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AS RELAÇÕES DE PODER E OPRESSÃO NA ESCOLA PÚBLICA: UMA ANÁLISE DAS REPRODUÇÕES DESTE CONFLITO A PARTIR DAS OBRAS DE PAULO FREIRE Nádia Pereira Silveira¹ Este trabalho tem objetivo de, a partir da leitura e interpretação das obras de Paulo Freire, analisar as relações de poder existentes nas escolas públicas, onde se percebe que alguns professores reproduzem com os estudantes a opressão que sofrem por parte de gestores. Vivendo o cotidiano de uma escola pública pode-se sentir na pele o poder da hierarquia. Em um extremo está a administração pública, através da Secretaria de Educação e em outro temos os estudantes. Entre estes extremos estão a direção da escola e o corpo docente. São quatro segmentos que muitas vezes encontram um abismo entre si; abismo este que poderia ser minimizado através de uma ponte que não se constrói sozinho: o diálogo. Entenda-se por diálogo a “relação horizontal de A com B” (Freire, 2002). A partir da leitura das obras de Paulo Freire, pretende-se analisar as relações de poder existentes nas escolas públicas. Toda escola tem objetivos a buscar e esta busca acontece em conjunto: secretaria de educação, escola, família e estudantes, todos trabalhando como uma engrenagem para que a “máquina” da educação funcione corretamente. Algo como uma aliança. Todas as partes são importantes e uma precisa das outras para que as coisas aconteçam. Não há soberania! No entanto, infelizmente, em algumas escolas se encontra professores que não veem a educação desta forma. A disputa começa entre as próprias disciplinas: Matemática é superior a História, Português à Geografia e assim por diante. Um jogo de egos que não acrescenta em nada a busca de uma educação de qualidade. Uma vez que entre os próprios professores não se consiga estabelecer um diálogo coerente, que respeite as diferentes opiniões que surgirão, se começa ter um sério problema, pois estes professores são os responsáveis por executar os projetos, mediar os caminhos entre os estudantes e o conhecimento. A falta de diálogo entre os professores é somente um dos obstáculos que se enfrenta dentro de uma escola. Estes muitas vezes não concordam com certas ordens que recebem da secretaria de educação e, como estas normalmente vêm por intermédio de portarias, não conseguem expor sua insatisfação e acabam por não se envolver em determinadas atividades com a dedicação que o fariam se pudessem participar das decisões. Os professores desejam ser escutados, desejam manifestar-se e ter suas opiniões respeitadas. O mesmo acontece com os estudantes e suas famílias. Quando o estudante não está obtendo resultados satisfatórios nas avaliações, a família é normalmente chamada para que se fale de sua responsabilidade em ajudá-lo em tarefas de casa, em observar o cuidado com os materiais etc. Estes familiares raramente são chamados para opinar sobre os projetos que a escola pretende pôr em prática, escutar sua opinião e suas sugestões. ¹ Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pelotas. Contato: silveira_nadia@hotmail.com Os anos passam, estudos e mais estudos são realizados, mas o que se vê muito presente dentro da escola são salas de aula lotadas de estudantes, dispostos em carteiras que obedecem ao que Focault denomina “escola-prisão”², onde os alunos são enfileirados para que possa haver um maior controle do comportamento de todos de maneira que “(...) a sala de aula formaria um grande quadro único, com entradas múltiplas, sob o olhar cuidadosamente ‘classificador’ do professor” (FOUCAULT, 1977, p. 135). Tendo em vista que a educação seja uma forma de intervenção no mundo, como nos diz Freire (1997), muito mais que o discurso, o exemplo dado pelo professor em sua luta por um mundo mais justo servirão como incentivo para que não se forme mera mão-de-obra, mas que se tenha sujeitos que não se omitam diante das injustiças do mundo. Assim como os pais devem dar aos seus filhos o exemplo no seu comportamento diante das adversidades para não cair na incoerência entre pensamento, discurso e ação, os professores em suas relações com os alunos precisam desta coesão. Freire (1997) nos conduz a pensar nisso, visto que “ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo”. No entanto, não é raro ouvir dos estudantes algumas reclamações acerca do comportamento de certos professores que traçam relações verticais com os alunos, impondo suas vontades e subestimando a capacidade dos estudantes. Sobre isso, Freire (1997, p. 19) apresenta a seguinte opinião: “não é possível ao professor pensar que pensa certo, mas ao mesmo tempo perguntar ao aluno se sabe "com quem está falando". Não somente os alunos vivem esta relação de opressão dentro da escola. Os professores também vivenciam experiências semelhantes no seu