Buscar

Conteudo Online Aspectos Antropológicos e Sociolócigos da Educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 58 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 58 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 58 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1 
 
Aula 01 – Antropologia e Cultura 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
• analisar o campo da antropologia no âmbito das ciências sociais, seu objeto de 
estudo e seus métodos; 
 
• definir homem, cultura, raça, etnia, evolução humana, etnocentrismo e 
relativismo cultural; 
 
• discutir o papel dos mitos, das religiões e da ideologia como sistemas culturais e 
suas funções como ferramentas educativas. 
 
 
Frequentemente ouvimos falar em Cultura. Em geral, utilizamos os termos Culto e 
Inculto quando nos referirmos ao nível de conhecimento formal das pessoas. Mas, o que 
é cultura? É correto comparar os indivíduos utilizando esse tipo de critério? Esse tema 
será abordado nesta aula. 
 
Vamos iniciar com a explicitação do que é a Antropologia. Em seguida, veremos que 
nem os antropólogos conseguem atingir um consenso quando se trata da definição de 
Cultura, pois há mais de 160 definições diferentes para esse termo. 
 
Vamos estudar também as definições de Homem, Raça, Etnia e Evolução Humana, 
conceitos considerados básicos para um bom entendimento da nossa disciplina. Por fim, 
analisaremos de que forma o mito, a religião e a ideologia podem se configurar como 
ferramentas educativas. 
 
A Antropologia, como um saber científico formulado pelo homem sobre o próprio 
homem, é algo recente, que remonta ao início do século XIX, na Europa. Em seus 
primórdios, preocupava-se com o “Outro”, mas a análise era feita sempre a partir dos 
valores e perspectivas europeus. 
Para explicar as diferenças entre as muitas sociedades e instituições, principalmente 
aquelas dos “povos exóticos”, a Antropologia desenvolveu uma metodologia própria 
baseada, inicialmente, em relatos e, posteriormente, em observação direta. 
2 
 
• Relatos de viajantes, missionários, militares, administradores coloniais etc. 
 
• Observação direta feita por profissionais especializados em trabalhos de campo. 
 
 
Para começar a pensar antropologicamente, é necessário que você conheça a definição 
de Homem. 
 
Em uma definição geral, o Homem é um animal portador de cultura. Ele tem o domínio 
da linguagem e do fogo, usa ferramentas, institui a família, proíbe o incesto, inventa 
mitos, rituais, religiões e ciências. 
Ao contrário dos outros animais, o ser humano elabora, compartilha e transmite cultura 
aos seus descendentes. Se os outros animais agem orientados pelos instintos, o animal 
humano ofusca os instintos através do desenvolvimento da cultura. 
 
A seguir, você conhecerá conceitos e definições fundamentais à compreensão do 
tema Antropologia. 
Outra definição importante é a de Cultura. Apesar de praticarem e transmitirem a 
cultura, nem sempre os seres humanos se esforçaram por defini-la e analisá-la. 
A palavra tem origem no vocábulo latino colere e possuía denotação de cultivo das 
plantas, de cuidado com os animais e a terra, cuidado com as crianças e com sua 
educação, cuidado com os deuses, com os ancestrais e seus monumentos. 
Segundo Chauí (2004), cultura também podia significar cultivo do espírito, como a 
criação de obras de arte e a criação de obras da ciência e da filosofia. 
É esse sentido do termo que leva as pessoas a classificarem as outras como “cultas” e 
“incultas”, ao tomar como critério o acesso à educação formal, ao conhecimento 
científico e à familiaridade com as chamadas “belas artes”. 
De acordo com Lakatos e Marconi, “não há indivíduo humano desprovido de cultura 
exceto o recém-nascido e o homo ferus; um porque ainda não sofreu o processo de 
endoculturação, e o outro, porque foi privado do convívio humano” (1999: p. 131). 
Podemos inferir que a classificação mencionada acima é aceita em termos de senso 
comum, não tendo respaldo em nenhuma teoria científica que mereça credibilidade. 
De acordo com Tomazi (2000), o primeiro a criar uma definição de cultura foi Edward 
Tylor (Inglaterra 1832 – 1917), ao juntar na palavra inglesa culture os sentidos que, no 
3 
 
final do século XVII e início do século XVIII, eram carregados pela palavra alemã 
kultur (Aspectos espirituais de uma comunidade) e pela palavra francesa civilization 
(Realizações materiais de um povo). 
Para esse autor, em seu livro Primitive Culture de 1871, “Cultura ... tomada em seu 
sentido etnográfico amplo é o todo 
complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras 
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. 
Definição de cultura, na concepção de Tylor, é aprendida e não transmitida 
geneticamente, esse aprendizado se dá por meio da comunicação e da linguagem. Fica 
explícita também a oposição entre natureza e cultura, sendo a cultura considerada 
superior à primeira. 
A partir de então, Cultura tornou-se um conceito central na Antropologia e nas outras 
Ciências Sociais e, em decorrência disso, houve uma proliferação de definições. 
Num texto de 1952, intitulado Culture: a critical revew of concepts and definitions, A. 
L. Kroeber e C. Kluckhohn fizeram a análise de 160 definições em inglês concebidas 
por antropólogos, sociólogos, psicólogos, psiquiatras e outros. 
 
Evolução 
 
No século XIX, o pensamento social foi muito influenciado pela Teoria da Evolução 
das Espécies de Charles Darwin. 
Vários foram os pensadores que viam nas sociedades um movimento semelhante ao 
observado nos organismos. 
Para esses estudiosos, a sociedade evoluiria, natural e necessariamente de um estágio 
primitivo (As sociedades ditas “simples”, como as indígenas do Brasil, as tribos 
africanas, etc.), para um estágio avançado (As sociedade ditas “complexas”, ou seja, a 
Europa industrializada). 
O darwinismo social serviu, como justificativa para a intervenção europeia 
(colonialismo) em sociedades da África, Ásia, América e Oceania. 
 
Etnia X Raça (definição e limitações do termo para tratar a humanidade) 
 
Os conceitos de raça e etnia são importantes, segundo Dias, porque configuram 
agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas características exteriores, sejam 
4 
 
estas culturais (Modo de vida, de falar, hábitos e costumes, etc. ) ou ainda físicas ou 
hereditárias (Cor da pele, formato dos olhos, nariz, boca, etc.). 
Isto favorece a identificação entre os membros, que se reconhecem como pertencentes a 
determinado grupo, ao mesmo tempo em que os diferencia de outros grupos. 
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais, o termo Etnia é utilizado na literatura 
antropológica, para designar um grupo social que se diferencia de outros grupos por sua 
especificidade cultural. Esse conceito liga-se aos conceitos de grupo étnico e de cultura 
e, muitas vezes, é usado como sinônimo de grupo étnico. 
Para Dias, a principal diferença entre os grupos étnicos é de ordem cultural. O termo 
Raça era utilizado para explicar diferenças de cor da pele e classificar os seres humanos. 
A Biologia, atualmente, reconhece a limitação do termo e admite que a classificação 
racial baseada no tipo físico é arbitrária. Características físicas como cor da pele, textura 
de cabelo, formato da cabeça e dos lábios não revelam diferenças relevantes a ponto de 
podermos dizer que, biologicamente, os seres humanos pertencem a raças diferentes. 
Do ponto de vista sociológico, raça é “uma população em que os membros 
compartilham certas características físicas herdadas”. Essas características os 
identificam socialmente. 
Da mesma forma que ocorre com a definição biológica, a definição de determinada raça 
do ponto de vista social depende de um critério de escolha da sociedade. 
Segundo Dias, não podemos afirmar que existe uma raça pura porque os seres humanos 
possuem uma origem comum e as diferenças visíveis são resultantes das adaptações 
ocorridas ao longo do tempo. 
 
Determinismo Biológico 
 
Existem doutrinasque afirmam que objetos e acontecimentos são e ocorrem de 
determinada maneira por serem regidos por leis ou forças que os fazem assim. Acredita-
se que a possibilidade de escapar do determinismo é mínima ou nula. 
De acordo com Laraia (1993), o determinismo biológico é um tipo de teoria que atribui 
capacidades ou incapacidades específicas, dadas geneticamente a raças ou a outros 
grupos humanos. 
 
 
 
5 
 
Determinismo Geográfico 
 
Esse conceito é relacionado ao aspecto geográfico, ou seja, o ambiente físico determina 
a cultura e, por isso, a diversidade cultural é dada pela diversidade geográfica. 
Esse tipo de crença existe desde a Antiguidade, mas, como teoria, se desenvolveu 
principalmente no final do século XIX e no início do século XX e pregava que o clima 
(Devido ao Brasil ter um clima quente, surgiu a crença de que é impossível fazer 
ciência nos trópicos e de que este país seria um país subdesenvolvido, inspirando mais 
a preguiça, a lascívia e o ócio.) era um fator importantíssimo na dinâmica do progresso. 
Para os antropólogos essas doutrinas nada têm de correto, pois pode-se observar que 
uma das características da espécie humana (Segundo Laraia (2004), o homem é um 
animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se 
transformou no mais temível dos predadores. Sem asas dominou os ares; sem guelras 
ou membranas próprias conquistou os mares. Tudo isso porque difere dos outros 
animais por ser o único que possui cultura (p. 24).) é a capacidade de romper as suas 
próprias limitações. 
 
Etnocentrismo: definição e exemplos. 
Etnocentrismo (A crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou 
mesmo, a sua única expressão” (Laraia, p. 75)) é um fenômeno universal originado no 
fato de que o ser humano, ao enxergar o mundo através das lentes de sua Cultura (A 
cultura, segundo Ruth Benedit, citada por Raquel Laraia, condiciona a visão de mundo 
do homem), passa a considerar o seu modo de vida como o mais correto e mais natural. 
 
