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INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 1 – ÍNDICE 1 – Material do Professor: Aspectos Materiais da Consignação em Pagamento – p.01 Remissão – p.02 Confusão – p.03 Cláusula Penal – p.04 Transmissão das Obrigações – p.04 Jurisprudência Selecionada – p.05 Enunciados – Jornadas de Direito Civil (Obrigações) - p.08 2 – Material Complementar: : Prisão Civil na Alienação Fiduciária, no Depósito e o Supremo Tribunal Federal – p.13 1 – Material do Professor: 1. Aspectos Materiais da Consignação em Pagamento (comentários ao art. 335 do Código Civil)1 Segundo Antonio Carlos Marcato, “o pagamento por consignação é instrumento de direito material destinado à solução de obrigações que têm por objeto prestações já vencidas e ainda pendentes de satisfação, pouco importando se essa pendência decorre de causa atribuível ao credor ou resulta de outra circunstância obstativa do pagamento por parte do devedor; e este vale-se de tal instrumento para liberar-se do vínculo que o submete ao accipiens e livrar-se, em conseqüência, dos ônus e dos riscos decorrentes dessa submissão”.2 O art.335, CC-02 (art.973, CC-16) apresenta uma relação de hipóteses em que a consignação pode ter lugar, a saber: a) se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma (inciso I): se A, locador de um imóvel a B, se recusa a receber o valor do aluguel ofertado por este último, por considerar que deveria ser majorado por um determinado índice previsto em lei, B poderá consignar o valor, se entender que o reajuste é indevido. A hipótese é aplicável, também, para o caso de A aceitar receber o valor, mas se recusar a dar a quitação, que é direito do devedor. b) se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos (inciso II): Se o credor não comparecer ou mandar terceiro para exigir a prestação, isso não afasta, por si só, o vencimento e a exigibilidade da dívida, pelo que se autoriza a consignação do valor devido. c) se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil (inciso III): Em relação ao incapaz, este não pode mesmo receber, em razão de sua condição, devendo o pagamento ser feito ao seu representante (que não é, tecnicamente, o credor). Se este estiver impossibilitado, por qualquer motivo (uma viagem, por exemplo), não há como se fazer o pagamento diretamente ao credor incapaz, pelo 1 Este tema é eminentemente processual e está inserido na grade de processo civil do LFG (módulo complementar), não integrando o intensivo. Nesta apostila, o nosso amigo leitor já pode, por seu turno, tomar contato com aspectos materiais do tema. 2 MARCATO, Antonio Carlos, Ação de Consignação em Pagamento, 5ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, 1996, p. 16. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 2 – que pode ser feita a consignação. Outra situação é se o credor se tornar desconhecido, caso em que o credor morre e não se sabe quem são os seus herdeiros. A ausência, finalmente, é situação fática, qualificada juridicamente como morte presumida (art.6º, CC-02, art.10, CC-16), em que alguém desaparece, sem deixar notícias de seu paradeiro ou representante para administrar-lhe os bens. Nesse caso, sem saber a quem pagar, pode o devedor realizar a consignação. Por fim, residindo o credor em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil, também poderá ser exigida a consignação; d) se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento (inciso IV): Trata-se de uma hipótese, muito comum, por exemplo, na Justiça do Trabalho, quando, falecendo o empregado A, consigna o empregador B suas verbas rescisórias, quando há discussão sobre a legitimidade para o recebimento entre diversas mulheres, que se dizem companheiras do falecido, inclusive com filhos comuns. e) se pender litígio sobre o objeto do pagamento (inciso V): se, por exemplo, A e B disputam, judicialmente, quem é o legítimo sucessor do credor C, não é recomendável que o devedor D antecipe-se à manifestação estatal, para entregar o bem a um deles, pois assumirá o risco do pagamento indevido. Deverá consignar o valor. Na forma do art. 336, CC-02 (art.974, CC-16), para “que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento”. Assim, em relação às pessoas, a consignação deverá ser feita pelo devedor, ou quem o represente, em face do alegado credor, sob pena de não ser considerado válido, salvo se ratificado por este ou se reverter em seu proveito, na forma dos arts.304 e 308, CC-02 (arts.930 e 934, CC-16). Em relação ao objeto, é óbvio que o pagamento deve ser feito na integralidade, uma vez que o credor não está obrigado a aceitar pagamento parcial. Antecipe-se, inclusive, que, no procedimento especial correspondente, na forma do § 1º do art.899 do CPC, “alegada a insuficiência de depósito, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida”. Os demais aspectos do instituto integram a seara do Direito Processual Civil e serão vistos, em momento oportuno, como dito, por professor de Processo Civil. 2. Remissão Inicialmente, cumpre-nos, lembrar que esta modalidade de extinção de obrigação não se confunde com a remição, escrita com a letra “ç”, que é instituto jurídico completamente diferente. Exemplo de aplicação processual do instituto é a remição da dívida que está prevista no art. 651 do vigente Código de Processo Civil brasileiro, consistente no pagamento da dívida, extinguindo a execução3. 3 CPC: Art. 651. Antes de adjudicados ou alienados os bens, pode o executado, a todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 3 – Não é de instituto processual, todavia, de que cuidamos. A remissão aqui tratada traduz o perdão da dívida, expresso ou tácito, total ou parcial, e que, para se configurar, exige a conjugação de dois requisitos básicos: a) Ânimo de perdoar; b) Aceitação do perdão: Nesse sentido, observa ORLANDO GOMES: “Para a doutrina italiana a remissão de dívida é negócio jurídico unilateral, uma espécie particular de renúncia a um direito de crédito”4. Optou a nova Lei Codificada, portanto, pela teoria oposta, no sentido do reconhecimento da natureza bilateral da remissão (art. 385, CC). Além disso, o perdão não pode prejudicar a eventuais direitos de terceiros. Confira os artigos de lei: CAPÍTULO IX Da Remissão das Dívidas Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro. Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação,quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida. Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. 3. Confusão Opera-se quando as qualidades de credor e devedor são reunidas em uma mesma pessoa, extinguindo-se, conseqüentemente, a relação jurídica obrigacional5. É o que ocorre, por exemplo, quando um sujeito é devedor de seu tio, e, por força do falecimento deste, adquire, por sucessão, a sua herança. Em tal hipótese, passará a ser credor de si mesmo, de forma que o débito desaparecerá por meio da confusão. Nesse sentido, dispõe o art. 381 do CC-02, cuja redação é idêntica à da norma anterior correspondente (art. 1049, CC-16): “Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor”. 4 GOMES, Orlando. Obrigações. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992, pág. 150. 5 Nesse sentido, não há qualquer dúvida na jurisprudência: “AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. Quando as qualidades de credor e devedor se confundem na mesma pessoa ocorre a figura da confusão, sendo descabido o pedido de indenização recursos denegados. Decisão unânime.” (TRIBUNAL DE JUSTICA DO PR DATA DE JULGAMENTO: 05/12/1989 RECURSO: APELACAO CIVEL NUMERO: 10259 RELATOR: LUCIO ARANTES) INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 4 – O art. 384 do Código, ao tratar da confusão, poderia causar alguma dúvida: “Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior”. Para facilitar a compreensão da regra, vale transcrever o exemplo apresentado pelo ilustrado ÁLVARO VILLAÇA AZEVEDO: “Seria o caso de operar-se a confusão, de acordo com o primeiro exemplo dado, tendo em vista a sucessão provisória de B (ante sua morte presumida – desaparecimento em um desastre aviatório). Neste caso, durante o prazo e as condições que a lei prevê, aparecendo vivo B, desaparece a causa da confusão, podendo dizer-se que A esteve impossibilitado de pagar seu débito, porque iria fazê-lo a si próprio, por ser herdeiro de B, como se, nesse período, estivesse neutralizado o dever de pagar com o direito de receber”.6 4. Cláusula Penal Segundo CLÓVIS BEVILÁQUA, “não se confunde esta pena convencional com as repressões impostas pelo direito criminal, as quais cabe somente ao poder público aplicar em nossos dias. A pena convencional é puramente econômica, devendo consistir no pagamento de uma soma, ou execução de outra prestação que pode ser objeto de obrigações”.7 Podemos identificar as seguintes espécies de cláusula penal: a. cláusula penal compensatória; b. cláusula penal moratória. Em aula, faremos o desenvolvimento da matéria, diferenciando-a, especialmente, das arras. 