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História Da Antropologia - Livro-Texto Unidade I

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Autor: Prof. Silas Guerriero
Colaboradoras: Profa. Josefa Alexandrina da Silva
 Profa. Ivy Judensnaider
História da Antropologia
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Professor conteudista: Silas Guerriero
Graduado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC–SP (1983), mestre em 
Ciências Sociais (1989) e doutor em Antropologia (2000) pela mesma instituição, o professor também tem graduação 
e mestrado em Teologia.
É professor-titular da Universidade Paulista desde 1991, onde atua com as disciplinas Antropologia e Cultura 
Brasileira, Homem e Sociedade e Ciências Sociais nos cursos de Psicologia e Direito.
Sua área de pesquisa é a de Antropologia da Religião, principalmente, novos movimentos religiosos, espiritualidades 
contemporâneas e natureza da religião. É professor também do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da 
Religião na PUC–SP. Escreveu livros e tem artigos publicados sobre o tema.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
G935a Guerriero, Silas.
História da antropologia. / Silas Guerriero. – São Paulo: Editora 
Sol, 2014.
164 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XX, n. 2-076/14, ISSN 1517-9230.
1. Antropologia. 2. Cultura. 3. Organização social. I. Título.
CDU 572
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Giovanna Oliveira
 Amanda Casale
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Sumário
História da Antropologia
APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7
INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A FORMAçãO DA CIêNCIA DO ANTROPOS ........................................................................................... 11
1.1 A pré-história da Antropologia ...................................................................................................... 18
1.1.1 Por que há essa preocupação do ser humano com o outro? ............................................... 20
1.2 A invenção do conceito de ser humano – século XVI a século XVIII .............................. 22
1.3 Os viajantes do século XIX e o sistema colonial ...................................................................... 25
2 O SURGIMENTO DO SER HUMANO .......................................................................................................... 30
2.1 Charles Darwin e a Teoria da Evolução ....................................................................................... 33
2.2 A espécie humana ................................................................................................................................ 37
2.3 Teorias atuais sobre o surgimento do ser humano ................................................................ 47
3 A NOçãO DE CULTURA ................................................................................................................................. 51
3.1 A dicotomia natureza e cultura ...................................................................................................... 51
3.2 Cultura, socialização e aprendizagem cultural ........................................................................ 55
3.3 Teorias da cultura ................................................................................................................................. 59
4 A QUESTãO DA DIVERSIDADE CULTURAL ............................................................................................. 62
4.1 A alteridade cultural ........................................................................................................................... 62
4.2 A formação das diferentes etnias .................................................................................................. 65
4.3 Identidade étnica e etnicidade ....................................................................................................... 71
4.4 Etnocentrismo e relativismo cultural ........................................................................................... 75
Unidade II
5 OS PAIS FUNDADORES DA ANTROPOLOGIA......................................................................................... 84
5.1 O evolucionismo social: Tylor, Morgan e Frazer ....................................................................... 84
5.1.1 Tylor .............................................................................................................................................................. 86
5.1.2 Maine ........................................................................................................................................................... 87
5.1.3 Frazer ........................................................................................................................................................... 89
5.1.4 O darwinismo social............................................................................................................................... 92
5.2 A crítica ao evolucionismo: Boas e Malinowski ....................................................................... 93
5.2.1 O culturalismo de Franz Boas (1858-1942) ................................................................................. 94
5.2.2 O Funcionalismo de Bronislaw Malinowski (1884–1942) ...................................................... 96
5.2.3 Radcliffe-Brown ....................................................................................................................................100
6 O MÉTODO ANTROPOLóGICO ...................................................................................................................101
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6.1 O estudo da totalidade ....................................................................................................................102
6.2 Etnografia e o método etnográfico – a observação participante ..................................105
6.3 Técnicas de pesquisa e trabalho de campo..............................................................................108
7 A ORGANIzAçãO SOCIAL ...........................................................................................................................1137.1 Família e sistemas de parentesco ................................................................................................114
7.1.1 Grupos de descendência ....................................................................................................................118
7.1.2 A proibição do incesto ........................................................................................................................121
7.2 Adaptação e sistemas econômicos .............................................................................................123
7.3 Sistemas políticos ...............................................................................................................................127
7.4 Religião e magia .................................................................................................................................133
7.4.1 Mitos, rituais, símbolos e crenças .................................................................................................. 138
8 OS LUGARES DA ANTROPOLOGIA ..........................................................................................................141
8.1 A Antropologia Aplicada .................................................................................................................141
8.2 O multiculturalismo e os usos da diversidade ........................................................................145
8.3 A contribuição da Antropologia para a formação do professor .....................................147
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APreSentAção
A disciplina História da Antropologia, do curso de Licenciatura em Ciências Sociais procura trazer ao 
graduando os elementos básicos da história dessa disciplina tendo como horizonte a compreensão da 
natureza humana. Entendemos que um maior entendimento sobre o que é o ser humano nos torna mais 
conscientes de nossa posição no planeta.
De nenhuma forma essa questão se distancia das premissas básicas que norteiam a missão da 
universidade, no que concerne a atuar para que haja o progresso da comunidade, o fortalecimento da 
solidariedade entre os homens e a contribuição com o desenvolvimento da ciência e do país.
O objetivo da disciplina é habilitar o licenciado em Ciências Sociais para o exercício da docência no 
que se refere a ser capaz de analisar e compreender a realidade cultural em seus múltiplos aspectos. 
Procura-se, para isso, preparar profissionais éticos e competentes, com sólida formação teórica e 
metodológica, além de contribuir com o desenvolvimento das seguintes competências:
•	 senso	crítico	e	capacidade	de	contextualização;
•	 consciência	ética	e	social;
•	 compreensão	da	diversidade	humana;
•	 respeito	às	diferenças;
•	 autonomia	afetiva	e	cognitiva.
Os objetivos específicos podem ser assim resumidos:
•	 Fornecer	aos	alunos	uma	introdução	à	Antropologia	e,	em	especial,	ao	conceito	de	cultura,	bem	
como	relacionar	a	disciplina	à	sua	área	de	formação.
•	 Superar	as	concepções	do	senso	comum	sobre	a	origem	do	ser	humano	e	sobre	a	dicotomia	entre	
natureza e cultura.
•	 Operacionalizar	os	conceitos	e	as	teorias,	mostrando	como	discussões	clássicas	formam	as	bases	
do pensamento antropológico contemporâneo.
•	 Sensibilizar	o	aluno	para	perceber	e	valorizar	a	diversidade	cultural,	afirmando	o	sentido	positivo	
da	 diferença	 e	 da	 identidade	 cultural,	 contribuindo	 para	 evitar	 manifestações	 etnocêntricas,	
racistas e/ou discriminatórias.
Além disso, por meio das estratégias de trabalho e de avaliação, os alunos deverão ter a oportunidade 
de desenvolver as seguintes competências:
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•	 senso	crítico	e	capacidade	de	contextualização;
•	 comunicação	e	expressão;
•	 desenvolvimento	social	e	pessoal;
•	 trabalho	em	equipe.
A Antropologia, uma das Ciências Sociais, busca o entendimento do ser humano como uma espécie. Não 
uma	espécie	peculiar	em	relação	às	demais,	mas	uma	espécie	única	que	comporta	algumas	características	
diferenciadas. Dentre estas, destacamos a cultura e a simbolização. Nesse sentido, buscamos compreender 
como	o	comportamento	humano	baseado	na	cultura	influencia	fortemente	nossas	relações	sociais.	O	ser	
humano é um ser social e que vive em coletividades. Porém, os grupos sociais tendem a ser enormemente 
diferenciados.	 Isso	 leva,	muitas	 vezes,	 a	 conflitos,	 desentendimentos	 e	 discriminações.	 Compreender	 a	
natureza humana nos permite ser mais cientes desse mecanismo e melhor nos posicionar para a construção 
de uma sociedade mais harmoniosa, não mediante o aniquilamento das diversidades, mas, pelo contrário, 
por meio da possibilidade da convivência com o outro, com o diferente.
Compreender a natureza humana e sua diversidade possibilita o desenvolvimento de habilidades 
como a capacidade comunicativa, o trabalho em equipe e a desenvoltura social.
Nesta disciplina, conheceremos as características básicas da natureza humana estudadas pela 
Antropologia. Para tanto, é de fundamental importância a compreensão histórica dessa disciplina: como 
se	formou,	quais	foram	suas	preocupações	iniciais	e	como	se	desenvolveu	ao	longo	do	tempo.
Introdução
O objetivo deste livro-texto é fornecer ao graduando do curso de Licenciatura em Ciências Sociais 
material de apoio para o acompanhamento da disciplina História da Antropologia. Você terá acesso 
a	uma	série	de	informações	que	aprofundarão	as	aulas	em	vídeo	e	também	terá	indicações	de	onde	
recolher material adicional para que seus estudos sejam ainda mais proveitosos.
Na primeira parte do nosso curso, veremos as origens da preocupação do ser humano em pensar a si 
mesmo. Notaremos que, muito antes da própria Antropologia como ciência, já havia uma preocupação 
em compreender o que é o ser humano. Procuraremos perceber que a nossa ciência é uma construção 
ocidental	que	se	 fez	à	medida	que	os	países	europeus	avançavam	no	processo	colonizador	sobre	os	
continentes habitados por povos indígenas.
