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1 GEOMETRIA E ARTE: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL Eleonora Cyntia P. de Melo Brito1 Luciana Ferreira dos Santos2 Gilda Guimarães3 RESUMO O presente artigo tem como objetivo investigar o que vem sendo trabalhado nas escolas em relação ao ensino da geometria e da arte plástica e, a partir disso, analisar possibilidades de crianças da alfabetização realizarem atividades que explorem as representações bi e tridimensionais. Nessa pesquisa realizamos um primeiro estudo no qual entrevistamos professores da região metropolitana do Recife e, no segundo, realizamos uma seqüência de aulas. Constatamos em nossas analises que os professores apresentam pouco domínio sobre o trabalho interdisciplinar entre geometria e arte plástica. Verificamos nas aulas ministradas, a possibilidade de um trabalho com atividades desafiadoras que promovem a reflexão e a construção de conceitos matemáticos e artísticos nas crianças. Palavras-chaves: Artes visuais – geometria –interdisciplinaridade. O nosso empenho em escrever este artigo surgiu a partir da escassez de atividades relacionadas à área de geometria verificada em nossa formação acadêmica, mais especificamente nas aulas das disciplinas de Metodologia de Ensino da Matemática I e II. Durante o nosso curso, percebemos pouca atenção dispensada a essa área e tal fato nos chamou atenção, levando-os a investigar o que vem sendo trabalhado nas escolas. Diante dessa escassez, resolvemos realizar um trabalho relacionando as áreas geometria e artes, explorando as representações bidimensionais e tridimensionais com crianças de 5/6 anos, pois acreditamos que um trabalho interdisciplinar, envolvendo duas ou mais áreas de conhecimento, pode enriquecer o trabalho docente e auxiliar na compreensão de questões que ocorrem dentro das salas de aulas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) e pesquisadores da área da Educação Matemática como Guimarães e Selva (2004) e Vasconcellos (2005), recomendam que a escola proporcione às crianças o acesso ao conhecimento geométrico do espaço e forma, visando à compreensão dos conceitos e à interação das mesmas com o mundo em que vivem. 1 Graduada em Pedagogia - Centro de Educação – UFPE. Cyntia_pmbrito@yahoo.Com.br. 2 Graduada em Pedagogia - Centro de Educação – UFPE. Mestranda da Pós –graduação em Educação Matemática e Tecnologia - felufak@yahoo.Com.br 3 Doutora em Psicologia Cognitiva e Professora do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da UFPE. gilda@ufpe.br. 2 Entretanto, como afirmam Miguel e Miorim (1986), Guimarães e Borba (1996) Guimarães e Selva (2004), apesar da geometria estar presente em diferentes campos da vida humana, seja nas construções, nos elementos da natureza ou nos objetos que utilizamos, e que o mundo é composto por formas geométricas, podemos considerar que a geometria que vem sendo ensinada nas escolas é muito distante dessa realidade. Segundo os autores o ensino da geometria a partir do movimento renovador do ensino da matemática, denominado “matemática moderna” das décadas de 60/70, foi negligenciado, sendo considerados abstratos e de difícil aprendizagem para as crianças. Gálvez (2001) e, Kaufman e Nunes (2006), também reforçam esse desprestígio com relação ao ensino aprendizagem da geometria. Tais fatores geraram uma marginalização, determinada pelos manuais didáticos – que não articulavam a geometria a outras áreas matemáticas, diminuíram a quantidade de assuntos abordados por série, relegando essa área aos capítulos finais do livro didático. A falta de integração entre a geometria os demais tema provocou uma ausência da mesma nos currículos de formação de professores e, conseqüentemente, a formação de professor em geometria. Pesquisadores como Pires (2000) e Pontes (2003) em Vasconcellos, (2005), “ressaltam que os professores precisam ter a consciência de que a aquisição de conceitos geométricos deve ocorrer mediante a realização de atividades