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Direito Civil VI

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Direito Civil VI 
 Aula 1 - Introdução ao Direito das Sucessões. Sucessão e Herança
Conceito e fundamentos de Direito das Sucessões
Antes de começarmos a discussão dos temas do Direito Civil VI, é necessário conhecermos alguns termos utilizados. Vamos a eles:
SUCESSÃO MORTIS CAUSA
É aquela que decorre da morte do titular de direitos e como consequência ocorrerá à transmissão do domínio. Todas as vezes que uma pessoa falece, abre a sucessão de seus bens. A sucessão é o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar da outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens.
DIREITOS SUCESSÓRIOS
O Direito das Sucessões, ramo do Direito Civil, é um complexo de normas e princípios que se destinam a regular a passagem de titularidade do patrimônio (ativo e passivo) de alguém aos seus sucessores (herdeiros e legatários).
“O Direito das Sucessões é o ramo do Direito Civil, obviamente permeado por valores e princípios constitucionais, que tem por objetivo primordial estudar e regulamentar a destinação do patrimônio da pessoa física ou natural em decorrência de sua morte, momento em que se indaga qual o patrimônio transferível e quem serão as pessoas que o recolherão”. Para esse doutrinador, o Direito das Sucessões seria uma disciplina do Direito Civil Constitucional, pelo necessário diálogo com os princípios e normas constitucionais. (CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito..., 2014, p. 18 e 20)
Herança
O direito à herança é garantido na Constituição, no artigo 5º, XXX. Seguindo a linha de constitucionalização do Direito Civil, a herança foi disciplinada na carta magna como direito fundamental. A doutrina atual entende que a herança tem uma função social a ser cumprida, permitindo que o herdeiro obtenha direitos e lhe confira uma destinação econômica adequada.
VOCÊ SABIA?
O Código Civil (arts. 1.784 a 2.027, CC) divide o Direito das Sucessões em quatro títulos:
I. Da sucessão em geral;
II. Da sucessão legítima;
III. Da sucessão testamentária;
IV. Do inventário e da partilha.
Do momento da abertura da sucessão
Fonte: designer491 / Shutterstock
Como já estudamos lá no início do curso, em Direito Civil I, não existe direito sem um titular que o ocupe. Dessa forma, no exato momento da morte, os direitos do falecido serão transferidos para seus herdeiros. A partir daí concluímos que o momento da abertura da sucessão é o exato momento da morte.
Princípio de Saisine
“Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.”
É uma ficção, importada do Direito francês, pela qual, no exato momento da morte do autor da herança, ocorre a transmissão do seu patrimônio aos seus herdeiros e legatários. Ainda que a transmissão do domínio só se concretize tempos depois, a sua eficácia será retroativa ao momento da morte, que se chama momento da abertura da sucessão.
Concluímos, então, que a partir do momento da abertura da sucessão os herdeiros tornam-se condôminos da totalidade de bens deixados pelo morto e apenas após a partilha é que poderá ter a definição de que bem pertencerá a cada um.
“Pelo princípio da saisine, previsto no art. 1.784 do CC/2002, a morte do de cujus implica a imediata transferência do seu patrimônio aos sucessores, como um todo unitário, que permanece em situação de indivisibilidade até a partilha. Enquanto não realizada a partilha, o acervo hereditário — espólio — responde pelas dívidas do falecido (art. 597 do CPC) e, para tanto, a lei lhe confere capacidade para ser parte (art. 12, V, do CPC). Acerca da capacidade para estar em juízo, de acordo com o art. 12, V, do CPC, o espólio é representado, ativa e passivamente, pelo inventariante. No entanto, até que o inventariante preste o devido compromisso, tal representação far-se-á pelo administrador provisório, consoante determinam os arts. 985 e 986 do CPC. O espólio tem legitimidade para figurar no polo passivo de ação de execução, que poderia ser ajuizada em face do autor da herança, acaso estivesse vivo, e será representado pelo administrador provisório da herança, na hipótese de não haver inventariante compromissado”.
Devemos lembrar que a morte pode ser real ou presumida:
A morte real
É a atestada, na qual se tem um corpo com detecção de morte cerebral atestada por um médico. É a morte conforme artigo 6º do Código Civil.
Morte presumida sem declaração de ausência
É a morte sem a presença do corpo para que seja atestada por um médico, mas determinada por sentença, quando se enquadrarem em situações previstas no artigo 7º do Código Civil.
Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I — se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II — se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Morte presumida por ausência
Se uma pessoa desaparecer do seu domicilio sem deixar notícia, a principio será declarada nomeada um curador, posteriormente será aberta a sucessão provisório e apenas 10 anos depois, com a abertura da sucessão definitiva é que será declarada a morte presumida, nos termos do artigo 37 do Código Civil.
Comoriência
É quando ocorre a morte de mais de uma pessoa ao mesmo tempo e não é possível determinar quem veio a óbito primeiro.
Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Significa dizer que se um pai morre junto com um filho, sendo impossível precisar quem morreu primeiro, presume-se que se deu a comoriência e desta maneira um não chegou a herdar do outro.
“Comoriência. Acidente de carro. Vítima arremessada a 25 metros de distância do local, encontrada morta pelos peritos 45 minutos depois, enquanto o marido foi conduzido ainda com vida ao hospital falecendo em seguida. Presunção legal não afastada. Sentença de improcedência reformada. Recurso provido” (TJSP, Apelação com Revisão 566.202.4/5, Acórdão 2652772, 8.ª Câmara de Direito Privado, São João da Boa Vista, Rel. Des. Caetano Lagrasta, j. 11.06.2008, DJESP 27.06.2008).
Fonte: Abscent / Shutterstock
Herança
Atenção, porque o artigo 71 do Código Civil permite a pluralidade de domicílios e, neste caso, qualquer um deles poderá ser considerado como lugar da abertura da sucessão.
“Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.”
O assunto é tratado no artigo 48 do Código de Processo Civil.
Em complemento, a sucessão de bens de estrangeiros situados no país será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros. Clique aqui para ler mais sobre o assunto.
Lei aplicável à sucessão
Lei Material — aquela que vigorar no momento da morte. Mesmo que surja lei nova logo após a morte, será utilizada lei retroativa ao momento da morte.
“Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.”
O Senhor José faleceu em dezembro de 2001, portanto, antes da vigência do Código Civil. Devido a diversos contratempos, seu inventário só pôde ser aberto em maio de 2012, já com a vigência do Código Civil. Na sua opinião, aplica-se a lei retroativa ao momento da morte ou será utilizada a lei 
As espécies de sucessões e de sucessores. A indivisibilidade da herança. A responsabilidade dos herdeiros. Os efeitos da administração provisória da herança.
Das espécies de sucessão
Observação: Havendo herdeiros necessários (ascendente, descendente, cônjuge) só pode dispor de até 50% do seu patrimônio.
“Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindoa legítima.”
Espécies de sucessores
SUCESSORES LEGATÁRIOS
O legatário é um herdeiro a título singular, o qual é contemplado em testamento com um ou com alguns bens específicos.
SUCESSORES HERDEIROS – HERDEIROS LEGÍTIMOS
São os estipulados por lei. O artigo 1.829, do Código Civil, confere uma ordem de vocação hereditária, ou seja, a ordem em que os herdeiros serão chamados a participar da herança do morto.
Cada inciso do artigo representa uma classe de herdeiros e só é possível aplicar o inciso seguinte se o anterior não puder ser aplicado. É uma forma de ver quem tem preferência na herança.
Art. 1.829/CC. A sucessão legítima difere-se na ordem seguinte:
I – aos descendentes em concorrência com o cônjuge;
II – aos ascendentes em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge;
IV – aos colaterais.
Observação: Herdeiros Necessários — São herdeiros legítimos, mas que não poderão ser afastados por testamento, conforme Art. 1.845 e 1.846, ambos do Código Civil. Não podem ficar privados de pelo menos 50% da herança: os ascendentes, os descendentes e o cônjuge.
SUCESSORES HERDEIROS – HERDEIROS INSTITUÍDOS
Nomeados pelo autor da herança em testamento, conferindo-lhe quinhão hereditário, não um bem específico.
Observação: O mesmo sujeito pode figurar nas diversas classificações de sucessores, recaindo o seu direito, sobre blocos patrimoniais distintos. Nada impede que um herdeiro receba por sucessão legítima e por sucessão testamentária.
Herança
É a universalidade patrimonial da pessoa. É o conjunto de bens, direitos e deveres. A herança, ainda que seja composta de bens móveis, é considerada bem imóvel.
A natureza jurídica da herança é universalidade de direito, por ser considerada bem imóvel para os efeitos legais, na forma do art. 80, II do Código Civil. Não é suscetível de divisões em partes, antes que seja feita a partilha dos bens no inventário.
Indivisibilidade da herança
Além de sua imobilidade, a herança é um bem indivisível antes da partilha. Nos termos do art. 1.791, do Código Civil, a herança defere-se como um todo unitário, in totum, ainda que vários sejam os herdeiros.
Pelo mesmo comando legal, até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. Forma-se, então, um condomínio eventual pro indiviso em relação aos bens que integram a herança, até o momento da partilha entre os herdeiros. Isso justifica, por exemplo, a impossibilidade, como regra, da usucapião de bens entre herdeiros, como antes foi esposado. (TARTUCE, 2017, p. 44)
Os herdeiros passam a ser condôminos sobre a totalidades dos bens deixados pelo extinto. A herança, até que seja feita a partilha dos bens, é de copropriedade de todos os herdeiros e como tal, um não pode impedir o exercício de direito de propriedade do outro.
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.
A responsabilidade dos herdeiros até as forças da herança
De acordo com o artigo 1.792 do Código Civil:
O prazo para o ajuizamento do inventário está previsto no artigo 1.796 do Código Civil. Porém, o Código de Processo Civil de 2015, no artigo 611, traz um prazo de 2 meses e pelo princípio da especialidade deverá ser esse o prazo adotado. Assim, o ajuizamento do inventário deverá ser feito em até 2 meses contados, a partir da abertura da sucessão.
Inventário
 “É comum haver atraso na abertura do inventário. Diversas as razões, como o trauma decorrente da perda de um ente familiar, dificuldades financeiras, problemas na contratação de advogado ou necessidade de diligências para localização dos bens e sua documentação. A inércia do responsável poderá ensejar a atuação de outro interessado na herança, que tenha legitimidade concorrente (art. 988 do CPC [art. 616 do CPC/2015]), ou providência ex officio (art. 989 do CPC [sem correspondente no CPC/2015]). Requerimento fora do prazo não implica indeferimento de abertura do inventário pelo juiz, mesmo porque se trata de procedimento obrigatório, não sujeito a prazo fatal. Mas o atraso na abertura do processo de inventário, quando superior a 60 (sessenta) dias, acarretará acréscimo dos encargos fiscais, pela incidência de multa de 10% sobre o importe a recolher, além dos juros de mora. Se o atraso for superior a 180 (cento e oitenta) dias a multa será de 20% (previsão da lei paulista 9.591/1966, art. 27, repisada pela Lei 10.705/2000, artigo 21, inciso I)”.
Administração provisória da herança
Observação:
Espólio é a herança ajuizada ou inventariada;
O espólio é administrado pelo inventariante;
O inventariante só é considerado como tal após assinatura de Termo de Compromisso de Inventariante em juízo. Só a partir deste momento é que será investido como inventariante;
A inventariança é um encargo.
Cessão de direitos hereditários e seus efeitos jurídicos
É um negócio jurídico translativo por atos inter vivos, que somente poderá ser realizado após a abertura da sucessão, pois o artigo 426 do Código Civil, não se pode negociar sobre a herança de pessoa viva. Porém, após a abertura da sucessão pode ser feita a cessão, desde que não exista cláusula de inalienabilidade imposta em testamento pelo falecido.
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
§ 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita.
§ 2º É ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente.
§ 3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.
Art. 1.794. O coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária à pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto.
Art. 1.795. O coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Parágrafo único. Sendo vários os coerdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias.