Em seguida, analisaremos as teorias mais atuais sobre as origens do ser humano. Utilizaremos, então, 
alguns recursos da Antropologia Biológica. O olhar sobre as nossas origens permite uma compreensão 
mais aprimorada da nossa própria natureza.
A seguir, trataremos da noção de cultura, para muitos, o objeto maior da Antropologia. Analisaremos 
as	inter‑relações	de	cultura	e	natureza	e	até	aonde	chegam	os	instintos	no	caso	do	animal	humano.	Por	
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fim, veremos algumas das teorias sobre a cultura. Além disso, veremos também a questão da diversidade 
cultural e da chamada identidade étnica, ou simplesmente etnicidade, um dos pontos-chave do estudo 
antropológico.
Na segunda parte do nosso curso, analisaremos os fundadores da disciplina, aqueles que deram os 
passos iniciais na ciência do antropos. Depois, lidaremos com o trabalho antropológico visando levantar 
os elementos centrais do método dessa ciência, desde a Etnografia até as técnicas de pesquisa e trabalho 
de	campo.	Traremos	à	luz,	ainda,	alguns	dos	temas	centrais	estudados	pela	Antropologia,	como	sistemas	
de parentesco, sistemas políticos, religião, mitos e ritos, além de, por fim, sugerir uma discussão sobre o 
futuro da Antropologia e como esta área pode ser importante na formação de um professor de Ciências 
Sociais.
Esperamos,	dessa	forma,	que	este	seja	um	proveitoso	curso	de	introdução	à	ciência	da	Antropologia.
Bons estudos!
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História da antropologiaUnidade I
1 A formAção dA cIêncIA do AntroPoS
A ciência da Antropologia é uma das três grandes ciências sociais, que são três disciplinas 
básicas:	a	Sociologia,	que	lida	com	as	relações	sociais	das	grandes	sociedades	industrializadas	e	das	
relações	destas	com	os	grupos	sociais	mais	diversos;	a	Ciência	Política,	que	trata	das	relações	de	
poder	entre	os	grupos	sociais;	e	a	Antropologia,	que	lida	com	as	relações	simbólicas	e	culturais.	A	
Antropologia teve início, como veremos mais adiante, quando se buscou dar conta da compreensão 
das sociedades tidas então como primitivas, ou seja, as sociedades indígenas. Nisso ela se 
diferenciaria da Sociologia, sua prima-irmã, que procurava compreender as sociedades modernas 
ocidentais, industrializadas e complexas. Atualmente essa separação não faz mais sentido, mas isso 
será compreendido no decorrer do curso.
Convém ressaltar que existem várias outras ciências sociais, denominadas ciências sociais aplicadas. 
São elas as disciplinas que lidam com aspectos bastante específicos das sociedades humanas, como o 
Direito, a Economia, a Administração, a Comunicação, o Serviço Social e várias outras.
A distinção básica entre a Antropologia e as demais é a preocupação com o entendimento da 
dimensão simbólica do ser humano. É essa capacidade humana, a de produzir simbologias, que nos 
torna um animal tão diferenciado de todos os outros. Já estamos apontando, portanto, para o fato de 
que	a	nossa	disciplina	lida	com	o	animal	humano.	Nisso	se	encontra	uma	das	definições	clássicas	da	
Antropologia, ou seja, a ciência do ser humano como espécie.
 observação
Espécie é um conceito da Biologia que designa a unidade básica da 
classificação dos seres vivos. A palavra tem origem no latim species, que 
significa aparência.
Falar do ser humano como espécie implica designá-lo como pertencente ao Reino Animal, ou seja, 
implica reconhecer que estamos junto aos demais animais no processo de evolução da vida. Há, ainda 
hoje, muita resistência a nos vermos lado a lado ou junto dos demais animais. Afinal, para muitos que 
norteiam	sua	concepção	de	mundo	por	uma	perspectiva	religiosa,	o	ser	humano	é	especial	e	feito	“à	
imagem e semelhança de Deus”. Longe de querer criar uma polêmica desnecessária nesse momento, 
convém ressaltar que a Antropologia não pretende e nunca pretendeu colocar-se como antirreligiosa. 
Sua preocupação básica sempre foi compreender a natureza do ser humano, que, se de um lado está 
junto a todos os demais seres vivos do planeta, de outro lhe atribui características muitos distintas. 
Afinal, não custa lembrar que somos um dos animais mais bem-sucedidos da face da Terra. Conseguimos 
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Unidade I
nos	adaptar	às	condições	mais	inóspitas	e	extremas,	graças,	em	última	instância,	à	nossa	capacidade	de	
simbolização e de construção cultural, mas veremos isso mais demoradamente mais adiante.
Figura 1 – Habitação indígena
O nome da nossa disciplina, Antropologia, vem do grego logia (estudo) e antropos (do ser humano). 
Assim,	 tudo	 o	 que	 diz	 respeito	 ao	 ser	 humano	 interessa	 à	 Antropologia.	 Contudo,	 há	 várias	 outras	
ciências que o têm como objeto de estudo. A própria Medicina pode ser assim entendida, uma vez que 
lida com a saúde do indivíduo. A Economia, que lida com a produção, a distribuição e o consumo de 
bens e serviços entre os grupos humanos. Até mesmo a História pode sê-lo, afinal, estuda o ser humano 
e sua ação ao longo do tempo.
No entanto, em que a Antropologia seria diferente de todas as demais ciências que lidam com o ser 
humano? A grande diferença está em sua maneira de olhar para esse humano, ou seja, dizemos que o 
que caracteriza a Antropologia não é tanto seu objeto, o antropos, mas o olhar antropológico.
Como acontece em qualquer outra ciência, mas especialmente nas denominadas ciências 
humanas, na Antropologia não há um consenso sobre o método a ser adotado, ou seja, sobre o olhar 
antropológico. A história dessa disciplina foi sendo moldada por caminhos um tanto diferentes e, por 
vezes, contrários. O importante é perceber que todos eles procuram compreender a espécie humana na 
sua peculiaridade, como uma espécie que produz instâncias socioculturais detentoras de significados 
simbólicos compartilhados pelos indivíduos que as formam.
Antes de nos aventurarmos no conhecimento dessa disciplina, convém destacar alguns pontos 
sobre a terminologia empregada nos estudos antropológicos, muitas vezes, de forma diferenciada, 
o	 que	 pode	 provocar	 algumas	 confusões.	 É	 comum	 ouvirmos	 a	 palavra	 Etnologia	 no	 lugar	 de	
Antropologia. Será que ambas têm o mesmo significado? Quais são as diferenças entre Etnologia 
e Etnografia? Há, além disso, uma enorme confusão entre Antropologia Biológica e Antropologia 
Cultural. Na área forense e mesmo na área da Medicina, é comum encontrarmos a utilização da 
palavra	Antropologia	no	sentido	biométrico,	ou	seja,	na	questão	da	medição	das	dimensões	físicas	
humanas e nas diferenças entre os tipos físicos característicos de seres humanos, como cor da pele, 
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História da antropologia
proporções	do	rosto	e	tipos	de	cabelo,	entre	outros.	Tendo	em	vista	essas	considerações,	vamos	tentar	
esclarecer alguns parâmetros.
Ainda no início da Antropologia, o grande antropólogo alemão radicado nos Estados Unidos Franz 
Boas definiu quatro campos de atuação da Antropologia.
 observação
Franz Boas (1858-1942), geógrafo de formação, aproximou-se da 
Antropologia ao estudar o povo inuit (esquimó). Estabeleceu-se nos EUA no 
final do século XIX e formou, na Universidade Columbia, uma importante 
geração de antropólogos.
Para Boas (2004, p. 30–4), a Antropologia poderia ser dividida da seguinte maneira:
•	 Arqueologia: estudo dos povos já desaparecidos a partir de tudo aquilo que eles deixaram 
materialmente. O diálogo com a História é evidente. Procuram-se, nos registros antigos, as pistas 
para a compreensão de quem foram e como viveram esses grupos humanos. Os arqueólogos 
estudam restos materiais para compreender a cultura de povos que não podem mais contar por 
eles mesmos as suas histórias. Nos restos materiais, podemos incluir artefatos de cerâmica, objetos 
entalhados em madeira ou esculpidos em pedra, ferramentas e vários outros artefatos, bem como 
os próprios restos humanos, em forma de ossos fossilizados.
•	 Antropologia Física ou Biológica: estuda a evolução e as origens biológicas humanas. Aqui o 
diálogo se dá fundamentalmente com a Biologia, a Psicologia Evolutiva e as Ciências Cognitivas. 
Um dos ramos da Antropologia Biológica é a Primatologia, ou seja, o estudo dos primatas. Por 
meio desse estudo comparativo com os demais primatas, podem ser percebidas as características 
que nos aproximam e nos distanciam dos nossos parentes mais próximos.
Figura 2 – Macacos
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Unidade I
•	 Linguística: é o estudo das línguas e da linguagem. Trata-se de perceber como a linguagem 
interage com a cultura e se relaciona com a cognição humana. No estudo dos povos autóctones, 
ou indígenas, é tradição da Antropologia classificá-los a partir dos troncos linguísticos e perceber 
as	distinções	 entre	os	povos	a	partir	 das	diferenciações	 linguísticas.	Assim,	 a	 linguística	 é	um	
campo importante para o estudo dos diferentes povos.
