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Teoria do Fato Jurídico Plano da Existência Marcos Bernardes de Mello CAP 3

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Extraído de
Teoria do fato jurídico; plano da
existência
CAPÍTULO III - Os Elementos da Estrutura da
Norma Jurídica
83
CAPÍTULO III
Os Elementos da Estrutura da 
Norma Jurídica
§ 12. O suporte fáctico
1. Conceito
No estudo da problemática da juridicidade o primeiro elemento 
essencial a considerar é a previsão, por norma jurídica, da hipótese 
fáctica condicionante da existência do fato jurídico (= o antecedente 
da estrutura lógica da proposição normativa, a que Pontes de Miranda 
denominou suporte fáctico, traduzindo a expressão Tatbestand, criada 
pela doutrina alemã).
Quando aludimos a suporte fáctico, estamos fazendo referência a 
algo (= fato, evento ou conduta) que poderá ocorrer no mundo e que, por 
ter sido considerado relevante, tornou-se objeto da normatividade ju-
rídica. Suporte fáctico, assim, constitui um conceito do mundo dos 
fatos, não do mundo jurídico, porque somente depois que se concretizam 
(= ocorram) no plano das realidades todos os elementos que o compõem 
é que se dá a incidência da norma, juridicizando-o e fazendo surgir o fato 
jurídico. Portanto, somente a partir da juridicização poder-se-á falar em 
mundo e conceitos jurídicos.
2. Espécies
Por aí já se vê, há duas conotações a considerar quando se fala em 
suporte fáctico48:
48. Domenico Rubino (La fattispecie e gli effetti giuridici preliminari, p. 3) se 
refere a três espécies de fattispecie (suporte fáctico): (a) abstrata ou legislativa — que 
corresponde ao que denominamos hipotético; (b) concreta, que corresponde à fattis-
pecie abstrata “mas pensada no seu devir histórico” e ‘‘distingue-se da fattispecie 
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(a) uma que designa a parte do enunciado lógico da norma em que 
se descreve a situação de fato relevante condicionante de sua incidência;
(b) outra, que nomeia o próprio fato quando materializado no 
mundo.
 (a’) Ao suporte fáctico, enquanto considerado apenas como 
descrito no enunciado lógico da norma jurídica, se dá o nome de supor-
te fáctico hipotético ou abstrato, uma vez que existe, somente, como 
hipótese prevista pela norma sobre a qual, se vier a ocorrer, dar-se-á sua 
incidência juridicizante.
 (b’) Ao suporte fáctico quando já materializado, vale dizer, 
quando os fatos previstos como hipótese se torna realidade no mundo 
fáctico, denomina-se suporte fáctico concreto.
3. Significação e importância do conceito
A expressão suporte fáctico foi utilizada inicialmente no direito 
penal, e trazida para o direito privado por Tohl, segundo o depoimento 
de Cammarata49. O conceito, conforme demonstra Pontes de Miranda no 
prefácio do seu Tratado de direito privado, é de aplicação universal na 
Ciência Jurídica, não sendo privativo de um determinado ramo do direi-
to. Tanto isso é verdade que nos diversos campos jurídicos o vemos 
legislativa porque não é concebida como parte constitutiva da norma; mas volta a 
assemelhar-se à fattispecie legislativa porque é simplesmente pensada e é, num 
certo sentido, uma abstração: não uma abstração criada pela lei, como a fattispecie 
legislativa, mas uma abstração que o intérprete extrai de todas as possíveis fattispe-
cies reais”; e (c) fattispecie real, que corresponde àquele que denominamos suporte 
fáctico concreto, ou seja, “os fatos da vida individuados no tempo e no espaço”. Essa 
proposta de Rubino, no que se refere à fattispecie concreta, segundo sua terminolo-
gia, parece-nos sem importância prática ou científica. A abstração do intérprete não 
pode ser diferente da abstração do legislador. A diferença entre as duas reside, 
apenas, no nível de linguagem prescritiva na norma e descritiva da ciência. Se a 
descrição do suporte fáctico feita pelo intérprete é diferente da previsão da norma, 
há erro e a formulação é não verdadeira (inverídica, como anota Kelsen, Teoria pura 
do direito, p. 82). Além disso, as formulações que o intérprete faça de suportes 
fácticos, a partir do suporte fáctico previsto na lei, não constituem suportes fácticos 
concretos, mas permanecem abstratos: a concreção exige realidade. Por isso, prefe-
rimos a menção, apenas, às duas espécies, como no texto.
49. Formalismo e sapere giuridico, p. 256. Também Domenico Rubino, La 
fattispecie, cit., p. 3, nota 1.
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empregado muitas vezes disfarçado em outras denominações, tais como 
pressuposto de incidência, tipificação legal, tipo legal, hipótese de inci-
dência. No direito tributário, emprega-se a expressão fato gerador, em-
bora com muita impropriedade, como mostramos em nossa Contribuição 
ao estudo da incidência da norma jurídica tributária, p. 34, porque na 
verdade o fato gerador da obrigação tributária é o fato jurídico, portanto, 
o suporte fáctico depois de juridicizado pela incidência, e não o suporte 
fáctico quando ainda tão somente conjunto de fatos. Entre os autores 
italianos está difundido o uso do termo fattispecie — proposto por Betti 
—, e entre os autores de língua espanhola a expressão supuesto de hecho50.
4. Elementos do suporte fáctico
4.1. Relevância dos fatos
A norma jurídica representa a valoração de fatos da vida feita pela 
comunidade jurídica. Realmente, quando a comunidade jurídica traça as 
50. E. García Máynez (Introducción al estudio del derecho, p. 170) condena 
todas as expressões empregadas pela doutrina quando nelas se inclua alusão a fato, 
tais como suporte fáctico, Tatbestand, supuesto de hecho, fattispecie, com o argu-
mento de que, muitas vezes, o suporte fáctico da norma jurídica é precisamente o 
não ser, o não ter acontecido, a omissão, o silêncio, donde parecer incoerente a 
referência a um ser (o fato), onde não há qualquer fato previsto. Propõe, por isso, o 
emprego da expressão hipótese jurídica (supuesto jurídico) que evitaria o inconve-
niente da referência ao não ser como ser.
Esse argumento, aparentemente coerente e inegavelmente atraente, peca, no 
entanto, por confundir com a causalidade natural a causalidade jurídica — que é 
imputacional — e também por desconsiderar um dado fundamental da juridicidade: 
o plano lógico em que se desenvolve o fenômeno jurídico. A ordem jurídica não está 
sujeita à causalidade natural, porque sendo uma ordem de valência se constitui in-
dependentemente das leis físicas de causa e efeito. Por isso, na formulação dos 
preceitos jurídicos os fatos da vida são tomados em um certo sentido que pode não 
ser, exatamente, o da natureza. Nisso há, inegavelmente, uma certa arbitrariedade 
conforme denotam autores como Von Tuhr, Pontes de Miranda, Larenz, entre tantos 
outros — mas admissível em face da necessidade de atender aos interesses da con-
vivência humana. É certo, porém, que a causalidade natural é indiferente às impu-
tações da norma jurídica. Disso se conclui que o não acontecer que eventualmente 
esteja previsto como integrante do suporte fáctico de uma norma jurídica, embora 
no plano da natureza configure o não ser, no plano jurídico representa um dado 
fáctico cuja verificação faz composto o suporte fáctico e nascido o fato jurídico 
correspondente.
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regras jurídicas de convivência social trata os fatos segundo critérios 
axiológicos, em razão dos quais é medida a importância que possam ter 
para o relacionamento inter-humano. A regulação dos fatos, assim, de-
pende da sua maior ou menor interferência no meio social, afetando as 
necessidades dos homens. Por isso é que, para serem erigidos à catego-
ria de fato jurídico, basta que os fatos do mundo — meros eventos ou 
condutas — sejam relevantes à vida humana em sua interferência inter-
subjetiva, independentemente de sua natureza. Tanto o simples evento 
natural como o fato do animal e a conduta humana podem ser suportes 
fácticos de normas jurídicas e receberum sentido jurídico.
4.2. Fatos da natureza e do animal
Do fato da natureza ou do animal se exige que esteja relacionado 
a alguém51, ou por lhe dizer respeito diretamente ou por lhe atingir a 
esfera jurídica, ou, ainda, por se referir a seu modo de atuar. Natural-
mente, a irreferibilidade aos homens impede que o mero evento seja 
valorado no sentido de sobre ele editar-se norma jurídica, porque a sua 
relevância existe, apenas, enquanto instrumento de realização do di-
reito, com vistas à adaptação social. Tudo o que, na natureza, não 
possa ser atribuído ao homem ou lhe seja inacessível constitui objeto 
materialmente impossível e, portanto, não deve entrar nas cogitações 
do direito.
4.3. Atos
Quanto aos atos humanos, de regra, interessam os que se dão ao 
conhecimento das pessoas52. Como as normas jurídicas os recebem — se 
51. O nascimento de um filhote de peixe em pleno mar não tem qualquer 
conteúdo jurídico, em face da circunstância de que o animal, não pertencendo a al-
guém especificamente (= sendo adéspota), não constitui objeto de direito.
Diferentemente, se nasce o filhote de um peixinho em um aquário, esse nas-
cimento tem caráter jurídico, porque desse fato biológico resulta uma consequência 
jurídica: o dono do aquário terá direito de propriedade sobre o filhote.
52. O conhecimento do fato somente constitui elemento integrante do suporte 
fáctico quando a norma jurídica lhe atribui algum efeito relativamente ao fato jurí-
dico (Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. I, § 44, 3), como acontece 
com o fato jurídico da morte (morte não conhecida é ausência).
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como atos volitivos, mesmo silentes53 ou tácitos54, ou como avolitivos55 
— é questão de técnica jurídica, especialmente de expressão legislativa. 
