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II SEM. EST. EDUC. NO SISTEMA PRISIONAL DO PR Educação em prisões de acordo com as Diretrizes do CNE, Foz do Iguaçu

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II SEMINÁRIO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL DO PARANÁ 
11 a 15 de agosto 2014 - Foz do Iguaçu – PR 
 
 
Educação em prisões de acordo com as diretrizes do CNE 
Adeum Hilario Sauer1 
 
1. Introdução 
O processo civilizatório da humanidade consagrou a educação como um direito 
fundamental da pessoa humana, visto como mediação para a emancipação, autonomia e 
desenvolvimento do sujeito para viver em sociedade de modo livre e responsável. O direito à 
educação está universalmente reconhecido e normatizado, porém, não alcançou ainda as 
sociedades por inteiro, ficando alguns de seus segmentos alijados do seu acesso e exercício. É o 
caso do direito à educação daqueles sujeitos que se encontram em situação de privação de 
liberdade nos estabelecimentos penais. No percurso de afirmação desse direito, no Brasil, 
podemos registrar um avanço inicial, de natureza político-institucional, com a aprovação do 
Parecer CNE/CEB nº 4/2010 e da Resolução nº 2/2010, do Conselho Nacional de Educação 
(CNE), homologado2 pelo Ministro da Educação. Pela primeira vez, no país, são estabelecidas 
“Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação 
de liberdade nos estabelecimentos penais”. Abriu-se a oportunidade para discutir um projeto 
político-pedagógico para o sistema penitenciário brasileiro e avançar no processo de superação 
das políticas pontuais, isoladas, fragmentadas e altamente diferenciadas, e de construção de 
uma proposta política alinhada às diretrizes político-pedagógicas nacionais. 
A implementação de políticas, por parte dos Estados federados, responsáveis diretos 
pela oferta de educação de jovens e adultos em situação de privação de liberdade, segundo a 
orientação das mencionadas Diretrizes, vem avançando vagarosamente no Brasil. A reduzida 
mobilização da sociedade e seu alheamento em relação ao que acontece nas prisões e ao 
direito à educação daqueles que ali se encontram, num ambiente cultural hostil à população 
 
1
 Professor-Adjunto na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus-BA. Relator do Parecer CNE/CEB nº 
4/2010 das Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de 
liberdade nos estabelecimentos penais. 
2
 Publicação no Diário Oficial da União de 7/5/2010, seção 1, p.28. 
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carcerária, contribuem para essa lentidão. Eventos como este Seminário trazem à reflexão 
problemas e perspectivas, no processo de implementação das políticas necessárias ao 
cumprimento do direito à educação dos jovens e adultos em situação de privação de liberdade. 
Retomo aqui alguns aspectos conceituais e normativos, contidos no Parecer e na Resolução das 
Diretrizes do CNE, que considero relevantes para essa reflexão visando ao avanço nas políticas 
públicas, face à realidade social brasileira contemporânea. 
 
2. O contexto sociocultural de “crime e castigo” na sociedade brasileira 
A violência tornou-se uma ameaça a todos no Brasil, apesar de incidir mais sobre 
determinados grupos da população. Cada ano, no país, são assassinadas mais de quarenta mil 
pessoas, sendo o segmento jovem do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, a maior vítima. A 
violência nos defronta com a força (alheia) diante de nossa impotência, degradando e 
humilhando. É imposição pela força e destituição de direitos. Nossa sociedade é marcada por 
muita violência social. Tem a ver com a morte social que resulta da injustiça, pobreza, 
desigualdade, repressão, marginalização e maldade humanas. 
A sociedade estabelece diretrizes para o comportamento socialmente aceitável, a partir 
de valores e modelos que definem o padrão axiológico básico do sistema social. O crime é a 
violação desse comportamento aceitável, previsto na lei. Do ponto de vista jurídico, o crime é 
sempre uma conduta humana proibida pela lei; acontece quando houver ação ou omissão de 
agente contrária a preceito legal, que caracteriza a antijuridicidade3. 
Diante da situação, como reage a sociedade? A polícia e os sistemas penitenciários, 
instituições sociais diretamente confrontadas com o problema na função de controle social, 
estão falidas. Há uma ineficiência geral da polícia, que se constitui em máquina pesada e lenta, 
onde há pouca inteligência operacional, cuja imagem institucional se encontra deteriorada, sem 
o respeito e a confiança da população. O sistema penitenciário é um espaço de degradação e 
 
3
 Os quatro elementos para caracterizar o crime são: ação ou omissão (conduta do agente), antijuridicidade (ação 
ou omissão contrária a preceito legal), tipicidade (correlação entre ação/omissão do agente e ação/omissão 
proibida por lei) e culpabilidade (dolo direto quando o agente quer o risco ou dolo indireto quando ele assume o 
risco de produzir o resultado; culpa quando o agente produz o resultado por negligência, imperícia ou 
imprudência). 
 
