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A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO

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1 
A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: SOCIEDADE , DIREITO E 
GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
Leonardo Fernandes dos Santos 
Acadêmico de Direito da Universidade Estadual de Maringá/PR (UEM) 
 
 
Não há, numa Constituição, cláusulas a que se deva atribuir 
meramente o valor moral de conselhos, avisos ou lições. Todas têm 
a força imperativa de regras, ditadas pela soberania nacional ou 
popular a seus órgãos. ( Rui Barbosa) 
 
RESUMO: Um dos mais avanços na Ciência Constitucional certamente é atribuição, 
principalmente pós 1945, de força normativa ao texto constitucional. As 
Constituições deixam de ser caracterizadas como meras cartas políticas e passam 
a ser o centro radicular de todo o Direito moderno e pós-moderno. 
 Fundamental para a compreensão de tal fenômeno é indubitavelmente 
Konrad Hesse e seu clássico “A Força Normativa da Constituição”, obra na qual é 
brilhantemente trabalhado a importância que desta aquisição normativa, bem como 
é feito uma análise crítica interessantíssima sobre Lassale e suas considerações a 
respeito do real poder da Constituição. 
 Como se notará é abandonada a idéia de Constituição predominante como 
um jogo político, como tratado Lassale, e lhe é afirmado seu caráter normativo, 
bem como será analisado o mecanismo através do qual a Constituição mantém o 
seu império normativo mesmo diante das adversidades fáticas que impedem sua 
plena concreção. 
 Tema hodierno e de vital importância também à força normativa da 
Constituição é a questão do abuso de emendas constitucionais e o quão prejudicial 
tal abuso pode ser na normatividade da Carta Magna. O tema se liga 
necessariamente às garantias fundamentais, uma vez que, enfraquecendo-se a 
Constituição, enfraquece-se toda uma série de direitos que advém de lutas 
quotidianas e passadas e que foram positivadas pelo texto constitucional. 
 Finalmente, são feitas algumas pequenas considerações a respeito do 
método da constituição aberta de Peter Häberle e sua influência na manutenção da 
supremacia normatividade constitucional, uma vez que, através deste, o rol de 
intérpretes da Constituição é amplamente alargado e “popularizado”. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Constituição. Força Normativa. Direitos Fundamentais. Hesse. 
Lassale. 
 
SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 A Tese Da Normatividade; 
3 Força Normativa e Interpretação Constitucional 4 A 
Crise Hodierna Do Constitucionalismo; 5 Considerações 
Finais; 6 Bibliografia 
 
1 INTRODUÇÃO 
Um dos maiores avanços em toda a Ciência do Direito é indubitavelmente a 
aquisição de normatividade por parte das normas e princípios consagrados no texto 
constitucional. A primazia da Constituição como ordenamento jurídico supremo, 
principalmente no pós 2ª Guerra Mundial, trouxe uma série de mudanças 
2 
significativas no modo de encarar o Direito, bem como modificou de maneira 
substancial os postulados até então tidos como basilares do ordenamento jurídico. 
Não há como olvidar-se também das modificações substanciais do processo 
hermenêutico constitucional. 
O trauma causado pelas Grandes Guerras, bem como o avanço de regimes 
totalitários, faz com que se repense o Direito Constitucional. Melhor dizendo, este é 
quase que recriado. O processo de normatização da Constituição, como se verá ao 
longo do texto, passa por mudanças profundas, percebe-se seu caráter 
multifacetário, passa-se analisar a Constituição sobre uma ótica normativa, mas 
não uma normatividade cega, e sim produto de interações entre poder/sociedade 
(ser) e Direito/força normativa (dever ser). Vale frisar, todavia, que esse processo 
não é linear nem uniforme na experiência constitucional de cada nação, aliás esta é 
a uma premissa importante ao analisar-se o Direito Constitucional, sua evolução e 
aprimoramento ocorre de maneira multiforme e arriscado é generalizar 
excessivamente os fenômenos constitucionais. Segundo Canotilho: 
 
 A complexa articulação da «textura aberta» da constituição com a 
positividade constitucional sugere, desde logo, que a garantia da 
força normativa da constituição não é tarefa fácil, mas se o direito 
constitucional é direito positivo, se a constituição vale como lei, 
então as regras e princípios constitucionais devem obter 
normatividade, regulando jurídica e efectivamente as relações da 
vida (P. HECK) dirigindo as condutas e dando segurança a 
expectativas de comportamentos (LUHMANN).1 
 