 
 
 
6 
 
 
Relativismo Cultural 
 
Não existe, em termos de cultura, nem melhor nem pior, nem mais nem menos, nem 
superior nem inferior. Os padrões de beleza, de justiça, de moralidade etc., são relativos 
à cultura na qual os indivíduos estão inseridos. 
Existem diferenças no modo de pensar e de agir entre as diversas culturas que, segundo 
o relativismo cultural, devem ser respeitadas. Porém, muitas vezes essa posição tem 
sido encarada como descaso, apatia, em relação ao outro. 
O topless, tratado como caso de polícia em Ipanema é amplamente praticado nas areias 
de Ibiza, na Espanha. 
Achamos no mínimo estranho o costume das mulheres da Birmânia de colocar anéis 
metálicos para alongar os seus pescoços, mas consideramos normal aplicar próteses de 
silicone para aumentar certas partes do corpo. 
 
Relação entre Cultura e Educação 
Cultura é uma produção exclusivamente humana. A partir daí percebemos que os mais 
velhos precisam transmitir a cultura para os membros mais novos, essa transmissão da 
cultura de uma geração à outra se dá pela educação. 
Por que é necessário transmitir cultura? 
Todas as sociedades concebem um padrão de homem, por isso é preciso formar os 
novos membros de acordo com esses modelos, pois, abandonado à própria sorte, um 
bebê nunca se tornará, efetivamente, parte integrante do grupo. 
Nem sempre a educação ocorre dentro de instituições sociais como a escola. Nem 
sempre os que ensinam são professores especializados em ensinar, formados em 
disciplinas específicas. Em sociedades tribais, por exemplo, todos ensinam e todos 
aprendem. 
Os homens são seres com capacidade para elaborar, manipular e transmitir símbolos e é 
da necessidade (Necessidade de aprender e ensinar) e do potencial (Potencial de 
elaborar, manipular e transmitir símbolos) que surgem os mitos, as religiões e as 
ideologias. 
Vamos conhecer agora os mitos, a religião e a ideologia como sistemas culturais e suas 
funções como ferramentas educativas desde as primeiras comunidades humanas. 
 
7 
 
Mitos 
 
 
 
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe de três formas. 
 
1. Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres. 
 
2. Encontrando uma rivalidade ou aliança entre os seres que fazem surgir alguma 
coisa no mundo. 
 
 
3. Encontrando as recompensas ou castigos que os deuses dão a quem lhes obedece 
ou desobedece. 
O mito aparece em todas as culturas. A seguir você terá mais informações sobre este 
tema. 
Chauí afirma que o mito possui três funções: 
1ª Função Explicativa: 
Explica o presente por alguma ação passada cujos efeitos persistiram no tempo. Como 
exemplo, a autora cita a crença de que uma constelação existe porque no passado 
crianças fugitivas e famintas morreram na floresta e foram levadas ao céu por uma 
deusa que as transformou em estrelas. 
8 
 
2ª Função Organizativa: 
Organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de poder, de sexo etc.), 
legitimando e garantindo a permanência de um sistema complexo de proibições e 
permissões. 
 
3ª Função Compensatória: 
Narra uma situação passada que é a negação do presente e que pode servir para 
compensar os homens de alguma perda ou para assegurar que um erro do passado foi 
corrigido no presente, oferecendo uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da 
vida comunitária. 
Segundo a autora, o mito tem caráter educativo porque, na narrativa, encontramos 
mensagens ou normas que acabam orientando os comportamentos necessários para a 
vida em grupo. 
De acordo com Meksenas (2000), há um mito muito difundido entre alguns índios do 
Brasil, no qual a origem da noite é atribuída à atitude de um grupo que, não obedecendo 
às tradições do seu povo, quebrou um coco proibido. Dali fugiu a noite, escurecendo 
toda a mata. Os deuses, sentindo piedade dos demais índios, devolveram-lhes a 
claridade do dia, mas com a condição de que agora seria sempre intercalada com um 
período noturno, para que todos se lembrassem do ocorrido. 
Não nos preocupando em saber se realmente a existência da noite pode ser explicada 
por esse mito ou pela ideia científica do movimento do globo terrestre, o que importa é 
saber que esse mito acaba sendo educativo porque ele fixa uma norma social: os perigos 
que podem aparecer a um grupo quando não se respeitam certas tradições ou o cuidado 
que devemos ter com o desconhecido. (p. 21) 
Apesar da nossa sociedade valorizar o pensamento científico, não podemos dizer que os 
mitos ficaram no passado. 
 De acordo com Chauí, o pensamento conceitual e o pensamento mítico podem coexistir 
na mesma sociedade. Para ela, A predominância de uma ou outra forma do pensamento 
depende, de um lado, das tendências pessoais e da história de vida dos indivíduos e, de 
outro, do modo como uma sociedade ou uma cultura recorrem mais à uma do que à 
outra forma para interpretar a realidade, intervir no mundo e explicar-se a si mesma. 
(2004, p. 164. 
 
Religião 
Religião= religio (Formata pelo prefixo re, que significa outra vez, de novo.) + ligare 
(Ligar, unir, vincular). 
9 
 
A religião é um vínculo entre o mundo profano (a natureza) e o mundo sagrado, isto é, a 
natureza habitada por divindades ou um mundo separado da natureza (Chauí, p. 253). 
 
É importante destacar que a religiosidade é um fenômeno encontrado em todas as 
sociedades conhecidas até hoje. Muitas religiões já existiram e diversas continuam 
existindo. 
O antropólogo se interessa pelo papel da religião na sociedade, mas não é papel da 
antropologia fazer julgamentos de valor sobre o conteúdo das religiões. 
Se a maioria das instituições sociais têm sua origem em necessidades materiais, a 
religião se dirige às indagações sobrenaturais doser humano. Questões como ‘Qual a 
minha missão nesse mundo?’ ‘De onde viemos?’ ‘O que ocorre depois da morte?’ são 
respondidas pelo discurso religioso. 
A religião tem função explicativa como o mito. Ela fornece explanações, por exemplo, 
de como surgiram o mundo, a natureza, os animais e os homens. 
Ela possibilita uma certa estabilidade social ao gerar paz de espírito e segurança aos 
indivíduos. Além disso, fornece normas que garantem a sobrevivência social. Acreditar 
em seres dotados de poderes sobrenaturais inspira respeito, temor e veneração, fazendo 
com que os indivíduos cumpram as regras. 
 
Ideologia 
Ideologia é um conjunto de convicções e conceitos (concretos e normativos) que 
pretende explicar fenômenos sociais complexos com o objetivo de orientar e simplificar 
as escolhas sócio-políticas que se apresentam a indivíduos e grupos. 
D. Tracy foi o primeiro autor a fazer uso do termo no sentido de estudo das ideias, no 
final do século XVIII, sendo empregado da mesma forma por vários autores franceses 
posteriormente, no século XIX. Ainda no século XIX, a palavra ideologia adquiriu 
conotação pejorativa, significando ideias abstratas e enganadoras. 
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895)vincularam a palavra à ideia de 
falsa consciência, de ideia distorcida e enganadora, baseada em ilusões, contrapondo-se 
às teorias ou opiniões científicas. 
A ideologia tem estreita ligação com a educação, pois alguns autores de influência 
marxista percebem a escola como um local onde se reproduzem as falsas consciências 
com o objetivo de manter o status quo. 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
Aula 02 – A Sociologia como Ciência Social 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
• demonstrar que o pensamento científico é uma criação da sociedade ocidental; 
 
• identificar que a sociologia teve origem em fatos históricos como a revolução 
industrial inglesa e a revolução francesa; 
 
• caracterizar o pensamento de Auguste Comte e a sua Sociologia: Positivismo. 
 
 
 
 
 
O ser humano é um animal que produz mitos, religiões, ideologias, enfim, cultura. Na 
tentativa de entender as coisas ao nosso redor, produzimos uma vasta gama de 
conhecimentos como o filosófico, o religioso, o de senso comum etc. 
12 
 
A sociedade ocidental produziu uma forma específica de explicar o mundo, chamada de 
ciência, ou seja, uma forma racional, objetiva, sistemática, metódica e refutável de 
formulação das leis que regem os fenômenos. 
Na sociedade ocidental, a ciência é a principal forma de construção da realidade, 
considerada por muitos críticos como um novo mito por pretender ser a única promotora 
e critério de verdade. 
A Sociologia é considerada uma ciência nova, pois foi criada no século XIX, na França, 
por um pensador chamado Auguste Comte (1798-1857). 
Algumas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais ocorridas desde 
meados do século XV contribuíram muito para a criação dessa ciência. A primeira delas 
foi o Renascimento. 
O Renascimento é o momento classificado por muitos estudiosos como a ruptura entre o 
mundo medieval e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. 
 
De acordo com Costa, existiam diversas visões do Renascimento. 
Existem pensadores que avaliaram positivamente aquele momento, ressaltando que as 
mudanças propiciaram o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos contatos 
com outros povos, bem como o crescimento urbano e o recrudescimento da produção 
artística e literária. 
Existem historiadores que perceberam aquela época como momento de grande 
turbulência social e política. As características marcantes do período foram a falta de 
unidade política e religiosa, os conflitos entre as nações que se formavam, as guerras 
intermináveis e as perseguições religiosas, na tentativa de conservar um mundo que 
agonizava. 
Havia, segundo Costa, um clima de fim de mundo visível nas obras artísticas da época, 
como na Divina Comédia de Dante Alighieri e no Juízo Final de Michelangelo. Para 
além dessas contradições, o fato é que, a partir de então, o homem ocidental passa a ter 
uma nova postura em relação à natureza e ao conhecimento. 
 