5. Transmissão das Obrigações 5.1. Cessão de Crédito A cessão de crédito consiste em um negócio jurídico por meio do qual o credor (cedente) transmite total ou parcialmente o seu crédito a um terceiro (cessionário), mantendo-se a relação obrigacional primitiva, com o mesmo devedor (cedido). O Código de 2002 disciplinou a cessão de crédito a partir do seu art. 286 (correspondente ao art. 1065, CC-16): “Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa fé, se não constar do instrumento da obrigação”. A cessão de crédito não poderá ocorrer, em três hipóteses: a) se a natureza da obrigação for incompatível com a cessão; 6 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria Geral das Obrigações. 9. ed. São Paulo: RT, 2001, págs. 224-225. 7 BEVILÁQUA, Clóvis. Theoria Geral do Direito Civil. Campinas: RED, 2000, pág. 104. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 5 – b) se houver vedação legal; c) se houver cláusula contratual proibitiva. 5.2. Cessão de Débito ou Assunção de Dívida A cessão de débito ou assunção de dívida consiste em um negócio jurídico por meio do qual o devedor, com o expresso consentimento do credor, transmite a um terceiro a sua obrigação. Nesse sentido, o art. 299 do CC-02 é de intelecção cristalina8: “Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa”. Para que seja reputada válida, além dos pressupostos gerais do negócio jurídico, a cessão de débito deverá observar os seguintes requisitos: a) a existência de uma relação jurídica obrigacional juridicamente válida e existente; b) a substituição do devedor, mantendo-se a relação jurídica originária; c) a anuência expressa do credor; 5.3. Cessão de Contrato Diferentemente do que ocorre na cessão de crédito ou de débito, neste caso, o cedente transfere a sua própria posição contratual (compreendendo créditos e débitos) a um terceiro (cessionário), que passará a substituí-lo na relação jurídica originária. Tal figura não foi prevista pelo CC-02, sendo tratada especialmente pela doutrina e jurisprudência pátrias, conforme veremos em sala de aula. 6. Jurisprudência Selecionada 8 Observe-se que o Projeto de Lei n. 6960/02, se aprovado, irá reestruturar este dispositivo legal, nos seguintes termos: “Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, podendo a assunção verificar-se: I – Por contrato com o credor, independentemente do assentimento do devedor; II – Por contrato com o devedor, com o consentimento expresso do credor. §1° - Em qualquer das hipóteses referidas neste artigo, a assunção só exonera o devedor primitivo se houver declaração expressa do credor. Do contrário, o novo devedor responderá solidariamente com o antigo; §2° - Mesmo havendo declaração expressa do credor, tem-se como insubsistente a exoneração do primitivo devedor sempre que o novo devedor, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava, salvo previsão em contrário no instrumento contratual; §3° - Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa; §4° - Enquanto não for ratificado pelo credor, podem as partes livremente distratar o contrato a que se refere o inciso II deste artigo”. Note-se, da análise dessas normas, que o legislador priorizou o consentimento do credor, protegendo-o de cessões de débito danosas ao seu direito. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito CivilAula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 6 – Selecionamos aqui importante jurisprudência referente a temas que serão abordados nas aulas desta semana9: TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES Processual civil. Agravo no recurso especial. Contrato de mútuo do Sistema Financeiro de Habitação - SFH. Ação revisional. Cessão do contrato. Ausência de interveniência da instituição financeira. Ilegitimidade ativa do cessionário. - A interveniência da instituição financeira é obrigatória na transferência de imóvel financiado pelo Sistema Financeiro da Habitação pois, sem esta, não tem o cessionário legitimidade ativa para ajuizar ação visando discutir o contrato realizado entre o mutuário cedente e o mutuante. Agravo no recurso especial não provido. (AgRg no REsp 934.989/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23.08.2007, DJ 17.09.2007 p. 277) Competência. Conflito. Cessão de contrato. Cessionária: Caixa Econômica Federal. Intervenção. Fase Recursal. Assistência. Justiça Estadual X Justiça Federal. - A cessão de direitos e ações pelo Banco Meridional do Brasil à Caixa Econômica Federal, com a conseqüente intervenção desta, na qualidade de assistente, em embargos à execução, após a prolação da sentença, mas antes do julgamento da apelação, desloca a competência para a Justiça Federal. - A Justiça Federal é competente para apreciar o pedido de assistência formulado pela entidade federal e, caso admita a intervenção, poderá julgar o mérito do recurso. - Do contrário, inadmitida a Caixa Econômica como assistente, será competente, para o julgamento daquele recurso, a Justiça Estadual. (CC 35.929/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23.10.2002, DJ 06.10.2003 p. 200) Cessão de contrato de arrendamento mercantil. Direitos e obrigações que lhe são anteriores. Cessionário que pleiteia a revisão do contrato. Abrangência das prestações anteriores adimplidas pelo cedente. Legitimidade do cessionário reconhecida. Recurso provido. - A celebração entre as partes de cessão de posição contratual, que englobou créditos e débitos, com participação da arrendadora, da anterior arrendatária e de sua sucessora no contrato, é lícita, pois o ordenamento jurídico não coíbe a cessão de contrato que pode englobar ou não todos os direitos e obrigações pretéritos, presentes ou futuros, inclusive eventual saldo credor remanescente da totalidade de operações entre as partes envolvidas. - A cessão de direitos e obrigações oriundos de contrato, bem como os referentes a fundo de resgate de valor residual, e seus respectivos aditamentos, implica a transferência de um complexo de direitos, de deveres, débitos e créditos, motivo pelo qual se confere legitimidade ao cessionário de contrato (cessão de posição contratual) para discutir a validade de cláusulas contratuais com reflexo, inclusive, em prestações pretéritas já extintas. - A extinção do dever de pagamento da prestação mensal não se confunde com a possibilidade de revisão das cláusulas contratuais, pois esta decorre do direito de acesso ao Poder Judiciário e habilita a parte interessada a requerer o pagamento de diferenças pecuniárias incluídas indevidamente nas prestações anteriores à cessão contratual, pois foram cedidos não só os débitos pendentes como todos os créditos que viessem a ser apurados posteriormente. (REsp 356.383/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05.02.2002, DJ 06.05.2002 p. 289) 9 Lembramos que outros importantes temas de obrigações serão tratados pelo excelente Prof. André Barros, aqui no Curso Intensivo. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 7 – CLÁUSULA PENAL CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA. INADIMPLÊNCIA DO DEVEDOR. CONTRATO ANTERIOR AO CDC. INAPLICABILIDADE. PERDA DAS PRESTAÇÕES PAGAS PREVISTA EM CLÁUSULA PENAL. I. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor a contrato celebrado antes da sua vigência, pelo que a cláusula penal que prevê a perda da totalidade das parcelas pagas, contratada antes da entrada em vigor da Lei n. 8.078/80, não pode ser afastada com base em tal diploma. Precedentes do STJ. II. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 435.608/PR, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 27.03.2007, DJ 14.05.2007 p. 310) CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA E CESSÃO. INADIMPLÊNCIA RECONHECIDA DOS RÉUS. RESCISÃO DECRETADA. PERDA DAS IMPORTÂNCIAS PAGAS CONSOANTE CLÁUSULA PENAL. CONTRATO CELEBRADO ANTES DA VIGÊNCIA DO CDC. VALIDADE DA COMINAÇÃO. PREQUESTIONAMENTO INSUFICIENTE. SUCUMBÊNCIA. CPC, ART. 20, § 4º. I. Reconhecida a inadimplência dos réus, em contrato de promessa de compra e venda e cessão imobiliária, válida é a cláusula que prevê a perda das parcelas pagas quando celebrado o contrato antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor. Precedentes do STJ. II. Insuficiência de prequestionamento que impede, ao teor das Súmulas n. 282 e 356 do C. STF, o debate acerca do acerto ou não da extinção da ação reintegratória de posse. III. Ausente a condenação, a sucumbência deve ser fixada com base no art. 20, § 4º, do CPC. IV. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido. (REsp 399.123/SC, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 07.12.2006, DJ 05.03.2007 p. 288) Agravo regimental. Recurso especial não admitido. Prequestionamento. Cláusula penal. 1. O Tribunal não afastou a incidência da cláusula penal, mas, apenas, considerou que a multa, como ajustada, ficou mais onerosa do que a própria prestação devida na normalidade. Nesse caso, houve a regular aplicação do artigo 920 do Código Civil, adequando-se a multa a patamares admitidos pela legislação. 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 793.058/RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 29.11.2006, DJ 07.05.2007 p. 318) Direito civil. Obrigações. Ação anulatória de contrato de cessão de obras literárias por encomenda (elaboração de duas telenovelas). Reconvenção. Indenização por perdas e danos. Descumprimento integral do contrato. Redução da multa contratual. Cláusula penal. Função compensatória. - Inviável a revisão do julgado, por força das Súmulas 5 e 7 do STJ, se o Tribunal de origem, ao analisar o processo, atento ao teor do contrato objeto da controvérsia e ao acervo probatório juntado pelas partes, concluiu pela inexistência de qualquer ato omissivo ou comissivo passível de macular o negócio jurídico. - A redução da multa compensatória, de acordo com o Código Civil, somente pode ser concedida nas hipóteses de cumprimento parcial da prestação ou, ainda, quando o valor da multa exceder o valor da obrigação principal. - Considerando-se que estipulada a cláusula penal em valor não excedente ao da obrigação e que foi total o inadimplemento contratual, não cabe a redução do seu montante, que deve servir INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 8 – como compensação pela impossibilidade de obtenção da execução específica da prestação contratada, na hipótese, a elaboração de duas telenovelas. Recurso especial não conhecido. (REsp 687.285/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25.09.2006,DJ 09.10.2006 p. 287) CIVIL E PROCESSUAL. COTAS DE CONSÓRCIO ADQUIRIDAS DE EMPRESA VENDEDORA DE VEÍCULOS. CARACTERIZAÇÃO COMO COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. DESISTÊNCIA PELO ADQUIRENTE. CLÁUSULA PENAL. CDC, ART. 53. MITIGAÇÃO. RETENÇÃO PARCIAL PARA RESSARCIMENTO DE DESPESAS. I. Reconhecido pelo Tribunal estadual que se cuidou, na espécie, de compromisso de compra e venda de quotas de consórcio, a desistência, pelo adquirente, sob alegação de dificuldades econômicas, implica na aplicação parcial da cláusula penal, cabendo a retenção de parte dos valores a serem restituídos, para ressarcimento de despesas administrativas da vendedora. II. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp 165.304/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 07.02.2006, DJ 20.03.2006 p. 273) 7. Enunciados – Jornadas de Direito Civil (Obrigações)10 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – I JORNADA 15 - Art. 240: as disposições do art. 236 do novo Código Civil também são aplicáveis à hipótese do art. 240, in fine. 16 - Art. 299: o art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da dívida quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a concordância do credor. 17 - Art. 317: a interpretação da expressão “motivos imprevisíveis”, constante do art. 317 do novo Código Civil, deve abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também causas previsíveis, mas de resultados imprevisíveis. 18 - Art. 319: a “quitação regular”, referida no art. 319 do novo Código Civil, engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de “comunicação à distância”, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes. 19 - Art. 374: a matéria da compensação, no que concerne às dívidas fiscais e parafiscais de Estados, do Distrito Federal e de Municípios, não é regida pelo art. 374 do Código Civil. 20 - Art. 406: a taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento) ao mês. A utilização da taxa SELIC como índice de apuração dos juros legais não é juridicamente segura, porque impede o prévio conhecimento dos juros; não é operacional, porque seu uso será inviável sempre que se calcularem somente juros ou somente correção monetária; é incompatível com a regra do art. 591 do novo Código Civil, que permite apenas a capitalização anual dos juros, e pode ser incompatível com o art. 192, § 3º, da Constituição Federal, se resultarem juros reais superiores a 12% (doze por cento) ao ano. 21 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. 22 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral, que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. 23 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. 10 Fonte: site http://www.professorsimao.com.br/, do amigo e professor José Simão. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 9 – 24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual. 26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. 27 - Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos. 28 - Art. 445 (§§ 1º e 2º): o disposto no art. 445, §§ 1º e 2º, do Código Civil reflete a consagração da doutrina e da jurisprudência quanto à natureza decadencial das ações edilícias. 29 - Art. 456: a interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício. 30 - Art. 463: a disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil deve ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros. 31 - Art. 475: as perdas e danos mencionadas no art. 475 do novo Código Civil dependem da imputabilidade da causa da possível resolução. 32 - Art. 534: no contrato estimatório (art. 534), o consignante transfere ao consignatário, temporariamente, o poder de alienação da coisa consignada com opção de pagamento do preço de estima ou sua restituição ao final do prazo ajustado. 33 - Art. 557: o novo Código Civil estabeleceu um novo sistema para a revogação da doação por ingratidão, pois o rol legal previsto no art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo, excepcionalmente, outras hipóteses. 34 - Art. 591: no novo Código Civil, quaisquer contratos de mútuo destinados a fins econômicos presumem-se onerosos (art. 591), ficando a taxa de juros compensatórios limitada ao disposto no art. 406, com capitalização anual. 35 - Art. 884: a expressão “se enriquecer à custa de outrem” do art. 884 do novo Código Civil não significa, necessariamente, que deverá haver empobrecimento. 36 - Art. 886: o art. 886 do novo Código Civil não exclui o direito à restituição do que foi objeto de enriquecimento sem causa nos casos em que os meios alternativos conferidos ao lesado encontram obstáculos de fato. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – II JORNADA 159 – Art. 186: O dano moral, assim compreendido todo o dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero aborrecimento inerente a prejuízo material. 160 – Art. 243: A obrigação de creditar dinheiro em conta vinculada de FGTS é obrigação de dar, obrigação pecuniária, não afetando a natureza da obrigação a circunstância de a disponibilidade do dinheiro depender da ocorrência de uma das hipóteses previstas no art. 20 da Lei n. 8.036/90. 161 – Arts. 389 e 404: Os honorários advocatícios previstos nos arts. 389 e 404 do Código Civil apenas têm cabimento quando ocorre a efetiva atuação profissional do advogado. 