 Konrad Hesse foi um dos teóricos de grande importância para o fenômeno 
normativo da Constituição. “A Força Normativa da Constituição”, obra na qual este 
expõe e argumenta os fatores que geram a normatividade das Constituições, bem 
como analisa a relação da Carta Magna com as condicionalidades históricas, sociais 
e políticas é marcada por riquíssimas considerações a respeito da normatividade da 
Constituição. Do outro lado, Ferdinand Lassalle aborda a questão de um ângulo 
diferente, dando ênfase maior ao jogo político do que a Constituição jurídica em si.2 
Ambos os autores serão de vital importância ao artigo, visto que a problemática 
trabalhada por estes demonstra de certo modo a visão do locus normativo da 
Constituição em períodos diferentes. 
 No Brasil, certamente a supremacia constitucional foi um pouco mais tardia, 
até porque esse papel primordial do texto constitucional começa, de fato (em 
questões de história do constitucionalismo), no pós Segunda Guerra e considerando 
que os anos de 1964 a 1988, no Brasil, foram marcados por um verdadeiro 
engessamento da ordem constitucional, quiçá a sua inexistência sob o prisma 
normativo, difícil, então, afirmar uma normatividade cogente dessas Constituições 
outorgadas, aliás, característica própria dos períodos de exceção. 
 Não é de admirar-se que somente com a promulgação de nossa última 
Constituição é que pudemos assistir ao processo de seu sobreposição aos demais 
atos normativos infraconstitucionais. Barroso corrobora tais fatos históricos ao 
afirmar: 
A reconstitucionalização da Europa, imediatamente após a 2a. 
Grande Guerra e ao longo da segunda metade do século XX, 
redefiniu o lugar da Constituição e a influência do direito 
constitucional sobre as instituições contemporâneas. A aproximação 
 
1 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. 
2 O termo constituição jurídica será melhor explorado nos capítulos seguintes. 
3 
das idéias de constitucionalismo e de democracia produziu uma 
nova forma de organização política, que atende por nomes diversos: 
Estado democrático de direito, Estado constitucional de direito, 
Estado constitucional democrático. Seria mau investimento de 
tempo e energia especular sobre sutilezas semânticas na matéria.3 
 
 Vale ressaltar, entretanto, que como a maioria das mudanças, esta ainda se 
opera no país; a substituição de uma exegese cega por análises interpretativas com 
foco na Constituição Federal e seus ditames, inclusive ditames “programáticos”, 
ocorre paulatinamente e a luta pela concreção da Constituição como diploma 
supremo na defesa dos direitos fundamentais é gradual e quotidiana. 
 O processo através do qual as Constituições passaram a ser o centro 
normativo e irradiador de todo a potência normativa foi de extrema importância 
para toda a ciência jurídica, principalmente o Direito Constitucional. A partir de 
então, passa a ocorrer o fenômeno nominado por Barroso como filtragem 
constitucional, ou seja, as Constituições passam a agir como verdadeiros filtros 
através do qual as leis e demais atos normativos devem passar (ou repassar) para 
que sejam válidos, sob pena de declaração de inconstitucionalidade ou até mesmo 
de incompatibilidade. Ocorre, então, uma verticalização hierárquica e as 
Constituições passam a ocupar o topo dessa pirâmide hierárquico-normativa. 
 Esse processode supremacia constitucional, que segundo vários teóricos 
teve início com o clássico julgado Marbury vs. Madison4 da Suprema Corte 
Americana, foi essencial a todo o desenvolvimento das modernas teorias de 
controle de constitucionalidade. A própria supremacia constitucional é imanente aos 
sistemas democráticos que utilizam a Constituição rígida como centro irradiador do 
Direito. Barroso assim dispõe: 
 
A supremacia da Constituição e a missão atribuída ao Judiciário na 
sua defesa têm um papel de destaque no sistema geral de freios e 
contra-pesos [...]. É que, através, da conjugação desses dois 
mecanismos, retira-se do jogo político do dia-a-dia e, pois, das 
eventuais maiorias eleitorais, valores e direitos que ficam protegidos 
pela rigidez constitucional e pelas limitações materiais ao poder de 
reforma da Constituição.5 
 
 No Brasil, é a partir da Constituição de 1988 que se evidencia de maneira 
mais manifesta o processo de afirmação da Constituição como diploma jurídico 
supremo. Os anos seguidos de ditadura militar e a edição de Cartas Constitucionais 
eivadas de uma incontestável ilegitimidade talvez possam ser apontados como 
motivos para este retardo. Como conseqüência, temos ainda um processo de 
constitucionalização do Direito infraconstitucional, bem como das decisões do Poder 
Judiciário, até então impregnadas de um excessivo apego aos ditames da lei, 
olvidando-se de princípios básicos norteadores da moderna hermenêutica 
constitucional e do próprio Direito em si. O próprio Supremo Tribunal Federal 
começa a rever seus entendimentos até então majoritários e tem feito uma análise 
mais humanística-integradora da Carta Magna, eis que princípios como a presunção 
de inocência, “novas” modalidades conjugais, como a união homoafetiva, e a 
 
