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Apostila 04 de Direito de Família - Pablo Stolze

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MATERIAL DE APOIO 
DIREITO CIVIL 
DIREITO DE FAMILIA 
 
Apostila 04 
Prof.: Pablo Stolze Gagliano 
 
 
1. Curatela1 
 
Trata-se de um encargo, que impõe ao curador a representação de maiores incapazes, que não podem 
administrar o seu próprio patrimônio, estendendo-se também ao enfermo e ao portador de 
deficiência, e, bem assim, ao nascituro. 
 
É um instituto jurídico protetivo, semelhante à tutela (sendo que esta se dirige a menores incapazes). 
 
Estão sujeitos à curatela (art. 1767): 
I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para 
os atos da vida civil; 
II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; 
III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; 
IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; 
V - os pródigos. 
 
A curatela é instituída por meio de procedimento de interdição (arts. 1177 a 1186 do CPC). 
 
A competência é da Justiça Estadual, por se tratar de procedimento que diz respeito ao “estado” da pessoa: 
 
 
1 Vale lembrar que a curatela, a tutela, a adoção, a guarda e a filiação integram o programa de 
outra cadeira do Curso LFG. 
 
 
 
CONFLITO. CURATELA DE INCAPAZ. FINS PREVIDENCIÁRIOS. 
É da justiça comum estadual a competência para o processo no qual se pretende a nomeação de curador de 
incapaz para os fins de direito, ainda que dentro desses esteja o de pleitear aposentadoria junto ao INSS. 
Competência do juízo suscitado. 
(CC 30.715/MA, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22.02.2001, DJ 
09.04.2001 p. 328) 
 
Apesar da controvérsia existente, entendemos que a sentença de interdição tem natureza declaratória, com 
eficácia ex tunc, pois o magistrado apenas declara a incapacidade já existente. 
 
Os atos do interdito são nulos. 
 
Antes da declaração oficial da incapacidade, é defensável a invalidação do ato que praticou, desde que se 
prove a má-fé da outra parte e o prejuízo ao incapaz, conforme anotamos em nossa obra Novo Curso de 
Direito Civil – Parte Geral, vol. I (Ed. Saraiva): 
 
“A doutrina admite, ainda, uma incapacidade natural, quando a enfermidade ou deficiência não se encontra 
judicialmente declarada. Tome-se o exemplo do esquizofrênico que celebra um contrato, não estando ainda 
interditado. ORLANDO GOMES, com amparo na doutrina italiana, assevera ser possível a invalidação do ato, 
desde que haja a concorrência de três requisitos: a) a incapacidade de entender ou querer, b) a 
demonstração de que o agente sofreu grave prejuízo, c) a má fé do outro contraente (que se depreende das 
cláusulas do próprio contrato, do dano causado ao incapaz e da própria tipologia do contrato)2. Este 
entendimento não agrada SILVIO RODRIGUES: ‘tal solução, entretanto, é demasiado severa para com os 
terceiros de boa fé que com ele negociaram, ignorando sua condição de demente. De modo que numerosos 
julgados têm aplicado, entre nós, aquela solução encontradiça alhures, segundo a qual o ato praticado pelo 
psicopata não interditado valerá se a outra parte estava de boa fé, ignorando a doença mental que o 
afetava’. Mais adiante, todavia, o culto civilista culmina por esboçar solução semelhante à apresentada por 
ORLANDO GOMES: ‘entretanto, se a alienação era notória, se o outro contratante dela tinha conhecimento, 
se podia, com alguma diligência, apurar a condição do incapaz, ou, ainda, se da própria estrutura do negócio 
ressaltava que seu proponente não estava em seu juízo perfeito, então o negócio não pode ter validade, pois 
a idéia de proteção à boa fé não mais ocorre.’3É bom lembrar ainda que, declarada judicialmente a 
incapacidade, não são considerados válidos os atos praticados pelo incapaz mesmo nos intervalos de perfeita 
lucidez. Essa observação é necessária, considerando a existência de graves doenças mentais que se 
 
2 GOMES, Orlando, ob. cit., págs. 177-178. 
3 RODRIGUES, Silvio, ob. cit., pág. 48. 
 
 
manifestam apenas ciclicamente. Por fim, frise-se que a senilidade não é causa de restrição da capacidade, 
ressalvada a hipótese de a senectude gerar um estado patológico, a exemplo da arteriosclerose.”4 
 
 
Quem poderá ser curador? 
 
Responde-nos o art. 1775: 
 
Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador 
do outro, quando interdito. 
§1o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o 
descendente que se demonstrar mais apto. 
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos. 
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador. 
Vale lembrar, ainda que a interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar 
quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não 
sejam de mera administração. 
Para casar, em nosso sentir, o seu curador deve se manifestar a respeito do regime de bens escolhido 
(pois se trata de aspecto de cunho patrimonial), podendo o juiz decidir a respeito, caso haja 
discordância. 
Na forma do art. 1186 do CPC, cessada a incapacidade, a interdição poderá ser levantada. 
 
Finalmente, cumpre-nos observar que o novo CC regulou também a curatela do enfermo, do 
deficiente físico e do nascituro, o que não era feito pelo Código anterior: 
 
Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o 
poder familiar. 
 
4 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil – vol. 1, 19. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2001, pág. 173. 
 
 
Parágrafo único. Se a mulher estiver interdita, seu curador será o do nascituro. 
Art. 1.780. A requerimento do enfermo ou portador de deficiência física, ou, na impossibilidade de fazê-lo, 
de qualquer das pessoas a que se refere o art. 1.768, dar-se-lhe-á curador para cuidar de todos ou alguns de 
seus negócios ou bens. 
Fique atento, pois esses dois artigos podem ser cobrados, especialmente na parte objetiva do concurso, por 
se tratar de inovação. 
 
2. Filiação 
 
 2.1. Introdução 
 
O princípio que deve nortear o nosso estudo é o da igualdade dos filhos, contemplado no art. 227, §6° 
da CF. 
 
Não há, pois, mais espaço para a distinção entre família legítima e ilegítima. 
 
2.2. Reconhecimento Voluntário 
 
As formas de reconhecimento voluntário aplicam-se especialmente aos filhos havidos fora do 
casamento, eis que os matrimoniais são presumidamente “filhos do cônjuge” (ver a respeito art. 
1.597, CC). 
 
O reconhecimento voluntário, na forma do art. 1609, CC, pode se dar: 
I - no registro do nascimento; 
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; 
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; 
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o 
objeto único e principal do ato que o contém. 
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu 
falecimento, se ele deixar descendentes. 
 
