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pragmática da língua portuguesa

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LETRAS�|��9�
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PRAGMÁTICA 
DA LÍNGUA 
PORTUGUESA 
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LETRAS�|�10�
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LETRAS�|��11�
�
PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA 
�
LUCIENNE C. ESPÍNDOLA 
�
INTRODUÇÃO 
�
�
Este� capítulo� objetiva� situar� a� disciplina� Pragmática� nos� estudos� da� linguagem� e� introduzir� a�
importância�do�usuário�(interlocutor)�e�do�contexto�nas�práticas�de�leitura�e�de�produção�de�texto.��
�
“Isso� equivale� a� ir� além� do� significado� das� palavras� e� da� estrutura� sintática� e� do� valor� de�
verdade� das� sentenças� para� incluir� os� elementos� contextuais� que� fazem� com� que� o�
significado,�em�uma�acepção�pragmática,�dê�conta�de�mais�do�que�é�explicitamente�dito�na�
interação� lingüística�e� torne�possível�a�análise�dos�atos� realizados�por�meio�da� linguagem.”�
(MARCONDES,�2005,�p.�27)�
�
��� �Para� alguns� filósofos� o� contexto� e� o� usuário� passaram� a� ser� componentes� imprescindíveis� para� a�
construção�do�sentido.��Assim,�desponta�a�Pragmática�no�seio�da�Filosofia�e�alguns�filósofos,�e�posteriormente,�
linguistas,�passaram�a�investigar�como�a�linguagem�pode�dizer�mais�do�que�diz�através�da�estrutura�linguísticoͲ
discursiva,� negando� (opondoͲse)� à� concepção� de� linguagem� que� postulava� ser� a� linguagem� espelho� do�
pensamento.� As� teorias� que� serão� abordadas� aqui,� desenvolvidas� inicialmente� no� seio� da� Pragmática,�
consideram,�de�alguma�maneira,�o�usuário�e�o�contexto�nas�interações�verbais.�
Dascal�(1982)�propõe�duas�origens�para�a�Pragmática,�sendo�que�a�principal�diferença�entre�as�duas�é�
a� concepção� de� Pragmática:� subordinada� à� Linguística� � e,� consequentemente,� à� Semiótica� Ͳ� como� uma�
disciplina�responsável�pelo�terceiro�nível�de�análise� linguística;�ou�oriunda�dos�escritos�de�Saussure� (1916)�–�
como�uma�ciência�autônoma.�
�
A� concepção� moderna� de� uma� disciplina� com� o� nome� de� “pragmática”� está� intimamente�
ligada� à� idéia� de� uma� outra� disciplina,� com� o� nome� de� “semiótica”� ou� “semiologia”,� que�
surgiu�por�volta�do� início�deste�século.�A�semiótica�ou�semiologia� tem,�como�se�sabe,�uma�
dupla�origem:�os�escritos�de�Charles�Sanders�Peirce�e�de�Ferdinand�de�Saussure.�De�um�modo�
geral,�ela�pode�ser�caracterizada,�segundo�ambos,�como�a�teoria�geral�dos�sinais.�A�ela�ficam�
assim�naturalmente�subordinadas�todas�as�disciplinas�que�se�ocupam�de�um�tipo�particular�de�
sinais,�como�é�o�caso�da�lingüística.�É�a�essa�dupla�origem�da�semiótica�e�à�influência�desigual�
de�seus�fundadores�sobre�o�desenvolvimento�da�lingüística�contemporânea�que�[...]�remonta,�
�
LETRAS�|�12�
�
pelo� menos� em� � parte,� o� problema� da� inclusão� de� um� componente� pragmático� na� teoria�
lingüística.�(p.8)�
��
A�Pragmática,�originária�dos�estudos�de�Peirce�no�final�do�século�XIX,�é�concebida�como�um�nível�de�
análise�da�linguística�e�tem�como�objeto�“[...]�o�funcionamento�de�algo�como�signo�envolve�o�signo,�aquilo�que�
o�signo�representa�e�aquele�para�quem�o�signo�representa�algo.”�(p.16)�De�acordo�com�Guimarães�(1983),�os�
estudos�pautados�nessa�fonte�apontam�três�direções�para�a�Pragmática.�
�
Uma�que�considera�o�usuário�somente�para�determinar�a�relação�da�linguagem�com�o�mundo�
(referência),�outra�que�considera�o�usuário�enquanto�tal�na�sua�relação�com�a�linguagem.�[...]�
e�uma�terceira�que�se�configura�a�partir�da�linguagem�ordinária.�(ibid.,�p.�16Ͳ17)�
�
A�primeira�vertente,�também�denominada�de�pragmática�indicial,��
�
[...]�subordina�o�usuário�ao�problema�da�referência.[...]�Esse�tipo�de�Pragmática�seria�do�tipo�
que� teria�como� fonte�o�signo� indicial�de�Pierce�e�um�compromisso�com�a�semântica� lógica,�
ocupandoͲse,� como� esta,� do� problema� da� referência� de� proposições,� ou� seja,� do� valor� de�
verdade�de�proposições.�(ibidem.,�p.17)��
�
Filiados� a� essa� vertente� encontramos� os� filósofos�BarͲHillel� (1954),� Stalnaker� (1972)� e� os� linguistas�
Jakobson�(1963)�e�Benveniste�(1966).�SalienteͲse�que�essa�vertente,�tradicionalmente�conhecida�como�sendo�
objeto�da�Semântica,�por�ter�como�objeto�de�pesquisa�a�referência,�não�será�abordada�neste�espaço1.�
A� segunda� vertente� está� centrada� no� intérprete� (usuário� da� linguagem)� e� o� uso� que� este� faz� da�
linguagem.�Ou�seja,�essa�Pragmática�“focaliza�a�necessidade�de�se�considerar�o�usuário�do�signo�formulado�por�
Peirce”�(p.19);�ou�seja,�como�intérprete.�Morris�(1976)�representa�essa�vertente.�
A�terceira�vertente�da�Pragmática�oriunda�de�Peirce�é�a�que�concebe�o�usuário�como� interlocutor.�E�
nessa�vertente,�Guimarães�inclui:�a�Pragmática�Conversacional�ͲGrice�(1982�[1967]);�A�Pragmática�Ilocucional��Ͳ�
Austin� (1990� [1962])� e� Searle� (1981� [1969],� 2002� [1979])� Ͳ� e� a� Semântica� da� Enunciação� –� Ducrot� (1972,�
1987,1988)�e�Vogt�(1980).�
� A�segunda�origem�da�Pragmática,�proposta�por�Dascal�(1982),�são�os�escritos�de�Ferdinand�de�Saussure�
(1916),�que,�ao�estabelecer�como�objeto�da�Linguística�a� langue,� �deixou�a�parole�para�outras�ciências,�entre�
������������������������������������������������������������
1�Essas�questões� foram�abordadas�na�disciplina�de� Semântica.� �Alguns� conceitos,�porém,� serão� retomados�no�momento�em� forem�
requeridos.�
�
elas� a� Prag
perspectiva
Linguística.�
� Inde
novo�olhar�
contexto� Ͳ� i
objeto�de�in
Nes
algumas� da
Ilocucional�
Grice(1982�
teóricas�pod
�
As�
responder,�
� �
�
gmática,� qu
a,� a� Pragmát
��
ependente�d
sobre�a�língu
impulsiona,�
nvestigação,�
ste� espaço,�
as� teorias� d
Ͳ� Austin� (1
[1967]);�Ͳ�e�
dem�nos�ser�
linhas� esco
de�alguma�fo
�
e� tem� com
tica� passa� a
da�origem�da
ua�proposto�
a�partir�da�d
as�variáveis�
não� há� con
desenvolvida
1990� [1962]
a�Semântica
úteis�no�pro
olhidas� para�
orma,�às�per
�x O�que�fax As� inte
acontecx Além�da
element
suficienx Como�é
RESUMO
de�Peirce
análise�d
de�
LEITUR
GUIMAR
pragmát
Estudos�Ͳ
mo� objeto� d
� ter� status
a�Pragmática
pela�Pragmá
década�de� l9
usuário�e�co
dições� de� s
s� na� terceir
)� e� Searle�
a�da�Enuncia
ocesso�de�leit
esta� abord
rguntas:�
azemos�quand
rações,� atrav
cem�assistema
a�estrutura�lin
tos� (fatores)�
te�para�se�diz
é�possível�dize
O:�A�Pragmá
e�ou�de�Sau
da�Linguísti
estudo).�A�
RA
RÃES,�Eduard
ica,�Revista�
Ͳ 9,�1983.
e� investigaç
de� ciência,�
,�se�advinda�
ática�–�a�rela
970,�pesquis
ontexto.�
e� ver� todas�
ra� vertente�
(1981� [1969
ação�–�Ducro
tura�e�produ
dagem,� a� p
�
do�usamos�a�l
vés� da� moda
aticamente?
nguística�utiliz
devem� (prec
zer�o�que�se�p
r�mais�do�que
tica�tem,�pe
ussure.�A�pri
ca�(mas,�pa
segunda�co
do�R.J.�Sobr
das�Faculd
ção� o� uso� d
não� podend
dos�escritos
ação�dos�usu
as�na�área�d
as� vertente
da� Pragmá
9],� 2002� [1
ot�(1972,�198
ução�de�texto
partir� dos� s
�
inguagem?�So
lidade� falada
zada,�na�fala�
cisam)� ser� co
retende�em�to
e�est�literalm
elo�menos,�
imeira�coloc
ra�isso,�a�Li
oncebe�a�Pra
re�os�camin
ades�Integr
da� língua� p
do� ser� consi
s�de�Peirce�o
ários�com�a�
da�Linguística
es� da� Pragm
tica� oriunda
979]);� a� Pra
87,1988).�Ac
os.�
eus� pressup
omente�descr
a� e� da� escrit
ou�na�escrita,
nsiderados?�
odas�as�situaç
mente’�dito�lin
duas�origen
ca�a�Pragmá
nguística�te
agmática�co
hos�da�prag
adas�de�Ub
LETRAS�|��1
elos� interlo
iderada� com
u�os�escritos
língua�em�u
a�as�quais� in
mática,� então
a� de� Peirce:
agmática� Co
creditamos�q
postos� teóri
� �
revemos�o�mu
ta,� seguem� a
,�para�se�inte
O� texto,� fala
ções?��
nguisticament
ns:�advinda�
ática�como�erá�de�rever
omo�uma�ci
gmática.�So
eraba�Ͳ FIU
13�
cutores.� Ne
mo� um� nível�
s�de�Saussure
m�determina
ncluem,�em�
o� selecionam
:� A� Pragmát
onversaciona
que�essas� lin
icos,� procur
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alguma� regra�
ragir,�que�out
do� ou� escrito
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um�nível�de
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LETRAS�|�14�
�
Este�capítulo�constituiͲse�de�uma�introdução�e�quatro�unidades:��
1.�Atos�de�Fala�(Austin�e�Searle)�
2.�Implícitos�linguísticos�e�pragmáticos:�implicaturas�conversacionais�(Grice)�
3.�Implícitos�linguísticos�e�pragmáticos:�Atos�de�linguagem�Indiretos�(Austin/Searle)�
4.�Implícitos�linguísticos�e�pragmáticos:�Pressupostos�e�subentendidos�(Ducrot)�
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LEITURA
ARMENG
121.
MARCON
de�Janeir
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ATOS D
filiada�à�Filos
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ntes�desse�g
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Oxford� no�
linguagem�e
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sion�Meanin
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o�anotações�
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GAUD,�Franç
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79]),�e�algun
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A�Pragmática
p.16Ͳ29.��
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uando�um�gr
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realizamͲse�a
estigações�n
dos�Words�a
1950� e� mai
rmite�realiza
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Austin�(1962)
ns�pontos�ref
ue� ficou�ape
ustin�sobre�a
litteris,�pois�
como�esboço
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ática.�São�P
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LETRAS�|��1
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upo�de�filóso
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formulados,�
enas�alinhava
a� linguagem�
o�texto�póst
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fia�contemp
15�
ofos�começo
omo:�
guagem?�
e�1940,�mas
ministrados�
m� universida
nferências�es
r�um� integra
a�por�Searle�
principalme
ado�na�obra
ordinária�e�
tumo�publica
conferência�q
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porânea.�Rio
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que�
o�
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LETRAS�|�16�
�
A� primeira� conferência� iniciaͲse� com� Austin� ‘declarando’� que,� por� um� tempo� maior� do� que� o�
necessário,� os� gramáticos,� através� de� critérios� gramaticais,� classificaram� uma� sentença� como� declarativa,�
interrogativa,�negativa,�que�expressa�desejo,�ordem�ou�concessão,�enquanto�que�os�filósofos�acreditavam�ter�a�
sentença�a�função�de�descrever�ou�declarar�um�fato.�
�
Recentemente,� porém,� muitas� das� sentenças� que� antigamente� teriam� sido� aceitas�
indiscutivelmente� como� “declarações”,� tanto� por� filósofos� quanto� por� gramáticos,� foram�
examinadas�com�um�novo�rigor.�Este�exame�surgiu�ao�menos�em�filosofia,�de�forma�um�tanto�
indireta.� De� início,� apareceu,� nem� sempre� formulada� sem� deplorável� dogmatismo,� a�
concepção�segundo�a�qual� toda�declaração� (factual)�deveria�ser�“verificável”,�o�que� levou�à�
concepção� de� que�muitas� “declarações”� são� apenas� o� que� se� poderia� chamar� de� pseudoͲ
declarações.�(AUSTIN,�1990,�p.22)�
� �
� Nesse� contexto,� um� grande� número� de� sentenças� seria� considerado� sem� significado� (vazias� de�
significado)� se� submetidas� ao� critério� de� verdade� ou� falsidade.� A� partir� dessa� constatação,� Austin� (1962)�
propõe� sua� teoria�dos�atos�de� fala�em�que�dizer�nem� sempre�é� somente� ‘descrever’�e/ou�declarar� sobre�o�
mundo.�Dizer,�em�muitas�situações,�é� fazer;�é�realizar�uma�ação�ao�mesmo�tempo�em�que�se�diz�essa�ação.�
Nessa� perspectiva,� uma� grande� parte� dos� enunciados� não� passíveis� de� serem� submetidos� às� condições� de�
verdade� (valor�de�verdade)� teriam�seu�significado�explicado�através�do�contexto�em�que�desempenham�um�
determinado�‘ato’.�
�
Eu aposto 10 reais com você que o Corinthians vai ser campeão. 
Eu batizo este carro de Julião. 
Eu declaro guerra ao cigarro. 
Confiro-lhe o título de bacharel em Direito. 
Eu o condeno a 1 ano de trabalhos comunitários. 
Dou minha palavra como João chegará na hora estipulada.2 
� �
Austin,�então,�passa�a�investigar�os�enunciados�que,�para�ele,�não�resistiam�às�condições�de�verdade,�
enquanto� atos� de� fala.� E� é� concebendo� a� linguagem� como� forma� de� ação� que,� inicialmente,� esse� filósofo�
separa�os�enunciados�de�uma�língua�em�dois�grandes�grupos:��
������������������������������������������������������������
2�Exemplos�adaptados�de�Levinson�(2007.�p.�290).�
�
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Enu
de�afirmaçõ
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felicidade.�
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rtindo,� inicia
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uando� esses�
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s�a�palavra��con
luno,�cons
mais�esclar
nstatativos
3:
O curso de Pr
rformativos:
pelo�enunciad
 Eu declaro en
almente,� da
s�por�não�se�
enunciados�
(A.1) Deve h
convencional
e, além disso
(A.2) as pess
específico inv
(B.1) O proce
(B.2) complet
 
