Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JULIANO ANDRÉ VERGUTZ RICARDO CUSTÓDIO ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS OBTIDOS EM SOFTWARES DE DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS EM CONCRETO CURITIBA 2010 JULIANO ANDRÉ VERGUTZ RICARDO CUSTÓDIO ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS OBTIDOS DE SOFTWARES DE DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO Trabalho de conclusão de curso apresentado à disciplina Trabalho Final de Curso como requisito parcial à conclusão de Graduação no Curso de Engenharia Civil, Setor de Tecnologia, Exatas, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Cláudio L. Curotto CURITIBA 2010 Ao meu pai Elton e minha mãe Rossmari, pela minha educação e apoio. Ao meu pai, Osni, pelo apoio e motivação durante esta fase da minha vida. AGRADECIMENTOS A Deus, pela vida, oportunidades, conhecimento e proteção. Ao professor Claudio Luiz Curotto, pela atenção e orientação, dada ao longo deste trabalho. Aos professores Antonio Stramandinoli e Jorge Luiz Ceccon, pelas dúvidas tiradas. RESUMO Na elaboração de projetos estruturais de concreto armado, os três programas de cálculo estruturais mais utilizados atualmente são o EBERICK, CYPECAD e CAD TQS, o primeiro é muito difundido na região sul do país, o segundo é utilizado em outros países, pois pode fazer considerações de normas europeias, o terceiro tem seu uso difundido em todo Brasil. Observar a forma de como é lançado uma estrutura hipotética nestes programas, e quais tipos de análises e critérios adotados entre eles, bem como as diferenças resultantes nos esforços finais é o que se contempla neste trabalho. Os programas entre si apresentam diferenças de análises, no lançamento da estrutura, e na inserção das cargas e distribuição dos esforços, desta forma foram elaboradas planilhas eletrônicas para uso como referência nos resultados globais da estrutura, tais como carga na fundação e nos pilares. Palavras Chaves: Estrutura, análise estrutural, programa, pilar, viga, laje, cargas e esforços. ABSTRACT In the development of structural designs reinforced concrete, the three structural analysis softwares most used today are the EBERICK, CYPECAD and TQS. The first one is well known in the southbound of the country, the second one is used in many countries, as long as it can deal with European codes and the last one is widespread used throughout all the country. Observe how a hypothetical structure is modeled using these programs, and what sort of tests and criteria they adopt, and the resulting differences in final stresses is what can be found in this work. The softwares differ in the kind of analysis, at the modeling of the structure, at the loading step and distribution stresses. So were created spreadsheets to use as a reference to compare the structure’s global results, such as the total load on the foundation and the columns. Key words: structure, structural analysis, software, column, beam, slab, loads and stresses. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10 1.1. Justificativa ...................................................................................................................... 11 1.2. Objetivos Gerais .............................................................................................................. 11 1.4. Estrutura do Trabalho ..................................................................................................... 12 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................... 13 2.1. Histórico do Concreto Armado e do Cálculo Estrutural .................................................. 13 2.2. Lajes ................................................................................................................................. 20 2.3. Vigas ................................................................................................................................ 21 2.4. Pilares .............................................................................................................................. 21 2.5. Propriedades dos Materiais ............................................................................................ 23 2.5.1. Propriedades do Concreto .......................................................................................... 23 2.5.1.1. Massa Específica ...................................................................................................... 24 2.5.1.2. Coeficiente de dilatação térmica ............................................................................ 24 2.5.1.3. Resistência à compressão ....................................................................................... 24 2.5.1.4. Resistência à tração ................................................................................................. 25 2.5.1.5. Módulo de elasticidade ........................................................................................... 25 2.5.1.6. Efeito de Rusch ........................................................................................................ 26 2.5.1.7. Coeficiente do Poisson e módulo de elasticidade transversal ................................ 27 2.5.1.8. Diagrama tensão- deformação ................................................................................ 27 2.5.2. Aço ............................................................................................................................... 29 2.5.2.1. Categorias de aço .................................................................................................... 29 2.5.2.2. Massa específica ...................................................................................................... 29 2.5.2.3. Coeficiente de dilatação térmica ............................................................................ 29 2.5.2.4. Módulo de elasticidade ........................................................................................... 29 2.5.2.5. Resistência à tração ................................................................................................. 29 2.5.2.6. Diagrama tensão- deformação ................................................................................ 30 2.6. Análises estruturais ......................................................................................................... 31 2.6.1. Análise linear ............................................................................................................... 31 2.6.2. Análise linear com redistribuição ................................................................................ 33 2.6.3. Análise plástica ............................................................................................................ 34 2.6.4. Análise não linear ........................................................................................................ 35 2.6.5. Análise através de modelos físicos ..............................................................................37 2.7. Modelos estruturais ........................................................................................................ 38 2.7.1. Modelo de vigas contínuas .......................................................................................... 38 2.7.2. Pórticos planos ............................................................................................................ 39 2.7.3. Pórticos espaciais ........................................................................................................ 42 2.7.4. Modelo de grelhas ....................................................................................................... 43 2.8. Esforços e combinações .................................................................................................. 46 3. FERRRAMENTAS COMPUTACIONAIS ................................................................................... 51 3.1. CYPECAD .......................................................................................................................... 51 3.1.1. Características técnicas de análise .............................................................................. 51 3.2. EBERICK ........................................................................................................................... 53 3.2.1. Características técnicas da análise .............................................................................. 54 3.3. TQS .................................................................................................................................. 56 3.3.1. Características de técnicas de análise ......................................................................... 57 4. METODOLOGIA .................................................................................................................... 58 4.1. Projeto arquitetônico ...................................................................................................... 58 4.2. Pré-dimensionamento dos elementos estruturais ......................................................... 