Atividades
1- João morre em dezembro de 2015 deixando dois filhos, Camila e Roberto. Camila e Roberto, no entanto, em virtude do grande sofrimento vivenciado pela morte de João, acabam por não tomar as medidas necessárias ao processamento de inventário de João. Diante da situação apresentada, pergunta-se: é possível afirmar que Camila e Roberto são proprietários dos bens deixados por João?
2- Ricardo morreu em 30/10/2012 deixando, como únicos herdeiros, seus três filhos, Marcelo, Gabriela e Renato. Ricardo possuía um único imóvel, que foi objeto de inventário por escritura pública, no valor de R$300.000,00 divididos em partes iguais por seus três filhos.
O imóvel foi vendido 6 meses depois da morte de Ricardo. Um ano depois do falecimento de seu pai, o filho mais velho, Marcelo é acionado em ação de cobrança de dívida deixada por seu falecido pai, no montante de R$250.000,00. Preocupado com a situação Marcelo lhe procura e pergunta se é obrigado a pagar a dívida toda deixada por seu pai. Explique sua resposta.
Direito Civil VI 
Aula 2 - Aceitação e Renúncia da Herança. Vocação hereditária e Excluídos da Sucessão. Indignidade e Deserdação
Aceitação da herança
Aceitação da herança  é o ato pelo qual o herdeiro adiciona ao seu acervo pessoal o patrimônio sucessível. É ato pessoal e só se transmite pelo direito de representação. Sua eficácia é ex tunc porque seus efeitos retroagem à data da abertura da sucessão, ainda que a manifestação ocorra em momento posterior.
Art. 1.804. Aceita a herança,torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança.
A aceitação, em regra, é feita pessoalmente pelo herdeiro, mas poderá ser:
Fonte: Abert / chainarong06 / Shutterstock
Espécies de aceitação
Quanto à forma a aceitação da herança pode ser:
Expressa
Definida como aquela feita por declaração escrita.
Tácita
Quando o herdeiro passa a agir como se tivesse aceitado.
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.
§ 1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.
§ 2º Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros.
Presumida
Quando o herdeiro não renuncia expressamente dentro do prazo estipulado pelo juiz.
Art.1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.
Quanto ao titular a aceitação pode ser:
Direta
Feita pelo próprio herdeiro.
Indireta
Quando o herdeiro morre antes de aceitar e tal direito é transmitido a seus sucessores.
Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.
Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira.
Características da aceitação
A aceitação é ato unilateral que, via de regra, se aperfeiçoa com a manifestação de vontade de seu titular. Assim, são características da aceitação:
Renúncia ou repúdio da herança
Augusto, um jovem de 25 anos, nunca teve um relacionamento muito fácil com o Senhor Pedro, seu pai. Com o falecimento de Pedro, que era viúvo, Augusto torna-se herdeiro de metade dos bens do seu pai, cabendo a outra metade à Daniele, sua irmã mais velha.
Augusto renuncia sua parte, ou seja, repudia a quota a que teria direito no acervo hereditário, sem indicar quem receberá a parte renunciada.
A renúncia da herança é sempre absoluta, abdicativa (devolve-se ao monte sucessível a quota que receberia por herança) e expressa, não podendo ser presumida pelo silêncio da parte e nem tácita pela prática de atos compatíveis com a condição de renunciante.
VOCÊ SABIA?
É ato tão solene que exige redução a termo nos autos do inventário ou apresentação de escritura pública, na forma do art. 1.806/CC.
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial.
Não se admite Renúncia Prévia no direito brasileiro.
Espécies de renúncia
É uma divisão meramente doutrinária, pois, no Direito brasileiro, será sempre a renúncia abdicativa.
RENÚNCIA ABDICATIVA (PRÓPRIA)
É a renúncia propriamente dita, quando o renunciante abre mão em favor do monte hereditário, não indicando nenhum coerdeiro como beneficiário da sua parte da herança. Como consequência, quem renúncia, não cabe cobrança de tributo pela transmissão da herança, porque nem ingressa no patrimônio do renunciante.
RENÚNCIA TRANSLATIVA (IMPRÓPRIA)
Sobre ela não incidem as regras da renúncia do Direito Civil brasileiro. Importa na prática de dois atos consecutivos: aceitação + cessão de direitos. Neste caso, incide dupla carga tributária, pois ocorre uma transmissão causa mortis, com a aceitação e uma doação posterior transmitindo o bem por ato inter vivos.
Impõe-se à renúncia as seguintes limitações:
a) Capacidade do renunciante;
b) A renúncia não pode prejudicar credores do renunciante:
- Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante.- § 1º A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato.- § 2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros.
Efeitos da renúncia
 Ao renunciar, a quota parte do renunciante volta ao monte hereditário para ser distribuída entre os demais herdeiros, da mesma classe sucessória, se não tiver nenhum herdeiro dessa classe, serão chamados os da classe seguinte, para herdar por direito próprio. Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente. Não existe direito de representação do herdeiro renunciante. Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros, da mesma classe, renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. A renúncia, assim como a aceitação, são irrevogáveis: Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.
A ordem de vocação hereditária. A capacidade sucessória passiva, na sucessão legitima e testamentária.
Vocação hereditária
Já vimos, anteriormente, que pelo que determina o princípio da saisine, os herdeiros passam a ocupar o lugar do morto logo após a abertura da sucessão, mas antes de tudo, precisamos saber que são esses sucessores e para tal será estabelecida uma ordem de vocação hereditária, isto é, a ordem de chamamento dos herdeiros a suceder o patrimônio do morto.
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.
Responda:
É facultado ao autor da herança dispor de seu patrimônio em testamento?
Corrigir
Assim, para definirmos a herança deixada por alguém é importante lembrar que deve ser separada a meação do cônjuge, se for casado em algum tipo de regime de bens que comunique patrimônio.
Ordem de vocação hereditária
O artigo 1.829, do Código Civil, traz um rol de herdeiros legítimos que serão chamados a suceder. Cada inciso do artigo 1.829 é considerado uma classe de sucessores e a classe mais próxima exclui a mais remota. Assim, enquanto existirem herdeiros elencados no inciso I (descendentes) os do inciso II (ascendentes) não serão chamados.
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Suponha-se que o autor da herança tenha deixado um patrimônio no valor de R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e nenhum bem particular. A divisão do patrimônio deixado seria:
Figura 1 – divisão dos bens comuns do de cujus quando este não deixou nenhum bem particular.
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Outra regra fundamental é que o grau mais próximo exclui o mais remoto. Assim, se o filho tiver capacidade sucessória, por exemplo, os netos não serão chamados a suceder.
Legitimação para suceder
Em primeiro lugar, devemos verificar a legitimação, tanto na sucessão legítima como na testamentária, que é a constatação da personalidade de quem reclama a vocação hereditária, representada pela existência da pessoa, física ou jurídica, no momento da abertura da sucessão.
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
Responda:
Ana e Luiz estavam casados há oito anos enão haviam filhos. Tentaram diversos métodos e optaram pela inseminação artificial. Com todo o procedimento pronto, Luiz sofreu um acidente de carro e veio a falecer. Ana resolveu que continuaria o procedimento de inseminação artificial utilizando os embriões excedentários.
De acordo com o Art. 1.798, o filho decorrente dessa inseminação artificial post mortem será herdeiro legítimo dos bens de Luiz?
Corrigir
Legitimação testamentária
Na sucessão testamentária estão legitimados a suceder os indicados nos artigos 1798 e 1799 do Código Civil:
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
Na hipótese do beneficiário seja prole eventual, este terá o prazo de 2 anos a contar da abertura da sucessão para que seja concebido, como pode ser observado no Art. 1.800.
Falta de Legitimação para Ser Herdeiro Testamentário e/ou Legatário
As hipóteses e o procedimento de exclusão da sucessão. ​Distinção entre falta de legitimação para suceder, indignidade e deserdação. Os requisitos da indignidade e deserdação e seus efeitos jurídicos.
Exclusão do herdeiro/legatário
Existem duas formas de exclusão: indignidade e deserdação. Ambos os institutos têm natureza punitiva, restritiva de direitos e por isso os efeitos da exclusão são pessoais, não atingindo os herdeiros do excluído que herdam como se este fosse pré-morto, ou seja, por representação. Diferente da Renúncia, os herdeiros do excluídos, poderão herdar por representação. Não abrange a linha sucessória. Não cabe interpretação analógica, seja na hipótese de indignidade ou de deserdação.
Indignidade
Clique nos números abaixo para ler o conteúdo sobre Indignidade, disponível nos artigos 1.814 a 1.818 do CC
1ª São sujeitos passivos da Indignidade os herdeiros (de qualquer espécie) e os legatários. Art. 1.814.
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
2ª As causas de indignidade são apenas as hipóteses do art. 1.814/CC.
3ª É de iniciativa de qualquer herdeiro ou legatário interessado na exclusão.
Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será declarada por sentença.
Parágrafo único. O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão.
4ª Prazo para a propositura da Ação de Exclusão por Indignidade é de 04 anos a contar da abertura da sucessão e independe da sentença penal condenatória.
O reflexo da coisa julgada material da sentença penal na sucessão:
À semelhança da lei anterior, o artigo 935 prevê que a responsabilidade civil independe da criminal, impedindo questionamentos sobre a existência do fato delituoso ou sua autoria, não podendo mais serem rediscutidos no juízo orfanológico. Acolhidas as teses de defesa deduzidas na ação penal de negativa de autoria ou de atipicidade do fato, não pode o sucessor ser excluído da sucessão. Contrariamente, se o pedido da condenação na ação penal foi julgado procedente, ou reconhecida a prescrição da pretensão punitiva, o sucessor poderá ser excluído da sucessão por indignidade, se movida a ação cabível, distribuída por dependência ao inventário.
5ª A pena de indignidade não ultrapassa a pessoa do apenado, os seus herdeiros não serão prejudicados. Mas o indigno, de forma alguma pode se aproveitar dessa herança.
Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.
6ª O terceiro de boa-fé que adquiriu a propriedade daquele que é posteriormente declarado indigno, não fica prejudicado.
Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos.
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles.
7ª É facultado ao autor da herança, quando possível reabilitar o indigno.
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária.
Deserdação. Art. 1.961 a 1.965 do CC.
1ª Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os 
casos em que podem ser excluídos da sucessão
2ª As causas de deserdação são as hipóteses do art. 1.814, bem como as do art. 1.962 e 1.963 do CC.
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.
3º É de iniciativa do próprio do autor da herança. Deve ser expressamente manifestada através de Testamento.
Art. 1.964. Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento.
4º O prazo para a propositura da Ação de Exclusão por Deserdação é de 4 anos a contar da Abertura do Testamento. Caso os agentes que deveriam ter promovido a ação, perdendo o prazo, não o fazem dentro do prazo correto previsto em lei, a vontade do autor da herança não será aceita.
Art. 1.965. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa alegada pelo testador.
Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura do testamento.
Tanto a Ação de Exclusão por Indignidade quanto a por Deserdação são distribuídas por dependência aos autos da Ação Principal que é o Inventário, ou seja, não pode ser feita nos casos previstos de Inventário Extrajudicial. Ler atentamente os arts. 1.814, 1.962 e 1.963.
Ofensa física não exige lesão corporal. Só cabe deserdação, pelo art. 1.962, III, só se aplica para 1° grau na linha reta descendente.
A deserdação de ascendente à descente, só vale para parente de 1° grau, porém, de descendente a ascendente vale para parente de até 2° grau, ou seja, o neto pode deserdar o pai ou avô, porém, o pai só pode deserdar o filho.
A deserdação pelo Art. 1.962, III, só se aplica para o 1° grau na linha reta descendente, porém, o art. 1.963 que se aplica para deserdar o pai ou a mãe ou o avô e avó, ou seja, até o 2° grau na linha reta sucessória
Resumindo
	
