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Página 2 de 12 Este material de apoio foi especialmente preparado por monitores capacitados com base na aula ministrada. No entanto, não se trata de uma transcrição da aula e não isenta o aluno de complementar seus estudos com livros e pesquisas de jurisprudência. MÓDULO I AULA 11 (INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA) PROFESSOR ALEXANDRE CÂMARA ESCLARECIMENTOS INTRODUTÓRIOS: o NCPC inova ao tratar especificamente do incidente de desconsideração da personalidade jurídica nos arts. 133 a 137, corretamente alocado como uma modalidade de intervenção de terceiros no processo civil, ao lado da assistência, do chamamento ao processo, da denunciação da lide e do amicus curiae. CAPÍTULO IV DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. §1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. §2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. §1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. §2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. §3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do §2º. §4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. Página 3 de 12 Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno. Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente. Por meio desse incidente, um terceiro, estranho ao rol de sujeitos processuais, passará a participar da demanda proposta, o que justifica a sua colocação dentre as modalidades de intervenção de terceiros. O Novo Código vem resolver um antigo problema da praxe forense relacionado ao fato de um terceiro, normalmente um sócio da pessoa jurídica cuja personalidade será desconsiderada, ser afetado por uma decisão judicial sem que tenha tido a oportunidade de participar da sua construção. Diante do CPC/73, o que se via era uma desconsideração da personalidade jurídica sem o devido respeito ao contraditório e, por consequência, uma violação do devido processo legal. Por isso, a partir do NCPC, busca-se um contraditório prévio, efetivo, substancial, nessas situações. A exposição terá como foco os aspectos processuais do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, e não os materiais (requisitos necessários para a desconsideração). INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: segundo o art. 133, caput, do NCPC, o incidente não se instaura de ofício, mas por meio de provocação de uma das partes ou do Ministério Público, nos processos em que seja parte ou atue como fiscal da ordem jurídica (art. 178). Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. §1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. (...) Página 4 de 12 Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam: I - interesse público ou social; II - interesse de incapaz; III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público. Não se pode cogitar desconsiderar a personalidade jurídica sem a instauração desse incidente processual próprio. O NCPC regula o incidente, mas não estabelece quais são os requisitos necessários para que se acolha o pedido de desconsideração da personalidade jurídica, que são relacionados às normas de direito material e variam de acordo com a natureza da relação jurídica subjacente ao processo (NCPC, art. 133, § 1º e 134, § 4º; CDC, art. 28; CC, art. 50; Lei Federal nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais –, art. 4º etc.). Art. 133. (...) §1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. (...) Art. 134. (...) §4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. CDC: Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. §1° (Vetado). §2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. §3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código. §4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. §5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Página 5 de 12 CC: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Lei Federal nº 9.605/98: Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA: O incidente deverá ser utilizado nos casos de desconsideração direta da personalidade jurídica (ex.: desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica para se atingir a esfera de direitos dos sócios), como também nos de desconsideração inversa da personalidade jurídica (ex.: desconsideração da personalidade jurídica de uma pessoa física para se atingir a esfera de direitos de determinada pessoa jurídica da qual é sócio), tal como autorizado pelo art. 133, § 2º, do NCPC. Art. 133. (...) §2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Essa observação será importante para bem compreender outros dispositivos do Novo Código, que muitas vezes tratarão indistintamente dos sócios atingidos (terceiros na desconsideração direta), bem como da pessoa jurídica atingida (terceiro nadesconsideração inversa). CABIMENTO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: é cabível em todas as fases do processo de conhecimento (a qualquer tempo), no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 134). Admite-se, inclusive, a instauração do referido incidente originalmente perante os tribunais (em grau de recurso). Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. §1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. Página 6 de 12 §2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. (...) O §1º, do art. 134 estabelece que a instauração do incidente seja imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. Isso será muito importante para fins de registro procedimental do incidente, publicidade perante terceiros e segurança jurídica de determinados negócios jurídicos (ex.: extração de certidões cíveis em nome de um sócio que está vendendo um imóvel e passou a ser parte num incidente de desconsideração da personalidade jurídica). De seu turno, o § 2º, do art. 134 vem dizer o óbvio, que a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica é dispensável quando a desconsideração é objeto de pedido já na petição inicial, ocasião na qual os sócios ou a pessoa jurídica (no caso de desconsideração inversa) serão regularmente citados para a demanda. SUSPENSÃO (IMPRÓPRIA) DO PROCESSO A PARTIR DA INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: o § 3º, do art. 134 dispõe que a instauração do incidente suspenderá o processo, em qualquer fase na qual esteja, até que seja julgado o incidente. Art. 134. (...) §3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do §2º. §4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. A suspensão não ocorrerá nos casos em que a desconsideração da personalidade jurídica é requerida já na petição inicial (§ 2º), uma vez que nesses casos, como dito, não há a instauração do incidente. Nesse sentido, destaca-se que o NCPC, no art. 313, que trata das hipóteses de suspensão do processo, não abordou expressamente a hipótese de suspensão a partir da instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, que passa a pertencer à hipótese genérica do inciso VIII desse dispositivo. Art. 313. Suspende-se o processo: I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; II - pela convenção das partes; III - pela arguição de impedimento ou de suspeição; Página 7 de 12 IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas; V - quando a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente; b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo; VI - por motivo de força maior; VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo; VIII - nos demais casos que este Código regula. IX - pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advogada responsável pelo processo constituir a única patrona da causa; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) X - quando o advogado responsável pelo processo constituir o único patrono da causa e tornar-se pai. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) §1º Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo, nos termos do art. 689. §2º Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o juiz determinará a suspensão do processo e observará o seguinte: I - falecido o réu, ordenará a intimação do autor para que promova a citação do respectivo espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar, de no mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) meses; II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio, determinará a intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, pelos meios de divulgação que reputar mais adequados, para que manifestem interesse na sucessão processual e promovam a respectiva habilitação no prazo designado, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito. §3º No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a parte constitua novo mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o processo sem resolução de mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou ordenará o prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procurador deste. §4º O prazo de suspensão do processo nunca poderá exceder 1 (um) ano nas hipóteses do inciso V e 6 (seis) meses naquela prevista no inciso II. §5º O juiz determinará o prosseguimento do processo assim que esgotados os prazos previstos no §4º. § 6o No caso do inciso IX, o período de suspensão será de 30 (trinta) dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou documento similar que comprove a realização do parto, ou de termo judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação ao cliente. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) § 7o No caso do inciso X, o período de suspensão será de 8 (oito) dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou documento similar que comprove Página 8 de 12 a realização do parto, ou de termo judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação ao cliente. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) Durante a suspensão do processo, não se praticam atos processuais, à exceção daqueles reputados urgentes pelo juiz, a fim de evitar dano irreparável (art. 314). Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer ato processual, podendo o juiz, todavia, determinar a realização de atos urgentes a fim de evitar dano irreparável, salvo no caso de arguição de impedimento e de suspeição. A doutrina, nesses casos, fala em suspensão imprópria do processo, tendo em vista que a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica não acarreta a suspensão do processo no exato rigor do termo. Isso porque a suspensão de um processo é a sua paralização total e temporária (momento de crise processual), com a exceção dos atos reputados urgentes. Na suspensão imprópria, não ocorre uma paralização completa do processo, mas apenas de alguns atos processuais (ex.: suspensão decorrente da arguição de suspeição ou impedimento do juiz). No caso da suspensão do processo em decorrência da instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, o processo não ficará totalmente paralisado. Instaurado o incidente, somente poderão ser praticados os atos processuais que tenham relação com o referido incidente. Atos que não digam respeito ao incidente, à exceção dos urgentes (necessários para evitar o perecimento do direito), não poderão ser praticados até que ele seja decidido. CITAÇÃO DO TERCEIRO E POSSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA: uma vez instaurado o incidente, o juiz determinará a citação dos sócios, no casode desconsideração direta, ou da pessoa jurídica, no caso de desconsideração inversa da personalidade jurídica, para que se manifestem e requeiram as provas cabíveis no prazo de 15 dias (art. 135). Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. O Novo Código optou por não utilizar nenhuma nomenclatura específica para essa manifestação do sócio ou da pessoa jurídica (ex.: contestação, impugnação etc.). Página 9 de 12 Nesse momento é que se tem a integração do terceiro na demanda, abrindo-se a ele a possibilidade de participar em contraditório (influenciar e não ser surpreendido) da construção da decisão judicial que potencialmente poderá atingir a sua esfera de direitos. A partir daí o procedimento irá variar de acordo com a necessidade ou não de produção de provas (ex.: documental, testemunhal, perícias contábeis etc.). DECISÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: o art. 136 estabelece que, concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória, contra a qual será cabível o recurso de agravo de instrumento (art. 1.015, IV), a menos que tenha sido instaurado originariamente perante o tribunal, ocasião na qual a impugnação da decisão monocrática do relator (art. 932, VI) se dará por meio do recurso de agravo interno (art. 136, parágrafo único e 1.021). Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno. Art. 932. Incumbe ao relator: (...) VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente perante o tribunal; (...). Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: (...) IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; (...). Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal. §1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada. §2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta. §3º É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno. §4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão Página 10 de 12 fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. §5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no §4º, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final. Deve-se atentar para o fato de que, não instaurado o incidente porque a desconsideração foi objeto de pedido na petição inicial, a decisão sobre ela será dada na própria sentença (e não por decisão interlocutória), impugnável por meio de recurso de apelação. EFEITOS DA DECISÃO QUE ACOLHE O PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA ESFERA JURÍDICA DO TERCEIRO: o art. 137 do NCPC trata dessa questão, a indicar os efeitos que a decisão, que acolhe o pedido de desconsideração, terá na esfera jurídica do terceiro que participou do incidente processual específico e cujo patrimônio o requerente pretende ver atingido. Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente. Obviamente que esse dispositivo deve ser interpretado de forma sistemática em relação a outras regras legais, tais como os arts. 789 (regra geral, à exceção dos bens impenhoráveis) e 790, VII, do NCPC, que tratam da responsabilidade patrimonial. Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. Art. 790. São sujeitos à execução os bens: (...) VII - do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica. Esse é o principal efeito da desconsideração da personalidade jurídica: permitir que, na fase executiva, seja possível excutir também o patrimônio daquele terceiro que passou a integrar a demanda. Entretanto, pode acontecer que, mesmo após a desconsideração da personalidade jurídica, o terceiro também já tenha se desfeito dos seus bens. Daí porque o art. 137, já mencionado, cria uma regra de maior proteção para o credor-requerente, estabelecendo Página 11 de 12 que toda alienação ou oneração de bens, havida em fraude à execução (a partir da citação – art. 792, § 3º), será ineficaz em relação a ele. Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver; II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828; III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude; IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência; V - nos demais casos expressos em lei. §1º A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente. §2º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem. §3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar. §4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. Esse raciocínio derruba algumas críticas que se fizeram a respeito do incidente de desconsideração da personalidade jurídica no sentido de que, uma vez instaurado, o sócio (ou a pessoa jurídica) citado iria se desfazer rapidamente de todos os seus bens. No entanto, conforme visto, se assim o fizer, incorrerá em fraude à execução, sendo que os negócios jurídicos praticados após a citação serão considerados ineficazes perante o credor-requerente. Além disso, pode-se cogitar também do poder-geral de cautela do juiz, a fim de arrestar, por exemplo, os bens do requerido no incidente de desconsideração da personalidade jurídica, impedindo que ele pratique atos em fraude à execução. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: o art. 10 da Lei Federal nº 9.099/95 proíbe expressamente qualquer forma de intervenção de terceiro na sistemática dos Juizados Especiais Cíveis. Página 12 de 12 Lei Federal nº 9.099/95: Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. Dessa forma, numa primeira análise, já que o NCPC colocou,corretamente, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica no rol das modalidades interventivas, poder-se-ia concluir que não caberia a instauração do referido incidente no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, em prejuízo dos credores. Entretanto, no art. 1.062, o NCPC expressamente estabelece que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica se aplica aos processos de competência dos juizados especiais, a permitir, numa interpretação sistemática, verdadeira exceção à regra insculpida no art. 10, da Lei Federal nº 9.099/95. Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica- se ao processo de competência dos juizados especiais.
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