que envolvam as crianças na observação e na comparação de figuras geométricas a partir de diferentes atributos”. (p.11-12) Já o PNLD (2007) afirma que “o pensamento geométrico surge da interação espacial com objetos e os movimentos do mundo físico e desenvolve-se por meio das competências de localização de visualização, de representação e de construção de figuras geométricas” (p.15). Em função desse tipo de afirmação é que Guimarães e Selva (2004) argumentam sobre a importância da interligação entre geometria e outras áreas do conhecimento, como por exemplo, as artes, uma vez que possibilita a aprendizagem de relações geométricas de forma significativa. Segundo as autoras ”o estudo da geometria está, intrinsecamente, relacionado à área de artes, a qual permite uma reflexão nas diferentes formas de expressa, tais como pintura, escultura e etc”. O trabalho com geometria e artes plásticas surge como possibilidade de completar a leitura interpretativa do mundo e ampliar as idéias e visões sobre a matemática e o ensino da geometria. 3 Dessa forma podemos considerar de suma importância essa relação entre áreas diferentes, pois essa afinidade pode provoca reflexões que vão além da sala de aula e além da formação desses professores. A geometria na escola Precisamos saber inicialmente o que é geometria para entendermos o porquê do ensino da mesma. De acordo com Miguel e Miorim (1986) “a geometria é o estudo das propriedades dos objetos e das transformações que podem ser submetidas – desde as transformações mais simples, que alteram apenas a posição de um objeto, as mais complexas, que destroem as suas forma até descaracterizá-la por completo” (p. 66). Segundo Broitman e Itzcovich (2006), “a geometria não é somente um conjunto de saberes formalizados ao longo da história, mas um modelo de raciocínio e dedução muito importante para a formação cultural dos sujeitos”. (p.175). Como afirmam os PCN’s (1997), o trabalho com a geometria possibilita não apenas a vinculação do conhecimento geométrico com outras de áreas, mas também com conceitos matemáticos inseridos em situações problemas. A geometria deve, de acordo com Guimarães e Borba (1996), partir da exploração de figuras tridimensionais, enfatizar a construção dos conceitos e suas propriedades, explorar diferentes visualizações, estudar as transformações no plano (congruência e semelhança), proporcionar atividades lúdicas, incentivar a exploração experimental ao invés de valorizar apenas demonstrações, tal como, deve se integrar os eixos números e medidas. Contudo, como argumentam Guimarães e Selva (2004), o ensino da geometria nas séries iniciais tem se sintetizado a identificação das figuras planas regulares como círculo, triângulo e retângulo e dessa forma a geometria é esterilizada dos seus sentidos para as crianças. Essas autoras argumentam que um dos trabalhos que é necessário de ser desenvolvido na escola é a composição e decomposição de figuras bidimensionais ou tridimensionais. Uma figura tridimensional é aquela que tem, como o próprio nome diz, três dimensões: comprimento, largura e altura. Já as figuras bidimensionais, apresentam duas (bi) dimensões. Pavanello (2004) afirma não ter encontrado pesquisas que abordem especificamente as dificuldades de crianças na educação infantil em interpretar/ construir representações bidimensionais de objetos tridimensionais. Pires, Curi e Campos (2000), por exemplo, apresentam um relato de experiência de uma professora de 1ª série que realizou uma seqüência de atividade 4 que trabalhavam com representações bidimensionais (desenhos) de figuras tridimensionais (caixas de creme dental). A professora declara que as atividades permitiram que a mesma fizesse uma auto-avaliação de seu trabalho, poisnão acreditava que pudesse surtir os bons resultados obtidos. As crianças foram capazes de identificar as figuras necessárias à composição das caixas observando os modelos planificados, sem muita interferência da professora. Ela também afirma