	Indignidade
	
	
	
	Deserdação
	
	
	Instituto típico da parte geral do Direito das Sucessões
	
	
	
	Instituto característico da Sucessão Testamentária
	
	
	Causas Art. 1814do CC
	
	
	
	Causas Art. 1962 e 1963 do CC
	
	
	Atinge herdeiros legítimos, testamentários ou legatários
	
	
	
	Atinge herdeiros necessários, privando-os de suas legitimas
	
	
	Não é necessário testamento
	
	
	
	É indispensável testamento válido, feito pelo ofendido, deserdando seu herdeiro necessário, mencionando a causa da deserdação
	
	
	O prazo decadencial é de 4 anos a contar do óbito
	
	
	
	O prazo decadencial é de 4 anos a contar da abertura do testamento (art. 1965 p. único do CC)
	
Atividades
1. (2014 – FUNCAB -Órgão: PC-RO - Delegado de Polícia Civil) Sobre o instituto da “Indignidade", é correto afirmar:
Declarada a indignidade, o quinhão hereditário do herdeiro legítimo excluído será destinado aos seus descendentes, que sucederão por direito próprio.
Ciente o autor da herança do ato de indignidade praticado pelo herdeiro, poderá perdoá-lo, expressamente, em testamento ou ato autêntico, sendo que a sua inércia caracterizará perdão tácito.
O quinhão hereditário do herdeiro testamentário, excluído da sucessão por indignidade, será repassado aos substitutos indicados na cédula testamentária.
A ação ordinária de indignidade somente poderá ser ajuizada após o óbito do autor da herança, e dentro do prazo de dois anos, contados da abertura da sucessão.
O ofendido pelo ato de indignidade será o autor da herança, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.
Corrigir
2. Joaquim faleceu deixando os filhos Ana e Marcelo. Ana vive em união com Sílvio, com quem tem três filhos. Ana renunciou à herança. A quem será deferido o quinhão que lhe corresponderia? Por quê?
Justifique e fundamente juridicamente as respostas.
Direito Civil VI 
 Aula 3 - Sucessão Legítima (Ordem de Vocação Hereditária). Herdeiros Necessários. Direito de Representação.
Herdeiro aparente
Renato foi tido como herdeiro legítimo de seu tio Agnaldo. Por quase um ano Renato teve a posse dos bens deixados, até que... 
... foi descoberto um grande segredo. Roberta, um adolescente moradora da vizinhança e criada pela mãe, é, na verdade, a filha de Agnaldo, que morreu sem saber que era pai. 
O herdeiro aparente é aquele que se encontra na posse dos bens deixados pelo morto, como se fosse o legítimo titular do direito à herança. Denomina-se aparente, pois é publicamente conhecido como herdeiro. É tido como herdeiro legítimo por aparentar essa característica, mas na realidade, pela essência, nunca o foi.
O herdeiro aparente pode ser alguém, posteriormente, declarado indigno, deserdado ou que descubra a existência de um sucessor de grau mais próximo.
Responda:
Enquanto Renato ainda era herdeiro aparente, vendeu a Alexandre uma casa de praia que era, originalmente, de seu tio Agnaldo. Roberta, agora que é a herdeira real pode reaver esse bem?
O herdeiro aparente, que esteja na posse dos bens, de boa-fé, se pagou o legado estabelecido em testamento fica isento de qualquer responsabilidade, pois cumpriu o que estabelecia o testador. E posteriormente entregou ao herdeiro verdadeiro o que ficou em sua posse.
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de proceder contra quem o recebeu.
Sucessão legítima — vocação hereditária
O herdeiro, como já vimos, é aquele contemplado com a totalidade ou fração do patrimônio do de cujus.
Os herdeiros dividem-se em:
• Herdeiro legítimo – determinado como tal pela lei, e
• Herdeiro testamentário – contemplado por testamento.
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.
Os herdeiros legítimos que serão estudados nesse ponto, o são por força de lei e subdividem-se em herdeiros necessários e facultativos.
Herdeiros necessários/reservatórios
Descendentes, ascendentes e cônjuge, conforme artigo 1.845 do Código Civil. Estas classes possuem direito à metade dos bens deixados pelo falecido, exceto em casos de indignidade ou deserdação. Essa parte é dominada de legítima ou reservada dos herdeiros necessários.
Herdeiros facultativos 
São os colaterais, pois podem ser excluídos, por testamento, da totalidade da herança.
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
Obs.: O Código Civil, de 1916, não considerava o cônjuge herdeiro necessário e, portanto, poderia ser afastado por testamento.
Atenção
Assim, os herdeiros legítimos obedecem a uma ordem de vocação hereditária, isto é, a uma ordem de chamamento à sucessão disposta no artigo 1.829 do Código Civil. Se uma pessoa morre e não deixa testamento, ou se o testamento não contempla todo seu patrimônio, por intenção do testador ou para resguardar a legítima, o restante do patrimônio será distribuído aos herdeiros legítimos conforme a ordem de vocação hereditária.
A sucessão legítima considera cada inciso do artigo 1.829, do Código Civil, uma classe de sucessores e a classe mais próxima exclui a mais remota. Portanto, enquanto existirem descendentes, por exemplo, que são herdeiros da primeira classe, os ascendentes não serão chamados a suceder, pois são herdeiros da segunda classe.
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Vamos recordar:
Outra regra de ouro em relação à vocação hereditária é que o grau mais próximo exclui o mais remoto. Tornando-se fundamental recordar alguns conceitos relacionados a parentesco estudados na disciplina de Direito de família.
São duas as linhas de parentesco:
Atenção
Portanto, na linha reta, não há limitação, todos serão considerados parentes, não importa o grau de distanciamento. Porém, na linha colateral existe uma limitação ao quarto grau de parentesco.
Sucessão por graus de parentesco
Na linha reta, contam-se os graus de parentesco pelo número de gerações que afastam o autor da herança do sucessor. O grau, mais próximo, como já dito anteriormente, exclui o mais remoto, salvo direito de representação. Desta forma se o filho está vivo, o neto não será chamado à sucessão do avô .A contagem dos graus de parentesco, na linha colateral, ocorre da seguinte forma, busca -se o ascendente comum entre o autor da herança e o sucessor e contam-se o grau de distanciamento entre os dois. Vale lembrar que terão capacidade sucessórias, apenas os colaterais de até quarto grau. 
O vínculo por afinidade, parentesco existente entre você e os parentes do seu cônjuge ou companheiro não cria vínculo que os tornem sucessores legítimos. Os afins apenas poderão ser contemplados mediante testamento. Não esqueça que a Constituição de 1988, no artigo 227, parágrafo 6º, preceituou o princípio da igualdade entre os filhos. Assim, a partir da vigência da Constituição de 1988 , não importa a origem da filiação se biológica, adotiva, oriunda de relação matrimonial ou não, todos os filhos herdam da mesma forma. 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo 
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucionalnº 65, de 2010)
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Modo de suceder
O herdeiro sucederá o falecido por três modos:
01 - Sucessão por direito próprio
Quando, no momento da abertura da sucessão, não há nenhum outro herdeiro sucessível de permeio entre ele e o falecido. O lugar é dele herdeiro, como por exemplo, quando os filhos sucedem.
Assim acontece sempre que não exista nenhum parente, com capacidade sucessória, de grau distinto do herdeiro chamado a suceder. Se todos os filhos não possuem capacidade sucessórias os netos serão chamados a herdar por direito próprio e assim sucessivamente. 
Atenção
Na linha ascendente, a sucessão por direito próprio é a única reconhecida. Assim, se um filho morre, sem deixar descendentes, e um dos pais está vivo, os avós não são chamados a suceder.
02 - Direito de representação
Essa é uma exceção à regra de que o parente de grau mais próximo exclui o de grau mais remoto, pois há diversidade de graus, na mesma classe de sucessores.
Os mais próximos herdam por direito próprio e os mais afastados por direito de representação do herdeiro pré-morto (morto antes do autor da herança), indigno ou deserdado.
O representante recebe quinhão que caberia ao herdeiro representado, se houver mais de um representante, essa parte será dividida entre eles.
Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos, salvo o direito de representação.
Observação: O filho do herdeiro renunciante não representa o pai na sucessão, mas se não houver herdeiro com capacidade sucessória de grau mais próximo, ele pode herdar por direito próprio.
03 - Sucessão por Direito de Transmissão