�����������������
nstatif��com�dua
sulte�o�Dic
recimento
:�aqueles�ato
ragmática está s
:� aqueles� cu
do.�
ncerrada esta se
a� tese� de�
prestarem�a
não� seriam
haver um proc
l e que inclua o 
o, que 
soas e as circu
vocado. 
edimento tem de
to. 
as�traduções:�co
cionário�E
os�sobre�a�
os�que�serve
sendo elaborado
uja� realizaçã
essão. (enuncia
que� os� enu
a�declarar�o
m� adequados
cedimento conv
 proferimento d
nstâncias partic
e ser executado
onstatativo�e�co
scolar�de�
noção�de�
em�para�des
o pela professor
o� resulta� em
do proferido pe
unciados� pe
u�descrever�
s�ou� felizes,�
vencionalmente 
de certas palavr
culares, em cad
o por todos os pa
onstativo.�
Filosofia�(
valor�de�v
crever�o�mu
ra Lucienne. 
m� um� fazer;
elo síndico em u
erformativos
o�mundo,�A
os�quais�de
 aceito, que a
as, por certas p
da caso, devem
articipantes, de
(http://ww
verdade.
LETRAS�|��1
undo,�falam�d
;� dizer� é� sim
uma assembleia
s� não� pode
Austin�propõ
enominou� de
apresente um d
pessoas, e em ce
m ser adequada
e modo correto e
ww.defnar
17�
de�algo�atra
multaneame
a de condomínio
eriam� ser� n
e�critérios�p
e� condições�
determinado ef
ertas circunstânc
as ao procedime
e 
rede.com)
�
vés�
nte�
o)nem�
para�
de�
feito 
cias; 
ento 
)�
�
LETRAS�|�18�
�
(ȳ.1) Nos casos em que, com freqüência, o procedimento visa às pessoas com seus pensamentos e 
sentimentos, ou visa à instauração de uma conduta correspondente por parte de alguns dos participantes, 
então aquele que participa do procedimento, e o invoca deve de fato ter tais pensamentos ou sentimentos, 
e os participantes devem ter a intenção de se conduzirem de maneira adequada, e, além disso, 
(ȳ.2) devem realmente conduzir-se dessa maneira subseqüentemente. (AUSTIN, 1990, p. 131) 
�
Austin�previu�que�nem�todos�os�atos�de�fala�cumprem�rigorosamente�todas�as�condições�de�felicidade�
(A,�B�ou� ȳ)�e�que�o�não�cumprimento�de�algumas�dessas�condições�não�constitui�violações�de�mesmo�nível.�
Para�ele�a�violação�de�uma�das�condições�do�grupo�A�e�B�gera�infelicidades�do�tipo�falhas�–�a�ação�pretendida�
pela�enunciação�performativa�não�se�realiza�de�forma�eficaz;�e�denomina�abusos�as�infelicidades�geradas�pelas�
violações�das�condições�do�grupo�ȳ.�
� Consideremos�a�notícia�abaixo.�
Igreja proíbe padre casado de celebrar casamentos em Goiânia (GO) 
Extraído de: Folha Online - 10 de Novembro de 2008 
 
A Igreja Católica em Goiânia (GO) e em outras 26 cidades divulgou, na missa do último domingo, uma 
carta da arquidiocese dizendo que Osiel Santos, 62, está demitido da função de padre desde maio e não 
pode mais celebrar casamentos. Ele abandonou a batina há 20 anos para se casar, mas continuou exercendo 
o sacerdócio. 
O Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Goiânia decidiu nesta segunda-feira também invalidar os cerca 
de 400 matrimônios celebrados por Santos depois de casado, que eram feitos em casas e clubes. 
Os batizados, no entanto, ainda valem --apesar de terem sido feitos por quem comportou em "persistente 
escândalo" e "gravíssima ofensa a Deus", segundo a carta assinada pelo arcebispo dom Washington Cruz, 
que ainda será lida nas missas por duas semanas. 
Em nota, a arquidiocese disse que nenhum outro sacramento recebido por meio de Santos terá validade e "o 
fiel que o procurar com esse propósito torna-se cúmplice de seu ato irregular diante da igreja". 
 
Disponível em:< http://www.jusbrasil.com.br/noticias/167660/igreja-proibe-padre-casado-de-celebrar-casamentos-em-goiania-go>. Acesso em: 01 jul. 2009. 
(Texto adaptado) 
� Essa� notícia� publica� um� ritual� social� –� o� casamento� religioso� –� que� se� realiza� através� de� um� ato�
performativo� em� que� o� padre� (na� Igreja� Católica)� deveria� estar� investido� da� autoridade� necessária� para�
proferir�o�enunciado�“Eu�vos�declaro�casados”.�Esse�enunciado�é�mais�que�um�dizer,�é�um�fazer,�é�tornar�as�
duas�pessoas�que�ali�estão,�perante�a�igreja,�casados.�No�entanto,�de�acordo�com�a�notícia,�em�todos�os�atos�
�
(casamento
tinha�autori
A� c
casamentos
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do�ato.�Port
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na�Teoria�d
(ȳ.1)�també
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condição� (A.
s�e�outros�sa
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tanto,�tudo�i
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racteriza�o�ca
ofo.�
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A�quebra�do�
os�Atos�de�F
m�foram�vio
m�das�condiç
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cativas,�de�pr
s�pelo�padre
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1)� foi� satisf
acramentos�f
ompleta�(B1�e
realizados�p
ndica�que�as
,�de�acordo�c
dotar:�anula
re�espaço�pa
asamento�re
notícia,�pode
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Fala,�às�cond
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vos.�Essas�ca
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performativo
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RESUMO:�Au
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o�mundo,�f
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m�não�se�tem
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(1990�[1962]
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O� padre� qua
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o�
�
LETRAS�|�20�
�
Considerando�essas�características,�o�enunciado�abaixo,�originalmente�classificado�como�performativo,�
ao�ser�reescrito�com�propriedades�(gramaticais)�linguísticas�não�previstas�para�os�performativos,�deixa�de�ser�
um� enunciado� performativo;� e� os� enunciados� resultantes� dessa� reescritura� são� considerados� como�
pertencendo�ao�grupo�dos�constatativos.�
�
��EU DECLARO GUERRA AO CIGARRO. 
 Eu declarei guerra ao cigarro. 
 Guerra ao cigarro foi declarada por mim. 
 Ele declara guerra ao cigarro. 
�
A�reescritura�do�enunciado�Eu�declaro�guerra�ao�cigarro.,�com�mudança�de�voz�verbal,��de�tempo�e�de�
pessoa,�mostra�que�os�critérios�funcionam�com�esse�enunciado,�salienteͲse,�em�um�contexto�em�que�o�verbo�
‘declarar’�esteja�sendo�utilizado�para�realizar�a�ação�que�a�enunciação�veicula.�Ou�seja,�esse�enunciado�será�
performativo,� se,� em� uma� assembleia� de� condomínio,� o� síndico,� após� consultar� os� condôminos� e� ter� a�
aprovação�dos�mesmos,�para�proibir�que�se�fume�nas�dependências�comuns�do�condomínio�que�administra,�
disser:�“Declaro�guerra�ao�cigarro.”.�
No� entanto,� em� um� contexto� em� que� a� enunciação� de� Eu� declaro� guerra� ao� cigarro.� não� esteja�
realizando�o�ato�de�fala�performativo,�mas�somente�o�relato�de�uma�ação�habitual,� �esse�enunciado,�mesmo�
apresentando�as�características�propostas�por�Austin,�não�pode�ser�considerado�performativo.��
Pensemos�esse�contexto:�o�proprietário�de�um�bar,�ao�ser�perguntado�como�tem�sido�a�posição�do�seu�
estabelecimento�com�relação�ao�cigarro,�responde�com�o�enunciado:�
�
Eu declaro guerra ao cigarro.�
Nesse�contexto,�o�dono�do�estabelecimento�não�está,�ao�mesmo� tempo,�enunciando�e� realizando�a�
ação�de�declarar�guerra.�Constatamos�somente�a�declaração�de�como�tem�sido�sua�atitude�frente�ao�cigarro.��
Esse�exemplo� revela�que�essas� características�elencadas�por�Austin�mostraramͲse� insuficientes�para�
caracterizar�um�enunciado�performativo,�pois�há�muitos�outros�enunciados�com�essas�características�que�não�
realizam�uma�ação�ao�serem�proferidos;�constituem�simplesmente�declarações,�relatos�etc.�
LETRAS�|��21�
�
Eu compro pão na padaria do seu João. 
Com� essa� constatação,� ficou� evidente� que� outros� critérios� mais� seguros� são� necessários� para�
caracterizar�um�enunciado�performativo�que� segue�o�padrão� formal�proposto�pela� teoria.�Austin�constatou�
também� que� há� outras� formas� de� enunciados� performativos� que� não� seguem� os� padrões� descritos� acima:�
“Culpado”,� “Inocente”,� porém� permitem� que� sejam� recuperadas� as� formas� linguísticas� equivalentes:“Eu� o�
declaro�culpado”,�“Eu�o�declaro�inocente”.�respectivamente.�
Embora�as�características�gramaticais�tenham�se�mostrado�pouco�eficientes�para�dizer,�com�certeza,�se�
um�enunciado�é�performativo�ou�não,�de�acordo�com�Austin,�não�devem�ser�abandonadas�para�identificar�os�
performativos� explícitos,� mas� associadas� ao� critério� lexical� (alguns� verbos� apresentam� a� propriedade� de�
realizarem�ações�ao�serem�enunciados).�
Nessa�direção,�outro�critério�foi�apresentado,�para�distinguir�os�enunciados,�no�presente�do�indicativo�
(em�primeira�pessoa),�que�realizam�performativos�dos�que�servem�a�outras�funções:�o�uso�das�expressões�“por�
meio�de”/�“por�meio�da�presente”,�para�isolar��os�verbos�performativos.��
UtilizandoͲse�uma�dessas�expressões,�para� testar�os�enunciados�Eu�declaro�guerra�ao� cigarro.�e�Eu�
compro�pão�na�padaria�do�seu�João.,�teremos�o�seguinte�resultado:�
�
Eu, por meio da presente, declaro guerra ao cigarro. 
Eu, por meio da presente, compro pão na padaria do seu João. 
 
