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Filosofia da Ciência

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Filosofia da Ciência
Aula 1- Neotomismo
Objetivos:
1. Identificar nos discursos dos alunos de Serviço Social, os princípios cristãos, tais como: a justiça social, o amor ao próximo, a caridade, a boa vontade.
2. Reconhecer a importância do Neotomismo, corrente filosófica surgida no séc. XIX, atrelada à doutrina social da Igreja Católica que influenciou o início do Serviço Social.
3. Relacionar o Neotomismo com as perspectivas do Serviço Social nas décadas de 30 e 40.
Introdução:
O Neotomismo é uma corrente filosófica que resgata à filosofia de São Tomás de Aquino (século XIII) trazendo-a para os dias atuais. 
Podemos dizer que há duas respostas importantes que veiculam o Neotomismo ao Serviço Social: uma de caráter histórico, visto que a profissão (mesmo que ainda incipiente) nasce na seara da Igreja Católica atrelada à doutrina social da Igreja, na qual o respeito à pessoa humana torna-se primordial como forma de dar conta de um projeto societário justo que contemplasse a pessoa humana em sua dignidade.
Num segundo momento podemos nos reportar ao fundamento epistemológico do Neotomismo que guarda um princípio metafísico decisivo para compreender a maneira como os primeiros assistentes sociais compreenderam a questão social.
“Todo o domínio da filosofia pertence exclusivamente à razão; isso significa que a filosofia deve admitir apenas o que é acessível à luz natural e demonstrável apenas por seus recursos. A teologia baseia-se, ao contrário, na revelação, isto é, afinal de contas, na autoridade de Deus”.
(Gilson, Étienne. A Filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 2007).	
Tomismo
O movimento tomista, assim como outros movimentos escolásticos advindos de filósofos importantes do mesmo período, pretendiam recompor o abismo criado pela filosofia moderna entre a razão e a fé. Tais movimentos, em especial, a retomada ao tomismo fizeram surgir um novo tomismo com força suficiente para garantir a união das novas tendências científicas e filosóficas com a fé. O objetivo é se opor ao racionalismo e ao empirismo vigentes em todos os campos, inclusive o científico. O texto mais significativo é a encíclica papal Aeterni Patris (1879) de Leão XIII. A encíclica Aeterni Patris é um marco de renovação da filosofia tomista no século XIX.
Aspectos importantes a serem considerados:
A filosofia tomista tanto distingue a razão e da fé como tem a necessidade da sua concordância.
O domínio da filosofia pertence exclusivamente à razão e a Teologia baseia-se na revelação, isto é, na autoridade de Deus.
Enquanto o filósofo argumenta procurando na razão os princípios de sua argumentação, o teólogo argumenta buscando seus princípios primeiros na revelação.
São Tomás de Aquino
São Tomás, fundamentando-se em Aristóteles (trazidos pelos árabes), utilizou o instrumento necessário “para a sua especulação teológica, e nos legou a verdadeira Filosofia. Nele, o filósofo nasceu do teólogo, mas nem por isso a sua Filosofia confundiu-se com a Teologia. Respeitando sempre o objeto formal daquela ciência, S. Tomás fez que ela servisse a esta, conservando a sua independência própria. S. Tomás foi também filósofo, e é lícito dizer que há uma filosofia Tomista”. 
(MOURA, Odilão. Prefácio à Tradução do Compêndio de Teologia. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. pp. 19 e 20).
É aceitável que tenha conseguido? A Filosofia e Teologia podem dialogar? 
 
Segundo o medievalista Étienne Gilson: “A principal razão que dificulta tantos historiadores, filósofos e teólogos nomearem teologia o que eles preferem nomear filosofia é que, em seus espíritos, a noção de teologia exclui a de filosofia. Para eles, verdades propriamente filosóficas, que dependam unicamente da razão, não conseguiriam encontrar lugar na teologia, onde todas as conclusões dependem da fé. E é verdade que todas as conclusões do teólogo dependem da fé, mas não é verdade que da fé todas elas podem ser deduzidas. Portanto, era o sentido verdadeiro do termo teologia, que se fazia necessário encontrar em primeiro lugar.”
 
A solução de São Tomás é demonstrar que muitas verdades essencialmente naturais, mas reveladas quanto ao modo, podem ser abordadas no discurso teológico à luz da Revelação.
Nas palavras do Aquinate: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, 1, 3, ad 2: “Por exemplo, o senso comum tem por objeto o sensível, que abarca o visível e o audível; assim, ainda que se trate de uma única potência, ele se estende a todos os objetos dos cinco sentidos. Da mesma forma, uma única ciência sagrada pode considerar sob uma mesma razão, isto é, como objetos de revelação divina, objetos tratados em ciências filosóficas diferentes.” Segundo ele, faz-se necessário ao homem  elevar-se ao inteligível através do sensível, ao entendimento do sobrenatural mediante analogias com as coisas naturais. 
Assim como o “sentido comum”, sendo uma única faculdade, conhece, distingue e julga o audível, o visível e todos os demais atos dos diferentes sentidos próprios (olfato, tato e paladar), realizando, inclusive, uma síntese entre eles – e isto sem deixar de ser uma única potência – assim a ciência teológica, sem deixar de ser uma sabedoria una, pode tomar, organizar e unir a si certos saberes das diversas ciências filosóficas sem misturá-los e sem perder a sua unicidade, posto que esta simplicidade resta preservada pela única razão formal, eminentíssima e universalíssima, sob a qual a teologia tudo considera, a saber, a Revelação divina acolhida pelo dom da fé.
O primeiro questionamento que você pode ter é:
Por que começamos a primeira aula da disciplina de Filosofia da Ciência falando sobre uma corrente filosófica veiculada à Igreja Católica? 
Explicando como conciliar Teologia e Filosofia? 
O que a Ciência tem a ver com a teologia?
Podemos dizer que há duas respostas importantes que veiculam o Neotomismo ao Serviço Social:
Caráter histórico
Uma de caráter histórico, visto que a profissão (mesmo que ainda incipiente) nasce na seara da Igreja Católica atrelada à doutrina social da Igreja, na qual o respeito à pessoa humana torna-se primordial como forma de dar conta de um projeto societário justo que contemplasse a pessoa humana em sua dignidade.
Fundamento epistemológico do Neotomismo
Num segundo momento podemos nos reportar ao fundamento epistemológico do Neotomismo que guarda um princípio metafísico decisivo para compreender a maneira como os primeiros assistentes sociais compreenderam a questão social.