Ocorre na hipótese de herdeiro pós-morto (morto após a abertura da sucessão). Assim, o herdeiro que falece antes de aceitar a herança transmite o seu direito a seus sucessores que poderão ocupar o seu lugar naquela sucessão. Morrendo o pai e posteriormente o filho, antes de aceitar a herança, o direito sucessório será transmitido ao neto que poderá aceitar no lugar do herdeiro pós-morto.
Modo de partilhar
Partilha por Cabeça
Quando todos os herdeiros são da mesma classe de herdeiros, do mesmo grau de parentesco e sucedem por direito próprio. Daí o monte hereditário será partilhado pelo número de herdeiros, basta contá-los e dividir em partes iguais para cada um. É própria da sucessão dos descendentes e dos colaterais.
Partilha por Estirpe
É adotado na sucessão por direito de representação, na qual existem herdeiros de mesma classe, mas de graus distintos. Nessa hipótese, conta-se o número de herdeiros que recebem por direito próprio e aqueles que estão sendo representados. 
Se um pai morre, tem um filho vivo e uma filha pré-morta, que era mãe de dois filhos (netos do autor da herança), o filho vivo ficará com metade da herança e a outra metade será dividida entre os netos que recebem por direito de representação, sendo assim, a partilha por estirpe.
Divisão por Linhas
É própria da sucessão da classe dos ascendentes. Nesta espécie, a metade da herança vai para a linha materna e a outra metade para a linha paterna, mas não existe direito de representação. 
Se o filho morre tem pai e mães vivos, metade vai para mãe e a outra metade vai para o pai.
Se ao morrer, não tem pai, nem mãe com capacidade sucessória e tem avô e avó maternos vivos e apenas avó paterna, dividindo-se por linha os avós maternos recebem 25% da herança cada um, e a avó paterna ficará com 50% do patrimônio deixado pelo falecido, em consequência da divisão por linhas.
Atividades
1. No Direito brasileiro, em vigor, incluem-se entre os herdeiros necessários:
Somente os descendentes e o cônjuge.
Somente os descendentes e os colaterais.
Somente os descendentes e os ascendentes.
Os descendentes, os ascendentes, o cônjuge ou companheiro.
Os descendentes, o cônjuge ou companheiro.
2. (TJPR – Assessor Jurídico – 2007) Sobre a sucessão legítima, assinale a alternativa correta:
O direito de representação é uma exceção à regra de que, entre herdeiros de mesma classe, os de grau mais próximo excluem o direito dos herdeiros de grau mais remoto.
À luz do Código Civil, na sucessão pelos colaterais, a sucessão pelos irmãos do de cujus será sempre per capita.
A concorrência sucessória, entre cônjuge sobrevivente e os descendentes do de cujus, somente ocorrerá quando o cônjuge for ascendente de todos os herdeiros com que concorrer.
A ordem de vocação hereditária, na sucessão legítima, é determinada pela lei vigente na data da abertura do inventário.
Direito Civil VI 
 Aula 4 - Sucessão Legítima (Ordem de Vocação Hereditária) 
Sucessão dos Descendentes
Os descendentes, parentes na linha reta, são considerados os sucessores de primeira classe, conforme a ordem de vocação hereditária, estabelecida no artigo 1.829, do Código Civil, como verificamos nas aulas anteriores. Isso significa dizer que se alguém morre, deixando descendentes, estes serão os primeiros a serem chamados a suceder. 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
Modo de Suceder e Modo de Partilhar dos Filhos
Os filhos sempre herdam por direito próprio, pois não existe nenhum outro parente de permeio entre eles e o autor da herança. Filhos são parentes na linha reta de primeiro grau, o grau mais próximo existente.
Na sucessão de descendentes, a partilha pode ser por cabeça ou por estirpe. Caso só existam filhos a receber herança a partilha será por cabeça, pois todos estão no mesmo grau. Divide-se o patrimônio pelo número de filhos, igualmente.
Portanto se o pai morrer e deixar cinco filhos com capacidade sucessória, a herança será dividida em 1/5 para cada um dos sucessores.
Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.
Você sabia?
Os pais do falecido, apesar de também serem parentes de primeiro grau, na linha reta, pertencem à segunda classe sucessória, sendo chamados a herdar apenas na hipótese do extinto não ter deixado descendentes.
Modo de Suceder e de Partilhar dos Netos
A sucessão que tenha como beneficiários apenas netos, pois nenhum filho ter capacidade sucessória (por estar morto, ser deserdado ou declarado indigno ou renuncie a herança).
Será idêntica à sucessão dos filhos, pois, nessa hipótese, também não existe nenhum herdeiro de permeio entre o neto e o avô autor da herança. Assim, os netos serão chamados por direito próprio e a partilha será feita por cabeça.
Na sucessão dos descentes, é possível a herança por direito de representação. Assim, é bastante comum que um neto herde, representando seu pai na sucessão do seu avô, quando existirem filhos do autor da herança com capacidade sucessória. Nestes casos, a partilha se dará por estirpe, pois os sucessores pertencem a mesma classe, mas têm graus distintos.
O cálculo para partilha por estirpe conta-se o número de sucessores por direito próprio e soma-se ao número de representados. Divide-se a herança por esse número. Os representantes recebem o quinhão correspondente ao direito do representado. Se um filho pré-morto é pai de dois netos, a parte que caberia a ele será dividida entre os netos representantes.
Vale lembrar que o filho de herdeiro renunciante não tem direito de representação, mas é possível que herde por direito próprio. Se o filho renuncia à herança, os netos não podem representá-lo na sucessão do avô, mas se não existir outro filho com capacidade sucessória, os netos serão chamados a herdar por direito próprio, sem nenhum impedimento legal.
Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente.
Responda:
O pai de Danilo não herdará os bens de seu pai, pois éconsiderado um herdeiro indigno. Danilo poderá representá-lo na sucessão do avô?
Sucessão dos Descendentes e Concorrência do Cônjuge Supérstite
O artigo 1.829, inciso I, permite que, em alguns casos, o cônjuge concorra com descendentes na sucessão, dependendo do regime de bens.
O Código Civil, de 2002, inovou permitindo que o cônjuge herdasse em concorrência com descendente, porém, fez algumas ressalvas de acordo com o regime de bens adotado para o casamento. Assim, vejamos:
 Não há concorrência do cônjuge sobrevivo com os descendentes quando o regime for o da comunhão universal, porque se entende que a confusão patrimonial já ocorreu quando da celebração do casamento. Assim, a meação já lhe garante proteção suficiente. Nesse tipo de regime, o cônjuge é meeiro da totalidade dos bens, mas apenas os filhos herdam a parte correspondente ao patrimônio do falecido.
Não esqueça que não se pode dizer, neste caso, que o cônjuge herda 50% do patrimônio, porque meação é patrimônio dele, não se confunde com herança. Ao afirmar que o cônjuge está herdando algo que já lhe pertencia, estamos afirmando que deverá pagar imposto sobre isso, o que seria uma inverdade prejudicial.
  Não há concorrência do cônjuge sobrevivo com os descendentes quando o regime era o da separação obrigatória de bens (art.1.641, CC), pois entende-se que a separação de bens é permanente e a possibilidade de concorrência com os descendentes poderia deixar a lei sem sentido. Nessa hipótese, o cônjuge não herda e será meeiro apenas se houver aquestos. Se nenhum patrimônio foi adquirido onerosamente durante a constância do casamento o cônjuge não é meeiro nem herdeiro.
Obs.: STF Súmula nº 377 — No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.
  Não há concorrência do cônjuge sobrevivo com os descendentes se adotado o regime legal de bens, o autor da herança não deixou bens particulares. Nessa situação, o cônjuge será meeiro dos aquestos, mas não será herdeiro.
Entretanto, se o casado sob o regime da comunhão parcial de bens deixou bens particulares o cônjuge será meeiro dos aquestos, bens adquiridos onerosamente durante a constância do casamento, e será herdeiro dos bens particulares concorrendo com os descendentes.
  Não há concorrência do cônjuge sobrevivo com os descendentes se adotado o regime da participação final nos aquestos, o autor da herança não deixou bens particulares. Se o casado sob o regime da participação final nos aquestos deixou bens particulares, o cônjuge concorre com os descendentes. Solução idêntica aos casados sob o regime da comunhão parcial de bens.
Assim, em havendo bens particulares, o cônjuge herda em concorrência com os descendentes apenas sobre essa quota que não faz parte da meação. Sob os aquestos será apenas meeiro e a herança será exclusivamente partilhada entre os descendentes.
Enunciado 270 da III Jornada de Direito Civil:
270 – Art. 1.829: O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes.
 
