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AULA 2: DEMAIS CRIMES CONTRA A VIDA
 
DIREITO PENAL III
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AULA 2: DEMAIS CRIMES CONTRA A VIDA
 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO E 
AUXÍLIO AO SUICÍDIO
1
OUTROS CRIMES
CONTRA A PESSOA
ABORTO
3
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 INFANTICÍDIO
Crimes Contra a Vida - Homicídio 
Direito Penal III
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Induzimento, instigação e auxílio ao suicídio
 Noção: suicídio é a supressão voluntária e consciente da própria vida. Compõe-se da vontade que a pessoa tem de se matar e da prática de certos atos por parte desta pessoa. O fato de uma pessoa se matar é um indiferente legal. Não sendo incriminada a ação de matar-se ou a tentativa de suicídio, a participação em tais atos não poderia ser punível, pois não há participação punível senão em fato delituoso.
 As legislações modernas, atendendo ao valor excepcional da vida humana, passaram a prever uma figura sui generis, que é a participação no suicídio de outra pessoa. A maioria das legislações não pune a tentativa de suicídio, que é, entretanto, considerada como fato ilícito por atingir um bem jurídico indisponível, e por não ser o exercício de nenhum direito subjetivo, permitindo a lei a coação para impedi-lo. 
 Bem jurídico: preservação da vida humana, bem indisponível.
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 Sujeito ativo: qualquer pessoa, excluindo-se aquele que se suicida ou tenta se matar. Trata-se de uma forma especial do delito de homicídio.
 Sujeito passivo: aquele capaz de ser induzido, instigado ou auxiliado, ou seja, que tenha alguma capacidade de resistência à conduta do sujeito ativo, sendo indispensável que tenha capacidade de discernimento para entender o ato que pratica.
 O induzimento deve ser dirigido para uma pessoa determinada ou a um grupo determinado, não ocorre o crime quando se trata de induzimento/instigação de caráter geral e indeterminado, como em obra literária.
 Tipo objetivo: induzir é criar a ideia do suicídio na cabeça do agente; instigar é reforçar uma ideia preexistente (participação moral); auxiliar é ajudar materialmente.
 O meio deve ser idôneo, capaz de influir moralmente sobre a vítima, sendo esta uma das causas do suicídio, caso contrário, não haveria nexo causal. 
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 Se a vontade da pessoa for irreversível, a instigação não é punida, só o sendo se a pessoa ainda estiver em dúvida.
 Pratica crime ainda quem auxilia o suicida. O auxílio deve ter sido efetivo para o suicídio, para que o agente seja punido.
 A maioria da doutrina nega a possibilidade da prática deste crime por omissão, enquanto que outros, como Nelson Hungria, admitem-na se o agente for de alguma forma garantidor, tendo a obrigação de impedir o resultado.
 Tipo subjetivo: O dolo é a vontade de induzir, instigar, ou auxiliar a vítima na prática do suicídio. Não há forma culposa.
 Consumação e tentativa: A consumação se dá com a morte da vítima ou com a produção de lesões graves. Impossível a tentativa, pois a lei subordina a incriminação do fato à superveniência do suicídio ou ao menos da lesão corporal.
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 Formas Qualificadas: a pena é duplicada:
I – se o crime é praticado por motivo egoístico: se o agente vai obter alguma vantagem pessoal com o suicídio (ex.: induz o marido de sua amante a se matar, ou induz o concorrente ao suicídio), seja ou não de ordem material;
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. 
Considera-se menor aquele que tem menos de 18 anos, mas para Damásio, se a vítima for menor de 14 anos, não será este crime, mas sim homicídio, conforme a presunção do artigo 224, fazendo analogia ao caso de estupro. Deve-se verificar se a pessoa tem ou não capacidade de discernimento. 
 
