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IOB – 2015 Direito Administrativo – André Barbieri CAPÍTULO 17: CONTROLE INTERNO 1. Controle da Administração – Conceito – Objetivos – Natureza Jurídica – Princípios Fundamentais – Sistemas Administrativos Controle da administração é o controle do uso dos poderes administrativos, visualizando-se a eficácia, efetividade e a produção de resultados para que não se permita abusos ou se retire o foco da coletividade. Trata-se da busca pela consecução dos objetivos da Administração Pública. Os objetivos do controle são basicamente dois: garantia de respeito aos direitos subjetivos dos cidadãos e cumprimento das finalidades da Administração Pública. Sobre a natureza jurídica, o Decreto-lei nº 200/1967 determina que será de princípio fundamental. Existem dois sistemas administrativos: a) francês (contencioso administrativo): há uma divisão de competências. De um lado, o Tribunal Administrativo; de outro, a autoridade judiciária. O Judiciário nunca interfere nas questões de direito administrativo, ou seja, as questões de interesse da coletividade. Existe, portanto, a chamada coisa julgada administrativa; Aquilo Que interessa à sociedade é julgado pelo tribunal administrativo; o que é interesse dos particulares é julgado pelo tribunal judiciário; o que é julgado por um tribunal não é julgado pelo outro (não há ligação nem muito menos hierarquia entre eles). b) inglês (jurisdição una): todas as questões (mesmo as de matéria de direito administrativo) são decididas pelo Judiciário. É o sistema adotado pelo Brasil, conforme art., 5º, XXXV, da CF. No entanto, no Brasil, o sistema inglês é adotado de forma temperada, pois existem três exceções, em que antes de se socorrer do Judiciário, é obrigatório que o particular busque a via administrativa (importante observar que não é que será vedado acesso ao Judiciário, é que antes de ir ao Judiciário precisa buscar a via administrativa): a) justiça desportiva (art. 217 §1º da CF). § 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. Precisa esgotar a via administrativa (justiça desportiva) Ex. Flamengo e Sport (Campeonato brasileiro 87). b) habeas data. Lei 9507/97. Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda. Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova: I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão; II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão. Não precisa esgotar a via administrativa, basta a negativa ou omissão. c) súmula vinculante descumprida pela Administração Pública. Lei 11.417/06. As SV vinculam a AP e o Judiciário, mas não vinculam o próprio STF e o Legislativo. Existe a Reclamação Constitucional para os casos em que uma SV não for utilizada ou for mal utilizada. Art. 7o Da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação. § 1o Contra omissão ou ato da administração pública, o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias administrativas. Assim, se a AP aplicou mal uma SV, primeiro peticiona para a AP corrigir o erro, depois é que vai ao Judiciário (p.ex. a AP exigiu recolhimento de custas para dar prosseguimento a um recurso administrativo, não pode pela SV 21, então, primeiro peticiona para a AP dizendo que ela está equivocada, se ela nada fizer ou se negar, aí que vai ao Judiciário) - Existe coisa julgada administrativa no Brasil? NÃO, somente ocorre o encerramento das instancias administrativas, se a pessoa quiser ela deve recorrer ao Judiciário; o Judiciário sempre pode dar a ultima palavra (CF88) e somente existe coisa julgada judicial. - Pode o cidadão realizar controle? SIM. Todos podem controlar a AP, cidadãos, Judiciário, Legislativo e a própria AP. 2. Habeas Data e Mandado de Segurança O habeas data é o remédio constitucional para se ter acesso à informação, complementar uma informação ou corrigir uma informação. Antes de se buscar a solução no Judiciário, é necessário que se provoque a via administrativa, solicitando o acesso, complemento ou correção de tal informação. Somente com a negativa expressa ou com a omissão da Administração Pública é que se poderá ingressar com o pedido no Judiciário. Quanto ao desrespeito à súmula vinculante, caberá Reclamação Constitucional, de acordo com a legislação que regulamenta o tema (Lei nº 11.417/2006). A própria lei, contudo, determina que, quando esse desrespeito ocorrer por parte da Administração Pública, não poderá o interessado ingressar com o processo judicial depois de esgotada a via administrativa. Diante do que estudamos sobre os sistemas administrativos, podemos afirmar que não existe coisa julgada administrativa no Brasil, porque coisa julgada somente pode ser proveniente do Judiciário. O cidadão tem legitimidade para controlar os atos da Administração Pública. Veremos, a partir de agora, de quais maneiras poderá ser realizado este controle: 1) mandado de segurança: é o remédio que protege direito líquido e certo. A regulamentação está na Lei nº 12.016/2009. Devemos sempre nos lembrar de que a autoridade coatora é aquela que realiza um ato ilegal, e contra este ato o processo será proposto. Direito liquido e certo é aquele que pode ser de plano demonstrado (prova pré-constituida). Importante: “Art. 1º (...) § 2º Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.” Ato de gestão comercial por EP, SEM e Concessionária. No art. 5º, temos as hipóteses em que não cabe o mandado de segurança: “I – de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; [Art.109 lei 8.666 tem recurso com efeito suspensivo, não cabe MS] II – de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; III – de decisão judicial transitada em julgado.” [aí seria ação rescisória] Continuando no estudo do mandado de segurança, o conceito de autoridade coatora está presente no art. 6º da Lei nº 12.016/2009. Art. 6o A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. Importante lembrar que o mandado de segurança não se confunde com uma ação ordinária (indenizatória ou de cobrança – Súmula nº 269 do STF) pela sua celeridade e também porque o mandado de segurança não protege situações pretéritas, mas apenas aquelas que ocorrerem a partir da impetração. S. 269 STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança. Assim, da impetração da segurança, o direito está assegurado, mas se há direito anterior, vai precisar da ação própria. Ex. pessoa foi preterida em um concurso público, impetrou MS e foi nomeado; da impetração do MS até a nomeação ele recebe a remuneração,porque tinha direito, mas não vai receber período anterior ao MS, para isso vai precisar ação indenizatória. Lembrar: - A autoridade coatora é notificada (art.7º, I), mas o chefe do órgão a que se submete a autoridade coatora é cientificado (art.7º, II). - Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado ou contra lei em tese. - Não existe, no mandado de segurança, condenação em honorários advocatícios (art.25). Mas tem custas processuais. 