Sendo o regime de separação convencional de bens o cônjuge concorrerá com os descendentes, por não haver ressalva nenhuma na lei. Nesse regime, não se fala em meação, todos os bens são particulares, e o cônjuge herda, em concorrência com os descendentes, sob a totalidade dos bens deixados pelo morto.
Quota Mínima Reservada ao Cônjuge
O cônjuge sobrevivente, ao concorrer com descendentes comuns, tem direito à quota mínima reservada de ¼ da herança, conforme artigo 1.832 do Código Civil.
Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.
Não sendo o cônjuge parente dos descendentes com quem concorre não se fala em quota mínima reservada. Da mesma forma, nas hipóteses de filiação híbrida, isto é, filhos comuns concorrendo com filhos apenas do autor da herança.
Embora exista entendimento divergente na doutrina a esse respeito.
Filiação Comum: filhos do cônjuge sobrevivente que sejam também filhos do autor da herança
Filiação Híbrida: filhos comuns concorrendo com filhos apenas do autor da herança
Atenção
Essa quota reservada que trata o artigo 1.832 só será aplicada nas hipóteses em que é possível o cônjuge concorrer com descendentes. Por exemplo, em um casamento sob o regime de comunhão parcial de bens em que haja bens particulares.
Atividades
1- (DPE-ES – FCC – Defensor Público – 2016/ adaptada) Torquato tem quatro filhos, sendo Joaquim, do seu primeiro casamento com Mariana; José, Romeu e Pedro de seu casamento com Benedita. Mariana e Benedita são falecidas e não possuíam ascendentes nem outros descendentes. Vítimas de um acidente de veículo, em que Torquato e todos os seus filhos se encontravam, morreram Torquato, instantaneamente, e José, algumas horas depois. Pedro, Romeu e Joaquim sobreviveram. Torquato tinha um patrimônio avaliado em R$3.600.000,00 e era casado com Amélia sob o regime da separação obrigatória de bens e nada havia adquirido durante esse casamento. Como serão as sucessões de Torquato?
2 - Jorge é casado com Lúcia pelo regime de comunhão parcial e com ela teve um filho Roberto. De um casamento anterior Jorge teve outro filho, Carlos, que lhe deu dois netos Júlio e Juliana. Carlos morreu em 15 de dezembro de 2007. Jorge faleceu em maio de 2011 deixando uma casa, em Curitiba, que lhe fora doada por seu pai e uma casa na praia adquirida na constância do casamento com Lúcia. Responda:
a. Quem são os sucessores de Jorge? 
b. A que título esses herdeiros sucedem? 
c. Lúcia concorrerá com os herdeiros?
Direito Civil VI 
Aula 5 - Sucessão Legítima (Ordem de Vocação Hereditária
Sucessão dos Ascendentes
A sucessão dos ascendentes, sem concorrência com o cônjuge ou companheiro, se dá da mesma forma que estabelecia o Código Civil de 1996, não sofreu nenhuma alteração com a lei civil de 2002.
	Artigo 1.829, do Código Civil de 2002
	Os ascendentes ocupam a segunda classe de herdeiros legítimos, conforme a ordem de vocação hereditária
	Artigo 1.836, do Código Civil de 2002
	Se o falecido não deixou descendentes, serão chamados os ascendentes a suceder. Os ascendentes, assim como os descendentes, são parentes na linha reta e, portanto, não sofrem limitação de grau, como ocorre na linha colateral.
Modo de Suceder e de Partilhar dos Ascendentes
De acordo com o artigo 1.852 do CC, a sucessão dos ascendentes, o modo de suceder é sempre por direito próprio, não é admitido o direito de representação. Não existe nenhuma exceção a essa regra; nessa modalidade, o grau mais próximo sempre exclui o mais remoto.
Na classe dos ascendentes, o modo de partilhar ocorre através da divisão por linhas. A partilha do acervo hereditário é divida entre as linhas materna e paterna, dividindo-se o patrimônio ao meio.
Ao morrer alguém e deixando apenas ascendentes vivos, aquele que tiver grau mais próximo, exclui o de grau mais remoto.
Por exemplo, se a mãe e a avó paterna estão vivas, ao tempo da abertura da sucessão, a mãe herda a totalidade da herança, pois é parente de primeiro grau, enquanto a avó é de segundo. A sucessão pelos pais, portanto, por pertencerem ao grau mais próximo do morto, afastam os demais ascendentes.
Responda:
Se por alguma razão os pais não possuírem capacidade sucessória, qual será o procedimento adotado?
Sucessão dos Ascendentes em concorrência com o Cônjuge
O inciso II, do artigo 1, do Código Civil, prevê a possibilidadede concorrência entre ascendentes e cônjuge na sucessão aberta. Diferentemente do que acontece na sucessão do descente, ao concorrer com ascendente, o cônjuge sempre herda independente do regime de bens do casamento.
O cônjuge, concorrendo com os pais do falecido, terá direito há 1/3 da herança, conforme o artigo 1.837 do código Civil. Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.
Atenção
Vale lembrar que, antes de definir o quinhão de cada um, deve-se separar a meação do cônjuge se casado sob um regime que comunique patrimônio.
Meação não é herança recebida pelo cônjuge, é patrimônio que já pertencia a ele.
O cônjuge que estiver concorrendo com ascendentes de grau maior que primeiro, ou seja, com avós, bisavós etc., terá direito à metade da herança, conforme o que disciplina o artigo 1.837 do Código Civil.
O cônjuge que concorrer com todos os avós do morto fica com 50% da herança e cada um dos avós com 12,5%, pois 25% caberá à linha materna e os outros 25% à linha paterna.
Sucessão dos Colaterais
Seguindo a ordem de vocação hereditária, do artigo 1.829, do código Civil, na falta de descendentes, ascendentes e cônjuge os colaterais serão chamados a suceder legitimamente. Ocupam a quarta classe de herdeiros legítimos. Não são herdeiros necessários, portanto podem ser afastados por testamento, não possuem a garantia da legitima.
Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.
Antes de dar continuidade, relembre que os colaterais, considerados parentes são aqueles de até quarto grau e essa contagem se faz contando o número de gerações que separa o falecido e o herdeiro, a partir do ancestral em comum, conforme vimos em aulas anteriores.
Os colaterais de grau mais próximo excluem os de grau mais remoto, conforme a regra do artigo 1.840 do código civil.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
Modo de suceder e Modo de Partilhar
O artigo 1.840, do Código Civil, estabelece que, em regra, na sucessão na linha colateral/transversal, o modo de suceder será por direito próprio. Excepcionalmente, os sobrinhos podem herdar por direito de representação.
Sucessão de irmãos Sempre sucedem por direito próprio e a partilha será por cabeça, dividindo-se em partes iguais se todos os irmãos forem unilaterais ou bilaterais. Porém, se irmãos unilaterais estiverem concorrendo com bilaterais herdam de forma 
Sucessão de irmãos
Sempre sucedem por direito próprio e a partilha será por cabeça, dividindo-se em partes iguais se todos os irmãos forem unilaterais ou bilaterais. Porém, se irmãos unilaterais estiverem concorrendo com bilaterais herdam de forma distinta, conforme artigos:
 Concorrendo irmão com filhos de irmãos, os sobrinhos herdam por direito de representação e a partilha será por estirpe. Cumpre ressaltar que o direito de representação na linha colateral está limitado ao sobrinho, conforme artigo 1.840 do código Civil. 
  Como dito, o direito de representação se limita aos sobrinhos em concorrência com os irmãos do morto. Os sobrinhos netos são parentes na colateral de 4º grau e, dessa forma, somente herdam por direito próprio, na ausência de parentes de graus mais próximos.
 