 Ação penal: pública incondicionada, cabendo ao júri seu julgamento.
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 Infanticídio
 Noção: Infanticídio é o homicídio praticado pela genitora contra o próprio filho, influenciada pelo estado puerperal, durante ou logo após o parto. Portanto, trata-se de uma espécie derivada do homicídio, na medida em que o núcleo de ambos é o mesmo: matar alguém.
 Bem jurídico: vida (preservação da vida humana). Especificamente, a vida do nascente (aquele que está nascendo) e do neonato (recém-nascido).
 Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, em que somente a mãe (parturiente), sob a influência do estado puerperal, pode ser sujeito ativo.
 Sujeito passivo: o recém-nascido ou o feto que está nascendo, não o feto sem vida nem o abortado ou inviável. Antes do início do parto, qualquer atentado à vida será aborto, a partir do início do parto, quando se rompe a bolsa d’água, o crime será de infanticídio se praticado pela mãe. O nascituro deve nascer com vida, senão é crime impossível.
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 Tipo objetivo: pode ser praticado por qualquer meio, até por omissão (artigo 13, § 2º, “a”), mas deve ser logo após o parto (elemento normativo temporal). 
 Parto é o conjunto dos processos (mecânicos, fisiológicos e psicológicos) por meio dos quais o feto a termo ou viável separa-se do organismo materno e passa ao mundo exterior.
 Há certa dificuldade na conceituação do que seja “logo após”. Entende a maioria da doutrina compreender todo o período do estado puerperal, circunstância a ser analisada pelos peritos médicos no caso concreto 
 Não basta que a mãe mate o filho durante ou logo após o parto, sob a influência do estado puerperal: é preciso, também, que haja uma relação de causa e efeito entre tal estado e o crime, pois nem sempre ele produz perturbações psíquicas na parturiente.
 Tipo Subjetivo: dolo direto ou eventual. A mãe deve estar sob a influência do estado puerperal (elemento fisiopatológico). Não há forma culposa.
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 Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do recém-nascido e a tentativa é admitida.
 Concurso de pessoas: se um terceiro eventualmente participa de um infanticídio, sendo este um crime próprio, a doutrina se divide em três correntes:
a) o partícipe responderá também pelo infanticídio, baseando-se no artigo 30 do CP, que diz que as circunstâncias pessoais, quando elementares do crime, se comunicam (Delmanto, Damásio, Frederico Marques).
b) a condição de mãe e a influência do estado puerperal é personalíssima, não se comunicando ao terceiro, que responderá por homicídio (Aníbal Bruno, Heleno Fragoso, Nelson Hungria).
c) faz-se uma distinção com relação ao terceiro, se este só auxiliar, sendo partícipe, responde por infanticídio, se participa dos atos executórios, sendo coautor, responde por homicídio (Magalhães Noronha).
 Agravantes genéricas: não se aplicam a este crime as agravantes previstas no artigo 61, II, letras “e” e “h”, pois a relação de parentesco já constitui o crime e a qualidade de criança do sujeito passivo também.
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 Aborto
 Noção: Aborto é a interrupção da gravidez, com a morte do produto da concepção, que é protegido pela normal penal, que pune o aborto desde o momento da nidação (implantação do ovo no útero) até o início do parto. 
 Nos EUA, a Suprema Corte decidiu, em 1973, não ser admissível, de acordo com a Constituição, a proibição do aborto nos 3 primeiros meses de gravidez, enquanto que do 3º ao 6º mês só poderá ser realizado se estiver em risco a vida ou a saúde da gestante.
 O CP prevê 3 hipóteses de aborto: aborto provocado pela gestante (art. 124, 1ª parte); aborto com o consentimento da gestante (art. 124, 2ª Parte e art. 126); aborto sem o consentimento da gestante (artigo 125).
 Bem jurídico: a vida humana em formação (intrauterina) e no aborto sem o consentimento da gestante está se protegendotambém a sua liberdade de escolha e integridade física.
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 Sujeito ativo: fora o aborto provocado pela gestante, cujo sujeito ativo é a própria gestante, nos outros casos, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
 Coautoria: a questão do enquadramento de terceiro que auxilia a gestante é discutida. Auxiliar significa, no caso, oferecer os instrumentos, acompanhá-la até a clínica, pagar o aborto e dar os remédios. 
 O entendimento jurisprudencial dominante é que este terceiro não responde pelo art. 126, mas sim pelo art. 124. 
 A importância desta distinção é que se a gestante vier a sofrer lesões graves, ou mesmo morrer, o terceiro que auxilia continuará sujeito ao art. 124, não tendo qualquer aumento em sua pena (em virtude da prescrição – isso é relevante).
 Sujeito passivo: o feto. Discute-se se a sociedade é sujeito passivo. No aborto sem consentimento da gestante, ela também é sujeito passivo.
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 Tipo objetivo: ação de provocar (dar causa, originar) tem forma livre e pode ser praticada por qualquer meio, comissivo ou omissivo. 
 Os meios podem ser químicos ou físicos, diretos ou indiretos, incluindo psíquicos (ex.: susto e terror). É imprescindível que o meio seja hábil à produção do resultado. Se o meio é absolutamente ineficaz (ex.: rezas, simpatias, ingestão de substâncias inócuas), há crime impossível (art. 17 do CP), da mesma forma, manobras abortivas em mulher não grávida, ou sobre feto já morto, em razão da impropriedade do objeto.
 O crime consiste na morte dada ao nascituro intra uterum ou pela provocação de sua expulsão.
Pressupõe a gravidez, sendo necessário que o feto esteja vivo.
 O termo inicial para a prática do delito em exame é o começo da gravidez e, para efeitos jurídicos, considera-se o momento da nidação, ou seja, na implantação do óvulo fecundado no endométrio.
 O termo final é o início do parto – contrações da dilatação (parto normal) ou o corte abdominal (cesariana).
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 Tipo subjetivo: dolo genérico (direto e eventual). Não há forma culposa. Entretanto, o terceiro que culposamente provoca o aborto, responde por lesão corporal culposa (art. 129, § 6º do CP).
 No aborto qualificado pelo resultado (art. 127), o crime é preterdoloso: há dolo no antecedente (aborto) e culpa no subsequente (lesão grave ou morte).
 
