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D. CIVIL III (06) - CONTRATO PREMILINAR E EXTINÇÃO DO CONTRATO.pdf UNIDADE 2 - DO CONTRATO PRELIMINAR E DA EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 1. DO CONTRATO PRELIMINAR Art. 462 CC. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. Art. 463 CC. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. Art. 464 CC. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. Art. 465 CC. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. Art. 466 CC. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor. 1.1. Contrato preliminar. CONCEITO: também conhecido como pré-contrato, promessa de contratar, contrato preparatório ou compromisso, é a convenção de que se valem as partes, em uma fase inicial de entabulamento de negócio, para obrigarem, ou uma delas, à outorga futura de um contrato definitivo. É fonte de uma obrigação de fazer, qual seja, celebrar um contrato definitivo. Nos dizeres de Antônio Chaves, objeto do contrato preliminar é a celebração de um futuro contrato que será solutório (resolutivo), uma vez que dá cumprimento às obrigações assumidas no contrato anterior, e ao mesmo tempo, constitutivo, pelas novas relações que dele resultarão em caráter definitivo. Em certos casos, o contrato preliminar, preenchendo determinados requisitos legais, essenciais do contrato definitivo visado, chega a confundir-se com ele, conferindo direito real sobre o objeto da contratação, a possibilitar a concretização negocial futura, por via judicial (adjudicação compulsória), como na hipótese do compromisso de compra e venda de imóvel para pagamento parcelado celebrado na forma dos arts. 1.417 e 1.418, CC/18. O novo Código Civil cuidou das bases do contrato preliminar nos arts. 462 a 466, estabelecendo que, exceto à forma, deve ele apresentar-se com os mesmos requisitos essenciais do contrato definitivo, a ser celebrado (art. 462). Trata-se, portanto, de contrato não formal, mesmo sendo solene o contrato definitivo. 2.2. Extinção dos contratos 1. Modo normal de extinção do contrato. O contrato, assim como as obrigações, possui um ciclo vital. Nasce do acordo de vontades, produz os efeitos que lhe são peculiares e extingue-se. Como nos ensina Humberto Theodoro Júnior, o vínculo contratual é, por natureza, passageiro e deve desaparecer, naturalmente, tão logo o devedor cumpra a prestação prometida ao credor. A extinção do contrato se dá, via de regra, pela execução, seja instantânea (imediata ou diferida) ou continuada. O cumprimento da prestação libera o devedor e satisfaz o credor. Este é o meio normal de extinção do contrato. 2. Modos anormais de extinção do contrato. Extinção do contrato sem cumprimento. 2.1. Causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato: As causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato são: a) Defeitos decorrentes do não-preenchimento de seus requisitos subjetivos (capacidade das partes e livre consentimento), objetivos (objeto lícito, possível, determinado ou determinável) e formais (forma prescrita em lei), que afetam a sua validade, acarretando a nulidade absoluta ou relativa do contrato; b) O implemento da cláusula resolutiva, expressa ou tácita; e c) O exercício do direito de arrependimento convencionado. Vejamos cada uma: a) Nulidade absoluta e relativa. a.1. Nulidade absoluta: resulta da ausência de elemento essencial do ato, com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato produza efeitos desde a sua formação (ex tunc). O Código Civil enumera hipóteses de nulidade em seus artigos 166 e 167. A nulidade absoluta é tratada com rigor pelo legislador civil. Assim, nos termos do art. 169 do CC/2002, o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. A nulidade relativa ou anulabilidade resulta da imperfeição da vontade: ou porque emanada de um relativamente incapaz não assistido, ou porque contém algum dos vícios do consentimento (erro, dolo, coação etc.). Como pode ser sanada e até mesmo não argüida no prazo prescricional, não extinguirá o contrato enquanto não se mover a ação que a decrete, com efeitos ex nunc. a.2. A anulabilidade: diversamente da