Esses herdeiros serão chamados a suceder por direito próprio e a partilha será por cabeça. Não há nenhuma preferência quando concorrem tio-avô com sobrinho neto, nem tão pouco nenhuma exceção em consequência da bilateralidade.
Atividades
1. Mariana é casada com Tiago pelo regime da comunhão universal de bens. Mariana morre sem filhos, deixando sua mãe e seus avós maternos. Como dever ser realizada a partilha dos bens deixados por Mariana?
2. Relativamente à ordem da vocação hereditária, assinale a alternativa correta:
Concorrendo à herança filhos do primeiro casamento e filhos do casamento atual do autor da herança, os primeiros herdarão a metade do que os segundos herdarem.
Concorrendo à herança somente um avô materno e dois avós paternos, a cada um tocará um terço da herança.
Se concorrerem à herança somente um filho e três netos, filhos de filho pré-morto, aos netos conjuntamente caberá cota equivalente à cota do filho vivo.
Incluem-se na sucessão legítima os colaterais em concorrência com o cônjuge.
Direito Civil VI 
Aula 6 - Sucessão Legítima (Ordem de Vocação Hereditária) – Continuação
A sucessão do cônjuge, seus requisitos e o direito real de habitação
O cônjuge, a partir da edição do Código Civil de 2002, tornou-se herdeiro necessário, conforme artigo 1.845. Desde então, passou a ter direito a legítima, não poderia mais ser afastado por testamento. O Código Civil atual proporcionou que o cônjuge passasse a herdar em concorrência com descendentes, dependendo do regime de bens do casamento, e com ascendentes, casado sob qualquer regime de bens.
O cônjuge ocupa a terceira posição na ordem de vocação hereditária, prevista no artigo 1.829 do Código Civil. Serão chamados a suceder com exclusividade, apenas na ausência de descendentes e ascendentes. Alinhado com artigo 1.838 do mesmo diploma legal.
Requisitos para Sucessão do Cônjuge
O cônjuge, para ser herdeiro, precisa preencher os requisitos do artigo 1.830 do Código Civil, sendo necessário que, ao tempo da abertura da sucessão, esteja em comunhão plena de vida com o autor da herança.
Você sabia?
Fica claro que a separação judicial teria, para o legislador, posto fim à convivência que seria fundamental para garantir direitos sucessórios.
O conflito entre cônjuge separado de fato e companheiro
Como vimos, o “cônjuge separado de fato”, se inocente, poderá herdar; e, como a união estável pode ser considerada para aquele que está “separado de fato”, existe a possibilidade de concorrência entre o “cônjuge inocente separado de fato” e o companheiro. Diante disso surgem três posicionamentos:
1º
Afasta-se o direito do convivente e confere-se o direito sucessório, apenas ao cônjuge sobrevivente. Essa corrente funda-se na interpretação restritiva do artigo 1.830 do Código Civil.
2º
Concede direitos sucessórios ao companheiro, baseando-se que a sociedade conjugal existe de direito, mas não de fato. Não sendo razoável que uma pessoa que não tem mais convívio com o falecido receba, em detrimento daquela que se relaciona com o morto no momento da abertura da sucessão.
3º
Ambos, cônjuge e companheiro, concorrem à sucessão do falecido, nos termos do que a lei concede a cada um por direito.
Para ler mais sobre O conflito entre cônjuge separado de fato e companheiro, clique aqui.
Do direito real de habitação como direito sucessório do cônjuge
Esse direito real é concedido pelo artigo 1.831, do Código Civil, ao cônjuge, em decorrência da viuvez.
O direito de habitação permite que o cônjuge, mesmo que não seja herdeiro, permaneça habitando o imóvel que sirva de residência da família. O Código Civil anterior limitava esse direito a enquanto durasse a viuvez. Assim, se o cônjuge casasse novamente ou passasse a viver em união estável perderia esse direito. O Código Civil atual não traz essa limitação.
“O direito real de habitação sobre o imóvel que servia de residência do casal deve ser conferido ao cônjuge/companheiro sobrevivente não apenas quando houver descendentes comuns, mas também quando concorrerem filhos exclusivos do de cujus” (STJ, REsp 1.134.387/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, j. 16.04.2013, DJe 29.05.2013).
A sucessão decorrente da união estável e entenderá os questionamentos o posicionamento adotado pelo Código Civil de 2002
A união estávelpassou a ser reconhecida como espécie de família, em 1988, no artigo 226 da Constituição. Mas, a sua regulamentação somente foi estabelecida em 1994.
A Lei nº 8.971/94, primeira a disciplinar a união estável, concedeu aos conviventes direitos sucessórios na falta de herdeiros necessários (descendentes e ascendentes). Havendo herdeiros necessários, o convivente, teria direito ao usufruto de ¼ dos bens do falecido, enquanto não casasse ou passasse a viver nova união estável. Concedeu, ainda, direito a meação.
Posteriormente, a Lei nº 9.278/96 concedeu direito real de habitação, complementando o direito concedido pela lei anterior. A partir de 1996 os direitos do companheiro, na união estável, seriam concedidos de acordo com o que foi conferido pelas duas leis que tratavam sobre o tema.
O Código Civil de 2002, no artigo 1.790, concedeu direitos sucessórios aos conviventes de um modo diverso daquele concedido aos cônjuges e não mencionou a possibilidade de direito real de habitação, que havia sido concedido anteriormente na Lei nº 9.278/96.
Quanto a interpretação do Artigo 1.790 do Código Civil, observamos:
Os requisitos para a sucessão do companheiro, de acordo com o artigo 1.790 do Código Civil, são:
a) Viver em União Estável à época do óbito;
b) Falecer um deles na vigência do CC/02;
c) Aquisição de aquestos;
d) Comprovação em juízo da qualidade de companheiro através de ação ordinária.
Direito Real de Habitação
O artigo 1.831, do Código Civil, não menciona a possibilidade do direito real de habitação do companheiro, apenas do cônjuge.
A solução foi dada através do Enunciado 117 da 1º Jornada do Conselho da Justiça Federal:
Sucessão do companheiro concorrendo com filhos comuns
Nessa hipótese, o convivente teria direito à herança sob os aquestos, os bens particulares seriam herdados apenas pelos filhos e o companheiro teria direito a quinhão igual ao dos filhos.
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho.
Antes de definir a herança não se esqueça de separar a meação do companheiro.
Os bens comuns são divididos entre os filhos e o companheiro sobrevivente. Já os bens particulares, apenas entre os filhos.
Sucessão do companheiro concorrendo com filhos do morto ou com filiação híbrida
Nesse caso, o convivente tem direito a apenas o quinhão equivalente à metade do quinhão dos filhos e, também, apenas sob os aquestos.
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles.
O Código Civil não menciona a filiação híbrida, assim a posição doutrinária e jurisprudêncial é a aplicação do inciso II do art. 1.790 nesses casos.
Sucessão do companheiro em concorrência com outros parentes
A maioria da doutrina entende que esse inciso deve ser interpretado de forma autônoma do caput. Assim, concorrendo com outros parentes (ascendentes e colaterais de até 4º grau), herda sobre todos os bens, não apenas sobre os aquestos.
Companheiro em concorrência com ascendentes vivos
2/3 a ser dividido entre os primos
Da declaração de inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil
O RE nº 878.694 começou a ser julgado em agosto de 2016. O Ministro Relator, Luís Roberto Barroso, julgou pela inconstitucionalidade do artigo, pois diferenciava a sucessão na união estável, da sucessão do cônjuge e para ele estaria em desacordo com o que preceitua o artigo 226 da Constituição que entende a união estável como espécie de família.
Após serem proferidos sete votos que acompanhavam o relator, o Ministro Dias Toffoli pediu vistas do processo e, em março de 2017, devolveu os autos emitindo seu voto contrário à inconstitucionalidade do artigo, pois acredita que o reconhecimento da união estável como espécie de família não a equipara à família matrimonial, que segundo ele, seria a preferida do legislador constitucional e, portanto gozaria de mais proteção.
Em seguida ao voto contrário emitido por Toffoli, o Ministro Marco Aurélio pediu vistas do processo e entendeu a necessidade de que fosse julgado juntamente com o RE nº 646.721, que tratava da Sucessão na União Homoafetiva. O Ministro Marco Aurélio apresentou voto-vista acompanhando a divergência aberta pelo Ministro Dias Toffoli na sessão do último dia 30 março.