A� expressão� por� meio� da� presente,� nessas� duas� situações,� foi� produtiva� para� revelar� que� o� verbo�
“declarar”,�no�contexto�de�assembleia�de�um�condomínio,�é�performativo�enquanto�que�o�verbo�“comprar”�
não�é.�No�entanto,�é�um� recurso�que�não� será�produtivo�em�outras� situações�em�que� se� constata�um�ato�
performativo�não�realizado�pelas�formas�canônicas.��
Essa�constatação� levou�Austin�(1990�[1962])�a�propor�enunciados�performativos�explícitos�–�aqueles�
que� se� comportam� conforme� os� critérios� já� estabelecidos� anteriormente� (sentenças� ativas,� indicativas,� de�
primeira�pessoa,�no�presente�simples),���
Eu os declaro marido e mulher! 
–�e�os�enunciados�performativos�implícitos�(ou�primários)�–�aqueles�realizados�por�outras�formas�linguísticas�
que�não�seguem�as�normas�dos�explícitos.��
Amanhã estarei no lugar combinado. (ato de promessa) 
Segundo�Levinson�(2007),�
�
�
LETRAS�|�22�
�
Dessa� maneira,� o� que� Austin� sugere� é� que,� na� realidade,� as� performativas� explícitas� são�
apenas� maneiras� relativamente� especializadas� de� alguém� ser� inequívoco� e� específico� a�
respeito�do�ato�que�está�executando�ao�falar.�(p.296)�
�
Os�enunciados�performativos�implícitos,�por�sua�vez,�poderão�ser�realizados�através�de�vários�recursos�
linguísticoͲdiscursivos� ou� suprassegmentais:� através� do�modo� imperativo� do� verbo� (Devolva� o� dinheiro!� ao�
invés�de�Eu�ordeno�que�devolva�o�dinheiro.);�advérbios� (Você�viajará�amanhã�sem� falta!)�em�que�a� locução�
adverbial�sem�falta�aumenta�a�força�do�que�fora�enunciado;�uso�de�certas�partículas�conectivas�gera,�de�forma�
sutil,�o�efeito�de�um�performativo�(portanto�com�a�força�de�concluo�que,�contudo�com�a�força�de� insisto�que�
etc.);�recursos�suprassegmentais�(tom�de�voz,�ênfase�em�determinado�segmento�do�enunciado�etc.);�recursos�
não�verbais�(gestos,�sinais�etc.)�e�as�circunstâncias�dos�proferimentos.��
�
As� formas� primitivas� ou� primárias� dos� proferimentos� conservam� [...]� a� “ambigüidade”,� ou�
“equívoco”,�ou�o�“caráter�vago”�da� linguagem�primitiva.�Tais� formas�não� tornam�explícita�a�
força�exata�do�proferimento�[...]�Mas�de�certo�modo,�tais�recursos�são�excessivamente�ricos�
em�significado.�PrestamͲse�a�equívocos�e�distinções�errôneas�e,�além�do�mais,�são�utilizados�
também�para�outros�propósitos,�como,�por�exemplo,�a� insinuação.�O�performativo�explícito�
exclui�os�equívocos�e�mantém�a�realização�relativamente�estável.�(AUSTIN,�1990,�p.69�e�72)�
�
� A�constatação�de�que�“as�enunciações�podem� ser�performativas� sem�estarem�na� forma�normal�das�
performativas� explícitas”� (LEVINSON,� 2007,� p.� 296)� gerou� dois� desdobramentos:� o� abandono� da� dicotomia�
entre�performativos�e� constatativos�e�a�adoção�de�uma� teoria� completa�dos�atos� fala;�e�admissão�de�duas�
categorias�de�atos�de�fala:�o�reconhecimento�dos�atos�de�fala�diretos�e�dos�indiretos,�classificação�que�vai�ser�
abordada�(revista)�por�Searle�(1981�[1969],�2002�[1979]).��
� Nessa� nova� direção� de� investigação,� Austin� (1970� apud� LEVINSON,� 2007,� p.� 297Ͳ298)� assim� se�
posiciona:�
Além� da� questão,� que� foi� muito� estudada� no� passado� e� que� diz� respeito� ao� que� certa�
enunciação� significa,� há� uma� outra� questão� que� diz� respeito� a� qual� era� a� força,� como� a�
chamamos,�da�enunciação.�Podemos� ter�absoluta� clareza�do�que� significa�a� frase� “Feche�a�
porta”� e� ainda� assim� não� ter� clareza� sobre� a� questão� adicional� de� determinar� se,� quando�
enunciada�em�determinada�ocasião,�foi�uma�ordem,�um�apelo�ou�sabeͲse�lá�o�quê.�
�
Searle�(2002�[1979])�assim�se�posiciona�sobre�essa�nova�direção�dada�à�Teoria�dos�Atos�de�Fala:�
�
LETRAS�|��23�
�
A� distinção� original� entre� constativos� e� performativos� pretendia� ser� uma� distinção� entre�
emissões�que�consistem�em�dizer� (constativos,�enunciados,�assertivos,�etc.)�e�emissões�que�
consistem� em� fazer� (promessas,� apostas,� advertências,�etc.).� [...]�O�principal� tema�da�obra�
madura�de�Austin,�How� to�Do�Things�with�words,�é�a� falência�dessa�distinção.�Assim�como�
dizer�certas�coisas�é�casarͲse��(um�“performativo”)�e�dizer�certas�coisas�é�fazer�uma�promessa�
(outro� “performativo”),� dizer� certas� coisas� é� fazer� um� enunciado� (supostamente� um�
“constativo”).� [...]� Qualquer� emissão� consistirá� na� realização� de� um� ou� mais� atos�
ilocucionários.�(p.27)�
�
� E,�para� explicar� como� fazemos� coisas� ao� enunciar� sentenças,�Austin� (1990� [1962])�propõe� a� Teoria�
Geral�dos�Atos�de�Fala,�cujo�objetivo�é�demonstrar�que�quando�enunciamos,�simultaneamente,�realizamos�três�
atos:��
1) Ato�locucionário�–�é�o�ato�de�dizer�algo;�é�o�uso�de�uma�sentença�em�determinada�ocasião.�
�
2) Ato� ilocucionário�–�é�o�ato�ao�dizer�algo,�ou� seja,�ao�proferir�uma� sentença� (ato� locucionário),�
realizamos�atos�como�informar,�avisar,�prevenir,�acusar,�prometer,�descrever�etc.�
�
3) Ato�perlocucionário�–�é�o�ato�de�produzir�efeitos�ou�consequências�no�ouvinte/leitor;�em�outras�
palavras,� é� o� efeito� que� produzimos� no� leitor/� ouvinte� ao� realizar� um� ato� ilocucionário;� há�
situações� em� que� se� pretende� estar� realizando� um� ato� do� tipo� prevenir� e� podeͲse� confundir� o�
outro� ao� invés� de� previniͲlo.� Ao� realizarmos� um� ato� locucionário� do� tipo� ordenar,� informar,�
prometer,�declarar,�encerrar,�podeͲse�produzir�no�leitor�atos�(perlocucionários)�do�tipo�convencer,�
intimidar,�persuadir,�surpreender,�confundir�etc.�
Por�exemplo,�a�sentença�abaixo,�mesmo�não�sendo�do�grupo�das�explicitamente�performativas� (por�
não�apresentar�as�características�dessa�classe),�
�
Amanhã será o dia grande dia! 
ao� ser� enunciada,� seja� em� que� contexto� for,� na� modalidade� falada4� ou� na� escrita,� caracterizará� um� ato�
locucionário,�ou� seja� é�o� ato�de�dizer� a� sentença,�de� enunciáͲla.�Esse� ato�poderá� realizar,�dependendo�da�
intenção�do�locutor�e�do�contexto,�um�ato�ilocucionário�de�advertir,�comunicar,�intimidar�etc.�alguém.�Porém,�
o�interlocutor�poderá,�como�efeito�perlocucionário,�sentirͲse�intimidado,�desafiado,�amedrontado,�irritado�etc.��
� O� interesse� de� Austin� era� explicitamente� os� atos� ilocucionários,� mais� especificamente� os� verbos�
performativos,� no� entanto,� com� a� constatação� de� que� todos� os� enunciados� são� utilizados� com� uma�
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4�A�Teoria�dos�Atos�de�Fala,�como�o�próprio�nome�diz,�originalmente��foi�criada�em�função�da�modalidade��falada;�hoje�sua�aplicação�foi�
ampliada�para�a�escrita.�
�
LETRAS�|�24�
�
determinada� força� ilocucionária,� a� distinção� entre� atos� performativos� e� constatativos� foi� revista,� mas� o�
interesse� pelos� performativos� explícitos� foi� mantido,� inclusive� com� uma� proposta� de� classificação� para� os�
verbos�ilocucionários�(performativos).�
Searle�(2002�[1979])�revê�essa�classificação,�adotando,�como�critério�base�para�a�sua�classificação�dos�
usos�da�linguagem,�o�propósito�ilocucionário5,�como�ele�mesmo�justifica:�
�
Se�adotamos�o�propósito� ilocucionário�como�a�noção�básica�para�a�classificação�dos�usos�da�
linguagem,� há� então� um� número� bem� limitado� de� coisas� básicas� que� fazemos� com� a�
linguagem:� dizemos� às� pessoas� como� as� coisas� são,� tentamos� leváͲlas� a� fazer� coisas,�
comprometemoͲnos�a�fazer�coisas,�expressamos�nossos�sentimentos�e�atitudes,�e�produzimos�
mudanças�por�meio�de�nossas�emissões.�(p.46)�
�
�� Searle�(2002�[1979])�apresenta�sua�classificação�dos�atos�ilocucionários,�sendo�que�os�primeiros�quatro�
atos�(assertivos,�diretivos,�compromissivos�e�expressivos)�foram�assim�classificados�com�base�em�algum(uns)�
dos�critérios:�o�propósito� ilocucionário,�a�direção�do�ajuste�(palavraͲmundo�ou�mundo�palavra)�as�condições�
de� sinceridade� expressas;� por� outro� lado,� as� declarações� não� foram� definidas� utilizando� nenhum� desses�
critérios,� mas,� segundo� Searle� (2002� [1979],� p.25),� por� considerar� que� “em� que� o� estado� de� coisas�
representado�na�proposição�expressa�é�realizado�ou�feito�existir�pelo�dispositivo�da�força�ilocucionária.”.�
�
1) Assertivos� –� “O� propósito� dos� membros� da� classe� assertiva� é� o� de� comprometer� o� falante� (em�
diferentes� graus)� com�o� fato�de� algo� ser�o� caso,� com� a� verdade�da�proposição� expressa.� Todos�os�
membros� da� classe� assertiva� são� avaliáveis� na� dimensão� de� avaliação� que� inclui� o� verdadeiro� e� o�
falso.”�(p.19)�concluir,�deduzir,�gabarͲse,�reclamar,�constatar�etc.�
�
Situação1:�em�um�contexto�de�sala�de�aula,�o�professor,�ao�analisar�as�atividades�desenvolvidas�por�
um�aluno�durante�o�ano,�assevera:�
�
A partir de análise minuciosa do desempenho de x, concluo que x não tem condições de ser aprovado. 
�
2) Diretivos�–�“Seu�propósito�ilocucionário�consiste�no�fato�de�que�são�tentativas�(em�graus�variáveis�[...])�
do�falante�levar�o�ouvinte�a�fazer�algo.�Podem�ser�“tentativas”�muito�tímidas,�como�quando�o�convido�
������������������������������������������������������������
5� De� acordo� com� Marcondes� (2005,� p.� 59),� “A� classificação� das� forças� ilocucionárias� e� os� critérios� para� isso� são� retomados� e�
aprofundados� em� “A� taxonomy� of� illocutionary� forces”� (in� Expression� and� Meaning,� Cambridge� University� Press,� 1979)� e�
posteriormente�os�sete�componentes�das�forças�ilocucionárias�são�apresentados�em�John�Searle�e�Daniel�Vanderveken,�Foudations�of�
Illocucionary�Logic�(Cambridge�University�Press,�1985).”.�
LETRAS�|��25�
�
a�fazer�algo�ou�sugiro�que�faça�algo,�ou�podem�ser�tentativas�muito�veementes,�como�quando�insisto�
em�que�faça�algo.”�(p.21)��pedir,�convidar,�mandar,�suplicar,�rogar.�
�
Situação�2:�em�uma�partida�de�futebol,�um�jogador�comete�uma�falta�cuja�punição�é�a�expulsão,�então�
o� árbitro� naturalmente� ergue� o� cartão� vermelho,� ação� que� pode� vir� acompanhada� de� um� dos�
enunciados�abaixo:�
�
Convido-o a sair do campo! 
Saia do campo! 
�
3) Compromissivos�–�“Os�compromissivos�são�[...]�os�atos�ilocucionários�cujo�propósito�é�comprometer�o�
falante�(também�neste�caso,�em�graus�variáveis)�com�alguma� linha�futura�de�ação.”�(p.22)�prometer,�
jurar.�
�
Situação�3:�em�um�cerimônia�de�colação�de�grau�de�cursos�de�graduação,�um�dos�formandos�faz�o�
juramento�relativo�à�profissão�escolhida:�
�
Juro acreditar no direito como a melhor forma para a convivência humana. Juro fazer da justiça uma 
consequência normal e ... (juramento do curso de Direito) 
��
4) Expressivos� –� “O� propósito� ilocucionário� dessa� classe� é� o� de� expressar� um� estado� psicológico,�
especificado�na�condição�de�sinceridade,�a�respeito�de�um�estado�de�coisas,�especificado�no�conteúdo�
proposicional.”�(p.23)�agradecer,�congratular,�dar�pêsames,�dar�boasͲvindas.��
�
Situação�4:�na�volta�para�casa�de�uma�viagem�longa,�Joana�é�recebida�no�aeroporto�com�uma�faixa�que�
dizia:�
Boas-vindas, Joana! 
�
João,�filho�de�Joana,�não�pôde�ir�à�recepção�por�estar�de�plantão,�então�enviou�uma�mensagem�para�o�
celular�da�mãe:�
�
��
�
5) Dec
me
suc
em�
�
Situ
� �
LETRAS�|�26
clarações�–�“
mbros�produ
edida�garant
realizar�o�at
uação�5:�em�u
6�
Mãe, desculp
“A�caracterís
uz�a�corresp
te�a�correspo
to�de�designá
uma�empres
Você está dem
 