•	 Antropologia Cultural (ou Social): este é o campo mais conhecido e, muitas vezes, tido como 
sinônimo da ciência Antropologia em sua totalidade. A Antropologia Cultural (ou Social) estuda 
os	padrões	internos	de	uma	comunidade	ou	gruposocial.	Busca‑se	a	compreensão	desses	povos	
a partir das lógicas simbólicas de cada cultura. Estudam-se os fatores que propiciam a formação 
de uma cultura específica, incluindo elementos como religião, dança, arte, economia, parentesco 
etc. O termo Antropologia Cultural, cunhado por Boas, é mais usado nos EUA, já a expressão 
Antropologia Social é mais comum na Inglaterra e nos demais países de língua anglo-saxônica. 
No	Brasil,	as	duas	denominações	são	igualmente	utilizadas.	Esse	campo	da	Antropologia	é	o	que	
mais nos interessa estudar para os objetivos de nosso curso.
Figura 3 – Indígena brasileiro
Além dessa clássica divisão feita por Boas, outro grande antropólogo, o francês Claude Lévi-Strauss, 
também estabeleceu uma classificação dos momentos da realização antropológica.
 observação
Lévi-Strauss (1908-2009) é considerado um dos maiores antropólogos 
de todos os tempos. Ele iniciou sua carreira acadêmica em nosso país 
estudando os índios do Brasil Central e dedicou-se intensamente ao estudo 
dos mitos e de suas estruturas.
Para Lévi-Strauss (1975, p. 28–41), haveria três níveis da pesquisa antropológica, assim 
distribuídos:
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História da antropologia
•	 Etnografia: é o primeiro estágio da pesquisa, que se inicia com a coleta do material de campo 
a partir da observação e da descrição. Trata-se do momento em que o antropólogo colhe todo 
registro cultural de um determinado povo, seja material, como utensílios, roupas e ferramentas, 
seja imaterial, como cantos, mitos e danças.
•	 	Etnologia: é um prolongamento da fase anterior. Representa um momento de reflexão que o 
antropólogo faz sobre o material coletado na Etnografia. Busca-se estabelecer uma reflexão sobre 
aquele povo observado ou sobre um conjunto de povos vizinhos ou assemelhados.
•	 Antropologia: segundo Lévi-Strauss, refere-se ao momento culminante em que o antropólogo 
está distante dos dados coletados ou de um grupo específico e se preocupa com as grandes 
sínteses teóricas. Trata-se, portanto, da elaboração das teorias sobre o ser humano, a sociedade 
e a cultura. O próprio Lévi-Strauss teria realizado essa dimensão ao estabelecer aquilo que ele 
denominou de estruturas culturais.
Essa classificação de Lévi-Strauss é bastante diferente daquela de Boas. Isso demonstra que, 
na Antropologia, assim como em qualquer ciência, não há um dogma conceitual fechado e 
absoluto.
 Saiba mais
Para se aprofundar um pouco mais, procure os textos:
DA MATTA, R. Relativizando:	uma	introdução	à	Antropologia	Social.	Rio	
de Janeiro: Rocco, 2010.
LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. 19. ed. Rio de Janeiro: 
Jorge zahar, 2005.
MERCIER, P. História da Antropologia. São Paulo: Centauro, 2012.
Os termos das atividades antropológicas da Etnografia e da Etnologia têm como base a palavra 
etnia. Cabe aqui fazer um primeiro esclarecimento sobre o significado dessa categoria tão importante 
para o estudo da Antropologia e que aparecerá em muitos momentos do nosso curso. Etnia deriva do 
termo ethnos, que, em grego, significa povo e também está na raiz de ethos, que significa costumes. 
Observe que é a mesma raiz que origina a palavra ética. Contudo, para além da etimologia, é importante 
compreender o sentido usado, pela Antropologia, da palavra etnia, pois esse termo ainda é mencionado 
muitas vezes de forma errônea, como sinônimo de raça.
Convém ressaltar que a Antropologia não lida com o conceito de raça e que, mesmo na Biologia, 
não há clareza se raça existe de fato ou não. De toda forma, etnia não significa raça. A confusão 
pode ter origem na ideia de que, quando dizemos raça, estamos pensando nas diferenças físicas e 
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comportamentais entre os diferentes grupos. Mas raça, nesse caso, teria uma conotação biológica. Etnia, 
que	também	está	ligada	às	diferenças	de	costumes,	nada	tem	a	ver	com	a	Biologia,	pois	está	vinculada	
à	ideia	de	comportamentos	culturais.
Etnia designa um determinado grupo humano, um grupo étnico, que se diferencia de outros 
grupos humanos. Como, em geral, entre um grupo e outro há diferenças de aparência física, 
pode estar aí a raiz da confusão entre etnia e o que seria raça. A título de exemplo, pense nas 
diferenças físicas entre um guarani, da região Sudeste do Brasil, e um sueco, da região nórdica 
da Europa.
Portanto, quando falamos em etnia, estamos nos referindo a uma comunidade humana, 
definida por uma história comum, que partilha um território e tem afinidades linguísticas, 
políticas, religiosas e culturais, além de vários outros costumes em comum. Em geral, essas 
características	são	reivindicadas	pelo	próprio	grupo	como	marcas	identitárias	que	o	compõem.	
Chamamos isso de identidade étnica.
Outro termo que também é empregado como sinônimo da palavra Antropologia é Etnologia, 
principalmente, nos países de língua francesa. Entre nós, brasileiros, é muito mais corriqueiro 
falar em Antropologia num sentido mais amplo e abrangente, e em Etnologia, no caso do estudo 
mais específico dos grupos indígenas. Aqui, quando se fala que um antropólogo é etnólogo ou 
faz Etnologia, deseja-se dizer que ele é especialista no estudo das sociedades indígenas. Embora 
a Antropologia tenha começado a partir do estudo dessas sociedades, já há muito tempo deixou 
de estudar somente os indígenas e se preocupa, de maneira contundente, com o estudo das 
sociedades modernas.
Como vemos, a questão da terminologia não é, até hoje, definitiva. Entre os usos mais frequentes 
dos autores contemporâneos, o termo Antropologia	 simplesmente	 se	 refere	 à	 Antropologia	
Cultural ou Social, e Antropologia Biológica quer especificar o trato dos aspectos físicos e 
biológicos do ser humano. Ressaltamos que a Antropologia Biológica é bem pouco difundida no 
Brasil. Assim, quando se fala Antropologia, subentende-se a Antropologia Cultural ou Social. A 
ABA (Associação Brasileira de Antropologia), associação que congrega os antropólogos brasileiros, 
não	comporta	uma	divisão	relativa	à	Antropologia	Biológica,	entendendo	a	Antropologia	como	
aquela ciência que estuda a cultura.
 Saiba mais
Procure	 mais	 informações	 sobre	 a	 ABA	 e	 sobre	 o	 que	 fazem	 os	
antropólogos brasileiros no site:
<http://www.portal.abant.org.br/>
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 Lembrete
Não confunda os termos:
•	 etnia (agrupamento) e raça (termo discutível que teria uma 
conotação biológica).
•	 Etnografia	 e	 Antropologia:	 Antropologia (Cultural ou Social) e 
Antropologia Biológica (aspectos biológicos e evolutivos do ser 
humano).
 Saiba mais
Para uma introdução ao campo de estudo da Antropologia, nada melhor 
do que assistir a alguns filmes que lidam com a diversidade humana e 
refletir sobre eles. Isso nos faz pensar na nossa própria natureza. Sobre as 
peculiaridades da vida dos inuítes (esquimós), assista ao filme baseado no 
livro No país das sombras longas, de Hans Ruesch (São Paulo: Record, 1996):
SANGUE sobre a neve. Direção: Nicholas Ray. Itália, França e Reino 
Unido: Gray Films/Joseph Janni/Appia Films/Magic Film/Play Art/Société 
Nouvelle Pathé Cinéma, 1960. 110 minutos.
Já o filme de Werner Herzog retrata o contato dos aborígines 
australianos com a sociedade moderna:
ONDE sonham as formigas verdes. Direção: Werner Herzog. Alemanha: 
Pro-ject Filmproduktion/Werner Herzog Filmproduktion/zweites Deutsches 
Fernsehen, 1984. 100 minutos.
Para entender a luta dos irmãos indigenistas Villas-Boas e a construção 
do Parque Indígena do Xingu, local onde vivemaproximadamente quatorze 
etnias indígenas, é recomendável ver:
XINGU. Direção: Cao Hamburguer. Brasil: Globo Filmes, O2 filmes, 2012. 
102 minutos.
Por fim, recomendamos também o filme de 2006 que mostra a complexa 
trama da multiculturalidade contemporânea e as dificuldades daí advindas.
BABEL.	Direção:	Alejandro	González	Iñárritu.	México;	EUA:	Paramount	
Pictures/Paramount Vantage/Anonymous Content/zeta Film/Central Films/
Media Rights Capital, 2006. 143 minutos.
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1.1 A pré‑história da Antropologia
É preciso refletir sobre como e quando esse olhar sobre o humano teve início.
Nosso objeto de estudo é a Antropologia, a ciência que estuda o ser humano e sua relação consigo 
e com o outro, com a natureza e com o que dela se tira, bem como a integração dele com tudo o que o 
cerca e que ele produz ou extrai, ou mesmo de que se apropria.
