constitucional de jurisdição e, por isso, podem ser outorgadas aos delegados. “Isso foi feito com outras medidas cautelares, como prisão em flagrante, fiança, apreensão de bens, dentre outras”, ressalta.
"O objetivo é apenas garantir com maior efetividade a incolumidade física e psicológica da vítima. Afinal, a CPMI da Violência Doméstica constatou que a morosidade na proteção judicial da vítima é a regra, sendo que o prazo para a concessão das medidas protetivas geralmente varia de 1 a 6 meses", explica o delegado.
Para Leila Linhares Barsted, diretora da ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação e uma das redatoras do texto da Maria da Penha, o projeto subverte a lógica da legislação atual, que tem como foco a garantia ao acesso das mulheres à Justiça e à rede de apoio, como instituições de acolhimento e de atenção à saúde. “Nós, mulheres que trabalhamos na proposta original, queríamos realmente garantir às mulheres o acesso à Justiça, que é uma garantia prevista não apenas na Constituição, mas especificamente no caso das mulheres, em convenções internacionais das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos”, relembra Leila.
Ela explica que a norma em vigor prevê a competência do Judiciário na determinação de medidas, dando à polícia o dever de orientar a vítima sobre medidas protetivas e outras questões, como registro de ocorrência, além de apoiá-la para buscar pertences em casa. Para Leila, o direito das mulheres de ter acesso ao Judiciário é importante porque neste momento que a vítima é acompanhada pela Defensoria Pública e recebe apoio e informações sobre seus direitos. Ela também relata que as mulheres costumam ser discriminadas na delegacia.
Isso porque diversas organizações já apontaram os problemas em tal medida: a autoridade policial não é investida de função jurisdicional, logo estaria ferindo a própria tripartição dos Poderes; a Polícia, que já encontra grandes dificuldades para realizar suas atividades investigativas, não teria a infraestrutura e o contingente necessário para levar a cabo essa nova incumbência, o que, a longo prazo, resultaria na impunidade do agressor e numa consequente vulnerabilidade da mulher em situação de violência.
A mulher encontraria uma imensa dificuldade para ter acesso ao Judiciário e ver a sua demanda amparada judicialmente, o que a faria dependente da autoridade policial e suscetível à revitimização; no meio de tanta burocracia e automatização das demandas judiciais, o Judiciário passaria apenas a confirmar a decisão policial sem avaliar as peculiaridades do caso concreto.
Além de todos esses problemas, a redação do artigo ainda deixa margem para interpretações perigosas: se a autoridade policial entender que não é caso de aplicação de medidas protetivas de urgência, teria a mulher a capacidade de chegar sozinha à autoridade judicial? Qual seria o nível de autonomia da mulher em tais situações?
Sabemos que a nossa Polícia e o nosso Poder Judiciário são ambientes hostis que reproduzem, ainda hoje, práticas machistas e de desestímulo às mulheres, ridicularizando-as e colocando-as em situações aviltantes quando as mesmas procuram resguardar seus direitos e sua integridade. Ora, porque, então, vamos permitir que nos tirem a autonomia de acesso à Justiça e nos tornem cada vez mais dependentes de uma instituição com princípios retrógrados que, no geral, ainda não possui o preparo necessário para lidar com um tipo de violência tão gritante na nossa sociedade?
Se a Lei Maria da Penha se fez com a mobilização popular de mulheres, é com esta que ela vai se guiar, se validar e se efetivar – e não com a discricionariedade de órgãos que, muitas vezes, se afastam da função de proteger e orientar as mulheres.
Maria da Penha defende que a aplicabilidade da lei seja aprimorada, não o texto. “Até hoje, tem tanta coisa para ser feita e eles estão pegando em um item que pode fragilizar a lei. Vamos dizer o seguinte: por que todos os municípios brasileiros não colocam políticas públicas para atender a mulher? Hoje, em dia, todas as capitais brasileiras têm seu centro de referência, a casa abrigo, a delegacia da mulher e o juizado, que são os alicerces de aplicação da lei. Mas os municípios próximos das capitais não têm ao menos o centro de referência da mulher”, exemplifica.
Ela, que esperou 19 anos e seis meses para ver seu agressor punido, quer investigações mais completas e rápidas e celeridade da Justiça.
“A gente quer é que a segurança pública consiga fazer os relatórios e boletins de ocorrência com mais rapidez para quando chegar ao juiz ele já esteja bem embasado. A polícia conseguiu enviar o relatório sobre o caso. Tempo para se dedicar à investigação. A polícia acata a denúncia, mas o inquérito policial não acompanha essa rapidez. É necessário que isso aconteça para dar condições que todas as etapas da Lei da Maria da Penha sejam cumpridas”, afirma.