O fim do Teocentrismo e das explicações religiosas sobre os fatos possibilitou que 
aparecessem questões mais imediatistas e materiais, cujo foco principal era o homem. 
Ao abandonar as explicações sobrenaturais, os indivíduos passaram a utilizar a 
indagação racional e o método científico através da observação e experimentação. 
Foi no século XVI que ocorreu o movimento de Reforma Protestante. 
13 
 
De acordo com Quintaneiro, ao contestar a autoridade da Igreja como instância última 
na interpretação dos textos sagrados e na absolvição dos pecados, a Reforma colocou 
sobre o fiel essa responsabilidade e, instituindo o livre exame, fez da consciência 
individual o principal nexo com a divindade. 
 
Para Quintaneiro, “O espírito secular impregnou distintas esferas da atividade humana. 
Generalizou-se aos poucos a convicção de que o destino dos homens também depende 
de suas ações. Críticas à educação tradicional nas universidades católicas levaram à 
substituição do estudo da Teologia pelo da Matemática e da Química.” (2002, p. 13) 
No século XVII, surge o Racionalismo e fortalece a ideia de que o homem produz a 
história e não a Divina providência. Essa concepção fundamentava a ideia de que a 
sociedade podia ser compreendida porque, ao contrário da natureza, ela é obra dos 
próprios indivíduos. 
 
O pensamento filosófico desse século contribuiu para a popularização do pensamento 
científico. 
Segundo Francis Bacon, a Teologia perdeu o posto de norteadora do pensamento. 
A autoridade, que exatamente constituía um dos alicerces da teologia, deveria, em sua 
opinião, ceder lugar a uma dúvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento 
objetivo da realidade. 
Os pensadores desse período defenderam, assim, o emprego sistemático da razão e do 
livre exame da realidade. 
Outro movimento que contribuiu para a criação da Sociologia foi o Iluminismo, que 
teve início no século XVIII entre os pensadores franceses e ideólogos da burguesia. 
 
 
14 
 
É em meio a esse cenário de efervescência intelectual, política e social que observamos 
dois eventos históricos importantes: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, 
também conhecidas como Revoluções Burguesas. 
Revolução Industrial - É um fenômeno histórico ocorrido na Inglaterra, por volta do 
meado do século XVIII, que trouxe profundas alterações no mundo do trabalho, 
desagregou a sociedade feudal, ao reordenar a sociedade rural e abolir a servidão, e 
consolidou a civilização capitalista. 
É nesse momento que nasce o proletariado, isto é, a classe dos trabalhadores livres 
assalariados, e se exacerbam os problemas urbanos. 
 
Revolução Francesa - Pode ser vista como a luta política da burguesia contra as classes 
que dominavam o mundo feudal, ou seja, a monarquia absolutista e a Igreja Católica. 
A burguesia, que já tinha o poder econômico, queria um Estado que assegurasse sua 
autonomia em relação à Igreja e que protegesse e incentivasse a empresa capitalista. 
No século XIX, os pensadores burgueses já não mais desejavam que as ideias 
revolucionárias iluministas continuassem animando o homem comum, pois, como a 
burguesia havia chegado ao poder, deveria lutar para mantê-lo. 
Apesar da industrialização e urbanização crescentes na França, a situação do 
proletariado era extremamente precária, pois os trabalhadores viviam na miséria e 
estavam sempre ameaçados pelo desemprego, o que acabou intensificando as crises 
econômicas e a luta de classes naquela sociedade. 
Aquele era o momento de abandonar os ideais iluministas e fundar uma nova ciência 
para “reorganizar” e“higienizar” a sociedade. 
Dito de outra forma, a Sociologia nasceu dos interesses burgueses em manter a ordem 
social e a estabilidade, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora da 
sociedade. 
A preocupação passou a ser a de fazer com que os indivíduos aceitassem a ordem 
existente, deixando de lado a sua negação. 
Auguste Comte é considerado o pai da Sociologia, também conhecida como Física 
Social. 
De acordo com Tomazi, Comte rompeu logo cedo com a tradição de sua família 
monarquista e católica, transformando-se em um republicano com ideias liberais, 
desenvolveu atividades políticas e literárias que lhe permitiram elaborar uma proposta 
para solucionar os problemas da sociedade de sua época. 
Vivendo no período imediatamente posterior à Revolução Francesa, preocupou-se em 
organizar a sociedade que, em sua opinião, estava caótica. 
15 
 
Comte (Segundo Martins, Comte afirmava que: “a Sociologia deveria se orientar no 
sentido de conhecer e estabelecer as leis imutáveis da vida social, abstendo-se de 
qualquer consideração crítica, eliminando também qualquer discussão sobre a 
realidade existente, deixando de abordar, por exemplo, a questão da igualdade, da 
justiça e da liberdade.” (2001, p. 31)), propôs uma reforma completa da sociedade, 
começando pela “reforma intelectual plena do homem”. Ao modificar a forma de pensar 
do homem, por consequência, as instituições se transformariam. 
 
O sociólogo, estudando os fenômenos sociais com o mesmo espírito que animava os 
astrônomos, os físicos, os químicos e os biólogos, deveria fornecer os resultados de suas 
pesquisas aos homens de Estado, para que esses evitassem ou atenuassem as crises 
sociais. 
Para firmar a Sociologia como ciência, Comte utilizou as ciências naturais como 
modelo, pois essas já tinham credibilidade no meio científico. 
No Brasil, o Positivismo de Comte exerceu forte influência entre os homens que 
proclamaram a nossa república. O lema da Bandeira Nacional, Ordem e Progresso, é a 
maior prova disso. 
 
 
16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
Aula 03 – Émile Durkheim e o Funcionalismo 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
• caracterizar a concepção de ciência que orientou Émile Durkheim na 
sistematização da sociologia; 
 
• definir o conceito de fato social, identificando as suas características e como o 
sociólogo deve estudá-lo; 
 
• definir representações coletivas, consciência coletiva e solidariedade social. 
 
Nesta aula, vamos estudar a contribuição que Émile Durkheim deu para uma visão 
sociológica da educação. Durkheim, Max Weber e Karl Marx são chamados autores 
clássicos da Sociologia, porque forneceram as linhas mestras de explicação da 
realidade social que fundamentaram grande parte das obras elaboradas por autores 
posteriores. 
As explicações sobre os fenômenos sociais diferem segundo os autores. Émile 
Durkheim, autor que mais produziu estudos sobre o tema da educação, propõe uma 
explicação funcionalista; já Weber opta por uma Sociologia compreensiva e Karl Marx 
vai em direção à dialética, conforme você verá nas próximas aulas. 
Émile Durkheim foi quem sistematizou a Sociologia. 
 
 
18 
 
1858 - Nasceu em 15 de abril em Épinal, França. 
1879 - Entrou para a École Normale Supérieure, quando conheceu as obras de 
pensadores como Auguste Comte e Herbert Spencer, intelectuais que o influenciaram na 
busca por dotar a Sociologia de um caráter científico. 
1887 - Foi nomeado professor de Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras da 
Universidade de Bordeaux, onde ministrou o primeiro curso de Sociologia das 
universidades francesas. 
1895 - Lançou As Regras do Método Sociológico. 
1897 - Publicou O Suicídio. 
1912 - Publicou As Formas Elementares da Vida Religiosa. 
1913 - A cadeira de que era titular passou a se chamar Cadeira de Sociologia da 
Sorbonne. 
1915 - Em meio à Primeira Guerra Mundial, seu único filho morreu no front de 
Salonique. 
1917- Em 15 de novembro, muito abalado pela perda de seu filho, faleceu em Paris. 
 
A concepção de Sociedade como ciência positiva 
O século XIX foi marcado por várias mudanças importantes. Uma delas é o fato de 
alguns pensadores, inclusive Émile Durkheim, terem se dedicado à fundação de uma 
nova ciência, cujo objetivo era dar conta das coisas da sociedade, abandonando a arte 
política e a simples especulação. 
Alguns dos autores que influenciaram Durkheim: 
Saint- Simon, August Comte e Herbert Spencer 
Durkheim tratou de definir a Sociologia, seu objeto de estudo, seu método de trabalho e 
seus conceitos fundamentais. Transformou temas como o Direito, a Educação, a 
Religião, o Suicídio e a Moral em objetos de análise sociológica. 
Preocupado com os problemas de seu tempo e convicto de que a sociedade europeia 
passava por um período de anomia (Ausência de regras morais claramente 
estabelecidas.), Durkheim sentia a necessidade de construir as novas formas sociais e, 
na sua concepção, a Sociologia tinha importante papel nesta tarefa, pois apenas ela 
estava habilitada a restaurar a noção de unidade orgânica (Durkheim via a sociedade 
como um organismo constituído por órgãos que devem se integrar garantindo um 
funcionamento harmônico. Para tanto, nenhuma das partes pode agir como se fosse o 
todo, sob pena de fazer adoecer o corpo social.) da sociedade. 
19 
 
Dessa forma, a preocupação com a moral e a manutenção da ordem social foi constante 
em seu pensamento, o que resultou em críticas, aceitas por uns e questionadas por 
outros, que o caracterizaram como um sociólogo conservador, avesso mesmo às 
mudanças, interessado em ensinar aos homens a obedecer à ordem vigente. 
Consciente de que a França atribuía um peso muito grande ao senso comum 
(consciência coletiva difusa), Durkheim procurou criar uma nova ciência elaborada na 
universidade. Muito preocupado com a objetividade (Na opinião de Durkheim, um 
importante critério de cientificidade.), o autor advertia que, a exemplo de cientistas de 
áreas como a Biologia e a Química, o sociólogo não devia fazer concessões às opiniões 
baseadas no senso comum. 
 