Não é novidade o fato de que o homem pensa em si. Também não é recente a ideia de que 
o	 ser	 humano,	 ao	 olhar	 para	 um	 semelhante,	 de	 outro	 grupo	 social,	 faz	 comparações	 sobre	
as igualdades e diferenças existentes entre ambos. Registros antigos mostram que observar o 
outro e refletir sobre ele ocorre há muito tempo e que, embora não tenha havido constante 
preocupação em formalizar, organizar e guardar história dessa relação, é possível encontrar no 
passado	elementos	que	dão	base	à	afirmação	de	que	o	homem	sempre	–	ou	desde	muito	tempo	
– se estudou.
É	válido	lembrar	que	uma	ciência	somente	se	prova	como	tal	a	partir	de	princípios	que	recorrem	à	
experiência ou aos registros encontrados por aquele que estuda determinado tema. Indícios analisados 
pelo	estudioso	servem	para	comprovar	suas	teses	e	afirmações.	No	nosso	caso,	queremos	exemplificar	a	
questão da preocupação do ser humano com o seu “igual-diferente”.
Remontam	a	séculos	atrás	os	primeiros	relatos	dessas	observações.	As	questões	sociais	e	o	resultado	
de	suas	interações	são	tratados	como	“capricho	dos	deuses”,	ainda	que	de	forma	poética,	já	na	Odisseia 
de Homero, que cuja data é estimada por volta do século IX a.C.
Heródoto (484-424 a.C.), o grande historiador grego, já se ocupava do tema quando, ao observar 
o sistema social dos lícios, notou o quanto eles se diferenciavam de modo singular, por meio de seus 
costumes,	 de	 “todas	 as	 outras	 nações	 do	mundo”	 (HERÓDOTO	 apud LARAIA, 2005, p. 10–1). Assim 
descreveu Heródoto: “pergunte a um lício quem ele é, e ele responde dando o seu próprio nome e o de 
sua mãe, e assim por diante, na linha feminina” (ibidem, p. 10–1). Ao se referir ao sistema social adotado 
por outra cultura como diferente de todas as demais, “Heródoto estava tomando como referência a sua 
própria sociedade pratilineal” (LARAIA, 2005, p. 11). Ele, que é considerado o pai da História, fez roteiros 
sobre cidades gregas por onde viajou e descreveu festivais atléticos e religiosos desses povos. Além disso, 
revelou, em sua obra Histórias, as guerras médicas entre gregos e persas, fruto de sua observação sobre 
o comportamento do humano.
Assim	 como	Heródoto,	 os	 filósofos	 pré‑socráticos,	 à	 sua	maneira,	 questionaram o impacto 
das	 relações	 sociais	 sobre	 o	 comportamento	humano.	 Para	 eles,	 as	 construções	 racionais	 eram	
resultantes da apreensão da realidade no dia a dia, ou seja, da experiência humana. Mas foi, sem 
dúvida, na Antiguidade Clássica que a medida humana tornou se centro da discussão a respeito 
do mundo.
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Antiguidade Clássica – período da história da Europa que se estende 
do século VIII a.C. (com o surgimento da poesia grega de Homero)	à	queda	
do Império Romano do Ocidente, no século V d.C., (ano 476). No eixo da 
discussão estavam Roma e Grécia.
Gregos, chineses e romanos fizeram muitos registros e relatos sobre culturas diferentes das suas 
desde a Antiguidade, portanto podemos dizer que, na Grécia, a “Antropologia” no século V a.C. se 
revela na obra de Heródoto, ao lado da de Aristóteles (384–322 a.C.), que trata, em seus escritos, sobre 
as	 cidades	gregas	e	de	Xenofonte	 (430‑355	a.C.),	 que	escreve	 suas	observações	a	 respeito	da	 Índia. 
Simultaneamente, Lucrécio (99-55 a.C.) dá sua contribuição, entre os romanos, ao estudar as origens 
da religião, das artes e do discurso.
O	 mesmo	 ocorreu	 com	 Tácito	 (55‑120	 a.C.),	 cidadão	 romano,	 em	 suas	 observações	 de	 tribos	
germânicas, baseando-se nos relatos de soldados e viajantes. Ele comparou e contrastou o vigor 
germânico com o dos romanos da sua época.
Não foi de outra forma com Marco Polo, o famoso viajante italiano que, ao visitar a Ásia, no século 
XIII, descreveu os costumes dos chineses tártaros, diferenciando-os dos seus próprios costumes. Para ele, 
houve	estranheza	quanto	ao	padrão	circular	das	casas,	à	relação	entre	maridos	e	esposas	e	também	à	
não objeção ao consumo de carnes de cavalos e de cachorros na alimentação.
Dando um salto no tempo e no espaço, apenas para reconhecer a permanente preocupação do ser 
humano com o seu semelhante, ainda que de modo diferente, os relatos de José de Anchieta (1534-1597) 
servem também como um exemplo do que chamamos, até o momento, de Pré-Antropologia, que, 
como se pode perceber, também foi encontrada no território sul-americano. Anchieta, ao contrário de 
Heródoto, ao deparar com os índios tupinambás, que tinham costumes muito diferentes dos de sua 
cultura, descreveu sua surpresa ou espanto em seus relatos a seus superiores.
Figura 4 – Primeira missa no Brasil
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Nesse ponto, precisamos observar que a preocupação do ser humano com o outro decorre do fato de 
que esse outro é, ao mesmo tempo, um semelhante e um diferente. Não se trata de um outro qualquer, 
como um animal de espécie simplesmente distinta da sua. O objeto da curiosidade permanente do ser 
humano se dá em relação ao outro que é igual, em termos biológicos, mas ao mesmo tempo extremamente 
diferente de si em termos de comportamento. Trata-se do enigma da igualdade na diversidade.
Figura 5 – Diversidade
1.1.1 Por que há essa preocupação do ser humano com o outro?
Para que se torne mais claro o objeto a que nos referimos, sugerimos pensar na questão da expansão 
colonial, que mais adiante será também objeto de nosso estudo. A imagem que temos em mente é a do 
colonizador que, ao chegar a terras desconhecidas, não encontra apenas um meio ambiente distinto, 
plantas e animais de espécies nunca antes vistas, mas depara com outro ser humano, o “igual-diferente”. 
Não se trata, portanto, de encontrar um novo exemplar felino ou uma ave com características diferentes 
das suas conhecidas. Trata-se, de fato, de reconhecer ou não como potencialmente igual aquele que 
guarda semelhanças tão evidentes, mas que não fala a mesma língua, não se veste do mesmo modo, não 
come	o	mesmo	tipo	de	alimento,	não	vive	em	condições	semelhantes,	não	tem	o	mesmo	deus,	enfim,	
que é evidentemente igual, mas completamente diferente.
Para que nos fixemos no assunto que ora propomos tratar, a Pré-História antropológica, dita como 
a história que antecede a Antropologia como ciência, dá-se desde que o ser humano observa o outro 
e toma a si, sua cultura, seu meio social, sua própria experiência como referência. É esse o princípio 
que sustenta a Antropologia reconhecida muito mais recentemente como ciência, como veremos 
oportunamente.
Para François Laplantine:
A	 gênese	 da	 reflexão	 antropológica	 é	 contemporânea	 à	 descoberta	 do	
Novo Mundo. O Renascimento explora espaços até entãodesconhecidos 
e começa a elaborar discursos sobre os habitantes que povoam aqueles 
espaços. A grande questão que é então colocada e que nasce desse primeiro 
confronto visual com a alteridade é a seguinte: aqueles que acabaram de ser 
descobertos	pertencem	à	humanidade?	(LAPLANTINE,	1988,	p.	37).
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Alteridade:	 relação	 com	 o	 diferente;	 percepção	 de	 que	 nenhum	 ser	
humano é isolado e, apesar de indivíduo único, faz-se em constante relação 
com o outro.
Ao observar o outro, o homem olha para si e se compara, garantindo a si e ao seu próprio grupo a 
legitimidade da razão. A curiosidade do humano para com o outro traz consigo uma lógica peculiar e 
comparativa com a sua própria realidade, ou seja, o olhar para aquilo que já lhe é conhecido concedendo 
a si o benefício da racionalidade, enquanto o que é observado é visto como irracional.
Todo sistema cultural tem a sua própria lógica, e não passa de um ato 
primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para 
outro. Infelizmente a tendência mais comum é a de considerar lógico apenas 
o próprio sistema e atribuir aos demais um alto grau de irracionalismo 
(LARAIA, 2005, p. 90).
Esperamos que não seja novidade para o estudante que os momentos de expansão territorial que se 
dão	a	partir	das	grandes	descobertas	europeias	trazem	à	tona	a	questão	do	igual‑	diferente.	Isso	ocorre	
porque há o encontro do europeu, seus usos e costumes, com o outro, reconhecidamente, o estranho 
indígena americano, que também pode ser o aborígine da Oceania ou o negro africano.