162 – Art. 395: A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor. 163 – Art. 405: A regra do art. 405 do novo Código Civil aplica-se somente à responsabilidade contratual, e não aos juros moratórios na responsabilidade extracontratual, em face do disposto no art. 398 do novo CC, não afastando, pois, o disposto na Súmula 54 do STJ. 164 – Arts. 406, 2.044 e 2.045: Tendo a mora do devedor início ainda na vigência do Código Civil de 1916, são devidos juros de mora de 6% ao ano até 10 de janeiro de 2003; a partir de 11 de janeiro de 2003 (data de entrada em vigor do novo Código Civil), passa a incidir o art. 406 do Código Civil de 2002. INTENSIVO REGULAR ROTATIVODisciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 10 – 165 – Art. 413: Em caso de penalidade, aplica-se a regra do art. 413 ao sinal, sejam as arras confirmatórias ou penitenciais. 166 – Arts. 421 e 422 ou 113: A frustração do fim do contrato, como hipótese que não se confunde com a impossibilidade da prestação ou com a excessiva onerosidade, tem guarida no Direito brasileiro pela aplicação do art. 421 do Código Civil. 167 – Arts. 421 a 424: Com o advento do Código Civil de 2002, houve forte aproximação principiológica entre esse Código e o Código de Defesa do Consumidor, no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos. 168 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva importa no reconhecimento de um direito a cumprir em favor do titular passivo da obrigação. 169 – Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo. 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. 171 – Art. 423: O contrato de adesão, mencionado nos arts. 423 e 424 do novo Código Civil, não se confunde com o contrato de consumo. 172 – Art. 424: As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo. Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do Código Civil de 2002. 173 – Art. 434: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente. 174 – Art. 445: Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no parágrafo primeiro, fluindo, entretanto, a partir do conhecimento do defeito. 175 – Art. 478: A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às conseqüências que ele produz. 176 – Art. 478: Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual. 177 – Art. 496: Por erro de tramitação, que retirou a segunda hipótese de anulação de venda entre parentes (venda de descendente para ascendente), deve ser desconsiderada a expressão “em ambos os casos”, no parágrafo único do art. 496. 178 – Art. 528: Na interpretação do art. 528, devem ser levadas em conta, após a expressão “a benefício de”, as palavras ”seu crédito, excluída a concorrência de”, que foram omitidas por manifesto erro material. 179 – Art. 572: A regra do art. 572 do novo CC é aquela que atualmente complementa a norma do art. 4º, 2ª parte, da Lei n. 8245/91 (Lei de Locações), balizando o controle da multa mediante a denúncia antecipada do contrato de locação pelo locatário durante o prazo ajustado. 180 – Arts. 575 e 582: A regra do parágrafo único do art. 575 do novo CC, que autoriza a limitação pelo juiz do aluguel-pena arbitrado pelo locador, aplica-se também ao aluguel arbitrado pelo comodante, autorizado pelo art. 582, 2ª parte, do novo CC. 181 – Art. 618: O prazo referido no art. 618, parágrafo único, do CC refere-se unicamente à garantia prevista no caput, sem prejuízo de poder o dono da obra, INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 11 – com base no mau cumprimento do contrato de empreitada, demandar perdas e danos. 182 – Art. 655: O mandato outorgado por instrumento público previsto no art. 655 do CC somente admite substabelecimento por instrumento particular quando a forma pública for facultativa e não integrar a substância do ato. 183 – Arts. 660 e 661: Para os casos em que o parágrafo primeiro do art. 661 exige poderes especiais, a procuração deve conter a identificação do objeto. 184 – Art. 664 e 681: Da interpretação conjunta desses dispositivos, extrai-se que o mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o que lhe for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e o reembolso de despesas. 185 – Art. 757: A disciplina dos seguros do Código Civil e as normas da previdência privada que impõem a contratação exclusivamente por meio de entidades legalmente autorizadas não impedem a formação de grupos restritos de ajuda mútua, caracterizados pela autogestão. 186 – Art. 790: O companheiro deve ser considerado implicitamente incluído no rol das pessoas tratadas no art. 790, parágrafo único, por possuir interesse legítimo no seguro da pessoa do outro companheiro. 187 – Art. 798: No contrato de seguro de vida, presume-se, de forma relativa, ser premeditado o suicídio cometido nos dois primeiros anos de vigência da cobertura, ressalvado ao beneficiário o ônus de demonstrar a ocorrência do chamado "suicídio involuntário”. 188 – Art. 884: A existência de negócio jurídico válido e eficaz é, em regra, uma justa causa para o enriquecimento. 189 – Art. 927: Na responsabilidade civil por dano moral causado à pessoa jurídica, o fato lesivo, como dano eventual, deve ser devidamente demonstrado. 190 – Art. 931: A regra do art. 931 do novo CC não afasta as normas acerca da responsabilidade pelo fato do produto previstas no art. 12 do CDC, que continuam mais favoráveis ao consumidor lesado. 191 – Art. 932: A instituição hospitalar privada responde, na forma do art. 932 III do CC, pelos atos culposos praticados por médicos integrantes de seu corpo clínico. 192 – Arts. 949 e 950: Os danos oriundos das situações previstas nos arts. 949 e 950 do Código Civil de 2002 devem ser analisados em conjunto, para o efeito de atribuir indenização por perdas e danos materiais, cumulada com dano moral e estético. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – IV JORNADA 347 – Art. 266. A solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do rol previsto no art. 266 do Código Civil. 348 – Arts. 275/282. O pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual deve derivar dos termos expressos da quitação ou, inequivocadamente, das circunstâncias do recebimento da prestação pelo credor. 349 – Art. 282. Com a renúncia da solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia. 350 – Art. 284. A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão, em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio da quota do eventual co-devedor insolvente, nos termos do art. 284. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 12 – 351 – Art. 282. A renúncia à solidariedade em favor de determinado devedor afasta a hipótese de seu chamamento ao processo. 352 – Art. 300. Salvo expressa concordância dos terceiros, as garantias por eles prestadas se extinguem com a assunção de dívida; já asgarantias prestadas pelo devedor primitivo somente são mantidas no caso em que este concorde com a assunção. 353 – Art. 303. A recusa do credor, quando notificado pelo adquirente de imóvel hipotecado, comunicando-lhe o interesse em assumir a obrigação, deve ser justificada. 354 – Art. 395, 396 e 408. A cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor. 355 – Art. 413. Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução da cláusula penal se ocorrer qualquer das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se tratar de preceito de ordem pública. 356 – Art. 413. Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula penal de ofício. 357 – Art. 413. O art. 413 do Código Civil é o que complementa o art. 4º da Lei n. 8.245/91. Revogado o Enunciado 179 da III Jornada. 358 – Art. 413. O caráter manifestamente excessivo do valor da cláusula penal não se confunde com a alteração de circunstâncias, a excessiva onerosidade e a frustração do fim do negócio jurídico, que podem incidir autonomamente e possibilitar sua revisão para mais ou para menos. 359 – Art. 413. A redação do art. 413 do Código Civil não impõe que a redução da penalidade seja proporcionalmente idêntica ao percentual adimplido. 360 – Art. 421. O princípio da função social dos contratos também pode ter eficácia interna entre as partes contratantes. 361 – Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475. 362 – Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. 363 – Art. 422. Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar a existência da violação. 364 – Arts. 424 e 828. No contrato de fiança é nula a cláusula de renúncia antecipada ao benefício de ordem quando inserida em contrato de adesão. 365 – Art. 478. A extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração de circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena. 366 – Art. 478. O fato extraordinário e imprevisível causador de onerosidade excessiva é aquele que não está coberto objetivament e pelos riscos próprios da contratação. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 13 – 367 – Art. 479. Em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada a sua vontade e observado o contraditório. 368 – Art. 496. O prazo para anular venda de ascendente para descendente é decadencial de dois anos (art. 179 do Código Civil). 369 - Diante do preceito constante no art. 732 do Código Civil, teleologicamente e em uma visão constitucional de unidade do sistema, quando o contrato de transporte constituir uma relação de consumo, aplicam-se as normas do Código de Defesa do Consumidor que forem mais benéficas a este. 370 - Nos contratos de seguro por adesão, os riscos predeterminados indicados no art. 757, parte final, devem ser interpretados de acordo com os arts. 421, 422, 424, 759 e 799 do Código Civil e 1º, inc. III, da Constituição Federal. 371 - A mora do segurado, sendo de escassa importância, não autoriza a resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé objetiva. 372 - Em caso de negativa de cobertura securitária por doença pré-existente, cabe à seguradora comprovar que o segurado tinha conhecimento inequívoco daquela. 373 - Embora sejam defesos pelo § 2º do art. 787 do Código Civil, o reconhecimento da responsabilidade, a confissão da ação ou a transação não retiram ao segurado o direito à garantia, sendo apenas ineficazes perante a seguradora. 374 - No contrato de seguro, o juiz deve proceder com eqüidade, atentando às circunstâncias reais, e não a probabilidades infundadas, quanto à agravação dos riscos. 375 - No seguro em grupo de pessoas, exige-se o quórum qualificado de 3/4 do grupo, previsto no § 2º do art. 801 do Código Civil, apenas quando as modificações impuserem novos ônus aos participantes ou restringirem seus direitos na apólice em vigor. 376 - Para efeito de aplicação do art. 763 do Código Civil, a resolução do contrato depende de prévia interpelação. PAZ E LUZ, AMIGOS DO CORAÇÃO! Fonte: Novo Curso de Direito Civil – Obrigações, vol. II - Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Ed. Saraiva (www.editorajuspodivm.com.br ou www.saraivajur.com.br) Revisado.2007.2.OK 2- Material Complementar: Prisão Civil na Alienação Fiduciária, no Depósito e o Supremo Tribunal Federal Direito Civil Prof.: Pablo Stolze 1- Notícia do Consultor Jurídico Alienação fiduciária INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 14 – Oito ministros já votaram contra prisão de devedores por Aline Pinheiro Está indo por água abaixo a tentativa dos bancos de ameaçar com prisão devedores em alienação fiduciária. Oito ministros do Supremo Tribunal Federal já votaram contra a prisão civil nestes casos. O julgamento, que aconteceu na tarde desta quarta-feira (22/11) no Plenário do Supremo, foi interrompido por um pedido de vista do ministro Celso de Mello. Os bancos Bradesco e Itaú entraram com recurso no Supremo contra a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo com a alegação de que a Lei de Alienação Fiduciária, ao equiparar o devedor a depositário infiel, permitiu também a prisão neste caso. O argumento dos bancos não coincide com o entendimento majoritário dos tribunais. A corrente nas cortes é de não permitir a prisão para o alienante. Os desembargadores paulistas entenderam que o contrato de alienação fiduciária não pode ser equiparado ao contrato de depósito de bem alheio para aplicação da prisão civil. Até o momento, já votaram os ministros Cezar Peluso (relator), Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Carlos Ayres Britto, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Ellen Gracie. Se o quadro não mudar, a prisão civil em casos de alienação fiduciária deve ser considera inconstitucional. Para o Bradesco, a interpretação do TJ-SP fere o disposto no artigo 66, da Lei nº 4.728/65, com a redação dada pelo artigo 1º do Decreto-lei nº 911/69, que determinou que “a alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e depositário de acordo com a lei civil e penal”. O banco alega que a Constituição de 1988 teria recepcionado esta norma e assim seria admitida a prisão civil no caso. Para Cezar Peluso, depósito e alienação fiduciária não podem ser considerados a mesma coisa. No segundo caso, o bem alienado é usado pelo alienado. No depósito, o bem não pode ser usado. “Se o depositário se concede o direito de usar da coisa, já não haverá depósito.” Por outro lado, “a abertura de crédito com garantia de alienação fiduciária”revela a intenção de provisão de recursos para aquisição de bens duráveis, constituindo-se em garantia do pagamento do crédito. Dessa forma, o sentido de alienação fiduciária para aquisição bens é o “negócio jurídico em que um dos figurantes adquire, em confiança, determinado bem, com a obrigação de devolvê-lo, ao se verificar certa condição acordada”. Sob essa ótica, para Cezar Peluso, “é impossível encontrar na alienação fiduciária em garantia, resíduo de contrato de depósito e até afinidade de situações jurídicas subjetivas entre elas”. Peluso sustenta que desde a Constituição de 1934, prevalece no Brasil a doutrina jurídica que estabelece que ‘não haverá prisão por dívidas, multas ou custas’ sem qualquer outra restrição”. Ao pedir vista, o ministro Celso de Mello explicou que, ao analisar o caso, o Supremo está revendo antiga jurisprudência da corte. Se for considerado inconstitucional a equiparação do devedor em alienação fiduciária ao depositário infiel, a mudança deve refletir também na possibilidade de prisão civil para o depositário infiel. RE 466.343 Revista Consultor Jurídico, 22 de novembro de 2006 (www.conjur.com,br) 2- Andamento do Recurso referido no noticiário do site do Consultor Jurídico: RE/466343 - RECURSO EXTRAORDINÁRIO Origem: SP Relator: MIN. CEZAR PELUSO Redator para acordão RECTE.(S) BANCO BRADESCO S/A ADV.(A/S) VERA LÚCIA B. DE ALBUQUERQUE E OUTRO(A/S) RECDO.(A/S) LUCIANO CARDOSO SANTOS INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 15 – Andamentos DJ Jurisprudência Deslocamentos Detalhes Petições Recursos Data Andamento Observação Documento 29/11/2006 DECISAO PUBLICADA, DJ: ATA Nº 34, de 22/11/2006 - 28/11/2006 REMESSA DOS AUTOS AO GABINETE DO SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO DEVIDO AO PEDIDO DE VISTA DO MINISTRO. 23/11/2006 JUNTADA DA CERTIDÃO DE JULGAMENTO DA SESSÃO PLENÁRIA DE 22/11/2006. 22/11/2006 VISTA AO MINISTRO CELSO DE MELLO. Decisão: Após o voto do Senhor Ministro Cezar Peluso (Relator), que negava provimento ao recurso, no que foi acompanhado pelo Senhor Ministro Gilmar Mendes, pela Senhora Ministra Cármen Lúcia e pelos Senhores Ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Carlos Britto e Marco Aurélio, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Celso de Mello. Ausentes, justificadamente, os Senhores Ministros Sepúlveda Pertence e Eros Grau. Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie. Plenário, 22.11.2006. 04/08/2006 PAUTA PUBLICADA NO DJ - PLENO PAUTA Nº 21/2006 - 01/08/2006 CONCLUSOS AO RELATOR 01/08/2006 CERTIDAO CERTIFICO E DOU FÉ QUE, EM CUMPRIMENTO AO DESPACHO DE FLS. 97, FORAM REMETIDAS CÓPIAS DO RELATÓRIO DESTES AUTOS AOS EXELENTÍSSIMOS SENHORES MINISTROS DESTA CORTE. 28/07/2006 PEÇO DIA PARA JULGAMENTO Pleno Em 28/07/2006 18:15:30 16/12/2005 CONCLUSOS AO RELATOR 15/12/2005 DISTRIBUIDO MIN. CEZAR PELUSO 3- Outros julgados de interesse da matéria: HC90172 / SP - SÃO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 05/06/2007 Órgão Julgador: Segunda Turma Publicação DJ 17-08-2007 PP-00091 INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 16 – EMENT VOL-02285-04 PP-00672 Parte(s) PACTE.(S) : MARIVALDO ADALBERTO ABUQUERQUE OU MARIVALDO ADALBERTO ALBUQUERQUE IMPTE.(S) : BENEDITO DONIZETH REZENDE CHAVES COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 68584 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ementa EMENTA: Habeas Corpus. 1. No caso concreto foi ajuizada ação de execução sob o nº 612/2000 perante a 3ª Vara Cível de Santa Bárbara D'Oeste/SP em face do paciente. A credora requereu a entrega total dos bens sob pena de prisão. 2. A defesa alega a existência de constrangimento ilegal em face da iminência de expedição de mandado de prisão em desfavor do paciente. Ademais, a inicial sustenta a ilegitimidade constitucional da prisão civil por dívida. 