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AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Curso de Fonoaudiologia 2° Período Perspectiva sobre linguagem Expressar e compreender linguagem envolve uma série de processos mentais. Eles ocorrem em função da contínua interação entre as mutáveis condições sociais e a base biológica. BASE BIOLÓGICA • As áreas corticais mais relacionadas com a produção e compreensão da linguagem estão em torno da fissura de Sylvius: BASE BIOLÓGICA • Área de Wernicke: - Recepção de estímulos sensoriais (sistemas auditivos, visual, somatossensorial-sensações corpóreas - Os elementos da linguagem são transmitidos nesta área; - Tarefas que se relacionam com reconhecimento, compreensão e formulação da linguagem • Broca: - Programação e execução de atos (fala, escrita, gesto) BASE BIOLÓGICA • Há um período crítico para a aquisição da linguagem oral CONDIÇÕES SOCIAIS • A experiência social e sensorial organiza a estrutura e o funcionamento do cérebro. As fibras nervosas capazes de ativar o cérebro têm de ser construídas, e o são pela interação. CONDIÇÕES SOCIAIS • Quando as pessoas através da linguagem chamam a atenção da criança para os objetos, ações ou pessoas estão possibilitando a organização de sua percepção visual e auditiva. ASPECTOS QUE DETERMINAM O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM NORMAL Integridade do Sistema Nervoso Central Contato com uma determinada língua Interação com pessoas Acuidade Auditiva Integridade estrutural e funcional do sistema estomatognático RN e 1 MÊS • Choro como reação biológica a dor ou fome • As vocalizações são esporádicas, reflexas e não parecem estar relacionadas a qualquer tipo de sensação de bem estar 2 e 3 MESES • O choro torna-se diferenciado • Reage à fala humana: sorri, olha, vocaliza • Procura a fonte sonora • Fica atenta quando é chamado • As vocalizações apresentam variação quanto altura e duração, independente da língua falada ao redor 4 E 5 MESES • Surgem os jogos vocais que não estão voltados para a comunicação • O padrão do balbucio é indiferenciado: sons tanto na inspiração como na expiração; repetição de uma mesma sílaba, independentes da língua falada ao redor 6 e 7 MESES • Já manifestam seus desejos, olhando, apontando para os objetos, contudo, sem dirigir-se ao outro • O padrão do balbucio é diferenciado: repetição de sílabas diversas /padama/, /dadapama/ ENTRE 8 E 11 MESES • Comunicação intencional • O padrão do balbucio é variado: repetição de sílabas diversas com entonação da língua • Participa de jogo vocal, repetindo o padrão emitido pelo outro • Responde perguntas (”cadê a chupeta?”) ou imperativos rotineiros (“não...”; “pára...”) ENTRE 1 E 2 ANOS • Surgem as primeiras unidades lingüísticas • Muitas vezes, as primeiras unidades lingüísticas produzidas pelas crianças são um espelhamento da fala do outro (especularidade) DIÁLOGO TÍPICO DE CRIANÇAS DE 18m: adulto: Onde você estava ? Criança: “tava” adulto: É ! Onde você foi ? Criança: “foi casa vovó” adulto: Quem levou você ? Criança: “papai” adulto: O papai ficou lá com você ? Criança: “papai fico não” (Lemos, 1982) ENTRE 1 E 2 ANOS: •Compreendem ordens verbais situacionais. “Vá pegar seu tênis” • Compreende ordens rotineiras com duas ações. “Pega a chave e põe na gaveta” A partir dos 2 anos, a linguagem pode ser analisada considerando os subsistemas lingüísticos • FORMA : fonologia sintaxe • CONTEÚDO: semântica • USO: pragmática FONOLOGIA • Organização dos fonemas na cadeia da sílaba e da palavra • Sons usados distintivamente em uma língua • É um processo cognitivo-lingüístico PROCESSOS DE SIMPLIFICAÇÃO FONOLÓGICA Processos da estrutura silábica: altera-se a estrutura das sílabas • reduplicação [ppw] - papel / [nnka] - boneca • omissão de