A nova ciência positiva: a Sociologia 
Durkheim tinha como objetivo criar uma ciência positiva, autônoma (sobretudo em 
relação à Biologia e à Psicologia) e diferente das outras. 
Para tanto, esforçou-se em definir as suas bases, seu objeto de estudo e seu método, mas 
teve que recorrer ao exemplo de outras ciências já formadas, como a Biologia, a 
Química e a Física. 
 
20 
 
 
 
Leis Naturais - Aqui a palavra lei deve ser entendida em seu sentido científico e não no 
sentido jurídico ou legislativo. De acordo com Cervo e Bervian, “Duas são as principais 
funções da lei científica: resumir grande quantidade de fatos e de fenômenos e 
possibilitar a previsão de novos fatos e fenômenos.” (CERVO, Amado e BERVIAN, 
Pedro. Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2002. p. 54). Leis naturais 
seriam leis invariáveis que independem, por exemplo, da vontade humana. Alguns 
exemplos dessas leis são: a água ferve a 100 graus; o calor dilata os metais etc. 
Concepção - Apesar de esta concepção ter dominado durante muito tempo, Durkheim 
mostra que alguns pensadores como Aristóteles, Montesquieu e Condorcet viam a 
sociedade como algo natural, porém, estas ideias não tinham muito fôlego a ponto de 
fazer vingar uma ciência social orientada para o estudo das leis naturais que regem a 
sociedade. 
Leis necessárias - É importante ter em mente a ideia de necessário como algo que não 
poderia ser diferente daquilo que é. A chuva é necessária porque não pode deixar de 
acontecer, por mais que eu queira que faça sol. Comer é necessário porque não posso 
deixar de me alimentar, sob risco de morrerde inanição. 
 
Objeto de estudo da Sociologia: os Fatos sociais 
Em As Regras do Método Sociológico, Durkheim (“Toda maneirade agir fixa ou não, 
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é 
geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, 
independente das manifestações individuais que possa ter. (1893, p.11).”) afirma que o 
objeto de estudo da Sociologia é o fato social. 
21 
 
Veja as três características que tornam os fatos sociais realmente sociais. 
 
01 - Exterioridade: os fatos sociais agem sobre os indivíduos independentemente de 
suas vontades particulares. São maneiras de pensar, de agir e sentir que existem fora das 
consciências individuais. 
Antes de nascermos, as regras morais, os costumes e as leis já existiam e, a despeito de 
nossas vontades, continuarão existindo. Por exemplo, um devoto, ao nascer, já encontra 
prontas as crenças e as práticas da vida religiosa. Da mesma forma, o sistema de moedas 
que utilizamos para fazer as transações comerciais e as práticas seguidas nas diferentes 
profissões funcionam independentemente do uso que cada indivíduo faz delas. 
Durkheim ressalta que, embora a exterioridade seja condição necessária, não é condição 
suficiente para transformar os fenômenos em fatos sociais. 
 
02 - Coercitividade: para que o fato seja considerado social, deve também exercer 
algum poder de coerção sobre os indivíduos. Nem sempre a coercitividade é sentida 
quando me conformo com ela, mas se tento resistir, sinto seu peso. Em outras palavras, 
quando eu infrinjo uma regra, sofro algum tipo de punição. O grau de coerção do 
fenômeno torna-se evidente pelas sanções a que o indivíduo é submetido ao ir contra o 
fato social. As sanções podem ser de dois tipos: legais ou espontâneas. 
As sanções legais (Por exemplo, a legislação eleitoral prevê multa e outras sansões ao 
eleitor brasileiro que não comparecer para votar nem justificar a sua ausência) 
ocorrem quando, ao “violar as leis do direito, estas reagem contra mim de maneira a 
impedir meu ato se ainda é tempo; com o fim de anulá-lo e restabelecê-lo em sua forma 
normal se já se realizou e é reparável; ou então que eu o expie se não há outra 
possibilidade de reparação” (As Regras do Método Sociológico, p. 2). As sanções 
espontâneas (Por exemplo, se ao escolher minha roupas, não levo em consideração os 
costumes do meu país ou da minha classe, posso provocar riso ou afastamento, o que 
funciona como pena. Pense na reação das pessoas ao verem um homem usando saia no 
Brasil.), por outro lado, ocorrem quando deixo de seguir as convenções “mundanas”. 
A educação possui um papel relevante na conformação do indivíduo à sociedade em que 
vive, fazendo com que, depois de algum tempo, as regras se internalizem e se 
transformem em hábitos. 
 
03 - Generalidade: todo fato social é geral, mas, não podemos dizer que todo fato geral é 
social. Para ser assim considerado, ele precisa ser coletivo (isto é, mais ou menos 
obrigatório). Daí decorre que este tipo de fenômeno deve ser estudado apenas em suas 
manifestações coletivas, como as crenças, as tendências e as práticas do grupo tomadas 
22 
 
coletivamente, pois a sociedade não é o mero agregado dos comportamentos 
individuais. As tendências da moda e o idioma servem aqui como bons exemplos. 
 
Agora que você já sabe o que é fato social e quais são suas características veja, a seguir, 
como o sociólogo deve estudá-lo. 
 
Regras para o estudo dos fatos sociais 
1º Passo - Diz respeito às regras relativas à observação dos fatos sociais. O principal e 
mais importante passo é encarar o fato social (É importante, salientar que o autor não 
entende o fato social como coisa material. No Prefácio à Segunda Edição de As Regras 
do Método Sociológico, ele utiliza o termo “coisa” em contraposição à “ideia”, ou 
seja, é aquilo que só pode ser entendido por intermédio da observação e da 
experimentação.) como coisa. Assim, surgem dois corolários (Corolário é a 
consequência direta de uma proposição demonstrada). 
O primeiro corolário consiste em afastar todas as noções prévias para estudar o fato 
social, pois os valores e sentimentos pessoais nada têm de científicos e possibilitam a 
distorção dos fenômenos. Dito de outra forma, os preconceitos, simpatias e caprichos do 
pesquisador devem ser afastados de suas análises. 
2º Passo - Diz respeito às regras relativas à distinção entre o normal e o patológico. Para 
Durkheim, é muito importante saber o que é normal e o que é patológico em uma 
sociedade. Para classificarmos um fato devemos nos basear em uma espécie, um tipo 
social determinado, em uma fase determinada de seu desenvolvimento. As condições de 
saúde e de doença não podem ser definidas de forma abstrata e nem de maneira 
absoluta. 
O segundo corolário consiste em definir os fatos que serão estudados. Logo no início da 
pesquisa devemos considerar os caracteres mais exteriores do grupo de fenômenos 
(Conforme Durkheim, a Sociologia independe de qualquer Filosofia. Assim, o sociólogo 
não deve fazer como o metafísico, que escolhe e toma partido de grandes hipóteses, 
mas sim, aplicar os princípios da causalidade aos fenômenos sociais), pois, por serem 
mais imediatamente perceptíveis, são estes que nos levarão aos menos visíveis e 
profundos, porém, mais explicativos. Isto pretende fornecer ao método sociológico o 
seu caráter objetivo. 
 
 
 
 
23 
 
Na concepção de Durkheim, o que podemos chamar de normal e de patológico? 
No início do terceiro capítulo de As Regras do Método Sociológico, Durkheim afirma 
que os fenômenos normais são “os que são como deviam ser”, e os patológicos são 
aqueles que “deveriam ser diferentes do que são”. 
Dito de outra forma, normal é tudo o que é comum a todos ou quase todos. Em 
contrapartida, o patológico é tudo ou quase tudo que se apresenta de forma excepcional. 
Durkheim alerta para o fato de o sociólogo se expor a erros quando não toma as devidas 
precauções metodológicas quanto à distinção entre normal e patológico. Uma falha 
desse tipo seria classificar o crime como algo patológico. 
É necessário, entender que o autor concebe crime como “um ato que ofende certos 
sentimentos coletivos dotados de energia e de nitidez particulares” (1972: p. 58), não se 
restringindo ao sentido jurídico. 
Se, à primeira vista, o crime parece patológico, após uma análise meticulosa pode-se 
afirmar que o crime é normal e isso se deve a dois motivos. Em primeiro lugar, porque é 
universal, isto é, acontece em todas as espécies sociais e em todos os estágios de 
desenvolvimento. Em segundo lugar, porque reforça sentimentos contrários, de repulsa 
ao agressor e aos fatores que o motivaram a cometer o crime. 
Há ainda um outro aspecto muito importante: em alguns casos, o criminoso é visto 
como agente de mudança e a ausência do crime tornaria a sociedade estática. Isso 
permitiu ao autor concluir que, além de normal, o crime é necessário e tem a sua 
utilidade. 
 