nulidade, não pode ser argüida por qualquer das partes da relação contratual, nem declarada de ofício pelo juiz. Legitimado a pleitear a anulação é somente o contraente em cujo interesse foi estabelecida a regra (CC, 177) – que se sente prejudicado. É de se notar que, enquanto a nulidade absoluta visa tutelar interesse público, pois houve violação de normas de ordem pública, a anulabilidade resguarda precipuamente o interesse das partes. b) Cláusula resolutiva. Na execução do contrato, cada contraente pode pedir a resolução do acordo, se o outro não cumpre as obrigações avençadas. Essa faculdade pode resultar de estipulação ou de presunção legal. Quando as partes convencionam, diz-se que estipulam cláusula resolutiva expressa ou pacto comissório expresso. Na ausência de estipulação, tal pacto é presumido pela lei, que subentende a existência da cláusula resolutiva, que é a denominada cláusula resolutiva implícita ou tácita. Em todo contrato bilateral ou sinalagmático presume-se a existência de uma cláusula resolutiva tácita, autorizando o lesado pelo inadimplemento a pleitear a resolução do contrato, com perdas e danos. CONFORME: Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. Nestes termos, o contratante pontual tem, diante do inadimplente, duas alternativas: a. pleitear a resolução do contrato; b. ou exigir-lhe o cumprimento mediante execução específica (CPC, art. 461). c. Em qualquer das hipóteses, terá direito a indenização por perdas e danos. Nos termos do art. 474 do CC/2002, a cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. Em ambos os casos, tanto no de cláusula resolutiva expressa quanto tácita, a resolução deve ser judicial, ou seja, precisa ser pronunciada pelo juiz. A sentença que reconhecer a cláusula expressa e o direito à resolução terá efeito meramente declaratório, ex tunc, portanto. Sendo a cláusula tácita, a sentença tem efeito desconstitutivo, dependendo de interpelação judicial, ou seja, a cláusula só produz efeitos após a interpelação. c) Direito de arrependimento. Desde que expressamente previsto no contrato, o arrependimento autoriza qualquer das partes a rescindir o ajuste, mediante declaração unilateral da vontade, sujeitando-se à perda do sinal, ou à sua devolução em dobro, sem, no entanto, pagar indenização suplementar. Estamos diante das arras penitenciais, previstas no art. 420 do CC/2002. TEMPO PARA ARGUIÇÃO: O direito de arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado, ou antes da execução do contrato, se nada foi estipulado a respeito, pois o cumprimento do contrato implica em renúncia tácita do direito de arrepender-se. O Código de Defesa do Consumidor prevê hipótese especial de direito de arrependimento em seu art. 49, para os casos de contratação fora do estabelecimento comercial (por telefone, fax, internet). O prazo para o consumidor se arrepender é de 7 dias. 2.2. Causas supervenientes à formação do contrato. (Posteriores) Verifica-se a dissolução do contrato em função de causas posteriores à sua criação nas seguintes hipóteses: a) resolução, como conseqüência do seu inadimplemento voluntário, involuntário ou por onerosidade excessiva; b) resilição, pela vontade de um ou de ambos os contratantes; c) morte de um dos contratantes, se o contrato for personalíssimo; d) rescisão, modo específico de extinção de certos contratos. Vejamos: a) Resolução. Nem sempre os contratantes conseguem cumprir com aquilo que foi avençado, em razão de situações supervenientes, que impedem ou prejudicam a execução do contrato. A extinção do contrato mediante resolução tem como causa a inexecução ou incumprimento por um dos contratantes. Segundo Orlando Gomes, resolução é um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial. O inadimplemento pode ser voluntário (culposo) ou involuntário (sem culpa). a.1) Resolução por inexecução voluntária. Decorre de comportamento culposo de um dos contratantes, com prejuízo ao outro. Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições recíprocas, sujeitando ainda o inadimplente ao pagamento de perdas e danos e da cláusula penal. Se o contrato for de trato sucessivo, como no caso de locação ou fornecimento de matéria prima, a resolução não produz efeito em relação ao pretérito, não se restituindo as prestações cumpridas. Há efeito ex nunc. A resolução do contrato por incumprimento é subordinada à condição de que a falta não seja irrelevante ou de importância reduzida, levando-se em conta o interesse da parte que sofre seus efeitos. Seria absurdo se cada parte fosse legitimada a desembaraçar-se do contrato, tomando por pretexto toda a mínima e insignificante inexatidão na execução da outra parte (Enzo Roppo). Por outro lado, se uma parte sempre manifestou tolerância por uma certa margem de atraso ou de pagamento de valor inexato, pouco inferior ao convencionado, isto pode ter relevância para excluir a possibilidade de resolução do contrato por falta de cumprimento integral. O JUIZ, ao avaliar tais circunstâncias caso a caso, deverá levar em conta os princípios da boa-fé e da função social do contrato, bem como as legítimas expectativas das partes em relação à complexidade econômica do negócio. a.1.1. Exceção do contrato não cumprido. Prevista no art. 476 do CC/2002, nestes termos: nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. A sede natural da exceção em comento encontra-se nos contratos bilaterais ou sinalagmáticos, que envolvem prestações recíprocas, atreladas umas às outras. Se uma das prestações não é cumprida, deixa de existir causa para o cumprimento da outra. Se um dos contraentes cumpriu apenas em parte, ou de forma defeituosa, a sua obrigação, quando se comprometera a cumpri-la integral e corretamente, cabível se torna a oposição, pelo outro, da exceção do contrato parcialmente cumprido, ou exceptio non rite adimpleti contractus. Diferencia-se da exceção non adimpleti contractus porque essa pressupõe completa e absoluta inexecução do contrato. Na prática, contudo, a primeira é abrangida pela segunda. a.2) Resolução por inexecução involuntária. A resolução pode também decorrer de fato não imputável às partes, como nas hipóteses de fato de terceiro ou de acontecimentos inevitáveis, alheios à vontade dos contraentes, denominados caso fortuito ou força maior, que tornam impossível o cumprimento da obrigação. A inexecução involuntária caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de cumprimento do contrato. Há de ser objetiva, ou seja, não dizer respeito à própria pessoa do devedor, pois deixa de ser involuntária se de alguma forma este concorre para que a prestação se torne impossível. A impossibilidade deve ser, também, total, pois se a inexecução for parcial e de pequena proporção, o credor pode ter interesse em que, mesmo assim, o contrato seja cumprido. Por outro lado, há de ser definitiva, pois via de regra a inexecução temporária acarreta apenas a suspensão do contrato. O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente se obrigou a ressarcir os prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, ou se estiver em mora (CC, arts. 393 e 399): Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. A resolução opera de pleno direito. Cabe a intervenção judicial para proferir sentença declaratória e obrigar o contratante a restituir o que recebeu. a.3) Resolução por onerosidade excessiva. Os contratos devem ser cumpridos nos termos em que foram pactuados. Contudo, os negócios jurídicos podem sofrer as conseqüências de modificações posteriores das circunstâncias que os justificaram, com quebra insuportável da equivalência das prestações. Tal constatação deu origem ao princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva. A partir da Idade Média, desenvolveu-se a teoria rebus sic stantibus, que presume, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e execução diferida, a existência implícita de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razão de acontecimentos extraordinários, como uma guerra, que tornem excessivamente oneroso para uma das partes o adimplemento de sua prestação, poderá esta requerer ao juiz que a isente da obrigação, total ou parcialmente. O Código Civil de 2002 reconheceu o direito à alteração do contrato em situações específicas, dedicando uma seção, composta de três artigos, à resolução dos