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um ambiente hostil a qualquer aprimoramento humano e, por isso, chamado de “escola do 
crime”. Em vez de encontrar auxílio e força para reinserir-se na sociedade, o trauma vivido 
dentro da cadeia agrava mais a dimensão psicológica do indivíduo, gerando ressentimentos. 
Não há um programa grande e estruturado de reabilitação de criminosos para que deixem a 
vida do crime. As penitenciárias apresentam precariedade na infraestrutura, (problemas de 
superlotação, insalubridade e higiene) e nas condições de trabalho dos agentes penitenciários 
(sem a devida formação e valorização profissional). A superação de tais problemas depende de 
um novo pacto social com participação, transparência que gere credibilidade entre as 
instituições policiais e de segurança e a sociedade. Isso, por sua vez, dependerá da identificação 
da lógica do sistema atual e da afirmação, tanto no imaginário quanto nas instituições sociais, 
de uma nova concepção de segurança – segurança humana – em substituição à desgastada 
concepção de segurança pública vigente. Cadeia não é para resolver problemas sociais. Isso se 
deve fazer por meio de políticas públicas, nas quais o Estado precisa assumir sua 
responsabilidade. A visão vigente de segurança pública é compartilhada pelo imaginário 
popular e conta com apoio acrítico da sociedade que lhe dá legitimidade. A solução aos 
problemas da violência e de enfrentamento da criminalidade, nessa visão, está nos métodos 
repressivos e a expectativa da população é a da melhoria do aparato repressivo4. O sistema 
prisional encontra-se assim porque a sociedade concorda com isso, segundo se pode deduzir da 
argumentação da opinião pública. Quer ver mais sofrimento na prisão. Para ela, o 
encarceramento vai resolver os problemas de segurança. É a presença de traços culturais do 
passado ainda não superados ou recriados. Embora tenhamos passado da primitiva vingança 
para o direito, ainda predomina, entre nós, a ideia básica de crime e castigo anterior, quando as 
prisões eram mais castigo do que correção ou recuperação5. O senso comum vingativo, baseado 
na Lei do Talião de cerca de 4.000 anos atrás, ainda serve como solução. 
 
4
 Esse contexto é terreno fértil para a disseminação e adesão ao discurso contra os direitos humanos, que promove 
uma grave distorção ao classificá-los com diferentes expressões como “direitos de bandidos”, “protetores dos 
bandidos”, “Direitos Humanos só serve para bandido”, “Bandido bom é bandido morto”,contrapondo a pergunta 
sobre “qual o direito das vítimas?”. Interpreto esse fenômeno como argumentação ideológica preconceituosa que 
estigmatiza os defensores dos direitos humanos reduzindo tais direitos a questões do campo criminal encobrindo-
se destarte questões sociais relevantes (outros direitos) que compõe o amplo espectro de preocupação dos 
direitos humanos. 
5 A ideia de transformar as prisões em centros de recuperação de delinquentes nocivos à sociedade, em superação 
ao seu papel de lugar de castigo da Antiguidade, surgiu na Idade Moderna, no século XVIII, com a criação da pena 
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A cultura se compõe das ideias, dos valores, das práticas e dos objetos materiais, 
socialmente transmitidos, que criamos para nos ajudar a lidar com questões concretas 
possibilitando nossa adaptação aos nossos ambientes. Ela é passada de geração em geração, é 
amplamente compartilhada pelos membros de uma sociedade, por meio da comunicação e da 
aprendizagem. Mas isso não significa que simplesmente recebemos as crenças, símbolos e 
valores da sociedade, pois produzimos e interpretamos nossa cultura, adaptando-a às nossas 
próprias necessidades. As pessoas e grupos sociais sempre mudam as ideias, de forma a torná-
las significativas para si próprias. Criamos elementos de cultura em nossas vidas cotidianas para 
resolver problemas de ordem prática e expressar nossas necessidades, esperanças, 
inseguranças e medos. Ante o medo coletivo diante da violência encontra-se a solução para 
minorá-lo projetando-se a causa do mal sobre os criminosos e o seu combate pelo sistema 
punitivo à moda antiga. Com o objetivo de assegurar a conformidade com nossa cultura 
criamos nosso sistema de controle social, estabelecendo recompensas e punições. 
Para sustentar o argumento de que é necessário mudar a cultura, sintetizada na noção 
de uma solução autoritária para o problema da violência/segurança, que abrange a visão 
estritamente punitiva em relação ao tratamento dos encarcerados, trago à análise algumas 
colocações que considero simples: 
a) A pessoa não nasce, mas torna-se bandida 
Estão superados, na ciência, os argumentos do determinismo biológico, 
desenvolvidos no Brasil nas duas primeiras décadas do século XX, quando se 
acreditava haver uma relação determinável entre as características morfológicas, 
físicas e psíquicas de cada ser humano e que se poderia descobrir a predisposição de 
determinados indivíduos em relação a enfermidades e ao crime, por meio de análises 
bioquímicas e da endocrinologia, que pudessem interferir em certas alterações 
constitucionais de temperamento e do caráter. Dentro da mesma visão aparece a 
biotipologia criminal, que se pretendia capaz de identificar sinais de um biótipo 
criminoso nos indivíduos. Tem por fundamento a mesma ideia do determinismo 
 