O humanismo cristão de Jacques Maritain
Como herdeiros da modernidade, vimos no século XVII com Descartes a separação entre a teologia e a filosofia, tendo esta última supremacia sobre a primeira.  A contrapartida dos filósofos católicos, devidamente amparados pela Igreja Católica e pelas Encíclicas papais, rechaçavam esses “tempos modernos”, tanto a partir do tomismo quanto do neotomismo (retomada em fins do século XIX do pensamento tomista por Jacques Maritain na França e pelo Cardeal Mercier na Bélgica) demonstrando que o Verdade Cristã está apenas acima do intelecto e não contra ele.
O filósofo Jacques Maritain, um dos expoentes de Neotomismo, além disso situa o erro na filosofia de Rousseau que em seu “Discurso sobre a Origem e o Fundamento da Desigualdade entre os Homens”, quando aponta que o homem em estado de natureza, não teria “dons sobrenaturais”. Tal pensamento é contrário à metafísica cristã, na qual tanto a inteligência quanto a vontade estão à serviço da pessoa humana que caminha para Deus.
Ao se recusar a falar em uma humanidade abstrata criaria um falso modelo associativo, fundado em contrato social que, ao legitimar a vontade geral, leva a submissão do indivíduo à comunidade.
O humanismo cristão enseja preocupações de ordem moral que são acentuadas tanto na construção de valores cuja premissa básica é o respeito à dignidade da pessoa humana quanto no aspecto vocacional dos primeiros assistentes sociais. 
Pode-se até pensar que a problemática da ciência, longe de ser reduzida as dimensões lógico-epistemológicas, postulaapenas as questões de ordem histórica, política e ética, porém na emergência de um novo saber, a descoberta e a justificativa vão juntas e se mesclam nos contextos psíquico, histórico, social, cultural, político e ideológico.
Ao contextualizar o objeto do Serviço Social tanto em seu aspecto histórico quanto em seu aspecto conceitual, nos deparamos com a questão social atrelada à uma ordem moral, motivada pela Encíclica papal Rerum Novarum (1881) de Leão XIII, que incide sobre o saber dos primeiros assistentes sociais, marcando sobremaneira o entendimento da questão social como uma inversão na hierarquia de valores contrários à perspectiva cristã.
A filosofia e a teologia diferem tanto pela finalidade quanto pelo método, segundo Tomás de Aquino, o filósofo tira seus argumentos das essências das coisas e o teólogo parte sempre da Primeira causa ou de Deus, para poder argumentar. Pesquise as características do pensamento filosófico e pensamento teológico.
O pensamento filosófico tem como característica o rigor e a objetividade, além de ser sistemático. Segundo Marilena Chauí, na obra Convite à filosofia, “não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente”.
O pensamento teológico também é sistemático, rigoroso e objetivo, porém parte do pressuposto da fé como um passo anterior ao conhecimento das coisas inteligíveis, portanto, ainda caracteriza-se por um conhecimento racional que utiliza a filosofia como âncora para defender a doutrina.                                          
Nesta aula, você:
Compreendeu a importância do Neotomismo, corrente filosófica surgida no séc. XIX, atrelada à doutrina social da Igreja Católica que influenciou o início do Serviço Social.
Aprendeu os aspectos importantes da filosofia neotomista e sua importância na ação dos primeiros assistentes sociais.
Analisou a influência neotomista no Serviço Social, por exemplo, nas décadas de 30 e 40.
Aula 2- Positivismo
Objetivos:
1. Identificar os termos utilizados por Augusto Comte.
2. Reconhecer os significados implicados no termo positivo e suas principais características.
3. Relacionar o pensamento positivista e sua influência no campo científico e acadêmico com o Serviço Social.
Introdução:
O termo positivismo	
O termo positivismo é um conceito que possui muitos significados. No contexto da disciplina, é dado destaque ao significado extraído de Augusto Comte. Sob o nome desse autor, representa corrente que visa a reforma da sociedade e de seus valores a partir da compreensão do desenvolvimento do conhecimento científico. A ciência apresenta-se como o estado mais evoluído do desenvolvimento da inteligência humana e deve guiar a formação da nova sociedade. Os saberes que, de acordo com essa posição, já alcançaram o estado científico encontram-se classificados e relacionados por uma hierarquia. 
Tais características são determinantes para entender a corrente filosófica do século XIX, fundada pelo francês Augusto Comte, no que tange a reação à filosofia especulativa, em especial, representada pelo idealismo clássico alemão.
É necessário lembrar que a filosofia é um saber que se caracteriza pelo chamado caráter crítico, desde sua emergência na Grécia com os primeiros filósofos. Tanto a filosofia como a ciência nascem sob tal característica que assume uma dimensão importante: a interlocução.
Não basta saber ler o autor, entendê-lo em sua especificidade, em seu domínio teórico, mas conhecer a quem ele se dirige. Assim, ao rejeitar a filosofia especulativa dos idealistas alemães, como Fichte, Schelling, Kant e Hegel, Augusto Comte exalta os fatos tem como intuito de demonstrar como a realidade pode ser conhecida. O termo positivo guarda acepção e evidencia o fato de que o conhecimento humano só é capaz de conhecer algo que possa ser conhecido, e não as causas últimas ou primeiras das coisas como na metafísica.
“O positivismo é um rótulo novo, para uma nova fase de desenvolvimento do empirismo. Nasceu o nome em 1830 na Escola do socialista utópico Saint-Simon (1760-1825), e ganhou fortuna com Augusto Comte, o pensador protótipo do movimento, sobretudo na França. Derivado do latim positum, significa descritivamente o que se observa, ou experimenta.
O progresso das ciências experimentais prestigiou o positivismo. Lavoisier (1743-1793) desenvolvera a química; Bichat (1771-1802) fizera progredir a biologia; descobrem-se argumentos para o evolucionismo das espécies vivas, com o resultado de uma nova mundivisão, que espantava aos teólogos tradicionais; os astros são vistos a girar num céu cada vez menos sacral; o desenvolvimento das ciências sociais à base da observação dos fatos reduziu a situações meramente culturais estruturas anteriormente consideradas naturais. Estes e outros aspectos da modernidade vieram criar um clima favorável ao positivismo, que portanto desenvoltamente proclamou a importância dos métodos experimentais e advertiu para as limitações da filosofia racionalista, sobretudo da racionalista de ideias de todo autônomas da experiência”.