3. Reiterados alguns dos argumentos expendidos em meu voto, proferido em sessão do Plenário de 22.11.2006, no RE nº 466.343/SP: a legitimidade da prisão civil do depositário infiel, ressalvada a hipótese excepcional do devedor de alimentos, está em plena discussão no Plenário deste Supremo Tribunal Federal. No julgamento do RE nº 466.343/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, que se iniciou na sessão de 22.11.2006, esta Corte, por maioria que já conta com sete votos, acenou para a possibilidade do reconhecimento da inconstitucionalidade da prisão civil do alienante fiduciário e do depositário infiel. 4. Superação da Súmula nº 691/STF em face da configuração de patente constrangimento ilegal, com deferimento do pedido de medida liminar, em ordem a assegurar, ao paciente, o direito de permanecer em liberdade até a apreciação do mérito do HC nº 68.584/SP pelo Superior Tribunal de Justiça. 5. Considerada a plausibilidade da orientação que está a se firmar perante o Plenário deste STF - a qual já conta com 7 votos - ordem deferida para que sejam mantidos os efeitos da medida liminar. Decisão A Turma, por votação unânime, deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. 2ª Turma, 05.06.2007. Indexação - VIDE EMENTA E INDEXAÇÃO PARCIAL: CABIMENTO, HABEAS CORPUS PREVENTIVO, INCONSTITUCIONALIDADE, DECRETAÇÃO, PRISÃO CIVIL, DEVEDOR FIDUCIANTE, CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA, VIOLAÇÃO, PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.INAPLICABILIDADE, LEGISLAÇÃO COMUM, PRISÃO, DEPOSITÁRIO, POSTERIORIDADE, SUBSCRIÇÃO, BRASIL, PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA. - FUNDAMENTAÇÃO COMPLEMENTAR, MIN. CEZAR PELUSO: AUSÊNCIA, CARACTERIZAÇÃO, CONTRATO DE DEPÓSITO, CONTRATO DE EMPRÉSTIMO, BEM FUNGÍVEL. Legislação LEG-FED LEI-003071 ANO-1916 ART-01287 CC-1916 CÓDIGO CIVIL LEG-FED LEI-010406 ANO-2002 ART-00652 CC-2002 CÓDIGO CIVIL LEG-FED DEL-000911 ANO-1969 ART-00004 DECRETO-LEI LEG-FED DLG-000027 ANO-1992 APROVA A CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS DECRETO LEGISLATIVO LEG-FED DEC-000678 ANO-1992 INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 17 – PROMULGA A CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS DECRETO LEG-FED SUM-000691 SÚMULA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - STF LEG-INT CVC CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA) Observação - Acórdão citado: RE 466343 - Veja HC 68584 do STJ. N.PP.: 17. Análise: 04/09/2007, FMN. Revisão: 28/09/2007, CEL. fim do documento RHC90759 / MG - MINAS GERAIS RECURSO EM HABEAS CORPUS Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 15/05/2007 Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação DJ 22-06-2007 PP-00041 EMENT VOL-02281-03 PP-00590 Parte(s) RECTE.(S) : PAULO GORAYEB NEVES ADV.(A/S) : RAIMUNDO CÂNDIDO JÚNIOR E OUTRO(A/S) RECDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Ementa EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. DEPOSITÁRIOJUDICIAL INFIEL. FURTO DOS BENS PENHORADOS. DEPÓSITO NECESSÁRIO. SÚMULA 619 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EFICÁCIA DA DECISÃO JUDICIAL. COAÇÃO ILEGAL. INOCORRÊNCIA. RECURSO IMPROVIDO. I - O depósito judicial é obrigação legal que estabelece relação de direito público entre o juízo da execução e o depositário, permitindo a prisão civil no caso de infidelidade. II - A via eleita necessita de comprovação pré-constituída acerca dos elementos de convicção que, de forma inequívoca, comprove as alegações apresentadas. III - A substituição de bens penhorados, nos termos do art. 668 do Código de Processo Civil, depende da comprovação da impossibilidade de prejuízo para o exeqüente, o que não ocorre no caso em análise. IV - Recurso improvido. Decisão Por maioria de votos, a Turma negou provimento ao recurso ordinário em habeas corpus; vencido o Ministro Marco Aurélio, que lhe dava provimento. 1ª. Turma, 15.05.2007. Indexação - VIDE EMENTA E INDEXAÇÃO PARCIAL: DEPÓSITO JUDICIAL, DEPOSITÁRIO, QUALIDADE, ÓRGÃO AUXILIAR, JUSTIÇA, GUARDA, BEM PENHORADO, RELAÇÃO, DIREITO PÚBLICO, NATUREZA PROCESSUAL, AUSÊNCIA, RELAÇÃO CONTRATUAL. DIFERENÇA, CASO, PRISÃO CIVIL, DEVEDOR FIDUCIÁRIO, ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. - VOTO VENCIDO, MIN. MARCO AURÉLIO: PACTO SÃO JOSÉ DA COSTA RICA, AUSÊNCIA, DERROGAÇÃO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RESTRIÇÃO, POSSIBILIDADE, PRISÃO CIVIL, CASO, INADIMPLEMENTO, OBRIGAÇÃO, PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA. Legislação LEG-FED CF ANO-1988 INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 18 – ART-00005 INC-00067 PAR-00002 PAR-00004 CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEG-FED LEI-005869 ANO-1973 ART-00668 CPC-1973 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL LEG-FED LEI-006071 ANO-1974 LEI ORDINÁRIA LEG-FED DEL-000911 ANO-1969 ART-00004 REDAÇÃO DADA PELA LEI-6071/1974 DECRETO-LEI LEG-FED SUM-000619 SÚMULA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - STF LEG-FED DLG-000027 ANO-1992 APROVA A CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS DECRETO LEGISLATIVO LEG-FED DEC-000678 ANO-1992 PROMULGA A CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS DECRETO LEG-INT CVC CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA) Observação - Acórdãos citados: RHC 55271 (RTJ 85/97), RHC 80035, HC 83617, HC 84484. N.PP.: 30. Análise: 29/06/2007, AAC. fim do documento Classe / Origem RE 441719 / MT RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a) Min. - MARCO AURÉLIO DJ DATA-05/09/2005 P OOO92 Julgamento 22/08/2005 Despacho DECISÃO PROCESSO - SOBRESTAMENTO. 1. Encontra-se pendente de julgamento no Pleno o Recurso Extraordinário nº 349.703-RS, a versar sobre a inconstitucionalidade, ou não, da prisão civil do depositário infiel na alienação fiduciária em garantia. 2. Ante a possibilidade de revisão do entendimento sobre a matéria, tendo em vista a nova composição da Corte, determino o sobrestamento deste processo. 3. À Assessoria, para o devido acompanhamento. 4. Publique-se. Brasília, 22 de agosto de 2005. Ministro MARCO AURÉLIO Relator Partes RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 441.719-7 PROCED.: MATO GROSSO RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO RECTE.(S): BANCO BRADESCO S/A INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 19 – ADV.(A/S): MAURO PAULO GALERA MARI E OUTRO(A/S) RECDO.(A/S): EDI CLEBER RODRIGUES MARTINS ADV.(A/S): DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO Classe / Origem RE 458931 / MG RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a) Min. - CARLOS VELLOSO DJ DATA-09/09/2005 P OO146 Julgamento 26/08/2005 Despacho DECISÃO: - Vistos. A Oitava Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, em ação de busca e apreensão fundada no D.L. 911/69 e convertida em ação de depósito, entendeu não ser possível a prisão civil do devedor-fiduciante. Daí o RE, interposto por MULTIMARCAS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA, fundado no art. 102, III, a, da Constituição Federal, sustentando, em síntese, que a decisão recorrida violou o art. 5º, LXVII, da mesma Carta, porquanto o referido dispositivo permitiria a prisão civil do depositário infiel. Admitido o recurso, subiram os autos, que me foram conclusos em 19.8.2005. Decido. EMENTA: - CONSTITUCIONAL. PRISÃO CIVIL. DEPOSITÁRIO INFIEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. Dec-lei nº 911, de 1969. I. - D.L. 911, de 1969, art. 4º: equiparação do devedor-fiduciante ao depositário infiel: prisão civil: legitimidade constitucional. C.F., art. 5º, LXVII. II. - Precedentes do S.T.F.: HC 72.131/RJ, Plenário, 22.11.1995; RE 206.482/SP e HC 76.561/SP, Plenário, 27.05.98. III. - Voto vencido, Min. C. Velloso: não recepção, pela CF/88, do art. 4º do D.L. 911/69. Não subsistência, ademais, da prisão civil do devedor-fiduciante diante da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de São José da Costa Rica, da qual o Brasil é signatário. Ressalva do entendimento pessoal. IV. - R.E. conhecido e provido. O Supremo Tribunal Federal, pelo seu Plenário, no julgamento do HC 72.131/RJ, em 23.11.95, -- acórdão ainda não publicado -- decidiu no sentido de que o art. 4º, do D.L. 911/69, que equipara o devedor-fiduciante ao depositário infiel, foi recebido pela Constituição de 1988. O Tribunal decidiu, também, no citado julgamento, que a Convenção Americana de Direitos