O sistema jurídico pode conceber determinado ato humano como mani-
festação de vontade intencional e qualificá-lo como ato jurídico (lato 
sensu), ou considerá-lo avolitivo, em que passa a importar, preponderan-
temente, o resultado fáctico da conduta, abstraída a vontade que porven-
tura exista à sua base, classificando-o como ato-fato jurídico. É evidente 
que o sentido que a norma jurídica atribui ao ato é valorativo, o que 
envolve certa arbitrariedade em relação à causalidade natural, sem, 
contudo, se poder chegar ao extremo de, desa tendendo à índole mesma 
dos fatos e à natureza das coisas, afrontá-las a ponto de dizer que o ser 
não é. Há certas condutas, porém, que, independentemente do querer das 
pessoas, trazem sempre e naturalmente um resultado físico, muitas vezes 
irremovível. Na caça, na pesca, a apreensão do animal ou do peixe é 
dado fáctico que não depende da vontade. Um louco pode pescar, como 
uma criança pode apreender um animal. A árvore pode nascer de uma 
semente que foi atirada fora como lixo. Nem por isso deixa o louco, a 
criança ou o dono do terreno de adquirir a propriedade (efeito jurídico) 
sobre o peixe pescado, o animal caçado ou a árvore nascida. Em todas 
essas situações, como em tantas outras de que são exemplos a especifica-
ção, a tomada de posse, a invenção, a descoberta do tesouro, a comistão, 
há uma consequência física indiferente à circunstância de que alguém a 
tenha querido. É evidente que tais fatos, em havendo conduta humana 
à sua origem, podem ser volitivos, mas é patente, também, que a vontade 
de praticá-los não lhes é essencial à existência. Por essa razão é que os 
ordenamentos jurídicos, geralmente, tomam tais atos em sua relação com 
o resultado fáctico e os tratam como condutas avolitivas, atendendo mais 
à própria causalidade física. São os atos reais, espécies de atos-fatos 
jurídicos (ver adiante § 35).
4.4. Dados psíquicos
Não apenas os atos, mas simples atitudes e dados anímicos, que, 
portanto, permanecem internos, sem exteriorização, podem, também, 
53. Revogação do testamento cerrado na hipótese do art. 1.972 do Código 
Civil. Assim também o silêncio concludente (Código Civil, art. 111).
54. Consumição da coisa ofertada.
55. Especificação, semeadura.
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integrar suporte fáctico. Com efeito, há situações em que a norma jurí-
dica leva em consideração dados íntimos, como o conhecimento ou não 
conhecimento de alguma circunstância, a intenção na prática de certo 
ato e até os motivos em praticá-lo. Esses dados, naturalmente, são signi-
ficativos tão somente enquanto relacionados a um acontecimento, um 
ato materializado, não em si ou isoladamente. A interpelação para cons-
tituir o devedor em mora, por exemplo, faz do conhecimento daquele a 
quem é dirigida elemento essencial do suporte fáctico do parágrafo 
único do art. 397 do Código Civil. Do mesmo modo, o desconhecimento, 
pelo possuidor, dos vícios que o impedem de adquirir a coisa (Código 
Civil, art. 1.201), dentre tantas outras situações. Algumas vezes, porém, 
o desconhecimento não tem qualquer relevância, como na hipótese dos 
vícios redibitórios, em que o fato de o alienante ignorar a sua existência 
não exclui a sua responsabilidade (Código Civil, art. 443, 2ª parte). O 
dolo — não o dolo vício de vontade, mas a intenção consciente de certa 
conduta — constitui elemento comum ao suporte fáctico de normas de 
direito penal, mas é também encontrável, embora com certa raridade, 
no direito privado, como acontece nos arts. 147, 180 e 403 do Código 
Civil, e.g. A intenção negocial — intenção de realizar negócio jurídico 
— inte gra, como a consciência de negócio, o núcleo do suporte fáctico 
dos negócios jurídicos.
4.5. Estimações valorativas
Outras vezes, estimações valorativas56 podem integrar suporte 
fáctico. A malícia é conteúdo do art. 129 do Código Civil, assim também 
a idoneidade do tutor (Código Civil, art. 1.732, caput), a negligência e 
a imprudência (Código Civil, art. 186), a imoralidade do objeto de atos 
jurídicos e aqueles comportamentos atentatórios aos bons costumes 
(Código Civil, art. 122 c/c o art. 123, II) exemplificam casos em que a 
conduta humana recebe uma avaliação e que a qualificação valorativa 
a ela atribuída entra na composição do suporte fáctico.
4.6. Probabilidades
Não apenas acontecimentos em concreto, mas também meras pro-
babilidades podem ser elementos de suporte fáctico. Os lucros cessantes 
56. Larenz, Metodología de la ciencia del derecho, p. 194.
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(Código Civil, art. 402), por exemplo, constituem probabilidade que a 
norma jurídica considera dado suficiente à indenizabilidade em decor-
rência do ilícito. Na ressalva dos direitos do nascituro que faz a segunda 
parte do art. 2º do Código Civil, do mesmo modo, se tem como funda-
mento a probabilidade de que haja um nascimento com vida, a possibi-
lidade de o feto vir a ser uma pessoa.
Assim, também, quando o Código Civil, art. 1.799, I, admite a 
disposição testamentária em favor de prole eventual de pessoas existen-
tes, ou, ainda, quando no art. 1.281 outorga ao proprietário ou possuidor 
de um prédio pretensão à segurança contra prejuízo eventual, no caso de 
dano iminente decorrente de obras que terceiro tenha o direito de nele 
realizar, têm-se espécies em que probabilidades estão previstas em su-
portes fácticos.
4.7. Fatos do mundo jurídico
Fatos jurídicos e efeitos jurídicos também podem constituir ele-
mentos de suporte fáctico. Autores como Enneccerus-Nipperdey57, Von 
Tuhr58 e Larenz59 mencionam apenas a possibilidade de que efeitos de 
fatos jurídicos integrem suporte fáctico de normas jurídicas. Realmente, 
as situações mais comumente encontráveis são as em que efeitos jurídi-
cos (relações jurídicas, direitos, deveres etc.) aparecem como suporte 
fáctico. A mora, por exemplo (que é efeito do Código Civil, art. 394), é 
suporte fáctico da ressarcibilidade dos danos (Código Civil,art. 389 c/c 
o art. 395). Da mesma forma, a personalidade jurídica das sociedades 
(efeito do Código Civil, art. 45) é elemento completante do suporte 
fáctico dos negócios jurídicos que realiza. Todo ato ilícito relativo pres-
supõe, como suporte fáctico, a existência de uma relação jurídica de 
direito relativo entre o que descumpriu as obrigações que são conteúdo 
dela, relação, e aquele que sofreu os danos do descumprimento.
Mas, apesar de serem mais frequentes esses casos, há hipóteses em 
que são os próprios fatos jurídicos que constituem o suporte fáctico de 
outros fatos jurídicos. O suporte fáctico dos contratos tem como elemen-
tos nucleares dois fatos jurídicos (negócios jurídicos unilaterais): a 
57. Tratado de derecho civil, t. I, v. 2º, p. 5.
58. Teoría general del derecho civil alemán, v. I, t. II, p. 9.
59. Metodología de la ciencia del derecho, p. 193.
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proposta (oferta) e a aceitação. Pode parecer incoerente essa afirma-
tiva quando considerada diante daquela outra de que suporte fáctico 
é conceito pré-jurídico, do mundo dos fatos, e não do mundo do di-
reito. Como considerar fáctico o que é jurídico? Esclarecemos. O fato 
jurídico e o efeito jurídico estão no mundo jurídico, mas nem por isso 
deixam de integrar, com essa característica de jurídico, o mundo em 
geral, dito mundo dos fatos. O mundo jurídico é, apenas, parte do 
mundo geral, portanto compõe o todo. O fato jurídico, como os efeitos 
jurídicos, quando entram na composição de um suporte fáctico, são 
tomados como fato jurídico ou como efeito jurídico, tal qual são. Não 
voltam a ser fáctico desqualificado de jurídico, mas continuam a ser 
fáctico adjetivado de jurídico. A distinção entre mundo dos fatos 
(geral) e mundo do direito é puramente lógica, nunca fáctica. O que 
interessa, portanto, como bem demonstram Pontes de Miranda60 e 
Enneccerus-Nipperdey61, é a existência do fato jurídico ou de efeito 
jurídico, como tais, porque é essa existência que importa à composi-
ção do suporte fáctico do outro fato jurídico; quer dizer: se a norma 
jurídica tem como pressuposto de sua incidência (= suporte fáctico) 
fato já juridicizado por outra norma jurídica (= fato jurídico), somente 
se comporá seu suporte fáctico se aquele fato já existir juridicizado. 
O pressuposto do crime de bigamia (Código Penal, art. 235) é o fato 
jurídico do casamento do bígamo. Se, em vez de casamento, há união 
estável, não se pode falar em bigamia. O fato social de homem e 
mulher se unirem e terem uma vida em comum é o mesmo no casa-
mento e na união estável, mas, juridicamente, a diferença é insuperável, 
porque no casamento à juridicização do fato social se imputa, dentre 
outros, como efeito jurídico, a impossibilidade de qualquer dos côn-
juges contrair outro casamento enquanto vigente o laço matrimonial 
anterior. Na união estável, por inexistir expressa proibição legal, não 
há como se falar em bigamia, mesmo quando a pessoa casada, na 
vigência do casamento, estabelece, concomitantemente, uma união 
estável, nem como quando alguém, simultaneamente, mantém duas 
uniões estáveis62.
60. Tratado de direito privado, t. I, § 13, 3.
61. Tratado de derecho civil, t. I, v. 2º, p. 5.
62. Até a 8ª edição nos referíamos a concubinato, em face da terminologia até 
então empregada pela legislação, substituindo-a, desde a 9ª edição, por união estável. 
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Com isso se demonstra que o fato jurídico, quando previsto como 
elemento de suporte fáctico, nele entra como fato jurídico63, e não se 
dilui na massa dos fatos, para integrar suporte fáctico.