contratos por onerosidade excessiva. Assim: Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. ESTE ARTIGO, além de exigir que o acontecimento seja extraordinário, imprevisível e excessivamente oneroso para uma das partes, o dispositivo em apreço insere mais um requisito: o da extrema vantagem para a outra, o que limita ainda mais o âmbito de abrangência da cláusula. Os requisitos para a resolução do contrato por onerosidade excessiva são os seguintes: a) vigência de um contrato comutativo de execução diferida ou de trato sucessivo; b) ocorrência de fato extraordinário e imprevisível; c) considerável alteração da situação de fato existente no momento da execução, em confronto com a que existia por ocasião da celebração do contrato; d) nexo de causalidade entre o evento superveniente e a conseqüente onerosidade excessiva. EXCEÇÃO: O contratante que estiver em mora quando da ocorrência dos fatos não pode invocar, em defesa, a onerosidade excessiva, pois, estando naquela situação, responde pelos riscos supervenientes, ainda que decorrentes de caso fortuito ou força maior (CC, 399). EXCEÇÃO: Segundo o art. 479 do CC/2002, a resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato. Permite-se, portanto, dar solução diversa ao problema da onerosidade excessiva, por iniciativa de uma das partes, evitando assim a resolução do contrato. OBS: Prescreve o art. 480 do Código Civil: se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. b) Resilição. CONCEITO: A resilição não deriva de inadimplemento contratual, mas unicamente da manifestação de vontade, que pode ser bilateral ou unilateral. Resilir, do latim resilire, significa voltar atrás. A resilição bilateral é denominada distrato, que é o acordo de vontades que tem por fim extinguir um acordo de vontades anteriormente celebrado. A resilição unilateral pode ocorrer somente em determinados contratos, pois a regra é a impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade. Ex: contrato com a administração pública b.1) Distrato. CONCEITO: o Distrato (Art. 472 do CC/2002) faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. Qualquer contrato pode cessar pelo distrato. É necessário, todavia, que os efeitos não estejam exauridos, uma vez que o cumprimento é a via normal de extinção. Contrato extinto não precisa ser dissolvido. A exigência de observância da mesma forma do contrato, no distrato, deve ser interpretada com temperamento: o distrato deve obedecer à mesma forma do contrato a ser desfeito quando este tiver forma especial, mas não quando esta for livre. b.2) Resilição unilateral: denúncia, revogação, renúncia e resgate. CONCEITO: A resilição unilateral pode ocorrer somente nas obrigações duradouras, contra a sua renovação ou continuação, independentemente do não-cumprimento da outra parte, nos casos permitidos na lei (p.ex., a denúncia prevista nos arts. 6º,46, §2º. E 57 da Lei 8.245/91 - Lei do Inquilinato), ou no contrato, quando as partes tenham expressamente pactuado a possibilidade de resilição unilateral. A obrigação duradoura é aquela que não se esgota em uma só prestação, mas supõe um período de tempo mais ou menos largo, tendo por conteúdo ou uma conduta duradoura (EX:locação, arrendamento etc.) ou a realização de prestações periódicas (EX: fornecimento de gás, de alimentação, de energia etc.). Nesses casos, a resilição unilateral é denominada DENÚNCIA. Obs: A resilição é o meio próprio para dissolver os contratos por prazo indeterminado. Se não fosse assegurado à parte o poder de resilir, seria impossível libertar-se do vínculo se o outro contratante não concordasse. Obs: Cumpre mencionar ainda o contrato de mandato, no qual a resilição unilateral denomina-se revogação ou renúncia, conforme a iniciativa seja, respectivamente, do mandante ou do mandatário. Obs: A resolução unilateral independe de pronunciamento judicial e produz efeitos ex nunc, não retroagindo. Para valer, precisa ser notificada à outra parte, produzindo efeitos a partir do momento em que chega ao seu conhecimento. Em princípio não precisa ser justificada, mas em certos contratos exige-se que obedeça à justa causa. Na hipótese, a ausência