3 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 5.. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.01. 
4 Em 1803, no julgamento do caso supra, o Presidente da Suprema Corte Americana, John Marshall, defendeu a hipótese da 
supremacia constitucional e de que as normas que com ela contrastassem eram nulas. “ Assim, a particular fraseologia da 
Constituição dos Estados Unidos confirma e fortalece o princípio, que se supõe essencial a todas as Constituições escritas, de 
que toda lei que contraste com a Constituição é nula”. 
5 BARROSO, op.cit., p.167. 
4 
entrada dos tratados internacionais sobre direitos humanos com força de emenda 
constitucional (e a constitucionalidade, então, da prisão civil do depositário infiel 
face ao Pacto de San José, por exemplo), tornaram-se mais presentes nas 
preocupações jurídico-institucionais desta Corte. 
 Segundo Hesse, a visão predominante antes de 1945 era de uma 
Constituição tão somente como fatores reais de poder. A lógica da não-
normatividade, nas palavras de Hesse , seria: 
Se as normas constitucionais nada mais expressam que relações 
fáticas altamente mutáveis, não há como deixar de reconhecer que 
a ciência da Constituição constitui uma ciência jurídica na ausência 
do direito, não lhe restando outra função senão a de constatar e 
comentar os fatos criados pela Realpolitik. 6 
 
Lassale7, de certo modo, corroborava a tese da ausência normativa do texto 
constitucional, eis que dava predominância ao jogo político. 
 
Todos os países possuem ou possuíram sempre, e em todos os 
momentos de sua história, uma Constituição real e verdadeira. A 
diferença, nos tempos modernos – e isto não deve ficar esquecido, 
pois tem muitíssima importância –, não são as constituições reais e 
efetivas, mas sim as constituições escritas nas folhas de papel. 8 
 
 Como se infere da tese da não-normatividade, as Constituições eram vistas 
como meras Cartas Políticas, como um jogo de relações de poder, na qual o poder 
da força sempre seria superior, a normatividade cederia sempre aos fatos, 
operando, ainda nas palavras de Hesse, a transformação da ciência jurídica 
constitucional em uma ciência do mundo do ser e não do dever ser. Assim, a 
Realpolitik, adotando uma visão estrita do que seria a Realpolitik, determinaria 
todas as relações político-jurídicas, não havendo, nesse modelo de pensamento, 
espaço para o Direito, enquanto força cogente da norma constitucional, eis que 
este, como se sabe, opera no plano do dever ser. 
 Certamente, não há como negar a presença do caráter político de uma 
Constituição, aliás, é processo político que a origina, bem como modela seus 
aspectos mais relevantes, positivando, assim, uma série de lutas na busca e 
afirmação de direitos e, às vezes, infelizmente, de privilégios. Portanto, é certa a 
presença de um germe político nessa reprodução da normatividade e isso está bem 
longe de afastar a normatividade de uma Constituição, ao contrário, assegura-a, na 
medida em que conseguir reproduzir anseios fundamentais de uma sociedade, não 
ânseios momentâneos, mas sim aqueles que foram/são objetos de luta e 
reconhecimento na concreção e reconhecimento de direitos dentro de um dado 
momento histórico. 
 