 Saiba mais
O fato de termos chegado tão rapidamente aos anos próximos de 
1450-1500 não deve ser motivo para que você, estudante, deixe sua curiosidade 
de lado a respeito dessa discussão no período de quase mil anos. Para que possa 
aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, destacamos a contribuição de 
Santo Agostinho (séculos IV e V), um dos pilares teológicos do catolicismo, sobre 
as	 civilizações	 greco‑romanas	 “pagãs,	 as	 quais	 ele	 considerava	 moralmente	
inferiores	às	sociedades	cristãs.	Além	dele,	é	de	relevante	importância	o	papel	
dos filósofos para o saber antropológico. Como já dito, mesmo não existindo 
como disciplina específica, a Antropologia foi constantemente discutida no 
decorrer dos séculos pela Filosofia. Durante a Idade Média, muitos escritos 
também contribuíram para a formação de um pensamento racional, aplicado ao 
estudo da experiência humana.
Sobre esse pensador, um dos pais da teologia cristã, ver:
SANTO AGOSTINHO. A doutrina cristã: manual de exegese e formação 
cristã. São Paulo: Paulus, 2002.
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A Idade Média inicia-se com a queda do Império Romano do 
Ocidente (476 d.C.) e termina na transição para a Idade Moderna (fim 
do século XV). É o período intermediário da divisão clássica da História 
ocidental, que é contada em 3 períodos: Antiguidade, Idade Média 
(Alta e Baixa) e Idade Moderna.
A partir do final do século XV e no decorrer do século XVI, o contato entre povos iguais–diferentes, 
a que nos referimos antes, coloca em evidência a necessidade de conhecer o outro. É essa mesma 
necessidade que vai alimentar, três séculos mais tarde, a criação da Antropologia como uma ciência.
Atenhamo‑nos,	então,	à	construção	dessa	concepção	de	ser	humano	que	começava	a	ficar	cada	vez	
mais	premente	à	medida	que	avançava	a	civilização	europeia	sobre	os	povos	colonizados.	O	encontro	
com	esse	outro,	descoberto	pelas	grandes	navegações,	exigia	uma	explicação	coerente	sobre	os	nativos	
serem ou não seres humanos tais quais os europeus.
1.2 A invenção do conceito de ser humano – século XVI a século XVIII
O antropólogo François Laplantine (1988) defende a ideia de que a gênese da reflexão 
antropológica	é	contemporânea	à	descoberta	do	Novo	Mundo.	Embora	isso	possa	ser	contraditório	
com	 relação	à	nossa	afirmação	de	que	essa	 reflexão	 “antropológica”	 é	 anterior	 a	 esse	período,	
podemos compreender a posição desse autor pelo fato de que é a partir do século XVI e, portanto, 
contemporaneamente	às	grandes	navegações,	que	a	ciência	moderna	começa	a	despontar	como	
uma maneira de compreensão da realidade. Mesmo antes da formação da Antropologia como 
ciência, já havia a necessidade de uma reflexão mais sistemática sobre os nativos dos territórios 
colonizados.
Figura 6 – Indígenas
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Uma questão relevante para os desbravadores era classificar os habitantes dos novos mundos como 
humanos ou não. Até esse primeiro momento, a noção de ser humano era religiosa, ou seja, a questão 
tratava de perceber se os indígenas possuíam ou não uma alma. O ser humano, tido como criatura divina, 
possuía um corpo e uma alma. “Mas os índios, aparentemente, não tinham nem Deus e, provavelmente, 
nem alma!” Uma vez sendo seres sem alma, seriam eles passíveis de ser convertidos ao cristianismo?
As	 posições	 não	 eram	 unânimes.	 Havia	 todo	 um	 conjunto	 de	 pensadores,	 juristas,	missionários,	
viajantes e filósofos que deram encaminhamentos diferentes a esses termos e diferentes respostas para 
o encontro com a diferença. Laplantine (1988) chama a atenção para o debate entre o filósofo e jurista 
Ginés de Sepúlveda e o missionário dominicano Bartolomé de Las Casas, a partir dos anos 1550.
Sepúlveda	queria	imprimir	um	tratado	que	mostrasse	as	razões	pelas	quais	os	espanhóis	deveriam	
dominar os índios. O frei Bartolomé de Las Casas, rebatendo as ideias do filósofo, promoveu uma 
discussão	 em	público	 que	 durou	 vários	 dias,	 na	 qual	 afirmava	 que	 “àqueles	 que	 pretendem	que	 os	
índios são bárbaros, responderemos que essas pessoas têm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma 
ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa” (LAS CASAS apud LAPLANTINE, 1988, 
p.	38).	Para	Sepúlveda,	“tais	nações	são	bárbaras	e	desumanas,	estranhas	à	vida	civil	e	aos	costumes	
pacíficos” (SEPÚLVEDA apud LAPLANTINE, 1988, p. 39). Las Casas dizia que os índios não possuíam uma 
diferença de natureza em relação aos europeus e que todos eles poderiam tornar-se cristãos. Sepúlveda 
tratava-os como infiéis que praticavam o canibalismo e ignoravam a religião cristã. Deveriam, a seu ver, 
ser dominados pelo homem branco.
Começa a surgir, a partir de então, a visão de que esses indígenas eram primitivos e selvagens, 
não	 sendo,	 portanto,	 seres	 humanos	 em	 sua	 integralidade.	 Surgem,	 inclusive,	 explicações	 de	 ordem	
geográfica, atribuindo ao clima tropical a inferioridade e a incapacidade do indígena.
 observação
Até hoje ouvimos ecos dessa visão altamente discriminatória, o que 
torna evidente como é difícil eliminar esses preconceitos.
O nativo é visto, assim, como o inverso do civilizado. É tido como mau por natureza e, por consequência, 
a sua conquista ou o seu massacre estavam justificados.
Embora	houvesse	algumas	posições	minoritárias	que	afirmassem	ser	esse	nativo	“natural”	um	bom	
elemento, visto que ainda não tocado pela maldade, essa visão só seria sistematizada muitos anos 
depois, com Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), no século XVIII. Antes disso, ainda existia a visão 
racionalista do século XVII, na qual o pensar era o fundamento da existência. Nessa visão, o nativo 
também	era	considerado	alheio	à	humanidade,	pois	não	raciocinava	como	o	europeu.
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Figura 7 – Pinturade Oscar Pereira da Silva, Desembarque de Cabral em Porto Seguro, Museu Paulista, São Paulo
No século XVIII, surgiu um saber que não era mais somente especulativo, mas sim positivo, sobre o 
ser humano. O pensamento filosófico de então propunha um projeto de compreensão do ser humano 
que envolvia o seu reconhecimento como objeto e sujeito do conhecimento, além da possibilidade da 
observação e do olhar empírico sobre a sociedade humana (LAPLANTINE, 1988, p. 55).
O nativo passou, naquele momento, a ser pensado em termos cada vez mais racionais e naturalizantes. 
O selvagem era tido como aquele que ainda estaria na infância da humanidade, vivendo ainda num 
estado de natureza. Rousseau, com o seu conceito de “bom selvagem”, procurou elementos positivos e 
pregou, em seu livro Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, uma 
distinção entre o estado de natureza e o estado civil. No estado de natureza, o ser humano seria somente 
um	ser	de	sensações	e	não	pensante.	Seria,	portanto,	desprovido	da	imaginação	necessária	para	almejar	
outras coisas. Desse modo, para o filósofo, o estado de natureza não caracterizaria um período da 
história humana marcado por inconveniências a serem superadas pela constituição da sociedade civil.
Os homens nesse estado [de natureza], não tendo entre si nenhuma 
espécie de relação moral, nem deveres conhecidos, não poderiam ser bons 
nem maus e não tinham vícios nem virtudes [...]. Não vamos, sobretudo, 
concluir com Hobbes que, por não ter a menor ideia da bondade, o homem 
seja	naturalmente	mau;	[...]	de	sorte	que	se	poderia	dizer	que	os	selvagens	
não são maus justamente por não saberem o que é serem bons, pois não 
é nem o desenvolvimento das luzes, nem o freio da lei, mas sim a calma 
das	paixões	e	a	 ignorância	dos	vícios	que	os	 impedem	de	proceder	mal	
(ROUSSEAU, 1993, p. 169).
Em	sua	famosa	Teoria	do	Bom	Selvagem,	Rousseau	diz	que	o	homem	é,	por	natureza,	bom;	que	nasce	
livre, mas sua maldade advém da sociedade, que, em sua presunçosa organização, não só permite, mas 
também	impõe	a	servidão,	a	escravidão,	a	tirania	e	inúmeras	outras	leis,	em	detrimento	dos	mais	fracos,	
firmando, assim, a desigualdade entre os homens ou seres que vivem em sociedade. De certa forma, essa 
posição acabou marcando uma visão idílica do índio que muitos ainda têm até os dias atuais. Mesmo na 
Antropologia, essa visão romanceada do bom selvagem teve fortes ecos.
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Para Lévi-Strauss, Rousseau foi um dos precursores da ciência do antropos, pois tentou estabelecer 
as bases de uma Etnologia e colocá-la ao lado do pensamento filosófico sobre a sociedade humana.
[Rousseau] havia concebido, querido e anunciado a Etnologia um século 
inteiro antes que ela fizesse a sua aparição, colocando-a, de pronto, 
entre as ciências naturais e humanas já constituídas. [...] Rousseau não se 
limitou a prever a Etnologia: ele a fundou. Inicialmente de modo prático, 
escrevendo este Discours sur l’origine et les fondements de l’inégalité 
parmi les hommes. Nele se pode ver o primeiro tratado de Etnologia Geral, 
no	qual	 se	coloca	o	problema	das	 relações	entre	a	natureza	e	a	cultura	
(LÉVI-STRAUSS, 1989, p. 41-2).
