Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO REAIS PERDA DA PROPRIEDADE Aula 9 Objetivos Ao final da sessão o aluno deverá ser capaz de: - Compreender as formas de perda da propriedade; - Compreender a estrutura da propriedade fiduciária Sumário 1. Perda da Propriedade a. Conceito b. Alienação. c. Renúncia d. Abandono 1) abandono de imóvel 2) arrecadação de imóvel como bem vago 3) domínio do Poder Público e. Perecimento f. Desapropriação 2. Propriedade Fiduciária a. Conceito e elementos b. Sujeitos e características c. Objeto e Desdobramento da relação possessória d. Requisitos do contrato fiduciário, direitos e deveres e. Consequências do inadimplemento e Teoria do adimplemento substancial DA PERDA DA PROPRIEDADE Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: I — por alienação; II— pela renúncia; III — por abandono; IV — por perecimento da coisa; V — por desapropriação. Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. Decorre do ius disponendi (direito de dispor) • Forma de extinção subjetiva do domínio •Titular do direito, por vontade própria, transmite a outrem, onerosa ou gratuitamente, bem móvel (tradição), ou imóvel (registro imobiliário). • Em regra, necessita da vontade do titular para se perfazer, mas há casos em que poderá ocorrer sem consentimento do titular, como, na compra e venda com cláusula de retrovenda. Alienação. • Negócio Jurídico unilateral • Proprietário declara, expressamente, propósito de despojar-se do direito de propriedade • Na renúncia nada se transmite a ninguém, apenas que o titular abdica do direito real, que se converte em res nullius. • Negócio jurídico interpretado restritivamente. • Lei não admite renúncia tácita, sobretudo bens imóveis => deve ser registrado no Cartório de Imóveis. • Bens móveis podem ser renunciados => modalidade de perda da propriedade não usual. Renúncia • Perda da propriedade por ato voluntário do seu titular. • Animus de abandono presumida pela cessação dos atos de posse. Apesar de estranho e provavelmente contrário à boa-fé, pela manifestação expressa exigida na renúncia é possível que o sujeito que renunciou o bem continue na posse do mesmo. • Impossível tal ato no abandono => falta de práticas de atos sobre a coisa que faz induzir que o proprietário a abandonou. • Imóvel abandonado passa ao domínio do Poder Público 3 anos depois, se localizado em zona urbana ou rural (CC, art. 1.276 e § 1º). Abandono • Ato unilateral - proprietário de um imóvel se desfaz voluntariamente. • Necessário que haja INTENÇÃO ABDICATIVA. • Simples negligência ou descuido não caracteriza abandono. • Preciso que, cessados os atos de posse, o dono deixe de cumprir deveres de ordem fiscal, revelando desinteresse. Arrecadação do imóvel como bem vago. • Havendo intencional abandono do imóvel por seu proprietário, se também não se encontrar na posse de outra pessoa, será arrecadado como bem vago. Domínio do poder público. • Imóvel, após 3 anos da declaração da vacância passará à propriedade do Município ou DF (zona urbana) ou da União (área rural). Abandono de Imóvel Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições. § 1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. § 2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais. OBS: Doutrina aponta inconstitucionalidade desse dispositivo, alegando afronta direta ao devido processo legal (art. 5º, LIV, CF/88) na fixação de presunção absoluta de abandono. NÃO HÁ DIREITO SEM OBJETO • Com perecimento da coisa extingue-se propriedade sobre ele. • Pode decorrer de: Ato involuntário - oriundo de fato natural (terremoto, raio etc). Ato voluntário – oriundo do titular do domínio (destruição). Perecimento da coisa • Procedimento pelo qual Poder Público despoja alguém de certo bem, com fundamento em necessidade pública, utilidade pública ou interesse social. • Poder Público adquire mediante indenização prévia e justa, pagável em dinheiro ou, se o sujeito passivo concordar, em títulos de dívida pública com cláusula de exata atualização monetária (CF/88, arts. 52, XXIV, 182, §§ 3º e 4º, III, 184, §§ 1º a 5º, e 185, 1 e II). • Desapropriação => Direito Administrativo • CC => somente indica como forma de perda da propriedade. Desapropriação • Tem por causa um negócio fiduciário, composto de 2 elementos: de natureza real – determina transmissão do direito ou da propriedade; de natureza obrigacional – obrigação de restituir o bem, após exaurimento do objeto do contrato. • Objetivo => reforçar responsabilidade do vínculo obrigacional. • Credor fiduciário converte-se automaticamente em proprietário, tendo no valor do bem em garantia o eventual numerário para satisfazer-se na hipótese de inadimplemento do débito pelo devedor fiduciante. Propriedade fiduciária Sujeitos Fiduciário • Credor que recebe propriedade e posse indireta do bem. Fiduciante • Devedor que entrega propriedade do bem e guarda para si a posse direta. Desdobramento da relação possessória Credor fiduciário - possuidor indireto Devedor fiduciante - possuidor direto. Objeto • Bem móvel infungível. • Propriedade fiduciária na alienação fiduciária de bem imóvel (Lei 9.154/97). • Aplicável legislação específica, sendo CC fonte subsidiária naquilo que não for incompatível (art. 1.368-A CC). Propriedade fiduciária Características da propriedade fiduciária: a) Resolubilidade (condição: adimplemento do contrato); b) Transmissão da propriedade ao credor fiduciário; c) Transmissão