 
O reconhecimento voluntário é ato solene, espontâneo, irrevogável, incondicional e personalíssimo (no 
sentido de que não pode alguém - por exemplo, meu pai - reconhecer filho meu por mim, embora 
admita-se que o faça procurador com poderes especiais – art. 59 da LRP). 
 
Se o menor é relativamente capaz, entendemos não ser necessária assistência do seu representante 
para o ato de reconhecimento, por setratar de mero reconhecimento de fato (nascimento). Ademais, 
por se tratar de ato jurídico em sentido estrito (o reconhecimento), não interfere, para a sua 
ocorrência, o aspecto da capacidade. 
 
Se é absolutamente incapaz, concordamos com MARIA BERENICE DIAS no sentido de se instaurar 
procedimento perante o juiz da Vara de Registros Públicos, com a participação do MP (art. 109, LRP) 
(ver a sua excelente obra Manual de Direito das Famílias, Livraria do Advogado, 2005, pág. 351). 
 
Admite-se, outrossim, o reconhecimento do nascituro (antes, portanto, do nascimento com vida). 
 
É possível, ainda, como visto na leitura do artigo acima, o reconhecimento de filhos falecidos, se eles 
deixaram descendentes (para evitar reconhecimento interesseiro). 
 
Importante mencionar, ainda, que, se, no ato do registro, a genitora indicar o nome do pai do seu 
filho, instaura-se, na forma da Lei n. 8.560/92, uma espécie de sindicância ou procedimento oficioso, 
para a apuração do fato, podendo resultar na propositura de ação investigatória, caso não tenha 
havido reconhecimento espontâneo. 
 
Ponto importante a se destacar diz respeito ao consentimento do filho menor reconhecido. Seria este 
imperioso, como o é na adoção de adolescentes maiores de 12 anos? 
Nada impede que o juiz ouça o adolescente, embora o CC não estabeleça esta exigência. A vontade, no 
entanto, não é vinculativa. 
 
Filhos maiores, por sua vez, devem consentir no reconhecimento, a teor do art. 1.614 do CC: 
 
Art. 1.614. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode 
impugnar o reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação. 
O filho menor, por sua vez, poderá ingressar, após atingir a maioridade ou a sua emancipação, com 
ação de impugnação de reconhecimento. 
 
 
 
Trata-se, em nosso sentir, do exercício de um direito potestativo que, pela lei, submete-se a prazo 
decadencial de quatro anos. 
 
 Entretanto, à luz do princípio da veracidade da filiação, há entendimento no sentido do descabimento 
deste prazo, como já se decidiu no STJ: 
 
DIREITO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. PRESCRIÇÃO. ARTS. 178, § 9º, VI, E 362, DO CÓDIGO 
CIVIL. ORIENTAÇÃO DA SEGUNDA SEÇÃO. 
É imprescritível o direito de o filho, mesmo já tendo atingido a maioridade, investigar a paternidade e 
pleitear a alteração do registro, não se aplicando, no caso, o prazo de quatro anos, sendo, pois, 
desinfluentes as regras dos artigos 178, § 9º, VI e 362 do Código Civil então vigente. Precedentes. 
Recurso especial provido. 
(RESP 601997/RS, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 14.06.2004, DJ 
01.07.2004 p. 194) 
 
Esse mesmo entendimento poder-se-ia aplicar ao Código Civil de 2002, ressalvada a hipótese de já se 
haver consolidado a filiação socioafetiva, tema abordado abaixo, caso em que a relação filial já não 
pode mais ser desconstituída, em nosso sentir. 
 
 
2.3. Reconhecimento Judicial 
 
2.3.1. Noções Gerais 
 
O reconhecimento judicial do vínculo de paternidade ou maternidade, dá-se especialmente por meio 
de ação investigatória. 
 
Outras ações, todavia, não menos importantes, e também regidas pelo superior princípio da 
veracidade, são admitidas em nosso sistema, a exemplo das ações: anulatória de registro (caso em que 
o sujeito, por exemplo, alega ter incorrido em erro ao registrar filho imaginando seu), declaratória de 
falsidade (em geral também reivindicatória de paternidade), negatória de paternidade (caso em que o 
marido nega a paternidade do filho nascido da sua esposa) etc. Todas elas, aliás, em geral, 
consideradas imprescritíveis, à luz do princípio da veracidade da filiação. 
 
 
 
Na maioria das vezes, por meio dessas ações, discute-se a filiação genética, embora nada impeça 
também a discussão da filiação socioafetiva, em nosso pensar. 
 
Mais comum entre todas essas ações é a investigatória de paternidade (diz-se, quanto à maternidade, 
que esta é sempre certa, o que não é totalmente correto, pois poderá haver, sim, interesse na 
propositura desta ação, a exemplo da hipótese de troca de bebês em hospital). 
 
Por vezes, a jurisprudência, não acolhendo a teoria da filiação socioafetiva, analisada abaixo, admite a 
ação de anulação do registro, como podemos ver neste julgado: 
 
AÇÃO ANULATÓRIA. PATERNIDADE. VÍCIO. CONSENTIMENTO. 
O Tribunal a quo, com base no resultado de exame de DNA, concluiu que o ora recorrente não é o pai 
biológico da recorrida. Assim, deve ser julgado procedente o pedido formulado na ação negatória de 
paternidade, anulando-se o registro de nascimento por vício de consentimento, pois o ora recorrente 
foi induzido a erro ao proceder ao registro da criança, acreditando tratar-se de sua filha biológica. Não 
se pode impor ao recorrente o dever de assistir uma criança reconhecidamente destituída da condição 
de filha. REsp 878.954-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/5/2007. 
 
2.3.2. Ação de Investigação de Paternidade 
 
 
Em linha de princípio, frise-se tratar de ação imprescritível (art. 27 do ECA). 
 
 
Têm legitimidade ativa para a propositura desta ação: o alegado filho (investigante) ou o MP. 
 
Inclusive o filho adotado, entendeu o STJ, poderá manejar a investigatória, para pesquisar a 
denominada “verdade biológica”: 
 
AGRAVO REGIMENTAL. ADOTADO. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. 
POSSIBILIDADE. 
- A pessoa adotada não é impedida de exercer ação de investigação de paternidade para conhecer sua 
verdade biológica. 
 