de encarceramento sendo o ato de punir um direito da sociedade de se defender contra os que constituem um 
risco à vida e à propriedade de outrem. Hoje, teoricamente, a prisão cumpre com três funções: a) punir; b) 
defender a sociedade isolando o malfeitor; c) corrigir o culpado para reinseri-lo na sociedade. 
 
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biológico. A tendência era a de valorização dos aspectos biológicos em detrimento 
dos fatores sociais na explicação do comportamento criminoso. (PARECER CNE/CEB 
Nº 4/2010, p.4). 
Portanto as causas pelas quais os indivíduos cometem crimes devem ser buscadas 
na sociedade, onde os seres humanos se constroem com as experiências e aprendizados. 
Nesse processo que se desenvolve socialmente, na estrutura social, indivíduos são 
transformados em marginais. Certamente as grandes diferenças nas taxas de criminalidade 
entre países, em estruturas sociais distintas, comprova esse argumento: em 2008, a taxa de 
homicídios, no Brasil, era de 26,4 para cada 100 mil habitantes enquanto em outros países 
como a Islândia, por exemplo, era de 1,8. 
b) Compreender a lógica do sistema atual para transformar a cultura punitiva (crime 
e castigo) numa cultura social e institucional preventiva da criminalidade 
A redução do número de vítimas é que importa e, para isso, é necessário diminuir a 
produção social de delinquentes. A identificação e análise crítica dos elementos que 
compõe a lógica do atual sistema de segurança (polícia/prisão), com base no 
entendimento das razões que levam à formação da criminalidade, deve deslocar o 
foco das políticas públicas reducionistas, voltadas a intensificar a severidade da 
punição, para concentrar-se em medidas preventivas que solucionem a formação da 
criminalidade. É necessário romper-se o circulo vicioso da produção continuada de 
vítimas. Na medida em que fecharmos a torneira de formação de criminosos, 
diminuiremos o atual crescente contingente de vítimas. A pessoa vai presa depois 
que alguém já foi lesado. A preocupação com a punição é insuficiente. Apenas 
punição não resolve o problema, somente o posterga. Construir mais presídios, com 
infraestrutura adequada, é importante e necessário, mas não evita que mais pessoas 
se transformem em marginais. É preciso inverter a lógica e a cultura da punição pela 
cultura da prevenção, portanto, fortalecendo o campo dos direitos. A lei do “dente 
por dente, olho por olho” faz parte da sociedade violenta e não removerá o trauma 
das vítimas que continuarão a ser multiplicadas. A lógica que se impõe é deslocar o 
olhar para os fatores preventivos da criminalidade. 
 
 
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c) Melhoria do sistema punitivo nos estabelecimentos penais mediante nova cultura 
de reabilitação e de humanização 
A política penitenciária de países desenvolvidos, onde podem ser observados resultados de 
sucesso como, por exemplo, a Suécia, tem concentrado seus esforços em reabilitação e 
prevenção de reincidência. A reabilitação dos presos contribui para a redução da 
criminalidade. Ali vem acontecendo o fechamento de prisões. 
O que se defende, para o Brasil, é a aplicação do sistema de punição que respeite o direito 
dos encarcerados a um tratamento digno em instalações adequadas e humanamente 
aceitáveis, orientado para conseguir sua reabilitação e reinserção na sociedade, diminuindo-
se o risco de reincidência. É preciso explorar mais as potencialidades dos encarcerados. 
Nesta perspectiva que se insere o direito e a necessidade da implantação da educação de 
jovens e adultos nos termos do Parecer CNE/CEB nº 4/2014 e da Resolução nº 2/2010, do 
Conselho Nacional de Educação. 
A necessidade da mudança sociocultural, até aqui apregoada, vem contida no 
mencionado Parecer, de cujo texto destacamos e reproduzimos as seguintes passagens 
ilustrativas. 
a) Precariedade histórica no sistema prisional brasileiro 
O Brasil é um país com grandes problemas no campo prisional. Esse não é um 
fenômeno recente e se manifesta vinculado à insegurança pública devido ao 
crescimento da violência e sua falta de solução, que implica na inexistência de 
políticas públicas adequadas que deveriam estender-se da promoção social à 
punição justa. Esse crescimento descontrolado da violência ultrapassa a capacidade 
de absorção existente no sistema prisional brasileiro que não vem dando conta da 
população carcerária que lhe é destinada e não sabe lidar com ela. Em geral os 
presos recebemum tratamento aviltante e retornam à sociedade mais degradados 
do que quando entraram na prisão. (p.3) 
 
