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Henri Lefebvre - O Direito a Cidade (Cap 1)

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Prévia do material em texto

HENRI LEFEBVRE
O DIÏÌEITO
ACIDADE
Tradução de
Rubens Eduardo Frias
EDITORA MORAES
lIII
I
i
I
l
l
t
.
I
iì
I
I
)v o DrREtro À ctpnoe,
guarda dos fatos. Passa.m paÍzì o domÍnio público através d€ arti-
gos de jornais e de livros de alcance e ambição diferentes' Ao
urestrlo tempo, o urbanismo torDa-s€ ideologia e prática' E, no en-
tanto, a8 guestõcs relativas à Cidade e à realidade urbana náo úo
plenaoente conhecidas e reconhecidas; aioda uão assumirampoli-
tícatncnu a importâqcia e o significado que têm Do Pensa"TcÌúo
(na ideologia) e na prátba (mosuaremos uma estratégia urbaoa já
em obra e em açáo)' Este Pequeno livro não se propõe. aPenÍu;
passar pclo crivo da crftica os peosarnentos e as atividades que
dizem rcspcito ao urbanismo. Tem por objetivo faznr com que es-
tcs problemas entrem na cossciência e uos Programas polÍticos'
Da situação teórica e prática' dos problemne (da problepáti-
ca) referentes à cidade, à Íealidade e às possibilidades da.vida u-
bana, comecemos Por tomar aquilo que outrora sc charnava "uma
perspectiva cavaleira".
INDUSTRÍALZAçÃO E URBANIZAçÁO
Noçoes Preliminares
Para apreseour e cxpor a "problemática uóana"' impõc-se
um ponto àe partida: o processo de industriatizaçâo' Sem possibi-
lidad€ de contcstação, 
"s"" 
pto""sso é' bá um século c reio' o
motor das transformagões na sociedade' Se distioguirmos o indu'
i, 
" 
o iÌtdwido, p"aã-* dizer que o processo de i'udustriarização
é indutor e que se pode contar entre bs induzidos os problemas
rclativos ao crcscimnto e à planificação, as questões referontes à
cidade e ao desenvolvimentõ da realidade uÍbsn&' sem omitir a
crescente importância dos tazeres e das questões relarivas à 
"cul-
tula".
-9e i"a*tnalização catzrctunza a sociedade 
moderna O que
Dão tem por conscqúência' inevitavelmente' o termo "sociedade
jpdustrial;', sc quisermos definila' Ainda qtre a urbaniza$o e-a
lroblemática Oo ',rrUano figurem entÍe os efeitos induzidos 
e náo
eD@ as calrsas ou razões i'ndutoras, as pÍeocuPações que essas
palav125 indicam s€ acentuam dc tal modo que re pode definir
como soci-edadc urbana a realidade social que nasce a nossa vol-
ta- Esta definição contém uma característica que se torna de capi-
tal importância-
A indusri4ização fomece o pooto de partida da reflexáo 
sobre
nossa época- Ora' a Cida're prpexiste à iodustrialtz'açã'o'Esta 
é
una observação em si mesma'baoal, mas cujas implicações não
foram inteir'amente formúadas' As criações urbanas 6ai5 
e rineo-
!es, as obras mais "b€las" da vida urbana ("belas"' como geral-
m€oc se Ci', porque são antes obras do que produtos) datam dc
Á
t l
rNr)us'rRl^ l - l z |Ç^o E URBANIZAçÃO
o DIRErro À cpepp
épocas asteriores à industrialização. Houve a cidadp oriental (li-
gada ao modo de produção asiático), a cidade-arcaica (grega ou
Íorrâna, hg"Ãa à possc de escravos), dePois a cidade medieval
(n,mr situação complexa: inserida em relações feudais rnali em
luta contra a feudalidade da terra). A cidadc oriental e arcaica foi
' Quqndo a industrializaç4o-t=opPç1'-Sragdg-le:1 e Japitalis-
mo êoncorreocial Cõ-ó a burguesia espccificanente industrial' a
Cidiúè-já rcm ü'"4 pg!èro-sg ÍEa!i@è: ãffi o qG@íapaÍeci
rento dre çirladgg arcaicas, na Euopa ocidcntal, no dccorrer da
decomposiçã,o d8 mrnnnidadc, a Cidadc retonou seu desenvolvi-
rncnto. Os mcrcadorcs Esic ou tnenos errant€8 elegeram para ou-
tro c€ntro dè suas atividades aquilo que subsistiu de antigos nú-
cleos ubanos. Ioversamente, pode-sc suPor que esses núcleos de:
gradados exerceram a função de accleradoÍEs Panr aquilo gue res-
tava dâ economia de troca' mqntida por'mercadores arnbulantes'
A partir do sobreproduto crescentc da agricultura' em detrimnto
dos feudos, as Cidades cotrreçarn a acumular riqtrezas: objetos' te-
souros, capit"is virhrais.. Já existc 39srys cenüos s1S359g rtmn
graode riqueza monetária, obtida p"F úgT 
"_p.F 
comércio.