 Consumação e tentativa: com a morte do feto ou destruição do óvulo se consuma o crime. A expulsão do produto da concepção não é imprescindível para a consumação do delito. O aborto é crime material. Admite-se tentativa.
 Aborto provocado pela gestante e aborto consentido: essas duas figuras estão contidas no art. 124.
 No caso do aborto consentido, quem pratica os atos materiais do aborto incide no art. 126. 
A coautoria não é admissível no aborto provocado pela gestante, embora se admita a participação.
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 Aborto praticado por terceiro sem consentimento da gestante: admite duas formas: não concordância real (violência, grave ameaça ou fraude); não concordância presumida (menor de 14 anos, alienada ou débil mental).
 Aborto praticado por terceiro com o consentimento da gestante (aborto consensual): é sancionado de forma menos severa. Enquanto a grávida responde pelo crime do art. 124, o médico responde por este – exceção à regra geral do concurso de pessoas. 
 
 Presunção de incapacidade para consentir: a violência, neste caso, refere-se àquela utilizada para a obtenção do consentimento e não para a realização do aborto.
 Presume-se, neste caso, a incapacidade da gestante em consentir. Discute-se se os pais podem consentir. O eventual erro quanto ao consentimento é erro de tipo.
 Aborto qualificado pelo resultado: trata-se de forma preterdolosa. Esta qualificadora somente é aplicável aos arts. 125 e 126, e não ao art. 124. 
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 O partícipe do crime de aborto provocado pela gestante, portanto, não responde pelo resultado mais grave. A lesão leve é absorvida pelo crime do caput. 
 No caso específico de que, dos meios empregados para provocar o aborto não advenha a morte do feto, embora ocorra a lesão corporal grave ou a morte da gestante, a doutrina se divide. Para alguns autores, haveria crime de aborto qualificado tentado (Aníbal Bruno, Hungria, Frederico Marques, Fragoso e Mirabete), enquanto que outros como Luiz Regis Prado, fazem menção ao fato de que o crime qualificado pelo resultado não admite tentativa, concluindo que nesta hipótese haveria aborto qualificado pelo resultado consumado (art. 127, CP). 
Homicídio de mulher grávida: se o agente sabia da gravidez, pode haver aborto na forma de dolo eventual, respondendo o agente pelo concurso formal entre o homicídio simples + aborto sem o consentimento da vítima.
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 Aborto legal: exige-se que seja o aborto praticado por médico, embora seja aplicável a regra genérica de estado de necessidade para o caso da enfermeira que provoca o aborto para salvar a vida da mãe. 
 São as seguintes as hipóteses de aborto legal:
 a) Aborto necessário ou terapêutico: hipótese em que médico o pratica se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
b) Aborto sentimental, ético ou humanitário: ocorra caso a gravidez resulte de estupro e o aborto seja precedido de consentimento da gestante, ou quando incapaz, de seu representante legal. 
 O aborto eugenésico, ou seja, aquele praticado em virtude de graves anomalias genéticas ou outros defeitos físicos ou psíquicos, não é admitido pela legislação brasileira.
 
 Ação penal: a ação penal é pública incondicionada, cabendo ao júri seu julgamento. Por força da Lei nº 9099/95, é cabível a suspensão condicional do processo no aborto provocado pela gestante e no aborto consentido.
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 Aborto e anencefalia: o Direito penal se deparou recentemente com um problema trazido pelo avanço da medicina: o do feto nascido sem cérebro.
 Os juízes, em geral, vinham autorizando o aborto nesse caso, tendo em vista a inviabilidade da vida no caso concreto, para evitar um sofrimento maior para a mãe – atipicidade por ausência de bem jurídico a proteger.
 Em 2012, o STF julgou a matéria na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, em que declarou a inconstitucionalidade de interpretação segunda a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo configuraria prática de crime de aborto.
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Assuntos da próxima aula:
 
 
CONTEÚDO DA PRÓXIMA AULA
 Lesões corporais;
Periclitação da vida e da saúde;
Rixa.
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