 
- Inadmissível recurso especial que não ataca os fundamentos do acórdão recorrido. 
- Não há ofensa ao Art. 535 do CPC se, embora rejeitando os embargos de declaração, o acórdão 
recorrido examinou todas as questões pertinentes. 
(AgRg no Ag 942.352/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 
19.12.2007, DJ 08.02.2008 p. 1) 
 
É personalíssimo o direito do filho, podendo os seus sucessores continuarem a demanda: 
 
Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando aos herdeiros, se 
ele morrer menor ou incapaz. 
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado 
extinto o processo. 
A legitimidade passiva, por sua vez, é do pai ou dos seus herdeiros (se a investigatória é post mortem), 
não sendo legitimado, em nosso sentir, o “espólio”. 
OBS.: Já admitiu o STJ, entretanto, que netos discutissem a relação parental travada com o avô (relação 
avoenga): 
CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO RESCISÓRIA. CARÊNCIA AFASTADA. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DECLARATÓRIA 
DE RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO AVOENGA E PETIÇÃO DE HERANÇA. POSSIBILIDADE JURÍDICA. CC DE 
1916, ART. 363. 
I. Preliminar de carência da ação afastada (por maioria). 
II. Legítima a pretensão dos netos em obter, mediante ação declaratória, o reconhecimento de relação 
avoenga e petição de herança, se já então falecido seu pai, que em vida não vindicara a investigação sobre a 
sua origem paterna. 
III. Inexistência, por conseguinte, de literal ofensa ao art. 363 do Código Civil anterior (por maioria). 
IV. Ação rescisória improcedente. 
(AR .336/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/08/2005, DJ 
24/04/2006 p. 343) 
 
 
RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. RELAÇÃO AVOENGA. RECONHECIMENTO JUDICIAL. 
POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. 
- É juridicamente possível o pedido dos netos formulado contra o avô, os seus herdeiros deste, visando o 
reconhecimento judicial da relação avoenga. 
- Nenhuma interpretação pode levar o texto legal ao absurdo. 
(REsp 604.154/RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgadoem 16/06/2005, 
DJ 01/07/2005 p. 518) 
E mais recentemente: 
Netos podem ajuizar ação declaratória de parentesco com o avô cumulada com pedido de herança 
05/04/2010 
A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) proferiu uma decisão inovadora para o direito de 
família. Por maioria dos votos, os ministros entenderam que os netos podem ajuizar ação declaratória de 
relação avoenga (parentesco com avô). Prevaleceu a tese de que, embora a investigação de paternidade seja 
um direito personalíssimo (só pode ser exercido pelo titular), admite-se a ação declaratória para que o 
Judiciário diga se existe ou não relação material de parentesco com o suposto avô. 
 
A decisão do STJ reforma acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que extinguiu o processo sem 
julgamento de mérito por acolher a tese de carência de ação. Os desembargadores decidiram pela 
impossibilidade jurídica do pedido de investigação de paternidade contra o avô, que não foi investigado pelo 
filho. Para eles, faltaria aos netos legitimidade para propor a ação, pois eles não poderiam pleitear direito 
alheio em nome próprio. 
 
A maioria dos ministros da Segunda Seção do STJ acompanhou o entendimento da relatora, ministra Nancy 
Andrighi, rejeitando a tese do tribunal fluminense. “Sob a ótica da moderna concepção do direito de família, 
não se mostra adequado recusar aos netos o direito de buscarem, por meio de ação declaratória, a origem 
desconhecida”, acentuou a relatora, no voto. “Se o pai não propôs ação investigatória em vida, a via do 
processo encontra-se aberta aos seus filhos, a possibilitar o reconhecimento da relação de parentesco 
pleiteada”, concluiu a ministra, destacando que as provas devem ser produzidas ao longo do processo. 
 
Após buscar referências na jurisprudência alemã, além de citar julgados do próprio STJ, a relatora destacou 
que o direito ao nome, à identidade e à origem genética está intimamente ligado ao conceito de dignidade 
 
 
da pessoa humana, assinalando que “o direito à busca da ancestralidade é personalíssimo e possui tutela 
jurídica integral e especial, nos moldes dos arts. 5º e 226 da CF/88”. Dessa forma, os netos, assim como os 
filhos, possuem direito de agir, próprio e personalíssimo, de pleitear declaratória de parentesco em face do 
avô, ou dos herdeiros, quando o avô for falecido. 
 
Nancy Andrighi concluiu que é possível qualquer investigação sobre parentesco na linha reta, que é infinita, 
e, também, na linha colateral, limitado ao quarto grau, ressaltando que a obtenção de efeitos patrimoniais 
dessa declaração de parentesco será limitada às hipóteses em que não estiver prescrita a pretensão 
sucessória. 
 
Constou ainda do voto da ministra que “a preservação da memória dos mortos não pode se sobrepor à tutela 
dos vivos que, ao se depararem com inusitado vácuo no tronco ancestral paterno, vêm, perante o Poder 
Judiciário, deduzir pleito para que a linha ascendente lacunosa seja devidamente preenchida”. 
 
A ministra Nancy Andrighi, acompanhada pelos ministros João Otávio de Noronha, Luis Felipe Salomão e o 
desembargador convocado Honildo Amaral, deu provimento ao recurso especial para anular o acórdão do 
tribunal local e determinar o prosseguimento da ação. Ficaram vencidos o ministro Sidnei Beneti e o 
desembargador convocado Vasco Della Giustina. 
 
Caso peculiar 
 
O caso julgado pela Seção é emblemático por conter uma série de peculiaridades. Ao saber da gravidez, a 
família do suposto pai, de renome na sociedade carioca, o enviou para o exterior. Há informações nos autos 
de que, embora a criança não tenha sido reconhecida pelo pai, o avô o reconhecia como neto e prestou-lhe 
toda assistência material. Mesmo após a morte do suposto avô e fim do auxílio, o filho não reconhecido 
nunca moveu ação de investigação de paternidade. O suposto pai faleceu em 1997 e o filho em 1999. 
 
Somente após o falecimento de ambos, a viúva e os descendentes do filho não reconhecido ingressaram com 
ação declaratória de relação avoenga. Para tanto, solicitaram exame de DNA a ser realizado por meio da 
exumação dos restos mortais do pai e do suposto avô. Com a determinação, pelo STJ, de prosseguimento da 
ação, as provas deverão ser produzidas. 
Processos: Resp 807849 
Fonte: 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=96563 
acessado em 09 de abril de 2010. 
 