Há motivos presentes no criticismo de Kant, que favoreceram ao positivismo. Ao publicar a Crítica da razão pura, lançou barreiras às pretensões da metafísica. Em reduzindo os universais a uma validade apriorística, meramente formal, no recinto do entendimento, nada mais resta de verdadeiramente apreciável na filosofia racionalista. O positivismo deu mais um passo, reduzindo o conhecimento ao experimentável, o que na prática significa uma consideração das relações extrínsecas entre as coisas, sem que estas relações possam ser consideradas intrinsecamente, como nas ciências positivas.
Há motivos presentes no criticismo de Kant, que favoreceram ao positivismo. Ao publicar a Crítica da razão pura, lançou barreiras às pretensões da metafísica. Em reduzindo os universais a uma validade apriorística, meramente formal, no recinto do entendimento, nada mais resta de verdadeiramente apreciável na filosofia racionalista. O positivismo deu mais um passo, reduzindo o conhecimento ao experimentável, o que na prática significa uma consideração das relações extrínsecas entre as coisas, sem que estas relações possam ser consideradas intrinsecamente, como nas ciências positivas.
“Desde Bacon se repete que são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados, mas para entregar-se à observação nosso espírito precisa de uma teoria” 
(TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987, p. 34).
Método e atitude positivistas
Há uma preocupação em conhecer as leis de funcionamento da Natureza (estende-se no Curso de filosofia positiva, inclusive a biologia, a patologia), mesmo que não haja necessariamente uma utilização prática. A demanda de caráter intelectual visa submeter a imaginação à observação, tendo como telos (objetivo) uma ciência que fosse capaz de prever, assim como um verdadeiro espírito positivo.
O método a ser utilizado para tal conhecimento postula leis invariáveis, assim como os das Ciências Naturais, assim como a atitude positivista consiste em descobrir as relações entre as coisas e não as causas dos fenômenos.
 
As estratégias como questionários, escalas de atitudes, escalas de opinião, tipos de amostragem etc. e a estatística produziam as relações entre os fatos de forma a dar coerência a eles que eram serem observados de forma imediata pela experiência.
Para ler Comte
Para compreender Comte é preciso ver que ele está imerso numa sociedade profundamente marcada (abalada) pela Revolução Francesa.
A visão conservadora tem a intenção de fundar “o novo pacto entre a filosofia e a ordem social, num período de contra-revolução”. (VERDENAL, René. La Filosofía Positiva de Auguste COMTE. In: CHÂTELET, François.Historia de la Filosofía: Ideas, Doctrinas. Tomo III. Madrid, Espasa-Calpe, 1976, p. 117).
O que seria a ordem para Comte?
“Nenhum grande progresso poderá efetivamente realizar-se se não tender em última instância para a evidente consolidação da ordem” (Política positiva, IV, p.17)
Há a apreensão de uma ordem também no sentido moral que faz com que Comte seja um autor muito estigmatizado no século XX, principalmente quando vai da sociologia à religião, fundando uma nova religião na qual é o sumo sacerdote.
A sociologia ou física social
“A ciência a que todas as ciências estão subordinadas, como ao seu fim último, é a sociologia. O escopo desta ciência é o de "perceber nitidamente o sistema geral das operações sucessivas, filosóficas e políticas, que devem libertar a sociedade da sua fatal tendência para a dissolução iminente e conduzi-Ia diretamente para uma nova organização, mais progressiva e mais sólida do que a que repousava na filosofia teológica" (Phil. pos., IV, p. 7). Para tal fim, a filosofia deve constituir-se da mesma forma que as demais disciplinas positivas e conceber os fenômenos sociais como sujeitos a leis naturais que tornem possível a previsão deles, pelo menos dentro dos limites compatíveis com a sua complexidade superior.
A sociologia, ou física social, é dividida por Comte em estática social e dinâmica social, correspondentes aos dois conceitos fundamentais em que ela se funda, os de ordem e do progresso. A estática social põe em luz a relação necessária, o "consenso universal", que existe entre as várias partes do sistema social. Assim, entre o regime político e o estado correspondente da civilização humana há uma relação necessária, pela qual um determinado regime, embora estando de acordo com a fase correspondente da civilização, se torna inadequado para unir a fase diversa e subsequente.
A ideia fundamental da dinâmica social é, pelo contrário, a do progresso, isto é, do desenvolvimento continuo e gradual da humanidade. Segundo a noção do progresso, cada um dos estados sociais consecutivos é o "resultado necessário do precedente e o motor indispensável do seguinte, segundo o luminoso axioma do grande Leibniz: “o presente está grávido do futuro". A ideia do progresso tem para a sociologia uma importância ainda maior do que a que tem a ideia da série individual das idades para a biologia. Ela explica também a aparição dos homens de gênio, desses homens a que Hegel chamava "indivíduos da história cósmica"; e a explicação de Comte é análoga à de Hegel. Os homens de gênio não são mais que os órgãos próprios do movimento predeterminado, o qual, se esses gênios porventura não surgissem, teria aberto outras vias.
O progresso realiza um aperfeiçoamento incessante, embora não ilimitado, do gênero humano; e este aperfeiçoamento assinala "a preponderância crescente das tendências mais nobres da nossa natureza" (Ib., p. 308). Mas este aperfeiçoamento não implica que uma qualquer fase da história humana seja imperfeita ou inferior às outras. Para Comte, como para Hegel, a história é sempre, em todos os seus momentos, tudo o que deve ser. "Dado que o aperfeiçoamento efetivo resulta sobretudo do desenvolvimento da humanidade, como poderia isso não ser essencialmente, em cada época, o que podia ser segundo o conjunto da situação" (Phil. pos., IV, p. 311). Comte afirma que, sem esta plenitude de cada época da história com relação a si mesma, a história seria incompreensível. E tampouco hesita em restabelecer na história o conceito de causa final. Os eventos da história são necessários no duplo significado do termo: no sentido de que nela é inevitável o que se manifesta primeiro como impensável, e reciprocamente. É este um modo igualmente eficaz de exprimir a identidade hegeliana entre o racional e o real. E Comte cita a este propósito "o belo aforismo político do ilustre de Maístre: tudo o que é necessário existe".