de justa causa não impede a resilição, mas obriga a parte a indenizar perdas e danos. Vejamos o art. 473 do CC/2002: Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. c) Morte de um dos contratantes. A morte de um dos contratantes só acarreta a dissolução dos contratos personalíssimos, que não poderão ser executados pela morte daquele em consideração do qual foi ajustado. Subsistem as prestações cumpridas, pois seu efeito é ex nunc. Rescisão. Existe o hábito no meio negocial de utilizar a expressão rescisão englobando as figuras da resolução e da resilição. Contudo, a rescisão ocorre nas hipóteses de dissolução de determinados contratos, como aqueles em que ocorreu lesão ou que foram celebrados em estado de perigo. D. CIVIL III (07) - CONTRATOS NOMINADOS.pdf Unidade 3 - CONTRATOS NOMINADOS COMPRA E VENDA Conceito, características, natureza jurídica e elementos 1. Disposições gerais sobre a compra e venda Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe o preço. Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. 1.1. Conceito Roberto Senise Lisboa: é o contrato por meio do qual o adquirente (comprador) paga determinado preço em dinheiro com o fim de obter para si a transferência definitiva do bem do alienante (vendedor). 1.2. Classificação O contrato de compra e venda é: a) oneroso; b) bilateral (sinalagmático) (art. 491, CC/2002). c) típico; d) não solene (exceção à compra e venda de imóvel que exceda a trinta salários mínimos, conforme o art. 108,CC/2002); e) consensual (art. 482, CC/2002) f) comutativo e aleatório. 1.3. Efeito da compra e venda 1.3.1. Meramente obrigacional: há um compromisso de transferência de propriedade. O ato de transferência, em si, faz parte da execução do contrato, e não de sua formação. A transferência pode ocorrer através da tradição, quando se tratar de bens móveis, ou do registro do título translativo do domínio no Cartório de Registro de Imóveis, quando se tratar de bens imóveis. 1.4. Elementos da compra e venda A) Coisa A coisa é o objeto mediato da obrigação do vendedor para com o comprador, eis que aquele deve transferir a este a propriedade. Ex: um carro Em obediência ao art. 104, II, CC/2002, o objeto de todo e qualquer negócio jurídico deve ser idôneo, ou seja, lícito, possível e determinável. O objeto da compra e venda deve ser bem: a. Corpóreo. Os bens incorpóreos poderão ser objeto de alienação, porém na modalidade de cessão, negócio ao qual se aplicam as regras referentes à compra e venda; Ex: ações de uma sociedade de economia mista. b. De coisa atual ou futura. Sendo de coisa atual, o contrato será comutativo, ao passo que se a coisa for futura (art. 483), o negócio será aleatório, podendo traduzir-se na venda de uma esperança (emptio spei) ou na venda de coisa esperada (emptio rei speratate). Não caracteriza coisa futura a herança de pessoa viva, cuja negociação (chamada de pacta corvina) é proibida pela legislação brasileira, a teor do art. 426, CC/2002. B) Preço CONCEITO: O preço é a contraprestação do comprador, caracterizando, assim, o sinalagma do contrato de compra e venda. O preço deve ser: a. Em dinheiro ou expressão fiduciária correspondente. A estipulação de bem diverso do dinheiro desnatura a compra e venda e caracteriza uma troca. O pagamento de coisa diversa do dinheiro é dação em pagamento. Corresponde a pagamento em dinheiro o pagamento feito em cheque ou nota promissória. b. Em moeda corrente. Sério e certo. O pagamento deve guardar equivalência com o valor da coisa, dado a natureza sinalagmática do contrato de compra e venda. Se o preço for desproporcional ao valor da coisa, pode o contrato ter se desnaturado em doação ou estar viciado de lesão. O preço pode ser fixado: - livremente pelas partes; - por terceiro designado pelos contratantes (art. 485); - por tabelamento ou tarifamento; - conforme a taxa de mercado ou da bolsa em certo dia e lugar. C) Consentimento CONCEITO: É o acordo de vontades entre comprador e vendedor com relação à coisa e o preço. Em conformidade com o art. 482, CC/02, o contrato de compra e venda é concluído com o simples consentimento (contrato consensual). c.1.Legitimação das