 
 
Por outro lado, é bom lembrar que, se é discutida a paternidade declarada no registro (ex.: CAIO ingressa 
com ação investigatória em face de TICIO, supostamente seu pai, embora o seu registro de nascimento 
houvesse sido feito por MEVIO), o “pai registrário” deve integrar a lide como litisconsorte do investigado 
(ver: REsp 512.278/GO, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 14/10/2008, 
DJe 03/11/2008). 
Interessante notar ainda - uma vez que a finalidade última da presente actio é a busca da verdade real - que 
a lei permite a qualquer pessoa, provado legítimo interesse, contestá-la: 
Art. 1.615. Qualquer pessoa, que justo interesse tenha, pode contestar a ação de investigação de 
paternidade, ou maternidade. 
No que tange à instrução probatória, esta admite todos os meios lícitos de prova, salientando-se, por óbvio, 
a realização do exame de DNA. 
A seu respeito, veja este interessante julgado do STJ: 
Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Exame pericial (teste de DNA) em 
confronto com as demais provas produzidas. Conversão do julgamento em diligência. 
- Diante do grau de precisão alcançado pelos métodos científicos de investigação de paternidade com fulcro 
na análise do DNA, o valoração da prova pericial com os demais meios de prova admitidos em direito deve 
observar os seguintes critérios: (a) se o exame de DNA contradiz as demais provas produzidas, não se deve 
afastar a conclusão do laudo, mas converter o julgamento em diligência, a fim de que novo teste de DNA seja 
produzido, em laboratório diverso, com o fito de assim minimizar a possibilidade de erro resultante seja da 
técnica em si, seja da falibilidade humana na coleta e manuseio do material necessário ao exame; (b) se o 
segundo teste de DNA corroborar a conclusão do primeiro, devem ser afastadas as demais provas 
produzidas, a fim de se acolher a direção indicada nos laudos periciais; e (c) se o segundo teste de DNA 
contradiz o primeiro laudo, deve o pedido ser apreciado em atenção às demais provas produzidas. 
Recurso especial provido. 
(RESP 397.013/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11.11.2003, DJ 
09.12.2003 p. 279) 
 
 
 
Quanto a este exame, embora exista entendimento no sentido de se admitir condução coercitiva, mais forte 
é a tese de que a negativa do réu, calcada na proteção dos direitos da personalidade, culminará na 
presunção juris tantum da paternidade que se quer provar. 
Nesse sentido, a S. 301 do STJ: 
“Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris 
tantum de paternidade”. 
Em abono deste entendimento, vide, também os arts. 231 e 232 do CC (comentamos esta questão em nosso 
volume de Parte Geral, Novo Curso de Direito Civil, no capítulo dedicado à prova do fato jurídico): 
Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua 
recusa. 
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o 
exame. 
Finalmente, é bom lembrar que a disposição sumulada, recentemente, tornou-se objeto de lei específica: 
 
 
Agora é lei: recusa em fazer teste de DNA presume paternidade 
31/07/2009 
O presidente da República,Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou na última quinta-feira, dia 30, a Lei n. 12.004, 
alterando a Lei no 8.560, que regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento. A 
mudança na legislação reconhece a presunção de paternidade quando o suposto pai se recusar em se 
submeter a exame de DNA ou a qualquer outro meio científico de prova, quando estiver respondendo a 
processo de investigação de paternidade, entendimento iniciado em julgamentos do Superior Tribunal de 
Justiça e sumulado no tribunal desde 2004. 
 
A súmula 301, publicada em novembro daquele ano, determinou, explicitamente, o que começou a ser 
delineado em 1998, no julgamento de um recurso especial: “em ação investigatória, a recusa do suposto pai 
a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade”. 
 
Naquele recurso, o relator, ministro Ruy Rosado, e demais ministros da Quarta Turma, concluiu que a recusa 
do investigado em submeter-se ao exame de DNA, marcado por dez vezes, ao longo de quatro anos, aliada à 
 
 
comprovação de relacionamento sexual entre o investigado e a mãe do menor gera a presunção de 
veracidade das alegações do processo (REsp 135361). Na mesma Turma, no julgamento de um caso em que o 
suposto pai havia se recusado, por três vezes, a realizar o exame, o ministro Bueno de Souza afirmou: “A 
injustificável recusa do investigado em submeter-se ao exame de DNA induz presunção que milita contra a 
sua resignação” (REsp 55958). 
 
A Terceira Turma, que junto com a Quarta Turma, integra a Segunda Seção, responsável pela apreciação das 
questões envolvendo Direito Privado – no qual esse assunto se inclui – também consolidou essa posição ao 
decidir que, “ante o princípio da garantia da paternidade responsável, revela-se imprescindível, no caso, a 
realização do exame de DNA, sendo que a recusa do réu de submeter-se a tal exame gera a presunção da 
paternidade”, conforme acórdão da relatoria da ministra Nancy Andrighi (REsp 256261). Essa mesma Turma 
julgou, em 2000, um recurso em que o suporto pai se recusou, por dez vezes em quatro anos, a se submeter 
ao exame. O relator, ministro Antonio de Pádua Ribeiro, aplicou o mesmo entendimento em um caso do 
amazonas, no qual, somadas à recusa, há provas do relacionamento sexual e de fidelidade no período da 
concepção da criança e de honestidade da mãe (REsp 141689). 
 
A matéria se tornou lei após o Congresso Nacional aprovar o PLC 31/2007, originário da Câmara dos 
Deputados. A Lei n. 8.560/1992 determina que, em registro de nascimento de menor apenas com a 
maternidade estabelecida, o oficial remeterá ao juiz certidão integral do registro e o nome e prenome, 
profissão, identidade e residência do suposto pai, visando à verificação oficiosa da legitimidade da alegação. 
Se o suposto pai não atender, no prazo de 30 dias, a notificação judicial, ou negar a alegada paternidade, o 
juiz remeterá os autos ao representante do Ministério Público para que intente, havendo elementos 
suficientes, a ação de investigação de paternidade. 
 
A lei sancionada esta semana acrescenta à Lei n. 8.560/1992 o artigo 2º-A e seu parágrafo único, os quais 
têm a seguinte redação: "Art. 2º-A Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como 
os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos. Parágrafo único. A recusa do réu em 
se submeter ao exame de código genético – DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em 
conjunto com o contexto probatório”. Também está revogada a Lei n. 883, de 1949, legislação anterior que 
tratava nos filhos considerados ilegítimos, expressão rechaçada pela Carta Magna, que passou a denominá-
los “filhos havidos fora do casamento”. 
Processos: RESP 55958; REsp 135361; REsp 256261; REsp 460302; REsp 141689 
Fonte: 
http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=9300
3 
 
 
Nesse contexto, vale anotar, ainda, que, recente jurisprudência aponta somente se aplicar a presunção de 
paternidade – consagrada na súmula – ao suposto pai: 
INVESTIGAÇÃO. PATERNIDADE. DESCENDENTE. RECUSA. 
Trata-se da investigação de paternidade para reconhecimento do pai biológico, apontando a falsidade de 
certidão de nascimento registrada em cartório civil, considerando a imprescritibilidade da ação (decadência) 
prevista nos arts. 178, § 9º, VI, e 362 do CC/1916, e também a recusa do filho do falecido genitor ao exame 
de DNA. A Turma entendeu que, conforme o art. 27 da Lei n. 8.069/1990 e a Súm. n. 301-STJ, a presunção 
relativa quanto à recusa somente se aplica ao pretenso genitor, e não ao descendente, por ser um direito 
personalíssimo e indisponível. Precedente citado: AgRg no Ag 576.552-SP, DJe 3/9/2008. REsp 714.969-MS, 
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/3/2010. 
 