que foi possível mostrar aos alunos que a geometria está inserida no cotidiano. Esta é uma forma dos alunos refletiram sobre as diferentes formas a partir da confecção das mesmas e que quando o ensino de geometria está associado à realidade dos alunos, cria-se possibilidades de aprendizagens significativas. Como afirma Adlai Detoni em artigo de Ribeiro (2005), "Quem vive a geometria de forma lúdica ganha prazer e produz conhecimento — em vez de colecionar conceitos”. O envolvimento entre geometria e artes visuais O envolvimento entre a geometria e a artes teve inicio na Pré-História, pois como afirma Luz (2005), as primeiras manifestações de criatividade humana que simulavam o apelo do homem, desejoso de materializar o objeto de suas necessidades, foram quando os seres humanos representavam as formas dos bisões pintando-os no interior das cavernas. No período neolítico os seres humanos conseguirão gravar, no osso ou na pedra, o símbolo abstrato de suas próprias indagações. Ao longo da história o homem buscou na geometria soluções para equacionarem suas indagações em busca de uma arte que abandonasse o ilusionismo da expectativa e reafirmasse a bidimensionalidade do quadro. Diante desse contexto surge a pergunta: Por que a escola distância a geometria da arte? Será desconhecimento da possibilidade de aprendizado que as duas áreas apresentam? Identificamos que o PCN de Matemática (1997) sugere que o ensino do espaço e da forma “deve ser feito a partir da exploração dos objetos do mundo físico, de obras de artes, pintura, desenhos, esculturas e artesanatos, ele permitirá ao aluno estabelecer conexões entre a matemática e outras áreas de conhecimento” (p. 55-56). Da mesma maneira, o eixo de artes plásticas O RECNEI (1998) aponta a possibilidade de trabalho com as representações bidimensionais e tridimensionais, que para ele deve nascer no fluir da imaginação e no contato com novas matérias. Afirma ainda que, “é possível realizar trabalhos em formas geométricas por meio da observação de obras de artes, artesanato (cestas, rendas de rede) de construções de 5 arquitetura, pisos mosaicos, vitrais de igreja, ou ainda de formas encontradas na natureza, flores, folhas, casa de abelha, teias de aranha etc”. (p.230). As criações, principalmente, tridimensionais e bidimensionais devem ser feitas em etapas, pois exigem diversas ações como colagem, pintura e montagem etc., fazer brinquedos ou maquetes de cidades são exemplos de atividades que podem ser realizadas e que envolve a composição de volumes, proporcionalidade e equilíbrio. Cunha (2002) acrescenta que “o conhecimento visual não vai se dar de uma forma espontaneísta ou na forma de adestramento manual, mas, sim com intervenções pedagógicas que desvelem e ampliem os saberes individuais e coletivos relacionando-os com os elementos da cultura da qual emergem com aqueles historicamente acumulados” (p.16). Pais (1996) em Passos (2001) “distingue quatro elementos fundamentais, no processo de representação plana do espaço tridimensional, que intervém fortemente na aprendizagem da geometria, exercendo que cada um deles uma influencia considerável nessa representação, ou seja: objeto, desenho, imagem mental e conceito” (p.2). A articulação entre estas duas áreas como podemos observar deve acontecer por meio de um fazer artístico que diz respeito à “um processo criativo que envolve a interpretação a representação pessoal de vivencia do aluno através da linguagem plástica” (Barbosa, 1999, p.8). Metodologia, Resultados e Analises. A partir desses estudos, resolvemos investigar o que vem sendo trabalhado nas escolas em relação ao trabalho de geometria e de artes, e a partir disso, analisar as possibilidades de crianças de 5/6 anos de idade realizarem atividades que explorem representações bi e tridimensionais. Para tal, nesse trabalho realizamos dois estudos. No estudo I buscamos mapear e analisar os conhecimentos dos professores acerca do tema “geometria e artes” a fim de subsidiar o trabalho