pe a minha ausê
tica�definido
pondência�en
ondência�en
áͲlo�presiden
sa,�após�dese
mitido! 
RESUMO
característ
uma�sente
isso,�fico
caracteriza
pela�
enunciaçõe
Essas�cons
entre�per
atos�fala;�e
atos�de�fala
ncia, a vejo mai
ora�dessa�cla
ntre�o�conte
ntre�o�conteú
nte,�então�vo
entendiment
 
 
 
 
 
 
 
O:�Com�o�avan
ticas�para�os�a
ença�com�as�c
u�evidente�qu
ar�um�enuncia
teoria.�Austin
es�performativ
statações�gera
formativos�e�c
�admissão�de�
a�diretos�e�do
por�
is tarde! 
sse�é�que�a�r
údo�proposi
údo�proposic
ocê�é�o�presi
to�entre�chef
 
 
 
 
 
 
 
nço�em�suas�p
atos�performa
características
ue�outros�crité
ado�performat
n�(1990�[1962]
vas�que�não�s
aram�dois�des
constatativos
duas�categor
os�indiretos,�cl
Searle�(1981�
realização�be
cional�e�a�re
cional�e�o�mu
dente;�(p.26
fe�e�funcioná
pesquisas,�prin
ativos,�Austin�
s�propostas�é�
érios�mais�seg
tivo�que�segu
])�constatou�t
eguem�o�pad
sdobramentos
�e�a�adoção�d
ias�de�atos�de
lassificação�qu
[1969],�2002�
emͲsucedida
ealidade,�a�r
undo:�se�sou
6)”.�
ário,�aquele�
ncipalmente�a
constata�que,
um�ato�perfo
guros�são�nece
e�o�padrão�fo
ambém�que�h
rão�formal�pro
s:�o�abandono
e�uma�teoria�
e�fala:�o�recon
ue�vai�ser�abo
[1979]).�
a�de�um�de�s
realização�be
u�bem�suced
assevera:�
ao�investigar�
,�nem�sempre
rmativo.�Com
essários�para�
ormal�proposto
há�outras���
oposto�por�ele
o�da�dicotomia
completa�dos
nhecimento�do
ordada�(revista
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IMPLÍC
�
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Freq
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fazermos�ou
Para
ou�em�níve
coloca� em�
significação
Pau
sentido� lite
para�que�o�
que�a�intera
Para
inicialmente
quando�ess
���������������������
6�[...]�lǥinférenc
pragmatiques,
CITOS 
quentement
e� está� send
situações�em
utras�leituras
a�chegarmos
l�contextual�
relação� en
o”6.�(SEARLE,�
ul�Grice� (198
eral�veicula,�
falante�diga
ação�veicula.
a� construir�
e,�estabelec
es�princípios
����������������������
ce�se�définit�co
,�afin�de�constr
LINGU
CO
te,�ao� intera
o� comunica
m�que�o� con
s�sem�que�um
s�a�uma�das
(enunciação
unciados� da
tradução�no
82� [1967]),� in
levanta�a�hi
�mais�do�qu
.�
a� sua�teo
e� (propõe)�o
s�são�violado
�����������������
omme�une�opér
ruire�une�signifi
LEITURA
GRICE,�H
metodoló
http://ww
_Lgica_e_
LEVINSO
Paulo,�M
UN
ÍSTICO
ONVERS
agirmos�em� s
do� além�do�
ntexto�nos�p
ma�se�mostr
�possíveis� le
o).�O�termo�i
ados,� contex
ossa)�
ntrigado� com
pótese�que�
e�está�dito�l
oria� das� im
os�princípios
os,�e�as�conse
ration�logique�d
cation.�(SEARLE
AS:
erbert�Paul.�L
ógicos�da�ling
ww.4shared.
_Conversao.h
N,�Stephen�C
aryins�Fontes
NIDAD
S E PRA
SACION
 