Consciência coletiva e representações coletivas 
Em A Divisão do Trabalho Social, Durkheim afirma que enquanto seres socializados 
possuímos, simultaneamente, uma consciência individual e uma consciência coletiva. 
A consciência coletiva (Esse tipo de consciência não tem origem nas consciências 
individuais e está espalhada, difusa por toda a sociedade.) é o nível mais profundo da 
realidade social. É a soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de 
certa comunidade, constituindo um determinado sistema que possui vida própria, 
persiste no tempo e une as gerações. É, em outras palavras, o sistema de 
Representações coletivas (Lendas populares, tradições religiosas, crenças políticas e 
linguagem) presente em determinada sociedade. 
Para Durkheim, não são os indivíduos que geram a consciênciacoletiva, ao contrário, é 
a consciência coletiva que molda as consciências individuais. A força que a consciência 
coletiva exerce sobre os indivíduos varia com o tipo de sociedade dependendo do seu 
estágio de evolução. 
24 
 
Solidariedade Social 
Em sua tese de doutorado A Divisão do Trabalho Social, Durkheim propõe-se a 
investigar a função da Divisão do Trabalho. 
O autor se preocupou em analisar, à luz da Morfologia Social, a evolução das 
sociedades e a coesão social que dela resulta, que o fez concluir que as sociedades 
caminham, natural e necessariamente, do estado mecânico em direção ao estado 
orgânico, apresentando uma solidariedade característica para cada um desses estágios. 
Sociedades mecânicas - São aquelas de tipo pré-capitalista, muito “simples”, dotadas 
de forte consciência coletiva, onde a divisão do trabalho se baseia principalmente nos 
critérios de sexo e idade. 
Nesse tipo de sociedade, a identificação entre os indivíduos se dá por meio da família, 
da religião, da tradição e dos costumes. A autoridade coletiva é absoluta e a consciência 
coletiva é tão forte que se sobrepõe à consciência individual. A solidariedade social de 
tipo mecânica é gerada pelas semelhanças entre os indivíduos que, partilhando os 
mesmos sentimentos e valores, diferem pouco entre si. 
Sociedades Orgânicas - São mais extensas, mais complexas. Por possuírem estruturas 
econômicas avançadas, exigiam uma divisão do trabalho não mais baseada em sexo e 
idade, mas, na diversidade de funções que torna os indivíduos interdependentes. 
Se nas sociedades mecânicas a consciência coletiva gerava uma irresistível coesão 
social, nas sociedades orgânicas a divisão do trabalho social tem por função criar a 
solidariedade social, pois a complexidade da vida e a ausência de semelhanças acabam 
por aproximar as pessoas, fazendo com que se completem. 
Em sociedades com forte divisão do trabalho, as relações sociais se baseiam na 
especialização de tarefas. Assim, a educação tem caráter duplo, pois, ensina aos novos 
membros valores, crenças e conhecimentos que devem ser gerais à massa da sociedade 
e, por outro lado, fornece conhecimentos específicos da área profissional em que a 
pessoa deverá atuar. 
 
Especialização de tarefas - A formação que um futuro médico recebe é diferente 
daquela recebida pelo futuro engenheiro, que difere também da dispensada ao futuro 
advogado ou médicos. Advogados precisam dos serviços dos engenheiros, que precisam 
dos cuidados dos médicos e, assim por diante. 
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma área e o fato de ser 
leigos nas outras faz com que os profissionais de um campo dependam de outros 
profissionais. Durkheim utiliza o exemplo da paixão que ocorre entre o homem e a 
mulher que, por serem diferentes, se complementam, formando um todo. 
 
25 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
Aula 04 – Émile Durkheim: Educação e Sociologia 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
• descrever a concepção de educação elaborada por Émile Durkheim; 
 
• demonstrar porque o autor percebe a educação como instrumento de 
socialização; 
 
• discutir a ideia de que a educação deve servir para conformar o indivíduo a 
determinado meio moral. 
 
 
Nesta aula, você vai entender a concepção de educação formulada por Durkheim e saber 
o que o levou a estudar a educação como um fato social, talvez o principal deles. 
 
A Educação 
Nas concepção de Durkheim, a educação tem um papel fundamental na preparação do 
indivíduo para a vida em sociedade. Por esse motivo, ele se dedicou a estudar a 
educação como um fato social. 
 
 
De acordo com Émile Durkheim, “os sistemas educativos são o conjunto de práticas e 
instituições que se organizaram lentamente ao longo do tempo, que são solidárias com 
27 
 
todas as outras instituições sociais e que as exprimem, que, por consequência, não 
podem ser mudadas mais facilmente do que a própria estrutura da sociedade”. (p. 46) 
“É inútil pensarmos que podemos criar os nossos filhos como queremos. Há costumes 
com os quais temos de nos conformar; se os infringimos, eles vingam-se de nossos 
filhos. Estes, uma vez adultos, não se encontrarão em condições de viver no meio de 
seus contemporâneos, com os quais não estão em harmonia. Quer tenham sido criados 
com ideias muito arcaicas ou prematuras, não importa; tanto num caso como noutro, 
não são do seu tempo e, por conseguinte, não estão em condições de vida normal. Há 
pois, em cada momento do tempo, um tipo regulador de educação de que não nos 
podemos desligar sem chocar com as vivas resistências que reprimem as veleidades das 
dissidências”. (p. 47) 
Movido pela sua convicção de que as sociedades evoluem e devem ser estudadas em 
determinado estágio de seu desenvolvimento, Durkheim utiliza como método de estudo 
a observação histórica para mostrar que os sistemas de educação têm poder coercitivo, 
pois, em cada momento há um tipo regulador de educação do qual os indivíduos não 
podem escapar sem resistências e que restringem os anseios daqueles que são 
discordantes. 
Além de exercer coerção sobre os indivíduos, a educação também não é uma criação 
individual, pois os costumes e as ideias que determinam o tipo de educação reguladora, 
são produzidos pela coletividade e manifestam as suas necessidades. 
Quando nascemos, a maior parte de seu conteúdo já está pronto, é fruto das gerações 
passadas. Segundo Durkheim, a partir de uma perspectiva histórica, pode-se perceber 
que a formação e o desenvolvimento dos sistemas de educação dependem da religião, da 
organização política, do grau de desenvolvimento das ciências, do estado da indústria 
etc. Só à luz das causas históricas eles se tornam compreensíveis. 
Ao definir mais precisamente a educação, Durkheim conclui que há algumas condições 
para que ela realmente exista, ou seja, é necessário que haja uma geração de adultos, 
uma geração de jovens e, que a primeira exerça uma ação sobre a segunda. 
O sistema educativo, em qualquer sociedade, possui duplo aspecto, ou seja, é, 
simultaneamente: 
Uno - Porque se configura como a base comum. É composto pelos sentimentos, valores, 
ideias, práticas, que devem ser inculcados em todas as crianças, sem distinção, seja qual 
for a categoria social à qual pertençam. É, resumidamente, o que há de comum a todos. 
Múltiplos - Depende dos meios, das classes sociais, das profissões (“Cada profissão, 
com efeito, constitui um meio sui generis que reclama aptidões particulares e 
conhecimentos especiais, onde reinam certas ideias, certos usos, certas maneiras de ver 
as coisas; e, como a criança deve ser preparada tendo em vista a função que será 
chamada a desempenhar, a educação, a partir de uma certa idade não pode mais 
continuar a ser a mesma para todas as pessoas às quais ela se destina” (2001, p. 50).). 
 
 
28 
 
Segundo Durkheim, cada sociedade formula determinado ideal de ser humano, ou seja, 
é a sociedade que determina o que esperar do indivíduo, seja do ponto de vista 
intelectual, físico ou moral. Em outras palavras, seremos aquilo que a sociedade espera 
que sejamos. 
Assim, se até certo ponto esse ideal é o mesmo para todos os cidadãos, há um momento 
em que os indivíduos devem se diferenciar, segundo os meios sociais particulares em 
que estão inseridos. 
Para o autor, a parte básica da educação é constituída por esse ideal, ao mesmo tempo, 
uno e diverso, que tem por função suscitar na criança: 
1º - um certo número de estados físicos e mentais, que a sociedade à qual pertence 
considere indispensáveis a todos os seus membros; 
2º - certos estados físicos e mentais, que o grupo social particular (casta, classe, família, 
profissão) considere indispensáveis a todos os que o formam. 
 
É a sociedade, em seu conjunto, e cada meiosocial, em particular, que determinam o 
ideal a ser realizado. 
Durkheim ressalta que a homogeneidade é importante, pois é a base onde os sistemas de 
educação específicos se fundamentarão. A educação a perpetua e reforça, fixando na 
criança certas similitudes essenciais, exigidas pela vida coletiva. 
É a heterogeneidade que torna a cooperação possível. A educação assegura a 
persistência dessa diversidade necessária, o que permite especializações. 
“Se a sociedade chegou a um grau de desenvolvimento em que as antigas divisões em 
castas e em classes não podem mais manter-se, prescreverá uma educação mais una em 
sua base. Se, no mesmo momento, o trabalho está mais diversificado, provocará nas 
crianças, sobre um primeiro fundo de ideias e de sentimentos comuns, uma mais rica 
diversidade de aptidões profissionais. Se vive em estado de guerra com as sociedades 
envolventes, esforça-se por formar os espíritos com base num modelo fortemente 
nacionalista; se a concorrência internacional toma uma forma mais pacífica, o tipo de 
educação que procurará realizar é mais geral e mais humano”. (2001, p. 52) 
É necessário observar alguns temas importantes na teoria do autor, que foi fortemente 
influenciado pelo darwinismo social e, por isso, estava totalmente convencido de que, 
como os organismos, as sociedades também evoluíam. Segundo ele, as sociedades 
passariam do estágio mecânico para o estágio orgânico. 
Sociedades Mecânicas - As sociedades mecânicas eram sociedades simples, nas quais a 
divisão do trabalho ocorria através dos critérios de sexo e idade e, onde os indivíduos 
praticamente não se diferenciavam, compartilhando as mesmas crenças e regras morais, 
ligados por laços de parentescos. Contudo, na evolução, as sociedades foram se 
tornando mais complexas. 
 