a ser proposto no Estudo II. Foi realizada uma entrevista a qual previa um roteiro de perguntas, mas permitia adaptações segundo o aprofundamento de pontos levantados pelos entrevistados. Participaram do mesmo treze professoras de escolas públicas da Região Metropolitana do Recife que estavam lecionando em turmas do 1o ciclo. Neste primeiro estudo, as perguntas buscavam investigar a formação das docentes, o que elas compreendiam sobre o ensino da geometria e da arte e 6 solicitamos que descrevessem suas práticas realizadas em salas de aula na área de artes e geometria. Verificamos que 92 % das professoras entrevistadas dizem trabalhar artes em sala com diversas finalidades, como, por exemplo, adquirir conhecimentos, de socialização, de interdisciplinaridade e de desenvolver a criatividade e a livre expressão dos alunos. Ao serem questionadas se associavam o ensino de artes a outras áreas de conhecimento, as mesmas confirmaram realizar esse trabalho, mas raramente explicavam os seus objetivos. Afirmaram também trabalhar com a geometria em sala, mas quando se referem a está área matemática, apenas 38,4 % delas dizem trabalhar as formas geométricas articulada a objetos presentes no cotidiano dos alunos. Dessa forma, ao serem questionadas se realizavam algum trabalho relacionando geometria e artes, todas afirmou ter tido experiências, mas apenas 15,3 % delas perceberam e explicitaram nessa hora que as áreas se relacionavam. Ao exemplificarem essas atividades surgiram trabalhos com caixas, palitos de fósforo, blocos lógicos, leitura de imagens, pinturas de objetos com formas geométricas, na sua maioria, de forma descontextualizada. Quando perguntadas se trabalhavam com desenhos, dobraduras, esculturas e ampliação e redução de figuras, todas afirmaram trabalhar com desenho. Mas com outras atividades o quadro se distribui dessa forma: Gráfico: 1 Sò desenho Desenho e dobradura Desenho e escultura desenho, ampliação e redução Desenho, dobradura e escultura Os dados do gráfico nos apresentam que maior parte dos professores entrevistados (46%), além do trabalho com desenho, afirmaram propor atividades com dobraduras. Em menor intensidade (7,7%), aparece os que também trabalham com ampliação / redução e, com o mesmo percentual, os que afirmam trabalhar com tudo. Entretanto, ao compararmos esses dados com as respostas obtidas nas entrevistas, sobre qual a importância do ensino da geometria na sala de aula, 7 verificamos que os professores sempre fazem menção ao trabalho com as figuras geométricas e suas relações com o cotidiano, como podemos perceber a seguir: � Que aspectos você considera importante no ensino da geometria na sala de aula? - “O ensino das formas geométricas que estão muito presentes no cotidiano dos alunos”. - “Acho importante os meus alunos conhecerem o que é quadrado, circulo, triangulo e retângulo e, como isso está no cotidiano deles”. Apesar de estar presente nas respostas, não foi possível perceber nas atividades descritas por elas tal relação. Observe os exemplos: � Descreva uma atividade que você desenvolveu em sala de aula? - “trabalho as formas: quadrado, triangulo e retângulo. Explorando cor, tamanho e forma”. - “Pintar um palhaço, onde cada forma geométrica será pintada de uma cor. Pintar o desenho observando a relação cor e formas geométricas”. Assim, podemos concluir através das respostas dos professores que o ensino da geometria está acontecendo de forma restrita nas escolas,limitando-se ao reconhecimento de figuras regulares, uma vez que as professoras revelaram trabalhar apenas com identificação de formas geométricas, esquecendo dos conceitos geométricos que poderiam ser abordados. Concluímos ainda que os professores demonstram desconhecimento, no que diz respeito ao desenvolvimento de atividades a serem trabalhadas na sala de aula. Talvez, exemplos ilustrem o que Miguel e Miorim (1986) afirmam desde a década de 80, o desconhecimento na área de geometria gerou descrença em relação à mesma e que