2 A TESE DA NORMATIVIDADE 
 
 
6 HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991. p.11. 
7 As posições divergentes de Lassale e Hesse, como se perceberá adiante, também tem uma origem histórica, que, de certo modo, 
explica a visão de ambos. Lassale estava sob os moldes de uma visão de Estado típica do século XIX, ao contrário de Hesse que 
estava sobre a égide do século XX, o que implica e justifica essas visões. 
8 As citações de Lassale não referenciadas expressamente são parte do texto “ A Essência da Constituição”. 
5 
 A questão envolvendo a normatividade do texto constitucional não esvazia a 
importância que tem a realidade. Aliás, essa é parte integrante inclusive da 
normatividade, uma vez que é essencial para a própria existência e vigência de 
uma Constituição. Como bem dispõe Bachof, a permanência de uma Constituição 
depende primordialmente da sua adequação diante da “missão integradora que lhe 
cabe face à comunidade que ela mesma constitui.”(BACHOF,1994: I 1) 
 A vigência da norma constitucional vive conjuntamente com os fatores 
históricos, sociais, econômicos e políticos que a integram, ocorre uma relação de 
autonomia interdependente entre ambas. Segundo Hesse, ainda deve ser levado 
em conta o substrato espiritual presente no respectivo povo, ou seja, uma série de 
fatores subjetivos: “[...] as concepções sociais concretas e o baldrame axiológico 
que influenciam decisivamente a conformação, o entendimento e a autoridade das 
proposições normativas”. ( HESSE, trad.1991 : 15) 
 Há, portanto, uma integração coordenada entre realidade e Constituição, 
entre ser e dever ser. 
A Constituição não configura, portanto, apenas expressão de um 
ser, mas também de um dever ser; ela significa mais do que 
simples reflexo das condições fáticas de sua vigência, 
particularmente as forças sociais e políticas[...]. Determinada pela 
realidade social e, ao mesmo tempo, determinante em relação a 
ela, não se pode definir como fundamental nem a pura 
normatividade, nem a simples eficácia das condições sócio-políticas 
e econômicas. A força condicionante da realidade e a normatividade 
da Constituição podem ser diferenciadas; elas não podem, todavia, 
ser definitivamente separadas ou confundidas[...]. A “Constituição 
real” e a “Constituição Jurídica” se condicionam mutuamente, mas 
não dependem, pura e simplesmente, uma da outra.9 
 
 Como se nota, para o autor supra, não há como abandonar o fator realidade 
do âmbito da Constituição, entretanto o caráter da realidade não pode ser usado 
como argumento, como faz Lassale, para tornar a Constituição uma mera folha de 
papel. Lassale, então, vê a questão da normatividade do texto constitucionalmuito 
mais na chave do poder do que na do Direito, enquanto Hesse mescla ambos os 
institutos, estabelecendo que a aquisição da força normativa caminha justamente 
na medida em que a pretensão de eficácia que a Constituição adquire no mundo da 
realidade se realiza. Segundo Iacyr de Aguilar Vieira, analisando a obra de Lassale: 
 As constituições escritas não têm valor nem são duráveis a não 
ser que exprimam fielmente os valores que imperam na realidade 
social. Uma constituição escrita pode ser boa e duradoura quando 
corresponder à Constituição real e tiver suas raízes nos fatores do 
poder que regem o país. Caso contrário, irrompe inevitavelmente 
um conflito impossível de ser evitado e no qual a Constituição 
escrita, a folha de papel, sucumbirá, necessariamente, perante a 
Constituição real, a das verdadeiras forças vitais do País.10 
 
 De modo contrário, como já foi dito, Hesse consegue mesclar o fator “ser” e 
o fator “dever ser” no âmbito da normatividade. Assim: 
 
Toda Constituição, ainda que considerada como simples construção 
teórica, deve encontrar um germe material de sua força vital no 
 
9 HESSE, op. cit., p. 15. 
10
 VIEIRA, Iacyr de Aguilar. A Essencia da constituição no pensamento de Lassalle e de Konrad Hesse. Revista de Informação 
Legislativa, v.35, nº 139, p. 71-81, jul./set. de 1998. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/388> 
6 
tempo, nas circunstâncias, no caráter nacional, necessitando apenas 
de desenvolvimento. (HUMBOLDT apud HESSE)11 
 
 Verifica-se, assim, a importância desse “germe material”, uma vez que é este 
que garantirá a existência e eficácia da normatividade do próprio texto constitucional. 
Logo, não há como uma Constituição ignorar a cultura, os princípios políticos e sócio-
econômicos que regem a sociedade na qual esta imperará. 
 Isto não quer dizer que a Constituição não possa fazer esforços no sentido 
de iniciar um processo que levará a modificação de culturas dominantes. 
Exemplificando: nada impede que a Constituição indiana pregue a igualdade de 
pessoas e, conseqüentemente, o fim das castas, e se estas continuam faticamente 
existindo, isto não se configura um sinal de que a Carta Magna seja letra morta, 
mas sim de que já existe um reconhecimento no plano do dever ser dessa 
igualdade e tal reconhecimento é um grande impulso na busca de que tal igualdade 
se materialize, o reconhecimento de direitos é uma injeção de ânimo gigantesca 
pela luta no âmbito fático-social. 
 Aliás, é essencial para a força normativa da Constituição que ela incorpore, 
de maneira meticulosamente ponderada, a estrutura contrária, eis que esta possui 
sim poder de modificação da realidade, principalmente através da imposição de 
tarefas e através das próprias normas programáticas, que hodiernamente são 
vistas como “enunciados” dotados de normatividade. Como já foi dito, Hesse 
defende que a Constituição abarque não somente os enunciados sócio-políticos e 
econômicos dominantes, mas também o estado espiritual do momento histórico em 
que esta é elaborada, só assim garantirá “o apoio e a defesa da consciência geral”. 
 Outro importante fator citado por Hesse é o fato de que a incorporação no 
texto constitucional de interesses particulares e momentâneos é atividade danosa à 
normatividade deste, uma vez que isto leva a necessidade de constante revisão 
constitucional e tais mudanças interferem no grau de eficácia do texto 
constitucional: “A freqüência das reformas constitucionais abala a confiança na sua 
inquebrantalidade, debilitando sua força normativa. A estabilidade constitui 
condição fundamental da eficácia da Constituição”. (HESSE,trad. 1991: 22). 
Trataremos mais pormenorizado da questão das emendas constitucionais em 
trechos seguintes. 
 Em suma, vê-se que de modo mais meticuloso do que Lassale, Hesse faz 
uma coordenação entre o fator social, o ser, e o fator jurídico, dever ser. Logo, a 
Constituição jurídica não é mera folha de papel, como dispunha Lassale, mas sim 
uma interação coordenada entre a Constituição social e Constituição jurídica, que 
se encontram justamente na correlação acima dita. 
 