b) Prisões associadas à cultura social 
As prisões são produto da cultura humana e representam as contradições e tensões 
que afetam a sociedade. Elas refletem, reproduzem ou subvertem estruturas sociais. 
Pode-se afirmar que a violência, a crueldade e a indiferença aos maus tratos, enfim, 
a tratamento indigno dispensado à população carcerária que caracteriza sua 
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desumanização tem vínculos com as culturas sobre a punição: “Bandido não carece 
de proteção do Estado” é um discurso que tem suas raízes neste caldo de cultura que 
está presente no sistema penitenciário e na sociedade brasileira. (p.5) 
 
c) Duas lógicas opostas (educação x segurança) devem convergir para a reabilitação 
e reinserção social 
Essa visão também atinge a oferta de educação nas prisões. O direito à educação é 
visto e tratado como um benefício e até um privilégio, qualquer ação positiva para os 
presos significa premiar o comportamento criminoso. Pode-se observar duas lógicas 
opostas: a da educação que busca a emancipação e a promoção da pessoa e a da 
segurança que visa a manter a ordem e a disciplina por meio de um controle 
totalitário e violento subjugando os presos. São procedimentos nada educativos. A 
natureza do estabelecimento penal, como funciona hoje, é hegemonicamente mais 
punição do que recuperação do apenado. A educação fica minimizada em seu 
potencial de recuperação das pessoas encarceradas. Além disso, dificulta a prática 
educativa. É necessário mudar-se a cultura, o discurso e a prática para compatibilizar 
a lógica da segurança (de cerceamento) com a lógica da educação (de caráter 
emancipatório), pois ambas são convergentes quanto aos objetivos da prisão: a 
recuperação e a reinserção social dos presos. (p.5) 
 
d) Programas de formação para mudar a cultura 
Para alcançar essa mudança, tornam-se relevantes programas de formação para 
educadores, gestores, técnicos e agentes penitenciários que auxiliem na 
compreensão das especificidades e da importância das ações de educação nos 
estabelecimentos penais. No que se refere aos agentes penitenciários, trata-se de 
competência do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), do 
Ministério da Justiça, que já prevê esta ação na mencionada Resolução nº 3, de 6 de 
março de 2009. Certamente, a abordagem de temas como direitos humanos e de 
combate ao racismo, sexismo, homofobia, lesbofobia, intolerância religiosa, entre 
outras discriminações, contribuirá para se alcançar essa pretendida mudança 
cultural. A inclusão dessa temática nos programas de ensino é da alçada dos 
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projetos político-pedagógicos uma vez que a lei já prevê essa possibilidade para toda 
a Educação Básica. (p.6) 
 
e) Tempo na prisão é oportunidade para elevar baixo nível de educação e possibilitar 
a reinserção social 
Certamente, a falta de acesso à educação da população carcerária brasileira tem 
contribuído para o processo de exclusão social já anterior à prisão: 11,8% são 
analfabetos e 66% não chegaram a concluir o Ensino Fundamental. O tempo que 
passam na prisão (mais da metade cumpre penas superiores a 9 anos) seria uma boa 
oportunidade para se dedicar à educação sobretudo quando a maioria (73,83%) são 
jovens com idade entre 18 e 34 anos. Mas o aproveitamento de tal oportunidade 
ainda não se deu. Apenas 10,35% dos internos estão envolvidos em atividades 
educacionais oferecidas nas prisões. 
Torna-se importante lembrar, aqui, a importância do fortalecimento e da 
qualificação da Educação Básica, na idade própria, para reduzir a necessidade de sua 
ampliação nos sistemas carcerários... (p.7) 
 
f) Políticas diferenciadas e pontuais justificam a necessidade de orientação por meio 
de diretrizes político-pedagógicas nacionais 
Não existe no país uma experiência homogênea nacional de educação nas prisões, 
nem existe uma política nacional para implementação da Lei de Execução Penal. Nas 
diversas regiões as experiências são diferenciadas, isoladas e não respondem a 
diretrizes politico-pedagógicas nacionais para os apenados. Necessita-se da 
implementação de ações como uma política de estado. A oferta de educação nos 
estabelecimentos penais é importante para mudar a atual cultura de prisão. São 
razões que fortalecem as justificativas de elaboração de Diretrizes Nacionais para a 
oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade. 
 