passa a ser vista como algo de pouca importância na matemática. Logo, poucas atividades de qualidade são pensadas. Em função dos resultados apresentados acima, pensamos em propor um trabalho de geometria que envolvesse outras habilidades. Resolvemos, então, investigar como os alunos de 5/6 anos podem desenvolver-se, a partir de atividades que explorem transformações de representações bidimensionais em tridimensionais e, vice-versa através das artes plásticas. Para tal, foram ministradas três aulas em cada turma alfabetização por duas graduandas do curso de Pedagogia, sendo que em uma turma uma ministrava e a outra observava e, na outra turma, invertem-se os papeis. As três aulas trabalharam com o tema “bichos” e seguiram uma seqüência de atividades: 8 Primeiro dia de aula realizamos a leitura de vários poemas sobre o tema4 , como a finalidade de introduzi-lo de forma lúdica, buscando a motivação dos alunos. Depois, apresentamos figuras de bichos a partir de suportes diferentes como revistas5, jornais, livros6, cartões e etc. Para ampliar o repertório das crianças, assim com, realizarem a apreciação, leitura e observação de elementos que constituem as imagens. Em seguida, cada aluno escolheu um bicho de sua preferência para desenhar ao fim da aula os desenhos foram recolhidos. No segundo dia, realizamos uma roda de conversa, utilizamos o livro de curiosidade7. Nossa finalidade era contextualizar a tema tratado, tal como refletir sobre as características dos bichos. Num segundo momento da aula formamos duplas e devolvemos os desenhos para que os autores refletissem se os mesmos podiam ser melhorados. Percebemos que as crianças de forma intuitiva refletiam sobre propriedades simétricas ao não alteram as relações métricas dos desenhos, mas alteram a posição dos elementos constitutivos dos desenhos. Novamente os desenhos foram recolhidos. No terceiro dia, apresentamos o livro8 de artes, entregamos os desenhos novamente, e solicitamos que as crianças representassem o mesmo com o material (pedras e durepox) que estava exposto no chão da sala. Escolhemos trabalhar com pedras para fazer a transposição do bi para o tridimensional, porque este material nos dar uma grande variedade de formatos que permite as crianças escolher a pedra mais próxima à característica de seu bicho. Outro fator é que segundo cunha (1999) as crianças devem ter acesso a uma diversidade de materiais e suporte. Trabalhamos com 46 crianças com idade entre 5-6 anos, destas 31 participaram das 3 aulas, 5 participou da 1ª e 2ª aula, 2 da 1ª e 3ª aula e 8 2ª e 3ª aula. Durante a seqüência de aulas percebemos níveis de concentração diferente. Alguns alunos mostraram-se concentrados nos detalhes na medida que eram solicitados a escolher uma imagem de um animal para desenhá-lo. Percebemos que algumas crianças realizaram desenhos com mais requintes de detalhes ao colocar as rosetas da onça –pintada, dentes, bigodes e unhas do cachorro. Enquanto as outras crianças não apresentam tanto requinte ao representar o seu animal, salientamos que o único comando dado foi que o bicho escolhido fosse desenhado. 4 Livro: A Arca de Noé de Vinicius de Moraes 5 Revista Ciências Hoje, SBPC. (pôsteres) 6 Fantástico Universo: Filhotes de Jane Burton 7 o grande e espetacular livro dos animais de Ronne Randall 8 Livro vamos criar com Pedra de Sabine Lofh 9 No segundo momento da segunda aula as crianças tinham que realizar sugestões sobre o trabalho da outra criança. Notamos na analise dos dados foi constatado que nessa atividade de reflexão dos desenhos em dupla a maioria das crianças fez alguma modificação nos seus desenhos sendo, 52,2% fez modificações referentes ao contexto do desenho, por exemplo: Enquanto 43,5% fizeram modificações referentes às características físicas dos animai. Podemos observar que boa parte dos alunos aceitou de alguma forma as sugestões feitas pelos colegas sobre seus desenhos as guias foram categorizadas de formas como podemos observar: Gráfico 2: comentatios