Nesses centros, Prospcra o artesaoúo, produçáo bem distinta da
agricrìltura- As cidades apóiam a8-coÍÍUni494+l câmPonesa.si e a
libertação dos camgÉncses, não scrD sc çroveitalgm-disso-çF-scu
próprio 
-f_gefício. 
Fm surna' sáo ccstros. dc vida social e política
onde sc- gçgsrrlam não apenas as riquczas como tamMm os co-
nhecirentos, as técnicas e as obras (obras dÊ aÍ1Ê,' mooumeotos).
A própria cidade é uma obra, è esta caraôterGtica cootrasta com a
oricntação irrcvcrsÍvel na dircção do dinheiro, na direçáo do
comércio, oa diroção das Eocas, na direção dos produos. Com
èfèitó, a obra é valor de uso e o produto é valor de troca. O uso
principal da cidade, isto é, deq nras s deq praç88, dos edifícios e
dos mosunrcntos, é a Festa (que consoure improdutivareDte, scn
seohrtrnâ outra vantagem além do prazer'e do presÚgio' enonnes
riquezas em objetos e em dinhciro).
, Reatidsde complexa, isto é, cootraditóriÂ' As cidades redie-
vais, no aPogeu de seu deseovolvirneoto, centralizam as riquezas;
os gnrpos-Oúgenles i-nvestem improdutivrmente ttrna grande parte
dessas riquezas oa cidadc que domioam' Ao mesmo tempor 9 !];
oitalismq- remç1gial e baocário iá toroou rn4vel a riqueza e-já
õïãiituiu circuitos de trocas- rédes que permitem as traosleren-
c6ãõ a6Íeiro. r res a
T,,-o-io ..r*.ífica íoi "empresários"), a ri-
Preeml
l .
ãqAA;" a. t* at""tt't A Produção
u tu nao é rnais prcdominante' nem a propriedade da terra- As
,J* 
"r"upnm 
aos feudais e PassaÍn P'ìr:ì as mãos dos capitalistas
urbano's enriquecidos pglo comércio, pclo banco' pela usura' Se-
gue-s€ que a "sociedade" no scu conjunto' compreendeodo a ci-
ã"d", o carnPo e as instituições que regulameotarn suas relaçõcs'
t"nde a se cònstituir em rydc dc cidades' cQm rims ç9!4-diyl!39
do trabalho (tec n icarnente, socialmente, pol iticarrreote) feila entre
lG-ciaaaes ligadas por estradas, por vias fluviais e marítimas,
por retaçõcs comcrciaú e bancárias' Pode-se PensaÍ que a divisáo
ôo rabalho entre Íìs cidades náo foi Dero táo extrcmada' oem tão'
cooscientc que determinassc associações estáveis e Pusesse t-tm às '
rivalidades e concorrências' Esse sisterna urbano não chegou a r
instalar. O que se levanta sobre essa base é o Estado' o podcr
ccntralizado. Cuu* e et'eito dessa cenualízaçâo particular' a ceo-
ú"tttuçao Oo pocler, "ma cidade prcdomina sobrc 
'as outras: a ca-
pital.