cotidiano. Tais acontecimentos são motivo para que se reforce em alguns locais, a campanha contra o Assédio Moral, tamanha pressão sofrida por alguns professores. Assim como acontece muitas vezes com os alunos, os professores também são impedidos de expor suas opiniões ou participar da tomada de decisões. Não são raras às vezes em que os professores vão desmotivados para as reuniões, certos de que estão perdendo seu tempo, uma vez que experiências anteriores de reuniões que tiveram pouco ou nenhum resultado na prática. Esta falta de atenção às necessidades dos professores acaba por desinteressá-los em participar de novas reuniões, visto que não se sentem contemplados nas mesmas. Estão presente, mas não participam e quando podem posicionar-se, sua opinião acaba perdida em livros de ata sem que haja a efetivação de suas demandas. Muitos professores sofrem pressões também da Secretaria de Educação, o que é completamente compreensível, uma vez que esta representa os interesses do governo, aqui no papel de patrão. Dificultar a luta dos trabalhadores é uma maneira de perpetuar as situações presentes. Em sua obra Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire se refere à esta necessidade do governo de “dividir, para manter a opressão”. Com suas sábias palavras, Freire explica esta atitude que visa desmotivar os trabalhadores de sua luta ² A comparação física das escolas e das prisões procede de acordo com sua composição arquitetônica. Classes distribuídas lado a lado sem nenhuma comunicação, grandes nas janelas, refeitório comunitário, muros altos e com grades, portões sem nenhuma visibilidade com o lado externo à escola. contra a situação de opressão que vivem: “Na medida em que as minorias, submetendo as maiorias ao seu domínio, as oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condições indispensáveis à continuidade de seu poder” (FREIRE, 1987, p. 79). Engana-se quem pensa que somente alunos e professores vivem sob constante pressão. Muitas vezes a indisposição gerada entre equipe diretiva e professor é resultado de imposições da Secretaria de Educação. Esta envia a escola por meio de portarias decisões que foram tomadas internamente e as quais passam a dever ser cumpridas pelos professores das instituições. Estes se aborrecem por perceber que as tarefas aumentam a cada dia, mais e mais responsabilidades são atribuídas aos professores, mas estes não percebem nenhuma melhoria em suas condições e mesmo assim são orientados a cumprir o que foi incumbido pela Secretaria de Educação. Esta relação cria por vezes em ambiente de hostilidade, onde o professor se sente pressionado pela direção, mas não pensa que a direçãoda escola também sofre pressões. Um exemplo desta pressão sofrida pela equipe diretiva está no fato de a direção da escola ser persuadida a manter a escola aberta em dias de paralisação para não prejudicar a comunidade. A educação tem agentes que, uma vez que optem por alcançar os objetivos estabelecidos, precisam trabalhar conjuntamente para que chegue a um objetivo em comum: secretaria de educação, equipe diretiva das escolas, professores e estudantes. Tendo em vista a realidade da terceirização dos serviços no setor público, não são citados aqui os funcionários, pois muitos não fazem parte do quadro de carreira e trabalham temporariamente nas escolas. Se a escola tem o objetivo de preparar sujeitos que pensem e que ajam com ética e responsabilidade, não é impedindo o diálogo que conquistará esta meta e a sala de aula deve refletir o ambiente dos corredores, o respeito existente no ambiente como um todo. As relações de poder são uma realidade na sociedade e estar no poder é o desejo de muitas pessoas. O que precisa ser observado é o que estas pessoas fazem ao estarem nesta situação. Há uma necessidade urgente de se rever determinadas posturas dentro do ambiente escolar. É preciso que todos os envolvidos tenham a oportunidade de expressar suas opiniões e sejam respeitados como seres inacabados que somos. Todos têm a contribuir com a educação, ninguém é detentor da verdade ou do saber. É através de situações democráticas e dialógicas, onde realmente se ouça o outro, em que a empatia exista e permita colocar-se no lugar dos outros que serão construídos laços que são superiores a relações de poder: são laços de cumplicidade entre pessoas que desejam uma educação libertadora, que liberte a todos da opressão. Referencias Bibliográficas: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Ma- chado,Rio de Janeiro: Edições Graal, 1977. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 2002. __________. Pedagogia do Oprimido. Paulo Freire. 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. __________. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
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