58 4.2.1. Pré-dimensionamento de pilares ................................................................................ 58 4.2.2. Pré-dimensionamento de vigas ................................................................................... 64 4.2.3. Pré-dimensionamento de lajes ................................................................................... 65 4.3. Estimativa das cargas permanentes e acidentais ............................................................ 71 4.3.1. Cargas atuantes nas lajes ............................................................................................ 71 4.3.2. Cargas devido à parede ............................................................................................... 73 4.3.3. Redução das cargas acidentais .................................................................................... 75 4.3.4. Cálculo das reações da escada .................................................................................... 76 4.4. Cálculo dos esforços através da planilha eletrônica ....................................................... 79 4.5. Modelagem computacional da estrutura analisada ....................................................... 81 4.5.1. Eberick ......................................................................................................................... 81 4.5.2. CYPECAD ...................................................................................................................... 85 4.5.3. TQS .............................................................................................................................. 92 5. RESULTADOS ....................................................................................................................... 96 5.1. Consideração da estrutura com laje ............................................................................... 96 5.1.1. Cálculo com pilares pré-dimensionados ..................................................................... 97 5.2. Consideração da estrutura sem laje .............................................................................. 110 5.3. Estudo da laje L1 ........................................................................................................... 115 5.4. Estudo do pilar P1 ......................................................................................................... 129 5.5. Estudo da viga V1 .......................................................................................................... 136 5.5.1. Estrutura com laje ..................................................................................................... 136 5.5.3. Comparativo entre estrutura com laje e estrutura sem laje .................................... 149 5.6. Dados gerais da estrutura ............................................................................................. 151 6. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 155 7. REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 156 ANEXOS ..................................................................................................................................... 159 ANEXO A .................................................................................................................................... 160 ANEXO B .................................................................................................................................... 169 ANEXO C .................................................................................................................................... 180 ANEXO D .................................................................................................................................... 189 10 1. INTRODUÇÃO Há tempos a construção de edifícios de múltiplos andares concebidos em concreto armado tem sido solução largamente empregada no Brasil como resposta ao desenvolvimento das cidades. Sendo assim os projetos estruturais necessitaram de massiva evolução técnica, para ganho de tempo, economia e precisão para que as estruturas em concreto armado pudessem ser realizadas. Nos anos anteriores a década de 70, projetos desta natureza era realizada integralmente a mão, desde os cálculos até os detalhamentos dos elementos estruturais, o que demandava muito tempo para a sua conclusão. Entre os anos 60 e 70 começavam a surgir às primeiras máquinas eletrônicas programáveis. Em meio a esta insurgência tecnológica existiam quatro ou cinco modelos e marcas de máquinas programáveis, dentre elas o modelo Sharp 14, que era programável em linguagem Basic e associada ao uso de cartões magnéticos. Os cálculos de vigas contínuas, por exemplo, eram realizados em duas etapas (dois cartões magnéticos) e posteriormente se faziam os diagramas de momentos fletores e esforços cortantes à mão. Os cálculos das cargas verticais em edifícios, levando em conta o efeito do vento, também eram feitos em duas etapas (dois cartões magnéticos): sendo que primeiramente calculava-se o momento devido ao vento em cada pavimento e depois, este efeito era somado com a carga vertical de cada pilar em cada pavimento. Atualmente pode-se afirmar que os projetos estruturais são realizados por meio de pacotes computacionais disponíveis comercialmente, o que conduziu a mudanças significativas na concepção estrutural das estruturas. Nesses pacotes os métodos de análise programadosconduzem a solução da estrutura a um nível de precisão satisfatório, simulando o comportamento físico da estrutura mais próximo do que ocorre na realidade, se comparados com modelos simplificados. Deve-se destacar que, com o advento dos programas de cálculo estrutural, houve muito ganho em produtividade e dinamismo na execução do projeto, oferecendo ainda a facilidade de se testar diversos arranjos estruturais distintos até encontrar o mais apropriado e econômico, trabalho que seria de grande dificuldade no cálculo manual de uma estrutura de edifício. 11 O fato dos programas de cálculo contribuir significativamente para a resolução dos mais variados tipos de problemas encontrados durante a elaboração de um projeto estrutural, não significa que o engenheiro possa se preocupar menos com as questões a serem consideradas na elaboração do projeto, desta forma é de fundamental importância que o profissional tenha um bom conhecimento prático e teórico, os quais estão muitas vezes associados com a experiência e boa formação acadêmica. A entrada de dados e interpretação das saídas de dados são etapas fundamentais na definição do projeto estrutural. 1.1. Justificativa Para os profissionais da engenharia que atuam na área de projeto de estruturas de concreto armado, é fundamental que eles saibam como as estruturas são idealizadas nos programas e as considerações que eles fazem. De modo geral, é importante que o engenheiro “calculista” saiba de onde surgem os resultados que os programas fornecem, sendo que para isso é importante que se tenha o conhecimento teórico necessário, para a solução de possíveis problemas que possam acontecer durante a etapa de elaboração do projeto estrutural. 1.2. Objetivos Gerais O objetivo do presente trabalho é estudar a forma de elaboração dos principais pacotes computacionais utilizados atualmente no Brasil para a elaboração do projeto estrutural. Propomos modelar uma superestrutura de um edifício nos programas TQS, CYPECAD e EBERICK, de modo a entender as necessidades que se exigem durante a elaboração de um projeto estrutural, avaliando as suas adequabilidades e dificuldades no lançamento da estrutura. Também buscaremos compreender como são realizadas as análises estruturais nestes programas, de modo que se saiba qual é o tratamento 12 matemático que é efetuado para o processamento dos esforços na estrutura, bem como as considerações e critérios dos três programas. 1.3. Objetivos Específicos Nos programas de cálculo estrutural que serão estudados neste trabalho (TQS, CYPECAD e Eberick) será lançada uma estrutura de 4 pavimentos, de maneira que se obtenha em cada programa alguns resultados que eles são capazes de nos fornecer, e posteriormente analisar as possíveis diferenças entre as saídas de dados, e assim então definir prós e contras de cada programa, bem como cuidados durante as entradas de dados e interpretação dos resultados. 1.4. Estrutura do Trabalho O estudo que se segue está divido em 6 capítulos, que compõem a estrutura do trabalho. No capítulo 2, serão demonstradas nossas pesquisas relacionadas aos assuntos de teorias das estruturas, que são utilizadas nos programas de cálculo estrutural, nessa parte do trabalho também serão abordados aspectos históricos da evolução da análise estrutural, e teorias atuais consolidadas, as quais possibilitam o cálculo de estruturas de edifícios. No capitulo 3 são descritas as características dos programas utilizados para a comparações entre resultados físicos obtidos em um edifício, cujas características podem ser visualizadas no anexo B. O capítulo 4 contempla a aplicação das questões abordadas no capitulo 2, porém aplicadas a estrutura do edifício proposta neste trabalho, que pode ser visualizada nos anexos. Por fim, no capitulo 6 estão explicitadas as conclusões tiradas deste estudo. 