Também os fatos ilícitos integram suportes fácticos; não apenas os 
fatos jurídicos lícitos. O ser lícito ou ser ilícito é uma qualificação do 
direito. Não há um fato que seja ilícito por natureza, embora haja fatos 
naturais aos quais é imputada a pecha da ilicitude (caso fortuito e força 
maior, no caso do art. 399 do Código Civil).
Na mora, por exemplo, o suporte fáctico é o ilícito relativo do 
descumprimento da obrigação no tempo, lugar ou forma pactuados. Na 
perda do poder familiar (Código Civil, art. 1.638, I), o suporte fáctico 
se constitui do ato ilícito caducificante, caracterizado pelo ato de casti-
gar, o pai ou a mãe, imoderadamente, o filho.
4.8. A causalidade física
Embora, como já referimos, a ela a norma jurídica não esteja su-
jeita, muitas vezes a causalidade física constitui elemento de suporte 
fáctico. Na ilicitude, e. g., o dano há de guardar relação de causalidade 
com o ato de alguém (o agente dito causador), ou relacionado a alguém; 
vale dizer: o dano deve ser decorrência do ato imputado. Se alguém 
atentou contra a vida de outrem, contudo ficar provado que a morte da 
vítima não se deu em consequência do atentado, mas por uma outra 
causa, não haverá crime de homicídio (embora possa haver crime de 
outra espécie, como o de lesão corporal). No entanto, somente se a nor-
ma jurídica liga os seus efeitos à existência da causalidade física é que 
essa causalidade passa a ser elemento de suporte fáctico. Se, ao contrário, 
a norma jurídica toma o evento em si, independentemente de qualquer 
ligação causal física, não há por que considerá-la no plano jurídico.
4.9. O tempo
O tempo cronológico tem considerável importância no mundo do 
direito. A duração dos efeitos jurídicos, a perda e a aquisição dos direitos 
dependem, muitas vezes, de seu transcurso.
Até a 20ª edição usávamos o adultério como exemplo. No entanto, em face de sua 
descriminalização pela Lei n. 11.106/2005, o substituímos pelo crime de bigamia.
63. Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. I, § 13, 4.
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O tempo em si não pode ser fato jurídico, porque é de outra dimen-
são. Mas o seu transcurso integra com muita frequência suportes fácticos: 
na usucapião, na prescrição, na mora, por exemplo. Também as relações 
temporais entre os fatos que compõem o suporte fáctico muitas vezes são 
elementos do próprio suporte fáctico. A contemporaneidade ou a sucessi-
vidade na formação do suporte fáctico, quando previstas expressamente 
pela norma, hão de ser consideradas elementos de suficiência para a 
configuração do fato jurídico respectivo.
4.10. Elementos positivos e elementos negativos
Geralmente, os suportes fácticos são constituídos de elementos 
positivos, tais como acontecimentos simples, acontecimentos em com-
plexo, acontecimentos continuados e estados fácticos ou jurídicos.
Os acontecimentos, por serem fatos positivos, têm existência 
espacial e temporal (o fato acontece em determinado local, a certa hora) 
ou apenas temporal (uma certa data), definida. Diferentemente, os 
estados fácticos (como ser surdo-mudo) envolvem situações de perma-
nência, no tempo, resultante de acontecimentos. Do mesmo modo os 
estados jurídicos, com a particularidade de que estes são efeitos de 
fatos jurídicos: ser incapaz é estado decorrente do fato jurídico da me-
noridade, por exemplo.
O suporte fáctico, porém, pode, muitas vezes, ser constituído de 
elementos negativos, como (a) omissões, (b) abstenções, (c) o não acon-
tecer, (d) o não ter acontecido, (e) a ausência, (f) o silêncio. (a) A falta de 
exercício da pretensão em certo tempo (Código Civil, art. 189), (b) abster-se 
o obrigado de praticar certa conduta (Código Civil, arts. 250/251), (c) o 
não se realizar a condição resolutiva (Código Civil, art. 127), (d) a inexis-
tência de oposição à posse ad usucapionem (Código Civil, art. 1.238), (e) 
a ausência (Código Civil, art. 198, II), como (f) a falta de declaração do 
donatário (Código Civil, art. 539), são exemplos de suportes fácticos que 
preveem elementos negativos em sua composição.
5. Elementos subjetivo e objetivo do suporte fáctico
5.1. Elementosubjetivo
Os fatos jurídicos pressupõem uma necessária referibilidade a 
sujeitos de direito, porque sua eficácia (jurídica) se liga, essencialmente, 
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a alguém ou a algum ente, inclusive a conjunto patrimonial, a que o 
ordenamento jurídico outorga capacidade de direito64. A eficácia jurídica, 
seja qual for sua natureza — constitutiva, modificativa, extintiva, qua-
lificante —, diz respeito, indefectivelmente, a algum sujeito de direito. 
Mesmo as normas jurídicas que não criam direitos, pretensões, ações e 
exceções, mas, apenas, dispõem sobre possibilidades de titularidade 
de direitos, pretensões, ações e exceções (e. g., art. 1.263 do Código 
Civil), têm como pressuposto sujeito que lhes venha a ser titular. Seria 
sem sentido fato jurídico que não se referisse a algum sujeito de direito. 
Por esse motivo, os suportes fácticos são integrados, sempre, por ele-
mento subjetivo (indicação de certo sujeito de direito), mesmo quando 
não esteja explícito, caso em que deve ser pressuposto. Na configuração 
de cada suporte fáctico, portanto, é necessário considerar, como dado com-
pletante de seu núcleo, o elemento subjetivo que o compõe, não se po-
dendo tê-lo concretizado se o sujeito não existir ou, se existir, não for 
aquele previsto pela norma.
No fato jurídico tributário, e. g., a presença do elemento subjetivo 
em seu suporte fáctico é evidente, considerando-se a qualificação de 
quem seja o contribuinte. Somente quem seja definido como contri buinte 
pode praticar ato que integre a hipótese de incidência do fato jurídico 
tributário. Assim, por exemplo, no ICMS, somente constitui hipótese de 
sua incidência a circulação de mercadoria realizada por quem exerça 
mercancia, legalmente (comerciante, industrial, agricultor, devidamente 
inscritos como tal) ou com habitualidade (pessoa não inscrita naquelas 
categorias, mas que pratica, habitualmente, a atividade). Por isso, a 
eventual circulação de mercadorias decorrente da atuação de quem não 
seja definido como contribuinte não sofre a incidência do ICMS.
Também constituem exemplos de fatos jurídicos em cujos suportes 
fácticos estão presentes elementos subjetivos os negócios jurídicos que 
64. Segundo nosso entendimento, há mais sujeitos de direito que pessoas. 
Todo ente, independentemente de que seja pessoa, a que normas jurídicas atribuem 
algum direito, ou uma simples situação jurídica de capacidade, como uma quali-
dade, qualificação ou capacidade qualquer (e. g., capacidade de ser parte), tem 
entrada no mundo jurídico como sujeito, mesmo que limitadamente à situação jurí-
dica que lhe é atribuída. Nessa condição de sujeito de direito, que não é pessoa, 
citamos: o nascituro, o nondum conceptus, a herança jacente e a vacante, a massa 
falida, o condomínio (exceto o condomínio tradicional) etc. Vide, adiante, a nota 73 
e, com análise mais aprofundada, o nosso Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 
1ª parte, §§ 27 e 28.
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caracterizam: (a) relações de consumo, enquadráveis, portanto, nas 
normas do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que se tem, com 
caráter de necessidade, como sujeitos o produtor ou fornecedor de bens 
ou serviços de um lado e o consumidor de outro; (b) crimes, como os 
definidos no Título XI da Parte Especial do Código Penal, em que o 
sujeito passivo somente pode ser órgão da administração pública e, em 
algumas espécies, o sujeito ativo há de ser servidor público.
5.2. Elemento objetivo
Os bens da vida, em geral, quando não haja norma jurídica que os 
pré-exclua de apropriação (bens de uso comum do povo, e. g.) ou que, por 
sua natureza, sejam inapropriáveis ou inatribuíveis a alguém (o Sol, a 
atmosfera, o espaço cósmico, e. g.), podem integrar suportes fácticos, como 
elementos objetivos seus. São a parte objetiva dos suportes fácticos. A res 
nullius (coisa adéspota), por exemplo, constitui a parte objetiva do suporte 
fáctico da ocupação; as coisas (= bens materiais) a constituem da posse; as 
coisas e os bens imateriais o são das normas relativas à pro priedade e aos 
direitos reais, em geral. Do mesmo modo, nos contratos de empréstimo a 
fungibili dade ou infungibilidade do bem que seja seu objeto integram, como 
elementos completantes do núcleo, os seus suportes fácticos, pois que 
estabelecem a diferença entre suas duas espécies: o mútuo e o comodato. 
Nem todo suporte fáctico, porém, tem a integrá-lo parte objetiva, de que 
são exemplos aqueles que dizem respeito a normas de direito formal. So-
mente aqueles de que decorrem fatos jurídicos produtores de direito a têm.
É preciso não confundir o bem, que é parte objetiva de suporte 
fáctico, com o objeto de direito, que definimos como todo bem da vida 
que possa constituir elemento de suporte fáctico de norma jurídica, 
porque seja por ela regulado, de algum modo, para atribuí-lo a alguém 
(vide, adiante, nota 184). Logicamente, somente se pode falar de objeto 
de direito quando já existe o direito, portanto, quando já se está no 
plano da eficácia, pois direito, nesse sentido, é categoria de eficácia 
jurídica (vide nosso Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte, 
§ 36, 1, ii). No entanto, para que o direito recaia sobre certo bem da vida 
(= objeto de direito), faz-se necessário que as normas jurídicas o tenham 
como elemento de seu suporte fáctico. Na definição que demos acima o 
dado essencial e diferencial do objeto de direito é, precisamente, a sua 
atribuição a alguém pelas normas jurídicas.