É fácil de ver como deste ponto de vista o futuro regime sociológico parece a Comte inevitável porque racionalmente necessário. Neste regime, a liberdade de investigação e de critica será abolida. "Historicamente considerado, diz Comte (Ib., p. 39), o dogma do direito universal, absoluto e indefinido de exame é apenas a consagração, sob a forma viciosamente abstracta, comum a todas as concepções metafísicas, do estado passageiro da liberdade ilimitada, no qual o espírito humano foi espontaneamente colocado por uma consequência necessária da irrevogável decadência da filosofia teológica e que deve durar naturalmente até ao advento social da filosofia positiva". Por outros termos, a liberdade de investigação justifica-se no período de trânsito do absolutismo teológico ao absolutismo sociológico; instaurado este último, será banida por ele, como o foi pelo primeiro.” (Abbagnano, Nicola. História da Filosofia, Primeiro volume, Editorial Presença, 1999. pp.132-4)
Características da Sociologia Comteana
Caracteriza-se como uma “física social”, sendo dividida em estática e dinâmica, correspondentes aos dois conceitos fundamentais em que ela se funda, os de ordem e do progresso;
Abarca todos os homens em todos os tempos;
É uma visão continuista da história que suprime a descontinuidade do presente;
A sociedade estudada são os núcleos permanentes: a propriedade, a família, o trabalho, a pátria e sobretudo, a religião.
A positividade é uma estrutura mental da sociedade.
A Lei dos Três Estados
A ideia-chave do Positivismo comtiano é a Lei dos Três Estados, de acordo com a qual o homem passou e passa por três estágios em suas concepções, isto é, na forma de conceber as suas ideias:
Teológico: O ser humano explica a realidade apelando para entidades supranaturais (os "deuses"), buscando responder a questões como "de onde viemos" e "para onde vamos"; além disso, busca-se o absoluto;
Metafísico: É uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade. No lugar dos deuses há entidades abstratas para explicar a realidade. Continua-se a procurar responder a questões como "de onde viemos" e "para onde vamos" e procurando o absoluto;
Positivo: Etapa final e definitiva, não se busca mais o "porquê" das coisas, mas sim o "como", com as leis naturais, ou seja, relações constantes de sucessão ou de coexistência. A imaginação subordina-se à observação e busca-se apenas o relativo.
A neutralidade da Ciência
Quando discute o papel da Ciência para assegurar a marcha normal e regular da sociedade industrial, engendra um posicionamento próprio ao espírito positivista: a neutralidade da ciência, que se faz sentir nas Ciências de um modo geral e no entendimento do que chamamos de ciência. A influência Comteana no meio acadêmico e científico Brasileiro é verificável.
Além disso, Chauí descreve que “na concepção comtiana, tornar as sociedades mais científicas – ou melhor: em seu linguajar, mais positivas – não é o mesmo que as tornar tecnocráticas ou desumanizadas, mas, justamente ao contrário, é torná-las mais justas, mais cuidadosas com todos os cidadãos. Melhorar as sociedades somente é possível se as sociedades forem conhecidas – e esse conhecimento só é possível por meio da ciência. Assim, como” somente seria possível explicar o que ocorria na sociedade de então fazendo uma referência aos eventos sociais prévios, sendo necessário, portanto, determinar os diversos agentes sociais e suas mútuas relações.
Esse procedimento – característico das investigações sociológicas – seria chamado de “filiação histórica”. O estudo científico da sociedade exige a compreensão do conjunto social: para a análise das partes é necessária uma visão do todo”.
A influência positiva nos meios acadêmicos brasileiros e seus principais representantes:
No Brasil o positivismo teve ampla aceitação, quer nas escolas de direito, quer nos círculos militares em virtude da matemática, quer ainda no movimento republicano. Teve também seus materialistas e evolucionistas. Em Recife notaram-se primeiramente Tobias Barreto (1839-1889) e Silvio Romero (1859-1914), depois emigrados para outros centros.No Rio de Janeiro o republicano Benjamim Constant (1837-1891) fundava em 1876 a sociedade positivista. Mas a igreja positivista foi mais um esforço de Miguel Lemos (1854-1917) e R. Teixeira Mendes (1855-1927).                                 
Nesta aula, você:
Compreendeu o contexto do pensamento de Augusto Comte.
Aprendeu os significados implicados no termo positivo e suas principais características.
Analisou a inserção do pensamento positivista nas Ciências e no campo do Serviço Social.
 
Aula 03- Marxismo
Objetivo: 
1. Conhecer o pensamento de Marx e Engels
2. Identificar os conceitos marxistas: trabalho, modos de produção, mais-valia, Materialismo histórico e ideologia.
3. Compreender a inserção do pensamento marxista no campo do Serviço Social.
 
Introdução:
Antes de falarmos nos conceitos-chaves tratados por 
Marx e Engels, e com os quais vocês têm se deparado em inúmeras outras disciplinas, é necessário chegar perto do cabedal conceitual de Marx e Engels, sem mediadores. Para tanto, um primeiro começo é contextualizar o seu próprio pensamento em relação à época. Um de seus interlocutores é Hegel, para quem as ideias humanas movem a História e não são (como para Marx) produtos das condições históricas.
Além disso, temos também a interlocução com 6, que fica evidenciada segundo o historiador Nicola Abbagnano, em seu ponto de partida com a reivindicação do homem, do homem existente, na totalidade dos seus aspectos, feita já por Feuerbach: “Engels partilha do entusiasmo que a obra de Feuerbach tinha suscitado nele e em Marx, como em muitos dos jovens hegelianos alemães. 
"Quem foi que descobriu o mistério do 
"sistema"? - Feuerbach.Quem negou a dialéctica do conceito, essa guerra dos deuses que só os filósofos conheciam? - Feuerbach. Quem foi que apresentou não "o significado dos homens" - como se o homem pudesse ter outro significado além de ser homem – mas "os homens" no lugar do velho xale com que se embrulhava a autoconsciência infinita? Feuerbach e só Feuerbach."(Sagrada família, Gesamtausgabe, 111, p. 265).
Apesar de não ter aderido aos aspectos positivos e negativos suscitados por Feuerbach, Marx foi capaz de compreender que não é possível conhecer o homem apelando para a sua interioridade ou para sua consciência numa relação abstrata que trouxesse uma essência que obviamente estaria no âmbito da relação privada, mas era necessário mostrar que o homem é fruto das relações historicamente determinadas pelas formas de trabalho e produção. Além de romper com o idealismo hegeliano, Marx inverteu a concepção de que se conhece a esfera social, a partir da esfera política, então pela primeira vez a sociedade civil aparece como pressuposto necessário ao conhecimento da esfera política e não ao contrário. 
Marx encontra paralelo entre as formas de sociabilidade e as estruturas emergentes do capital, daí conclui ser o trabalho, o princípio fundamental como uma realidade humana.