ScmclhanB Processo sc desenrola muito desigualmeote' de
modo bastantc diverso, na ltália, oa Alemanha' oa França e em
Flandrcs, na loglaterra, oa Espaoha' A Cidade predomina" e oo
eDta.oto oão é mais, cotDo na antigüidade' a Cidade-Esttdo: Eìl
,kggoj-s-e-Cii!\n-g*qgm: a sociedade' o psta{9r-a ci$Sde' Nesse sis-
tema urbano , cada cídúteúe=a'é ãoôs-iiúit 
"b 
sitt"ma fecha-
Jo-, úu"ao. e 
"ia.a" 
coDs€rva urn caráter orgânico de comuli-
dade, que lhe vem da aldcia, e que se traduz na organi'açáo cor-
porativa. A vida comunitária (romportando assembléias gerais ou
i*.i"itl em na-da impede as lutas de 
classês' Pelo cootrário' os
viOlentOScontrastes"ot t"unquezaeapobreza,osconf l i tosentre
os poderosos e os oprimiOos nao irnPedeT nem o apego à Cidade'
nèm a contribuição ativa para a beleza da obra' No contexto 
ur-
i :
tegl!=u o5'GrcadõÍ€s outrora quasc nômades, relegados para fora
8 . l : : ] i ì ' i l O DIREITO A CIDADE
, de mão-de-obra (isto é, locais onde pode subsistir "o exército de
[ ,"r.t"" do proletariado", como diz Man<, que Pesa sobrc os salá-
'ì | rios e permite o crescirento da mais-valia). Além do mais, a Ci-
lA"a", tal como a fábrica, permite a concentração dos meios de
I produção nurn Peqqeoo espaço: ferramentas, matérias-primas,
i mão'de-obra-
L- Não sendo satisfatória para os l'empresários" a implantação
fora doo cidadcs, desde que possível a indústria se aproxioa dos
ceotros urbanos. Inversaoente, a cidade anterior à industriali-
zaçâoacelera o processo (eui particular, ela permite o rápido
crescirento da produtividade). ê
do talcc
traç&s de capit"is no sentido de Marx. Desde então, a indútria
devia produzir seus próprios centros urbúos, cidades, aglome-
rações industriais ora pe{Irenas (I-e Crcusot), ora médias (Sai-ot-
-Biçpqe), às vezes gigaotes (Ruhr, coosiderada coÉo "conur-
bação"l). Seria necesúrio voltar para a deterioraçáo da centrali-
dade e o cerárcr urbano nessas cidades.
O processo aparec€ a1ora, através da análise, em toda sua
complexidade, que a palavra "industrialização" mal esconde. Es-
ta complexi.lade s€ menifgs6 desde que sc deixa de pensar em
tennos de empresa, de um lado, e - por outro lado - em cifras
globais de produçâo (rrm tantto de toneladas de carvão, de aço) -
menifssta-se a partir do instante em que se raciocioa distinguindo
a indtrcão e o induzífu- ao observar a importância dos feoômenos
loduzidos e sua inteiração sobre os indutores.
A indútria pode passar seln a cidade antiga (rré-industrial'
pré-capitalista), mec isso quando constitui aglomerações oas quais
o caráter urbano se deteriora. Não é este o caÍio Dos Esta'los UDi-
dos e oa América do Norte osde as "cidades", uo seotido eÍn que
compreendernos essa palavra na França e na Europa, são 1rcuco
Dumerosas: New York, Montreal, San Francisco? Entretanto, lá
oode preexistir uma rede de cidades antigas, a indústria a üoma de
t - ' . . : - : . 