referentes as caracteristicas fisicas Comentários refentes ao contexto Comentários referentes ao contexto e Carc. Fisicas Não fez Um grande percentual dos alunos que teceram comentários sobre aa características físicas dos bichos (partes do corpo do animal), por exemplo, asas, bico, pernas, dedos, cabelo, rabo, carapaça etc, percebemos que neste momento as crianças refletiam sobre conceitos de proporcionalidade quando se referia ao tamanho e largura de braços e pernas, simetria quando sugere ao colega que faça correspondência, em grandeza, forma e posição relativas ao lado oposto do animal. Como no exemplo a seguir: 1 1ª 10 Y e A Y - ele precisa melhorar o rabo e agora... A pata. A – já fiz. Y – está feia. Modifica a cabeça. Olha o gato de boca aberta. Pinta também. O aluno não se satisfaz apenas em realizar as modificações sugeridas, mas, refaz totalmente o seu desenho apagando o anterior, construindo outro que apresentavam mais detalhes como pintas, bigodes, coleiras. Na terceira e ultima etapa do nosso trabalho, apresentamos o livro de Sabine Loff, a fim de que os alunos percebessem as varas possibilidades para construção das esculturas. Depois disso, pedimos que eles façam a transposição do bi para o tridimensional transformando em esculturas os desenhos. Varias invariantes operatórios da transposição de bi e tridimensionais estavam presentes como: comprimento, altura e profundidade, além de outros conceitos como à proporção, equilíbrio, tamanho e forma (patas, pescoço e asas) foram constantemente discutidos entre os alunos durante a construção das esculturas. Preferimos deixá-los livres tanto para construção dos desenhos como também da escultura, pois acreditávamos que seria mais viável para analisar os conhecimentos prévios dos alunos, assim como, os adquirimos durante o nosso trabalho. Diante do exposto podemos observar no gráfico abaixo o resultado ao final da terceira aula: Gráfico 3: Esculturas trdimension ail Escultura sem elementos tridimensio Um total de 54,3% dos alunos não demonstrou invariantes operatórios como comprimento, profundidade e altura. Como a criança apesar de realizar a representação do leão em pedras, ela não considera os invariantes citados anteriormente. Apreciando a escultura percebemos que o numero de pedras alem de insuficiente não dava sustentação ao corpo, isso porque o tamanho das pedras escolhidas era desproporcional. No entanto, uma parcela considerável do grupo (32,6 %) conseguiu realizar esta atividade de transposição com êxito, demonstrando preocupação com os aspectos matemáticos já mencionados. Isso confirma que é real 11 a possibilidade desse tipo de trabalho principalmente se realizado desde cedo com as crianças como ressalta o RCNEI e Cunha. O exemplo a seguir nos mostra a qualidade dessa reflexão feita por um aluno. 22A 2B 3 escultura Este exemplo ilustra o caminho percorrido por esse aluno para construção de seu desenho, suas reflexões e, conseqüentemente da confecção de sua escultura. No primeiro desenho, ele reproduz o que viu na imagem do livro. Depois com as sugestões feias pela colega. Ele modificou o desenho (exemplo 2): R – Tem muita pata o jabuti, só são quatro. Desenhar diferente aqui em cima (carapaça). Fazer o rabo. Não ficando satisfeito com o resultado, ele pediu outra folha para refazer o desenho (exemplo 2 A). Por ultimo, ele escolheu as pedras e confeccionou a escultura (exemplo 3), que apresenta altura, comprimento e profundidade. Por conta de exemplos como este que Pavanello (2004) não encontra freqüentemente pesquisa que abordem as dificuldades especificas de crianças nessa faixa etária em interpretar e construir representações bi de objetos tridimensionais. Desse modo, podemos perceber que com um trabalho mais efetivo ou o inverso também é possível de ser feito com facilidade e entusiasmo por essas crianças. Em outro momento, houve uma situação que nos chamou a atenção um dos alunos da turma A só percebeu que sua escultura não estava tridimensional na