A importância do trabalho
Para falarmos sobre a importância fundamental dada por Marx ao trabalho, comecemos pelo modo pelo qual o homem tem seu modo de ser. Sua existência específica, sua capacidade de expressão, de realização de si, produzindo bens materiais está atrelada à produção concomitante com os princípios, ideias e categorias refletidas nas próprias relações sociais que estabelece. A perspectiva ontológica da unidade indissolúvel entre subjetividade e objetividade, presente na atividade matriz da sociabilidade, o trabalho, não descarta nem mesmo o caráter histórico e transitório dessa relação.
Para Marx, a formação das ideias parte necessariamente da práxis material e há “um movimento continuo de acréscimo nas forças produtivas, de destruição nas relações sociais, de formação das ideias ...” (Miséria da filosofia, trad. ital., 11, 1, p. 89).
“As condições, sob as quais os indivíduos, até ao momento em que não surge ainda a contradição, têm relações entre si, são condições que pertencem à sua individualidade e não a qualquer coisa de exterior a eles próprios: são condições sob as quais apenas esses indivíduos determinados, existentes em situações determinadas, podem produzir a sua vida material e aquilo que com ela está ligado; essas são, por conseguinte, as condições das suas manifestações pessoais e por estas são produzidas” (Ideol. Alemã, p. 70).
Recapitulando
Os pontos principais da antropologia de Marx, segundo Abbagnano:
1) Não existe uma essência ou natureza humana em geral.
2) O ser do homem é sempre historicamente condicionado pelas relações em que o homem entra com os outros homens e com a natureza, pelas exigências do trabalho produtivo. 
3) Estas relações condicionam o indivíduo, a pessoa humana existente; mas os indivíduos por sua vez condicionam-se promovendo a sua transformação ou o seu desenvolvimento.
4) O indivíduo humano é um ser social.
A importância do trabalho
Encontramos alguns comentadores que logram a Marx, a redução da própria sociedade à sua estrutura econômica, sem compreender que “só a estrutura econômica da sociedade tem, propriamente, história. A moda desta história, e portanto da história geral, e é constituída pela relação entre as forças produtivas e as relações de produção (as relações de propriedade)” (Abbagnano).
As relações de produção
O que são os meios de produção e as forças produtivas?
Os meios de produção são as condições e os instrumentos de trabalho e as forças produtivas, o trabalho.
De que maneira as forças produtivas estão relacionadas com as relações de produção?
Quando as forças produtivas alcançam certo grau de desenvolvimento entram em contradição com as relações de produção existentes, o que acarreta uma estagnação. Entra-se, então, numa época de revolução social. No entanto, uma formação social só se extingue quando se tiverem desenvolvido todas as forças produtivas a que pode dar lugar; as novas relações de produção entram em ação quando se encontram amadurecidas, no seio da velha sociedade, as condições materiais da sua existência.” (Abbagnano)
Então, o que acontece nas relações produtiva
Nas relações produtivas, e, por conseguinte, na determinação da existência historicamente condicionada, insere-se o homem na sua totalidade, encontramos o conceito da práxis que se realiza em condições históricas dadas e, como sabemos, nas condições postas pela divisão social do trabalho, pelas relações de produção (relação entre meios de produção e forças produtivas), portanto, pela forma da propriedade e pela divisão social das classes. A economia política afirma que o salário corresponde aos custos e ao preço da produção de uma mercadoria. Calcula-se, assim, o que o trabalhador precisa para manter-se e reproduzir-se, deduzindo-se esse montante do custo total da produção e determinando o salário. Na realidade, porém, não é o que ocorre. 
O fenômeno da ideologia
“A ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas são inferiores aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em ambas; os negros e índios são discriminados como inferiores; homossexuais são perseguidos como pervertidos etc.” 
(CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.218.)
A classe dominante tanto tem o poder material quanto o poder espiritual dominante. Assim, assinala Marx como há uma dissimulação da classe dominante em relação à manutenção do status quo.
Conceito de Educação Ambiental
Na obra a Ideologia Alemã de Marx, lemos:
“As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual,o que faz com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual. As ideias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, as relações materiais dominantes concebidas como ideias; portanto, a expressão das relações que tornam uma classe a classe dominante; portanto, as ideias de sua dominação.
Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também consciência e, por isso, pensam. Na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o façam em toda a sua extensão e, consequentemente, entre outras coisas, dominem também como pensadores, como produtores de ideias; que regulem a produção e distribuição das ideias de seu tempo e que suas ideias sejam, por isso mesmo, as ideias dominantes da época”
Daí no entendimento de Marx: “Toda concepção histórica, até o momento, ou tem omitido completamente a base real da história (forças de produção, capitais, divisão social do trabalho, propriedade, formas sociais de intercâmbio que cada geração encontra como produto da geração precedente e que a atual reproduz e transforma, alterando a forma da luta de classes), ou a tem considerado como algo secundário, sem qualquer conexão com o curso da história. Isto faz com que a história deva sempre ser escrita de acordo com um critério situado fora dela. A produção da vida real aparece como algo separado da vida comum, como algo extra e supraterrestre.
Com isto, a relação dos homens com a Natureza é excluída da História, o que engendra a oposição entre Natureza e História. Consequentemente, tal concepção apenas vê na História as ações políticas dos Príncipes e do Estado, as lutas religiosas e as lutas teóricas em geral, e vê-se obrigada a compartilhar, em cada época, a ilusão dessa época. Por exemplo, se uma época imagina ser determinada por motivos puramente ‘políticos’ ou ‘religiosos’, embora a ‘política’ e a ‘religião’ sejam apenas formas aparentes de seus motivos reais, então, o historiador dessa época considerada aceita essa opinião.
A ‘imaginação’, a ‘representação’ que homens, historicamente determinados fizeram de sua práxis real transformam-se, na cabeça do historiador, na única força determinante e ativa que domina e determina a práxis desses homens. Quando a forma sob a qual se apresenta a divisão do trabalho entre os hindus e entre os egípcios suscita nesses povos um regime de castas próprio de seu Estado e de sua religião, o historiador crê que o regime de castas é a força que engendrou essa forma social.
Enquanto os franceses e os ingleses se atêm à ilusão política (isto é, tomam as formas e forças políticas como determinantes do processo histórico), o que está certamente mais próximo da realidade, os alemães se movem na esfera do “espírito puro” e fazem da ilusão religiosa a força motriz da história”.