Humanos, de São José da Costa Rica, a que aderiu o Brasil, em 1992, já na vigência da CF/88, não revogou, no ponto em discussão, o D.L. 911, de 1969. Fiquei vencido. Posteriormente, no julgamento do RE 206.482/SP, Relator o Ministro Maurício Corrêa, e no HC 76.561/SP, o Plenário reiterou o entendimento anterior. Reiterei, na oportunidade, o meu entendimento em sentido contrário, nos termos do seguinte voto, proferido no RE 206.482/SP: "O acórdão recorrido, do Superior Tribunal de Justiça, decidiu que 'constitui-se em ilegalidade o ato de prisão civil do devedor-fiduciante face à circunstância de não estar o mesmo equiparado ao depositário infiel'. No voto que serviu de base para o acórdão, do Ministro Anselmo Santiago, invocaram-se duas decisões daquela Corte, tomadas nos HHCC 3.552-SP e 3.545-DF, assim ementados os respectivos acórdãos: 'CONSTITUCIONAL. CIVIL. PROCESSUAL PENAL. CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DEVEDOR-FIDUCIANTE. INADIMPLEMENTO DE OBRIGAÇÃO. PRISÃO CIVIL COMO DEPOSITÁRIO INFIEL. IMPOSSIBILIDADE. CF, ART. 5º, LXVII. CC, ARTS. 1.265/87. DL Nº 911/69. - Segundo a ordem jurídica estabelecida pela Carta Magna de 1988, somente é admissível prisão civil por dívida nas hipóteses de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e de depositário infiel (CF, art. 5º, LXVII). - O devedor- fiduciante que descumpre a obrigação pactuada e não entrega a coisa ao credor-fiduciante não se equipara ao depositário infiel, passível de prisão civil, pois o contrato de depósito, disciplinado nos arts. 1.265 a 1.287, do Código Civil, não se equipara, em absoluto, ao contrato de alienação fiduciária. - A regra do art. 1º do DL nº 911/69, que equipara a alienação fiduciária em garantia ao contrato de depósito, perdeu a sua vitalidade jurídica em face da nova ordem constitucional. - Habeas corpus concedido.' (STJ, 6ª T., HC nº 3.552-6/SP, Rel. Min. Vicente Leal, julg. em INTENSIVO REGULAR ROTATIVODisciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 20 – 18.09.95). 'CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. INTERPRETAÇÃO DO ART. 66 DA LEI Nº 4.728/65, ALTERADO PELO DECRETO-LEI Nº 911/69, EM FACE DO NOVO ORDENAMENTO CONSTITUCIONAL. ORDEM CONCEDIDA. I. - O paciente foi condenado em ação de busca e apreensão, convertida em ação de depósito, a restituir bem (veículo) objeto de contrato de alienação fiduciária em garantia. Foi decretada a prisão civil do paciente. II. - A Constituição Federal prevê a prisão civil por dívida em apenas dois casos: inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e depositário infiel (art. 5º, LXVII). No parágrafo 2º desse mesmo art. 5º, está dito que 'os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte'. Em 1991, foi incorporado em nosso ordenamento constitucional, pelo Decreto Legislativo nº 226, de 12/12/91, textos do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que em seu art. 11 veda taxativamente a prisão civil por descumprimento de obrigação contratual. Por outro lado, no caso específico da 'alienação fiduciária em garantia', não se tem um contrato de depósito genuíno. O devedor fiduciante não está na situação jurídica de depositário. O credor fiduciário não tem o direito de exigir dele a entrega do bem. Nem mesmo de proprietário deve ser rotulado, pois nem sequer pode ficar com a coisa, mas apenas com o produto de sua venda, deduzido o montante já pago pelo devedor. III. - Ordem concedida. (STJ, 6ª T., HC nº 3.545-3/DF, Rel. Min. Adhemar Maciel, julg. em 10.10.95).' (fls. 72/73) O que se sustenta, em resumo, é que a prisão civil somente é permitida pela Constituição Federal nas hipóteses de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e de depositário infiel (C.F., art. 5º, LXVII). E que o devedor-fiduciante não se equipara ao depositário infiel, pois o contrato de depósito, disciplinado nos arts. 1265 a 1287, do Cód. Civil, não se equipara ao contrato de alienação fiduciária. E mais: que a regra do art. 1º, do DL 911/69, que equipara a alienação fiduciária em garantia ao contrato de depósito, perdeu validade em face da nova ordem constitucional (HC 3.552-SP). No HC 3.545-DF, invocou-se o Decreto Legislativo nº 226, de 12.12.91, que incorporou ao ordenamento jurídico brasileiro textos do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, de São José da Costa Rica, que, em seu art. 11, veda taxativamente a prisão civil por descumprimento de obrigação contratual. Ademais, na alienação fiduciária em garantia não se tem um contrato de depósito genuíno. No RE, sustenta-se ofensa ao art. 5º, LXVII, e seu § 2º, da C.F. O eminente Ministro Maurício Corrêa, Relator, deu pela legitimidade do Ministério Público para recorrer, o que foi aceito pelo Tribunal, inclusive por mim. Ficou vencido o Ministro Marco Aurélio. No mérito, o eminente Relator conheceu do recurso e lhe deu provimento. Divergiu o Sr. Ministro Marco Aurélio. Pedi vista dos autos e os trago, a fim de retomarmos o julgamento do recurso. Passo a votar. Quando do julgamento do HC 72.131-RJ, proferi voto sustentando que a prisão civil do devedor-fiduciante não tem amparo na Constituição, art. 5º, LXVII, e, mais, diante da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de São José da Costa Rica, assinada pelo Brasil em 1969 e ratificada em 25.09.92, a referida prisão civil do devedor-fiduciante está afastada da ordem jurídica brasileira. Infelizmente, até o presente momento, não pude revisar as notas taquigráficas do referido voto, dado que elas estão retidas no gabinete de um dos eminentes Colegas, para revisão de apartes que me foram dados. Registro que o julgamento do citado HC 72.131-RJ ocorreu em 23.11.1995. No voto, que proferi no julgamento do mencionado HC 72.131-RJ, pretendi demonstrar que a alienação fiduciária em garantia, ao transferir ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada (art. 66 da Lei 4.728, de 1965, com a redação do art. 1º do DL. 911, de 1969), e, ao tornar o devedor-fiduciante em depositário, estabelece mera ficção jurídica. Vejamos. Alguém compra coisa móvel. O vendedor transfere, pela tradição, ao comprador, o domínio e a posse da coisa objeto da compra e venda. Em certos casos, para garantia do recebimento do preço, a venda se faz mediante o contrato de alienação fiduciária em garantia (Lei 4.728/65, art. 66, com a redação do art. 1º do DL 911/69). Esse instituto estabelece uma ficção: a alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e depositário (D.L. 911, de 1º/10/69, que alterou a redação do art. 66 da Lei 4.728, de 14.07.65). E foi mais longe o D.L. INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 21 – 911/69: transformou o comprador ou devedor em depositário do bem, sujeitando-o à prisão civil, vale dizer, equiparando-o ao depositário infiel, sem que exista, na verdade, um contrato de depósito, na forma estabelecida nos arts. 1265 e seguintes do Cód. Civil, de modo a permitir a prisão civil prevista no art. 1287 do mesmo Código -- esta, sim, autorizada pela C.F., art. 5º, LXVII. No verdadeiro contrato de depósito, recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositário o reclame (Cód. Civil, art. 1265). É dizer, pelo contrato de depósito, o depositante, proprietário da coisa, a entrega ao depositário, para o fim de ser guardada, devendo o depositário restituí-la quando reclamada pelo proprietário. Destarte, depositário é aquele que, aceitando, expressamente, a obrigação de guardar certo objeto móvel, assume, em conseqüência, o dever de devolver esse objeto ao proprietário deste, quando este o reclamar. A finalidade do contrato de depósito, está-se a ver, é a guarda do objeto móvel. É fácil verificar, de outro lado, que a entrega (tradição) da coisa móvel ao depositário não transfere a este a propriedade da coisa. O depositário transforma-se, na verdade, em mero detentor da coisa, com a obrigação de restituí-la ao proprietário (depositante), logo que este a reclamar. O que acontece, entretanto, na alienação fiduciária em garantia? Orlando Gomes ensina que 'o fiduciário passa a ser dono dos bens alienados pelo fiduciante. Adquire, por conseguinte, a propriedade desses bens, mas, como no próprio título de constituição desse direito, está estabelecida a causa de sua extinção, seu titular tem apenas propriedade restrita e resolúvel. O fiduciário não é proprietário pleno, senão titular de um direito sob condição