A causa de pedir na investigatória é apenas a relação sexual, havendo o novo código dispensado, 
corretamente, o rol de fundamentos constantes no art. 363 do Estatuto Civil anterior. 
Nesse ponto, interessante registrar que o STJ, em acórdão da lavra da Min. NANCY ANDRIGHI firmou 
entendimento no sentido de que “existência de relacionamento casual, hábito hodierno que parte do 
simples 'ficar', relação fugaz, de apenas um encontro, mas que pode garantir a concepção” é apto a firmar a 
presunção de paternidade (REsp 557.365/RO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
07.04.2005, DJ 03.10.2005 p. 242). 
O foro competente para a investigatória é o do domicílio do réu. Entretanto, caso haja cumulação com 
pedido de alimentos, desloca-se para o domicílio do autor (S. 1 do STJ). 
Na sentença, ao julgar procedente o pedido, o juiz deverá fixar os alimentos devidos ao autor, podendo fazê-
lo até de ofício, a teor do art. 7°, Lei n. 8.560/92, segundo o entendimento que perfilhamos. 
A admissibilidade dos alimentos provisórios é polêmica, embora haja entendimento a respeito (TJRS, AI 
70009149071). 
Finalmente, cumpre-nos lembrar que o termo inicial para cobrança dos alimentos é a citação, a teor da S. 
277 do STJ: 
“S. 277, STJ. Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação”. 
 
 
Ainda quanto aos efeitos da sentença, vale salientar que o STJ tem dispensado pedido autônomo de 
cancelamento do registro (falso), por considerar este como conseqüência direta da procedência da demanda 
investigatória: 
 
Processo civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Registro em nome de terceiro. 
Cumulação de pedidos contra réus diversos. Possibilidade. Aditamento da inicial. 
- A ação de investigação de paternidade independe do prévio ajuizamento da ação de anulação de registro, 
cujo pedido é apenas conseqüência lógica da procedência da demanda investigatória. 
Precedentes. 
- A pretensão concomitante de ver declarada a paternidade e ver anulado o registro de nascimento não 
configura cumulação de pedidos, mas cumulação de ações. 
- É possível o aditamento da inicial para inclusão do litisconsorte unitário. Precedentes. 
- Em demanda objetivando a declaração de paternidade e anulação de registro, o suposto pai biológico e 
aquele que figura como pai na certidão de nascimento devem ocupar, em litisconsórcio unitário, o pólo 
passivo. 
Recurso especial não conhecido. 
(RESP 507.626/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05.10.2004, DJ 06.12.2004 
p. 287) 
 
A título de conclusão, um importante ponto que deve ser destacado é no sentido de que a doutrina e 
jurisprudência pátrias têm admitido a mutabilidade dos efeitos da coisa julgada, na investigatória, 
especialmente quando a demanda é julgada improcedente por falta de provas (ou mesmo quando houver 
procedência,sem exame de DNA). 
 
Tal entendimento, pois, viabiliza a rediscussão do decisum, que não transitará materialmente em julgado em 
determinadas situações (quando ausente a produção do exame de DNA). 
 
Nesse sentido, já se posicionou o próprio STJ, admitindo ação rescisória para desconstituir julgado anterior: 
 
AÇÃO RESCISÓRIA - INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - EXAME DE DNA APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO - 
POSSIBILIDADE - FLEXIBILIZAÇÃO DO CONCEITO DE DOCUMENTO NOVO NESSES CASOS. SOLUÇÃO PRÓ 
VERDADEIRO "STATUS PATER". 
- O laudo do exame de DNA, mesmo posterior ao exercício da ação de investigação de paternidade, 
considera-se "documento novo" para aparelhar ação rescisória (CPC, art. 485, VII). É que tal exame revela 
prova já existente, mas desconhecida até então. A prova do parentesco existe no interior da célula. Sua 
obtenção é que apenas se tornou possível quando a evolução científica concebeu o exame intracitológico. 
 
 
(RESP 300.084/GO, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28.04.2004, 
DJ 06.09.2004 p. 161) 
 
Na mesma linha, tendo havido trânsito em julgado da primeira sentença que concluiu pela improcedência da 
investigatória, sem a realização do exame de DNA, o STJ também admitiu o ajuizamento de uma nova ação: 
 
PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REPETIÇÃO DE AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA, QUE 
TEVE SEU PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE POR FALTA DE PROVAS. COISA JULGADA. MITIGAÇÃO. 
DOUTRINA. PRECEDENTES. 
DIREITO DE FAMÍLIA. EVOLUÇÃO. RECURSO ACOLHIDO. 
I – Não excluída expressamente a paternidade do investigado na primitiva ação de investigação de 
paternidade, diante da precariedade da prova e da ausência de indícios suficientes a caracterizar tanto a 
paternidade como a sua negativa, e considerando que, quando do ajuizamento da primeira ação, o exame 
pelo DNA ainda não era disponível e nem havia notoriedade a seu respeito, admite-se o ajuizamento de ação 
investigatória, ainda que tenha sido aforada uma anterior com sentença julgando improcedente o pedido. 
II – Nos termos da orientação da Turma, "sempre recomendável a realização de perícia para investigação 
genética (HLA e DNA), porque permite ao julgador um juízo de fortíssima probabilidade, senão de certeza" na 
composição do conflito. Ademais, o progresso da ciência jurídica, em matéria de prova, está na substituição 
da verdade ficta pela verdade real. 
III – A coisa julgada, em se tratando de ações de estado, como no caso de investigação de paternidade, deve 
ser interpretada modus in rebus. Nas palavras de respeitável e avançada doutrina, quando estudiosos hoje se 
aprofundam no reestudo do instituto, na busca sobretudo da realização do processo justo, "a coisa julgada 
existe como criação necessária à segurança prática das relações jurídicas e as dificuldades que se opõem à 
sua ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não se pode olvidar, todavia, que numa sociedade de 
homens livres, a Justiça tem de estar acima da segurança, porque sem Justiça não há liberdade". 
IV – Este Tribunal tem buscado, em sua jurisprudência, firmar posições que atendam aos fins sociais do 
processo e às exigências do bem comum. 
(RESP 226436/PR, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 28.06.2001, 
DJ 04.02.2002 p. 370) 
 
E mais recentemente, leia-se o seguinte julgado: 
 
Direito processual civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade com pedido de alimentos. 
Coisa julgada. Inépcia da inicial. Ausência de mandato e inexistência de atos. Cerceamento de defesa. 
Litigância de má-fé. Inversão do ônus da prova e julgamento contra a prova dos autos. Negativa de prestação 
jurisdicional. Multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC. 
 