sílaba átona [nka] - boneca / [bikta] - bicicleta • silabificação [doysi] - dois / [lapisi] - lápis • migração [pergo] - prego / [asurka] - acúcar PROCESSOS DE SIMPLIFICAÇÃO FONOLÓGICA Processos da estrutura silábica: altera-se a estrutura das sílabas • omissão de líquidas laterais e não laterais [ivo] - livro / [mio] - milho / [kao] - carro • omissão de consoante final [ikada] - escada / [seka] - cerca • omissão de grupo consonantal • [gavata] - gravata / [for] - flor PROCESSOS DE SIMPLIFICAÇÃO FONOLÓGICA Processos de substituição: um som (ou classe de sons) é substituído por outro. • oclusivação [tapo] - sapo • Anteriorização de oclusivos velares [bota] - boca • Anteriorização de palatal /posteriozação para palatal [sapew] - chapéu / [apato] - sapato • Simplificação de líquida lateral (/l/ e /λ/) e não lateral (/r/ e /R/) por substituição ou semivocalização [pilulito] – pirulito; [cabeyo] – cabelo; [foya] – folha; [moyado] – molhado; [balata] – barata; [peya] - pera [kalosa] – carroça; [kayu] - carro PROCESSOS DE SIMPLIFICAÇÃO FONOLÓGICA Processos de substituição: • Assimilação [kka] - cobra / [pasa io] - passarinho [filafa] - girafa / [suso] - sujo • Ensurdecimento [afiãw] - avião • Sonorização [vigo] - figo PROCESSOS DE SIMPLIFICAÇÃO FONOLÓGICA Processos de substituição: • semivocalização da consoante final {R} [kayta] - carta / [doy] - dor • Substituição de grupo consonantal com /r/ e /l/ [glavata] - gravata / - [frawta] - flauta FONOLOGIA • Até 2;6 todas as simplificações são esperadas • Até 3 anos deve desaparecer: reduplicações plosivações anteriorização de plosivas FONOLOGIA • Ensurdecimento desaparece até 3;6 • Até 4 anos deve desaparecer: Omissão de sílabas átonas em palavras polissílabas Omissão das consoantes finais Omissão de líquidas FONOLOGIA Até 5 anos deve desaparacer: Até 6 anos deve desaparecer: Anteriorização de fricativas palatais Posteriorização de fricativas alveolares substituição ou semivocalização de liquida não lateral /r/ redução de grupo consonantal (Teixeira, 1988; Wertzner, 2000) MORFOSSINTAXE • conhecimento da organização formal do seu sistema lingüístico, seja na estrutura da palavra ou da frase • Conhecimento dos falantes da estrutura interna das palavras e regras de combinação dos sintagmas em orações Como se adquire a gramática? • Extração de blocos da cadeia falada, baseando-se na prosódia, associando esses blocos a acontecimentos do entorno lingüístico. • As crianças já no primeiro ano formam imagens mentais dos acontecimentos que as rodeiam e estabelecem relação com as unidades lingüísticas ouvidas Estrutura cognitiva inata permite essa relação Como se adquire a gramática? • 9 – 24 meses: a criança e capaz de segmentar a cadeia falada em unidades identificáveis com orações e sintagmas e os acontecimentos em seqüências de acontecimentos • A partir dos 30 meses: passa a fazer sua analise sobre a cadeia falada em morfemas Por que as preposições, os morfemas nominais, verbais são mais difíceis de serem adquiridas? Apresentam menos relevância perceptiva. MORFOSSINTAXE PERÍODO DA SINTAXE PRIMITIVA 1;6 a 2;6 fala telegráfica “Qué casa vovó não!” Orações negativas com advérbio de negação locado no final Desviode concordância nominal quanto ao gênero “Meu bola, mamãe!” MORFOSSINTAXE PERÍODO DA EXPANSÃO GRAMATICAL 2;6 a 4;6 Faz períodos simples e compostos “Ela não deixa mas eu vou” Período de desvios morfológicos e de flexionamento verbal “Foi eu que comei o doce!” “Isto está uma desbagunça!!” MORFOSSINTAXE PERÍODO DAS AQUISIÇÕES SINTÁTICAS TARDIAS - após 5 anos Uso correto dos verbos irregulares mais comuns Uso de períodos subordinados com “pois” e “para que” “Eu vou pôr o vestido para que ela fique bonita” Uso de voz passiva (Crystal, 1981; Rondal, 1982) SEMÂNTICA / LÉXICO • Envolve o significado das palavras e a combinação entre elas • “A realidade de uma língua só existe por meio do conteúdo que ela transmite” (Bronckart, 1980) Aquisição Lexical • A categoria substantivo apresenta maior índice de expressão por parte das crianças. • As demais categorias , surgem com maior força a partir da faixa etária de 1:10. Ordem de maior freqüência: verbos, pronomes, adjetivos, termos sociais (Bastos, 2004) SEMÂNTICA / LÉXICO Entre 2 e 3 anos Léxico entre 200 a 400 palavras Significado lexical: os principais campos semânticos estão presentes Significado gramatical: usa alguns advérbios de lugar, entende agora e “não agora” Desvios semânticos comuns: superextensão, subextensão, antonísia SEMÂNTICA / LÉXICO Entre 3 e 5 anos Léxico entre 400 e 1500 palavras Significado lexical: aumento de substantivos, verbos e adjetivos Significado gramatical: adquire em, com, sobre. Advérbios de tempo: instáveis Desvios semânticos comuns: superextensão, por proximidade fonológica, morfológica (Hage e Pereira, 2004) SEMÂNTICA / LÉXICO Após os 5 anos Léxico acima de 10.000 palavras Amplia as relações lexicais Faz perguntas sobre o sentido das palavras, sobre o sentido de prefixos e sufixos Após os 6/7 anos entende algumas metáforas e algumas piadas (significado figurado) (Clark, 1972; Acosta et. al 2003) PRAGMÁTICA • Refere-se ao uso da linguagem. “Para uma comunicação ser bem sucedida, devemos empregar a linguagem de forma que represente nossas intenções” Aspectos funcionais Aspectos conversacionais PRAGMÁTICA Aos 2 anos usa as funções básicas da linguagem: pedir, informar, perguntar Inicia diálogos, mas não os mantém por muitos turnos... Conversa com as pessoas em contextos conhecidos sobre temas concretos com turnos breves Fase da protonarrativa (Perroni, 1992) PRAGMÁTICA Aos 3 anos: Narra, mas com desvios na organização temporal “Era uma vez uma bruxa ela dava maçã para branca de neve” (Perroni, 1992) No diálogo: Respondem mais que iniciam, são coerentes, usa mais turnos simples do que expansivos (Resegue et al., 2003) PRAGMÁTICA Após os 5 anos Narra, pede, explica, descreve Autocorrige-se quando não compreendido Após os 6/7 anos regula o que pode dizer, em que lugar e com qual pessoa Após conhecermos as etapas do desenvolvimento normal da linguagem é necessário estudar: Qual a origem da linguagem humana? Quais as teorias sobre aquisição de linguagem e as suas hipóteses a respeito dos pré-requisitos necessários para que o ser humano a desenvolva? Qual a relação entre as teorias de aquisição de linguagem e os modelos terapêuticos para os distúrbios de linguagem? 1. Introdução: A origem da Linguagem Humana (Kandel et al., 1995) Teoria gestual: Propõe que a linguagem evoluiu a partir de um sistemas de gestos que tornou-se possível quando os macacos assumiram uma postura ereta e liberaram as mãos para a comunicação social. Posteriormente, a comunicação vocal pode ter surgido para liberar as mãos para outros propósitos que não a comunicação. A origem da Linguagem Humana Teoria vocal: Propõe que a linguagem evoluiu a partir de gritos instintivos de expressão de estados emocionais, tal como aflição, alegria, prazer sexual. Com o passar do tempo, mudanças nos órgãos fono-articulatórios possibilitaram controlar a produção de diferentes sons e a combinação dos mesmos. A diferença entre os sistemas fonológicos das línguas seria em decorrência do isolamento geográfico. A origem da Linguagem Humana Teoria vocal e gestual: A linguagem pode ter emergido da evolução de ambos, gestos e vocalizações. Esta possibilidade poderia justificar a ainda inexplicável correlação entre dominância manual e linguagem, ambas localizadas no hemisfério esquerdo do cérebro.
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