O Pensamento de Marx e Engels é chamado de materialismo. Explique o termo.
“Materialismo - porque somos o que as condições materiais (as relações sociais de produção) nos determinam a ser e a pensar. Histórico- porque a sociedade e a política não surgem de decretos divinos nem nascem da ordem natural, mas dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo. A História não é um progresso linear e contínuo, uma sequência de causas e efeitos, mas um processo de transformações sociais determinadas pelas contradições entre os meios de produção (a forma da propriedade) e as forças produtivas (o trabalho, seus instrumentos, as técnicas)”. 
Trecho retirado de Chauí, no livro de nossa bibliografia.
Nesta aula, você:
Conheceu o pensamento de Marx e Engels
Identificou os conceitos marxistas: trabalho, modos de produção, mais-valia, Materialismo histórico e ideologia.
Compreendeu a inserção do pensamento marxista no campo do Serviço Social.
Aula 4 – Althusser, Gramsci, Lucáks
Objetivo:
1. Conhecer o pensamento de Althusser, Gramsci, Lucáks em relação à obra de Marx.
2. Compreender os conceitos fundamentais de Althusser, Gramsci e Lucáks em relação à leitur
a marxista.
3. Constatar a inserção e a leitura de Althusser, Gramsci e Lucáks no campo do Serviço Social.
Introdução:
Como havíamos tentado na aula passada ler Marx, conhecê-lo sem mediadores e comentadores, faremos aqui ao contrário, ao mostrarmos explicitamente as abordagens e leituras feitas por Althusser, Gramsci, Lukács.
O caráter interpretativo nos interessa, e muito, nesta aula, como forma de habilitar ao aluno a entrar nas discussões teóricas travadas pelos teóricos brasileiros importantes no campo do Serviço Social no que tange às abordagens marxistas, tanto na apropriação epistemológica do marxismo, portanto na compreensão marxiana de ciência, quanto em preocupações de ordem ideológica que marcam as discussões sobre a práxis do assistente social.
Podemos observar nos teóricos brasileiros do Serviço Social e mesmo nas dissertações de mestrado, a preocupação de mapear as influências de cunho marxistas. 
Compreender os diferentes níveis de apropriação epistemológica advindas desses três pensadores, como volta ao próprio pensamento marxista, é de alguma forma resgatar toda uma preocupação metodológica para identificar no trabalho investigativo, as influências, inclusive no que tange às discussões visando estabelecer uma reflexão crítica do trabalho profissional.
Dica
Um exemplo de artigo mencionado para que possam ler na íntegra é de Ester Vaisman, intitulado: ALTHUSSER: IDEOLOGIA E APARELHOS DE ESTADO – VELHAS E NOVAS QUESTÕES, na qual trata da “utilização do critério epistemológico na determinação do fenômeno ideológico”.
Antonio Gramsci
Observa-se que há ao largo de uma interpretação mais restrita marxista, vemos aparecer a figura de Gramsci que, frenquentemente, se torna um interlocutor para sustentar a fundamentação teórica, assim como aconteceu com a proposta curricular da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, de 1996.
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS
A militância política aparece como determinante na apropriação ideológica do marxismo pelo movimento de Reconceituação, diferentemente de 1980, no qual a apropriação epistemológica é focada no estudo do paradigma ou de um modelo científico.
Ao tratarmos de epistemologia não podemos nos furtar a considerar questões de cunho teórico-metodológico e ideo-político que permeiam a compreensão do que seja a profissão e a maneira de exercê-la.
O peso teórico-analítico do desvendamento do significado da profissão
Em nenhuma outra profissão, vemos com quão força atrelam-se debates políticos, ideológicos e de cunho epistemológico intrincados no código de ética e na lei da regulamentação da profissão.
“O peso teórico-analítico do desvendamento do significado da profissão, inaugurado por Iamamoto, em 1982 – em parceria com Carvalho – que esbanja uma sólida e rigorosa postura metodológica comprometida com a perspectiva ontológica de Marx.
Sua análise, mesmo já contabilizando quase trinta anos desde a primeira edição, é referência obrigatória para uma compreensão crítica da natureza do Serviço Social, no bojo da produção e reprodução das relações sociais.
E, nesse sentido, vamos recuperar alguns dos seus principais achados, recorrendo à elaboração original de 1982, mas também à crítica teórica que Iamamoto (2008) desenvolve de sua própria elaboração, em: “Serviço Social em tempo de capital fetiche.”(SANTOS, J. S. Apropriações da tradição marxista no Serviço Social. 
In Cadernos Especiais n. 42, edição: 22 de janeiro a 19 de fevereiro de 2007.) 
É neste sentido de ethos da profissão que encontramos Althusser, como um dos principais pensadores de influência marcante no debate do Serviço Social.
Althusser e Lukács
Althusser
Sofrendo influência também do cientificismo e do formalismo metodológico (estruturalista) presente no "marxismo" althusseriano, a proposta marxista do Serviço Social nos anos 60/70, posteriormente, se ancora,como nos anos de 1980, 1990 e 2000, em outros pensadores da tradição, crítica como Gramsci.
Lukács
Além de Lukács, que aparece no horizonte teórico do Serviço Social trazendo um novo tipo de ontologia: propõe a perspectiva do ser social atrelado primordialmente à história como categoria fundamental do ser social.
A contribuição fundamentada pela teoria social crítica	
A contribuição fundamentada pela teoria social crítica, na época, possibilitou a transição para outro foco na interpretação da prática profissional do Serviço Social. Essa passa a ser considerada como um dos elementos que constituem o processo de trabalho profissional, assim como o objeto, os meios de trabalho, o produto e a própria atividade do sujeito, que é o trabalho, ou, ainda, a prática profissional.