hora da exposição, pedindo para professora que o ajudasse a deixá-la de pé: 12 A – Professora eu quero que ele fique em pé. E - O que está faltando para isso? A – Ajeito os pés. Então, a pesquisadora confirmou movimentando a cabeça. Ele pegou a escultura e ajeitou os pés. Ela tirou outra fotografia. Percebemos que não foram aguçadas, no aluno, apenas questões de artes e matemática, mas também a imaginação e intuição, já que essas, como afirmam Fainguelernt e Nunes (2006) “estão na base de qualquer investigação cientifica, pois para chegar a uma verdade nova o investigados necessita transgredir, arriscar, perguntar o que é considerado certo e logicamente possível” (p.14). Nesse caso, a crianças demonstrou-se de se testar, questionar e refletir sobre a própria produção usando a intuição para construir um novo conhecimento. Durante a analise dos dados, percebemos que talvez se tivéssemos chamado atenção das crianças com comando mais específico para questões referentes aos invariantes operatórios referentes a bi e tridimensionalidade durante a confecção das esculturas. Desta forma, como um das pesquisadoras tinha acesso a uma das salas, surgiu à possibilidade de ter uma conversa com as crianças sobre suas esculturas os alunos tiveram a oportunidade de refletir sobre questões como comprimento, altura, equilíbrio, proporcionalidade e simetria. Depois da conversa as crianças tiveram a possibilidade de melhorar suas esculturas. Notamos que algumas crianças conseguiram realizar a transposição de suas esculturas bidimensional para tridimensional, como podemos observar no diálogo abaixo: P - Gente vocês estão vendo esta escultura. AD - É a girafa de H. P - O que precisamos fazer para deixá-la de pé? AC – por quatro pernas. P - porque? A – girafa tem quadro pernas A LH - eu não estou conseguindo por a girafa de pe e o pescoço cai toda vez que coloco de pé. P - não é, porque está comprido demais? E as pernas estão do mesmo tamanho? ALH - não, tem perna grande e pequena. P – e tem que ficar como? Em silencioso o aluno volta para o lugar. ALH - diminui o pescoço e coloquei as pedras na perna pra ficar igual. P - certo. Na primeira escultura, o aluno colocou apenas duas pernas, o pescoço ficou longo e a pedra que formava o corpo era pesada, não ajudando no equilíbrio da escultura. Depois de suas reflexões, podemos perceber que alem de acrescentar as pernas que faltam. Ele diminuiu o pescoço do animal dando equilíbrio à escultura, permitindo que ela ficasse em pé, acrescentando também o rabo. 13 Diante disso, vale salientar que a intervenção do professor é de extrema importância, assim como, a qualidade das perguntas que devem levar as crianças a refletirem sobre os desafios propostos. Conclusão Diante do exposto, concluímos acreditamos que a geometria articulada a artes visuais colabora no sentido de facilitar o trabalho docente e o aprendizado dos alunos. No entanto, é fundamental que o professor tenha consciência e domínio sobre o campo do saber que está trabalhando. Esse é um grande desafio para um novo fazer matemático é modificar as atuais práticas. Desejamos que o nosso estudo gere mais pesquisas sobre a área, já que este é um trabalho possível de ser realizado em sala de aula. Referências ALMOULOUD, Saddo Ag; MELLO, Elizabeth G. S. de – Iniciação à demonstração aprendendo conceitos geométricos - 23ª reunião ANPED – GT: 19, 2000. <http//www.anped.org.br/23/trabtit2.htm#gt 19 > Acesso em: 11/02/2007. BRASIL. MEC. SEF (1997) - Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, MEC/SEF, Matemática - Vol III: Primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental. _______________ - Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, MEC/SEF, Artes - Vol VI: Primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental. BRASIL. PNLD - Guia do livro didático 2007: Matemática: séries/anos iniciais do ensino fundamental. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 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