O século XVIII representou um enorme avanço no pensamento filosófico racional, abrindo caminho 
para o estabelecimento definitivo do pensamento científico, que floresceria no século seguinte. Em 
relação	à	Antropologia,	como	visto,	significou	a	possibilidade	de	se	pensar	a	natureza	humana	em	bases	
racionais. O questionamento feito por Rousseau sobre a separação entre natureza e cultura, então 
denominada simplesmente de civilização, foi marcante para se estabelecer uma nova conceituação 
sobre o que é um ser humano.
Desse modo, o conceito de humano forjado no Século das Luzes emancipou o ser de uma criação 
religiosa e o colocou num outro patamar. Pensado então em termos naturais, esse humano passou 
a ser visto a partir de sua própria constituição. Essa autonomia representa, em última instância, a 
consolidação de um conceito de ser humano, passo fundamental para a criação da ciência do antropos 
no século seguinte.
1.3 os viajantes do século XIX e o sistema colonial
O século XIX significou o estabelecimento de uma nova ordem social nos países europeus. A 
revolução do pensamento iniciada com o Renascimento e plenamente realizada com o racionalismo 
iluminista	do	século	XVIII	 juntou‑se	às	revoluções	políticas	burguesas,	como	a	Revolução	Francesa	e	
a	 Independência	 norte‑americana.	 Contígua	 a	 essas	 transformações,	 ocorreu	 a	 radical	 modificação	
no campo da economia e da produção de bens. Tudo isso resultou num século XIX absolutamente 
marcado pela ideia de progresso, de civilização, de avanço e de novidades. A Revolução Industrial trouxe 
mudanças	 profundas	 na	 vida	 das	 pessoas	 e	 exigiu	 que	 esses	 países	 expandissem	 suas	 atuações	 por	
outros continentes, fosse para buscar matéria-prima, fosse para o estabelecimento de novos comércios.
Como resultado, houve a consolidação do sistema colonial, principalmente, sobre o continente 
africano. As potências europeias, por meio de acordos entre si, definiram a partilha da África, não 
respeitando nenhuma possibilidade de soberania dos povos africanos.
As	metrópoles	 forneciam	produtos	manufaturados	às	colônias	e	estabeleciam	a	exclusividade	da	
produção colonial e do comércio. Uma colônia não tinha possibilidade de comercializar com qualquer 
outro país por outro meio que não sua metrópole. Isso garantia o acúmulo de capital necessário para os 
países europeus empreenderem seu desenvolvimento e financiarem a nova ordem social.
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Para tanto, era fundamental que a metrópole estabelecesse um sistema na colônia por meios legais 
ou, em última instância, até pelo uso de força militar, para que a colônia não saísse de seu controle. 
No continente americano, as colônias já funcionavam há mais tempo e eram centradas na produção 
especializada de gêneros do mercado, como o açúcar e a borracha, no caso do Brasil. As colônias na 
África e na Ásia seguiam o modelo de feitorias e operavam na área de trocas de mercadorias.
 observação
Feitoria era o nome dos entrepostos em territórios coloniais. Podia ser 
desde um simples armazém de entrepostos até um complexo conjunto de 
equipamentos e estruturas militares, edifícios administrativos e aparatos 
jurídicos e, além disso, funcionava como sede do governo.
As colônias complementavam a economia europeia e concentravam sua produção em alguns 
produtos	altamente	lucrativos,	como	algodão,	açúcar	e	minérios.	Em	síntese,	cabia	à	colônia	apenas	
produzir e, ainda assim, sob o mando da metrópole, aquilo que interessava aos países europeus. Para 
a produção, era utilizada a mão de obra local, mas não a remunerada, como já era estabelecido na 
Europa;	em	vez	disso,	nas	colônias,	a	mão	de	obra	era	escrava.	Para	tanto,	era	importante	que	fosse	
estabelecido um sistema de domínio sobre os escravos e também de captação de novos trabalhadores. 
No caso das colônias em solo americano, essa mão de obra era importada da África, via tráfico 
negreiro.	Com	isso,	as	metrópoles	tinham	um	rico	comércio	à	sua	disposição.	No	continente	africano,	
o sistema funcionava de forma um pouco diferente. Era preciso que a feitoria garantisse a captura de 
novos escravos que seriam utilizados não apenas na produção local, mas também no comércio com 
as colônias americanas. Mas o trabalho de captura e de dominação dos povos negros não era feito 
diretamente pelos europeus brancos. Formou-se nas feitorias um complexo sistema de dominação. 
O administrador branco se aliavaa algum grupo étnico ou a governantes locais, e estes faziam a 
captura de novos escravos entre etnias rivais.
 Lembrete
Etnia refere-se a uma comunidade humana definida por uma história 
comum, que partilha um território e tem afinidades linguísticas, políticas, 
religiosas e culturais, além de vários outros costumes em comum.
Esse sistema colonial não levava em consideração as particularidades étnicas, sociais e políticas 
dos diferentes povos conquistados. Assim, foram reunidas, num mesmo território, etnias rivais, 
ao	mesmo	tempo	em	que	nações	inteiras	foram	desagregadas	ao	se	tornarem	parte	de	diferentes	
países,	subordinadas	a	metrópoles	distintas.	A	expansão	do	sistema	colonial	levou	à	partilha	do	
conjunto de todo o território africano pelas metrópoles europeias, principalmente, Inglaterra, 
França, Portugal, Espanha, Bélgica e Holanda. Essa partilha foi concretizada na Conferência de 
Berlim, em 1884-1885. As fronteiras entre os novos países africanos não respeitavam nem a 
verdadeira ocupação de povos tradicionais ali estabelecidos, nem os contornos geográficos. 
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História da antropologia
Podemos verificar isso num mapa da África, ao olhar as linhas retilíneas que dividem os países 
africanos.
O êxito de toda essa operação estava fortemente calcado na superioridade técnica e no uso de 
armamentos bélicos por parte dos europeus. Todo o sistema colonial só começou a ser desmantelado 
a partir das guerras de independência dos países africanos, após a Segunda Guerra Mundial. Até hoje, 
contudo, o continente africano sofre profundamente as consequências desse terrível sistema.
À parte de todo esse sistema político e econômico, a nova situação das colônias africanas, bem 
como daquelas de outras localidades, como Ásia, Oceania e América, trazia ao europeu uma enorme 
curiosidade sobre a vida exótica desses locais tão diferentes. A presença de povos diferentes, com 
hábitos	extremamente	diferentes,	aliada	à	ideia	da	existência	do	“bom	selvagem”	(aquele	ainda	não	
corrompido pela civilização), despertou o interesse de muitos aventureiros. Formou-se um conjunto de 
homens aventureiros que pretendiam “desbravar” esses novos territórios. Eles não eram diretamente 
ligados ao sistema colonial, mas dele se aproveitaram para viajar por essas terras tão inóspitas. Cria-se 
a literatura etnográfica, que procurava descrever os hábitos dos nativos aos europeus cada vez mais 
curiosos	quanto	à	vida	“selvagem”.	Lembramos	que	é	dessa	época	a	criação	dos	 jardins	zoológicos	
modernos, que procuravam reproduzir para o cidadão europeu um pouco da vida selvagem das terras 
coloniais.
Mas é a literatura etnográfica que verdadeiramente nos coloca diante da formação da ciência 
antropológica. Nesta, os escritores viajantes descreviam aquilo que presenciavam, contavam suas 
aventuras e perigos, mas, principalmente, mencionavam as características dos povos coloniais, 
descrevendo	suas	línguas,	crenças,	magias,	rituais	e	sistemas	de	parentesco.	As	descrições	eram	feitas	
geralmente por missionários, viajantes ou exploradores.
Viajávamos pela Terra pré-histórica, uma Terra que tinha o aspecto de um 
planeta desconhecido. Era possível nos imaginarmos como os primeiros 
homens tomando posse de uma herança maldita, uma herança que 
precisavam domar ao preço de uma angústia profunda e de um labor 
infindável (CONRAD, 2008, p. 58).
Na passagem anterior, retirada desse livro clássico, Joseph Conrad narra a experiência de um viajante 
fictício a bordo de uma embarcação em direção ao Congo, verdadeiro coração das trevas, no seu entender. 
Esse viajante fictício era inspirado na própria experiência do autor, polonês, que viajou pela África no 
final do século XIX.
Talvez o mais famoso desses viajantes tenha sido Richard Francis Burton, que foi nomeado sir 
pela rainha Vitória da Inglaterra. Ele percorreu enormes distâncias entre vários continentes, não 
apenas na África, mas também na Ásia e no Brasil, onde foi cônsul inglês, em 1865. Conrad falava 
29 idiomas, tinha a capacidade de interagir com a população local sem ser percebido como um 
estrangeiro e estudou ainda os usos e costumes de povos asiáticos e africanos, sendo pioneiro em 
estudos etnológicos.
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 Saiba mais
Para saber mais sobre esse período e sobre a vida desses viajantes, 
convém ler o livro de Joseph Conrad e a biografia de Richard F. Burton, bem 
como assistir a alguns filmes.
RICE, E. Sir Richard Francis Burton: o agente secreto que fez a 
peregrinação a Meca, descobriu o Kama Sutra e trouxe As Mil e Uma Noites 
para o Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
CONRAD, J. Coração das trevas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Filmes indicados:
ÁFRICA dos meus sonhos. Direção: Hugh Hudson. EUA: Columbia 
Pictures Cooperation/Jaffilms, 2000. 114 minutos.