Sobre Iamamoto e Netto, quando se ressalta em discussões mais recentes que “inexiste qualquer nova questão social”. Considera que, sem a supressão da própria ordem do capital, é inevitável a emergência de novas expressões da questão social. As transformações societárias, que emergem dessa ordem de forma dinâmica “põe e repõe os corolários da exploração, como a cada estágio de seu desenvolvimento ela instaura expressões sócio-humanas diferenciadas e mais complexas, correspondentes a exploração que é a sua razão de ser.” (NETTO, José Paulo. Cinco Notas a Propósito da “Questão Social”. In: Revista da associação brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Sócia - TEMPORALIS. Ano II. Nº 3. Janeiro a Junho de 2001.p. 48)
A pesquisa tem como referencial epistemológico o método dialético de investigação
A pesquisa tem como referencial epistemológico o método dialético de investigação e caracteriza-se como uma pesquisa do tipo qualitativa. Trata-se de um método que permite buscar “a ligação, a unidade e o movimento que engendra os contraditórios, que os opõe, que faz com que se choquem, que os quebra ou que os supera”
Destacam-se, entre as categorias do método, a totalidade, a particularidade, a contradição e a historicidade que enrijecem o fio condutor dessa investigação, contribuindo para apreensão da interlocução entre a educação e o trabalho. Tais categorias são dotadas de significados, pois são construções históricas em movimento que atravessam o desenvolvimento do conhecimento e, portanto, permitem penetrar no objeto de pesquisa e na realidade social. Então, se o real está em movimento, “que nosso pensamento também se ponha em movimento e seja pensamento desse movimento. Se o real é contraditório, então que o pensamento seja pensamento consciente da contradição”
Dois fatores para que a teoria marxiana conseguisse “um lugar ao sol” no interior das ciências sociais por José Carlos Neto
Neto, que indica dois fatores para que a teoria marxiana conseguisse “um lugar ao sol”, no interior das ciências sociais nas universidades: “De uma parte, a efetiva influência da tradição marxista nos movimentos de libertação nacional e social que se encorpam nos anos 50, assim como sobre os movimentos de massas nos países capitalistas avançados; de outra, a crise das chamadas ciências sociais acadêmicas, que também se põe de manifesto nos centros capitalistas a partir da década de 50”.
Neto mostra que “a resultante desse jogo polifacético foi uma aproximação muito peculiar de setores do serviço social à tradição marxista.
Eu diria que ela se singularizou por três traços interligados:
Em primeiro lugar, tratou-se de uma aproximação que se realizou sob exigências teóricas muito reduzidas – as requisições que a comandavam foram de natureza sobretudo ideo-política, donde um cariz fortemente instrumental nessa interlocução.
Em segundo lugar, e decorrentemente, a referência à tradição marxista era muito seletiva e vinha determinada menos pela relevância da sua contribuição crítico-analitíca do que pela sua vinculação a determinadas perspectivas prático-políticas e organizacional-partidárias.
Enfim, a aproximação não se deu às fontes marxianas e/ou aos ‘clássicos’ da tradição marxista, mas especialmente a divulgadores e pela via de manuais de qualidade e níveis discutíveis.
A formação profissional do Assistente Social supõe um suporte teórico metodológico necessário a reconstrução da prática e ao estabelecimento de estratégias de ação.
Por que esse suporte teórico metodológico é importante?
Para que o Assistente Social detenha “um conjunto de saberes que extrapole a realidade imediata e lhe proporcione apreender a dinâmica conjuntural e a correlação de forças manifesta ou oculta”
Nesta aula, você:
Conheceu o pensamento de Althusser, Gramsci, Lucáks em relação à obra de Marx.
Compreendeu os conceitos fundamentais de Althusser, Gramsci e Lucáks em relação à leitura marxista.
Constatou a inserção e a leitura de Althusser, Gramsci e Lucáks no campo do Serviço Social.
 
Aula 5- Escola de Frankfurt
Objetivo:
1. Conheceremos a primeira geração da Escola de Frankfurt, que desempenha uma crítica importante no projeto de autonomia da razão.
2. Entenderemos a insuficiência da teoria marxista para dar conta da realidade midiática emergente.
3. Observaremos o fenômeno dos mass media.
A Escola de Frankfurt
“A escola inicialmente consistia de cientistas sociais marxistas dissidentes que acreditavam que alguns dos seguidores de Karl Marx tinham se tornado "papagaios" de uma limitada seleção de ideias de Marx, usualmente em defesa dos ortodoxos partidos comunistas. Entretanto, muitos desses teóricos experimentaram que a tradicional teoria marxista não poderia explicar adequadamente o turbulento e inesperado desenvolvimento de sociedades capitalistas no século vinte”.
Esta definição retirada do Google é um bom retrato para delinear as problemáticas que preocupavam os frankfurtianos.
Uma dessas problemáticas é a crítica à “indústria cultural”, termo cunhado por Adorno que evidencia tanto uma crítica à cultura quanto à sociedade, do mesmo modo como Marx demonstrou a relação entre a produção material e a reprodução espiritual da sociedade. 
O que significa isso? Significa que o trabalhador continuaria a ser envolvido numa mesma teia de relações alienadas que o fariam continuar a portar símbolos, a querer bens materiais que, atrelados aos bens de consumo burgueses, o manteriam numa mesma posição servil.
Em Filosofando, Maria Lucia Aranha descreve tal situação: “há mecanismos na própria sociedade que impedem a tomada de consciência: as pessoas têm a ilusão de que vivem numa sociedade de mobilidade social e que, pelo empenho no trabalho, pelo estudo, há possibilidade de mudança, ou seja, "um dia eu chego lá e se não chegam, "é porque não tiveram sorte ou competência".
Por outro lado, uma série de escapismos na literatura e nas telenovelas fazem com que as pessoas realizem suas fantasias de forma imaginária, isto sem falar na esperança semanal da Loto, Sena e demais loterias. Além disso, há sempre o recurso ao ersatz, ou seja, a imitação barata da roupa, da jóia, do bule da rica senhora. 
O torvelinho produção-consumo em que está mergulhado o homem contemporâneo impede- o de ver com clareza a própria exploração e a perda da liberdade, de tal forma se acha reduzido na alienação ao que Marcuse chama de Unidimensional (ou seja, a uma só dimensão). Ao deixar de ser o centro de si mesmo, o homem perde a dimensão de contestação e crítica, sendo destruída a possibilidade de oposição no campo da política, da arte, da moral.”
A tecnologia e o conhecimento, em vez de proporcionarem a diminuição do sofrimento do trabalhador e promover a sua emancipação como se pensava, serve como forma de retroalimentar o consumo alienado dos trabalhadores.
Alienação
“Etimologicamente a palavra alienação vem do latim alienare, alienas, que significa "que pertence a um outro". E outro é alius. Sob determinado aspecto, alienar é tornar alheio, transferir para outrem o que é seu.