“Se houver necessidade de mudança, que seja feita através das ONGs que criaram a lei. Junto com o poder judiciário, junto com juizado, com um consenso em geral, para que a lei não enfraqueça e nem seja considerada inconstitucional. Quando a lei foi sancionada, sugeriu-se a hipótese de que era inconstitucional dizendo que homem e mulher eram iguais perante a lei. Até hoje, sabemos que quando a mulher é recebida por homens, as mulheres são debochadas, são aconselhadas a não denunciar porque existe o machismo interferindo nessa situação”, completa.
A matéria aguarda sanção presidencial, mas entidades ligadas aos Direitos Humanos e associações de promotores
e defensores públicos pedem que Michel Temer (PMDB) vete a proposta!!!
PROJETOS VIOLETA E QUEBRANDO O SILÊNCIO
Projeto Violeta
Em 2014, a Juíza carioca Adriana Ramos Mello, foi a primeira colocada no Concurso Innovare, na categoria Juiz com o Projeto Violeta. O maior problema que a Lei Maria da Penha sofre é com o tempo em que a vítima, nos casos graves, precisa esperar para ser atendida. Quando chega para ela a medida protetiva de urgência, esta mulher já passou pela violência fatal.
Este projeto ciente das estatísticas alarmantes de mortes de mulheres vítimas de violência doméstica no país, procura acelerar o atendimento à tais mulheres em risco de vida. Em vigor há dez anos, a Lei Maria da Penha prevê um período de até quatro dias entre a queixa e a decisão judicial. Com o projeto essa espera cai para quatro horas.
Identificados com tarjas violeta, os casos mais graves de violência contra a mulher são levados de imediato ao Órgão do Poder Judiciário, ativando o protocolo de atendimento integral, realizado em parceria com a Polícia Civil, a Defensoria Pública, o Ministério Público e os setores de Psicologia e Serviço Social. Isto quer dizer que no dia em que deu entrada ao processo a vítima dos casos graves de violência terá o agressor preso, será encaminhada juntamente com os filhos (se houver) para um abrigo, em segurança será impetrado o seu pedido de divórcio, alimentos, tratamento psicológico para ela e para os filhos menores que necessitarem, terá formação profissional para prover o seu sustento, etc. 
E com relação ao agressor, o que o Projeto Violeta prevê?
Neste caso, a solução prevê que é necessário investir em centros de reeducação para os agressores. Tal política pública já é prevista em lei mas é simplesmente ignorada, o que significa dizer que assim se deixa o agressor livre para continuar com a violência que praticará de novo com a mesma mulher, se ela continuar com ele, o que é muito comum ou, com uma ou mais vítimas. O projeto violeta por sua vez, encaminha agressores a grupos auto reflexivos acompanhados por psicólogos e assistentes sociais. Em oito encontros, cerca de dez homens dividem a sua percepção sobre drogas, álcool, violência contra a mulher e a Lei Maria da Penha.
Projeto Quebrando o Silêncio
Histórico do Projeto
Quebrando o Silêncio é um projeto educativo e de prevenção contra o abuso e a violência doméstica promovido anualmente pela Igreja Adventista do Sétimo Dia em oito países da América do Sul, (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai) desde o ano de 2002.
A campanha se desenvolve durante todo o ano, mas uma das suas principais ações ocorre sempre no quarto sábado do mês de agosto. Este é o “Dia de ênfase contra o abuso e a violência”, quando ocorrem passeatas, fóruns, escola de pais, eventos de educação contra a violência e manifestações na América do Sul.
O projeto tem como objetivo prevenir e combater a violência contra crianças, mulheres e idosos, além de orientar as vítimas na busca de ajuda dos órgãos competentes, quebrando assim o ciclo de violência. A violência doméstica é nutrida pela ignorância. Assim, para combater esse mal é preciso trazê-lo a público, examiná-lo e dar a solução necessária. Os cidadãos em geral devem se tornar parte dessa solução e o primeiro passo é a prevenção, procurando alcançar todas as faixas etárias.