3. Habeas Data e Ação Popular Outra ação que permite o controle pelo particular é o habeas data, regulamentado pela Lei nº 9.507/1997 (artigos importantes: 7º, 8º e 19). Trata-se do remédio constitucional cabível no que diz respeito ao acesso, complemento e retificação das informações da pessoa do impetrante. O STF admite, excepcionalmente, a impetração de habeas data, por terceiro, quando resultar em reflexos previdenciários. Já vimos que o habeas data só pode ser interposto no Judiciário depois de esgotadas as vias administrativas. No habeas data, não há liminar, mas correrão com prioridade, exceto com relação a habeas corpus e mandado de segurança. É uma ação gratuita (não há honorários nem custa). Art. 1º (VETADO) Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações. Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda. Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova: I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão; II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão. Art. 9° Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique o coator do conteúdo da petição, entregando-lhe a segunda via apresentada pelo impetrante, com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de dez dias, preste as informações que julgar necessárias. O juiz assina prazo de 10 dias para o coator prestar as informações. Art. 19. Os processos de habeas data terão prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto habeas-corpus e mandado de segurança. Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que, feita a distribuição, forem conclusos ao relator. Não se fala em pedido liminar, há pedido de prioridade. Parágrafo único. O prazo para a conclusão não poderá exceder de vinte e quatro horas, a contar da distribuição. Outra ação que permite o controle pelo particular é a ação popular (Lei nº 4717/65). Têm legitimidade para propor esta ação todos os cidadãos. Para esta lei, cidadão é quem é eleitor. Em prova às vezes dizem que tem legitimidade o detentor de mandato eletivo ou o servidor público, mas esses só assumem os cargos se forem também eleitores. Art.1º § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda. É uma ação que busca proteger direitos da coletividade, e, em regra, estarão no polo passivo o beneficiário, o próprio agente público e a pessoa jurídica que deu causa ao dano. Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos. O Ministério Público não tem legitimidade para propor esta ação (deverá interpor ação civil pública), mas deverá funcionar como fiscal da lei. Cespe adora dizer que o Promotor Público ingressou com Ação Popular. Também não têm legitimidade as pessoas jurídicas. Pode haver liminar na ação popular, mas não haverá custas ou honorários (desde que não seja proposta com má-fé). Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou; b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo; d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido; e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. § 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo, ou se for ele indeterminado ou desconhecido, a ação será proposta somente contra as outras pessoas indicadas neste artigo. § 2º No caso de que trata o inciso II, item "b", do art. 4º, quando o valor real do bem for inferior ao da avaliação, citar-se-ão como réus, além das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art. 1º, apenas os responsáveis pela avaliação inexata e os beneficiários da mesma. § 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente. § 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores. § 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular. 4. Ação Civil Pública – Classificação do Controle Continuando no estudo do controle realizado pelo cidadão, veremos agora a ação civil pública (Lei nº 7.347/1995). O cidadão não tem legitimidade para propor a ACP, mas de certa forma a sociedade civil poderealizar esse controle por uma associação. Difere-se da ação popular porque na ação civil pública o objeto é mais amplo, e não se fala em legitimidade do cidadão. Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011). l - ao meio-ambiente; ll - ao consumidor; III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990) V - por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011). VI - à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela Lei nº 12.966, de 2014) VIII – ao patrimônio público e social. (Incluído pela Lei nº 13.004, de 2014) Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) Ademais, na ação civil pública, a possibilidade condenatória também é mais ampla (fazer, não fazer ou indenizar). Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. A legitimidade para propor ação civil pública está prevista no art. 5º da lei, e é importante lembrar-se da figura da associação, que tem requisitos de constituição e objeto para ser classificada como legitimada à propositura desta ação. Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007). b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 13.004, de 2014) § 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. § 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes. § 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.(Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990) § 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) § 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de veto) § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de veto) Classificação do controle da Administração Iniciaremos agora o estudo de um novo ponto, que é a classificação do controle da Administração, que pode se dar de acordo com diversos critérios: a) quanto ao órgão controlador: a1) controle legislativo: realizado pelo parlamento e, no que se refere ao controle externo, com o auxílio do TCU; a2) controle judicial: realizado sempre por provocação (o Judiciário nunca fará controle administrativo de ofício); a3) controle administrativo: ocorre no âmbito da Administração, que atua de ofício ou por provocação de terceiro interessado; b) quanto à extensão: b1) controle interno: realizado pelo próprio órgão; b2) controle externo: realizado por outros órgãos; c) quando à natureza: c1) controle de legalidade: atos ilegais devem sempre ser anulados, e a anulação gera efeitos ex tunc. c2) controle de mérito: é, em regra, realizado pela Administração Pública, que analisa a conveniência e oportunidade dos atos. Atos inconvenientes e inoportunos podem ser revogados, e os efeitos são ex nunc; d) quando ao âmbito: d1) controle por subordinação: é o controle realizado por superiores hierárquicos dentro de uma mesma pessoa jurídica. A ideia é desconcentração; d2) controle por vinculação: é o controle realizado por superiores de pessoas jurídicas distintas. A ideia é de descentralização; e) quanto ao momento do exercício (realização do AA): e1) controle prévio; é a melhor forma de controle. e2) controle concomitante; e3) controle posterior. f) quanto à iniciativa: f1) controle de ofício: somente realizado pela Administração Pública; f2) controle provocado: pode ser realizado pela Administração ou pelo Judiciário, desde que provocados por um terceiro interessado. 5. Tribunal de Contas O Tribunal de Contas, previsto nos arts. 70 e 71 da CF, tem a função precípua de fiscalizar. É órgão auxiliar do Poder Legislativo na realização do controle externo. A competência é de fiscalizar pessoas físicas ou jurídicas (de direito público ou privado) naquilo que diz respeito à utilização de verba pública. Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) No art. 71 e seguintes, temos: Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: É, portanto, taxativo este artigo: sempre que houver controle externo, haverá o auxílio do TCU. Não há hierarquia entre Legislativo (CN) e TCU. TCU não integra o Legislativo, ele é órgão auxiliar. I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento; II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administraçãodireta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público; [Daqui podem se configurar atos de improbidade] III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório; IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município; VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas; VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário; IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade; X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados. § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis. Não confundir este §1º com o inc. X! Inc. X diz que o TCU vai sustar a execução do AA; o §1º diz que em caso de contrato a sustação será efetuada pelo CN. § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito. [Aqui o TCU tem atuação subsidiária. O CN silenciou em relação ao apontado pelo TCU na forma do §1º, aí que o TCU pode atuar] § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo. § 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de suas atividades. Importante relacionar esses artigos 70 e 71 como estudo do art. 113 da Lei nº 8.666/1996, que se relaciona com estas normas. Art. 113. O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais instrumentos regidos por esta Lei será feito pelo Tribunal de Contas competente, na forma da legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da Administração responsáveis pela demonstração da legalidade e regularidade da despesa e execução, nos termos da Constituição e sem prejuízo do sistema de controle interno nela previsto. § 1o Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica poderá representar ao Tribunal de Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de controle interno contra irregularidades na aplicação desta Lei, para os fins do disposto neste artigo. § 2o Os Tribunais de Contas e os órgãos integrantes do sistema de controle interno poderão solicitar para exame, até o dia útil imediatamente anterior à data de recebimento das propostas, cópia de edital de licitação já publicado, obrigando-se os órgãos ou entidades da Administração interessada à adoção de medidas corretivas pertinentes que, em função desse exame, lhes forem determinadas. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art. 166, §1º, diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não programados ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsável que, no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessários. § 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias. § 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão, se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação. Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96. . § 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos: I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; II - idoneidade moral e reputação ilibada; III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública; IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior. § 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos: I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antigüidade e merecimento; II - dois terços pelo Congresso Nacional. § 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) § 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional Federal. Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. § 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária. § 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ousindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros.
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