. . :
l. "Conurbação": aglomeração formada por uma cidade e seus satélites, e às ve-
zes por várias cidades que se uniran ao crescer. (N' do T.)
'ìu.m processo com dois aspectos: industrialiraç-ao e urbtlização,
içrescimeuto e descpvolvúegto. @
cial. Os dois "aspectos" dcste Processo' inseparáveis, têm uma
INDUSTRIALIZAçÃO E URBANIZAçÃO
assalto. Apodera-se da rede, remaneja-a segundo sues necessida-
Ela ataca também a Cida.le (cada cidade), assalta-a, toma-a,
Tende a romper os antigos núcleos, apoderaldo-se de-
O que náo impede a extensão do fenômeno urbano, cidades e
, cidades operárias, subúrbios (com a aoexação de
lá onde a industrializaç-ao aâo consegue ocup:ìr e ft-xar a
bra disponrvel)"
Temos à oossa frente um duplo proceJso ou, se se preferú,
üEde, e Do entalto o processo é conÍlitante.^glrslS-listorica-
reote. un chogge violepio eFtre a'ealid'' urb;;;;;ììm
industrial. Quento à complexi.lede do processo, ela se revela cada
ïez ããfaifícil de ser apreeodida, tanto mais que a industriali-
zzgâo oão produz ap€Das empre.sÍìn (operários e cnei'es de empre-
sas), meq sim estafulecimcntos diversQs, ceotro: bancária,s e fi-
nanceiÍos, técuicos e políticos.
Este procçgso_j!4!(glgs- longe de estar elucidado, esú
t^mhém-fonge de ter terminado. Aioda provoca siruações "pro-
blenáticas". Conteotar-nos.-euros con citar aqui uns poucos
exemplos. Em Veneza, a populaÇão ativa abandona a cidade pela
Eiõã-"eçqgjídrffil que, no c&ti-nente, tem o dobro de seu-aslomeração industrial
- -=
Enho: Mestrc. Esta cidade entre as cidados, urÌ1 dos mais lrslss
legados d"q épocas pré-industriais, esú etteaçada não tan16 psl6
deterioraçãct roaterü.1 devida à açáo do mar ou ao afundame oto do
terreno qúanto pelo êxodo dos babit^ntes. Em 4telqruma i-ndus-
trializa$o relativa.r,.nte consideúvet utrfiíJã u 
"upital 
as pes-
soas das cidades pe{lueoas, os cuìmponeses. A Atenas moderna
Dáo tem-lgglg-qqEqem comqm com a 
"i@
-sorvid?. desmçsuradamote esteodida. Os monurentos e os,lgg4-
\ ,
eçí-P--cs!4ic4 s-de
'c 
izacional da cidade
. - -
confrnua muito forte. Qeus arredores de bairros recentes e de se-
@m pessoas sem raízes e desorganizÂdas,
lhe confercm um poder exorbitante. A gigantesca aglomeração
quase infnt:rne permite aos detentores dos centros de decisão os
í l
12 o DIREITo À ctoaPe'
soas oriundas da periferia, suburbanss. Sobrcvive gfaças a e$e
: lusaÍ de . Assim, os an-
exigêociasooquedizrespei toaos..serviços' ' .Entreoselerentos
;; Suçgêfu,q, indicamos os. lazeres ao modo 
urbano
<a"ffiffi;ÍõËorhr."", a rápida adoção das modas que
vêm da cidade. E.tã;bém as pre,ocupaçõcs com a seg'rança' asi
exigências de umâiPÍeviúo referente ao futuro' em sus)a' ura ra-
oiuiufio"a" divulgããi'pela cidade' Geralmeote a juventude' grupo
.;ü;';, contribui átivanpnte pata essa rápida assimilação das coi-
-saserepresentaçõesoriundasdacidade.lstosãotrivialidadesso-
ciológicas que convém lembrar para mostrÍìr srras ispticaç&s'
EntÍe as malhas do tecido urbano persistem ilhotas e ilhas de ru-
ralidade "pura", torrões natais fregtientemeDüe pobres (nem sem-
pne), povoados por camponescs envelhecidot'. na'l 
.'4aPtados"'
Ltp"j"aot aaquUo que constirui a nobrcza da vida camPonesa
oo, **po, de meigg.miséria c da opressão. A relação*.rrúanidn;
Or:.Unti+EgS:, Portanto' não desaparece; pelo cootrÁriõ;"tntcnsi-
f ica.se,elstol l }eslrcnospaÍsesmeisindustr. ia l izados.Interferè
com outras represcntações e com outÍul rclações reais: cidade e
""-po, 
oatureza e facticidade' etc' Aqui ou ali' as tensões tor-
oalltsse conflitos, os conflitos latentes sc exÍìsP€ram; aParece
entáo em pleua luz do dia aquilo que se escondia sob o "tecido
uÍbn.o".