13 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Histórico do Concreto Armado e do Cálculo Estrutural No que se refere às teorias relacionadas ao tratamento matemático para obtenção dos esforços, temos que ela vem se desenvolvendo desde o século XVI, de modo que hoje os engenheiros de estruturas podem idealizar seus modelos de cálculo considerando inúmeras variáveis presentes em uma estrutura de concreto armado. Quanto à evolução do concreto armado, pode-se afirmar que sua história não começou no século passado, mas sim em conjunto com a evolução humana ao longo da história, obviamente para se chegar ao concreto armado tal qual como o conhecemos hoje, o homem precisou trilhar um longo caminho, que ainda não está concluído e isto também se aplica as fundamentações teóricas que estão por trás dos projetos de estruturas de concreto armado. Quanto à evolução das teorias aplicadas na engenharia de estruturas, temos que em 1586, Simon Stevinus, Holanda, publica os fundamentos da estática gráfica em seu livro Mathematicorum Hipomnemata de Statica. Em 1678 o inglês Robert Hooke, estabelece os fundamentos da elasticidade através de seus experimentos com molas. Em 1757, o matemático suíço Euler publica um trabalho estabelecendo uma fórmula para determinação da máxima carga que podia ser aplicada a uma coluna antes de ocorrência do fenômeno de flambagem. No ano de 1770, em Paris, a associação do material aço com pedra natural, aparece pela primeira vez na estrutura da Igreja de Santa Genoveva, (hoje Pantheon, em Paris, 1770). Segundo o arquiteto idealizador do projeto, Jacques Germain Soufflot, a intenção era de reunir nesta obra a leveza do gótico, um estilo consagrado na época, com a pureza da arquitetura grega. Existindo poucas colunas na fachada, era necessário executar grandes vigas capazes de efetuar a transferência das elevadas cargas da superestrutura para as fundações. Com o senso admirável de Rondelet foram executadas em pedra lavrada, verdadeiras vigas modernas de concreto armado, com barras longitudinais retas na zona de tração e barras transversais de cisalhamento. As barras longitudinais eram enfiadas em furos executados artesanalmente nas 14 pedras e os espaços vazios eram preenchidos com uma argamassa a base de cal. FIGURA 1 – ASSOÇIAÇÃO DE ELEMENTOS DE ROCHA COM BARRAS DE AÇO (TEMPLO FRANCES DO SÉCULO XVIII) FONTE: KAEFER (1998) Em 1775, Charles Augustin Coulomb, um físico e engenheiro militar francês, estabelece os fundamentos da teoria de vigas afirmando que “a linha neutra de uma seção retangular homogênea se situa na metade da sua altura, a resultante das forças de tração atuantes de um lado do eixo neutro é igual à resultante de compressão do outro lado e a resistência dos esforços internos da viga deve equilibrar o momento introduzido pelas cargas externas”. Em 1850, Clapeyron, um engenheiro francês começa a utilizar um novo método para resolver o problema de vigas contínuas, o "Teorema dos Três Momentos". Entre 1850 e 1855, o francês Joseph Louis Lambot, realiza a primeira publicação sobre “Cimento Armado” (denominação do concreto armado até mais ou menos 1920). Presume-se que em 1850 Lambot efetuou as primeiras experiências práticas do efeito da introdução de ferragens em uma massa de concreto. Em 1954, Lambot já executava construções de "cimento armado" com diversas finalidades. Imerso em estudos sobre o concreto armado e 15 motivado por problemas com a manutenção de canoas de madeira utilizadas para lazer em um pequeno lago existente em sua propriedade em Miraval, no sul da França, Lambot tem a ideia de construir um barco de concreto. Nadamais lógico, pois o concreto é durável, requer pouca manutenção e resistente bem em meios aquáticos. Lambot empregou para a construção de sua canoa uma malha fina de barras finas de ferro (ou arame), entrelaçadas, entremeadas com barras mais grossas, usando essa malha fina ao mesmo tempo como gabarito para se ter o formato adequado do barco , para segurar a argamassa, dispensando a confecção de moldes e para evitar problemas com fissuras. Já em 1855 Lambot expõe o seu barco de concreto armado na Exposição Mundial de Paris e solicita a patente de seu projeto. No documento representativo do seu pedido de patente existe além da placa que corresponde à armação do barco. O barco exposto media aproximadamente 4 m de comprimento por 1,30m de largura com paredes de aproximadamente 4 cm de espessura. Apesar de ser considerado por muitos como o pai do concreto armado, os experimentos de Lambot não tiveram muita repercussão. No mesmo período dos desenvolvimentos de Lambot 1854, William B. Wilkinson, um fabricante de gesso de paris e cimento romano, obtém a patente de um sistema de lajes nervuradas que demonstra o domínio dos princípios básicos de funcionamento do concreto armado ao dispor barras (ou cabos) de aço nas regiões tracionadas das vigas ou vigotas. 16 FIGURA 2 – DESENHO DO MODERNO SISTEMA DE WILIKINSON EXECUTADO ONZE ANOS APÓS A OBTENÇÃO DE SUA PATENTE FONTE: KAEFER (1998) Wilkinson percebeu que a rígidez da laje pode ser aumentada através da inserção de vazios (através de moldes) regularmente espaçados e separados por nervuras, onde cabos de aço eram colocados na sua porção inferior no meio do vão e subiam para a parte superior da viga nas proximidades dos apoios. A laje possuía um vão de aproximadamente 4 m em cada direção e uma malha de barras de aço era colocada na parte inferior da camada de concreto de 4 cm de espessura que cobria as nervuras. Em uma viga maior, observam-se as mesmas disposições utilizadas nas nervuras da laje. Devido à similaridade entre o método utilizado por Monier para construir seus vasos de concreto armado e por Lambot para a armação de sua canoa de concreto, levam a crer que o primeiro sofreu influência do segundo. Entretanto, existem divergências quanto a este fato. O mais certo é que Monier, um jardineiro, que fabricava vasos e tubos de concreto desde 1849 considerando seus vasos muito frágeis começa a mergulhar na massa de concreto uma malha de aço. Em 1867, Monier havia avançado tanto em seu método ao ponto de patenteá-lo e exibi-lo na Exposição de Paris daquele mesmo ano. A primeira extensão de sua patente parece ter sido para a construção de reservatórios de 17 água. Entre 1868 e 1873 executou primeiro um reservatório de 25 m³ e mais tarde outros dois com 180 m³ e 200 m³ (suportado por colunas), pode-se afirmar que Monier é considerado um dos grandes disseminadores da técnica de se construir com concreto armado. Em 1877, o inglês Thaddeus Hyatt, publica o “An Account of Some Experiments with Portland Cement Concrete Combined with Iron as a Building Material”. Na década de 1870, grande parte do conhecimento dos fundamentos estruturais do concreto armado parecia recair nos estudos de Hyatt, um fabricante de grades para calçada, que por causa de problemas políticos acaba sendo enviado para a França, onde toma contato com as primeiras experiências com o concreto armado. Entusiasmado, lança-se posteriormente a experimentar o concreto como nova maneira de construir painéis para calçadas em Londres. Seu artigo de 1877, ele reúne suas conclusões sobre seus ensaios. Os testes de Hyatt são considerados um sumário do "essencial" em que o uso do concreto armado é baseado hoje em dia. Entre as conclusões que Hyatt tirou de seus ensaios é importante mencionar as seguintes: 1) O aço (ou ferro) não resiste bem ao fogo. 2) O concreto deve ser considerado como um material de construção resistente ao fogo. 3) Envolvendo-se totalmente o aço com uma camada suficientemente espessa de concreto obtém-se um material resistente ao fogo. 4) A aderência entre aço e concreto é suficientemente forte para fazer com que a armadura posicionada na parte inferior da viga trabalhe em conjunto com o concreto comprimido da parte superior da viga 5) O funcionamento conjunto do concreto com o ferro chato ou redondo é perfeito e constitui uma solução mais econômica do que com o uso de perfis como armadura. 6) O coeficiente de dilatação térmica dos dois materiais é suficientemente igual, garantindo a resistência da combinação aço- concreto quando submetida ao fogo ou ao congelamento. 7) A relação entre os módulos de elasticidade deve ser adotada igual a 20. 