3 FORÇA NORMATIVA E INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
 Ao tratarmos da força normativa da Constituição se faz necessário tratar 
também da problemática que envolve a interpretação da Constituição, eis que é 
essencial à preservação da referida normatividade o processo de controle de 
constitucionalidade das inovações que se dão à ordem jurídica tanto infra como 
constitucional. 
 As Constituições pós 1945 exercem papel fundamental na defesa dos 
direitos fundamentais. Aliás, este é um dos elementos mais ricos na defesa da força 
 
11 HESSE, op. cit., p. 17. 
7 
normativa da Constituição, o caráter de proteção que estas oferecem na concreção 
e defesa daqueles direitos de que dada sociedade, dentro de suas condicionalidades 
históricas, sociais, políticas e econômicas definiu como fundamentais. Assim, mais 
importante neste momento do que o debate sobre a existência ou não de direitos 
naturais e, conseqüentemente, fundamentais, é ter a noção de quais direitos uma 
certa sociedade eregiu como fundamentais dentro de seu momento histórico, afinal, 
são estes que ganharão a proteção das respectivas Cartas Magnas, bem como do 
direito supralegal (não limitando tal conceito necessariamente ao conceito de direito 
natural). 
 Não se pretende aqui discorrer à respeito dos métodos hermenêuticos 
utilizados na interpretação da Constituição, mas sim de situar a importância que 
estes ganham no processo consolidatório da normatividade constitucional. 
 A idéia da interação entre sociedade e Direito, entre Realpolitik e força 
normativa ganha aqui também proporções importantes. Como se sabe, no processo 
hermenêutico constitucional, os métodos clássicos de Savigny recebem novas 
faces, mas não são completamente ignorados. Apesar da existência de métodos 
propriamente constitucionais, esses métodos clássicos ainda se revelam de grande 
importância para o processo interpretativo da Constituição. Aliás, no que se refere 
à hermenêutica vale a lição de Carlos Maximiliano12, na qual este bem preceitua que 
se deve evitar os extremos, ou seja, “o excessivo apreço ou o completo repúdio”. 
 Como já foi dito, o advento das Constituições normativas, ou como alguns 
chamam de Constituições com força normativa autônoma, trouxe mudanças 
importantes no modo de como se “executa” a força normativa da Constituição 
perante os demais diplomas legais de caráter infraconstitucional. Desenvolveu-se 
uma série de princípios que a partir de então tem orientado a criação 
jurisprudencial do processo interpretativo constitucional, entre os quais citamos os 
da supremacia constitucional, da proporcionalidade, da interpretação conforme a 
Constituição, da unidade, razoabilidade, efetividade, entre outros. 
 No Brasil, conforme acima exposto, o processo de interpretação 
constitucional, tomando como base a força normativa da Constituição, ainda é 
recente, afinal, desde 1988 para cá, pouco tempo, usando proporções históricas, 
passou-se. A mudança de mentalidade hermenêutica do Supremo Tribunal Federal 
também aos poucos foi adaptando-se ao ápice da Constituição na pirâmide da 
estrutura normativa, não que tal não se desse, mas a grande ampliação dos 
direitos fundamentais fez com que se repensasse o “interpretar da Constituição”. 
Ainda hoje vão se configurando paulatinamente novas visões jurisprudenciais que 
têm levado a mudanças importantes na defesa da normatividade da Constituição, 
bem como na concreção dos direitos e garantias fundamentais. Exemplo se faz à 
questão relativa ao mandado de injunção, que vem ganhando a feição concretista 
que se esperava de tal instituto. 
 Alguns métodosainda merecem atenção especial. Adentrando em uma 
questão de cunho cultural, Peter Häberle ganha destaque na seara de interpretação 
constitucional ao dispor sobre o método de interpretação aberta. Há, assim, para 
Häberle, a existência de um certo arquétipo que condiciona a teoria da Constituição 
por parte do Ocidente e é composto por uma série de fatores que criariam um 
standard daquilo que a sociedade ocidental toma como mínimo para a Constituição, 
como por exemplo o princípio da soberania popular. A Constituição é vista sob um 
prisma cultural, no qual a ela sedimentaria uma série de proposições que ao longo 
da experiência cultural (e se fez necessário atentar que esse “cultural” não limita a 
Constituição somente à experiências políticas, no sentido estrito dessa palavra) do 
 