APLICATIVOS
Com os avanços tecnológicos, surgiram também aplicativos que ajudam essas mulheres vítimas de agressão a se resguardarem, e consequentemente pedirem ajuda de alguma forma. São eles:
Clique 180
Minha Voz	 
PLP 2.0
Dona Maria
Agentto
For You
SOS Mulher (1)
Lei Maria da Penha
SOS Mulher
Chega de fiu-fiu
Parto Humanizado
Circle of 6
Dois desses aplicativos elencados, merecem um maior destaque devido a sua eficiência, são eles:
Lei Maria da Penha 
Para quem quer entender melhor os direitos que a Lei Maria da Penha assegura, o aplicativo de mesmo nome permite acesso aos artigos da lei que protege mulheres contra violência doméstica e sexual. Desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU), a ferramenta está disponível para Android gratuitamente.
PLP 2.0
O aplicativo PLP 2.0 tem o objetivo de facilitar o socorro a mulheres de todo o Brasil. A ferramenta está conectada a uma rede de cinco contatos da usuária e a entidades públicas e privadas. O projeto é a extensão do programa Promotoras Legais Populares, que já funciona no Rio Grande do Sul, em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado. A ferramenta foi desenvolvida pelas ONGs brasileiras Instituto Géledes e THEMES Gênero, Justiça e Direitos Humanos.
HISTÓRIAS REAIS
Roseni - Brasília DF
"Uma mulher que apanha do marido só vai à delegacia quando ela está no seu limite, depois de sofrer muito. Fui queimada com ferro de passar roupa por me negar a ter relações sexuais com meu marido. Fui à delegacia dar queixa e a delegada perguntou se eu tinha testemunhas do fato. Ora, eu estava ali queimada. Só me senti uma mulher livre para criar meus dois filhos depois que enfrentei meu marido com um facão. Foi só aí que ele parou de me espancar. Após seis tentativas de separação, fui vítima de cinco balas disparadas por meu ex-marido, e eu carrego todas essas marcas e a cicatriz na alma. Ele foi condenado a apenas cinco anos de prisão, mas, mesmo assim, a Lei Maria da Penha é um avanço e uma esperança."
 Luciana
"Sofri todos os tipos de agressões durante 10 anos e sempre fui ameaçada de morte caso denunciasse. Hoje tenho 34 anos e estou livre do cativeiro que vivia. A minha decisão de denunciar começou quando uma grande amiga me levou a um Centro de Referência. Lá fiquei fortalecida e comecei a enxergar que eu não precisava continuar sofrendo e que o meu marido não era dono da minha vida para me maltratar da forma que quisesse. Tive coragem e fui à delegacia registrar o boletim de ocorrência e pedir medida protetiva. No início tive medo que ele me matasse, mas foi o contrário. Depois disso, ele nunca mais me procurou, com medo de ser preso."
Fátima
Fátima conheceu o ex-marido “na melhor época” da sua vida, segundo a própria. Ela tinha 15 anos; ele, 25. As ameaças faziam parte da rotina do casal. A primeira aconteceu na praia. Ele a levou para um penhasco e garantiu que a mataria caso o relacionamento chegasse ao fim. Mesmo depois desse e de outros episódios semelhantes, os dois foram morar juntos. “Querendo ou não, eu gostava dele”, justifica Fátima. “Achava que ele poderia mudar.” A primeira agressão física aconteceu numa noite de Natal. Fátima levou uma cabeçada do marido que a fez desmaiar. Quando acordou, ela foi impedida de ir para a casa dos pais pelos cunhados, cúmplices das inúmeras outras agressões que Fátima viria a sofrer. Teve que ir para a casa que dividia com o marido.
A partir daí, chutes, socos, empurrões e ameaças de morte se sucediam. “Eu pedia para nos separar; ele chorava muito, dizia que ia mudar. Fui levando.” Os dois moravam fora do Brasil. Quando o filho caçula precisou fazer uma cirurgia, Fátima voltou sozinha. Ficou hospedada na casa da sogra. Os dois ficaram dois anos separados. Mas voltaram. Quando decidiu aceitar um emprego, despertou a fúria do marido. Ele subiu em sua barriga e a socou vigorosamente. A sogra assistiu à cena, imóvel. “Quando ele terminou, ela me disse que a culpa era minha.” Fátima se mudou, mas não conseguiu completar nem um mês no apartamento arranjado pela amiga. Em outra ocasião, ele tentou matá-la com uma faca. Conseguiu fugir e se escondeu na casa da amiga. Em 2009, fez a primeira denúncia.
Quando Fátima ganhou a guarda provisória dos filhos, o marido mudou milagrosamente. Reaproximou-se, dizendo que estava fazendo tratamento psicológico. Fátima acreditou e reatou o relacionamento. O inferno recomeçou. “Ele disse que tinha feito aquilo tudo só para ter as crianças de volta. Pegou minhas malas e jogou no meio da rua. Trancou o portão e me deixou do lado de fora.” As agressões pioraram. Mesmo grávida, Fátima apanhou
com uma tora de pau. As crianças também sofriam a fúria inexplicável.