18 8) Concreto com ferro do lado tracionado presta-se não somente para estruturas de edificações como também para a construção de abrigos. Podese considerar que HYATT foi efetivamente o grande precursor do concreto armado e possivelmente o primeiro a compreender profundamente a necessidade de uma boa aderência entre os dois materiais e do posicionamento correto (nas áreas tracionadas) das barras de ferro para que este material pudesse colaborar eficientemente na resistência do conjunto concreto-aço. Apesar de toda sua genialidade a falta de patrocinadores para seus testes e restrições impostas por outras patentes impediram que Hyatt se beneficiasse de suas descobertas. FIGURA 3 – VIGAS DO ENSAIO REALIZADO POR HYATT, COM INDICAÇÃO DAS ARMADURAS DAS TRINCAS FONTE: KAEFER (1998) Em 1897, dá-se início do ensino formal do dimensionamento de estruturas de concreto armado, por Charles Rabut. Sendo que até o final do século XIX os avanços da teoria e da prática da construção de estruturas de concreto armado permaneciam muito restritos, pois haviam poucas publicações que disponibilizassem informações técnicas de um modo que pudesse ser empregado prontamente por engenheiros. Isto começa a mudar com a rápida proliferação de revistas tratando de temas relacionados com cimento e concreto entre 1890 e 1900 e na virada do século, a publicação de livros sobre a engenharia de concreto torna-se mais frequente, ao mesmo tempo em que os países começam a regulamentar o uso do concreto armado. Muitos continham 19 apenas a repetição de rotinas de publicações anteriores, mas muitos se tornam livros clássicos, traduzidos para diversas línguas como os trabalhos de Paul Christophe, Emil Mörsch, Buel e Hill. Em 1906, é publicada a normalização para o uso do concreto na França, uma norma com características liberais, expressando o desejo de encorajar as experiências e o avanço da tecnologia dos engenheiros franceses. Tensões máximas admissíveis para aço, ferro e diferentes tipos de concreto são estabelecidas em valores conservadores para a época, o que acabou gerando várias críticas na época. Em 1917, são publicadas as normas norte americanas para a utilização do concreto armado, que foram desenvolvidas nos Estados Unidos por uma junta, que incluía representantes do American Society for Testing and Materials e organizações dos engenheiros civis, engenheiros ferroviários e fabricantes de cimento. Tendo achado que os resultados e interpretações dos testes realizados até o momento eram inconclusivos, a junta americana decidiu instituir um programa de pesquisa, distribuindo recursos a 11 Universidades. Em 1903 começam sete anos de testes de laboratório seguidos de cinco anos de testes em edifícios reais. Apesar de todo este trabalho quando as normas são publicadas em 1917 acabam sofrendo duras críticas. Enfim,por meio deste breve histórico acerca da evolução das aplicações do concreto armado, e de suas teorias, nota-se que o concreto evoluiu muito desde os tempos de Roma. Atualmente a engenharia usa o concreto armado em campos muito diversos, em muitos casos sob ambientes extremamente agressivos. Para se adaptar aos novos e desafiadores usos, o homem criou uma infinidade de tipos de concretos, utilizando uma enorme gama de cimentos, agregados, adições, aditivos e formas de aplicação (armado, protendido, projetado,etc). Encontramos concreto em fundações de plataformas petrolíferas instaladas nos oceanos ou enterrado a centenas de metros abaixo da terra em fundações, túneis e minas a 452 m acima do solo em arranha- céus. O grande desafio da tecnologia de concreto atualmente parece ser aumentar a durabilidade das estruturas, bem como recuperar estruturas danificadas e também em entender o complexo mecanismo químico e mecânicos. Para isto, uma nova geração de concretos está sendo 20 desenvolvida, métodos tradicionais de execução e cálculo de concreto estão sendo revistos, teorias não lineares e da mecânica do fraturamento estão também sendo desenvolvidas. 2.2. Lajes Em termos gerais, em um sistema estrutural reticulado, a laje é o elemento estrutural que apresenta comportamento de placa, com as ações incidindo perpendicularmente ao seu plano, e também com função de chapa, com ações atuando longitudinalmente ao seu plano, onde geralmente essas ações são provenientes do vento. Da teoria das estruturas, e mesmo de consideração geométricas, considera-se a laje como sendo um elemento de superfície, em que uma dimensão, normalmente a espessura, é relativamente pequena em face às demais, podendo receber as denominações de placa e chapa, conforme descrito anteriormente, e casca, cuja forma é não plana. As lajes de concreto armado podem ser concebidas de diferentes formas, podendo ser maciças, nervuradas, pré-moldadas, treliçadas, e do tipo lisa e cogumelo (apoiadas diretamente sobre pilares e pilares com capitéis, respectivamente). No que tange as lajes maciças, temos que o dimensionamento das armaduras longitudinais deve conduzir a um conjunto de esforços resistentes de cálculo que superem ou igualem a envoltória dos esforços solicitantes determinados por meio da análise estrutural. A análise simples dos esforços resistentes de cálculo podem levar em conta algumas hipóteses básicas, encontradas na NBR 6118/2003, referenciadas no anexo A. Os programas computacionais de desenvolvimento de projeto de estruturas de concreto armado podem modelar as lajes por meio de processos simplificados (Marcus, Czerny), grelhas lineares ou não lineares e elementos finitos, sendo que nestes dois últimos é possível realizar o cálculo considerando-se as aberturas de fissuras no concreto. Ainda segundo SUSSEKIND (1984), as estruturas de concreto devem ser concebidas de modo a poderem resistir às ações horizontais e verticais que possam estar atuantes ao longo de sua existência e que, além disto, independente do número de pavimentos e das dimensões em planta, seus sistemas de contraventamento devem ser estudados e adequadamente 21 calculados. SUSSEKIND propôs um modelo para análise de estruturas de edifícios, onde as lajes são consideradas com rígidez infinita no plano horizontal e a repartição das ações horizontais entre os sistemas de contraventamento é feita em função da rígidez de cada um deles. Porém, nenhuma comparação de resultados entre modelos distintos que representem um mesmo sistema estrutural foi ainda realizada. 2.3. Vigas De modo geral as vigas em uma estrutura reticulada de concreto armado são responsáveis por receber as ações das lajes e distribuí-las aos pilares. São elementos estruturais que podem ser considerados como barras, e que podem estar submetidas a esforços de flexão, compressão, tração, cisalhamento e torção, sendo que o dimensionamento das armaduras da viga deve levar em conta todos esses esforços. No item 18.3 da NBR 6118/03, estão contidas diversas considerações a serem levadas em conta para o cálculo das armaduras longitudinais (compressão e tração), transversais (esforços cortantes), armaduras para combater a torção, além de armaduras de pele (combate a fissuração), suspensão, dentre outras. 2.4. Pilares Por definição da NBR 6118, em seu tópico 14.4.1.2, os pilares são elementos lineares de eixo reto e usualmente dispostos na vertical, em que as forças normais de compressão são ponderáveis. De maneira geral, os pilares têm uma importância fundamental para a estrutura. Eles servem de apoio para as vigas, transmitem as cargas para as fundações e também participam do sistema estrutural de contraventamento. É preciso tomar bastante cuidado no seu projeto, no detalhamento das suas armaduras e também durante a sua execução, pois estes elementos podem romper-se por esmagamento do concreto de forma brusca e sem aviso prévio, pois qualquer falha na execução ou mesmo um simples erro de cálculo poderá provocar a queda de uma edificação. 22 A escolha do modelo de cálculo para o pilar vai depender do tipo de edificação e dos carregamentos, bem como das suas dimensões. Nas estruturas esbeltas e naquelas em que a ação do vento é considerável, o pilar pode ser considerado como um elemento de um pórtico tridimensional ou bidimensional. Nos edifícios usuais em que a ação do vento as vezes é desprezível, pode-se usar um modelo de elemento contínuo vertical apoiado nas vigas do pavimento ou de um elemento isolado. FIGURA 4 – MODELO DE PÓRTICO ESPACIAL, PÓRTICO PLANO E ELEMENTO CONTÍNUO PARA ESTUDO DE ESFORÇOS EM PILARES. FONTE: KIMURA (2007) Os pilares podem ser classificados de acordo com sua função estrutural, conforme a seguir: • pilares de contraventamento - são elementos rígidos que garantem que os nós da estrutura do edifício fiquem praticamente indeslocáveis. Podem ser considerados de contraventamento, os pilares rígidos (e as paredes estruturais) em torno dos elevadores e escadas. • pilares contraventados - são pilares pouco rígidos, mas com suas extremidades praticamente indeslocáveis devido ao efeito dos pilares de contraventamento. Estes pilares contraventados podem ser calculados isoladamente no trecho entre dois pisos. 23 A classificação também pode ser feita em função de seu posicionamento na planta arquitetônica do edifício, conforme a seguir • Pilares internos - localizados no interior do pavimento. • Pilares de extremidade - localizados nos contornos do pavimento. • Pilares de canto - localizados no canto do pavimento. Em termos mecânicos, os pilares de uma estrutura podem ainda ser classificados de acordo com o seu índice de esbeltez, podendo ser: • Pilares curtos (λ ≤ 40). • Pilares médios (40 < λ ≤ 80). • Pilares esbeltos (80 < λ ≤ 140). • Pilares muito esbeltos (140 < λ ≤ 200). As dimensões dos pilares devem respeitar os valores mínimos dados pela NBR 6118/03, referenciada no anexo A. Quanto às cargas que os pilares de cada pavimento recebem, temos que elas podem ser calculadas através das reações das vigas (métodos simplificados), e da grelha ou do pórtico, dependendo do modelo estrutural adotado. Deverá ser considerada nos cálculos dos pilares uma excentricidade que pode levar em conta a incerteza da localização da força normal e um possível desvio do eixo da peça durante a sua construção, em relação à posição prevista no projeto. 