O	ELO	perdido.	Direção:	Régis	Wargnier.	 África	do	Sul;	 França;	Reino	
Unido: Vertigo Productions/Skyline Films/France 2 Cinéma/France 3 
Cinéma/Boréales/TPS Star/The Imaginarium/zenHQ Films/zenHQ, 2005. 
122 minutos.
ENTRE dois amores (Out of Africa). Direção: Sydney Pollack. EUA: Mirage 
Enterprises/Universal Pictures, 1985. 161 minutos.
Esses relatos de viajantes serviram de base para a constituição de estratégias políticas dos grupos 
econômicos e dos governos das metrópoles. Conhecer melhor os povos colonizados era fator fundamental 
para	melhor	dominá‑los	–	e	isso	acabou	dando	base	ao	início	da	Antropologia,	como	veremos	mais	à	
frente em nosso curso.
Toda essa nova conjuntura europeia do século XIX, com a consolidação da indústria, o avanço da 
ciência e o progresso tecnológico, fez que se desenvolvesse, no século XIX, uma forte visão evolucionista. 
A noção de progresso estava muito presente. As ciências (inicialmente, as ciências naturais) caminhavam 
para a ampla consolidação e formulação de seus métodos próprios. A tecnologia, impulsionada pelo 
enorme avanço industrial, trazia a sensação de que todos os problemas da sociedade seriam resolvidos 
em pouco tempo. A máquina seria capaz de substituir o ser humano nos trabalhos mais pesados e traria 
o excesso de produção, o que possibilitaria o fim da escassez de produtos ou alimentos. Esse espírito 
otimista dominava o imaginário europeu.
Foi nesse cenário que se desenvolveu o pensamento de Auguste Comte (1996), que estabeleceu o que 
seria a Ciência Positiva e defendeu que o mundo poderia ser compreendido e ordenado. O positivismo 
comteano pregava que o conhecimento científico seria a única forma de conhecimento correta. 
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História da antropologia
Assim, essa filosofia desprezava todo conhecimento especulativo, que não pudesse ser comprovado 
cientificamente. Comte falava na Lei dos Três Estados, que definia a evolução do espírito humano 
pela passagem necessária por três estágios distintos. Toda forma de concepção da realidade, portanto 
todo conhecimento, passaria, num primeiro momento, pelo estado teológico – quando os fenômenos 
seriam explicados a partir de seres sobrenaturais, como deuses e espíritos. Esse estado religioso seria 
substituído,	à	medida	que	o	pensamento	evoluísse,	pelo	estado	metafísico,	no	qual	as	explicações	 já	
seriam racionais e especulativas, mas não de ordem científica. Por fim, o pensamento chegaria ao seu 
estado	final,	o	positivo,	quando	a	busca	de	explicações	dos	fenômenos	deixaria	de	ser	especulativa	e	
passaria a ter cunho científico. Buscam-se, nesse último estágio, as leis naturais que possam explicar 
como os fenômenos ocorrem.
Além do pensamentode Comte, convém lembrar outras teorias desse período que carregavam 
fortemente a noção de progresso. O materialismo histórico e dialético, de Karl Marx e Friedrich 
Engels, também falava num determinado progresso das forças produtivas, levando a perceber o 
encadeamento histórico das sociedades humanas a partir do desenvolvimento das forças produtivas 
e	 das	 relações	 de	 produção.	Na	Biologia, era cada vez mais crescente a noção de evolução da 
vida, como veremos a seguir. Em outras áreas, como no pensamento espírita de Alan Kardec, 
aparece a noção de evolução dos espíritos. Em outras palavras, esse foi um período fortemente 
impregnado pela noção de progresso. Não é de outra forma que podemos compreender o surgimento 
do cientificismo, na segunda metade do século XIX, que pode ser entendido até como uma espécie 
de	religião,	na	qual	as	crenças	religiosas	seriam	substituídas	pela	ciência,	e	isso	levaria	à	solução	de	
todos os problemas humanos, como uma espécie de salvação.
 observação
O cientificismo foi uma corrente de pensamento surgida na segunda 
metade	do	século	XIX	que	procurava	contrapor‑se	às	ideias	religiosas.	No	
entanto, ele mesmo acabou se tornando uma espécie de religião, pois crê 
que	a	ciência	proveria	resposta	para	todas	as	questões	humanas.
Não é difícil compreender como pensavam os europeus da época. Senhores do mundo e assentados 
naquilo que acreditavam ser o auge da civilização, olhavam para os outros povos convictos de sua 
total superioridade. A dominação sobre os povos nativos era não apenas uma consequência dessa 
superioridade, mas um bem que os europeus faziam aos povos ditos primitivos e selvagens. Estava, assim, 
justificada a dominação do branco europeu cristão sobre todo outro povo que não compartilhasse seus 
valores morais, seu progresso científico e suas crenças religiosas. É necessário frisar que, em razão das 
diferenças	de	aparência	e	de	cor	da	pele,	a	superioridade	do	europeu	era	delegada	à	falsa	ideia	de	que	
a	raça	branca	seria	superior	às	demais.
Assim, esse outro, habitante dos territórios conquistados pelos europeus, estava classificado numa 
escala de um ideal de progresso, na qual o europeu estaria no topo da evolução e o indígena seria 
colocado no estágio mais primitivo e inicial.
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Veremos, adiante, como a ideia de evolução como progresso é totalmente falsa. Contudo, naquele 
momento do século XIX, era essa a visão preponderante e que veio a marcar fortemente o início da 
nossa disciplina.
2 o SurGImento do Ser HumAno
O ponto central da nossa discussão é compreender o ser humano visto como espécie. Olhar para nós 
mesmos como uma espécie do Reino Animal implica nos reconhecer como animais que não se diferenciam, 
por princípio, de qualquer outro ser vivo do planeta. As diferenças, como já pudemos notar, estão relacionadas 
às	características	específicas	do	ser	humano,	como	a	simbolização	e	a	produção	de	cultura.
Para compreender melhor o ser humano, é fundamental olhar para as nossas origens. Vamos tratar 
do que a ciência fala sobre o surgimento da nossa espécie, pois olhar para as origens permite perceber 
não apenas aquilo que nos aproxima dos demais seres vivos, mas também o que nos diferencia deles e, 
portanto, nos caracteriza como humanos.
Figura 8 – Crânio humano
Sabemos que há outras maneiras de entender as origens humanas, principalmente, as de cunho 
religioso. Sendo o Brasil um país de formação cristã, embora essa não seja a religião da totalidade 
dos brasileiros, as ideias cristãs sobre a origem do ser humano estão profundamente arraigadas em 
nossa população. Para muitas pessoas, a explicação científica da evolução invalida a fé das pessoas na 
crença da concepção do ser humano por um Deus criador. O importante, entretanto, é perceber que 
as	explicações	científica	e	religiosa	são	de	naturezas	diferentes	e	não	devem	ser	encaradas	de	maneira	
excludente. Para muitos teólogos cristãos, a Teoria da Evolução não elimina a fé na criação divina. Isso 
significa dizer que, para muitos cristãos, o conhecimento científico não elimina a fé religiosa.
Além	 dessa	 visão	 bíblica,	 convém	 lembrar	 que	 existem	 outras	 religiões,	 inclusive,	 no	 Brasil,	 que	
compreendem a formação e o surgimento do ser humano de maneira diferente. Muitos se perguntam 
qual está mais correta, mas essa não é uma pergunta cabível para os pensamentos religiosos. Dependendo 
de a qual crença uma pessoa se apega, a visão mais correta será sempre aquela que estiver de acordo 
com sua religião.
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Com relação ao conhecimento científico, contudo, ocorre de outra forma. A ciência não trabalha com 
a ideia de uma verdade única, absoluta. As verdades científicas são sempre históricas e contextualizadas. 
Nenhum cientista terá sua teoria aceita se não houver a concordância da comunidade científica, ou seja, 
do grupo de cientistas, independentemente das nacionalidades ou crenças de cada um deles. É isso que 
faz os conhecimentos científicos caminharem e avançarem tão rapidamente.
O campo das origens humanas é propício para perceber esses embates. Não somente a discussão 
sobre as “verdades” religiosa e científica se dá de maneira muito calorosa, mas também no próprio campo 
da	ciência,	há	múltiplas	interpretações	sobre	o	que	teria	ocorrido	no	nosso	passado	para	possibilitar	a	
formação dessa espécie única que é a humana, o que não invalida as descobertas científicas, pelo 
contrário.
Não	é	pela	coexistência	de	diferentes	visões	que	podemos	afirmar	que	a	ciência	esteja	errada.	O	
importante é que uma teoria ou outra estejam sempre baseadas em evidências e não sejam resultantes 
de mera elucubração de um indivíduo. Para a comunidade científica aceitar uma teoria, é preciso que 
seu(s)	autor(es)	demonstre(m)	claramente	quais	são	as	bases	que	fundamentam	suas	afirmações.
É possível termos concomitantemente duas ou mais teorias que procuram dar conta de um mesmo 
fenômeno?
Sim. A comunidade científica não é um bloco homogêneo. Felizmente não o é, pois, do contrário, 
não haveria embate entre os cientistas, e a ciência não avançaria.