situações�as
que� está� lit
permite�uma
e�predomina
eituras,�recor
nferência�se
xtuais,� conv
m�a�possibili
direciona�a
iteralmente�
mplicaturas�
s�que� regem
equências�da
de�mise�em�rela
E,�apud�BLANCH
Lógica�e�conv
güística – v.�I
com/file/133
html.�
C.�(2007)�Prag
s,�p.�121Ͳ152
DE II 
AGMÁT
NAIS (G
s�mais�divers
teralmente�d
a� só� leitura,�
ante.��
rremos�a� inf
erá�entendid
vencionais� e
idade�de�um
sua�pesquis
e�para�que�
conversacio
m� (ou�que�de
a�não�obediê
ation�de�donné
HET,�1995,�p.95
versação.�In:�
IV:�Pragmátic
3960193/9db
gmática.(trad
.
TICOS: 
RICE) 
sas,� ficamos�
dito� (linguist
mas�outras
ferências�em
o�aqui�“com
e� pragmático
m�enunciado
sa�e� teoria�p
o�ouvinte�ca
onais,� inferê
evem� reger)�
ência,�(in)volu
ées�énoncées,�c
5)�
DASCAL,�M�(1
ca.�Campinas
bf8d81/H_P_G
.�Luís�Carlos�B
LETRAS�|��2
IMPLICA
com�muitas
ticamente� a
s� vezes�o� co
m�nível� linguí
mo�uma�opera
os,� visando�
o� comunicar�
proposta:�de
apte�a�inform
ências� cont
uma�conver
untária,�a�es
contextuelles,�c
1982).�Funda
.�Disponível�e
Grice_Ͳ
Borges,�Aniba
27�
ATURAS
s� interrogaç
tualizado).� I
ntexto�perm
ísticoͲdiscurs
ação�lógica�q
construir� u
mais�do�qu
eve�haver� re
mação�adicio
extuais,� Gr
rsação,�com
sas�‘regras’.
conventionnelle
amentos�
em:�
al�Mari).�Ssão
S 
�
ões�
sso�
mite�
sivo�
que�
uma�
e�o�
egra�
onal�
ice,�
o�e�
es�et�
o�
�
LETRAS�|�28�
�
A� teoria�proposta�por�Grice� (1982� [1967]),�no� artigo� “Logic� and�Conversation”,�não�usou� a�palavra�
implícito,�no�entanto,�hoje,�podeͲse�dizer�que�Grice,�com�a�descrição�das�regras�que�regem�(ou�devem�reger)�
uma�conversação�e�as�consequências�do�não�cumprimento�dessas�regras,�ofereceuͲnos�uma�perspectiva�para�
‘olhar’� (investigar/compreender/descrever)� os� implícitos� linguísticos� e� os� pragmáticos:� implicaturas�
convencionais�e�não�convencionais.��
Para� estabelecer� (descrever)� as� regras� que� regem� o� diálogo,� Grice� parte� da� hipótese� de� que� os�
participantes� de� uma� interação� fazem� esforços� cooperativos;� se� não� inicialmente,� mas� no� decorrer� da�
interação�esses�esforços� são�verificados,�caso�contrário�não�há�comunicação.� �Essa�hipótese�deu�origem�ao�
princípio�geral�da�conversação:�o�PRINCÍPIO�DA�COOPERAÇÃO.��
Além�desse�princípio,�Grice�(1982,�p.�86Ͳ88)�postula�quatro�categorias,�com�máximas�e�submáximas,�as�
quais�devem�ser�cumpridas�para�que�uma�interação�(conversação)�seja�bem�sucedida.�
� �
I) Categoria�da�quantidade�–�“está�relacionada�com�a�quantidade�de�informação�a�ser�fornecida�e�a�ela�
correspondem�as�seguintes�máximas:�
1. Faça�com�que�sua�contribuição�seja�tão� informativa�quanto�requerido�(para�o�propósito�corrente�
da�conversação).�
2. Não�faça�sua�contribuição�mais�informativa�do�que�é�requerido.”�
�
II) Categoria�da�qualidade�–�encontramos�a�supermáxima:�“Trate�de�fazer�sua�contribuição�que�seja�
verdadeira.”,�com�duas�máximas:�
1. “Não�diga�o�que�você�acredita�ser�falso.�
2. Não�diga�senão�aquilo�para�que�você�possa�fornecer�evidência�adequada.”�
�
�����III)�Categoria�da�relação�–�a�máxima�proposta�é:�“Seja�relevante”.�
�
IV) Categoria�do�modo�–�refereͲse�“a�como�o�que�é�dito�deve�ser�dito”.�A�super�máxima�é:�“Seja�claro”,�
com�várias�máximas:�
1. “Evite�obscuridade�de�expressão.�
2. Evite�ambigüidades.�
3. Seja�breve�(evite�prolixidade�desnecessária).�
4. Seja�ordenado.”�
�
LETRAS�|��29�
�
Essas�quatro�categorias,�com�suas�supermáximas,�máximas�e�submáximas,�foram�propostas,�para,�com�
o�princípio�da�cooperação,�regerem�um�conversação�(interação)�bem�sucedida.�Então,�para�que�se�tenha�uma�
interação� ‘feliz’� é� preciso� que� essas� categorias� sejam� observadas� em� toda� interação.� Sendo� que� a� não�
observância,�de�forma�não�intencional,�de�um�desses�preceitos�poderá�acarretar�ruídos�e�malͲentendidos.��
Portanto,� conhecer� essas� categorias� que� podem� garantir� uma� interação� satisfatória� pode� ser� um�
instrumento�para�o�professor�de� língua�materna�utilizar�tanto�na�produção�quanto�na�correção�de�textos�de�
gêneros�textuais�os�mais�diversos.�Com�as�devidas�adequações�ao�gênero�em�questão,�é�possível�utilizar�essas�
categorias�como�critérios�concretos�para�ensinar�a�produzir�textos�e�também�avaliar�textos�produzidos�em�sala�
de�aula,�como�mostraremos�posteriormente.�
Primeiramente,� nos� deteremos� no� objetivo� de� Grice� (1982� [1972])� –� � oferecer� subsídios� para�
responder�à�pergunta:�Como�é�possível�dizer�mais�do�que�está�‘literalmente’�dito�linguisticamente?,�através�da�
quebra�de,�pelo�menos,�uma�dessas�categorias.�Em�outras�palavras,�o�interesse�do�filósofo�era�verificar�como,�
respeitando� o�princípio�da� cooperação,�mas�quebrando�uma�dessas�máximas,�o� locutor� consegue�dizer� ao�
interlocutor�mais�ou�além�do�que�está�dito;�e�por�outro�lado,�como�o�interlocutor�consegue�também�ler�mais�
do�que�está�dito�na�estrutura�linguísticoͲdiscursiva.�
�
AS IMPLICATURAS 
�
Inicialmente,�Grice�introduz�o�conceito�de�implicatura�Ͳ�as�informações�implicitadas,�propositalmente�
pelo�locutor�(falante/escritor),�com�o�objetivo�de�transmitir�algo�mais�ao�interlocutor�(ouvinte/leitor).�
Dois� tipos� de� implicaturas� são� estabelecidos� por�Grice� (1982):� a� implicatura� convencional� e� a� não�
convencional�(a�implicatura�conversacional):�
Implicatura�convencional�–�é�uma�inferência�resultante�do�significado�convencional�das�palavras.�
Ele é um inglês; ele é, portanto, um bravo. (GRICE, 1982, p. 84.) 
� Nesse�exemplo,�constatamos�que�a�inferência�de�que�o�fato�de�ser�bravo�é�uma�consequência�de�ser�
inglês� advém� da� presença� do� termo� linguístico� portanto.� Ou� seja,� a� inferência� aqui� não� é� estritamente�
contextual,�ela�é�possibilitada�pela�presença�de�um�termo�que�tem�como�significado�convencional� introduzir�
uma�conclusão�ou�consequência.�
�
LETRAS�|�30�
�
�Implicatura�não� convencional� (doravante� implicatura� conversacional)�–� “inicialmente�ao�menos,�os�
implicitados�conversacionais�não�são�parte�do�significado�das�expressões�cujo�uso�os�produz”.� (GRICE,�1982,�
p.103)��
Embora�tenha�proposto�dois�tipos�de�implicaturas�as�quais�correspondem,�grosso�modo,�aos�implícitos�
linguísticos� e� aos� pragmáticos,� Grice� estava� interessado,� como� confessa,� somente� nas� implicaturas�
conversacionais�advindas�da�quebra�proposital�de�uma�das�máximas�propostas�por�ele.�SalienteͲse�que,�nas�
condições� estabelecidas� por� Grice,� a� quebra� de� uma� das� máximas� acontece� em� um� contexto� em� que� o�
princípio�da�cooperação�está�sendo�observado�pelos�participantes.�
Segundo� Levinson� (2007,� p.� 140),� é� possível� derivar� um� padrão� geral� para� o� cálculo� de� uma�
implicatura:�
�
(i) “F�disse�que�p�
(ii) não� há� razão� para� pensar� que� F� não� está� observando� as� máximas� ou,� pelo� menos,� o� princípio�
cooperativo�
(iii) para�que�F�diga�que�p�esteja�realmente�observando�as�máximas�do�princípio�cooperativo,�F�deve�pensar�
que�q�
(iv) F�deve� saber�que� é� conhecimento�mútuo�que�q�deve� ser� suposto�para�que� se� considere�que� F� está�
cooperando�
(v) F�não�fez�nada�para�impedir�que�eu,�o�destinatário,�pensasse�que�q�
(vi) portanto,�F�pretende�que�eu�pense�que�q�e,�ao�dizer�que�p�comunicou�a�implicatura�q”��
�
Nessas� condições,� Grice,� segundo� Levinson� (2007),� isola� as� cinco� propriedades� essenciais� das�
implicaturas�conversacionais:�
�
a) Canceláveis� (ou�anuláveis)�–� “uma� inferência�é�anulável� se�é�possível� canceláͲla�acrescentando�
algumas� premissas� adicionais� às� premissas� originais.”� (p.142)� As� implicaturas,� de� acordo� com�
Levinson,�seriam�semelhantes�aos�argumentos�indutivos.�
�
b) Não�destacáveis�–�“Grice�quer�dizer�que�a�implicatura�está�ligada�ao�conteúdo�semântico�do�que�é�
dito,� não� à� forma� lingüística,� e,� portanto,� as� implicaturas� não� podem� ser� retiradas� de� um�
enunciado�simplesmente�trocando�as�palavras�do�enunciado�por�sinônimos�[...]�com�exceção�das�
que�surgem�através�da�máxima�de�modo.”�(p.�144Ͳ145)�
c) Calculáveis� –� “[...]� deve� ser� possível� construir� um� argumento,� demonstrando� que,� a� partir� do�
significado� literal� ou� do� sentido� da� enunciação,� por� um� lado,� e� do� princípio� cooperativo� e� das�
�
�
d) 
�
�
�
TEXTOS CO
�
� Veja
das�máxima
outra(s);�ou
considerada
�
Máxima�da
informação
quantidade
e�a(s)�intenç
�
máximas,�p
cooperação
Não� conve
lingüísticas.
OM QUEBR
amos,�agora
as.��preciso
u�muitas� vez
a,�naquele�co
�quantidade
,�ou�menos,�
�de�informaç
ção(ões)�do�
or�outro,�se
o�presumida.
encionais� –�
”�(p.�145)�
RAS DE MÁ
,�situações�d
o�salientar�q
zes� a�quebra
ontexto,�a�m
e:�nos�exemp
do�que��requ
ções�conside
locutor.�
gueͲse�que�u
”�(p.145)�
“[...]� não�
ÁXIMAS – I
de�interação
ue,�em�muit
a�de�uma�m
mais�importan
plos�abaixo,�
uerido�naque
erando�o�gên
RESUMO:
enuncia
hipótese
regra�par
que�o�o
Essa�
PRINCÍ
quatro�
cumprid
Grice�aind
a�qual�ge
um�destinatá
fazem� par
MPLICATU
o�em�que�con
tas�situaçõe
máxima�é�efe
nte.�
constataͲse�
ela�situação.
nero�textual,
:�Paul�Grice�(
do�comunica
e�que�direcio
ra�que�o�falan
ouvinte�capte
hipótese�de
ÍPIO�DA�COO
categorias,�c
as�para�que�
da�investiga�
ra�as�implica
ário�faria�a�i
rte� do� sign
URAS CONV
nstatamos�a�
s,�a�quebra�
etuada�para�
a�quebra�da
.�Respeitar�a
,�o�objetivo�d
(1982�[1967]
ar�mais�do�q
ona�a�sua�pe
nte�diga�mai
e�a�informaçã
u�origem�ao�
PERAÇÃO.�A
com�máxima
uma�interaç
os�efeitos�da
aturas�conve
prag
nferência�em
ificado� con
VERSACION
quebra,�inte
de�uma�má
preservar�o
�máxima�da�
�máxima�de�
da�interação
),�intrigado�c
ue�o�sentido
squisa�e�teo
s�do�que�est
ão�adicional�
princípio�ge
Além�desse�p
s�e�submáxim
ção�(conversa
a�quebra�vol
ersacionais�–
gmático.
LETRAS�|��3
m�questão�p
vencional� d
NAIS 
encional,�de
xima�acarre
outra�máxim
quantidade�
quantidade�
o,�o�interlocu
com�a�possib
o�literal�veicu
ria�proposta
tá�dito�literal
que�a�intera
ral�da�conve
rincípio,�Gric
mas,�as�quai
ação)�seja�be
untária�dess
um�dos�tipo
31�
ara�preserva
das� express
�uma�(ou�m
ta�a�quebra
ma,�por� ser�e
por�haver�m
é�saber�dosa
utor,�o�conte
bilidade�de�u
ula,�levanta�a
:�deve�haver
mente�e�par
ação�veicula.�
ersação:�o�
ce�postulou�
s�devem�ser�
em�sucedida
sas�categoria
os�de�implícit
ar�a�
ões�
�
ais)�
�de�
esta�
mais�
ar�a�
exto�
m�
a�
r�
ra�
.�
s,�
to�
�
LETRAS�|�32�
�
E* Por que o senhor não estudou? 
I* É: :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, né? Num gostava mesmo, :: porque só só queria trabalhaO 
mesmo e brincaO :: e minha mãe era do interioO, ficô grávida de mim, né? :: aí veio pra cá. pa capital, né? A agente 
era era era do Catolé do Rocha. Aí: :: nasci, né? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: Aí eu sô criado [PÓ-] fui 
criado também como como se da famüia mesmo{inint}onde eu moro lá. Gente muito boa lá, muito boa pa mim. 
(01.AFD.M) 
�
A�resposta�do� informante,�do�corpus�do�VALPB7,�apresenta� informações�que�ultrapassam�o�conteúdo�
esperado�como� resposta.�No�entanto,�constataͲse�que�essas� informações�adicionais�são�apresentadas�como�
justificativa�para�a� interrupção�dos�estudos.� �Então,�a�quebra�da�máxima�da�quantidade�é�consciente�e�com�
objetivos�os�quais�o�informante�espera�sejam�captados�pelo�entrevistador.�
�
A) - João é um bom aluno? 
B) - É o melhor jogador de futebol da escola. 
�
� Situemos�a� interação�acima:� João�candidataͲse�a�uma�bolsa�no�programa�de�bolsas�da�escola�o�qual�
tem�como�requisitos,�para�seleção�de�alunos,�o�bom�desempenho�em�sala�de�aula.�A�(presidente�da�comissão�
de�bolsas)�faz�a�pergunta�acima�a�B�(professor�de�Matemática�de�João).�Com�a�resposta�dada�por�B,�A�precisa�
fazer�algumas�inferências�para�chegar�a�uma�possível�leitura:�B�está�sendo�cooperativo�quando�disse�que�João�
“É�o�melhor� jogador�de� futebol�da�escola”;�portanto�A�precisa� inferir�que�B�está�dizendo�mais�do�que�está�
literalmente�expresso�(p)�e�que�B�pretende�que�A�identifique�o�que�Grice�chamou�de�q�(a�inferência�implicitada�
pela�quebra�da�máxima).�Uma�das�possíveis� inferências,�a�partir�do�contexto�descrito,�é�que� João�não�é�um�
bom� aluno,� considerando� os� parâmetros� exigidos� para� ser� bolsista.� Nessa� interação,� além� da� quebra� da�
máxima� da� quantidade,� foram� fornecidos� menos� informações� do� que� se� esperava,� podeͲse� dizer� que� há�
também�a�quebra�da�máxima�da�relação,�pois�podeͲse�pensar�que�a�resposta�dada�por�B�não�é�relevante�para�
a�pergunta�feita�por�A.�
� O�excesso�de� informações�também�afeta�o�critério�de�relevância,�pois�dizer�mais�do�que�é�requerido�
não�é�adequado,�exceto�se�o�objetivo�é�dizer�mais�do�que�é�aparentemente�dito.�
� As�frases�conhecidas�como�tautológicas�também�podem�figurar�como�exemplos�de�textos�que�violam�a�
máxima� da� quantidade,� sendo,� por� um� lado,� circulares,� redundantes� e,� por� outro,� dizem� menos� do� que�
deveriam�dizer,�ou�seja,�são�menos�informativas�do�que�o�requerido.�
������������������������������������������������������������
7�Projeto�de�Variação�Lingüística�do�Estado�da�Paraíba,�coordenado�pelo�professor�doutor�Dermeval�da�Hora�de�Oliveira.
LETRAS�|��33�
�
 Criança é Criança! 
Guerra é guerra! 
Surpresa inesperada! 
Acabamento final! 
Elo de ligação! 
����
� Os� dois� primeiros� exemplos� Ͳ� Criança� é� Criança!� e�Guerra� é� guerra!Ͳ� podem� também� aparecer� em�
contextos�que�estejam� sendo�utilizados�para� responder�a�perguntas�do� tipo�Defina�o�que�é� ser�criança?�ou��
Defina�o�termo�guerra.�Nesses�dois�contextos,�desde�que�se�suponha�que�o�locutor�desses�enunciados�esteja�
sendo� cooperativo,� haverá� a� quebra� da� relevância� cuja� intenção� caberá� o� interlocutor� buscar� identificar.�
Nesses�dois�casos,�teríamos�a�quebra�de�duas�máximas:�a�da�quantidade�e�a�da�relevância.�
� �
Máxima�da�qualidade:�a�quebra�da�supermáxima�“Trate�de� fazer�sua�contribuição�que�seja�verdadeira.”� faz�
com� que� o� interlocutor� identifique� no� texto� uma� incoerência,� caso� não� se� ressalte� que� essa� declaração�
‘aparentemente�falsa’�tem�como�objetivo,�por�parte�do�locutor,�dizer�algo�mais,�podendo�fazer,�inclusive,�com�
que�surjam�as�ironias.�
� A – Você está horrível com esse vestido! 
 B - Eu também amo você! 
� �
� Levinson�(2007)�faz�o�seguinte�comentário�para�uma�interação�semelhante�a�essa:�
�
Qualquer� participante� razoavelmente� informado� saberá� que� a� enunciação� de� B� é�
escandalosamente�falsa.�Sendo�assim,�B�não�pode�estar�tentando�enganar�A.�A�única�maneira�
pela�qual�a�suposição�de�que�B�está�cooperando�pode�ser�mantida�é�se�interpretarmos�que�B�
quer�dizer�algo�um� tanto�diferente�daquilo�que�efetivamente� foi�dito.�Ao�procurarmos�por�
uma� proposição� relacionada,� mas� cooperativa,� que� B� pode� estar� pretendendo� comunicar,�
chegamos�ao�oposto,�ou�negação,�do�que�B�formulou[...].�(p.136)�
�
� No�nosso�exemplo,�provavelmente�B�está�querendo�dizer�a�A:�“Eu�também� �odeio�você!”.�Mas�para�
que� se� possa� chegar� a� essa� inferência,� conhecimentos� partilhados� e� culturais� precisam� ser� recuperados,�
partindo�inicialmente�da�suposição�de�que�B�está�sendo�cooperativo.�
�
LETRAS�|�34�
�
Vejamos�mais�situações�em�que�a�supermáxima�“Trate�de�fazer�sua�contribuição�que�seja�verdadeira.”�
está�sendo�violada�intencionalmente:�
�
Um edifício estava pegando fogo, e todos corriam para a saída de emergência. Alguém pergunta: 
 