 
- A propositura de nova ação de investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos, não viola a 
coisa julgada se, por ocasião do ajuizamento da primeira investigatória – cujo pedido foi julgado 
improcedente por insuficiência de provas –, o exame pelo método DNA não era disponível tampouco havia 
notoriedade a seu respeito. 
- A não exclusão expressa da paternidade do investigado na primitiva ação investigatória, ante a 
precariedade da prova e a insuficiência de indícios para a caracterização tanto da paternidade como da sua 
negativa, além da indisponibilidade, à época, de exame pericial com índices de probabilidade altamente 
confiáveis, impõem a viabilidade de nova incursão das partes perante o Poder Judiciário para que seja 
tangível efetivamente o acesso à Justiça. 
- A falta de indicação do valor da causa não ofende aos arts. 258 e 282, inc. V, do CPC, ante a ausência de 
prejuízo às partes, sobressaindo o caráter da instrumentalidade do processo. 
- Sanado o defeito com a devida regularização processual, não há que se alegar ausência de mandato e 
inexistência dos atos praticados. 
- Não há cerceamento de defesa quando, além de preclusa a questão alegada pela parte, impera o óbice da 
impossibilidade de se reexaminar fatos e provas em sede de recurso especial. 
- A ausência de dolo exclui a possibilidade de declaração de litigância de má-fé. 
- Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris 
tantum de paternidade (Súmula 301/STJ). 
- Não existe violação ao art. 535 do CPC quando o Tribunal de origem apreciou todas as questões relevantes 
para o deslinde da controvérsia, apenas dando interpretação diversa da buscada pela parte. 
- Inviável em sede de recurso especial a análise de alegada violação a dispositivos constitucionais. 
Recurso especial não conhecido. 
(REsp 826.698/MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06.05.2008, DJ 
23.05.2008 p. 1) 
 
Com isso, concluímos pela possibilidade de, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana e da 
identidade, se poder rediscutir o julgado. 
 
2.4. Paternidade Socioafetiva 
 
Em um primeiro momento, vivia-se, no Brasil, a fase da paternidade legal ou jurídica, calcada 
simplesmente em uma presunção (é “filho” do marido aquele “concebido por sua esposa”). 
 
Tal presunção ainda é presente (art. 1597, CC), posto não goze mais do mesmo prestigio, não sendo 
absoluta, especialmente por conta do surgimento do exame de DNA. 
 
 
 
Com o exame de DNA, passamos a viver a fase da paternidade científica ou biológica (pai seria aquele 
reconhecido como doador do material genético pela ciência). 
 
Mas será que, ser pai ou mãe é, simplesmente, gerar ou conceber? 
 
Admite-se, pois, nessa linha de evolução, nos dias de hoje, a paternidade do coração, denominada 
socioafetiva, construída ao longo dos anos, e calcada em valores e sentimentos (paternidade ou maternidade 
de criação). 
 
Fala se fala em “desbiologização do direito de família” (JOÃO BATISTA VILELA). 
 
Trata-se, pois, de uma das mais belas teses desenvolvidas pelo Direito de Família nos últimos anos, e que já 
começa a ganhar força até mesmo no STJ: 
 
FILIAÇÃO. ANULAÇÃO OU REFORMA DE REGISTRO. FILHOS HAVIDOS ANTES DO CASAMENTO, REGISTRADOS 
PELO PAI COMO SE FOSSE DE SUA MULHER. 
SITUAÇÃO DE FATO CONSOLIDADA HÁ MAIS DE QUARENTA ANOS, COM O ASSENTIMENTO TÁCITO DO 
CÔNJUGE FALECIDO, QUE SEMPRE OS TRATOU COMO FILHOS, E DOS IRMÃOS. FUNDAMENTO DE FATO 
CONSTANTE DO ACÓRDÃO, SUFICIENTE, POR SI SÓ, A JUSTIFICAR A MANUTENÇÃO DO JULGADO. 
- Acórdão que, a par de reputar existente no caso uma “adoção simulada”, reporta-se à situação de fato 
ocorrente na família e na sociedade, consolidada há mais de quarenta anos. Status de filhos. 
Fundamento de fato, por si só suficiente, a justificar a manutenção do julgado. 
Recurso especial não conhecido. 
(RESP 119346/GO, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTATURMA, julgado em 01.04.2003, DJ 
23.06.2003 p. 371) 
 
Em Santa Catarina, vale a pena conferir: 
 
Sentença reconhece paternidade/maternidade sócio-afetiva fundada na posse de estado de 
filho 
 
 
 
 
 
 
Reconhecimento de paternidade/maternidade sócio afetiva, fundada na posse de estado de 
filho. Esta a síntese de interessante sentença proferida na 2ª Vara Cível da comarca de Xanxerê 
(SC). 
 
O julgado - sujeito a recurso de apelação no TJ-SC - reconheceu a C.M.N. a condição de filha de 
R.B. e C.B., que a haviam "adotado", sem processo judicial de adoção, nem a lavratura de 
qualquer escritura pública. 
 
O julgado, acompanhando a tendência da doutrina moderna, reconheceu que "hoje a filiação 
está fundamentada muito mais na condição sócio-afetiva do que em elementos de caráter 
biológico ou jurídico". 
 
A sentença determina, ainda, a anulação da partilha havida quando do falecimento da mãe 
"adotante", em que deixou de se incluir a autora da ação como herdeira. O juiz reconhece, 
ainda, à requerente, todos os direitos hereditários, em igual condições com os filhos naturais 
do casal . 
 
Na parte dispositiva, o juiz da causa reconhece "a existência da maternidade/paternidade 
sócio-afetiva alegada e, via de conseqüência, declaro ser a autora filha afetiva de R.B. e C.B., 
reconhecendo em seu favor, por igual, todos os direitos inerentes à tal condição, vedada 
qualquer espécie de discriminação". 
 
A sentença também declara "nula a partilha procedida nos autos da ação de inventário (nº 
783/1996), dos bens deixados pelo falecimento de C.B., que tramitou perante o juízo da 1ª Vara 
desta comarca, devendo nova divisão de bens ser procedida, contemplando-se a autora como 
herdeira, na qualidade de descendente, em igualdade de condições com os demais 
contemplados, atribuindo-se-lhe quinhão exatamente igual". 
 
Essa parte dispositiva alcança o viúvo (pai "adotante") e cinco outros herdeiros, que também 
foram réus da ação. 
 