Por outro Lado, os núcleos urbanos não desaparccem' roídos
pclo tecido invasor ou integraìCos Da sua tramâ' Esses núcleos rp-
sistem ao se transfor-ur"Ã continuarn a ser óãõ-tte i"-tenia
, fiiULUarrU tem FCãï, o euartier Lario). As qualidades estéticas
desses antigos núcleos desempenham um grande q"P"|o".tT y-
nutenção.NãocontêmapcnasmonumeDtos'sedesdeinstituições'
mas também espaços apropriados pam as festas' para os desfiles'
passeios, diversóes. Oìrtcteo urbano torna-se' âss'mr produto de
coosumo de uma alta qualidade Pam estrangeiros, turistas, pes-
" comPleto na troca e no valor
-^-r^ l^^ Àãáô
àË oo"", uão sem conti-ouaÍ a ser'vqlor de uso em razão dos espa-
ços oferecidos Para atividades específicas' Tornam-se 
cestros de
"oort-o. 
O rcssurgimegtO- gÍquitetônico e urbanístico do 
.centro
comercig!.dÁ aPelas upa versão apagada e mutilada daquilo que
foi o oJ"i;a da aotiga cidade, ao ÍBesIDo tcmpo comercial' rcligio-
INDI.JSTR[ALIZAÇAO E URBANIZAÇAO
!9r lntelectual, polÍtico, ecosômico (produtivo)' A noção e a ioa-
gcm do ceDtro comercial datnm de fato da ldade Média- Corres-
poode à pe.quena e média cidade mdieval. Mas hojp o valor de
troca prevalece a tal Ponto sobre o uso e o valor de uso que quale
suprire estc útimo. Esta Doçáo, Portanto' nÁo k'm Íìada de origi-
nal. A criação que corresponde a nossa época, a suas tendências,
ao seu horizonte (amaSador) oÃo seria o centro de decisxs? E*
te c€Dtro que reúne a formação e a informação, as capacidades de
organização e de decisõcs institucionais surge co4o projeto, em
vias dc realizaçáo, de una nova centralidade, a do pder'
Convém prestar a estc conceito, à prática que ele denota e justifi-
ca, a maior atenção.
De falo, portanto, estatnos em Pres€Dçã dc 
-Véd.99., 1ry-8
i(três, pelo mnos) de rçbç&s.S9+Plel8s, definíveis por opo-
lsiç6es tcrmo a ter.úo, mas não esgotados por essalt oposições.
l r - - : -^- 
- - . - r :J^ l^ ^ ^. . - r - - - : , .1-Ã^ l^ õ 'y i - r loão "r l 'ono\ Fviota n
-EListe I (a sociedadc urbana). Existe o
.ii@âiü'"'" 
-idade" 
e aj*.$çdid4dB, aDti-
ga, rcnovada, rya. Donde, urna problemática ioqúetante, sobre-
fudo quando se deseja passar da anáiise PÍrra uma síntese, das
coustataçóes para um projeto (para o "Dormativo"). Será oecesú-
rio (mo. o que signi{ica esse termo?) deixar que o tecido prolifere
espoDtanesrrleDÍe? É, conveniente capturar essa força, orientar es-
sa vida estranha, selvagem e fictícia ao lrEsmo tempo? Como for-
tiÍicar os centros? Isso é útil? E necessário? E que centros' qÌìc
centralidade? Que fazcreofiE deq ilhas de ruralidadè'?