Porém, em 13 de maio de 2017, foram votos vencidos e, no sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regime sucessório entre cônjuges, companheiros e companheiros homoafetivos devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1829 do Código Civil.
O Ministro Barroso, em seu voto, estipulou que os processos que estão em curso, mesmo os que já tenham decisões, mas ainda não transitaram em julgado sejam atingidos pela decisão do STF. Assim, os processos já transitados em julgado não sofreriam nenhuma alteração.
Luís Roberto Barroso é um jurista, professor e magistrado brasileiro. É ministro do Supremo Tribunal Federal desde 26 de junho de 2013.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Roberto_Barroso Acesso em: 13 jul. 2017.
Portanto, podemos entender que a partir de agora, cônjuge e companheiro hetero e homoafetivos herdam da mesma forma, seguindo a ordem de vocação hereditária, do artigo 1.829, do Código Civil.
Atividades
Questão 1: (E M E R J - PROVA DE SELEÇÃO - CP I - 2º SEMESTRE/2014/ adaptada)
O companheiro homoafetivo supérstite, convivente com o falecido pelo regime da comunhão parcial de bens, concorre com os descendentes dele na partilha dos bens particulares?
Atividades
Questão 2: (XX EXAME DE ORDEM UNIFICADO)
Íris e Apolo, residentes no Rio de Janeiro, iniciaram namoro no final de 2008, estando ambos divorciados. Desde 2010, mantinham relação pública, notória, contínua e duradoura, coabitando desde o início desse mesmo ano no domicílio de Íris, juntamente com Selene, de 19 anos, fruto do primeiro casamento de Íris.
Íris e Apolo optaram por não realizar uma escritura de união estável. Alguns meses após a mudança para o domicílio de Íris, Apolo vendeu o apartamento em que residia e, com o produto da venda, adquiriu uma casa, onde seus filhos gêmeos do primeiro casamento, Pietro e Dionísio, de 22 anos de idade, passaram a residir.
Em janeiro de 2011, o casal, juntamente com Selene, mudou-se para outro apartamento, arrematado nesse mesmo mês por Apolo, em praça judicial, com recursos provenientes dos rendimentos do casal. Lá realizaram diversas obras, em razão de o apartamento necessitar de reformas nas instalações hidráulica e elétrica.
Em 26 de dezembro de 2014, Íris e Apolo, acompanhados de Selene, sofreram acidente automobilístico, no qual faleceram ao mesmo tempo, sem deixar testamento, tendo sido declarada a morte do casal em suas respectivas certidões de óbito.
Selene, ainda que gravemente ferida, sobreviveu. Meses depois do acidente, Pietro, na qualidade de inventariante, enviou notificação para Selene, que ainda residia no mesmo apartamento, comunicando que ele e Dionísio, únicos herdeiros de Apolo, tomariam a posse do apartamento, caso ela não o devolvesse voluntariamente, sob o argumento de o bem pertencer somente a seu pai, uma vez que este o arrematara em seu nome apenas.
Selene, na qualidade de única herdeira de sua mãe Íris, o(a) procura em busca de orientação jurídica. Sobre a situação descrita, responda:
Quem são os herdeiros dos imóveis adquiridos por Apolo enquanto residia com Íris e como deverão ser partilhados?
Direito Civil VI 
 Aula 7 - Introdução à sucessão testamentária. Capacidade para testar e formas ordinárias de testamento. Codicilos. Formas especiais de testamento.
Os conceitos detestamento e suas principais características. A capacidade testamentária ativa e as hipóteses não geradoras de incapacidade para testar.
Testamento
O significado da palavra testamento vem do latim testamentum, de testor, atestação da mente ou da vontade; ou de testis, que significa testemunho.
O testamento é uma consequência do direito de propriedade e sua característica de exclusividade, permitindo que o bem de propriedade exclusiva de um seja destinado a outro, após a extinção da personalidade jurídica.
Você sabia?
No Direito Clássico, eram conhecidas duas formas de Testamento: o Calatis comitiis (ou Testamento Comicial) e o de Procintu. O primeiro era aquele de cunho aristocrático e se fazia perante assembleias convocadas – ou comitia curati – e tinham caráter pacifico. Era exclusivo aos nobres e não acessível a plebeus. Apenas posteriormente surgiu o testamento para o “povo” (Plebeus), chamado de per aes et libram, que ocorria através da venda ficta (ou MANCIPAÇÃO) ao “comprador” da herança (familiae emptor).
A sucessão testamentária
O artigo 1.786, do Código Civil, de 2002, estabelece que a sucessão pode se dar em decorrência da lei, ou por disposição de última vontade. Ou seja:
Sucessão testamentária
O sujeito pode regular a transferência de seus bens para depois de sua morte.
A sucessão testamentária é aquela determinada por atos de última vontade. Assim, se houver testamento, essas regras devem ser obedecidas, desde que não contrariem as disposições legais. O testamento é espécie de negócio jurídico unilateral, celebrado pela manifestação de vontade do testador, o qual produzirá efeito após a sua morte. Poderá ser modificado por ele a qualquer tempo, sob a égide do artigo 1.858 do Código Civil.
Sucessão legítima
Também conhecida como ab intestato. O sujeito pode optar por deixar que a lei determine.
Vale lembrar que o testador que tiver herdeiros necessários só poderá dispor de cinquenta por cento do seu patrimônio, o restante fica garantido aos seus sucessores. Essa parte receberá o nome de legítima, nos termos do “Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.” (BRASIL, 2002).
Responda:
Carlos, solteiro e bastante debilitado, escreve seu testamento. Carlos, que não tem nenhum ascendente vivo e tão pouco descendentes, resolve deixar toda a sua fortuna ao sobrinho João Henrique. Após a morte de Carlos, seu único irmão, Eduardo, ingressa com ação de impugnação do testamento afirmando que, como irmão, tem direito à parte da herança, pois herdeiro necessário. Eduardo tem razão?
O testamento é ato personalíssimo, deve ser elaborado unicamente pelo autor da herança e pode ser revogado a qualquer tempo. Nas palavras de Pontes de Miranda, “testamento (diz-se) é o ato pelo qual a vontade de um morto cria, transmite ou extingue direitos”. (MIRANDA, 2012, p. 113)
Essa característica de pessoalidade é descrita por Veloso:
Analisando o testamento no plano da existência, é necessário uma pessoa apenas – o testador – para manifestar vontade, no momento de sua celebração.
Já no plano da validade, verifica-se se foram preenchidos os requisitos do artigo 104, do Código Civil, isto é:
A eficácia do negócio jurídico será analisada no terceiro plano, no qual verifica sua exigibilidade. A produção de efeitos do testamento o vincula a um termo, evento futuro e certo, porém incerto em relação à precisão de sua ocorrência.
O testamento apenas produzirá efeitos, após a morte do testador. Assim, apenas com o advento morte se torna eficaz as disposições testamentárias, que até então são mutáveis.
Disposições testamentárias 
Os atos de disposição de última vontade, em regra, contêm cláusulas relacionadas ao patrimônio do falecido, contemplando herdeiro ou legatário que não o seriam por determinação legal ou indicar como seria a sua intenção sobre a disposição de seus bens.
A inclusão, de disposições de caráter não patrimoniais, deverá estar cercada de muito cuidado, pois mesmo o testamento tendo esse caráter de revogabilidade, uma cláusula de cunho pessoal não será tão simples de ser revogada, porque dependerá de justificativa.
Capacidade testamentária ativa
[...] “É o conjunto de condições necessárias para que alguém possa, juridicamente, dispor de seu patrimônio por meio de testamento, ou ser por ele beneficiado”. (OLIVEIRA, 1987, p. 401)
Qualquer pessoa capaz pode celebrar testamento e estabelecer a disposição de seus bens e incluir disposições não patrimoniais, conforme o artigo 1.857 do Código Civil.
Todos podem celebrar testamento?
 Toda pessoa capaz pode celebrar testamento.
  O relativamente incapaz, maior de 16 e menor de 18, possui o que chamamos de capacidade especial, isto é, está autorizado por lei a celebrar testamento válido, sem precisar de assistência para a prática desse negócio jurídico.
  Não podem testar. Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento. Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.
 