A - É um incêndio? 
B - Não, é a minha mulher que está assando uma pizza! 
 
�������������O�presidente�Lula,�ao�ser�perguntado�por�um�jornalista:�
A - O senhor acha que a CPI da Petrobrás vai terminar em pizza? 
 
 Ele respondeu: 
B - Todos eles são bons pizzaiolos. (15/07/09) 
�
Nas�duas�interações�acima,�a�primeira�do�gênero�textual�piada�e�a�segunda�fragmento�de�uma�
entrevista�feita�por�um�repórter�de�televisão�com�o�presidente�Luís�Inácio�da�Silva�(Lula),�constataͲse�
que,�mesmo� em� gêneros� diferentes,� há� a� quebra� da�máxima� da� qualidade,� porém� com� objetivos�
diferentes.��
Na�piada,�a�quebra�da� supermáxima� “Trate�de� fazer� sua� contribuição�que� seja� verdadeira.”�
funciona� como� desencadeador� (ativador)� da� ironia� que� gera� o� riso,� pois� a� uma� pergunta� não�
relevante�cabe�uma�resposta�também�não�verdadeira,�que,�por�sua�vez,�também�se�caracteriza�como�
uma� resposta� não� relevante.� Essa� característica� permite� observar� que� a� quebra� da� máxima� da�
qualidade,� nessa� situação,� também� gera� a� quebra� da� máxima� da� relevância.� Como� já� foi� dito�
anteriormente,�há� situações�em�que�a�quebra�de�uma�máxima�desencadeia�a�quebra�de�outra(s),�
sendo�que,�às�vezes,�tornaͲse�difícil�enquadrar�a�quebra�em�uma�ou�em�outra�categoria.��
Na�entrevista,�constataͲse�que�houve�também�a�quebra�“Trate�de�fazer�sua�contribuição�que�
seja� verdadeira.”,� porém� com� objetivos� diferentes� daqueles� que� constatamos� na� piada.� Nessa�
entrevista,� o� presidente� talvez� por� não� ter� condições� de,� com� certeza,� dar� uma� resposta� para� a�
pergunta�feita�pelo�repórter,�resolve�ironizar,�aparentemente�sendo�irrelevante,�porém�poderá�estar�
dizendo�que�os�parlamentares�não� são�pizzaiolos,�embora� saibaͲse�que,�metaforicamente,� as�CPIs�
terminam�em� ‘pizza’.� SalienteͲse�que,� subsequentemente�a�esse�episódio,� ao� ser�questionado�por�
essa� resposta,�o�presidente�disse�que�não�pretendia�ofender�ninguém.�Nessa� interação,� como�em�
outras� já�mostradas,�poderͲseͲia�apontar�outra�quebra�de�máxima,�a�da� relevância,�provando�que�
LETRAS�|��35�
�
quase�sempre�a�não�observância�de�uma�máxima�acarreta�a�de�outra�ou�é�consequência�de�outra�
quebra.�
Embora�os�dois�textos�pertençam�a�dois�gêneros�textuais�diferentes,�de�acordo�com�Levinson�
(2007,�p.�136),�“Se�não�houvesse�nenhuma�suposição�subjacente�de�cooperação,�os�receptores�das�
ironias�deveriam�simplesmente�ficar�perplexos;�nenhuma�inferência�poderia�ser�extraída.”.�
�
Máxima�da�relação:�nos�textos�abaixo,�constataͲse�a�quebra�da�máxima�“seja�relevante”,�porém�ressaltando�
que�essa�quebra�é�proposital,�portanto�o�interlocutor�precisa�partir�da�presunção�de�que�o�locutor�está�sendo�
cooperativo,�então�está�dizendo�algo�a�mais�do�que�está�dito�‘literalmente’�e�cabe�àquele�buscar,�através�de�
inferências,�essa�informação�extra.���
� Inicialmente,� apresento� duas� perguntas� com� as� respectivas� respostas� de� uma� entrevista� feita� pela�
Rede�Globo�de�Televisão� com�o� candidato�a�Presidente�da�República,� Luiz� Inácio� Lula�da� Silva.�À�época�da�
entrevista,�Lula�era�candidato�ao�segundo�mandato�à�presidência�do�Brasil,�por�isso�estava�sendo�questionado�
sobre�o�escândalo�do�mensalão,�colocado�a�público�no�seu�primeiro�mandato.����
�
Fátima Bernardes: O senhor acha então que o senhor também errou, presidente, no caso dessas denúncias, o senhor também teria 
errado? O que o senhor poderia fazer de diferente no caso de um novo mandato? 
Lula: Eu só poderia fazer diferente se eu soubesse antes. Eu soube depois que aconteceu. O dado concreto, Fátima, é que muitas 
vezes, ou por uma fé, ou quem sabe até porque estamos vivendo uma guerra política, as pessoas ousam dizer o seguinte: "olha, 
mas o presidente deveria saber de tudo". Ora, vamos ser francos, vamos ser honestos entre nós. Está cheio de famílias que têm 
problema dentro de casa e a familia não sabe. Está cheio de pai e mãe que ficam sabendo que o seu filho cometeu um delito pela 
imprensa, ou quando a policia prende. Como é que pode alguém querer que o presidente da República, embora tenha que assumir 
responsabilidade por todos os lados, saiba o que está acontecendo agora na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo 
ligada ao Ministério da Agricultura. Como é que eu posso saber agora o que está acontecendo com os meus ministros que não estão 
aqui? (entrevista 10/08/06 na Rede Globo) 
 