O advogado Erlon Fernando Ceni de Oliveira (OAB-PR nº 21.549) atua em nome da autora da 
ação. Já há recurso de apelação dos réus interposto ao TJ de Santa Catarina. (Proc. nº 
080.04.002217-0). 
 
 
 
Data: 13.07.2006 
Fonte: www.espacovital.com.br 
 
Também merece referência outra notícia do STJ: 
 
Adoção à brasileira não pode ser desconstituída após vínculo de socioafetividade 
14/07/2009 
Em se tratando de adoção à brasileira (em que se assume paternidade sem o devido processo legal), a 
melhor solução consiste em só permitir que o pai adotante busque a nulidade do registro de nascimento 
quando ainda não tiver sido constituído o vínculo de socioafetividade com o adotado. A decisão é da Terceira 
Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, seguindo o voto do relator, ministro Massami Uyeda, 
rejeitou o recurso de uma mulher que pedia a declaração de nulidade do registro civil de sua ex-enteada. 
 
A mulher ajuizou ação declaratória de nulidade de registro civil argumentando que seu ex-marido declarou 
falsamente a paternidade da ex-enteada, sendo, portanto, de rigor o reconhecimento da nulidade do ato. 
 
Em primeira instância, o pedido foi julgado improcedente. O Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) manteve a 
sentença ao fundamento de inexistência de provas acerca da vontade do ex-marido em proceder à 
desconstituição da adoção. Para o TJ, o reconhecimento espontâneo da paternidade daquele que, mesmo 
sabendo não ser o pai biológico, registra como seu filho de outrem tipifica verdadeira adoção, irrevogável, 
descabendo, portanto, posteriormente, a pretensão de anular o registro de nascimento. 
 
Inconformada, a mulher recorreu ao STJ, sustentando que o registro civil de nascimento de sua ex-enteada é 
nulo, pois foi levado a efeito mediante declaração falsa de paternidade, fato este que o impede de ser 
convalidado pelo transcurso de tempo. Argumentou, ainda, que seu ex-marido manifestou, ainda em vida, a 
vontade de desconstituir a adoção, em tese, ilegalmente efetuada. 
 
Em sua decisão, o ministro Massami Uyeda destacou que quem adota à moda brasileira não labora em 
equívoco, ao contrário, tem pleno conhecimento das circunstâncias que gravitam em torno de seu gesto e, 
ainda assim, ultima o ato. Para ele, nessas circunstâncias, nem mesmo o pai, por arrependimento posterior, 
pode valer-se de eventual ação anulatória postulando descobrir o registro, afinal a ninguém é dado alegar a 
própria torpeza em seu proveito. 
 
“De um lado, há de considerar que a adoção à brasileira é reputada pelo ordenamento jurídico como ilegal e, 
eventualmente, até mesmo criminosa. Por outro lado, não se pode ignorar o fato de que este ato gera 
efeitos decisivos na vida da criança adotada, como a futura formação da paternidade socioafetiva”, 
 
 
acrescentou. 
 
Por fim, o ministro Massami Uyeda ressaltou que, após firmado o vínculo socioafetivo, não poderá o pai 
adotante desconstituir a posse do estado de filho que já foi confirmada pelo véu da paternidade socioafetiva. 
 
Fonte: 
http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=9284
8 acessado em 25 de julho de 2008. 
 
E também: 
 
STJ não permite anulação de registro de nascimento sob a alegação de falsidade ideológica 
19/11/2009 
 
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou improcedente a ação proposta por uma 
inventariante e a filha do falecido objetivando anular um registro de nascimento sob a alegação de falsidade 
ideológica. No caso, o reconhecimento da paternidade foi baseado no caráter socioafetivo da convivência 
entre o falecido e o filho de sua companheira. 
 
L.V.A.A, por meio de escritura pública lavrada em 12/6/1989, reconheceu a paternidade de L.G.A.A aos oito 
anos de idade, como se filho fosse, tendo em vista a convivência com sua mãe em união estável e motivado 
pela estima que tinha pelo menor, dando ensejo, na mesma data, ao registro do nascimento. 
 
Com o falecimento do pai registral, em 16/11/1995 e diante da habilitação do filho, na qualidade de 
herdeiro, em processo de inventário, a inventariante e a filha legítima do falecido, ingressaram com uma 
ação de negativa de paternidade, objetivando anular o registro de nascimento sob a alegação de falsidade 
ideológica. 
 
O juízo de Direito da 2ª Vara de Família de Campo Grande (MS) julgou procedente a ação, determinando a 
retificação do registro de nascimento de L.G.A.A para que se efetivasse a exclusão dos termos de filiação 
paterna e de avós paternos. O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul confirmou a sentença entendendo 
que, “havendo prova robusta de falsidade, feita por quem não é verdadeiramente o pai, o registro de 
nascimento deve ser retificado, a fim de se manter a segurança e eficácia dos atos jurídicos”. 
 
No STJ, o relator, ministro João Otávio de Noronha, destacou que reconhecida espontaneamente a 
paternidade por aquele que, mesmo sabendo não ser o pai biológico, admite como seu filho de sua 
 
 
companheira, é totalmente descabida a pretensão anulatória do registro de nascimento, já transcorridos 
mais de seis anos de tal ato, quando não apresentados elementos suficientes para legitimar a 
desconstituição do assentamento público, e não se tratar de nenhum vício de vontade. 
 
“Em casos como o presente, o termo de nascimento fundado numa paternidade socioafetiva, sob autêntica 
posse de estado de filho, com proteção em recentes reformas do direito contemporâneo, por denotar uma 
verdadeira filiação registral, portanto, jurídica, conquanto respaldada pela livre e consciente intenção do 
reconhecimento voluntário, não se mostracapaz de afetar o ato de registro da filiação, dar ensejo a sua 
revogação, por força do que dispõem os artigos 1609 e 1610 do Código Civil de 2002”, afirmou o ministro. 
 
Fonte: 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=94711 
acessado em 12 de dezembro de 2009. 
 
 
3. Fique por Dentro 
 
Já se fala hoje em uma nova modalidade de vínculo paterno-filial: a paternidade alimentar. 
 
Trata-se de uma construção relativamente nova que, sem menoscabar a socioafetividade, visa a 
permitir a mantença da obrigação alimentar em face do pai biológico (genitor) caso o pai afetivo não 
disponha de condições financeiras adequadas. 
 