12
 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. 
8 
Ocidente foram desenvolvidas. A respeito do método da Constituição Aberta dispõe 
Bonavides: 
Um dos métodos de interpretação das Constituições que a tópica 
mais de perto influenciou nos dias atuais foi o método concretista 
da ‘Constituição Aberta’, teorizado por Peter Häberle [...]. De certo 
 modo, Häberle levou a tópica às últimas conseqüências, mediante 
uma série de ‘fundamentações’ e ‘legitimações’ [...]. Todas 
resultantes da democratização do processo interpretativo, que já 
não se cinge ao corpo clássico de intérpretes do quadro da 
hermenêutica tradicional mas se estende a todos os cidadãos. 13 
 
 Na visão da Constituição Aberta, é que a partir do momento que esta passa 
a ser vista sob um prisma de predominância cultural, o papel do intérprete é o que 
sofre a mais importante modificação, pois além da adequação do preceito 
constitucional à realidade cultural e, por conseguinte, às condicionalidades 
históricas, econômicas e sócio-políticas, a pessoa do intérprete se amplia e toma 
feições plurais, ou seja, a sociedade passa a ser vista como intérprete de grande 
influência. As forças plurais de determinada sociedade passam a compor o processo 
hermenêutico, entrando na própria Constituição, tendo em vista a feição culturalista 
de Constituição defendida pelo autor. 
 
Todo aquele que vive no contexto regulado por uma norma e que 
vive com este contexto é, indireta ou, até mesmo, diretamente, um 
 intérprete dessa norma. O destinatário da norma é participante 
ativo, muito mais ativo do que se pode supor tradicionalmente, do 
processo hermenêutico. Como não são apenas os intérpretes 
jurídicos da Constituição que vivem a norma, não detêm eles o 
monopólio da interpretação da Constituição.14 
 
 O método de Häberle insere, então, a sociedade como participante não só 
indireta, mas também direta na hermenêutica da Constituição, uma vez que todo a 
carga cultural desta é essencial no próprio entendimento da Carta Magna, bem 
como nas diretrizes que os hábitos culturais vão influenciando o enxergar da 
Constituição pela sociedade e seu reflexo direto nos Tribunais. 
 Parece difícil de negar que realmente a carga cultural de determinada 
sociedade não venha, de fato, a influenciar no interpretar da Constituição. O mais 
interessante é que a força normativa desta não se perde, uma vez que Häberle vê o 
elemento normativo como ente autônomo, mas que faz parte da realidade, assim 
sendo, o elemento normativo ao mesmo tempo em que é autônomo é constitutivo 
dessa realidade social. 
 Vale citar, no entanto, que esse pensamento recebe alguns “poréns” de 
doutrinadores justamente na questão que se refere à força normativa . Segundo 
Bonavides: 
 O bom êxito da moderna metodologia ficará porém a depender de 
um não- afrouxamento pelos órgãos constitucionais judificantes na 
medida em que estes fizerem uso dos novos instrumentos 
hermenêuticos, nascidos da maior necessidade de adequação da 
Constituição com a realidade, bem como do dinamismo normativo 
 
13 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 509. 
14 HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição: contribuição para a 
interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. p.15. Porto Alegre, Sérgio Fabris, Editor, 1997. 
9 
do Estado social, o que constrói o futuro da sociedade 
democrática.15 
 
 Como se nota, havendo a manutenção do poder normativo que a 
Constituição adquiriu, o método de Häberle se mostra um tanto quanto 
interessante e até mesmo inovador neste sentido, pois mais do que Lassalle- que 
previu a questão da influência política nas relações da Constituição com a 
normatividade, mas enfraquecendo esta última- Häberle amplia para o critério 
cultural, sem necessariamente tolher a característica normativa. A sociedade 
democrática realmente cria novas necessidades e dessas novas necessidades não 
escapa o Direito e suas peculiaridades hermenêuticas. Assim, equilibrar sociedade e 
Direito, dentro de um processo hermenêutico da Constituição, talvez seja um dos 
desafios da ciência jurídica do século XXI. 
 