Quando pediu, novamente, a separação, o ex a jogou para fora de casa, trancou todas as portas e mandou o filho do meio ligar o gás. “Ele disse que eu poderia ir embora, mas que carregaria para sempre a culpa de ter matado meus filhos”, relembra. Depois desse dia, ela ainda apanhou mais três vezes. Uma frase dita por seu filho, hoje com 8 anos, a fez repensar esse conceito. “Ele dizia que, quando crescesse, mataria o pai”, relembra.
O medo, ela confessa, também era da raiva posterior dos fihos, pela omissão materna. “A gente que apanha é que nem usuário de drogas, porque você sabe que é ruim, mas não consegue largar”, define. “Você começa a se achar sem-vergonha, porque apanha e, depois de uma semana, volta a falar com aquela pessoa, dorme do lado dela. Vi que tinha vida além daquilo.” Quando chegou à casa abrigo, Fátima só conseguiu pensar em uma pergunta: “Vocês têm cobertores para meus filhos?”. 
Margarida
“Casei com ele, achando que ele ia mudar”
Margarida é recatada, de fala baixa e sorridente. Quem a vê nem imagina que os últimos 25 anos de sua vida foram marcados por socos, chutes e até uma ameaça de morte, com arma na cabeça. Acima de tudo, ela se vê como uma esperançosa. O que mudou foi o foco do sentimento: se antes ela rezava para que o marido mudasse, agora ela espera pelo futuro, sem brigas ou violência. “Quero sair dessa, ter uma nova vida. Vi a casa abrigo como uma oportunidade de lutar, começar a viver, com meus filhos. Quero estudar, trabalhar, correr atrás.”
Ela e o ex-marido se conheceram em um almoço de família. Ele era o amigo de um amigo. O namoro já começou turbulento. Margarida até tentou se separar, mas cedeu à chantagem emocional do companheiro, que ameaçou se matar caso ela o deixasse. “Casei com ele, achando que ele ia mudar”, conta. Ele nunca mudou. “Muitas vezes, tive que sair de madrugada para a casa de parentes.” Certa vez, possesso, ele ligou o gás da cozinha perto do quarto em que a mulher dormia. Ameaçou atear fogo. Os vizinhos chamaram a polícia, o homem foi preso, mas liberado na mesma noite. “O que quero é justiça, que ele e outros homens assim possam colher as consequências que eles plantam.” 
O episódio do quase incêndio foi, para Margarida, a gota d’água. O incidente e a prisão apenas pioraram o temperamento do ex-marido. Mas foi quando o filho do casal, de 17 anos, começou a entrar no meio dos espancamentos para defender a mãe que ela resolveu tomar uma providência. Denunciou o marido e foi encaminhada para a casa abrigo. “Ele dizia que a Justiça não existe. Ele achava que era inteligente para convencer, pagar fiança.”
Há 20 dias na casa abrigo, contudo, a opinião dela já é outra. “Está sendo um período de reflexão. Eu poderia ter feito isso antes.” Na lista de afazeres de Margarida, voltar a estudar — sonho podado desde sempre pelo marido, controlador — e a trabalhar estão como prioridades máximas. A autoestima, esquecida em meio a tanta violência, parece querer retornar. “Já estou procurando um lugar para morar e tudo vai dar certo agora”, comemora.
Saindo do poço
Parar o ciclo da violência, especialmente quando há envolvimento emocional com o agressor, é um processo que exige coragem. Eloisa de Oliveira Alves, assistente social do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram), explica que, quando as mulheres chegam, muitas já estão tão machucadas que não sabem nem por onde começar. Sentem-se culpadas por denunciar o marido ou companheiro, mas não suportam mais viver sob vigilância e violência. “A maioria quer saber sobre as medidas protetivas de urgência.”
O primeiro passo é a visão geral dos fatos. “Quando elas chegam, são acolhidas por dois especialistas de áreas diferentes, como assistência social, jurídica ou psicossocial”, detalha. A visão multidisciplinar ajuda a mapear o caso. Eloisa Alves explica que, segundo pesquisas, são necessários cerca de 10 anos para que o ciclo de violência seja, definitivamente, rompido. Mas é preciso começar.