 
29 
 
Sociedades Orgânicas - O aumento no nível de desenvolvimento deu origem à 
exigência de maior especialização do trabalho. Os indivíduos deixaram de se identificar 
por meio da religião, das regras morais e dos costumes. Nas sociedades orgânicas o que 
aproxima os homens é a interdependência gerada pela especialização de funções. É a 
divisão do trabalho social que gera a coesão, a solidariedade social. 
Em sociedades com forte divisão do trabalho as relações sociais se baseiam na 
especialização de tarefas. Assim, a educação tem caráter duplo, pois, ensina aos novos 
membros valores, crenças e conhecimentos que devem ser gerais à massa da sociedade 
e, também, fornece conhecimentos específicos da área profissional em que a pessoa 
deverá atuar. 
Saiba mais: 
A formação que um futuro médico recebe é diferente daquela recebida pelo futuro 
engenheiro, que difere também da dispensada ao futuro advogado. Não podemos hoje, 
em nossa sociedade, conceber que só se formem ou engenheiros, ou advogados ou 
médicos. Advogados precisam dos serviços dos engenheiros, que precisam dos cuidados 
dos médicos e, assim por diante. 
É isso que garante a nossa coesão social: a especialização em uma área e o fato de ser 
leigo nas outras faz com que os profissionais de um campo dependam de outros 
profissionais. 
Durkheim utiliza o exemplo da paixão que ocorre entre o homem e a mulher que, por 
serem diferentes, se complementam, formando um todo. 
 
Dessa definição podemos assumir que a educação é a socialização metódica das novas 
gerações. Cada membro da sociedade possui em si dois seres: 
• o ser individual, que se constitui dos estados mentais que dizem respeito apenas 
ao próprio indivíduo e à sua vida pessoal; 
 
30 
 
• o ser coletivo, ou seja, o sistema de ideias, sentimentos, hábitos, que exprimem 
em cada indivíduo o grupo ou os grupos diferentes dos quais ele faz parte 
(crenças religiosas, crenças e práticas morais, tradições nacionais e profissionais, 
opiniões coletivas etc.). 
 
O objetivo da educação é constituir o ser coletivo em cada um de nós, pois o ser social 
não nasce com o homem, não se apresenta na constituição humana primitiva, como 
também não resulta de nenhum desenvolvimento espontâneo. 
Ao contrário, foi a sociedade, na medida em que se formou e se consolidou, que tirou de 
dentro de si essas grandes forças morais, diante das quais o indivíduo isolado sente a 
sua fraqueza e inferioridade. 
A educação deve criar no homem um ser novo: o ser social. 
 
 
 
Os indivíduos agem de acordo com as necessidades sociais e a sociedade impõe aos 
homens uma tirania muito forte. Mas, segundo Durkheim, os próprios homens desejam 
que isso ocorra porque o ser novo, que a ação coletiva cria em cada um de nós por 
intermédio da educação, representa o que há de melhor no homem, o que há de 
propriamente humano em nós. 
Na verdade, o homem só é homem porque vive em sociedade. Para comprovar essa 
afirmação, Durkheim mostra o desenvolvimento da moral, o desenvolvimento 
intelectual e o desenvolvimento da linguagem, coisas que só podem acontecer na vida 
em sociedade. 
31 
 
O Estado é a instituição social mais importante que tem influência sobre a educação, 
tendo mais peso que a família, segundo Durkheim. Não poderia ser de outra forma, 
dado o caráter coercitivo atribuído pelo autor à educação. 
A importância do Estado (Elemento representativo da sociedade) cresce à medida que 
assume uma função coletiva e busca a educação da criança na sociedade em que vive. 
Caberia a esse órgão esclarecer os princípios essenciais (Respeito pela razão, pela 
ciência, pelos ideiais e sentimentos que estão na base moral da sociedade 
democrática.), fazer com que sejam ensinados nas escolas, cuidar para que as crianças 
não os ignorem e os respeitem. 
Durkheim era taxativo e afirmava que tudo que é educação deve estar em certa medida 
submetido à ação do Estado. 
Durkheim percebia a ausência de unidade moral em sua sociedade, e a presença de 
muitas concepções divergentes, por isso se preocupava com a escola e com os 
professores. 
“A escola não pode ser pertença de um partido, e o professor falta aos seus deveres 
quando usa a autoridade de que dispõe para arrastar os seus alunos nos trilhos de seus 
próprios ideais, por mais justificados que lhe possam parecer” (2001, p. 61). 
Para a ação educativa ser bem sucedida na transformação de um ser associal, como o 
bebê, em uma personagem bem definida que desempenhe um papel útil na sociedade, o 
educador deve agir como um hipnotizador. 
A criança, como o hipnotizado, está numa situação de passividade. Como a vontade 
infantil ainda é rudimentar, ela é facilmente sugestionável e acessível aos exemplos, e 
propensa à imitação. 
O professor exerce sobre seus alunos uma ascendência baseada na superioridade de sua 
cultura e de sua experiência. O educador deve ter, também, serenidade. 
 
 
 
32 
 
Como o objetivo da educação é formar um ser novo, constrangendo o indivíduo e 
subjugando o egoísmo individual, não é possível formar o ser social através de 
brincadeiras e do prazer. 
É preciso então que o educador, com sua autoridade e sua ascendência moral, desperte o 
senso de dever na criança. 
Para isso, o professor deve acreditar e valorizar a sua missão, pois ele é a voz de uma 
grande pessoa moral: a sociedade. 
 
 
 
 
33 
 
Aula 05 – O Pensamento Sociológico de Karl Marx 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
• analisar a teoria marxista pela sua perspectiva sociológica; 
 
• descrever os diferentes conceitos trabalhados por Marx como forma de analisar 
os mecanismos de funcionamento da sociedade capitalista. 
 
 
 
O alemão Karl Marx influenciou de modo significativo o pensamento ocidental, tanto 
no século XIX quanto no século XX. 
Ao nos referirmos a ele como um dos clássicos do pensamento sociológico, o fazemos 
por reconhecer a forte influência que o seu trabalho exerce, ainda hoje, sobre as obras 
demuitos autores. 
A obra de Marx também teve influência sobre a construção do primeiro regime 
socialista a ser instituído na história recente da humanidade. Esta experiência se daria na 
Rússia, em 1917, ano em que o partido bolchevique, liderado por Lênin, no comando de 
um movimento revolucionário instituiria naquele país um projeto socialista de 
inspiração marxista. 
A partir daí, a Rússia passou a se chamar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – 
URSS, ou como se costumava dizer ao nível do senso comum, União Soviética. 
 
 
34 
 
Vamos conhecer um pouco da história da expansão do socialismo de Marx pelo mundo. 
América Central - No continente americano é a vez de Cuba, que sob o comando de 
Fidel Castro, passa a fazer parte do mundo socialista em 1960. 
Ásia - Em 1949 é a vez a da China que, em uma revolução camponesa comandada por 
Mao Tse Tung também inclui esta nação na órbita do mundo socialista. 
Outros países asiáticos, como Coréia do Norte e Vietnã, sob o comando de partidos 
comunistas, passam a hastear a bandeira vermelha do socialismo marxista-leninista nas 
décadas de 1950 e 1970, respectivamente. 
Europa - No início do século XX, o mundo assiste a uma grande expansão do chamado 
socialismo real, nas mais diversas regiões. Com fim da Segunda Guerra Mundial e sob a 
influência soviética, verifica-se a expansão do socialismo pela grande maioria dos 
países do leste europeu como Polônia, Bulgária, Hungria, Romênia dentre outros. 
África - Durante as guerras de libertação nacional, Angola e Moçambique também 
fazem opção por uma ordem socialista. 
 
Todo este quadro no cenário geopolítico mundial mostra a importância do marxismo 
para o mundo contemporâneo. 
Na verdade, esta bipolaridade entre os dois modelos socioculturais — o ocidental, 
marcado pela presença do capitalismo e da economia de mercado, e o socialismo — 
traria muitas consequências para as relações entre as diferentes nações do mundo, dentre 
as quais se pode destacar a própria guerra fria. 
No meio intelectual, o marxismo também faria sentir a sua presença ao longo de todo o 
século XX. 
Com a participação de seu amigo e colaborador Friedrich Engels, Marx tinha, como 
objeto de sua pesquisa, a sociedade capitalista do século XIX. Suas teses e princípios 
teóricos eram baseados no materialismo dialético. 
Neste sentido, para Marx, as contradições não seriam situações anômalas presentes na 
sociedade, mas ao contrário, fariam parte de sua própria essência. 
A identificação destas contradições no interior da sociedade concentraria o foco da 
análise marxista no modo como o trabalho social é organizado. A análise da história 
humana com base nos princípios da dialética materialista levaria Marx a identificar as 
contradições de interesses existentes entre as principais classes sociais, como o principal 
fator de motivação das mudanças sociais. 
Para Marx, esta “luta de classes” seria o principal combustível para as transformações 
nas sociedades humanas. Este modo de pensar a sociedade daria origem a um novo 
conceito elaborado por Marx, que seria o materialismo histórico. Na prática, uma 
aplicação da dialética materialista ao estudo da história humana. 
Na perspectiva marxista, o trabalho social não funciona apenas como um intermediário 
das relações entre sociedade e natureza, mas também como o intermediário nas relações 
estabelecidas pelos homens entre si. 
35 
 