partes Apesar de capazes, não têm legitimidade para celebrar contrato de compra e venda: c.1.1. Nulidade absoluta (art. 497,CC/2002): a) Tutores e Curadores (compradores), com relação aos bens dos seus tutelados e curatelados (vendedores); b) Testamenteiros e Administradores, com relação aos bens sob sua administração; c) servidores públicos, com relação aos bens ou direitos da pessoa jurídica a que estejam vinculados; d) juiz e auxiliares da justiça, com relação aos bens que estejam sob sua autoridade. e) leiloeiros e seus prepostos, com relação aos bens que a eles caiba vendem. A compra e venda entre cônjuges é possível, sempre que tiver como objeto bens excluídos da comunhão (art.499, CC/02). A compra e venda de bem pertencente à comunhão é nula por impossibilidade jurídica do objeto, consoante o art. 104, II, CC/2002. c.1.2. Nulidade relativa (art. 496, CC/02): Compra e venda entre ascendentes (vendedor) e descendentes (comprador) sem a devida autorização EXPRESSA dos demais herdeiros (incluindo, portanto, o cônjuge do alienante, a menos que se trate de regime de separação legal de bens). O PRAZO DECADENCIAL PARA ANULAR A VENDA É DE 2 (DOIS) ANOS, CONTADOS A PARTIR DA DATA DA CONCLUSÃO DO CONTRATO. O Código não menciona a necessidade de autorização para a compra e venda entre descendentes (vendedor) e ascendentes (comprador). c.2. Obrigações do comprador a. pagamento prévio do preço, de modo que, salvo estipulação contratual em contrário, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o pagamento (exceção de contrato não cumprido); b. arcar com as conseqüências de seu eventual inadimplemento (purgação da mora); c. arcar, salvo estipulação contratual em contrário, com as despesas da transcrição do título no Cartório de Registro de Imóveis; d. responder pelos riscos do transporte do bem feito por ordem do comprador, salvo se o alienante se abster de instruir o transportador. c.3. Obrigações do alienante a. transferir a propriedade do bem. Salvo estipulação em contrário, quando a compra e venda for à vista, a entrega se dará após o pagamento, enquanto que na compra e venda a prazo, a entrega será feita no momento da celebração do contrato. b. arcar com as despesas de conservação e transporte até a tradição. Salvo estipulação em contrário, a tradição se dará no local em que a coisa se encontra. c. responder por eventuais vícios redibitórios; d. arcar com as despesas da tradição em casos de bens móveis. c.5.Responsabilidade pelos riscos c.5.1.Obrigação de dar. Modalidades especiais de venda A) Venda ad corpus e ad mensuram (art. 500, CC/02): a.1. Venda ad corpus: o bem imóvel é vendido como coisa certa e individuada, independente de suas medidas, que, nesta hipótese, têm caráter meramente enunciativo e é irrelevante para a formação da vontade contratual. Toda vez que a diferença entre as medidas for inferior a 5% (cinco por cento) da área total constante do instrumento contratual, há presunção juris tantum de que a venda foi ad corpus. a.2. Venda ad mensuram: as medidas do bem imóvel são determinantes para a formação da vontade contratual, de sorte que uma eventual discrepância entre o discriminado no contrato e as medidas reais do bem pode ensejar extinção contratual. ASSIM, SE A VENDA FOR AD MENSURAM E O IMÓVEL FOR INFERIOR ÀQUILO QUE FOI ACERTADO, TEM O COMPRADOR AS SEGUINTES OPÇÕES: a) exigir, quando possível, o complemento da área; b) solicitar, através de ação estimatória (quanti minoris) o abatimento proporcional do preço; c) solicitar, através de ação redibitória, resolução do contrato. O prazo decadencial para a propositura dessas ações é de 1 (um) ano a contar do registro do título ou da imissão de posse do comprador caso haja demora de transmissão possessória por culpa do alienante. Obs: na hipótese de diferença a maior (excesso de área), a princípio não afeta a relação contratual. Todavia, se o vendedor justificar satisfatoriamente que desconhecia a diferença de áreas caberá ao comprador escolher se devolve o excesso ou complementa o valor pago. B) Venda à vista de amostras e princípio da vinculação da proposta: inteligência do art. 484, CC/02. C) Venda conjunta: o vício redibitório de uma delas não implica em redibição das demais (art. 503, CC/02). D) Venda em condomínio: direito de preferência aos demais condôminos (art. 504, CC/02). 