Assim oi€ãtt"ïe, ãtãvés aos'ptobt"mas- distiotos e do coo-
junto problemÁtico, ããj'e da'c-ffi|1- Crise teórica e pútica. Na
;tgg"ga, o corrceitofu cidode (da reali'tade urbana) compõe-se dc
fatos, de reprcsentações e cle im^gens emprcstadas à cidade antiga
(pÉ-lodustrial, pré-capitqlistâ) mas em curso de transfornração e
de aova elaboraçáo. Na prática, o rykk,*{&çnq (parte essencial
da i-agem e do conceito da cidade) esú rachando, e no eotanto
consegue 99 mnnter; hnsbordando, freqüentemente deteriorado,
às vezes apodreceodo,
gúm procl"m^ seil fim e sua
um posnrlado e rurtÍl airrmaçáo s€m provas. O núcleo urbano não
cedeu seo lugar a uma "realidade" nova e bem definida, tal como
a aldeia deixou a cidade nasc€r. E, no entanto' seu reinado pÍÌÍece
l3
! \
*ì .,
14 oDIRElroÀctoloe
acabar. A menos gue se afirme mais fortemente' ainda' 
como cen-
tro de Poder...
Mostramos até agora o assalto da cidade pela industri{?uç1o
e plotamos um quadro dramático' dess€ Processo' .considerado
globalmente. Esta JeDtativa de análise poderia-permittt i:*-li
que se trarâ de ,,- p'o""tto natural' scm lorcnçõet'-T
ô;,;.i;J rato^utgt'-a coisa assi-t' mas wDâ tal 
visáo estana
Euncada. Num tal p'i"'* lotervêT ativam€Dte' voluntarianente'
classcs ou ffiões -ctãïta"ãS it;ig-";tt"t' 
-4u" 
p"it""---"."i:lgt$
uAíiai-n ttiuçãõ). e-q-ú seÌaiir õã9 .aryn as o eÍDPre go ec oD omr-
co do capital t 
", 
itlii#t*t p'oat'ìiuo*' coú9 -Çg!|P q -11
"rJ;o;1ïiiaini,ë!õo"ts-PPc-14:#,tff,fr iïlïitr;ï:iïáiaas -uã -''cultuÍa",-na aÍ!e' no conhecur
tã ãi *t"r, ai*rc doú gntPos to"i^i: dominaslgs 
(classcs e
d&'il;;;i""*it,'i*itt" i 
"i""t" 
opcrária: o proletariado' ele
mesmo dividido em canâdss' em gnrPos lnrciais, 
em tendências
diversas, segundo o'-'u-o' ú ioa'l"ttit' as tradições 
locais e na-
cionais.
A situação na retade do úcutq Xt|' em Paris' foi mais ou
ÍneDos a seguinte' n U*go"ti" diÍirgJtte: classe não homogêneq
conquistou a capitat cõ--rira-a*a túú' 
pit* é testemunha' ain-
da hoje, de modo *orfu"t, o Marais: blTt ïïtT{::Ï:ï,*
Revoiução (apesar da tendêncib,flocag.ital e da5 pcssoas ncas Pa-
ra derivar Para o *stj b-"t-o aéjaráins e hotéis particulares' 
o
TerceiÍo Esta'do,;;;t-* aeudas de anos' durante o período
balzaquieno, apodera-ú dete; desaparece um ceío 
oúcro de
."g;À".t iroúi"; outros úo ocupados por oficinas e Peqìrenalt
"Ë; 
casas ae aluguel, lojas e. depósitos' entrePostos' emPresall
substitucm PaÍques-e jardlos' I feiura burguesa' a asPere? 