 
Fátima Bernardes: Mas o fato dele (Paulo Okamoto), de aliados dele, terem tentado tanto bloquear aquela quebra de sigilo, não 
pode levar o eleitor a pensar que havia algo a esconder? 
Lula: É um direito dele não querer quebrar o sigilo dele. É um direito de qualquer cidadão. Amanhã, isso pode estar acontecendo 
com você, pode estar acontecendo comigo, pode estar acontecendo com o William e nós vamos utilizar todos os mecanismos que o 
direito nos dá para que nós possamos nos defender. (entrevista 10/08/06 na Rede Globo) 
�
� Analisando�as�respostas�do�presidenciável,�à�luz�da�máximas,�constataͲse�que�as�duas�perguntas�feitas�
pela�entrevistadora�ficaram�sem�respostas�adequadas�para�a�situação,�porém,�partindo�da�presunção�de�que�o�
�
LETRAS�|�36�
�
locutor� (Lula)� estava� sendo� cooperativo,� ou� seja,� que� o� candidato� entendeu� a� pergunta,� e� que� respondeu�
dessa�forma�intencionalmente,�cabe�à�entrevistadora,�como�aos�ouvintes�(leitores),�buscar�a�informação�extra�
que� estava� sendo� comunicada� pelo� candidato.� Da� forma� como� as� perguntas� foram� respondidas,� o�
presidenciável�não�se�comprometeu�literalmente�com�o�escândalo�vivenciado�pelo�PT,�porém�deixou�margem�
para�julgaremͲno�culpado�ou�inocente.�
Nesse�contexto,�a�máxima�“seja�relevante”�foi�violada�deliberadamente�pelo� locutor�(candidato�Lula)�
por,� sabermos,� naquele� contexto� ter� de� agradar� gregos� (seu� partido)� e� troianos� (oposição� ‘solidária’)� e�
principalmente� não� poder� se� comprometer� perante� seus� milhões� de� eleitores� que� assistiam� à� entrevista.�
SalienteͲse�que�a�quebra�que�chama�a�atenção�é�a�da�relevância,�no�entanto,�para�quebrar�essa,�outra�máxima�
também�foi�quebrada:�a�da�quantidade�na�primeira�pergunta;�na�segunda,�podeͲse�constatar�que�a�quebra�da�
máxima�da�relevância�pode�ter�tido�a�função�de�preservar�a�supermáxima�“Trate�de�fazer�sua�contribuição�que�
seja�verdadeira.”.��
� A� seguir� apresentaremos� a�quebra�da�máxima� “seja� relevante”� em� charges,� em�que� a� quebra� tem�
função� semânticoͲdiscursiva�diferente�da� constatada�na�entrevista�anterior.�O�gênero� textual� charge� tem�a�
função�social�de�criticar�situações�cotidianas�as�mais�diversas,�através�do�humor�gerado�por�vários� recursos�
linguísticoͲdiscursivos.�Apresentamos�aqui�algumas�charges�cujo�recurso�gerador�do�riso�é�a�quebra�da�máxima�
da�relação.�
�
�
�
(Disponível�em:�<http://www.humortadela.com.br>Acesso�em:�04�jul.�2009)�
�
� Nessa�charge,�é�abordado�um�tema�do�cotidiano,�salienteͲse�atemporal,�e,�para�se�chegar�um�
dos�possíveis�sentidos,�é�preciso�que�o�leitor�identifique:�
LETRAS�|��37�
�
1) Os�personagens�ou�os� fatos�a�que�o� texto� faz� referência�–�na�perspectiva�polifônica,�os�
textos�com�os�quais�esse�texto�dialoga;�
2) o� contexto� sócioͲhistórico�e/ou�político� e� as� circunstâncias� em�que�o� fato� referenciado�
aconteceu;�ou�seja,�recuperação�da�enunciação;�
3) os�elementos�lingüísticos,�quando�houver;�4) as� possíveis� intenções� do� chargista,� considerando� o� lugar� de� onde� ele� enuncia� (se� é�
através�de� jornal,�revista,�ou�sem�vínculo�com�nenhum�meio�de�comunicação,�produção�
independente).�(ESPÍNDOLA,�2001,�p.�110Ͳ111).�
Após,�serem�recuperadas�essas� informações,�constataͲse,�na�charge,�que�as�palavras�da�mãe�
não�são�adequadas�à�situação�que�o� texto�não�verbal�revela� (mostra).�VerificaͲse�que�o�que�é�dito�
pela�mãe�não�é�relevante�para�a�situação�em�que�se�encontram�mãe�e�filho.�
Considerando� o� texto� não� verbal� (ancoragem� da� charge),� constataͲse� que� o� chargista�
apresenta�dois�personagens� (mãe�e� filho)� interagindo,�porém�a�mãe�dirigindoͲse�ao� filho� com�um�
enunciado�quase�que�absurdo�para�o�contexto.�Porém,�como�nos�outros�gêneros�apresentados,�os�
leitores� da� charge� precisam� partir� da� presunção� de� que� o� chargista,� ao� apresentar� esse� diálogo�
‘anormal’�em�um� lixão,�está�sendo�cooperativo�com�seus� leitores,�portanto�estaria,�com�esse�texto,�
veiculando�uma� informação�extra,�além�do�dito.�A�quebra�da�máxima�‘seja�relevante’� leva�o� leitor�a�
buscar� a� intenção� do� locutor,� aqui� o� chargista,� que� poderia� ser� uma� crítica� aos� governantes,� por�
permitirem�que�pessoas�tenham�de�recorrer�ao� lixão�para�sobreviverem.�A�quebra�gera�o�riso,�mas,�
na�charge,�geralmente�é�uma�forma�de�crítica.��
�
�
Disponível�em:�<http://www2.uol.com.br/angeli/chargeangeli>.�Acesso�em:�05�jul.�2009.�
�
�Nessa�charge,�como�já�colocado�anteriormente,�também�é�preciso�que�sejam�recuperados�os�
conhecimentos�prévios�necessários�para�que�se�possa�fazer�uma�das� leituras�possíveis.�A�quebra�da�
Alog
Highlight
�
LETRAS�|�38�
�
máxima�da� relevância�novamente�é�utilizada�aqui�pelo� locutor� (chargista),�agora�na� resposta�dada�
pelo� entrevistado� a� um� programa� de� televisão.� Aparentemente,� dirͲseͲia� que� o� entrevistado� não�
entendeu�a�pergunta�do�entrevistador,�porém,�essa� inferência�fica� invalidada�ao�se�recuperar�nossa�
história,�principalmente,�o�período�de�ditadura�por�que�os�brasileiros�passaram�e�a�fase�atual�em�que�
a�ditatura�tem�sido�reconhecida�pelos�governantes.�
A� partir� dessa� constatação,� resta� ao� leitor� fazer� suas� inferências,� considerando� que� o�
personagem� colocado� no� papel� de� entrevistado� (provável� ‘ator’� do� período� da� ditadura� por� suas�
características� físicas),� está� sendo� cooperativo� na� entrevista,� portanto,� se� deu� uma� resposta�
inadequada�o�fez�com�uma� intenção.�Nesse�caso,�é�preciso�buscar�uma� inferência�que�traduza�essa�
possível�intenção.��
A�charge�abaixo�também�é�uma�crítica,�através�do�humor,�utilizandoͲse�do�recurso�da�quebra�
da� máxima� da� relevância.� ConstataͲse,� no� texto,� uma� resposta,� aparentemente,� inadequada� à�
pergunta� feita� pela� pessoa� que� está� sendo� detida� por� um� policial� da� Polícia� Federal.� O� título� da�
charge� faz� referência� a�escândalo� fiscal�de�uma� empresa�brasileira.�Novamente,�para� se� chegar� à�
informação�extra�que�o� locutor� (chargista)�pretende�divulgar,�é�preciso�partir�da�presunção�de�que�
ele� está� sendo� cooperativo� e� de� que� a� quebra� da� máxima� por� um� dos� personagens� da� charge� é�
intencional.�
�
Disponível�em:http://www.chargeonline.com.br�Acesso�em:�05�de�jul.�2009.�
LETRAS�|��39�
�
É�preciso�salientar�que�a�quebra�da�máxima�da�relação�é� feita�deliberadamente,�para,�muitas�vezes,�
preservar�a�supermáxima�“Trate�de�fazer�sua�contribuição�que�seja�verdadeira.”.�
�
(A) - Que significa "pressuposição"? 
(B) - Consulte uma obra de semântica. 
 
(A) - Que horas são? 
(B) - Já é tarde. 
 
(A) - Você me ama? 
(B) - Eu gosto de estar em sua companhia. 
�
� Nas�três�interações�acima,�constataͲse�que�todas�as�respostas�não�são,�aparentemente,�adequadas�às�
perguntas,� porém� percebeͲse� que� o� locutor� através� dessa� quebra� (estratégia)� está� sendo� cooperativo� e�
protegeͲse� para� não� ser� acusado� de� não� ter� dito� a� verdade.� Porém,� constataͲse� que,� em� cada� uma� das�
situações,�as�informações�intencionalmente�veiculadas�são�as�mais�diversas,�ficando�a�cargo�dos�interlocutores�
(leitores)�identificáͲlas.��
� �
Máxima�de�modo:�quebrar�essa�máxima�significa�não�seguir�um�desses�preceitos:�
1. “Evite obscuridade de expressão. 
2. Evite ambigüidades. 
3. Seja breve (evite prolixidade desnecessária). 
4. Seja ordenado.” 
�
Muitas�vezes,�quando�constatamos�a�quebra�de�uma�das� três�outras�máximas,�é�em�decorrência�da�
quebra�de�um�dos�preceitos�da�categoria�do�modo.�Por�exemplo,�a�quebra�da�máxima�da�quantidade,�nos�dois�
exemplos� tratados� naquele� espaço,� está� diretamente� ligada� ao� fato� de� o� informante� não� ter� respeitado� o�
preceito�“seja�breve”�na�interação:�
�
E* Por que o senhor não estudou? 
I* É: :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, né? Num gostava mesmo, :: porque só só queria trabalhaO mesmo e 
brincaO :: e minha mãe era do interioO, ficô grávida de mim, né? :: aí veio pra cá. pa capital, né? A agente era era era do Catolé 
�
LETRAS�|�40�
�
do Rocha. Aí: :: nasci, né? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: Aí eu sô criado [PÓ-] fui criado também como como se da 
famüia mesmo{inint}onde eu moro lá. Gente muito boa lá, muito boa pa mim. (01.AFD.M) 
�
A�interação�abaixo,�por�outro�lado,�cuja�máxima�da�quantidade�também�foi�quebrada�por�dizer�menos�
do�que�deveria�ter�dito�para�a�situação,�quebra,�também,�a�máxima�da�relação.�
�
A) - João é um bom aluno? 
B) - É o melhor jogador de futebol da escola. 
�
Submetendo�as� implicaturas�conversacionais� levantadas�nos� textos�aos�critérios�propostos�por�Grice�
(1982),� é� possível� verificar� que� todas� as� quebras� de� máximas� geradoras� de� implicaturas� denominadas�
conversacionais� são:� canceláveis,� pois� não� estão� previstas� na� significação� das� expressões� que� compõem� a�
estrutura� linguística;�não�destacáveis,�pois�as� implicaturas�estão� ligadas�ao�sentido�e�ao�contexto,�portanto�
mudar�a�estrutura�não�as�elimina;�calculáveis,�são�calculadas,�pois�a�partir�da�presunção�de�que�o�locutor�está�
sendo� cooperativo,� está� dizendo� algo� através� da� quebra;� portanto,� cabe� ao� interlocutor� calcular� qual� a�
informação� extra� que� lhe� está� sendo� enviada;� não� convencionais,� pois� todas� os� exemplos� de� implicaturas�
acima�não�estão�previstos�no�significado�convencional�das�expressões�linguísticas.�
�
AS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS E O ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTOS 
 