g) Necessidade de presença da sociedade para mobilização, transparência e controle 
social 
Observa-se também um alheamento da sociedade em relação ao que acontece nas 
prisões, sobretudo em relação ao direito à educação daqueles que se encontram 
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nessa situação. Há uma reduzida mobilização da sociedade neste sentido. Sua 
sensibilização sobre os direitos educativos das pessoas encarceradas poderá ajudar a 
mudar o quadro atual. A presença da sociedade civil no ambiente prisional torna-se 
importante para o controle social que poderá ser fortalecido com a produção de 
informações sobre o assunto e as políticas de oferta de educação para as pessoas em 
situação de privação de liberdade. (p.7) 
 
h) Crescente população carcerária e falta de vagas nas prisões 
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional do Mistério da Justiça – 
DEPEN/MJ (2009), o Brasil possuia 469.546 presos distribuídos em 1.771 unidades 
penais do país, porém, milhares deles ainda estão em delegacias de polícia. Estima-
se que de cada 100 mil habitantes no Brasil, 247 estavam encarcerados. 
A população carcerária no Brasil cresce de forma assustadora. Nos últimos nove 
anos (2000 a 2009), esse contingente aumentou 101,73%, saltando de 232.755 
internos (dados de 2000) para 469.546 (dados de 2009). 
O déficit atual é de 170.154 vagas no sistema penitenciário brasileiro – quase 1/3 do 
total nacional de vagas existentes. (p.8-9) 
 
i) Perfil dos internos: maioria jovens, sexo masculino, baixa escolaridade 
Os estudos sobre o perfil do interno penitenciário brasileiro evidenciam que são em 
sua maioria: 73,83% jovens entre 18 a 34 anos — idade economicamente produtiva; 
93,51% do sexo masculino; 56,43% são pretos e pardos, com uma escolaridade 
deficiente (65,71% não completaram o ensino fundamental) e oriundos de grupos 
menos favorecidos da população. 
14,65% estão na faixa entre 35 a 45 anos e 6,49% acima de 45 anos. 
7,71% são analfabetos. Somente 7,9% concluiu o ensino médio (destes, 0,68% possui 
o ensino superior incompleto, 0,38% o ensino superior completo e 0,02% pós-
graduação). (p.9) 
 
j) Direito à educação dos presos é direito humano 
Assim como para todos os jovens e adultos, o direito à educação para os jovens e 
adultos em situação de privação de liberdade é um direito humano essencial para a 
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realização da liberdade e para que esta seja utilizada em prol do bem comum. Desta 
forma, ao se abordar a educação para este público é importante ter claro que os 
reclusos, embora privados de liberdade, mantêm a titularidade dos demais direitos 
fundamentais, como é o caso da integridade física, psicológica e moral. O acesso ao 
direito à educação lhe deve ser assegurado universalmente na perspectivaacima 
delineada e em respeito às normas que o asseguram. (p.11) 
 
k) Panorama geral da educação em espaços de privação de liberdade, descrito por 
estudiosa do assunto 
O Estado brasileiro tem sido historicamente incompetente para prover educação e 
trabalho ao preso. Constroem-se unidades prisionais sem espaço para oficinas de 
trabalho. Constroem-se unidades prisionais sem escola. Existem escolas que não 
ensinam. A educação para o trabalho é absolutamente ignorada, quando existem 
recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) que podem ser utilizados para 
tal finalidade. (LEMGRUBER, 2004, p. 336) 
 
l) Panorama geral: poucas ações de ambientação e formação específica dos 
professores 
Somente alguns Estados realizam um processo de ambientação dos profissionais 
para atuarem no sistema penitenciário. A grande maioria, dependendo do estado, é 
composta por profissionais contratados, justificando a rotatividade constante de 
profissionais nas escolas, bem como a não consolidação de uma proposta político-
pedagógica. 
Poucos são os profissionais que atuam nas escolas intra-muros que participaram de 
um processo de formação continuada nos últimos anos. (p.21) 
 
m) A efetivação do direito público subjetivo depende da institucionalização da oferta 
de educação 
É importante destacar que a oferta de educação para jovens e adultos privados de 
liberdade nos estabelecimentos penais brasileiros é direito público subjetivo, dever 
do Estado e da sociedade e que somente por meio da institucionalização da oferta de 
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educação no sistema penitenciário se conseguirá efetivamente mudar a atual cultura 
da prisão, condição para satisfazer esse direito (p.25) 
 