2.5. Propriedades dos Materiais As propriedades dos materiais utilizadosem estruturas de concreto armado são questões importantes que devem ser conhecidas, tais como módulo de elasticidade, resistência características, coeficientes de dilatação térmica, dentre outros. Nos tópicos seguintes serão descritas algumas das mais importantes propriedades dos materiais contemplados pela NBR 6118/03. 2.5.1. Propriedades do Concreto Material plástico, composto por uma mistura de cimento, areia, pedra e água, que quando misturado pode ser moldado, e que posteriormente passa 24 por um processo de cura, e adquire resistência para absorver os esforços solicitantes. 2.5.1.1. Massa Específica Segundo a NBR 6118/2003, item 8.2.2, há concretos de massa específica normal, que são aqueles que, depois de secos em estufa, tem massa específica (ρc) compreendida entre 2000 kg/m3 e 2800 kg/m3. Se a massa específica real não for conhecida, para efeito de cálculo, pode-se adotar para o concreto simples o valor 2400 kg/m3 e para concreto armado 2500 kg/m3. Quando se conhecer a massa específica do concreto utilizado, pode-se considerar para o valor da massa específica do concreto armado aquela do concreto simples acrescida de 100 kg/m3 a 150 kg/m3. 2.5.1.2. Coeficiente de dilatação térmica A NBR 6118/03, item 8.2.3 afirma que para o efeito de análise estrutural, o coeficiente de dilatação térmica pode ser admitido como sendo igual a 10-5/ oC. 2.5.1.3. Resistência à compressão Segundo a NBR 6118/2003, item 8.2.4, as prescrições desta norma referem-se a resistências à compressão obtida em ensaios de cilindros moldados segundo a ABNT NBR 5738, realizados de acordo com a ABNT 5739. Quando não for indicada a idade, as resistências referem-se à idade de 28 d. A estimativa da resistência à compressão média fcmj, corresponde a uma resistência fckj especificada, deve ser feita conforme indicado na ABNT NBR 12655. A evolução da resistência à compressão com a idade deve ser obtida através de ensaios especialmente executados para tal. Na ausência desses 25 resultados experimentais podem-se adotar, em caráter orientativo, os valores indicados em 12.3.3. 2.5.1.4. Resistência à tração Conforme a NBR 6118/2003, item 8.2.5, a resistência à tração indireta fct,sp e a resistência à tração na flexão fct,f devem ser obtidas em ensaios realizados segundo a ABNT NBR 7222 e a ABNT NBR 12142, respectivamente. A resistência à tração direta fct pode ser considerada igual a 0,9 fct,sp ou 0,7 fct,f ou, na falta de ensaios para obtenção de fct,sp e fct,f, pode ser avaliado o seu valor médio ou característico por meio das equações seguintes: fct,sp=0,3 fck2/3 fctk,inf=0,7 fct,m (1) fctk,sup=1,3 fct,m onde: fct,m e fck são expressos em megapascal. Sendo fckj ≥ MPa, estas expressões podem também ser usados para idades diferentes de 28 dias. 2.5.1.5. Módulo de elasticidade Segundo a NBR 6118/2003, item 8.2.8, o módulo de elasticidade deve ser obtido segundo ensaio descrito na ABNT 8522, sendo considerado nesta norma o módulo de deformação tangente inicial corresponde a 30% fc, ou outra tensão especificada em projeto. Quando não forem feitos ensaios e não existirem dados mais precisos sobre o concreto usado na idade de 28 dias, pode-se estimar o valor do módulo de elasticidade usando a expressão. Eci=5600 fck1/2 (2) 26 Onde: Eci e fck são dados em megapascal. O módulo de elasticidade numa idade j ≥ 7 d pode também ser avaliado através dessa expressão, substituindo-se fck por fckj. Quando for o caso, é esse módulo de elasticidade a ser especificado em projeto e controlado em obra. O módulo de elasticidade secante a ser utilizado nas análises elásticas de projeto, especialmente para determinação de esforços solicitantes e verificação de estados limites de serviço, deve ser calculado pela expressão: Eci= 0,85 Eci (3) Na avaliação do comportamento de um elemento estrutural ou seção transversal pode ser adotado um módulo de elasticidade único, à tração é à compressão, igual ao módulo de elasticidade secante (Ecs). Na avaliação do comportamento global da estrutura e para o cálculo das perdas de protensão, pode ser utilixado em projeto o módulo de deformação tangencial (Eci). 2.5.1.6. Efeito de Rusch Uma das características do concreto é a perda da sua resistência para cargas de longa duração. Isso significa que com as mesmas cargas aplicadas com a mesma duração de carregamento, é maior a resistência do concreto carregado progressivamente que o concreto carregado rapidamente e mantido sob carga constante. Segundo LINDQUIST (2010), a relação entre a resistência obtida em um ensaio lento e a resistência obtida num ensaio rápido, sendo ambos com a mesma idade, é consistentemente independente da qualidade do concreto e da idade do início de carregamento. Esta relação pode ser admitida com a 27 tendência de ficar entre os limites 0,75 e 0,80, sendo considerado igual ao primeiro limite. Portanto, para consideração do efeito Rusch, o concreto deve ser considerado com um fator de redução de 0,75. Este valor é modificado e incluído coeficiente α. 2.5.1.7. Coeficiente do Poisson e módulo de elasticidade transversal Para tensões de compressão menores que 0,5 fc, e tensões de tração menores que fct, o coeficiente de Poisson νpode ser tomado como igual a 0,2 e o módulo de elasticidade transversal Gc igual a 0,4 Ecs. (ABNT NBR 6118/2003, item 8.2.9). Segundo MARINO (2006), a equação clássica da Resistência dos Materiais para determinação do módulo de elasticidade transversal G não é seguida a risca pela norma brasileira 6118/2003. Para se obter Gc igual a 0,4 Ecs, seria necessária a imposição de um coeficiente de Poisson igual a 0,25, ou seja: (4) 2.5.1.8. Diagrama tensão- deformação • Compressão: Para tensões de compressão menores de 0,5 fc, pode-se admitir uma relação linear entre tensões e deformações, adotando-se para módulo de elasticidade o valor secante dado pela expressão constante em 8.2.8. (ABNT NBR 6118/2003, item 8.2.10.1) Para análise no estado limite último, podem ser empregados o diagrama tensão-deformação conforme a figura : 28 FIGURA 5 – DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO FONTE: NBR 6118 (2003) • Tração Para o concreto não fissurado, pode ser adotado o diagrama tensão- deformação bilinear de tração, indicado na figura: (ABNT NBR 6118, item 8.2.10.2). FIGURA 6 – DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO (TRAÇÃO) FONTE: NBR 6110 (2003) 29 2.5.2. Aço O aço é uma liga metálica formada essencialmente por ferro e carbono, que adicionado ao concreto, constitui o concreto armado. 2.5.2.1. Categorias de aço Segundo a NBR 6118/2003, item 8.3.1, nos projetos de estruturas de concreto armado deve ser utilizado aço classificado pela ABNT NBR 7480 com o valor característico da resistência de escoamento nas categorias CA-25, CA- 50 e CA-60. Os diâmetros e seções transversais nominais devem ser os estabelecidos na ABNT NBR 7480. 2.5.2.2. Massa específica Pode-se adotar para massa específica do aço de armadura passiva o valor de 7850 kg/m³. (ABNT NBR 6118, item 8.3.3) 2.5.2.3. Coeficiente de dilatação térmica O valor 10-5/°C pode ser consideradopara o coeficiente de dilatação térmica do aço, para intervalos de temperatura entre – 20°C e 150°C. (ABNT NBR 6118, item 8.3.4) 2.5.2.4. Módulo de elasticidade Na falta de ensaios ou valores fornecidos pelo fabricante, o módulo de elasticidade do aço pode ser admitido igual a 210 GPa. (ABNT NBR 6118, item 8.3.5) 2.5.2.5. Resistência à tração A resistência de cálculo das barras à tração é definida como a tensão no patamar de escoamento fyk, dividida pelo coeficiente de minoração ϫs portanto: 30 (5) 2.5.2.6. Diagrama tensão- deformação Segundo a NBR 6118/2003, item 8.3.6, o diagrama tensão-deformação do aço, os valores característicos da resistência ao escoamento fyk, da resistência à tração fstk e da deformação na ruptura εuk devem ser obtidos de ensaios de tração realizados segundo a ABNT NBR ISO 6892. O valor de fyk para os aços sem patamar de escoamento é o valor da tensão correspondente à deformação permanente de 0,2%. Para cálculo nos Estados Limite de Serviço pode-ser utilizar o diagrama simplificado mostrando na figura, para os aços com ou sem patamar de escoamento. FIGURA 7 – DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO PARA AÇOS DE ARMADURA PASSIVA FONTE: NBR 6118 (2003) 31 2.6. Análises estruturais Segundo CARVALHO (1994), a definição de uma estrutura em concreto armado consiste inicialmente em uma atividade iterativa, ou seja, uma vez arbitradas às posições dos elementos estruturais (pilares, vigas e lajes) e suas dimensões, pode-se calcular os esforços e deslocamentos. Analisando estes dados podem-se introduzir elementos, cancelar, mudar dimensões, pré- dimensionar a armadura e retomar o processo de cálculo. Enfim, sem dúvida nenhuma, o modelo de cálculo empregado é de suma importância na definição da estrutura de pavimento e acaba sendo usado pelo projetista na sua própria formação de experiência no lançamento da estrutura. 