A�violação�intencional�das�máximas�conversacionais�gera�as�implicaturas��conversacionais�privilegiadas�
até�aqui,�as�quais� constituem�um� implícito�pragmático.�No�entanto,�a�máximas�propostas�por�Grice� (1982)�
também�podem� ser� violadas�não� intencionalmente,�por�desconhecimento�das� regras�de� construção�de�um�
texto� de� determinado� gênero.� Nesse� contexto,� quero� fazer� algumas� ponderações� sobre� a� quebra� dessas�
categorias,� a�qual� gera�um� texto� com�determinada� incoerência�ou� gera�um� ruído�não� intencional� em�uma�
interação.�
As�máximas�conversacionais�de�Grice,�embora�tenham�sido�pensadas�para�o�contexto�da�conversação,�
podem� ser� utilizadas� para� o� ensino� de� produção� textual,� bem� como� critérios� para� a� correção� de� textos,�
considerando�as�características�macro�e�micro�do�gênero�a�que�o�texto�pertence.�
LETRAS�|��41�
�
Para�exemplificarmos�esse�possível�uso�da�teoria,�tomamos�a�proposta�da�primeira�questão�da�prova�
de�redação�do�PSS�2009�da�Universidade�Federal�da�Paraíba,�que�apresentou�a�foto�de�um�menino�quebrando�
pedra�e�o�seguinte�comando:��
ImagineͲse�no�papel�de�um�repórter�que�comparece�ao� local�onde�ocorreu�o�fato�retratado.�
Redija�um�texto�para�ser�publicado�no�jornal�em�que�você�trabalha,�noticiando�esse�fato.�Para�
tanto,�observe�as�seguintes�orientações:�
•�Siga�a�estrutura�de�uma�notícia;�•�Redija�seu�texto�com,�no�mínimo,�12�linhas,�e,�no�máximo,�com�15�linhas;�
•�Use�a�norma�padrão�da�língua�escrita.�
�
� Observemos�as�máximas:�de�quantidade,�qualidade,�relação�e�modo�no�texto�abaixo,�considerando�o�
gênero�que�foi�solicitado:�uma�notícia.�
�
� Se� aplicarmos� essas� máximas,� para� verificarmos� se� esse� texto� atende� ao� mínimo� que� requer� uma�
interação�escrita�em�forma�de�notícia,�podeͲse,�de�forma�bastante�superficial�neste�espaço,�fazer�as�seguintes�
observações.�
� Para� verificar� se� a� máxima� da� quantidade� é� satisfeita,� inicialmente,� é� preciso� observar� quais�
informações�são�requeridas�pelo�gênero�notícia,�e�consultando�os�livros�da�área,�constatamos�que�alguns�itens�
precisam�estar�presentes:�quem,�onde,�quando,�o�quê�e�como�(se�possível),�os�quais�determinarão,�inclusive,�a�
quantidade� de� informações.� ConstataͲse� que� os� quatro� primeiros� itens� aparecem� no� primeiro� parágrafo,�
mesmo�que�o�quê�esteja�relatado�de�forma�bastante�superficial.�No�segundo�parágrafo,�esperavaͲse�um�maior�
detalhamento�do�fato�noticiado,�porém�o�que�se�encontra�é�um�ponto�de�vista�do�redator�sobre�o�assunto.�O�
nível�informativo�e�de�argumentividade,�de�acordo�com�gênero,�poderia�ser�avaliado�nessa�máxima.�
�
LETRAS�|�42�
�
� A�máxima�da�qualidade�parece�estar�sendo�satisfeita,�pois�o�problema�noticiado�no� texto�advém�de�
outras� notícias� e� reportagens� veiculadas� em� meios� de� comunicação� do� estado.� E,� nesse� ponto,� é� preciso�
trabalhar� com� os� alunos� o� fato� de� que� há� gêneros,� por� exemplo,� a� notícia,� que� requerem� que� os� fatos�
divulgados�possam� ser�provados�por�aquele�que�os�divulga.�Ou� seja,�diga� (escreva)�“Não�diga� senão�aquilo�
para�que�você�possa�fornecer�evidência�adequada.”.�Porém,�a�modalização�é�um�recurso�muito�usado�nesse�
gênero�quando�não�se�tem�todas�as�evidências�de�um�fato�que�está�sendo�divulgado,�ou�não�se�tem�a�certeza�
da�autoria.�
� Não�se�constata�nenhuma�falta�de�relevância�entre�o�que�foi�solicitado�pelo�enunciado�da�questão�e�o�
que� foi� produzido� pelo� candidato.� Teríamos� aqui� um� caso� de� não� relevância,� caso� o� candidato� escrevesse�
sobre�um�outro�assunto,�diferente�do��solicitado.�
� Com�relação�à�máxima�do�modo,�é�preciso�aqui�parar�e�verificar�o�texto,�considerando�a�norma�padrão�
da�língua�portuguesa�no�que�diz�respeito�aos�elementos�de�coesão�em�nível�macro�e�micro�discursivoͲtextual,�
de�acordo�com�as�exigências�do�gênero�solicitado.�
� Obviamente,�as�máximas�serviriam�de�norte�para�o�professor�que�trabalha�com�produção�de�texto�em�
sala�de�aula�e�não�para�comporem�grades�de�correção�de� textos�em�concursos�de�grandes�proporções.�No�
entanto,�conhecer�as�máximas�e�as�possibilidades�de�aplicação�pode�servir�de�subsídio�para�professores�que�
trabalham�com�leitura�e�escrita�em�todos�os�níveis�de�ensino.����
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IM
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uma�inform
Sea
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Par
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PLÍCITO
LIN
atos�de� ling
mação�totalm
rle�(2002�[19
a�esse�autor
�
OS LING
NGUAG
guagem� indir
mente�diferen
979])�inicia�a
�Os�casos�m
quer�signifi
significação
falante�em
mais.�[...]�H
e�também�s
,�quando�se�
[...]� o� de� s
também�qu
ato�de�fala�
�
LEITU
signif
UN
GUÍSTIC
GEM IND
retos� constit
nte,�do�que�e
a�abordagem
mais� simples�d
icar�exata�e�li
o� são� tão� sim
ite�uma�sente
Há�também�ca
significar�uma
aborda�os�at
saber� como� é
uerer�significa
indireto�quan
URA:�SEA
ficado.�S
NIDAD
�
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COS E P
DIRETO
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tuem�outra�
está�dito�na�e
m�sobre�atos�d
de� significação
teralmente�o�
mples� [...]� Um
ença�que�que
asos�em�que�o
a�outra�elocuç
tos�de�fala�in
é� possível� pa
ar�algo�mais.�[
ndo�a�sentenç
ARLE,�Joh
São�Paul
DE III 
PRAGM
OS (AUS
forma�de� se
estrutura�ling
de�fala�indire
o� são�aqueles
que�diz.�[...]�
ma� classe� imp
er�significar�o
o�falante�emit
ção�com�conte
ndiretos,�dois
ara� o� falante�
...]�saber�com
a�que�ouve�e�
hn�R.(20
o:�Marti
MÁTICO
TIN/SEA
e�dizer�mais,
guísticoͲdisc
etos�assim:�
s�em�que�o� f
Mas�notoriam
ortante� de� c
�que�diz,�mas
te�uma�senten
eúdo�proposic
s�problemas�
dizer� uma� c
mo�é�possível�p
compreende�
002)�Exp
ins�Fonte
LETRAS�|��4
OS: ATO
ARLE) 
,�ou�em�algu
cursiva�do�en
falante�emite�
mente,�nem�to
asos� é� a� daq
s� também�qu
nça�e�quer�sig
cional�diferent
se�apresent
coisa,� querer�
para�o�ouvinte
significa�algo�
ressão�e
es.�p.�47
43�
OS DE 
umas� situaç
nunciado.�
uma� sentenç
odos�os�casos
queles� em� qu
er�significar�a
gnificar�o�que�
te.�(p.�47Ͳ48)
am:�
significáͲla,� m
e�compreende
mais;�(p.49)
e�
7Ͳ79.
�
ões�
ça�e�
s�de�
ue� o�
algo�
diz,�
mas�
er�o�
�
LETRAS�|�44�
�
E�para�tentar�responder�(resolver)�a�esses�dois�problemas,�Searle�(2002�[1979])�identifica�dois�atos�em�
um� ato� indireto:� um� ato� primário� e� um� ato� secundário.�O� primeiro� (primário)� seria� a� intenção� que� tem� o�
locutor�com�determinado�enunciado,�independente�de�estar�explícito�ou�não;�o�segundo�(secundário)�é�o�ato�
usado�para� realizar�o�primário,�o� sentido� literal�da� sentença.�E,�para� se�entender�e� chegar�ao�ato�primário�
pretendido/realizado�pela�enunciação�de�x,�Searle� (2002),�p.�53Ͳ54)�apresenta�uma�breve� reconstrução�das�
etapas,�que,�segundo�ele,�o�ouvinte�(leitor)�realiza,�mesmo�que�automaticamente,�para�derivar�o�ato�primário�
do�secundário.�
De�acordo�com�Searle�(2002),�para�se�buscar�o�ato�primário�que�está�sendo�realizado�através�de�um�
ato�secundário,�lançaͲse�mão�de�um�processo�inferencial�que�está�descrito�em�10�passos�nessa�obra.�
E�assim�resume�esse�trabalho�do�interlocutor�(leitor).�
�
A�estratégia�inferencial�é�estabelecer,�primeiramente,�que�o�propósito�ilocucionário�primário�
diverge�do�literal�e,�em�segundo�lugar,�qual�seja�o�propósito�ilocucionário�primário.�[...]�Esse�
aparato� inclui� informações� de� base� compartilhadas,� uma� teoria� dos� atos� de� fala� e� certos�
princípios�de�conversação.�(p.53)�
�
Analisemos� a� situação� a� seguir,� em� que� A� recebe� um� convite� para� ir� ao� cinema� e� B� responde,�
aparentemente,�de�forma�irrelevante.�
A – Vamos ao cinema hoje à tarde? 
B – Tenho de terminar o material de Pragmática para a EAD. 
�
O�locutor�A�faz�um�convite,�em�forma�de�ato�direto,�e�sua�proposta�é�rejeitada�por�B�de�forma�indireta.�
Então,� como� A� entende� que� sua� proposta� está� sendo� rejeitada� ou� que� a� enunciação� de� B� deve� ser� lida�
(entendida)�como�uma�rejeição?�Searle�(2002)�diz�que�A,�para�chegar�à�leitura�de�que�o�enunciado�de�B�é�uma�
rejeição�ao�seu�convite,�primeiro�realizará�realizar�algumas�etapas� linguísticoͲcognitivas,�as�quais�resumirei�a�
seguir.�
�A�sabe�que,�ao�fazer�um�convite�a�B,�este�deverá�aceitáͲlo�ou�não.�A�também�sabe�que�B�está�sendo�
cooperativo�(princípio�proposto�por�Grice),�portanto�sua�resposta�deve�ser�relevante.�No�entanto,�ao�observar�
literalmente�o�que�fora�dito�por�B,�A�constata�que�a�resposta�esperada� Ͳ�aceitação,�recusa�ou�proposta�para�
discutir�o�convite�–�não�é�relevante�para�o�convite�feito.�Mas,�recuperando�a�presunção�de�que�B�está�sendo�
relevante,�A�precisa�buscar�o�que� está�dito� além�do� sentido� literal� expresso�na� sentença�de�B,�portanto�o�
propósito� ilocucionário� (ato�primário)�de�B� �é�diferente�do�expresso� literalmente� (ato� secundário).�A�partir�
LETRAS�|��45�
�
dessa�etapa,�A�buscará�uma�conclusão�(inferência)�probabilística�enquanto�propósito�probabilístico�de�B.�Essa�
inferência�só�será�possível�considerando�os�aspectos� já� levantados�e�o�que� fora�dito� literalmente:�Tenho�de�
terminar� o� material� de� Pragmática� para� a� EAD.� A� partir� desses� dados,� podeͲse� concluir� que� terminar� o�
material� e� ir� ao� cinema�

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