Para Marx, que analisou esse conceito básico, a alienação não é puramente teórica, pois se manifesta na vida real do homem, na maneira pela qual, a partir da divisão do trabalho, o produtodo seu trabalho deixa de lhe pertencer. Todo o resto é decorrência disso.” (Aranha)
A Teoria Crítica
A Teoria Crítica caracteriza-se por três grandes momentos:
Os escritos de Adorno, Horkheimer e Marcuse, da década de 30: um período marcado por preocupação acerca da teoria do conhecimento;
Os trabalhos da década de 40, de Horkheimer e Adorno, cuja característica fundamental é o distanciamento da teoria marxista, deixando de lado o tema da luta de classes e a substituição da teoria crítica da economia política pela crítica da civilização técnica, buscando a origem do fenômeno totalitário oriundo do nazismo, não apenas na crise econômica, política e social ou no erro da estratégia das forças de esquerda alemãs, mas no fenômeno metafísico;
A partir da década de 50: período em que as ideias originais da Teoria Crítica são abandonadas e as reflexões frankfurtinianas voltam-se a respeito das tendências no mundo moderno para o totalitarismo, mundo homogêneo, uniforme, sem oposição, que anula os indivíduos, acabando com a sua autonomia e a liberdade de ação na história, nas obras de Marcuse, Adorno e Horkheimer.
A esses três períodos, pode-se acrescentar um 4º, que não se fundamenta apenas no pensamento dos integrantes da Escola de Frankfurt, mas também como um prolongamento que sem desfigurar o perfil teórico da Teoria Crítica, procura, de modo original, resolver e superar certas lacunas deixadas pelos seus fundadores, tendo na figura de Jurgen Habermas, seu principal representante, cuja preocupação central é a reformulação da Teoria Crítica, com o objetivo de suprir essas lacunas.
Para Habermas, a teoria deve ser crítica, engajada nas lutas políticas do presente, e construir-se em nome do futuro revolucionário para o qual trabalha, ou seja, é um exame teórico da ideologia, mas também crítica revolucionária do presente.
Outro representante da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin criticou o cinema e a reprodução da obra de arte em sua exaustão. Diz ele: “Com a representação do homem pelo aparelho, a autoalienção humana encontrou uma aplicação altamente criadora”. Walter e Adorno entenderam que os progressos não logram superar a guerra e o mal, mas nos fazem mergulhar numa sociedade na qual tudo é efêmero, passageiro assim como as relações sociais e a informação.
Alienação na produção
Vimos no taylorismo como o aumento de produtividade com a economia de tempo, a supressão de gestos desnecessários e comportamentos supérfluos no interior do processo produtivo recai sobre as várias esferas do trabalho humano tendo como fonte a neutralidade e a eficácia da organização. Atrás dessa técnica social de dominação.
“O filósofo alemão Habermas, herdeiro da tradição da Escola de Frankfurt, deteve -se na análise dos efeitos perversos do sistema de produção, opondo os conceitos de razão Instrumental e razão comunicativa, referentes a dois aspectos distintos da realidade social. 
A razão instrumental é predominantemente técnica, usada na organização das forças produtivas que visam atingir níveis altos de produtividade e competitividade. Mas a lógica da razão instrumental não é a mesma da razão vital, existente no mundo vivido das experiências pessoais e da comunicação entre as pessoas.
Ora, a irracionalidade no mundo moderno (e a sua patologia) decorre da sobreposição da lógica da razão instrumental em setores que deviam ser regidos pela razão comunicativa. 
Não se trata de negar o valor da primeira, mas de resgatar o que é perdido em termos de humanização quando a razão técnica se sobrepõe à razão vital.” (Aranha)
A sociedade administrada
“Na sociedade da total administração, segundo a expressão de Horkheimer e Adorno, os conflitos existentes foram dissimulados, não havendo oposição porque o homem perdeu sua dimensão de crítica. 
Não queremos assumir a posição ingênua da crítica gratuita à técnica, mas é preciso preocupar-se com a absolutização do "espírito da técnica" (a razão instrumental, a que já nos referimos). Onde a técnica se torna o princípio motor, o homem se encontra mutilado, porque é reduzido ao anonimato, às funções que desempenha, e nunca é um fim, mas sempre meio para qualquer coisa que se acha fora dele.
Enquanto prevalecerem as funções divididas do homem que pensa e do homem que só executa, será impossível evitar a dominação, pois sempre existirá a ideia de que só alguns sabem e são competentes e portanto decidem; a maioria que nada sabe é incompetente e obedece. Por isso, a questão fundamental, hoje, é a da necessidade da reflexão moral sobre os fins a que a técnica atende, observando se ela está a serviço do homem ou da sua exploração.” 
(Aranha)
Serviço Social e o legado da Teoria Crítica
As implicações sobre o fazer profissional do Assistente Social, sob a ótica da Teoria Crítica, pretendem criar estratégias de emancipação desse cenário, já estão historicamente determinado, que evidencia tanto a ciência, quanto à cultura e às relações sociais, diretamente associadas à legitimação da ordem burguesa. Nesse sentido, a chamada “Indústria Cultural” possibilita uma análise macrossocial incidindo sobre as construções sociais. 
Os meios de comunicação estão presentes, inclusive em nosso lazer, e acabam por constituir-se como um meio de opressão e controle social.
No que tange às competências do Assistente Social em criar e executar políticas públicas, é necessário levar em conta tais posturas ideológicas que não deixam os indivíduos se reconhecerem como aleijados do processo social, Marcuse aprofundou tal horizonte reflexivo quando constata que a sociedade e suas estruturas repressivas deterioram a sensibilidade do indivíduo.
Um filósofo que tem chamado bastante a atenção no cenário acadêmico, inclusive sua filosofia tem estado em provas de concurso. Ele é Jurgen Hebermas e costuma ser descrito como “o último grande racionalista” (...)
Ele propõe, como nova perspectiva, outro conceito de razão: a razão dialógica que, brota do diálogo e argumentação entre os agentes interessados numa determinada situação. O que a razão dialógica? Pesquise sobre os conceitos tratados por ele e faça uma ligação com a temática do Serviço Social.
Jürgen Habermas, filósofo alemão da Escola de Frankfurt, retoma um dos mais caros temas do iluminismo e da modernidade: a afirmação do sujeito que inventa a sociedade civil frente ao Estado. A razão dialógica promove uma ação social que fortaleça as estruturas, capazes de promover as condições de liberdade e de não constrangimento imprescindíveis ao diálogo.
Nesta aula, você:
Conheceremos a primeira geração da Escola de Frankfurt, que desempenha uma crítica importante no projeto de autonomia da razão.
Entenderemos a insuficiência da teoria marxista para dar conta da realidade midiática emergente.
Observaremos o fenômeno dos mass media.

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