3. O ordenamento normativo para a educação prisional 
A Resolução Nº 2, de 19 de maio de 2010, do Conselho Nacional de Educação, dispõe 
sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de 
privação de liberdade nos estabelecimentos penais. 
Por determinação legal, a Resolução das Diretrizes é mandatória, com força de lei, 
devendo ser observada e aplicada, no que couber, pelos sistemas de ensino. No caso, tem 
incidência especial nas ações desenvolvidas pelos Estados federados, aos quais incumbe a 
oferta de educação para jovens e adultos nos estabelecimentos penais, de acordo com o 
ordenamento jurídico educacional do país. 
O documento, adiante reproduzido, dialoga diretamente com a Resolução nº 3, de 6 de 
março de 2009, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) que dispõe 
sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação nos estabelecimentos penais, avocando 
para si a competência de normatização de tudo quanto se refere estritamente aos aspectos 
educacionais no processo de oferta de educação aos privados de liberdade nos 
estabelecimentos penais. A presente Resolução somente leva em consideração os aspectos de 
competência do CNE, enquanto a Resolução do CNPCP leva em consideração as suas 
competências (execução penal). 
 As “diretrizes” não tem o objetivo de “resolver” questões administrativas e nem 
questões de ordem da execução penal (de competência do CNPCP e não do CNE), mas sim 
questões de ordem da política de educação para o sistema penitenciário que sejam atribuição 
do órgão normativo da educação nacional. Procura apresentar elementos para a definição de 
uma política macro e não para particularidades regionais e/ou institucionais que deverão ser 
resolvidas localmente à luz das orientações contidas no Parecer e na Resolução. 
É indiscutível que a educação de jovens e adultos no país vem alcançando, nos últimos 
anos, enormes avanços no campo normativo e político. A edição das diretrizes nacionais trouxe 
o impulso e a orientação necessária para o avanço institucional nos sistemas de ensino, pela 
incorporação desse setor ainda bastante invisível para a sociedade e para os próprios sistemas 
de ensino. Ela vem conseguindo, em um ritmo particular, porém intenso, obter algumas 
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conquistas, deixando de ser um tema invisível, tornando-se ponto de pauta de governos e de 
eventos nacionais e internacionais. Enfim, tem conseguido visibilidade até pouco tempo atrás 
inimaginável. 
Embora seja possível destacar-se alguns avanços concretos, por outro lado, percebe-se a 
necessidade avanços, no campo normativo e, de modo especial, na implantação de programas 
concretos, pelos sistemas de ensino, que implementem o novo marco normativo, inclusive com 
a regulamentação do setor. Necessitamos investir na consolidação das diretrizes nacionais para 
a política de educação em espaço de privação de liberdade. Os estados precisam cumprir com 
sua obrigação e ter uma política regulamentada para estas ações no cárcere, ultrapassando a 
fase dos projetos isolados, sem fundamentação teórico-metodológica, sem qualquer 
continuidade administrativa, beirando o total improviso de espaço, gestão, material didático e 
atendimento profissional. 
Somente através da institucionalização nacional de uma política de educação para o 
sistema penitenciário, principalmente privilegiando as ações educacionais em uma proposta 
político-pedagógica de execução penal como programa de reinserção social, se conseguirá 
efetivamente mudar a atual cultura da prisão. 
 
RESOLUÇÃO Nº 2, de 19 de maio de 2010 
Dispõe obre as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação 
para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos 
estabelecimentos penais. 
O PRESIDENTE DA CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO CONSELHO 
NACIONAL DE EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições legais, e de conformidade com o 
disposto na alínea “c” do parágrafo 1º do artigo 9º da Lei nº 4.024/61 com a redação dada 
pela Lei nº 9.131/95, nos artigos 36, 36-A, 36-B, 36-C, 36-D, 37, 39, 40, 41 e 42 da Lei nº 
9.394/96 com a redação dada pela Lei nº 11.741/2008, bem como no Decreto nº 5.154/2004, e 
com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 4/2010, homologado por Despacho do Senhor 
Ministro da Educação, publicado no DOU de 07 de maio de 2010, 
CONSIDERANDO as responsabilidades do Estado e da sociedade para garantir o 
direito à educação para jovens e adultos nos estabelecimentos penais e a necessidade de 
norma que regulamente sua oferta para o cumprimento dessas responsabilidades; 
CONSIDERANDO as propostas encaminhadas pelo Plenário do I e II Seminários 
Nacionais de Educação nas Prisões; 
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CONSIDERANDO a Resolução nº 3, de 6 de março de 2009, do Conselho Nacional 
de Política Criminal e Penitenciária, que dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta 
de educação nos estabelecimentos penais; 
CONSIDERANDO o Protocolo de Intenções firmado entre os Ministérios da Justiça 
e da Educação com o objetivo de fortalecer e qualificar a oferta de educação em espaços de 
privação de liberdade; 
CONSIDERANDO o disposto no Plano Nacional de Educação (PNE) sobre 
educação em espaços de privação de liberdade; 
CONSIDERANDO que o Governo Federal, por intermédio dos Ministérios da 
Educação e da Justiça tem a responsabilidade de fomentar políticas públicas de educação 
em espaços de privação de liberdade, estabelecendo as parcerias necessárias com os 
Estados, Distrito Federal e Municípios; 
CONSIDERANDO o disposto na Constituição Federal de 1988, na Lei nº 7.210/84, 
bem como na Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, do Conselho Nacional de 
Política Criminal e Penitenciária,que fixou as Regras Mínimas para o Tratamento do 
Preso no Brasil; 
CONSIDERANDO o que foi aprovado pelas Conferências Internacionais de 
Educação de Adultos (V e VI CONFINTEA) quanto à “preocupação de estimular 
oportunidades de aprendizagem a todos, em particular, os marginalizados e excluídos”, por 
meio do Plano de Ação para o Futuro, que garante o reconhecimento do direito à 
aprendizagem de todas as pessoas encarceradas, proporcionando-lhes informações e acesso 
aos diferentes níveis de ensino e formação; 
CONSIDERANDO que o projeto "Educando para a Liberdade", fruto de parceria 
entre os Ministérios da Educação e da Justiça e da Representação da UNESCO no Brasil, 
constitui referência fundamental para o desenvolvimento de uma política pública de 
educação no contexto de privação de liberdade, elaborada e implementada de forma 
integrada e cooperativa, representa novo paradigma de ação a ser desenvolvido no âmbito 
da Administração Penitenciária; 
CONSIDERANDO, finalmente, as manifestações e contribuições provenientes da 
participação de representantes de organizações governamentais e de entidades da 
sociedade civil em reuniões de trabalho e audiências públicas promovidas pelo Conselho 
Nacional de Educação; 
 