A qualidade das ferramentas ou forças produtivas utilizadas pelos indivíduos, somada 
aos tipos de relações estabelecidas no processo produtivo caracterizaram, na concepção 
marxista, o modelo de sociedade com o qual se estaria lidando. 
A partir da visão de Marx, foi possível se identificar alguns tipos de sociedades ou 
modos de produção. 
Modo de produção feudal - O feudalismo predominou na Idade Média, cujo 
antagonismo de classes seria identificado entre os nobres, donos das terras e os servos 
que, ao ocuparem estas terras, se viam obrigados a prestarem serviços aos primeiros. 
Modo de produção escravista - O escravismo predominou na chamada Antiguidade 
Clássica (Grécia e Roma), momento em que as principais contradições se dariam entre 
os escravos e seus senhores. 
Modo de produção capitalista - O predomínio do capitalismo é no período 
contemporâneo. Nesta nova fase da organização social, as relações de produção ou o 
modo como os indivíduos se relacionavam para organizar e implementar o trabalho 
social seriam desenvolvidos com base num processo de remuneração assalariada da mão 
de obra. Eram os operários que, desprovidos da propriedade das fábricas e dos meios de 
produção, “vendiam” aos burgueses, donos destes estabelecimentos, o único bem que 
possuíam, que seria a sua força de trabalho. Assim, neste modo de produção, como 
afirmava Marx, as principais contradições seriam aquelas existentes entre a burguesia 
— dona dos meios de produção — e o proletariado, que compreenderia os operários e 
trabalhadores de um modo geral. 
É importante destacar que, a cada um desses modos de produção corresponderiam 
diferentes níveis de desenvolvimento das forças produtivas e diferentes formas de 
organização do trabalho social ou das relações de produção. 
São justamente as diferentes posições dos homens com relação às formas de 
propriedades presentes numa sociedade, ou modo de produção, que irão definir as 
diferentes classes sociais existentes. A transformação de um tipo de sociedade para 
outro, ou de um modo de produção a outro, se dá por meio dos conflitos abertos entre a 
classe dominante e as classes exploradas num determinado período. 
Assim, de acordo com Marx, a história humana é uma história das lutas entre as classes. 
 
36 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
Aula 06 – A Teoria Marxista e as Práticas de Educação 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
• analisar as relações entre a teoria marxista e a dinâmica cultural da sociedade; 
 
• demonstrar como se dão as relações entre os valores morais, as crenças, os 
princípios ideológicos e a base material da sociedade, na concepção de Marx; 
 
• definir o conceito de alienação e suas relações com o projeto de educação 
sugerido por Marx. 
 
 
Na concepção de Marx, as ideias que os indivíduos incorporam, na sociedade 
capitalista, implicam numa visão imprecisa ou falsa da realidade. Isto acontece na 
medida em que a consciência que os trabalhadores constroem sobre o seu próprio modo 
de vida tende a ser profundamente influenciada pelos valores das elites burguesas. 
Numa posição diferente daquela assumida por Durkheim, Marx não percebe as 
representações coletivas como produto do conjunto da sociedade. Para ele, estas ideias 
— às quais chamou de ideologia — são o fruto de um processo de dominação, que leva 
as classes oprimidas a perceberem o mundo com as lentes de seus opressores, processo 
este denominado de alienação. 
Esta aula aborda o projeto de educação de Marx, que busca superar esta ausência de 
consciência, ou seja, um projeto que possa construir indivíduos integralmente 
desenvolvidos e emancipar os trabalhadores do seu processo de alienação. 
 
Na concepção marxista, a partir da lógica do pensamento dialético, haveria uma 
reciprocidade de influências entre a consciência e as condições materiais da vida em 
sociedade. 
 
Indivíduo - Por um lado, o mundo das ideias é influenciado de forma determinante pela 
realidade material. 
Meio Social - Por outro lado, esta mesma base material da sociedade pode ser 
transformada pela ação consciente dos indivíduos. 
A particularidade da concepção de Marx está no fato de ele perceber este grande 
conjunto das ideias representado pelos valores e crenças predominantes, no caso da 
sociedade capitalista, como o fruto de um processo de dominação das elites burguesas. 
Como consequência,por terem perdido o controle sobre a organização da produção, os 
trabalhadores teriam perdido, também, a possibilidade de construir uma visão adequada 
38 
 
sobre a sua própria realidade. Eles perceberiam o mundo a partir dos valores da 
burguesia, como se esta fosse a única forma possível de trabalhar e viver. 
 
Burguesia X Proletariado 
 
Segundo Marx, no capitalismo existem os burgueses, proprietários dos meios de 
produção (Fábricas e empresas de modo geral) e aqueles que vendem o único bem que 
possuem, ou seja, a sua força de trabalho, em troca do pagamento de salário. Estes 
seriam os proletários (Este indivíduo não vê a sociedade capitalista como uma 
sociedade historicamente construída pela luta entre classes com interesses opostos” 
RODRIGUES:2006, p. 42), classe que representaria a maioria da sociedade. Para eles, o 
modo de vida estabelecido na sociedade capitalista parece algo natural. É como se 
trabalhar em troca de um salário fosse uma espécie modo de vida que sempre existiu e 
sempre existirá. 
 
Um conceito fundamental, na concepção marxista, é o de alienação. 
O trabalho na sociedade capitalista é considerado como algo sobre o qual o próprio 
trabalhador não possui nenhum controle. Ou seja, um operário numa determinada linha 
de montagem executa muito bem a sua função, por exemplo, encaixar amortecedores na 
carroceria do veículo, sem ter a menor ideia sobre o procedimento para construir, de 
modo completo, um automóvel. Este saber lhe foi expropriado num processo histórico, 
juntamente com os meios de produção. Este mecanismo é definido por Marx como 
alienação. 
A organização do trabalho social na sociedade capitalista, segundo Marx, possuiria, 
portanto, uma considerável diferença em relação ao que era feito na sociedade feudal. 
Naquele período, em que predominavam as oficinas artesanais nas vilas e pequenas 
cidades, o Mestre Artesão era ao mesmo tempo executor e organizador do processo 
produtivo (Por exemplo, numa oficina de sapateiros, caberia a ele a compra da 
matéria prima, o planejamento dos modelos a serem fabricados, o corte do couro, a 
costura, o acabamento final e a própria venda do produto, ou seja, ele era responsável 
por todas as etapas do processo produtivo.). 
Essa situação difere profundamente daquela presente na sociedade capitalista, na qual o 
dono da fábrica, que organiza e planeja a produção, não é quem executa o trabalho(Por 
exemplo, não vemos os executivos das grandes montadoras de automóveis encaixando 
as peças dos veículos na linha de montagem.). 
No modelo civilizatório marcado pela presença do capitalismo, a fragmentação das 
atividades profissionais é a marca registrada. A divisão entre aqueles que realizam 
trabalhos exclusivamente intelectuais e a grande maioria que executa tarefas manuais e 
repetitivas, sem a exigência de uma elaboração mais complexa é, de fato, a regra. 
A causa da consciência distorcida construída pela grande maioria dos trabalhadores 
acerca do seu próprio modo de vida, é justamente esta divisão qualitativa do trabalho. 
39 
 
Vamos conhecer, a seguir, mais sobre o pensamento de Marx. 
 
Marx considerava esta situação, além de injusta, a causa de todo o processo de alienação 
presente na sociedade de sua época, a Europa do século XIX. 
Para resolver este problema, além da ação de conscientização das massas pelos 
integrantes do partido comunista (que ele considerava o partido revolucionário da causa 
dos trabalhadores) Marx imaginou um projeto de educação que pudesse compensar 
estas diferenças. 
Marx e Engels percebiam as práticas de educação escolar como uma importante 
ferramenta que poderia ser utilizada, tanto para perpetuar o processo de alienação e de 
dominação existente na sociedade capitalista, quanto para emancipar os trabalhadores 
desta realidade. 
É fundamental que você procure deslocar o pensamento para o século XIX e tente 
imaginar como viviam as pessoas nas cidades industriais naquele momento, para poder 
entender o raciocínio de Marx com relação ao seu projeto educacional. 
Em algumas citações de O Capital, sua obra mais importante, Marx relata algumas 
visitas a escolas localizadas em cidades na Inglaterra, cujas condições de ensino eram 
tão precárias, que só poderiam servir como espécie de engodo, para a nova legislação 
inglesa de 1844, que determinava que as crianças ao serem contratadas pelas fábricas 
deveriam estar devidamente matriculadas em algum estabelecimento de ensino. 
 
Projeto Educacional de Marx 
Sugerido para solucionar o problema educacional, o projeto de Marx certamente seria 
alvo de certa estranheza nos dias atuais. Para ele: 
• as escolas deveriam formar indivíduos integralmente desenvolvidos, isto é, que 
ao longo da sua formação dividissem seu tempo entre o trabalho manual, as 
atividades intelectuais e o lazer; 
 
• as crianças de até 12 anos deveriam passar ao menos 2 horas por dia trabalhando 
de modo a combinar o trabalho braçal com prática intelectual. Esta jornada de 
trabalho associada à educação deveria ser elevada até um período de 6 horas por 
dia, quando a criança completasse 16 anos. 
 
 
O Projeto Educacional de Marx pode ser representado pela equação abaixo. 
 
40 
 
 
 
É importante ressaltar que este projeto de educação sugerido pela teoria marxista se 
apresentava para a realidade europeia no século XIX. 
Neste momento o acesso a escola, mesmo num sentido tradicional, era restrito a um 
pequeno número de crianças originárias das classes mais favorecidas. 
Além disso, a possibilidade de automação do processo produtivo, como conhecemos 
hoje, era algo inconcebível em termos tecnológicos. Sendo assim, na visão de Marx, a 
ideia de que todos pudessem, ao longo de seu dia, compartilhar todas as funções 
existentes na sociedade, tanto as mais enaltecedoras quanto as mais laboriosas, se 
apresentava como a alternativa mais justa. 
 