Quando há no suporte fáctico, mesmo implícito, elemento objetivo, 
este integra o núcleo do suporte fáctico como elemento completante.
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6. Elementos nucleares e complementares do suporte fáctico; 
elementos integrativos
6.1. Elementos nucleares: cerne e completantes
Geralmente, o suporte fáctico é complexo, sendo raras as espécies 
em que apenas um fato o compõe. No estudo dos suportes fácticos com-
plexos, em especial dos negócios jurídicos, é preciso ter em vista que há 
fatos que, por serem considerados pela norma jurídica essenciais à sua 
incidência e consequente criação do fato jurídico, constituem-se nos 
elementos nucleares do suporte fáctico ou, simplesmente, no seu núcleo. 
Dentre esses há sempre um fato que determina a configuração final do 
suporte fáctico e fixa, no tempo, a sua concreção. Às vezes esse fato não 
está, expressamente, mencionado, mas, por constituir o dado fáctico fun-
damental do fato jurídico, a sua presença é pressuposta em todas as 
normas que integram a respectiva instituição jurídica. Esse fato configura 
o cerne do suporte fáctico65.
Além do cerne, há outros fatos que completam o núcleo do suporte 
fáctico e, por isso, são denominados elementos completantes do núcleo.
Os elementos nucleares do suporte fáctico têm sua influência dire-
tamente sobre a existência do fato jurídico, de modo que a sua falta não 
permite que se considerem os fatos concretizados como suporte fáctico 
suficiente à incidência da norma jurídica. Nos negócios jurídicos, por 
exemplo, em que a manifestação da vontade consciente é o cerne do 
suporte fáctico, a sua ausência implica não existir o negócio, mesmo que 
presentes outros elementos.
Da mesma maneira ocorre se a falta é de elemento completante. No 
mútuo, por se tratar de negócio jurídico real, em que o suporte fáctico 
se compõe do acordo de vontades mais a entrega (= tradição) da coisa 
fungível ao mutuário (= consensus + traditio), essa constitui elemento 
completante do seu núcleo. Se há o acordo sobre o mútuo, mas não se 
realiza a entrega da coisa emprestada, mútuo não há, existindo, apenas, 
uma promessa de mútuo que, se não cumprida, pode dar ensejo a ressar-
cimento pelas perdas e danos que resultarem do inadimplemento.65. Por exemplo: a morte, quanto à sucessão; a vinculação do fato da natu reza 
ou do animal a alguém, quanto aos fatos jurídicos stricto sensu; a contrariedade 
a direito, no ilícito civil; a vontade consciente, no ato jurídico; o dolo ou a culpa, no 
ilícito penal.
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No contrato de compra e venda, exige-se que haja acordo de von-
tades (cerne) sobre certo bem e preço determinado ou determinável 
(elementos completantes). O bem pode ser futuro e o preço a apurar 
segundo critérios que sejam predeterminados na avença. Se o bem futu-
ro não vier a existir em decorrência de fato não imputável ao devedor 
(= sem culpa do devedor, conforme a inadequada expressão do Código 
Civil, art. 234), resolve-se o contrato de compra e venda porque a falta 
de elemento completante faz insuficiente o seu suporte fáctico, atin-
gindo-lhe a existência. O mesmo ocorre se, em iguais circunstâncias, o 
bem existente ao tempo da formalização do negócio vier a se perder 
antes da tradição (diferentemente, se a inexistência ou a perda do objeto 
for imputável ao devedor, o negócio se resolve, mas responde ele pelo 
equivalente mais perdas e danos).
Algumas vezes, embora raras, a forma do negócio jurídico entra 
na composição do suporte fáctico como elemento completante. Se as 
disposições de última vontade não forem feitas através das formas de 
testamento previstas no Código Civil (e. g., forem gravadas em vídeo ou 
dirigidas em carta a alguém), testamento não há, uma vez que o Código 
Civil somente considera testamento aquele formalizado por uma das 
formas que ele prevê no Capítulo III do Título III do seu Livro V. 
A forma do negócio jurídico constitui, nesse caso, elemento que a lei 
considera essencial à sua própria existência.
Conforme mencionamos antes, o elemento subjetivo do suporte 
fáctico (o sujeito de direito) integra o seu núcleo como elemento com-
pletante. Porque o ser sujeito de direito tem como pressuposto neces-
sário a capacidade jurídica, esta compõe, também, o núcleo do suporte 
fáctico dos fatos jurídicos lato sensu. Do mesmo modo, o elemento 
objetivo do suporte fáctico, quando há. Assim, se uma instituição que 
formaliza um contrato não tem capacidade jurídica (não é pessoa jurídi-
ca, nem pode ser considerada sujeito de direito, por exemplo), contrato 
não há (vide, sobre a distinção entre pessoa e sujeito de direito e também 
sobre capacidade jurídica, nosso Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 
1ª parte, §§ 22, 27 e 28, principalmente).
No gênero fato jurídico lato sensu (vide classificação adiante nos 
§§ 29 a 31), os elementos cerne do suporte fáctico servem para definir 
as duas grandes categorias de fatos jurídicos: (a) fatos jurídicos confor-
me a direito e (b) fatos jurídicos contrários a direito, bem como, em cada 
uma delas, as classes de fatos jurídicos que as integram, da mais gené-
rica à mais específica, a saber:
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(i) os elementos cerne (a) conformidade e (b) não conformidade a 
direito + imputabilidade caracterizam as categorias dos fatos jurídicos 
lícitos e ilícitos, respectivamente;
(ii) os elementos cerne (a) conduta com vontade relevante, (b) con-
duta sem vontade ou com vontade irrelevante e (c) sem conduta alguma 
configuram os (a) atos jurídicos lato sensu, (b) os atos-fatos jurídicos 
e (c) os fatos jurídicos stricto sensu, respectivamente;
(iii) os elementos cerne (a) manifestação consciente de vontade com 
poder de autorregramento (= poder de escolha da categoria jurídica e, 
dentro de limites prescritos pelo ordenamento, de estruturação do conteú-
do da relação jurídica correspondente) e (b) manifestação consciente de 
vontade, sem poder de autorregramento (= não há poder de escolha da 
categoria jurídica nem de estruturação do conteúdo da relação jurídica, 
que são predispostos pelas normas jurídicas), estabelecem a diferença 
entre (a) os negócios jurídicos e (b) os atos jurídicos stricto sensu.
Nessas classes mais específicas, como as dos atos-fatos jurídicos, 
dos negócios jurídicos e dos atos jurídicos stricto sensu, suas várias 
espécies são classificáveis não mais em razão de elemento cerne, porém, 
dos elementos completantes. Exemplifiquemos com dois suportes fác-
ticos assim constituídos:
(i) (a) elemento cerne: acordo consciente de vontades, com poder 
de autorregramento; (b) elementos completantes: sobre a disposição de 
certo objeto com pagamento de determinado preço;
(ii) (a) elemento cerne: acordo consciente de vontades, com poder 
de autorregramento; (b) elementos completantes: sobre a disposição de 
certo objeto de modo gratuito.
Analisando os dois suportes fácticos, constata-se que se trata de 
dois negócios jurídicos (em face de se constituírem por acordo de von-
tades com poder de autorregramento), que se diferenciam entre si por um 
de seus elementos completantes: (i) em um, o pagamento de um preço 
caracteriza uma compra e venda; (ii) no outro, a gratuidade da transmis-
são configura uma doação.
Ainda exemplificando com outros dois suportes fácticos assim 
estruturados:
(i) (a) elemento cerne: acordo consciente de vontades, com poder 
de autorregramento; (b) elemento completante: sobre o empréstimo de 
bem fungível;
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(ii) (a) acordo consciente de vontade com poder de autorregra-
mento; (b) elemento completante: sobre empréstimo de bem infungível.
Pelos cernes desses suportes fácticos (acordos conscientes de von-
tades com poder de autorregramento) identificam-se dois negócios jurí-
dicos que se diferenciam pelos elementos completantes, a saber: em (i) 
a presença de bem fungível caracteriza um contrato de mútuo, enquanto 
em (ii) há um contrato de comodato por consequência da infungibili dade 
do bem.
6.2. Elementos complementares
Na configuração do suporte fáctico dos atos jurídicos, em especial, 
mas, não somente, dos negócios jurídicos, há de se considerar, além dos 
elementos nucleares (cerne e completantes), outros dados que o comple-
mentam e, por essa razão, são ditos elementos complementares. Dife-
rentemente dos elementos completantes, os complementares não integram 
o núcleo do suporte fáctico, apenas o complementam (não completam) 
e se referem, exclusivamente, à perfeição de seus elementos. Assim, são 
elementos complementares relativos:
(a) ao sujeito: (i) a capacidade de agir; (ii) a legitimação (poder 
ativo ou passivo de disposição)66; (iii) a perfeição da manifestação de 
vontade (ausência de erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo, simu-
lação e fraude contra credores); (iv) a boa-fé e a equidade, esta, apenas, 
nos negócios de consumo;
(b) ao objeto: (i) a licitude, (ii) a moralidade, (iii) as possibilidades 
física e jurídica e (iv) a determinabilidade;
(c) à forma da manifestação da vontade: o atendimento à forma 
quando prescrita ou não defesa em lei.
Como se vê, os elementos complementares apenas constituem 
pressupostos de validade ou eficácia dos negócios jurídicos. Porque têm 
suas consequências limitadas aos planos da validade e/ou da eficácia, 
sem qualquer influência quanto à existência do fato jurídico, são ele-
mentos que somente dizem respeito a atos jurídicos lícitos lato sensu. 
Quando se trata de fato jurídico stricto sensu, de ato-fato jurídico ou de 
fato ilícito lato sensu, não há de se cogitar de elementos complementares, 
66. Sobre legitimação e suas espécies, vide nosso Teoria do fato jurídico: 
plano da validade, § 11.
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pois que essas espécies de fatos jurídicos não estão sujeitas a invalidade 
ou ineficácia (vide adiante no Capítulo V).