2.6.1. Análise linear A análise linear é o primeiro tipo de análise que é apresentado ao engenheiro na graduação. Nesse tipo de análise considera-se que os materiais que constituem a estrutura assumem comportamento elástico-linear. A elasticidade é definida como a propriedade que o um elemento tem de se deformar ao receber ações externas e assim que cessadas as ações, o elemento voltar a sua configuração inicial. Ter um comportamento elástico- linear significa que o material tem propriedades elásticas e que sua deformação é proporcional à intensidade das ações externas. FIGURA 8 – COMPORTAMENTO LINEAR PARA OBTENÇÃO DE ESFORÇOS DA ESTRUTURA FONTE: KIMURA (2007) 32 Conforme mencionado no inicio deste trabalho, em 1676 o físico inglês Robert Hooke foi o primeiro a estabelecer a relação entre tensão e deformação, estabelecendo o que hoje conhecemos como “Lei de Hooke” onde: σ = E x ε (6) sendo: σ = tensão; ε = deformação; E = módulo de elasticidade. O módulo de elasticidade é avaliado por meio do diagrama tensão x deformação do concreto (σ x ε). Devido a não linearidade do diagrama σ x ε (não linearidade física), o valor do módulo de elasticidade pode ser calculado com infinitos valores. Porém, tem destaque o módulo de elasticidade tangente, dado pela tangente do ângulo (α’) formado por uma reta tangente à curva do diagrama σ x ε. Outro módulo também importante é o módulo de elasticidade secante, dado pela tangente do ângulo (α’’) formado pela reta secante que passa por um ponto A do diagrama. Conforme a figura 9. FIGURA 9 – DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE DO CONCRETO NA COMPRESSÃO FONTE: FONTES (2005) 33 A Lei de Hooke é válida para deformações abaixo do limite elástico do material. O comportamento elástico dos materiais segue o regime elástico na lei de Hooke até um determinado valor de força, após este valor, a relação de proporcionalidade deixa de ser definida, sendo necessário recorrer a outro tipo de análise. Os resultados desta análise podem ser empregados na verificação dos Estados Limites de Serviço (ELS). 2.6.2. Análise linear com redistribuição O concreto de um edifício na vida real sob determinadas condições e em certas regiões da estrutura, pode fissurar e o aço atingir o seu patamar escoamento, quando isto ocorre à rígidez dos elementos se alteram, fazendo com que os esforços migrem das regiões menos rígidas para as mais rígidas, desta forma temos que o esforço migra de uma região para outra, ou seja, se redistribui, entretanto devemos saber que este esforço nunca desaparece, pois isto é reflexo das características do concreto armado, que é um material heterogêneo e com comportamento não linear, ao contrário do proposto por Hooke. A análise linear com redistribuição consiste em corrigir os valores de rígidez a flexão e a torção dos elementos presentes nos modelos. Uma vez realizada a análise linear de uma estrutura, é possível proceder a uma redistribuição dos esforços calculados, decorrente da variação de rígidez dos elementos estruturais. A fissuração, e a consequente entrada no Estádio II, de determinadas seções transversais, provoca um remanejamento dos esforços solicitantes, para regiões de maior rígidez. É o caso de vigas contínuas, por exemplo. Ao aumentar-se progressivamente o carregamento de uma viga contínua, fissuras aparecerão primeiramente nos apoios, onde os momentos fletores são maiores. A região do apoio entra no Estádio II quando o concreto tracionado deixa de contribuir na resistência, por ação das fissuras. Ainda sob o carregamento crescente, nota-se um aumento mais rápido dos momentos fletores nos vãos, que ainda estão no Estádio I (seção não fissurada), do que nos apoios. Esse processo continua até a entrada também da região do vão no Estádio II (FONTES, 2005). Conforme o item 14.5.3 da NBR 6118/2003, na análise linear com redistribuição, os efeitos das ações, determinados em uma análise linear, são 34 redistribuídos na estrutura, para combinações de carregamento do ELU – Estado Limite Último. Todos os esforços internos devem ser recalculados de modo a garantir o equilíbrio de cada um dos elementos estruturais e da estrutura como um todo. Os efeitos de redistribuição devem ser considerados em todos os aspectos do projeto estrutural, inclusive as condições de ancoragem e corte de armaduras e os esforços a ancorar. 2.6.3. Análise plástica Conforme o item 14.5.4 da NBR 6118/2003, a análise estrutural é denominada plástica quando as não linearidades puderem ser consideradas, admitindo-se materiais de comportamento rígido plástico ou elasto plástico perfeito. A análise plástica de estruturas reticuladas não pode ser adotada quando: a) Se considerem os efeitos de segunda ordem global; b) Não houver suficiente ductilidade para que as configurações adotadas sejam atingidas. Segundo a lei de Hooke o material plástico é aquele que aplicado uma carga o material perde sua capacidade de retornar a sua forma original, onde ultrapassou a tensão limite ou de escoamento, as deformações tendem a ser tornar permanentes. Em uma análise plástica, admite-se que o concreto armado trabalha na iminência de ruptura, ou seja, que ele apresenta um comportamento correspondente a uma fase posterior à da análise não linear de seu diagrama de tensão-deformação, caracterizada por escoamento de armaduras e pelo progresso de linhas de plastificação ao longo da sua estrutura. Admite-se, pois, neste tipo de análise, um comportamento rígido-plásticoperfeito ou elasto- plástico perfeito para concreto armado, permitindo uma determinação adequada do valor da carga máxima que ele pode ser submetido numa solicitação, carga esta conhecida como carga de ruína ou carga última. (DUARTE, 1998). 35 2.6.4. Análise não linear Conforme exposto no tópico 14.5.5 da NBR 6118/03, em uma análise não linear é considerado o comportamento não linear dos materiais. É importante que toda a geometria da estrutura, e suas armaduras, sejam conhecidas para que a análise não linear seja efetuada, visto que as respostas obtidas destas análises dependem de como a estrutura foi armada. A NBR 6118/03 traz a observação de que as condições de equilíbrio, de compatibilidade e de dutilidade devem ser satisfeitas, sendo que as análises não lineares podem ser utilizadas para determinação de Estado Limite Último e Estado Limite de Serviço. Conforme KIMURA (2007), os sistemas computacionais dispõem de inúmeros tipos de análises não lineares, tornando fundamental que o engenheiro estrutural tenha noções, ainda que superficiais, da influencia dos seus efeitos nos resultados obtidos no processo. De forma simplificada, pode se dizer que uma análise não linear é um cálculo no qual a resposta da estrutura, sejam em deslocamentos, esforços ou tensões, possui um comportamento não linear isto é, desproporcional à medida que um carregamento é aplicado. Essa definição é mais clara por meio das figuras 10a e 10b, onde é possível visualizar melhor o comportamento não linear de uma estrutura, o gráfico da ação x deformação (P x d) possui em seu trecho inicial uma reta, que indica que P e d são proporcionais (inicio do incremento da análise). Esta proporção indica que quando se opta pela análise linear, o módulo de elasticidade é constante e definido, figura 10a. Na Figura 10b apresenta-se a curva ação x deformação (P x d) onde se considera o comportamento não linear da estrutura. Percebe-se que ao aumentar a ação P, aumenta-se também a deformação d, mas sem existir uma proporção. Neste caso, não se tem um módulo de elasticidade definido. 36 FIGURA 10A – COMPORTAMENTO LINEAR DE UM PÓRTICO PLANO FONTE: KIMURA (2007) FIGURA 10B – COMPORTAMENTO NÃO LINEAR DE UM PÓRTICO PLANO FONTE: KIMURA (2007) Alguns fatores que tornam as análises não lineares muito importantes no projeto de estruturas de edifícios de concreto armado são: a consideração do comportamento essencialmente não linear do concreto armado, a consideração de não linearidades físicas e geométricas da estrutura. O tempo de processamento de uma análise não linear torna-se maior do que o de uma análise linear. Conforme KIMURA, nos tempos passados isso onerava demasiadamente a elaboração de um projeto, no entanto, hoje, devido ao grande avanço do desempenho dos computadores, este problema deixou de existir. 