4 A CRISE HODIERNA DO CONSTITUCIONALISMO 
 
 O período por qual passa o constitucionalismo hodierno é, sem dúvidas, de 
grandes questionamentos. O crescimento das ondas de violências, bem como o 
acontecimento de Guerras na busca da “democratização do mundo” têm levado 
vários governos a atitudes de enfraquecimento das Constituições em nome de uma 
pseudo-segurança. 
 O discurso falacioso que as garantias e direitos fundamentais estariam 
funcionando como um empecilho ao combate dos males do século XXI tem, 
incrivelmente, garantido o sucesso a uma série de ameaças ao Estado Democrático 
de Direito e à estabilidade normativa das Constituições. Esquecem-se que é 
intrínseco ao ao Estado Republicano Democrático de Direito que o respeito aos 
direitos fundamentais esteja acima de qualquer idéia de “segurança coletiva”. Não 
há estado emergencial que justifique qualquer medida que desrespeite os direitos 
humanos, por exemplo. O afrouxamento destas garantias, por menor que seja, é 
cancerígeno à democracia. 
 Aceitar que se ocorra uma situação de embora vigência dessas garantias 
constitucionais, sua não-concreção em nome de diversos fatores que justificariam 
tal medida, como a segurança e o combate à criminalidade, é aceitar um Estado de 
exceção contínua. 
 O avanço de correntes, como o Direito Penal do Inimigo- que pregam 
rigorismo da lei e limitação/eliminação de preceitos básicos da ordem jurídica 
colaboram mais ainda para este período obscuro do Direito. Como não citar o 
exemplo da proposta já discutida e de constitucionalidade bem duvidosa que 
pretendia vedar o uso de habeas corpus para determinados crimes, enfraquecendo 
um dos remédios jurídicos mais importantes de todo o constitucionalismo moderno 
e de origem - 
 Não cabe ao Direito regredir ao período do pânico, os direitos fundamentais 
devem ser observados e concretizados em nome da própria existência da ordem 
jurídica, visto que toda ela se abala e deterioriza com a existência de “produtos” 
jurídicos encomendados, muitas vezes, pela mídia (e outros interessados nessa 
deturpação), e vendidos a uma sociedade assustada. A força normativa da 
Constituição embute a idéia de uma Constituição que consiga concretizar os meios 
mínimos de defesa das garantias fundamentais, uma vez que estes são essenciais 
ao germe material que inicia toda a fermentação normativa do texto constitucional. 
 
15 BONAVIDES, op. cit., p. 517. 
10 
Afinal, a defesa das garantias fundamentais e a da Constituição se amoldam no 
mesmo campo de batalha, atuam, assim, coordenadamente. 
 O Direito e as Constituição não podem se render ao medo, a ordem jurídicaestável e a garantia dos direitos fundamentais são até hoje a melhor forma de 
combate a qualquer dos males sociais. 
 No mais, o uso excessivo do Poder “Constituinte” Reformador deve ser 
evitado. A Constituição não deve ser emendada pelas meras passagens de humores 
que tomam conta da mídia de tempos em tempos. O processo de reforma 
constitucional deve envolver um processo sério e maduro cujas reformas se façam 
imperiosas a boa marcha do Direito, bem como as novas necessidades que, de fato, 
tornem-se úteis à sociedade. A força normativa da Constituição se abala com essas 
reformas excessivas e desnecessárias, uma vez que a Constituição perde unidade, 
bem como a confiabilidade de só ser emendada em casos realmente necessários e 
aqui, mais do nunca, dever-se-á optar pelo bom senso e pela proporcionalidade a 
fim de evitar, por um lado, o engessamento da ordem jurídica e, do outro, seu 
afrouxamento. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 A aquisição de normatividade pelas Constituições no pós Segunda Guerra é 
fato de importância ímpar em toda a história do Direito e da própria política 
enquanto ciência. Procurou-se ao longo deste texto tratar das visões mais 
consideráveis em relação à temática Constituição e sua força normativa, passando 
pelo clássico “ A Força Normativa da Constituição” de Konrad Hesse, bem como “ A 
Essência da Constituição” de Lassale. 
 As obras supracitadas, bem como as demais levadas em consideração neste 
artigo, abordam de maneira bem rica a problemática envolvendo a normatividade 
constitucional. De qualquer modo, nota-se que Constituição sem normatividade não 
é Constituição, não passa de mera carta política, cujo cumprimento não passaria de 
mero ato discricionário daqueles que periodicamente viessem a ocupar o poder. 
 A existência de uma Constituição enquanto diploma jurídico supremo de 
determinada nação-Estado é vinculado diretamente à necessidade de que esta 
possua o poder normativo que vincule toda a ordem jurídica estatal, assegurando-
se uma série de direitos e, mais importante do que isso, assegurando-se o direito a 
ter direitos e direito de lutar por estes. 
 Todavia, não há como negar a importância daquilo que Lassale se referia de 
Constituição política, é inegável a co-existência de ordens de poder não somente 
ideais (dever ser), porém tais ordens constitucionais (Constituição jurídica e 
Constituição de poder) existem não de maneira paralelas, mas de maneira 
coordenada, ocorrendo, assim, uma coordenação indissociável entre o dever ser, 
Constituição jurídica, e o ser, Constituição “real”, apesar da imprecisão do termo 
real, eis que a Constituição real é nada mais nada menos do que justamente essa 
interação coordenada que já nos referimos. 
 É justamente aqui que se faz essencial repetirmos o pensamento de 
Humboldt ao citar com extrema perícia o germe material necessário a toda 
Constituição jurídica, pois a reprodução deste germe é que dará o substrato 
material à Carta Magna, bem como o óleo que fará com que a engrenagem desse 
sistema coordenado garanta a força normativa constitucional. 
 Reportamo-nos novamente a Hesse para melhor frisar o pensamento acima: 
 