6.3. Elementos integrativos
Nos negócios jurídicos, exclusivamente, enquanto os elementos 
nucleares (cernee completante) dizem respeito à sua existência e os 
complementares, à sua validade ou eficácia, há espécies em que são 
necessários atos jurídicos praticados por terceiros, em geral autoridade 
pública, que o integram, mas, apenas, no plano da eficácia. Esses atos 
integrativos, como os denominamos, não compõem o suporte fáctico do 
negócio jurídico e, portanto, não interferem quanto à sua existência, 
validade ou eficácia própria, mas atuam no sentido de que se irradie 
certo efeito que se adiciona à eficácia normal do negócio jurídico. Vejamos 
alguns exemplos.
No sistema jurídico brasileiro, a eficácia real dos negócios jurídicos 
relativos à constituição, translação ou extinção de direitos reais sobre 
bens imóveis, inter vivos, depende de seu registro no Registro de Imóveis 
(Código Civil, art. 1.227). O registro, assim, constitui ato jurídico cujo 
efeito consiste em criar, modificar ou extinguir as relações jurídicas de 
direito real, dentre as quais está a de direito de propriedade. Por decorrên-
cia dessa sistemática, o direito de propriedade sobre bem imóvel tem por 
titular aquele em nome de quem esteja inscrito no Registro de Imóveis 
(Código Civil, art. 1.245, § 1º). Por isso, para que alguém adquira, por 
transmissão, o direito de propriedade sobre bem imóvel que haja compra-
do, ou recebido em doação, por exemplo, não basta que haja for malizado 
o negócio jurídico da compra e venda, ou da doação, mas é essencial que 
seja promovido o registro, no Registro de Imóveis compe tente (Lei 
n. 6.015/73 — LRP, art. 169), do acordo de transmissão67 nele embutido. 
67. A doutrina nacional costuma referir-se ao registro do contrato de compra 
e venda como ato que tem o efeito de transmitir a propriedade imobiliária. Há nessa 
referência um equívoco, porque a transferência do domínio não resulta do registro 
de contrato de compra e venda (que é negócio jurídico causal e obrigacional), mas 
de acordo de transmissão (que é negócio jurídico abstrato e jurirreal. Vide, adiante, 
§ 55.3 e nota 211). Em geral, o acordo de transmissão integra o mesmo instrumento 
do contrato de compra e venda e se consubstancia na fórmula “e, por este instrumen-
to, o vendedor transmite todo o direito, domínio etc.”, usual nas escrituras de com-
pra e venda. No entanto, o acordo de transmissão, por ser negócio jurídico autônomo, 
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Enquanto não efetivado o registro, o negócio jurídico da compra e 
venda, ou da doação, existe e, se é válido, produz toda a sua eficácia de 
natureza obrigacional; não se irradia, porém, a eficácia real da trans-
missão do direito de propriedade ao adquirente. A falta do registro im-
plica continuar a propriedade a pertencer ao alienante, sem, contudo, 
acarretar qualquer consequência negativa quanto à existência, validade 
ou eficácia obrigacional do negócio jurídico da compra e venda ou da 
doação, tampouco do acordo de transmissão que lhe disser respeito. Por 
isso é que, se o alienante efetua uma segunda venda do mesmo bem a 
outra pessoa e esta registra o acordo de transmissão antes do primeiro, 
adquire-lhe a propriedade, restando ao primeiro adquirente, que não 
promoveu o registro, tão somente o direito de pedir do alienante ressar-
cimento pelas perdas e danos (eficácia obrigacional do negócio jurídico 
da compra e venda ou da doação) que tiver sofrido. Não lhe cabe, no 
entanto, a pretensão à reivindicação do imóvel (que é conteúdo da rela-
ção jurídica real de propriedade), por não se haver produzido a eficácia 
real da transmissão.
As sociedades, associações, e outros entes coletivos coletivos a que 
o ordenamento jurídico atribui personalidade de direito, bem assim as 
fundações, se constituem como tal por meio de negócios jurídicos espe-
cíficos (= atos constitutivos), passando a existir desde o momento em 
que são regularmente formalizados. Para que adquiram personalidade 
jurídica (= se tornem pessoa jurídica), porém, necessitam ter seus atos 
constitutivos registrados no Registro próprio e competente (Código Civil, 
arts. 45 e 985). Algumas delas, em face de sua natureza peculiar, depen-
dem também de prévia autorização governamental, como acontece com 
as instituições financeiras, e. g., ou de aprovação de seu estatuto pela 
autoridade competente, em geral o Ministério Público, como no caso das 
fundações. Tanto o registro como a autorização do Poder Público ou a 
pode ou não constar do mesmo instrumento do contrato de compra e venda. Também 
é possível haver contrato de compra e venda em que o acordo de transmissão seja 
para formalizar-se posteriormente (por exemplo, o vendedor vende agora, mas só 
transmitirá o bem quando e se decidida em seu favor ação em que se discute a titula-
ridade sobre o imóvel). Se não houver acordo de transmissão, o registro do contrato 
de compra e venda não produz a transferência da propriedade imobiliária, mas, 
apenas, a eficácia erga omnes da publicidade. O fato de o acordo ser simultâneo 
à compra e venda e constar do mesmo instrumento, como é o mais comum, não é 
essencial, mas é o motivo que leva a doutrina a confundir os dois negócios.
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aprovação da autoridade competente constituem atos integra tivos da 
eficácia dos negócios jurídicos de constituição da sociedade, associação 
ou fundação para deflagrar-lhes o efeito da personificação. Enquanto 
não houver o registro (que depende da autorização ou aprovação, quan-
do necessárias), o negócio jurídico de constituição existe e, se for válido, 
irradia a sua pura eficácia obrigacional de criar a sociedade, a associação 
ou a fundação, bem assim de gerar os direitos e deveres entre os sócios, 
mas não se dará a personificação jurídica da entidade criada.
Conforme vimos nos exemplos dados acima, o registro constitui 
ato integrativo da eficácia de certos negócios jurídicos, o que pode fazer 
parecer que tem somente essa natureza. Nem sempre, porém, o registro 
público atua como elemento integrativo. O registro do casamento reli-
gioso não diz respeito, em rigor, a atribuir efeitos civis a esse ato (como 
faz sugerir a expressão usual de casamento religioso com efeitos civis), 
mas compõe como elemento completante, o núcleo do suporte fáctico 
do negócio jurídico do casamento formalizado perante autoridade ecle-
siástica, de modo que a sua falta importa inexistência do casamento para 
o direito e não somente ineficácia. O mesmo ocorre no casamento cele-
brado perante autoridade estatal em que o registro do ato integra o núcleo 
de seu suporte fáctico como elemento completante. A diferença entre as 
duas espécies (elemento integrativo e completante) reside em que:
(i) No caso dos negócios constitutivos de sociedade, associação ou 
fundação e do acordo de transmissão nas alienações de imóveis, o registro 
não compõe seus suportes fácticos; são atos jurídicos que se juntam aos 
negócios jurídicos já existentes, tão somente para que possam gerar um 
efeito adicional ao seu próprio. Para que se concretize o negócio jurídico 
de constituição de sociedade ou o acordo de transmissão referente à 
compra e venda, e. g., não há necessidade de registro: são negócios jurí-
dicos consensuais, por isso se perfazem com a simples formalização. 
Entretanto, para que produzam a eficácia final de gerar a personalidade 
jurídica ou transmitir a propriedade necessitam, sempre, sem exceção, de 
que sejam registrados.
(ii) Diferentemente, no caso do casamento, o registro é dado com-
ponente do núcleo do suporte fáctico, de modo que sem ele nem existe, 
ao menos, o fato jurídico. No casamento o registro é componente do 
suporte fáctico na posição de elemento completante do seu núcleo, logo, 
dado concernente à sua existência: sem registro não há casamento.
Em direito tributário nacional, o lançamento constitui elemento 
integrativo do suportefáctico do fato jurídico tributário, uma vez que a 
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lei lhe confere a função de deflagrar sua eficácia final, consistente na 
atribuição de exigibilidade ao crédito tributário, gerando, por conseguin-
te, a obrigação do contribuinte de pagar o tributo. Com efeito, desde a 
ocorrência do fato jurídico tributário, que se dá, fatalmente, por força da 
incidência da norma jurídica tributária sobre seu suporte fáctico concre-
tizado68, estabelece-se a relação jurídica tributária entre o ente responsá-
vel pela imposição tributária (= lançamento, arrecadação e fiscalização), 
que é seu sujeito ativo (credor) e o contribuinte, seu sujeito passivo 
(devedor), cujo conteúdo eficacial específico é composto por diversas (a) 
obrigações (ditas) acessórias, dentre as quais a de efetuar, nos casos es-
pecíficos previstos em lei, o lançamento por delegação, inadequadamente 
dito lançamento por homologação69, e (b) pela chamada obrigação 
68. O suporte fáctico do fato jurídico tributário, impropriamente denominado 
fato gerador, como anotamos antes (§ 12.3) e mostram juristas de escol, como 
Paulo de Barros Carvalho (Curso de direito tributário, p. 155), Alfredo Augusto 
Becker (Teoria geral do direito tributário, p. 318), e. g., é bastante complexo. No 
entanto, sua concreção, para fins de incidência e consequente juridicização, dá-se 
quando, presentes os elementos relativos aos sujeitos e ao objeto, materializa-se o 
seu elemento cerne, a que a doutrina costuma referir-se como hipótese de incidência, 
pressuposto de fato, fato imponível, situação-base, dentre outras locuções usadas 
para designar aqueles fatos, atos, estados de fato ou situações jurídicas descritas na 
lei como “eventos de expressão econômica” que constituem “o critério material” 
previsto na hipótese da regra matriz (Paulo de Barros Carvalho, Direito tributário: 
fundamentos jurídicos da incidência, p. 81 et passim, e Curso de direito tributário, 
p. 160, et passim). Exemplificamos, grosso modo, os elementos cernes dos suportes 
fácticos de alguns fatos jurídicos tributários: (a) a circulação de mercadoria, com 
transmissão de propriedade, ou prestação de serviço de transporte ou de comunica-
ção no ICMS; (b) a titularidade do direito de propriedade, do domínio útil ou da 
posse de bem imóvel por natureza, situado em zona rural, no ITR; (c) idem, de bem 
imóvel por natureza ou acessão física, localizado em zona urbana, no IPTU; (d) a 
transmissão de bens imóveis, por natureza ou acessão física, ou direitos a eles rela-
tivos por ato inter vivos oneroso ou gratuito e causa mortis no ITBI; (e) a aquisição 
da disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou proventos de qualquer natu-
reza, no IR. Por se tratar de elemento cerne, tem-se o suporte fáctico materializado 
quando de sua concreção (vide, antes, § 12, 6.1).