37 Existem dois fatores principais que são responsáveis pelo surgimento de comportamento não linear de uma estrutura à medida que o carregamento é aplicado: • Alteração das propriedades dos materiais que compõe a estrutura, designada “não linearidade física”. • Alteração da geometria da estrutura, designada “não linearidade geométrica”. Citando KIMURA (2007), a não linearidade física está relacionada ao comportamento do material empregado na estrutura. O comportamento do concreto fica bastante evidente por meio da observação do diagrama tensão x deformação realizados em ensaios laboratoriais com corpos de prova de concreto. É fácil perceber que a relação entre tensão e deformação não é linear, o que significa que, à medida que o carregamento é adicionado e as tensões aumentam, a resposta do concreto se modifica de forma desproporcional. Outra variável importante em uma análise não linear é a fissuração do concreto a esforços de tração, esse efeito é o que possui grande responsabilidade pelo comportamento não linear das estruturas. A não linearidade geométrica gera uma resposta não linear por parte da estrutura, sendo assim esse efeito é gerado devido às alterações (deformações) da geometria dos elementos estruturais à medida que um carregamento é aplicado ao edifício, à consideração do equilíbrio da estrutura levando-se em conta sua geometria deformada, é denominada como análise de segunda ordem, cujos efeitos são a base para a não linearidade geométrica. Conforme KIMURA, na pratica atual a consideração da não linearidade física de forma aproximada é utilizada na avaliação da estabilidade global de edifícios de concreto. 2.6.5. Análise através de modelos físicos Consiste em modelos físicos de concreto em escala reduzida ou real, de modo a verificar a comportamento da estrutura, este tipo de análise é apropriado quando os modelos de cálculos são insuficientes para modelar a estrutural real. O material do modelo (estrutura reduzida) não precisa ser necessariamente o mesmo do protótipo (estrutura real), mas que tenham o 38 mesmo comportamento e dimensões em escala. Conforme a norma NBR 6118/2003, para a análise da estrutura dos modelos devem ser obtidos resultados para todos os estados limites últimos e de serviços. 2.7. Modelos estruturais Os modelos estruturais são aqueles que visam simular as características condicionantes da estrutura, tais como condições de contorno, esforços, ligações entre os elementos estruturais e discretização dos elementos estruturais. 2.7.1. Modelo de vigas contínuas Conforme CARVALHO (1994), em seus estudos acerca de teorias das estruturas, a determinação dos esforços, deslocamentos e armadura de um pavimento de edifício, que possua vigas, pode ser realizada classicamente através da análise individual dos elementos que se supõe constituí-lo. Desta forma, quando o sistema é constituído de lajes e vigas, analisam-se isoladamente as placas (lajes) apoiadas nos seus contornos em vigas. Estas por sua vez são consideradas indeslocáveis na direção vertical, devido ao fato de possuírem rígidez bem superior às das placas. Supõe-se que as vigas estejam apoiadas em pilares considerados indeformáveis na direção vertical. Assim, as principais hipóteses simplificadoras empregadas neste procedimento são: 1. As placas são constituídas de material elástico, isótropos, lineares e tem pequenos deslocamentos; 2. A rotação nos contornos da placa ou é livre (apoio simples), ou é totalmente impedida (engaste); 3. A ação das placas nas vigas de contorno se faz somente através de forças verticais, não havendo transmissão de momentos de torção nas vigas; 4. Considera-se também, usualmente, que as ações da placa nas vigas são uniformemente distribuídas e que não há transmissão de 39 reação direta para o pilar, ou seja, as cargas para chegarem aos pilares devem passar pelas vigas; 5. Para o cálculo das placas, consideram-se as vigas no seu contorno, indeslocáveis na direção vertical; 6. Considera-se que os pilares são elementos mais rígidos à deformação vertical do que as vigas, funcionando assim como apoios indeslocáveis na direção vertical; 7. Considera-se que os pilares são elementos mais rígidos à deformação vertical do que as vigas, funcionando dessa forma como apoios indeslocáveis na direção vertical; Na primeira hipótese, ao se considerar o material linear, e que a estrutura só tem deslocamentos pequenos, estão sendo consideradas a linearidades físicas e geométricas da estrutura. Citando CARVALHO, o uso de técnicas conservadoras baseadas na subdivisão dos sistemas estruturais, com bastantes simplificações, pode conduzir, para algunstipos de estruturas e solicitações, a valores superestimados de esforços, o que evita uma maior economia de material. A situação mais grave é quando, pelo uso das mesmas técnicas, chega-se a resultados inferiores aos que ocorrem quando a estrutura está em serviço. Nestes casos, embora possa não haver risco de colapso, pode ocorrer uma redução no coeficiente de segurança. 2.7.2. Pórticos planos São estruturas idealizadas por barras não alinhadas e coplanares, é a associação entre vigas e pilares, com carregamentos atuantes no mesmo plano. Os pórticos enrijecidos, são utilizados nos edifícios para melhorar sua estabilidade, pois apresentam barras diagonais que prendem um nó do pórtico ao outro, tornando-se assim indeslocáveis. Para modelar a estrutura através de pórticos planos, os pilares e vigas devem estar alinhados para formar os vários pórticos componentes da estrutura, entretanto esta associação de pórticos fica restrita a edifícios simétricos, quanto à geometria e carregamento. 40 FIGURA 11 – MODELO DE PÓRTICO PLANO FONTE: KIMURA (2007) FIGURA 12 - ASSOCIAÇÃO DE PÓRTICOS PLANOS EM DUAS DIREÇÕES FONTE: GUERRA (2009) FIGURA 13 – PÓRTICO PLANO ENRIJECIDO FONTE: CARVALHO (1994) 41 No pórtico plano, cada nó de uma barra possui três graus de liberdade: duas translações (direção x e y) e uma torção (em torno do eixo z). Como podemos ver na Figura 14. Com os graus de liberdade podemos obter os esforços solicitantes (força normal, força cortante e momento fletor). No pórtico plano como as cargas atuam no mesmo plano não podemos calcular os momentos torsores. Os nós, pontos de interseção dos elementos, pode, possuir ligações rígidas, semirrígidas ou flexíveis. FIGURA 14 – GRAUS DE LIBERDADE DE UM NÓ DE PÓRTICO PLANO FONTE: KIMURA (2007) No cálculo do pórtico plano as lajes não são consideradas, para isto elas devem ser calculadas por outro método (Teoria da Elasticidade, analogia de grelha, elementos finitos, Czerny, Marcus, etc.). As lajes são usualmente consideradas como diafragmas rígidos, que são elementos capazes de compatibilizar a resposta horizontal em todos os pontos pertencentes a um piso de forma equivalente. Para que as lajes sejam consideradas no pórtico plano, podemos calcular as reações de apoio de lajes, conforme o item 14.7.6.1 da NBR 6118/2003, onde se permite calcular as reações de apoio de lajes retangulares sob carregamento uniformemente distribuído considerando-se, para cada apoio, a partir dos vértices, na planta da laje, retas inclinadas de: ⎯ 45° entre dois apoios do mesmo tipo; ⎯60° a partir do apoio considerado engastado, se o outro for considerado simplesmente apoiado; ⎯ 90° a partir do apoio, quando a borda vizinha for livre. 42 Como podemos ver na figura 15, as cargas da laje são distribuída nas vigas por áreas de influência (ou telhados), conforme o item 14.7.6.1 da NBR 6118/2003. FIGURA 15 – DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS PARA O PÓRTICO PLANO FONTE: TQS INFORMÁTICA (2010) 2.7.3. Pórticos espaciais Os Pórticos Espaciais são idealizações de estruturas de barras distribuídas no espaço, geralmente formando quadros fechados, que podem receber carregamentos em qualquer direção, o que possibilita a avaliação global da estrutura, formada por vigas, pilares e lajes. FIGURA 16 – MODELO DE PÓRTICO ESPACIAL FONTE: KIMURA (2007) 43 No pórtico espacial, cada nó de uma barra possui seis graus de liberdade: três translações (nas direções x, y e z) e três rotações (em torno dos eixos x, y e z). Como podemos ver na Figura 17, com os graus de liberdade podemos obter os esforços solicitantes (força normal, força cortante, momentos fletor e momento torsor). Diferente do pórtico plano onde as cargas atuam no mesmo plano, no pórtico espacial como as cargas atuam em qualquer direção, sendo que podemos calcular até os momentos torsores. FIGURA 17 - GRAUS DE LIBERDADE DE UM NÓ DE PÓRTICO ESPACIAL FONTE: KIMURA (2007) Como no pórtico plano, as lajes usualmente não estão presentes no modelo de pórtico espacial, pois são tratadas como elemento de grande rígidez no plano horizontal, visto que as lajes são elementos capazes de compatibilizar a resposta da estrutura em todos os pontos pertencentes a um piso de forma equivalente. Por outro lado vem sendo muito utilizado o modelo de pórtico plano para a análise de pavimentos inteiros (vigas + lajes), pois se torna possível avaliar a distribuição dos esforços horizontais oriundos das ações como retração e protensão. 2.7.4. Modelo de grelhas Conforme a NBR 6118/03, tópico 14.6.7.2, os pavimentos dos edifícios podem ser modelados como grelhas, para estudo das cargas verticais, considerando-se a rigidez à flexão dos pilares de maneira análoga à que foi prescrita para as vigas contínuas. De maneira aproximada, nas grelhas (e 44 também nos pórticos espaciais), pode-se reduzir a rígidez à torção das vigas por fissuração utilizando-se 15% da rígidez elástica. Segundo CARVALHO (1994), o modelo de grelha é um procedimento simples que pode ser usado para o cálculo de esforços e deslocamentos de pavimentos de edifícios, desde que não sejam consideradas as desproporcionalidades presentes na estrutura (não linearidades). Citando CARVALHO (1994), o procedimento consiste em substituir a placa (laje) por uma malha equivalente de vigas (grelha equivalente). O conceito pode ser estendido para o caso de placas que se apoiam diretamente em pilares. No caso de estruturas reticuladas há também a possibilidade do uso de grelhas, conforme ilustrado na figura a seguir. FIGURA 18 – (A) PLANTA DE UM PAVIMENTO HIPOTÉTICO COM VIGAS E LAJES. (B) DISCRETIZAÇÃO DO PAVIMENTO POR MEIO DE GRELHA ONDE OS PILARES FUNCIONAM COMO APOIO SIMPLES FONTE: CARVALHO (1994) A composição da grelha se dá por meio de estruturas planas reticuladas que recebem ações perpendiculares ao seu plano. Em cada cruzamento entre os elementos reticulados (barras) é definido um nó que possui três graus de liberdade: translação vertical e duas rotações no plano. 