11 
A Constituição jurídica não configura apenas a expressão de uma 
dada realiade. Graças ao elemento normativo, ela ordena e 
conforma a realidade política e social. As possibilidades, mas 
também os limites da força normativa da Constituição resultam da 
correlação entre ser (Sein) e dever ser (Sollen) [...] Em caso de 
eventual conflito, a Constituição não deve ser considerada 
necessariamente a parte mais fraca. Ao contrário, existem 
pressupostos realizáveis que, mesmo em caso de confronto, 
permitem assegurar a força normativa da Constituição. Somente 
quando esses pressupostos não puderem ser satisfeitos, dar-se-á a 
conversão dos problemas constitucionais, enquanto questões 
jurídicas, em questões de poder. Essa constatação não justifique 
que se negue o significado da Constituição jurídica: O Direito 
Constitucional não se encontra em contradição com a natureza da 
Constituição.[...] A íntima conexão, na Constituição, entre 
normatividade e a vinculação do direito com a realidade obriga que, 
se não quiser faltar com seu objeto, o Direito Constitucional desse 
condicionamento da normatividade. [...] A concretização plena da 
força normativa constitui meta a ser almejada pelo Direito 
Constitucional. Ela cumpre seu mister de forma adequada não 
quando procura demonstrar que as questões constitucionais são 
questões de poder, mas quando envida esforços para evitar que 
elas se convertam em questões de poder.(grifo nosso)16 
 
 Logo, deve o Direito Constitucional buscar a preservação e ampliação 
daquilo que se poderia denominar “vontade da Constituição”, pois se trata de 
procedimento sine qua non à manutenção da normatividade constitucional, 
imperioso se faz ressaltar, no entanto, que tal vontade inclui obviamente o germe 
material que guia toda a produção e hermenêutica constitucional no intuito de 
concretizar a Constituição. Outrossim, não deve, sob pena de o Estado Democrático 
de Direito ceder ao Estado de Exceção, a Constituição aceitar qualquer forma que 
implique no enfraquecimento dos direitos e garantias fundamentais, são justamente 
estes os maiores garantidores da normatividade suprema do texto constitucional e 
responsáveis pela mitose deste poder normativo. 
6 BIBLIOGRAFIA 
HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris 
Editor, 1991. 
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. 
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 5. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2003. 
______. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do Direito 
Constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 851, 1 nov. 2005. Disponível 
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7547> Acesso em: 20 set. 2007. 
BACHOF, Otto. Normas Constitucionais Inconstitucionais? Coimbra: Livraria Almedina, 
1994. 
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Livraria 
Almedina, 1993. 
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da 
Constituição: contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da 
Constituição. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1997. 
 
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 
 
16 HESSE, op. cit., p. 26-27. 
12 
SILVA JÚNIOR, Antônio Soares. A hermenêutica constitucional de Peter Häberle. A mudança 
do paradigma jurídico de participação popular no fenômeno de criação/interpretação 
normativa segundo a teoria concretista. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1208, 22 out. 
2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9070>. Acesso em: 24 
out. 2007. 
VIEIRA, Iacyr de Aguilar. A Essencia da constituição no pensamento de Lassalle e de Konrad 
Hesse. Revista de Informação Legislativa, v.35, nº 139, p. 71-81, jul./set. de 1998. 
Disponível em:http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/388. 
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 9 ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1981.

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