69. A expressão “lançamento por homologação”, usada pela lei (CTN, art. 
150) e adotada por grande parte da doutrina, parece-nos inadequada, conforme 
passaremos a demonstrar. O lançamento tributário constitui ato administrativo 
necessário de competência vinculada da autoridade tributária, que se destina à 
apuração da formação da relação jurídica tributária, constatando a ocorrência da 
hipótese de incidência tributária, identificando o seu sujeito passivo, determinando 
a matéria tributável, o montante do tributo devido e, sendo o caso, propondo a 
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aplicação de penalidades cabíveis, tudo com o objetivo ( = finalidade) de constituir 
o crédito tributário (CTN, art. 142). Por se tratar de ato necessário e vinculado da 
administração tributária, com fim específico e imodificável, em que se evidencia a 
inexistência de poder de escolha de categoria jurídica (que é própria do negócio 
jurídico), caracteriza a espécie ato jurídico stricto sensu. Em certos tributos, como 
IPI, ICMS, IR, por exemplo, o número de fatos jurídicos tributários que necessitam 
de lançamento é de tal magnitude que se torna impossível à autoridade fiscal rea-
lizá-los. Em face dessa impossibilidade prática, a lei atribui ao contribuinte ou, 
eventualmente, a terceiro, desde a ocorrência da hipótese de incidência descrita na 
regra matriz, a obrigação de praticar atos que integram o suporte fáctico do lança-
mento (identificação do sujeito passivo, apuração da matéria tributável e montante 
do tributo devido), com a finalidade de tornar exigível o crédito tributário e gerar a 
obrigação de efe tuar o pagamento do tributo apurado (= devido). A lei, portanto, 
imputa ao contribuinte ou a terceiro a obrigação de efetivar o ato de lançamento 
das operações tributadas, que deveria ser do sujeito tributário ativo. Essa imputação 
caracteriza, claramente, uma delegação de poderes, cujo exercício pelo contribuinte 
ou terceiro responsável, que é compulsório, está sujeito à aferição de sua correção 
pela autoridade tributária, homologando-o, expressa ou tacitamente (aqui pelo 
decurso do prazo, sem manifestação dos agentes fiscais) ou não (aqui só expres-
samente). Por isso, o lançamento tributário feito pelo contribuinte, ou terceiro 
responsável, por ter o mesmo suporte fáctico e as mesmas consequências jurídicas, 
é ato administrativo delegado de eficácia imediata, desde quando atribui exigibi-
lidade ao crédito tributário, criando a pretensão do sujeito ativo e a correspondente 
obrigação do sujeito passivo de efe tuar o pagamento do tributo devido (= constitui 
o crédito tributário, que foi apurado mediante o lançamento que efetivou). Apesar 
da imediatidade de sua eficácia, a exigência de homologação do lançamento pela 
autoridade tributária faz dela eficácia resolúvel, considerando-se a norma do § 1º do 
art. 150 do CTN. Assim, parece que seriam mais adequadas para designá-lo expres-
sões como lançamento por delegação, que preferimos, ou, ao menos, lançamento 
sujeito a homologação.
Em importantes obras, de valor indiscutível, Lançamento tributário (premia-
da) e Decadência e prescrição em direito tributário, Eurico Marcos Diniz di Santi 
dissecou, com profundidade, o instituto do lançamento tributário, porém em termos 
absolutamente distintos destes aqui expostos com fundamento na concepção ponte-
ana do fenômeno jurídico. De acordo com sua visão, nos atos administrativos há de 
se considerar dois aspectos: (a) o ato da autoridade que dá aplicação ao direito e (b) 
a norma individual e concreta que esse ato introduz no plano jurídico, portanto, o 
fato da aplicação (a) e o seu produto normativo (b). Ao fato da aplicação deu a 
denominação de ato-fato administrativo, designando ato-norma a norma individual 
e concreta que daquele resultaria. Relacionando esses conceitos ao lançamento tri-
butário tem-se que o ato de lançamento feito pela autoridade constituiria o ato-fato 
administrativo enquanto o ato-norma administrativo seria a “norma individual e 
concreta que formaliza o crédito tributário” (Decadência e prescrição no direito 
tributário, p. 109, et passim). Essa concepção tem seu fundamento, evidentemente, 
no entendimento de que da aplicação do direito resultam normas jurídicas individuais 
e concretas que regem as situações jurídicas, conforme concebe o normativismo 
kelseniano, com o qual não concordamos.
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principal, que é constituída do direito e da consequente pretensão do cre-
dor de receber o tributo devido e dos correlatos dever e obrigação do 
devedor de pagá-lo (vide o esquema sobre o conteúdo da relação jurídica 
adiante, no § 49, 1, III, b, e com maior profundidade em nosso Teoria do 
fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte, §§ 35 e s.). Nessa espécie de 
relação jurídica, todo o seu conteúdo eficacial não se irradia de ime diato, 
instantaneamente, desde que é criada, mas surge com sucessividade. 
Assim éque, estabelecida, além das obrigações ditas acessórias, gera-se 
de logo o direito subjetivo público do sujeito ativo (credor) a receber o 
tributo (= crédito tributário) e o correspectivo dever do sujeito passivo 
(devedor) de pagá-lo (= débito tributário). Esse direito subjetivo público 
de receber o tributo, bem assim o correlativo dever de pagá-lo, como 
quais quer outros, enquanto sejam apenas direitos e deveres, não contêm, 
em si, exigibilidade, pois os poderes e faculdades, como os ônus e submis-
sões, que sejam seus conteúdos, somente existem in potentia. O que os 
torna exigíveis é o surgimento da pretensão do credor e da correspectiva 
obrigação do devedor, que revestem o direito e o dever, respectivamente. 
Enquanto não nasce a pretensão, apenas há direito do sujeito ativo de 
receber e, por conseguinte, o correlato dever de pagar o tributo, sem, con-
tudo, existir ainda a pretensão de exigir o pagamento nem a obrigação 
de pagá-lo. Nesse estágio da eficácia jurídica, o sujeito passivo da relação 
jurídica tributária tem, unicamente, algumas obrigações acessórias (como 
proceder aos registros contábeis, e. g.) a adimplir, bem assim, quando 
lhe compete, a obrigação de efetuar o lançamento do tributo por dele-
gação, ato através do qual é apurado o valor do tributo a pagar. Tal si-
tuação permanece até que seja efetivado o lançamento, diretamente pela 
autoridade fazendária ou pelo contribuinte, por delegação, conforme a 
espécie, porque somente a ele (lançamento) o art. 142 do CTN atribui 
a eficácia de constituir o crédito tributário70, daí surgindo a exigibili-
dade do direito subjetivo do sujeito ativo da relação jurídica tributária 
(= crédito tributário), transformado em pretensão e, por decorrência, a 
obrigação em que se transfigura o dever do sujeito passivo. O lançamento, 
assim, constitui ato jurídico stricto sensu necessário e vinculado a que 
o contribuinte possa pagar o tributo devido; é ato jurídico que integra, 
sem o compor, o suporte fáctico do fato jurídico tributário para deflagrar 
70. Essa expressão “constituir o crédito tributário”, empregada pelo legislador, 
parece imprecisa e inadequada. Como visto, em rigor, o lançamento tributário não 
constitui (= cria) o crédito tributário, mas, tão somente lhe atribui exigibilidade, de 
modo que atua como elemento integrativo da eficácia do fato jurídico tributário.
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sua eficácia total: fazer nascer a obrigação de pagar o tributo (= ele-
mento integrativo do suporte fáctico). Sem lançamento não há obriga-
ção de pagar tributo (a chamada obrigação tributária principal). Por 
isso, nos tributos em que há lançamento direto, enquanto a autoridade 
não o realiza e dele não notifica o contribuinte71, embora exista o dever 
de pagar o tributo, não há a obrigação de pagá-lo; mais ainda: o con-
tribuinte não o pode pagar, mesmo que o queira. Quando se trata de 
lançamento por delegação, porém, a exigibilidade do crédito não fica 
sujeita apenas à sua efetivação, mas nasce desde o momento em que 
deveria ser efetivado, independentemente de que o contribuinte cumpra 
sua obrigação de fazê-lo. Portanto, se o contribuinte inadimple, na data 
aprazada, sua obrigação de fazer o lançamento, a obrigação de pagar o 
tributo devido surge desde ali. O inadimplemento da obrigação de lançar, 
por configurar a prática de um ilícito relativo, não pode beneficiar o 
infrator. Por essa razão fica o contribuinte sujeito às penalidades aplicá-
veis à hipótese de não pagamento do tributo caso não efetive o lança-
mento e, por esse ou qualquer outro motivo, deixe de efetuar o pagamento 
do tributo devido.
O lançamento, destarte, constitui elemento integrativo do suporte 
fáctico do fato jurídico tributário, uma vez que dele depende, em caráter 
essencial, para que se produza sua eficácia final.