No caso específico das origens humanas, é bom ter em mente que os cientistas trabalham com 
evidências bastante raras e dispersas (até recentemente, utilizavam os registros fósseis de nossos 
antepassados). Atualmente, além dessas evidências, eles utilizam elementos que vêm da Biologia, como 
os estudos do ADN (mais conhecido pela sigla em língua inglesa – DNA) e a comparação com outras 
espécies, como os chimpanzés. O importante é sabermos que se trata de bem poucas evidências. Podemos 
imaginar o cenário como um enorme quebra-cabeça, em que não dispomos do modelo original (a foto 
da capa do quebra-cabeça) e temos pouquíssimas peças para compor nosso quadro. Assim, preenchemos 
os espaços vazios com nossa imaginação, procurando, por meio de teorias, completar o máximo possível 
o que falta. Quando surge uma nova peça, como um novo fóssil, o quadro pode ser recomposto, e a 
teoria, modificada. Isso dá margem para que surjam diferentes hipóteses, das quais algumas vão se 
fortalecendo e outras vão sendo rechaçadas e abandonadas ao longo do avanço científico. Como já dito, 
isso tudo faz parte do processo científico.
 observação
ADN ou ácido desoxirribonucleico (DNA, em inglês, de deoxyribonucleic 
acid)	 é	 um	 composto	 orgânico	 cujas	 moléculas	 contêm	 as	 instruções	
genéticas que coordenam o desenvolvimento e o funcionamento de todos 
os seres vivos e que transmitem as características hereditárias de todos os 
seres vivos a seus descendentes.
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Figura 9 – DNA
Outra coisa importante é observar que o fato de poder haver duas ou mais teorias concomitantes e 
que	elas	possam	ser	questionadas	não	leva	à	eliminação	da	teoria	em	sua	totalidade.	Nenhum	cientista	
acredita que um novo achado vá, um dia, eliminar a Teoria da Evolução e provar a criação do ser 
humano por um deus. Os novos achados arqueológicos podem aperfeiçoar as teorias sobre a evolução, 
possibilitando	novas	visões	mais	aprofundadas,	mas	não	colocam	em	xeque	o	fato	de	o	ser	humano	
fazer parte de uma evolução.
Em síntese, estudar as origens humanas não significa ser contra a religião, bem como ser religioso 
não implica a não aceitação da Teoria da Evolução. As pessoas que pensam o contrário acabam por ter 
visões	fundamentalistas,	tanto	religiosas	quanto	científicas.
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 observação
O termo fundamentalismo teve origem em correntes protestantes 
estadunidenses entre o final do século XIX e o começo do XX e 
denominou um movimento que buscava voltar aos princípios bíblicos 
considerados fundamentais. O sentido mais genérico costuma atribuir o 
termo a todo grupo religioso que se apega a seus dogmas como verdade 
absoluta sem abrir-se a um diálogo. Isso pode ser estendido também a 
alguns grupos científicos.
Partindo desse preâmbulo, vamos agora nos aventurar na questão do surgimento do ser humano. 
Num primeiro momento, vamos nos deter nos pensadores que abriram novos horizontes nessa busca, 
principalmente, o naturalista inglês Charles Darwin. Em seguida, vamos procurar as bases da compreensão 
do ser humano como espécie. Por fim, olharemos para as teorias mais atuais sobre o surgimento do homem.
2.1 charles darwin e a teoria da evolução
Figura 10 – Charles Robert Darwin
A partir do incremento do pensamento científico, principalmente, após o século XVII, começaram a 
surgir	várias	indagações	sobre	os	mais	diferentes	campos	da	natureza.	Uma	das	grandes	consequências	
da Revolução Científica foi a possibilidade de estudar as causas naturais de maneira separada das 
crenças	e	concepções	religiosas.
 observação
Por	 Revolução	 Científica	 entendemos	 as	 grandes	 transformações	 no	
pensamento ocidental que começaram no século XVI e se prolongaram até 
culminar na consolidação da ciência, ocorrida no século XIX.
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Até o século XIX, a natureza era vista como obra de Deus. Não havia preocupação nem necessidade 
de se buscarem outras causas para os fenômenos que rodeavam as sociedades humanas. A partir do 
Renascimento, entretanto, tudo mudou. A natureza passou a ser vista como um artefato independente 
e passível de ser estudado pelo ser humano – logo, as causas dos fenômenos naturais poderiam ser 
encontradas na própria natureza, e não nos textos sagrados. Isso fez o processo de conhecimento 
começar a mudar enormemente. No lugar da fé, aperfeiçoou-se o uso da razão investigativa. Longe 
de	basear	as	conclusões	nas	palavras	sagradas	e	na	fé	professada,	os	primeiros	cientistas	começaram	
a fundamentar suas ideias em pressupostos advindos da observação dos fatos empíricos. A natureza 
passou a ser vista como um mecanismo a ser desvendado. Contudo, vale notar que não se tratava de 
oposição	à	ideia	de	Deus,	pois	esse	início	da	ciência	tinha	exatamente	a	intenção	de	conhecer	a	própria	
obra de Deus, a natureza. Isso não significava simplesmente aceitar o que falava a Sagrada Escritura, 
mas conhecer os mecanismos implícitos nessa natureza. Foi assim com o movimento celeste e com 
os processos físicos e químicos. Com o passar do tempo, esse processo científico de compreensão da 
realidade chegou também aos processos da vida, dando origem aos primeiros pensamentos da Biologia.
Vários	 foram	 os	 pensadores	 preocupados	 com	 as	 transformações	 dos	 seres	 vivos.	 Um	 deles	 foi	
Charles Darwin, que foi, sem dúvida, um grande gênio. Contudo, é bom lembrar que nenhum gênio da 
ciência age isoladamente. O pensamento de um grande cientista é fruto de sua época, uma vez que 
cada pensador está sempre em constante troca de ideias com seus companheiros. O que faz a diferença 
é que um grande gênio consegue catalisar todo o pensamento existente em seu período e dar um salto 
qualitativo, propondo algo original, uma nova teoria e uma nova visão sobre o tema em questão. Darwin 
foi um desses casos, mas, antes dele, outros também o fizeram.
Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829), naturalista francês, foi um dos primeiros cientistas a propor 
uma teoria sistemática da evolução. Já em 1809, no livro intitulado Philosophie zoologique, sem 
tradução para o português, apresentava sua hipótese, que consistia basicamente na ideia de que os 
organismos vivos se transformavam pelo uso ou desuso de determinadas partes do corpo, dada uma 
maior ou menor exigência delas. O uso constante de um membro e o esforço despendido, como as 
pernas saltadoras de uma rã, fariam, segundo sua teoria, que esse membro se desenvolvesse. No caso, a 
rã adquiriria pernas maiores, e essa característica seria passada a seus descendentes.
Hoje sabemos que Lamarck não estava correto, pois o uso ou o desuso de partes de um corpo não é 
hereditário nem transmitido aos descendentes. Em outras palavras, não basta a um indivíduo exercitar 
seus músculos e formar um corpo de atleta para que seus filhos nasçam atletas musculosos. De mesmo 
modo, não basta praticar arte pianística para que seu filho nasça virtuoso no piano. No entanto, o 
pensamento de Lamarck foi fundamental para a compreensão da evolução dos organismos vivos.
Charles Darwin (1809-1882) veio um pouco depois de Lamarck e desenvolveu uma teoria 
radicalmente diferente. Muito embora na época ainda não houvesse as descobertas da Genética e 
da transmissão hereditária, Darwin não aceitou a teoria de Lamarck e propôs a Teoria da Seleção 
Natural. Essa é a base da Biologia moderna e permite compreender que o surgimento do ser humano 
e sua evolução ao longo do tempo (até chegar ao humano moderno) não foi uma simples obra do 
acaso ou um acontecimento metafísico.
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História da antropologia
Para	 Darwin,	 os	 indivíduos	 de	 uma	 mesma	 espécie	 sempre	 apresentam	 pequenas	 variações	
entre si. Lembre-se de que apenas os gêmeos univitelinos têm um mesmo código genético. Todos 
os demais indivíduos são (alguns um pouco e outros mais) diferentes de seus irmãos, parentes ou 
demais seres humanos.
Os indivíduos mais bem-adaptados ao meio têm mais chances de sobrevivência do que os menos 
adaptados, deixando, assim, um número maior de descendentes, e nisso está a chave para a compreensão 
da evolução: na adaptação. Os organismos mais bem-adaptados serão aqueles que sobreviverão e passarão 
seus genes aos seus descendentes. Pensemos, como exemplo, na postura ereta do ser humano. Esse talvez 
seja um dos elementos-chave para entender nossa diferenciação com relação aos demais primatas.
 observação
Nossos parentes mais próximos, os chimpanzés e os bonobos, não têm 
a capacidade de se colocar e permanecer na postura ereta.
Ao longo do processo evolutivo, alguns indivíduos tinham mais habilidade para ficar de pé do que 
outros. Se, em seu ambiente, essa posição significasse um ganho, esses indivíduos teriam maior chance 
de permanecer vivos por mais tempo e, assim, teriam mais descendentes do que aqueles que não 
ficassem	em	pé.	Ao	longo	de	muitas	gerações,	isso	fez	toda	a	diferença,	e	começaram	a	surgir	cada	vez	
mais indivíduos

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