Sobre o tema, escreve ROLF MADALENO: 
 
“Em tempos de verdade afetiva e de supremacia dos interesses da prole, que não pode ser 
discriminada e que tampouco admite romper o registro civil da sua filiação social já consolidada, não 
transparece nada contraditório estabelecer nos dias de hoje a paternidade meramente alimentar. 
Nela, o pai biológico pode ser convocado a prestar sustento integral ao seu filho de sangue, sem que a 
obrigação material importe em qualquer possibilidade de retorno à sua família natural, mas que 
apenas garanta o provincial efeito material de assegurar ao filho rejeitado vida digna, como nas 
gerações passadas, em que ele só podia pedir alimentos do seu pai que era casado e o rejeitara. A 
grande diferença e o maior avanço é que hoje ele tem um pai de afeto, de quem é filho do coração, 
mas nem por isso libera o seu procriador da responsabilidade de lhe dar o adequado sustento no lugar 
 
 
do amor. É a dignidade em suas duas versões” (Revista Brasileira de Direito de Família – n. 37, 2006, 
pág. 148) 
 
Outra importante questão, na Filiação, diz respeito ao chamado “parto anônimo”, que traduz o direito 
de a mulher não assumir a maternidade do filho que gerou, entregando-o a instituição autorizada, 
para se evitar, com isso, o abandono. Trata-se de delicada e polêmica matéria, que ainda carece de 
regulamentação específica. 
Segue ainda outra decisão de interesse do Direito de Familia: 
 
27/01/2012 - 08h04 
DECISÃO 
Suposta neta não pode entrar com ação de reconhecimento contra avô se pai ainda vive 
Não pode a parte entrar com ação para ser reconhecida como neta se o pai ainda é vivo e já teve suas 
próprias ações de paternidade, em relação ao pretenso avô, julgadas improcedentes. O entendimento 
foi dado pela maioria da Quarta Turma do STJ, que acompanhou o voto-vista do ministro Marco Buzzi, 
ao julgar recurso contra decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). O relator original 
do processo, ministro Raul Araújo, e a ministra Isabel Gallotti ficaram vencidos. 
 
Foi a primeira vez que o STJ julgou um caso com essas peculiaridades. O pai da autora do recurso já 
havia tentado em outras quatro ocasiões ver reconhecida a paternidade do investigado em relação a si 
mesmo, mas suas ações foram julgadas improcedentes. Na primeira investigação, o teste de DNA 
ainda não estava disponível e os exames realizados não comprovaram a paternidade. Posteriormente, 
a Justiça se negou a reabrir o caso, sob o argumento de que a matéria era coisa julgada. 
 
A suposta neta propôs, então, uma ação cautelar para que fosse realizado exame de DNA, cujo 
resultado pretendia usar em futura demanda de reconhecimento da relação avoenga. Ela sustentou 
ter direito próprio à investigação da identidade genética. O pedido foi negado na primeira instância, 
decisão que o TJRS confirmou, ao argumento de que o direito seria personalíssimo em relação ao pai. 
 
A defesa da suposta neta, em recurso ao STJ, alegou haver dissídio jurisprudencial (julgados com 
diferentes conclusões sobre o mesmo tema), pois o Tribunal já havia autorizado a investigação da 
relação de descendência por netos. 
 
Também argumentou que houve ofensa ao artigo 472 do Código de Processo Civil (CPC), que 
determina o litisconsórcio necessário de terceiros afetados por sentença, em causas envolvendo o 
 
 
estado da pessoa. Pediu o afastamento da coisa julgada e autorização para realizar o exame de DNA 
com a intenção de estabelecer a relação avoenga. 
 
Identidade de partes 
 
O ministro Raul Araújo votou pelo provimento do recurso, considerando que o STJ já havia admitido 
investigação de descendência de netos em relação a avós no passado, mesmo durante a vigência do 
Código Civil de 1916. Para ele, a filiação não se esgota em uma só geração. 
 
Na questão da coisa julgada, o ministro ponderou que esta ocorre apenas quando há identidade das 
partes, e a autora do recurso em julgamento – a suposta neta – não havia integrado as ações 
anteriores, movidas pelo seu pai. 
 
Entretanto, o entendimento do ministro Marco Buzzi, em seu voto-vista, foi diverso. Ele admitiu o 
recurso pelo artigo 472 do CPC, pois os julgados anteriores do TJRS tiveram efeitos sobre a parte. 
“Efetivamente, a norma do artigo 472 não permite a extensão dos efeitos da coisa julgada a quem não 
participou da relação processual, sendo incontroverso que a recorrida não integrara as demandas 
promovidas por seu genitor”, disse. 
 
Além disso, acrescentou Marco Buzzi, recente decisão do Supremo Tribunal Federal permitiu que a 
coisa julgada seja afastada no caso de ações de investigação de paternidade julgadas improcedentes 
por falta de provas, quando ainda não havia exame de DNA. 
 
“O pai da recorrente ainda detém a possibilidade de relativizar os provimentos jurisdicionais que não o 
reconheceram como filho do recorrido, vez que suas ações restaram improcedentes sem a realização 
do exame de DNA”, disse o ministro. 
 
Sem precedentes 
 
Ele destacou que o caso é inédito no STJ e considerou inválido o argumento de que teria havido 
dissídio jurisprudencial, uma vez que, nos julgamentos citados, os pais dos recorrentes já eram 
falecidos e, enquanto vivos, não tinham entrado com ações para reconhecimento de paternidade 
contra os supostos avós. 
 
O ministro asseverou que não se reconhece legitimidade concorrente da neta e do pai para acionar a 
outra parte. Haveria, sim, legitimidade sucessiva dos netos, em caso de falecimento dos seus pais. O 
 
 
ministro Buzzi afirmou ainda que a investigação de identidade genética para fins de constituição de 
parentesco é limitada pelo artigo 1.606 do Código Civil. 
 
“O artigo restringiu o universo de quem (geração mais próxima viva) e quando pode ser postulada a 
declaração judicial de filiação (não haver anterior deliberação a respeito)”, esclareceu. 
 
Na visão do magistrado, as ações ajuizadas pelo pai, consideradas improcedentes pela Justiça, 
acarretaram a impossibilidade legal de descendentes mais remotos, como a pretensa neta, entrarem 
com a ação. Para ele, isso evita que investigados em relações de parentesco sejam submetidos a “um 
sem-número de lides”. 
 
O ministro Buzzi observou que, pelo princípio da proporcionalidade, o direito de identidade genética 
não tem caráter absoluto, não podendo se sobrepor à segurança jurídica e à privacidade da intimidade 
das relações de parentesco do investigado. 
 
O número deste processo não é divulgado em razão de sigilo judicial. 
 
Coordenadoria de Editoria e Imprensa 
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Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=104526 acessada 
em 06 de fevereiro de 2012. 
 
Fiquem muito atentos a esses avanços! 
Foi uma alegria tê-los como alunos, e, especialmente, 
ter a certeza de tê-los como amigos do coração... 
Um grande abraço! 
Fiquem com Deus! 
O amigo, 
Pablo. 
www.pablostolze.com.brRevisado.2012.1.ok C.D.S.

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