RESOLVE: 
 
Art. 1º Ficam estabelecidas as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para 
jovens e adultos privados de liberdade em estabelecimentos penais, na forma desta 
Resolução. 
Art. 2º As ações de educação em contexto de privação de liberdade devem estar 
calcadas na legislação educacional vigente no país, na Lei de Execução Penal, nos tratados 
internacionais firmados pelo Brasil no âmbito das políticas de direitos humanos e privação 
de liberdade, devendo atender às especificidades dos diferentes níveis e modalidades de 
educação e ensino e são extensivas aos presos provisórios, condenados, egressos do sistema 
prisional e àqueles que cumprem medidas de segurança. 
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Art. 3º A oferta de educação para jovens e adultos em estabelecimentos penais 
obedecerá às seguintes orientações: 
I – é atribuição do órgão responsável pela educação nos Estados e no Distrito 
Federal (Secretaria de Educação ou órgão equivalente) e deverá ser realizada em 
articulação com os órgãos responsáveis pela sua Administração Penitenciária, exceto nas 
penitenciárias federais, cujos programas educacionais estarão sob a responsabilidade do 
Ministério da Educação em articulação com o Ministério da Justiça, que poderá celebrar 
convênios com Estados, Distrito Federal e Municípios; 
II – será financiada com as fontes de recursos públicos vinculados à manutenção e 
desenvolvimento do ensino, entre as quais o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da 
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), destinados à 
modalidade de Educação de Jovens e Adultos e, de forma complementar, com outras fontes 
estaduais e federais; 
III – estará associada às ações complementares de cultura, esporte, inclusão digital, 
educação profissional, fomento à leitura e a programas de implantação, recuperação e 
manutenção de bibliotecas destinadas ao atendimento à população privada de liberdade, 
inclusive as ações de valorização dos profissionais que trabalham nesses espaços; 
IV – promoverá o envolvimento da comunidade e dos familiares dos indivíduos em 
situação de privação de liberdade e preverá atendimento diferenciado de acordo com as 
especificidades de cada medida e/ou regime prisional, considerando as necessidades de 
inclusão e acessibilidade, bem como as peculiaridades de gênero, raça e etnia, credo, idade 
e condição social da população atendida; 
V – poderá ser realizada mediante vinculação a unidades educacionais e a 
programas que funcionam fora dos estabelecimentos penais; 
VI – desenvolverá políticas de elevação de escolaridade associada à qualificação 
profissional, articulando-as, também, de maneira intersetorial, a políticas e programas 
destinados a jovens e adultos; 
VII – contemplará o atendimento em todos os turnos; 
VIII – será organizada de modo a atender às peculiaridades de tempo, espaço e 
rotatividade da população carcerária levando em consideração a flexibilidade prevista no 
art. 23 da Lei nº 9.394/96 (LDB). 
Art. 4º Visando à institucionalização de mecanismos de informação sobre a 
educação em espaços de privação de liberdade, com vistas ao planejamento e controle 
social, os órgãos responsáveis pela educação nos Estados e no Distrito Federal deverão: 
I – tornar público, por meio de relatório anual, a situação e as ações realizadas para 
a oferta de Educação de Jovens e Adultos, em cada estabelecimento penal sob sua 
responsabilidade; 
II – promover, em articulação com o órgão responsável pelo sistema prisional nos 
Estados e no Distrito Federal, programas e projetos de fomento à pesquisa, de produção de 
documentos e publicações e a organização de campanhas sobre o valor da educação em 
espaços de privação de liberdade; 
III – implementar nos estabelecimentos penais estratégias de divulgação das ações 
de educação para os internos, incluindo-se chamadas públicas periódicas destinadas a 
matrículas. 
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Art. 5º Os Estados, o Distrito Federal e a União, levando em consideração as 
especificidades da educação em espaços de privação de liberdade, deverão incentivar a 
promoção de novas estratégias pedagógicas, produção de materiais didáticos e a 
implementação de novas metodologias e tecnologias educacionais, assim como de 
programas educativos na modalidade Educação a Distância (EAD), a serem empregados no 
âmbito das escolas do sistema prisional. 
Art. 6º A gestão da educação no contexto prisional deverá promover parcerias com 
