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Discente: Maria Paula S. C. Reis Curso: Licenciatura em Pedagogia Ano Letivo: 2016 – 2º Semestre Disciplina: Literatura Infantil Docente: Ulisses Infante ATIVIDADE AVALIATIVA II 1 – “A literatura que é dirigida à criança mostra as cicatrizes desse processo social de dominação, lutando por compensá-las pela fidelidade à missão iluminista da arte”. (P. 6 -7) Em que consistem “o processo social de dominação” e “a missão iluminista da arte” mencionadas no trecho citado? Segundo Bordini (1986), “o processo social de dominação” decorreu de outros tempos, mais especificamente em tempos pré-capitalistas, onde, socialmente falando, a criança era tratada de maneira cruel e violenta dentro e fora do ambiente doméstico, embora não houvesse muita demarcação entre a idade adulta e a infância, podendo a criança viver sem muitas interferências dos adultos e até mesmo da escola. A partir dos séculos XVII e XVIII, devido ao interesse pelo saber institucionalizado da elite, o infante era comparado a um “animalzinho selvagem a ser domado”, um “outro homem, só que em miniatura”, investindo-se na criança “como patrimônio da futura civilização humanista perfeita” e, portanto, onde o adulto ditava as regras e colocava a criança sempre em “posição de inferioridade social”, mesmo sendo amada e com seus direitos garantidos por seus pais. (BORDINI, 1986, p. 6) Segundo a autora, o “processo social de dominação”, portanto, consiste em uma desigualdade real, na qual o adulto, como pretexto e justificativa para tratar a criança com inferiorização no convívio social, se apoia na condição biológica em que ela se encontra - de estar em processo de maturação e restrita produtividade, sendo que, nesse aspecto, é comparada a um idoso, na qual ambos se veem marginalizados socialmente e vítimas de “abusos legitimados em nome de uma educação conformadora e não sinceramente libertária”. (BORDINI, 1986, p. 6) UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Campus de São José do Rio Preto Considerando todo esse “processo social de dominação”, a literatura destinada ao público infantil busca compensar todo esse histórico de dominação do adulto e, consequentemente, da sociedade, se ancorando na “missão iluminista da arte”, que consiste em combater esses ideais rigorosos de domínio político e social inspirando-se na liberdade de expressão e na crença do desenvolvimento sem limites da razão, enfim, na emancipação humana. A partir destes conceitos iluministas da arte, contudo, a literatura infantil, segundo Bordini (1986), teria o desafio de “adaptar temas e discursos aos limites da compreensão infantil, determinados muito mais pelas restrições sociais que as crianças sofrem do que por sua biologia em crescimento”. (BORDINI, 1986, p. 7) 2 – “O poema infantil, nas suas diversas modalidades de origem popular ou culta, orientado ora para o gozo corporal do som, ora para o prazer fantástico das imagens, ora para o jogo ideológico com a existência do leitor, constitui um repto cognitivo para a criança”. (P. 38 -39) Explique por que o poema constitui um “repto cognitivo” para a criança. Segundo Bordini (1986), o poema constitui um “repto cognitivo para a criança” porque é capaz de desafiar e levar o pequeno leitor “a uma situação mental em que se pode tudo”, já que leva a criança a vivenciar jogos de palavras, imagens e brincadeiras que, quando artísticos e não no intuito de ensinar, podem promover “desde a quebra de padrões linguísticos até a subversão dos moldes lógicos de apropriação do real”. Tais vivências distanciam a criança “de seu ambiente familiar, linguístico e social”, porém sem deixar de garantir que isso se processe “num clima de segurança, em que o incomum produz prazer e não temor”. (BORDINI, 1986, p. 39) Ainda no tange o conceito de “repto cognitivo para a criança”, a autora conclui com as seguintes palavras a experiência do poema propicia o alargamento dos conteúdos da consciência por uma prazerosa tomada de posse do desconhecido, suscitada pelos desafios das formas e das ideias”. (BORDINI, 1986, p. 39) 3 – “A poesia adulta desata o existente e o reata de outra forma para o prazer e a reflexão. A infantil está a caminho dessa mesma insanidade desaquietadora e risonha que abre espaço para o novo e para os novos, num mundo que resiste a eles o quanto pode”. (P. 67) Relacione “a missão iluminista da arte” e o “repto cognitivo” das questões 1 e 2 com a “insanidade desaquietadora e risonha” mencionada no fragmento citado nesta questão. A “missão iluminista da arte”, segundo Bordini (1986), tem o objetivo de compensar o processo social de dominação, de um determinado tempo, sofrido pela criança, esbarrando na necessidade de adaptar temas e discursos - na poesia enquanto arte - aos limites de sua compreensão, determinadas mais pelas restrições sociais sofridas, do que por sua biologia em crescimento. Sendo assim, a poesia infantil provoca o “repto cognitivo para a criança”, trazendo questões vivenciadas pelos pequenos e que, ao fazer parte desse universo infantil, suscita diversos sentimentos e reflexões, pois faz com que a criança se sinta desafiada e confrontada consigo mesma favorecendo um novo processo mental de percepção e de conhecimento do mundo e de si mesma, seja pelo prazer das imagens, dos ritmos ou, ainda, pelos jogos ideológicos. Segundo Bordini (1986) é, portanto, dessa forma que se abre caminho para a “insanidade desaquietadora e risonha”, que “abre espaço para o novo e para os novos num mundo que resiste a eles enquanto pode”, já que a poesia – alinhada com “a grande arte na missão de conscientizar para as possibilidades criadoras da palavra e para os relacionamentos transformadores entre os elementos da realidade que dela decorrem” - é vista como um estímulo para a criança, pois “desata o existente e o reata de outra forma para o prazer e a reflexão”. (BORDINI, 1986, P. 67) De acordo com a autora, atualmente, a poesia infantil brasileira já deixou a subserviência de um passado “utilitarista e repressor” e caminha para uma “incipiente emancipação”. (BORDINI, 1986, P. 67) E não pode ser dimensionada apenas nas vivências ou no entendimento e no conhecimento que se julga que as crianças tenham, mas que deve ir além: além de si, dos adultos, dos pensamentos dos pais e até mesmo dos professores. Portanto, é possível observar a intrínseca relação que há entre “a missão iluminista da arte” e o “repto cognitivo” com a “insanidade desaquietadora e risonha” no que tange a poesia infantil, pois que decorrem de uma proximidade ideológica que visa a emancipação humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORDINI, Maria da Glória. Poesia Infantil. Editora Ática. São Paulo, 1986. VILARINHO, Sabrina. Iluminismo. Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/literatura/iluminismo-literatura.htm>. Acesso em 18 de janeiro de 2017. LITERATURA E LEITURA. Iluminismo (séc. XVIII). Disponível em <http://urs.bira.nom.br/literatura/iluminismo.htm>. Acesso em 18 de janeiro de 2017.
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