45 FIGURA 19 – GRAUS DE LIBERDADE EXISTENTES NO NÓ FONTE: KIMURA (2007) Existe a possibilidade do cálculo das grelhas sem a consideração das lajes, denominada de grelha somente de vigas, onde a análise é feita por processos aproximados. Conforme KIMURA (2007), cada barra do modelo possui uma seção (áreas, inércias) e um material (módulos de elasticidade longitudinal e transversal), que são definidos de acordo com a geometria (seção transversal) e o material (concreto) da viga, respectivamente. Por meio desse modelo não é possível analisar os efeitos causados por ações horizontais no edifício (ex: vento, empuxo). Na prática atual, o modelo de grelha somente vigas ainda é utilizado na análise das vigas de um pavimento, mas teve seu uso praticamente substituído pela análise de grelha de vigas e lajes. Citando KIMURA (2007), a análise por meio de grelhas com vigas e lajes trata-se de um modelo direcionado para a análise de pavimentos. É composto por elementos lineares dispostos no plano horizontal do piso que simulam as vigas e as lajes, formando uma malha de barras submetida também a cargas verticais. Neste modelo cada painel de laje é subdividido em diversos alinhamentos de barras, usualmente posicionadas na direção principal e secundária da mesma. Essa discretização faz com que cada barra represente um trecho do pavimento. Usualmente adotam-se barras de laje com comprimento máximo igual a 50 cm. Em regiões comgrande concentração de esforços, e que necessitam de uma análise mais detalhada, pode-se refinar a subdivisão gerando uma malha mais densa nesses locais. 46 FIGURA 20 – DISCRETIZAÇÃO DO PÓRTICO POR MEIO DE GRELHAS FONTE: KIMURA (2007) Citando KIMURA (2007), a interação entre todas as lajes e vigas do pavimento pode ser considerada de forma bastante precisa, a transferência de cargas das lajes para as vigas é feita em função da rígidez de cada barra. Na pratica atual, o modelo de grelha de vigas e lajes é muito utilizado na análise de pavimentos de concreto armado. Ele abrange praticamente todos os tipos de lajes usados nas edificações. 2.8. Esforços e combinações Os carregamentos inseridos em uma análise estrutural podem ser realizados conforme os parâmetros estabelecidos na NBR 6120/80 – Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Para a consideração dos carregamentos em uma estrutura de edifícios, temos que eles são definidos em permanentes e acidentais. Conforme a NBR 6120/80, o carregamento permanente é constituído pelo peso próprio da estrutura e pelo peso de todos os elementos construtivos fixos e instalações permanentes. O carregamento acidental é aquele que pode atuar sobre a estrutura de edificações em função do seu uso (pessoas, móveis, materiais diversos, veículos etc.). Os valores de carregamentos estão referenciados no item A.4, que são basicamente uma cópia da NBR 6120. Segundo MARINO (2006), para materiais de acabamento ou coberturas, podem ser adotados os seguintes valores: 47 Materiais Peso KN/m² Cerâmica Tacos Cobertura de telhas francesas (com vigamento) Cobertura de telhas coloniais (com vigamento) Cobertura de fibrocimento (com vigamento) Cobertura de alumínio (com vigamento) 0,70 0,65 0,90 1,20 0,30 0,16 QUADRO 1 – VALORES ADICIONAIS DE CARREGAMENTOS PERMANENTES FONTE: MARINO (2006) Em edifícios residenciais as cargas acidentais mínimas a serem adotadas variam entre 1,5 KN/m² e 2 KN/m². Entretanto estes valores mínimos não devem ser atribuídos a esmo, devendo o engenheiro de estruturas defini- los com cuidado, tanto os carregamentos acidentais quanto os permanentes. Para a definição do peso das paredes, é necessário que seja conhecido o tipo de tijolo (maciço ou furado) e da espessura do reboco. Este peso é normalmente apresentado por metro quadrado de parede (parede de 1 m de largura por 1m de altura). Para materiais componentes de parede podem ser utilizados os seguintes valores: FIGURA 21 – CONSIDERAÇÃO DE CARGAS DE PAREDE FONTE: MARINO (2006) 48 Material Peso (KN/m³) Tijolo furado Tijolo maciço Reboco 12 16 20 QUADRO 2 – PESOS ESPECÍFICOS DE TIJOLOS FONTE: MARINO (2006) O quadro seguinte apresenta alguns valores de peso de parede, sendo que para composição desta tabela foi considerado a espessura do reboco igual a 2,5 cm por face Parede sem reboco Tijolo (cm) Tijolo furado (KN/m²) Tijolo maciço (KN/m²) 10 1,20 1,60 12 1,44 1,92 15 1,80 2,40 20 2,40 3,20 Parede com reboco 15 2,20 2,60 17 2,44 2,92 20 2,80 3,40 25 3,40 4,20 QUADRO 3 – CARGAS DE PAREDE EM FUNÇÃO DA ESPESSURA FONTE: MARINO (2006) De maneira genérica, o peso de uma parede rebocada nas duas faces, pode ser definido pela seguinte expressão. rebocotijtijolotijoloparede eeP γγ 2+= (7) 49 Os carregamentos atuantes numa estrutura são compostos por várias ações que podem atuar simultaneamente, sendo necessário que sejam combinadas para situações mais desfavoráveis da atuação no edifício. Conforme KIMURA (2007), um edifício dificilmente estará sujeito a aplicação de apenas uma ação isolada, mas sim submetido a várias ações ao mesmo tempo, sendo então que um projeto de estruturas deve ser projetado contemplando várias combinações de ações ponderadas. Apesar dos softwares estarem preparados para analisar e visualizar os resultados de ações de forma isolada, o que vale de fato são as combinações, pois todos os elementos que compõe a estrutura devem ser dimensionados e verificados para ações atuando de forma conjunta. A norma NBR 8681/03 – Ações e segurança nas estruturas – e a NBR 6118/03, apresentam quatro tipos de combinações para análise em ELU sendo elas: normal, especial, excepcional e de construção. Em termos gerais as combinações normais são aquelas utilizadas usualmente nos projetos de estruturas, nas suas mais variadas formas e para consideração de ELU e ELS, sendo que a composição dos esforços de calculo para este tipo de combinação se dá pela seguinte expressão: qkq n j qjkjKqqgkggkg FFFFFFd εεεεε ψγψγγγ 0 2 01 )( ++++= ∑ = (8) Onde cada parcela de carga é dividida em direta (PP, empuxo, cargas de uso, vento) e indireta (retração, imperfeições, temperatura) e nas parcelas de carga variável há a divisão entre principal e secundária. Os carregamentos especiais decorrem de ações variáveis de natureza ou intensidade especial. Sua consideração é importante para a consideração de ELU. Os carregamentos excepcionais derivam de ações que podem causar efeitos catastróficos na estrutura, sendo que é importante sua consideração no ELU. Por fim os carregamentos de construção são aqueles atuantes durante a fase de construção da estrutura, sendo necessária a composição de combinações nas suas mais variadas formas de ocorrência. 50 Para análise no ELS as combinações contempladas na norma NBR 6118/03 são definidas como: quase permanente, frequente e rara, sendo as duas primeiras mais usuais em edifícios de concreto armado, nas combinações quase permanente são verificadas as deformações excessivas (ELS-DEF) e a segunda é empregada na verificação dos estados limites de formação de fissuras (ELS-F), abertura de fissuras (ELS-W) e vibrações excessivas (ELS- VIB). As expressões que caracterizam as combinações quase permanentes e frequentes estão apresentadas a seguir. ∑∑ == += n j qjkj n j gjk FFserFd 1 2 1 , ψ (9) ∑∑ == += n j qjkjkq n j gjk FFFserFd 2 211 1 , ψψ (10) As ações que compõe os carregamentos lançados na estrutura são majoradas por coeficientes de ponderações (γf), que levam em conta as incertezas existentes na análise estrutural, e nos comportamentos dos materiais, de forma que γf seja equivalente a γf1x γf2 x γf3,. Esses coeficientes são adicionados nos valores característicos das ações (Fk), de forma de a estrutura seja dimensionada pelas solicitações de calculo (Sd). No anexo A, tópico A.5, estão apresentados os valores de coeficientes de ponderação retirados da norma. Outra questão importante é a consideração da resistência dos materiais com sua capacidade reduzida. A NBR 6118/03 apresenta valores para os coeficientes de minoração dos materiais, conforme a expressão a seguir: γm= γm1 γm2 γm3 (11) No entanto para considerações de ELS não há necessidade de redução da capacidade resistente dos materiais, de modo que γm seja igual a 1,0. 51 3. FERRRAMENTAS COMPUTACIONAIS O TQS, Eberick e CYPECAD foram escolhidos para fazer as análises de resultados em uma estrutura de edifício, porque são os programas mais utilizados no Brasil, eles são os recursos computacionais
Compartilhar