1.1.3 Cláusulas especiais à compra e venda As cláusulas especiais de compra e venda consistem em elementos acidentais do negócio jurídico (cláusulas adjetas da compra e venda), provocando, assim, alterações eficaciais no contrato. Em outras palavras, em decorrência da aposição ou não das cláusulas adjetas, pode a transferência da propriedade ser resolúvel ou definitiva. São modalidades especiais de compra e venda: A) Preferência (preempção ou prelação) - arts. 513 a 520, CC. Decorre de cláusula contratual que impõe a preferência do alienante em readquirir o bem transferido, caso o comprador futuramente o venda. a.1. Preempção legal: retrocessão dos bens desapropriados. a.2.Preempção voluntária: o comprador, atual proprietário da coisa, deve oferecer prazo decadencial (3 dias para bens móveis e 60 dias para bens imóveis) ao proprietário anterior se manifeste no sentido de readquirir a coisa. A cláusula de prelação só pode durar por 180 dias ou 2 anos quando se tratar, respectivamente, de bens móveis ou imóveis, contados da data da celebração do contrato. O direito de preferência é personalíssimo. a.3. Relação em condomínio: deve ser exercida sobre o bem por inteiro, e não somente sobre a quota-parte do condômino que queira exercer a preferência. a.4.Responsabilidade: caso o atual proprietário não respeite a prelação, pode o antigo proprietário pedir reparação das perdas e danos. A responsabilidade será solidária se o novo adquirente agiu em conjunto com o alienante. B) Retrovenda (arts. 505 a 508, CC) É a cláusula que possibilita ao alienante readquirir a coisa pelo preço que pagou, mais as despesas que o comprador teve com o bem, dentro do prazo estipulado para o resgate (direito de retratação). O prazo de resgate é decadencial e não pode ser superior a 3 anos. Ao contrário da prelação, a retrovenda não é personalíssima, podendo ser transferida aos herdeiros e legatários do sujeito, bem como ser passível de cessão. b.1.Retrovenda conjunta: pode ser exercida por apenas um dos alienantes, devendo o atual proprietário intimar os demais. O depósito do preço deve ser sempre integral, ainda que apenas um dos alienantes exerça a retrovenda. C) Venda a contento e venda sujeita à prova (arts. 509 a 512, CC) Na venda a contento, a transmissão inicialmente feita é da posse, e não da propriedade - a transferência da propriedade só se dará no momento em que o adquirente manifestar-se em sentido favorável dentro do prazo ajustado. Assim, a venda a contento pode estar sujeita tanto a condição suspensiva quanto à condição resolutiva. Aspectos subjetivos. c.1. Venda sujeita à prova: condição resolutiva para garantir que a coisa tem as qualidades e guarda idoneidade com a finalidade.Aspectos objetivos. D) Venda com reserva de domínio (arts. 521 a 528, CC) A transferência incide inicialmente sobre a posse, só havendo transferência da propriedade quando houver o pagamento integral do contrato. Propriedade resolúvel do alienante sobre o bem. Deve ser feita sempre sob a forma escrita e deve ser registrada no domicílio do comprador. A venda com reserva de domínio não precisa ser feita sobre bens infungíveis, mas sim sobre bens individualizáveis. E) Venda sobre documentos (arts. 529 a 532, CC) 1.5. Troca ou Permuta 1.5.1. Conceito e caracteres jurídicos Flávio Tartuce: É aquele pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro. Operam-se, ao mesmo tempo, duas vendas, servindo as coisas trocadas para uma compensação recíproca. (Direito civil. Vol. III. 5.ed. São Paulo: Método, 2010. p. 308). São características do contrato de troca: a) típico b) não solene ou solene (na hipótese do art. 108, CC); c) consensual; d) comutativo; e) bilateral; f) oneroso. 1.5.2 Objeto A troca recairá sobre dois bens, devendo os sujeitos envolvidos ter capacidade para dispor. Disposições comuns à compra e venda e disposições peculiares Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.
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