 
41 
 
 
 
 
 
Aula 07 – A Sociologia de Max Weber 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
• analisar os principais conceitos relacionados a sociologia weberiana, explicando 
o conceito de sociologia compreensiva; 
 
• definir os conceitos de ação social, relações sociais e também o significado dos 
tipos ideais. 
 
 
O sociólogo Max Weber parte do princípio de que a sociedade não é apenas algo 
exterior aos indivíduos. Ao contrário, ela seria o resultado de uma imensa rede de 
interações entre os seus membros. 
 
42 
 
Para analisar esta rede de relações não basta observá-la de modo distante, é necessário 
se aproximar, interagir e, a partir daí, assimilar os diferentes tipos de racionalidade que 
motivam as ações sociais. 
Esta compreensão do sentido subjetivo das ações dos indivíduos que se relacionam com 
os demais membros da sociedade ou grupo é a base da sociologia weberiana, que será 
abordada nesta aula. 
 
Um importante conceito que é a base a partir da qual a sociologia weberiana pode ser 
estruturada é o conceito de ação social. 
O que é ação social? 
Ação social, segundo Weber, é todo tipo de conduta humana relacionada a outros 
indivíduos e dotada de um sentido subjetivamente elaborado. 
Para Weber, a sociedade não seria um organismo com uma espécie de 
complementaridade entre as suas partes, como postulava Durkheim, nem tampouco uma 
espécie de prisão para as classes menos favorecidas, como imaginava Marx. 
Para ele, a sociedade se apresentava como uma grande teia formada por diversos tipos 
de ações sociais. A identificação do sentido subjetivo dessas ações, ou seja, do tipo de 
racionalidade que as motiva e que leva a este ou àquele comportamento é o que define a 
sociologia weberiana como compreensiva. 
De um modo diferente daquele empregado por seus contemporâneos, Weber rompe de 
forma mais sistemática com o cientificismode influência positivista, muito presente nas 
obras de pensadores do século XIX, como Émile Durkheim. 
 
 
 
43 
 
Um traço marcante do pensamento weberiano é a sua ruptura radical com a lógica do 
cientificismo positivista. 
Auguste Comte definia a sociologia como a física social. Segundo ele, a lógica de 
pesquisa desta disciplina seria destinada a conhecer os processos sociais, para poder 
prever os seus desdobramentos. 
Ao contrário, Weber (Para a sociologia weberiana a sociedade concebida como esta 
totalidade, ou um “todo” monolítico seria algo absolutamente incompreensível “pela 
simples razão de que este todo reside na interação entre as partes e não é possível 
conhecer todas elas ao mesmo tempo, porque são muitas e porque se renovam a cada 
dia.” (Rodrigues, 2006: p. 61).), ao perceber a sociedade como uma teia constantemente 
renovada de ações sociais, afirma ser esta realidade hipoteticamente infinita e que 
apenas um fragmento de cada vez pode ser objeto de conhecimento sistematizado, no 
sentido da pesquisa científica. 
É na simples escolha de uma das partes deste todo para ser estudada, que se encontram 
envolvidos os valores do pesquisador. 
A escolha de um caminho para a pesquisa envolve um tipo de racionalidade e, 
consequentemente, também se caracteriza como uma ação social. 
Com o objetivo de qualificar estas ações sociais, Weber desenvolve o conceito de tipos 
puros ou tipos ideais, sabendo que estas construções não espelhariam de forma fiel a 
realidade. Elas se apresentariam como pontos de referência, a partir dos quais seria 
possível se estabelecer níveis de comparação com o mundo concreto, funcionando, na 
prática, como um importante método de investigação para as ciências sociais. 
Todas as ações praticadas em sociedade implicam em um determinado nível de 
racionalidade, por parte do sujeito que as executa. Justamente a partir do seu caráter 
mais ou menos racional, Weber estabelece uma classificação para as ações sociais, 
segundo o princípio dos tipos ideais. 
Ação social racional com relação a fins - São aquelas cujo sentido subjetivo envolve 
os meios adequados para se atingir determinados objetivos, previamente estabelecidos. 
Ex.: uma pesquisa científica, um projeto econômico, fazer um curso de graduação etc. 
Ação social afetiva - São aquelas cujo sentido subjetivo racional se mistura a uma forte 
carga emocional, muitas vezes comprometendo a própria análise da racionalidade em 
questão. Ex.: ações motivadas por ciúme, cólera, paixão etc. 
Ação social racional com relação a valores - São aquelas cujo princípio racional não 
se vincula tanto ao objetivo a ser alcançado, mas à afirmação de determinados valores. 
Ex.: participar de uma manifestação em defesa da natureza ou em prol dos direitos 
humanos, ou entrar para a universidade porque a família considera este um ponto 
importante. 
Ação social racional com relação ao regular ou ação social tradicional - São aquelas 
cujo sentido subjetivo se constrói com vistas à observação de costumes ou tradições. 
 Ex.: o casamento religioso ou o batismo dos filhos em determinada igreja, para quem 
não é praticante daquela crença. Ir para a universidade porque todos na família assim o 
fizeram etc. 
44 
 
Para finalizar esta aula, vale ressaltar que a afirmação de que Weber considerava as 
situações descritas como tipos ideais, construídas para simples efeito de comparação é 
porque elas não representam a realidade num sentido fiel, mas sim para efeito de 
aproximação. 
Um rapaz pode ingressar na universidade para se graduar em Medicina, o que seria uma 
ação social racional com relação a fins. Entretanto, ao se matricular escolhe uma turma 
da manhã com o intuito de reencontrar uma ex-namorada. Além disso, todos na família 
são médicos e isto o faz sentir na obrigação de dar continuidade a esta cultura familiar. 
Neste caso, seriam misturadas à ação racional outras de caráter afetivo e tradicional. 
 
 
 
45 
 
Aula 08 – As Práticas de Educação para a Sociologia Weberiana 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
• conceituar e analisar os principais conceitos relacionados à sociologia 
weberiana, e sua ligação com as práticas de educação; 
 
• definir os conceitos de Pedagogia do Cultivo e Pedagogia do Treinamento. 
 
Nesta aula estudaremos a história humana, que segundo Max Weber, poderia ser 
definida como um processo crescente de racionalização das relações sociais. O agir em 
sociedade pressupõe determinadas normas, que se enraízam e institucionalizam. Na 
medida em que as relações sociais se tornam mais complexas, maiores os desafios para 
se estabelecer níveis de consenso que possam abrigar as diferentes relações sociais. 
Com o estabelecimento do Estado Moderno e as formas de dominação legítima que lhe 
são correspondentes, a efetivação da autoridade nacional passa a depender de um 
quadro administrativo profissional e hierarquizado, o que Weber definia como 
burocracia. 
Neste momento o exercício da autoridade passa a depender, de forma crescente, da 
legitimidade estabelecida pelo direito racional. É justamente a partir da necessidade de 
formação deste quadro de funcionários, que se submetem à autoridade por meio de 
princípios cada vez mais racionais, que as práticas de educação assumem importância 
crucial para a análise desenvolvida pela sociologia weberiana. 
 
 
A história humana, segundo Max Weber, poderia ser definida como um processo 
crescente de racionalização das relações sociais. 
O agir em sociedade pressupõe determinadas normas, que se enraízam, 
institucionalizam e em seguida assumem a forma de leis. 
Na medida em que as relações sociais se tornam mais complexas, maiores também se 
tornam os desafios para conciliar os diferentes interesses em jogo. 
É neste sentido que Weber imagina a sociedade humana como inserida num processo 
contínuo de aprimoramento da subjetividade ou racionalidade, que envolve as relações 
sociais. 
Este movimento implicaria no crescente abandono de concepções místicas e 
tradicionais, no que se refere à constituição dos diferentes princípios de autoridade, 
incluindo-se aí o próprio Estado. 
Para explicar este movimento, Weber constrói novamente uma tipologia, num sentido 
ideal, destinada a analisar as diferentes formas de dominação legítima. Segundo este 
autor, existiriam três tipos puros ou ideais de dominação legítima. 
46 
 
Dominação tradicional - É baseada nas tradições e mais diretamente relacionadas às 
monarquias absolutistas do período conhecido como idade moderna. 
Dominação carismática - É baseada no carisma do líder e geralmente se caracteriza 
por períodos de ruptura institucional. 
Dominação racional legal - É baseada na racionalidade e nas disposições legais, como 
no caso do Estado Moderno. Essa dominação é relacionada ao Estado de Direito e à 
presença de uma burocracia em termos administrativos. 
É neste momento que a sociologia weberiana atribui um significado relevante para as 
práticas de educação. 
É importante que você entenda bem estes conceitos: 
Para Weber, a educação é o modo pelo qual os indivíduos são preparados para exercer 
funções, relacionadas à nova realidade caracterizada pela racionalização da vida, tanto 
na administração do aparelho de estado, quanto nas empresas capitalistas. 
Segundo a sociologia weberiana, as práticas de educação passariam a se caracterizar por 
um conjunto de conteúdos voltados para o treinamento de indivíduos, a fim de que se 
tornassem aptos a desempenhar variadas funções tanto no Estado, quanto nas empresas. 
 Neste sentido, a própria condução do processo político se daria em moldes mais 
racionais. 
A sociedade capitalista, segundo Weber, teria desenvolvido práticas de educação cujo 
objetivo seria treinar o indivíduo, ao invés de simplesmente cultivar o seu

Outros materiais