O instituto da incapacidade relativa também foi atingido pelo Estatuto, o qual modificou a redação dos incisos II e III, do artigo 4º, do Código Civil, suprimindo as expressões “por deficiência mental” e “sem desenvolvimento mental completo”, proporcionando, assim, igualdade de tratamento a todas as pessoas.
O conceito de capacidade civil foi recriado.
Anteriormente, a capacidade de direito era alcançada a partir do nascimento com vida por todas as pessoas naturais, em consonância com o artigo 1º do Código Civil.
No entanto, a capacidade de fato, isto é, de exercer, em nome próprio os seus direitos, era alcançada com a maioridade ou emancipação para a maior parte dos indivíduos. Direito, esse, limitado, aos institutos da representação ou assistência, em casos de sofrimento mental do cidadão. 
Diante da nova ordem jurídica, conclui-se que o legislador pretendia exaltar o principio da dignidade da pessoa humana, preocupando-se mais com a isonomia e o tratamento igualitário do que com a criação de novos institutos jurídicos.
Nesse sentido, a impressão que temos é a de que o legislador não soube onde situar a norma. Melhor seria, caso não optasse por inseri-lo no próprio artigo art. 3º (que cuida dos absolutamente incapazes), consagrar-lhe dispositivo legal autônomo.
O testador que venha a adquirir alguma incapacidade após a celebração do testamento não invalida o negócio jurídico anteriormente celebrado. Assim, o testamento continua válido mesmo que o testador seja considerado relativa ou absolutamente incapaz a posteriori por alguma causa superveniente.
Conforme artigo 1.861, do Código Civil: “Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.”
Capacidade testamentária passiva
A capacidade testamentária passiva diz respeito à possibilidade de herdar através de testamento “fazendo referências a pessoas. A norma jurídica exclui animais e coisas inominadas, a menos que as disposições que lhes são abusivas se apresentem sob a forma de um ônus ou de uma liberalidade a uma pessoa capaz de ser beneficiada em testamento”. (DINIZ, 2003, p. 151)
Artigos 1.798 e 1.799
A sucessão testamentária pode contemplar todos os que podem receber herança na sucessão legítima e mais a prole eventual de pessoa indicada pelo autor da herança, pessoas jurídicas e as fundações a serem criadas com patrimônio estabelecido em testamento. Estas regras estão elencadas nos artigos 1.798 e 1.799 do Código Civil.
Artigo 1.800
A sucessão da chamada prole eventual deve seguir as regras do artigo 1.800, do Código Civil, que estabelece que se o eventual herdeiro não for concebido em dois anos a contar da abertura da sucessão, esse direito será perdido.
Sem indicação pela lei
A sucessão testamentária proporciona ao autor da herança a possibilidade de contemplar pessoas que não foram indicadas pela lei como seus herdeiros

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