De maneira geral, a assistente social explica que o que impulsiona a mulher a dar um basta nas agressões são os filhos. O amparo da lei, especialmente a Lei Maria da Penha, que entrou em vigor em setembro de 2006, também fez com que as vítimas ganhassem mais coragem para denunciar. Entre os fatores que as impedem de falar, estão o medo do companheiro, a vergonha de se admitirem vítimas e a questão socioeconômica, uma vez que muitas dependem do dinheiro do marido para viver. “Muitas têm vários filhos e nenhuma instrução ou qualificação profissional”, completa. “A questão religiosa e o mito de que o casamento tem que ser para sempre também existem.”
Em seu estudo, a enfermeira Liliana Labronici, ex-professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná, encontrou perfis de mulheres com os mais diferentes níveis de escolaridade, bem como condições financeiras distintas. O que existe em comum, ela explica, é a resistência à destruição do relacionamento. “Mas sempre chega um momento em que alguma coisa acontece e ela diz ‘agora eu vou’.”
No caso das mulheres entrevistadas para a pesquisa, ela conta que o estopim aconteceu quando o agressor tentou matar a mulher ou algum dos filhos do casal. Antes disso, porém, há a chamada lua de mel, em que o homem “volta ao normal” e jura nunca mais encostar um dedo sequer nela. “Isso faz com que ela alimente uma falsa esperança de que ele pode vir a mudar”, comenta Labronici. A “melhora” prova-se temporária, e tudo começa outra vez. No entanto, a recaída não é considerada um obstáculo à resiliência.
 “Não há nada que atrapalhe esse processo. O que existe são fatores de risco, como a vulnerabilidade da mulher ou da criança.”
De onde vem o ódio masculino às mulheres? 
Os estudos nesse sentido ainda são incipientes, mas, de acordo com Olgamir Amância Ferreira, secretária de Estado da Mulher, uma coisa é certa: é preciso aprofundar o conhecimento. “Compreendemos que a violência contra a mulher é uma questão da cultura da sociedade”, justifica. “Vivemos a cultura patriarcal, que estabelece uma relação desigual de poder entre o masculino e o feminino. O primeiro para mais e o segundo para menos.” Essa cultura, repercutida no ambiente familiar, nas escolas e nos demais ambientes de convivência, seria, então, uma das principais responsáveis pela violência contra a mulher no futuro.
Dessa forma, a sociedade, de acordo com Olgamir, constrói a base da violência. “Se é algo aprendido, é algo que pode ser redimensionado e ressignificado”, pondera. É possível descontruir esse entendimento, uma vez que ele não é natural. Partindo desse pressuposto, ela diz que já são feitos trabalhos voltados para os agressores. Eles são atendidos pela mesma equipe responsável por acolher as vítimas, formada por psicólogos, assistentes jurídicos e assistentes sociais.
O atendimento é realizado, principalmente, com atividades coletivas. O objetivo é fazer com que o homem reflita sobre a sua prática. “A eles, são dadas informações acerca da violência”, completa Olgamir Ferreira. Nesse acompanhamento, em que o homem tem a oportunidade de falar, ele é estimulado a entender que há outras formas de lidar com o conflito além da força, como o diálogo. “Outro motivo para esse trabalho é que esse homem vai retomar esse relacionamento ou criar novos vínculos. Se ele não for trabalhado, a violência vai se repetir.”
Eloisa de Oliveira Alves, assistente social do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram), trabalhou cinco anos no atendimento a homens agressores. Ela reforça: a violência nunca tem um fator único, que a desencadeie. “É multifatorial. Há componentes culturais, históricos e a questão de gênero na sociedade.” Apesar de não existir nenhuma justificativa para a violência, ela conta que os principais motivos apontados pelos homens envolvem o ciúme. “Eles misturam ciúme com amor. Vira um sentimento que eles não entendem muito bem”, resume. Roupas não passadas, jantar que demorou a ser pronto:
tudo vira motivo para o espancamento.
O conflito é inerente às relações humanas. Aprender a lidar com ele é que é o problema. Para Liliana Labronici, quando o assunto é violência, o ponto principal é trabalhar a igualdade de gênero. “Agora, é a hora de começar a se preocupar com o outro lado do problema.” Estudar o que leva os homens a baterem em suas mulheres a fundo, produzir literatura sobre o tema e, principalmente, realizar trabalhos em escolas são algumas sugestões de enfrentamento. “É preciso saber mais sobre o ambiente em que esse homem cresceu. Crianças que viram seus pais agredirem as mães tendem a repetir esse comportamento”, analisa. “Enquanto houver desigualdade de gênero, haverá violência”, frisa. 
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