7. Consequências da ausência dos elementos completantes, 
complementares e integrativos
Os elementos completantes, junto ao elemento cerne, constituem 
o próprio suporte fáctico do fato, de modo que sua integral (completa) 
concreção no mundo é pressuposto necessário à incidência da norma 
jurídica: são elementos de suficiência do suporte fáctico. Como conse-
quência, a falta de qualquer deles importa não haver fato jurídico.
Os elementos complementares e os integrativos, diferentemente, 
não se referem à suficiência do suporte fáctico, mas à eficiência de seus 
elementos. São sempre pressupostos de validade ou eficácia do ato jurí-
dico a que dizem respeito, nunca de existência. Portanto, se os elementos 
71. Nessas espécies (lançamento direto), o lançamento caracteriza um ato 
administrativo classificável como ato jurídico stricto sensu, conforme já se disse 
em nota anterior, em que a recepticiedade da manifestação de vontade constitui 
elemento do suporte fáctico.
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de suficiência se concretizam, o ato jurídico existe, mas será inválido ou 
ineficaz se falta elemento complementar ou integrativo, conforme a 
espécie. Por isso, em geral, os elementos complementares e integrativos 
compõem suportes fácticos de outras normas jurídicas que não as espe-
cíficas do ato jurídico (lato sensu) que complementam ou a que dão 
integridade eficacial e, como observamos acima, são dados que somente 
existem no campo relativo aos atos jurídicos lícitos lato sensu, notada-
mente nos negócios jurídicos.
Parece bastante clara a importância científica e a relevância prática 
da distinção entre elementos (a) completantes, (b) complementares e (c) 
integrativos no trato dos negócios jurídicos, precisamente pelas diferen-
tes consequências que acarretam: (a) inexistência ou (b) invalidade e/ou 
(c) ineficácia. O domínio da distinção entre as espécies permite que se dê 
tratamento adequado às situações, com soluções corretas para as dúvidas 
que muitas vezes podem resultar de aparentes semelhanças de casos.
Exemplifiquemos:
(a) A personalidade de direito (= ser pessoa natural ou jurídica), 
que corresponde à plena capacidade jurídica72, constitui pressuposto 
72. Personalidade e pessoa são termos que necessitam ser precisados, tendo-se 
em vista que podem ser objeto de estudo sob vários prismas: filosófico, antropoló-
gico, sociológico, psicológico, ético, jurídico, e. g. (Lourival Vilanova, As estrutu-
ras lógicas e o sistema de direito positivo, p. 70; Henkel, Introducción a la filosofía 
del derecho, p. 288). Por isso, o qualificativo jurídico a eles adicionado serve para 
definir a área do conhecimento em que é considerado, referindo-se, em geral, a toda 
e qualquer pessoa considerada no mundo do direito, inclusive e principalmente ao 
ser humano, não apenas às entidades juridicamente personificadas (que recebem, 
particularmente, a denominação pessoas jurídicas em alguns sistemas jurídicos, 
como o nosso).
Embora a doutrina costume tratar indistintamente a personalidade jurídica 
(= personalidade no plano do direito) e a capacidade jurídica, não são iguais. Em 
primeiro lugar, capacidade jurídica é conceito mais amplo do que personalidade. Há 
mais entes juridicamente capazes do que pessoas. Toda pessoa, certamente, é dotada 
de capacidade jurídica. No entanto, há vários entes que têm capacidade jurídica sem 
que sejam pessoas: por exemplo: o nascituro, o nondum conceptus, o espólio, a 
massa falida, as heranças jacente e vacante etc. Sobre isso, vide nosso estudo “Ache-
gas para uma teoria das capacidades em direito”, Revista de Direito Privado, n. 3 
(jul./set. 2000), p. 9-34, e em Direitos e Deveres (Revista do CEJUR/UFAL, ano II, 
n. 4 — jan./jun. 1999, p. 3-40).
Nesse estudo mostramos que há entes que são titulares de situações jurídicas 
específicas que lhes atribuem capacidade para a prática de certos atos jurídicos, mas 
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essencial de manifestação de vontade negocial, de modo que é ele-
mento completante do núcleo dos suportes fácticos dos atos jurídicos 
lato sensu. Daí, vontade manifestada por quem não seja pessoa não é 
apta a compor suporte fáctico de negócio jurídico ou de ato jurídico 
stricto sensu. Por isso, mesmo quem seja sujeito de direito, mas não 
tenha a plena capacidade jurídica e, por consequência, não tenha a 
qualidade de pessoa no plano jurídico (vide, antes, nota 72), não pode 
realizar atos jurídicos lícitos em geral, salvo aqueles cuja prática lhe 
seja assegurada por normas jurídicas específicas. Em decorrência, se 
quem não seja pessoa manifestar vontade com a finalidade de realizar 
negócio jurídico, essa manifestação de vontade será inócua, uma vez 
que não haverá negócio jurídico algum por falta de concreção de su-
porte fáctico. Assim, por exemplo, se os moradores de um bairro de 
certa cidade criam uma associação com a finalidade de cuidar dos 
interesses da comunidade, assinando os instrumentos necessários 
(contrato, e. g.), enquanto não promoverem sua inscrição no Registro 
de Pessoas Jurídicas, haverá uma associação, mas não uma pessoa 
jurídica (art. 45 do Código Civil). Enquanto nessa situação, os negó-
cios jurídicos que sejam realizados em seu nome inexistem como 
negócios jurídicos da associação, devendo ser considerados como 
negócios jurídicos do grupo de associados. Pelas obrigações daí re-
sultantes respondem, perante terceiros, os bens que à associação 
houverem sido imputados e, solidariamente, os associados, em face 
do art. 990 do Código Civil, ex argumento73.
não de quaisquer atos. Têm capacidade jurídica, são sujeitos de direito, mas tal ca-
pacidade não pode ser considerada plena uma vez que só lhes concede poder para a 
prática daquilo que especificamente atribui. A matéria estará tratada em nosso Teoria 
do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte, §§ 23/26.
73. É preciso considerar que existem: (a) sociedade não personificada (= 
sociedade regularmente constituída a que falta registro — sociedade em comum, 
como a denomina o Código Civil, art. 986 — ou que, ao ser liquidada, perde a 
personalidade, havendo pendentes obrigações com terceiros), (b) sociedade irregu-
lar (= sociedade sem registro cujos atos constitutivos são nulos, por exemplo), e (c) 
sociedade de fato (= grupo de pessoas que desenvolvem atividade em conjunto e em 
comum, mas sem intenção de sociedade). À sociedade não personificada (sociedade 
em comum), apesar de o Código Civil lhe haver dado tratamento legislativo especí-
fico, e à sociedade irregular, embora o sistema jurídico nacional não lhes reconheça 
o status de pessoas jurídicas (que, como vimos, constitui eficácia própria e exclusi-
va do registro dos atos constitutivos), imputa-lhes a posição de sujeitos de direito, 
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Portanto, a ausência de elemento completante tem sempre por 
consequência não constituir-se o fato jurídico (= inexistência do fato 
jurídico).
(b) Diferentemente, quando se trata de elemento complementar, 
sua falta repercute tão somente no plano da validade ou da eficácia, 
segundo a espécie. A incapacidade de agir (também denominada 
capacidade de exercício e capacidade de fato) implica invalidade 
(= nulidade ou anulabilidade, conforme a incapacidade seja abso-
luta ou relativa, respectivamente) do ato jurídico que for praticado 
pelo incapaz.
O poder de disposição (= legitimação ativa), por sua vez, constitui 
elemento complementar de todo negócio de disposição de bens, cujas 
consequências tanto se podem dar apenas no plano da eficácia, conforme 
ocorre com a venda de bem imóvel por non domino, que é ineficaz em 
relação ao dono do bem, como no plano da validade, caso da venda de 
ao atribuir-lhes capacidade de ser parte (CPC, art. 75, IX e § 2º). Por isso, essas 
duas espécies respondem, em juízo, como comunidades unitárias (o Código Civil 
refere-se a patrimônio em comum da sociedade não personificada) pelas obrigações 
que forem assumidas em seu nome, motivo pelo qual as demandas que visem à 
execução daquelas obrigações devem ser propostas contra elas, podendo os sócios 
ser chamados como litisconsortes, em face da responsabilidade solidária que lhes 
cabe. A sociedade em comum tem capacidade de ser parte ativa e passiva, donde 
poder exercer as pretensões, na qualidade de autora, e responder pelas obrigações, 
como ré. Não a sociedade irregular, cuja capacidade de ser parte é apenas passiva 
(responder como ré pelas obrigações).
A sociedade de fato, diferentemente, não tem capacidade de ser parte, não 
pode ser considerada sujeito de direito nem tratada como comunidade unitária, do 
que decorre que as pessoas que integram o grupo devem ser acionadas pessoal e 
individualmente, e, assim, desse mesmo modo, respondem pelas obrigações assu-
midas, como litisconsortes necessários.
É claro, porém, que, mesmo quando há sociedade não personificada e socie-
dade irregular, a situação jurídica é de existência de comunhão entre os sócios, 
sendo, por conseguinte, de mão comum as pretensões e obrigações perante terceiros. 
Por isso, o princípio da inconfundibilidade da pessoa do sócio com a da sociedade 
não lhes diz respeito, uma vez que aplicável, exclusivamente, às pessoas jurídicas, 
portanto apenas quando se trata de sociedade personificada. A capacidade de ser 
parte que lhes concede a lei e a consequente condição de sujeito de direito não lhes 
transferem as obrigações, que continuarão a ser dos sócios, pessoalmente. As normas 
do art. 75, IX e § 2º, do CPC constituem, em última análise, uma proteção para quem 
negocia com a sociedade, assegurando-lhe que não precisará acionar em juízo cada 
sócio, pessoalmente, mas como grupo, e, por consequência, uma penalidade para os 
sócios que responderão em conjunto, como unidade.
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bem móvel com tradição da coisa vendida (vide nosso Teoria do fato 
jurídico: plano da validade, § 11.2).