da posse indireta ao credor fiduciário pelo constituto possessório; d) Permanência do devedor fiduciante como possuidor direto; e) Bem objeto da propriedade fiduciária utilizado como garantia ao adimplemento do negócio fiduciário; f) Devolução da propriedade e da posse indireta (traditio brevi manu) ao devedor após adimplida obrigação principal. Propriedade fiduciária Súmula 28 STJ. • Autoriza que propriedade fiduciária incida sobre bem já pertencente ao devedor. Requisitos do contrato Descrição do objeto Descrição da dívida Prazo de pagamento Taxa de juros (se houver, arts. 406 e 591, CC). • Necessidade de registro do título (negócio formal). • Nula cláusula que autoriza credor a ficar com bem no caso de inadimplemento. (pacto comissório) • Propriedade fiduciária venda com reserva de domínio. Propriedade fiduciária Direitos e deveres. Consequências do inadimplemento do contrato. Art. 1.363. Antes de vencida a dívida, o devedor, a suas expensas e risco, pode usar a coisa segundo sua destinação, sendo obrigado, como depositário: I - a empregar na guarda da coisa a diligência exigida por sua natureza; II - a entregá-la ao credor, se a dívida não for pagano vencimento. Art. 1.364. Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor. Art. 1.365. É nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento. Parágrafo único. O devedor pode, com a anuência do credor, dar seu direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta. Art. 1.366. Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da dívida e das despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante. Propriedade fiduciária Direitos e deveres. Consequências do inadimplemento do contrato. • Para exercício do direito de executar garantia=> credor deve constituir devedor em mora • DEVEDOR CONSTITUIDO EM MORA surge interesse de agir para ação de busca e apreensão. • Não cabe falar em equiparação do devedor fiduciário com o fiel depositário, nem em prisão civil (súmula vinculante nº 25 STF). Propriedade fiduciária Essência da teoria impedir o credor de requerer resolução do contrato caso tenha havido cumprimento significativo de seu conteúdo fundamental. Busca afastar possibilidade de busca e apreensão na alienação fiduciária em garantia de bens imóveis. Teoria do Adimplemento Substancial ALIENAÇÃO FÍDUCIÁRIA. Busca e apreensão. Falta da última prestação. Adimplemento substancial. O cumprimento do contrato de financiamento, com a falta apenas da última prestação, não autoriza o credor a lançar mão da ação de busca e apreensão, em lugar da cobrança da parcela faltante. O adimplemento substancial do contrato pelo devedor não autoriza ao credor a propositura de ação para a extinção do contrato, salvo se demonstrada a perda do interesse na continuidade da execução, que não é o caso. Na espécie, ainda houve a consignação judicial do valor da última parcela. Não atende à exigência da boa-fé objetiva a atitude do credor que desconhece esses fatos e promove a busca e apreensão, com pedido liminar de reintegração de posse. Recurso não conhecido • Julgado trata de ação de busca e apreensão de auto Fiat Tipo, alegando falta de pagamento da última prestação. • Na decisão, Min. Ruy Rosado de Aguiar esclarece que extinção do contrato por inadimplemento do devedor só se justificaria quando mora causar ao credor dano de tal envergadura que não interesse mais recebimento da prestação devida. • O contrato em tela foi substancialmente cumprido. Teoria do adimplemento substancial Caso Concreto Uma confecção de São Paulo encomendou a uma outra empresa a confecção de diversas etiquetas para serem acrescentadas aos seus produtos. Quanto às etiquetas, após costuradas nos produtos, pode- se afirmar que houve o fenômeno da adjunção ou da especificação? Justifique sua resposta. Questão objetiva 1 Sobre as causas de perda da propriedade, pode-se afirmar que: a. O abandono que dá origem à res derelicta não autoriza a perda da propriedade móvel ou imóvel. b. A desapropriação é forma de perda da propriedade e só pode ter fundamento necessidade e interesse público. c. A renúncia à propriedade é considerada negócio jurídico bilateral pelo qual o titular expressa a vontade de excluir a coisa de seu patrimônio, gerando efeitos independente do registro do ato renunciativo, ainda que o bem seja imóvel. d. A desapropriação indireta não pode ser considerada forma de esbulho possessório, uma vez que o Poder Público não se sujeita aos interditos. e. Não há direito sem objeto, portanto, perecendo a coisa móvel ou imóvel extinta estará a respectiva propriedade. Questão objetiva 2 Sobre a desapropriação é correto afirmar que: a. A desapropriação é uma das formas de perda voluntária do domínio para atender necessidade ou utilidade pública ou interesse social. b. Todos os bens móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos, podem ser objeto de desapropriação. No entanto, os direitos de personalidade não são passíveis de desapropriação. c. O desapropriado não terá direito de preferência caso a Administração Pública desista de dar finalidade pública prevista no ato desapropriatório. d. Utilidade pública possui a conotação de urgência, algo indispensável para suprir carências. Necessidade é a qualidade do que acrescenta, dá funcionalidade, mas não se revela imprescindível. e. O apossamento administrativo é considerada prática lícita e admitida pelo ordenamento brasileiro.
Compartilhar