resolutiva'. ("Alienação Fiduciária em Garantia", Ed. Rev. dos Tribs., 1970, p. 22). Assim também a lição do nosso colega, Ministro Moreira Alves: 'Examinando-se a estrutura da alienação fiduciária em garantia, quer no teor original do art. 66 da Lei nº 4.728, quer na nova redação que a esse dispositivo deu o art. 1º do Decreto-lei nº 911, verifica-se, de imediato, que se trata de negócio jurídico bilateral, que visa a transferir a propriedade da coisa móvel com fins de garantia (propriedade fiduciária)'. ("Da alienação fiduciária em garantia", 2ª. ed. Forense, p. 37). Todavia, esclarece José Paulo Cavalcanti, 'da chamada alienação fiduciária em garantia na verdade não resulta para o credor a aquisiçãode propriedade alguma'. ("O Penhor Chamado Alienação Fiduciária em Garantia", Recife, 1989, pág. 4). É dizer, na realidade, não há transferência de propriedade para o credor, nem antes e nem depois de vencido o crédito. Leciona José Paulo Cavalcanti: o que o credor pode fazer é 'apenas vender extrajudicialmente a propriedade da coisa, se o contrato não excluir essa venda extrajudicial (art. 2º do Decreto-lei 911/1969); e efetuada a venda judicial ou extrajudicial, ao credor caberá apenas o valor correspondente a seu crédito, cabendo toda a parte porventura excedente ao devedor (art. 1º, § 4º, art. 2º do Decreto-lei 911/1969); que somente a recebe porque efetivamente era a ele, e não ao credor, que pertencia a propriedade móvel objeto da venda'. (José Paulo Cavalcanti, ob. cit., págs. 5/9). Noutras palavras: o § 6º do art. 1º do DL 911/69 torna nula a cláusula do contrato que reserva para o credor a propriedade do bem. A única coisa que o credor pode fazer é vender o bem. Efetuada a venda judicial ou extrajudicial, ao credor caberá apenas o valor correspondente ao seu crédito, certo que o excedente será do devedor (DL. 911/69, art. 2º). Ora, se o credor fosse, na verdade, proprietário, poderia ele dispor da coisa. O credor, bem leciona José Paulo Cavalcanti, na alienação fiduciária em garantia, não é proprietário nem antes e nem depois do inadimplemento do devedor. O que o credor-fiduciário tem, na verdade, o que é, aliás, acentuado por José Paulo Cavalcanti, é a posse indireta da coisa (D.L. 911/69, art. 1º). Todavia, posse não é propriedade e posse indireta não é posse, é uma ficção. É de Gondim Neto a lição: 'Discutem vivamente os juristas tedescos a respeito da natureza jurídica da posse indireta. Alguns pensam que se trata de uma relação artificial -- einen fingierten Besitz pura criação da lei, com o fim de atribuir ao chamado possuidor indireto certos efeitos jurídicos da posse.' E acrescenta: 'A posse indireta não é, na realidade, aquilo que as palavras parecem indicar, não é posse como a dos outros possuidores, constitui unicamente uma ficção, que se reduz ao direito de exercer, subsidiariamente, as ações possessórias, para reprimir atos ilegais praticados contra o verdadeiro possuidor. Não vai além a importância da posse indireta.' ("Posse Indireta", Univ. Federal do Rio de Janeiro, 1972, págs. 15/17). A posse indireta, portanto, não passa de uma ficção. E as ficções, adverte Ferrara, citado por José Paulo Cavalcanti, se 'são toleráveis na lei, INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina: Direito Civil Aula: 11 Prof.: Pablo Stolze Data: 16 e 18.10.2007 - 22 – das ficções deve fugir a ciência. Ficções são mascaramentos da verdade, e a ciência, que tem por missão descobrir a verdade não pode contentar-se com um artifício. Toda ficção doutrinária é um problema não resolvido (Bulow, Civilprozess. Fictionem und Wahreiten) (Arq. f. civ. Prax, 62, p. 1-6. Biermann, B.R.92)' ("Trattato", Athen., Roma, 1921, nº 9, pág. 50; apud José Paulo Cavalcanti, ob. cit., págs. 13-14). Temos, então, na alienação fiduciária em garantia, mais de uma ficção: a ficção que leva à falsa propriedade do credor-fiduciário, a ficção do contrato de depósito, em que o devedor é equiparado ao depositário, certo que o credor tem, apenas, a posse indireta do bem, posse indireta que não passa, também, de outra ficção. E a partir dessas ficções, fica o comprador-devedor, na alienação fiduciária, sujeito à prisão civil. Mas o que deve ficar esclarecido é que a Constituição autoriza a prisão civil apenas do depositário infiel, ou seja, daquele que, recebendo do proprietário um certo bem para guardar, se obriga a guardá-lo e a devolvê-lo quando o proprietário pedir a sua devolução (Cód. Civil, arts. 1265 e segs., art. 1287). A Constituição, no art. 5º, LXVII, não autoriza a prisão civil de quem não é depositário e, porque não é depositário, na sua exata compreensão jurídica, não pode ser depositário infiel; noutras palavras, a Constituição autoriza a prisão civil -- art. 5º, LXVII -- apenas do depositário infiel, vale dizer, daquele que se tornou depositário mediante contrato de depósito, não de devedor que se torna depositário em razão de uma equiparação baseada numa mera ficção legal. Se isso fosse possível, amanhã, mediante outras equiparações, fortes em outras ficções legais, poderíamos ter uma prisão excepcional -- CF, art. 5º, LXVII -- transformada em regra, fraudando-se, assim, a Constituição. Mas o que deve ser acentuado é que a prisão civil do devedor-fiduciante, mediante a equiparação mencionada, não é tolerada pela Constituição, art. 5º, LXVII. Com efeito. Ressalte-se, por primeiro, que a ficção instituída pelo D.L. 911/69 nem foi objeto de discussão no Congresso Nacional. Trata-se de decreto-lei editado por uma Junta Militar que foi levada a isso, certamente, pelos que tinham interesse econômico na questão, o interesse de resolver uma obrigação civil com a prisão do comprador inadimplente. Não basta, para o D.L. 911/69, as garantias próprias da alienação fiduciária. Inventou-se a prisão do devedor, equiparado, por mera ficção legal, ao depositário infiel. Escrevendo a respeito do tema, sob o ponto de vista puramente civil, registra José Paulo Cavalcanti que o D.L. 911/69, que estabeleceu garantias para o credor-fiduciário, a partir de ficções legais, certamente que não seria aprovado pelo Congresso Nacional. E que dizer da equiparação do devedor-fiduciante ao depositário, para o fim de resolver uma obrigação civil mediante prisão? Vale transcrever o registro de José Paulo Cavalcanti: 'Constituindo essa falsa propriedade resolúvel que o texto da lei atribui ao credor na chamada alienação fiduciária em garantia, um expediente para fraudar a justa preferência de outros créditos sobre todos os créditos com garantia real; preferência que, diretamente, sem aquele artifício, seria odioso preterir: como, principalmente, a preferência dos créditos correspondentes às indenizações por acidentes do trabalho, a preferência dos créditos correspondentes às demais indenizações trabalhistas e a preferência dos créditos correspondentes aos salários. E não somente seria odiosa a expressa declaração da absoluta precedência do credor na chamada alienação fiduciária em garantia: essa precedência iníqua provavelmente não seria aprovada, pelo Congresso Nacional (quanto à Lei 4.728/85), e, talvez, nem mesmo pelo posterior governo ditatorial (quanto ao Decreto-lei nº 911/1969), considerando que seriam também preteridos os créditos tributários.' (Ob. cit., pág. 15). Mas, repete-se, a prisão civil é autorizada, em caráter excepcional, pela Constituição, art. 5º, LXVII. Ora, a Constituição vigente, reconhecidamente uma Constituição liberal, que estabelece uma série de garantias à liberdade, não tolera, certamente, equiparações com base em ficções, para o fim de incluir na autorização constitucional, a prisão. O que deve ser entendido é que a prisão civil somente cabe relativamente ao verdadeiro depositário infiel, não sendo toleradas equiparações que têm por finalidade resolver, com a prisão, uma obrigação civil. As normas infraconstitucionais interpretam-se no rumo da Constituição. No caso, permitir a prisão do alienante fiduciário, equiparado ao depositário infiel, é interpretar a Constituição no rumo da norma infraconstitucional. A Constituição, que deixa expresso que o Estado Democrático de Direito tem como fundamento, dentre outros, o princípio da dignidade da pessoa humana, -- art. 1º, III --, não pode tolerar que, em seu nome, seja autorizada a prisão do comprador de um INTENSIVO REGULAR ROTATIVO Disciplina:
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