A falta de elemento complementar, portanto, não tem qualquer 
influência sobre a existência do ato jurídico.
(c) O elemento integrativo, por fim, somente atua no plano da 
eficácia e apenas em relação à irradiação de certos efeitos próprios do 
ato jurídico que dele, expressamente, dependem.
§ 13. Fato (real), suporte fáctico e fato jurídico
Apesar de, muitas vezes, os vermos confundidos na doutrina74, fato 
(real), suporte fáctico e fato jurídico exprimem conceitos distintos e 
inconfundíveis. Senão, vejamos.
Entre o fato (real), o fato em si mesmo, e o suporte fáctico há o 
elemento valorativo, que os qualifica diferentemente. Os simples eventos 
da natureza jamais entram na composição de suporte fáctico em sua sim-
plicidade de fato puro75. Em geral, a norma jurídica toma o fato em certo 
sentido que pode ser, pelo menos e fundamentalmente, a sua referência 
utilitária à vida humana em suas relações sociais. A morte, por exemplo, 
somente compõe suporte fáctico quando conhecida (vide, antes, nota 
52), porque a sua prova constitui elemento que se integra ao fato real para 
constituí-lo em suporte fáctico. Só a morte conheci da interessa à comu-
nidade, e a juridicidade só existe em razão da intersubjetividade. Se alguém 
desaparece de seu domicílio e dele não se tem notícia, é considerado 
ausente, abrindo-se a sucessão provisória de seus bens, decorrido certo 
tempo. Pode ocorrer que, de fato (= na realidade), aquela pessoa já esteja 
morta. Mas, se da morte não se tem conhecimento, ela é considerada 
apenas ausente, para os fins de direito — e não morta —, até que se tenha 
a prova de que morreu ou venha a ser declarada presuntivamente morta. 
Tudo se passa na esfera jurídica do ausente como se vivo estivesse. A 
consciên cia dessas implicações é que levou o Legislador Civil de 2002 a 
74. Por exemplo:Larenz, Metodología de la ciencia del derecho, p. 170-1; 
Von Tuhr, Teoría general del derecho civil alemán, v. 2, t. 2º, passim.
O mesmo tratamento dado às sociedades deve ser adotado em relação às 
associações.
75. Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. I, § 7º, 1; Lourival 
Vilanova, As estruturas lógicas e o sistema de direito positivo, p. 46, 118, 154, espe-
cialmente. Vide, no § 3º, conceito de fato.
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adotar a norma do art. 35, segundo a qual, se durante a ausência, já aberta 
a sucessão provisória, se provar a época exata do falecimento do ausente, 
considerar-se-á aberta a sucessão definitiva nessa data, porque se com-
pôs o suporte fáctico da morte. Assim, a morte é fato e a morte conhecida 
é suporte fáctico. O nascimento que compõe suporte fáctico do art. 2º do 
Código Civil é o nascimento de alguém com vida, nem que por um breve 
instante, cuja eficácia consiste na atribuição de personalidade de direito 
ao recém-nascido. O nascimento sem vida constitui suporte fáctico de 
outro fato jurídico que gera duas consequências: (i) a obrigação de certas 
pessoas de declarar o fato perante o Oficial do Registro Público (Lei 
n. 6.015, de 31-12-1973 — Registros Públicos, arts. 52 e 53), e (ii) de 
resolver, desmanchar, a eficácia do fato jurídico da concepção, decorrente 
do preceito contido na segunda parte do art. 2º do Código Civil. Com a 
natimoriência cessa a proteção aos direitos do nascituro: resolve-se a 
sua curatela, se houver, e extingue-se, ex tunc, toda a eficácia porventura 
produzida76. Um mesmo fato — como o do nascimento de um animal 
— pode compor suporte fáctico, se esse animal tem um dono, e não ser 
suporte fáctico, se o animal é adéspota (= res nullius). Por quê? Pela cir-
cunstância de que o suporte fáctico do fato jurídico da frutificação se 
constitui do fato real (do nascimento do animal) + a sua referência ao 
homem (= pertencente a alguém), pelo menos (vide nota 51).
Os puros eventos naturais só interessam ao direito enquanto possam 
ser relacionados a alguém. A inviabilidade dessa relação (evento R ho-
mem) cria a impossibilidade lógica de se considerar o fato juridicizável 
(= possível de tornar-se fato jurídico). Assim, a referibilidade do fato da 
natureza ou do animal ao homem constitui elemento nuclear implícito 
de todo fato jurídico “stricto sensu” (vide, antes, § 12, 5, e nota 65). 
Disso se conclui que suporte fáctico é plus em relação ao fato (real), 
porque é este qualificado e acrescido das circunstâncias outras definidas 
pela norma para completá-lo. O fato integra o suporte fáctico, portanto 
não podem ser iguais.
O mesmo ocorre com as condutas, que, quando passam a integrar 
suportes fácticos, recebem, no mínimo, uma qualificação. Nunca entram 
em sua pureza existencial.
76. Até a 6ª edição havíamos, incorretamente, escrito: “Se há natimorto o 
nascimento não integra suporte fáctico, porque o nascer morto não tem significado 
para as relações inter-humanas”. Na verdade, a natimoriência tem apenas os efeitos 
jurídicos que mencionamos no texto.
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Entre suporte fáctico e fato jurídico, a distinção resulta de que:
(a) Em geral, o suporte fáctico é constituído por vários fatos e até 
por situações que envolvem omissões, silêncio, não acontecimento (vide 
antes). Desses fatos, alguns, mas não todos, são considerados relevantes 
e a eles a norma jurídica dá entrada no mundo jurídico, através da inci-
dência. Esses fatos, que são transportados para o mundo jurídico por 
força da incidência, constituem o fato jurídico. Assim, apenas parte do 
suporte fáctico entra no mundo jurídico e compõe o fato jurídico. A 
outra parte permanece no mundo fáctico; não se transforma em fato 
jurídico. Pode haver situações — especialmente quando o suporte fácti-
co é simples, como no caso da primeira parte do art. 6º do Código Civil 
— em que suporte fáctico e fato jurídico são coextensivos (fato jurídico 
stricto sensu da morte = fato natural conhecido da morte). De regra, 
porém, não há coincidência. O fato jurídico da usucapião extraordinária 
tem como suporte fáctico: (a) posse própria; (b) sem oposição (mansa e 
pacífica); (c) ininterruptamente, por quinze anos. A partir da concreção 
dos fatos positivos — posse própria durante quinze anos — e da cons-
tatação da inocorrência (fato negativo) de oposição e de interrupção, 
teremos, como resultado da incidência do art. 1.238 do Código Civil, o 
surgimento do fato jurídico da usucapião, cujo efeito jurídico consiste 
na aquisição da propriedade imobiliária pelo possuidor independen-
temente de justo título e boa-fé. A posse própria constitui o elemento 
relevante do suporte fáctico que se transforma no fato jurídico. O trans-
curso do tempo e a ausência de oposição e interrupção apenas compõem 
o suporte fáctico, mas não entram no mundo jurídico, mesmo porque 
no caso da ausência de oposição e de interrupção se trata de não seres 
que, portanto, não podem integrar o ser, enquanto o tempo é fato da 
quarta dimensão.
(b) Por outro aspecto, o fato jurídico há de ser considerado concep-
tual mente como unidade, embora possa ser constituído por vários fatos77. 
A oferta e a aceitação são negócios jurídicos unilaterais que se fundem 
para formar o contrato. Embora composto de dois negócios jurídicos uni-
laterais, o contrato tem unidade conceptual, donde ter de ser considerado 
como unidade. O suporte fáctico, ao contrário, mantém a sua estrutura 
complexa de conjunto de fatos, sem que se tenha necessidade de consi-
derá-lo, mesmo conceptualmente, como unidade.
77. Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. I, § 23, 1; Enneccerus, 
Tratado de derecho civil, t. I, v. 2º, p. 6.
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(c) É preciso considerar, ainda, que o suporte fáctico se concretiza, 
sofre a incidência da norma jurídica, dando ensejo ao surgimento do fato 
jurídico, e se extingue. Há, portanto, uma determinação espacio- 
-temporal do suporte fáctico, que faz dele, por isso mesmo, transeunte. 
Diferentemente, o fato jurídico permanece no mundo jurídico, inde-
pendentemente da permanência dos elementos de seu suporte fáctico. 
Formado o suporte fáctico de um contrato, as vontades negociais 
manifestadas que o compuseram permanecem vivas, mesmo que aque-
les que as manifestaram morram ou mesmo mudem o conteúdo de sua 
vontade (o vendedor vem a arrepender-se da venda). O contrato existe 
a despeito de não mais existirem os seus figurantes ou de modificarem 
sua vontade. A sucessão à causa de morte nas obrigações contratuais 
bem mostra que o fato jurídico se mantém vivo para além do desapa-
recimento do suporte fáctico.
(d) Além disso, o fato jurídico subsiste, também, à própria lei de 
que resultou. Após incidir sobre o suporte fáctico e produzir o fato jurí-
dico, a norma jurídica pode ser revogada, deixar de existir, sem que tal 
circunstância afete a existência do fato jurídico. Depois de criado, o fato 
jurídico permanece no mundo jurídico independentemente de continu-
arem a existir os seus elementos constitutivos: norma e suporte fáctico. 
Com a perda de vigência da norma jurídica o suporte fáctico deixa de 
ser suporte fáctico a partir daí, mas nem por isso o fato jurídico já 
constituído perde a sua qualidade. Por esse motivo é que a modificação 
da norma regente de determinado tipo de contrato não altera as suas 
cláusulas pactuadas de acordo com as normas vigentes antes da modifi-
cação. O fato jurídico somente deixa de existir se desconstituído por um 
novo fato jurídico. A resolução, a rescisão, a revogação, a denúncia e as 
demais formas de desconstituição dos fatos jurídicos são, em si, fatos 
jurídicos cuja eficácia consiste em desconstituir ou deseficaciar atos 
jurídicos lato sensu

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