diferentes esferas e áreas de governo, bem como com universidades, instituições de 
Educação Profissional e organizações da sociedade civil, com vistas à formulação, execução, 
monitoramento e avaliação de políticas públicas de Educação de Jovens e Adultos em 
situação de privação de liberdade. 
Parágrafo Único. As parcerias a que se refere o caput deste artigo dar-se-ão em 
perspectiva complementar à política educacional implementada pelos órgãos responsáveis 
pela educação da União, dos Estados e do Distrito Federal. 
Art. 7º As autoridades responsáveis pela política de execução penal nos Estados e 
Distrito Federal deverão, conforme previsto nas Resoluções do Conselho Nacional de 
Política Criminal e Penitenciária, propiciar espaços físicos adequados às atividades 
educacionais, esportivas, culturais, de formação profissional e de lazer, integrando-as às 
rotinas dos estabelecimentos penais. 
Parágrafo Único. Os Estados e o Distrito Federal deverão contemplar no seu 
planejamento a adequação dos espaços físicos e instalações disponíveis para a 
implementação das ações de educação de forma a atender às exigências desta Resolução. 
Art. 8º As ações, projetos e programas governamentais destinados a EJA, incluindo 
o provimento de materiais didáticos e escolares, apoio pedagógico, alimentação e saúde dos 
estudantes, contemplarão as instituições e programas educacionais dos estabelecimentos 
penais. 
Art. 9° A oferta de Educação Profissional nos estabelecimentos penais deverá seguir 
as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, 
inclusive com relação ao estágio profissional supervisionado concebido como ato educativo. 
Art. 10 As atividades laborais e artístico-culturais deverão ser reconhecidas e 
valorizadas como elementos formativos integrados à oferta de educação, podendoser 
contempladas no projeto político-pedagógico como atividades curriculares, desde que 
devidamente fundamentadas. 
Parágrafo Único. As atividades laborais, artístico-culturais, de esporte e de lazer, 
previstas no caput deste artigo, deverão ser realizadas em condições e horários compatíveis 
com as atividades educacionais. 
Art. 11 Educadores, gestores e técnicos que atuam nos estabelecimentos penais 
deverão ter acesso a programas de formação inicial e continuada que levem em 
consideração as especificidades da política de execução penal. 
§ 1º Os docentes que atuam nos espaços penais deverão ser profissionais do 
magistério devidamente habilitados e com remuneração condizente com as especificidades 
da função. 
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§ 2º A pessoa privada de liberdade ou internada, desde que possua perfil adequado e 
receba preparação especial, poderá atuar em apoio ao profissional da educação, 
auxiliando-o no processo educativo e não em sua substituição. 
Art. 12 O planejamento das ações de educação em espaços prisionais poderá 
contemplar, além das atividades de educação formal, propostas de educação não-formal, 
bem como de educação para o trabalho, inclusive na modalidade de Educação a Distância, 
conforme previsto em Resoluções deste Conselho sobre a EJA. 
§ 1º Recomenda-se que em cada unidade da federação as ações de educação formal 
desenvolvidas nos espaços prisionais sigam um calendário unificado, comum a todos os 
estabelecimentos. 
§ 2º Devem ser garantidas condições de acesso e permanência na Educação Superior 
(graduação e pós-graduação), a partir da participação em exames de estudantes que 
demandam esse nível de ensino, respeitadas as normas vigentes e as características e 
possibilidades dos regimes de cumprimento de pena previstas pela Lei n° 7.210/84. 
Art. 13 Os planos de educação da União, dos Estados, do Distrito Federal e 
Municípios deverão incluir objetivos e metas de educação em espaços de privação de 
liberdade que atendam as especificidades dos regimes penais previstos no Plano Nacional 
de Educação. 
Art. 14 Os Conselhos de Educação dos Estados e do Distrito Federal atuarão na 
implementação e fiscalização destas Diretrizes, articulando-se, para isso, com os Conselhos 
Penitenciários Estaduais e do Distrito Federal ou seus congêneres. 
Parágrafo Único. Nas penitenciárias federais a atuação prevista no caput deste 
artigo compete ao Conselho Nacional de Educação ou, mediante acordo e delegação, aos 
Conselhos de Educação dos Estados onde se localizam os estabelecimentos penais. 
Art. 15 - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se 
quaisquer disposições em contrário.

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