eE
relação ao ganho, vis(vel e leglël' nas ruas instalam-se no luggr'
da beleza ,t pot'"o nit e dã luxo aristocrátlco' Nos 
muros do
ffit!*,-6'úsês, o ódio.entre as classes, a mesqui-
';ifr; 
"i;tt*"ilútível 
t'ornar mais percepÚvel. este paradoxo
da história, qu" 
"' 
[* J*tÏ-YÏ:,3 y":Ë"ff;, ti:ii'Ï;
ta" que tom a s€u caÍgo o crescuìen DaI,
instnrmentos ideológicot td"qouaot a esse crescimento 
racro
que cnminha o" aiËJ ú dcmocracia e que sqpslúnri:-opresgio
pgig'J:Pler-ação, 
"*ü"t""* 
eoquânto tal não mais cria; substitui a
INDUSTRIALIzeçÃo e uRsaNtznÇÁo 15
Ì ) i . '
iUr" p"to produto' Aqueles que guardam o-sentido da obra" ioclu-
sive os romancistas e os plntoras, se consideram e se scntem "não
burguescs". Quanto aos oPressores' aos senhores das sociedades
asterior€s à democracia burguesa - prÍncipcs, rcis, seuho-res, im-
fr"Aor", - estes tiverarn o scotido e o gosto da obra' 
em particu-
ï", oo sctoi arqútetôni,co e urbanístico. Cpg-g&!!g' g-pbradç-
t 
nt"da sobre a citlade (Pa-
ris), a turguesi. francesa Po$sui aí os meios de ação' bancos do
Estado, e não ap€nas ,"aidê*i""' Ora, ela se vê cercada pcla
classe opcrária' os csmponcscs aÍluem' instalarse ao redor das
"barreiras", das portâs, oa pcriferia imediata' Antigos operários
(nas profissóes artesáBais) L novos proletários peoetram até o
ptOprio ÊÍnâgo da ci.l"i{e; rDorÍIm em pardieiros mât também em
'"tst" 
"f"gaAL 
onde pessoas úastadas ocupam os andarps 
-infe-
riores e opaúrior, os andares suPerr-cres' Nessa "desorderr:"' os
operários aIIE€çF'n os Bovos ricos' perigo que se torDa evid€ote
nL jornaOus dc junbo de lMS e que a Comuna coofirmará- Ela-
borrse eoÌÃo tona estrUégio de classe que visa ao rema'oejanccn-
to da cidsdc, scm relação coÍn stlÍI realidade' com sua vida prG
pf.u-.É enue 1848 e Haussmaso qÌre a vida de Paris atlnge sua
'maior 
inteusiúdc: náo a "vida pari'siense"' mas a vida urbana da
capital. Ela entra entáo para a literab'rra' para a Flu: :tT Y
poteo"i" 
" 
di*o*, gigantcscas' Mais târde isso acabarí A vida
urbana prcssupõc *o"ãot o', cosfrontos das diferenças' conheci-
ffi" 
-r""onhecircoòs recíprocos (inclusive no confronto
idcológico e potÍtico) dos mo'dos dc viver' dos "padróes" que
coexistcm na Cidadç. No transcorrer do século XIX' a democra-
crl. dÊ origem cÍìmponess' cuja ideologia animou os revolu-
cionários, poderia ter se transformado em democracia urbana- Es-
se foi e é ai-oda para a história um dos seutidos da Comuna' Como
a democracia urbana arneâçâva os privilégios da nova classe do-
mirrante, esta impediu qt" Lto democracia nascesse' Como? 
Ex-
púsando do centro urbano e da própria cidaiie o prole"ariado'
destruindo a "urbanidade"'
Pr imeiroato_obaráoHaussrDaDn'homemdesseEstadobo-
napartista que se erige sobre a sociedade a fim de traú-la ci'nica-
Eente como o tìespojo (e não ape.Dãt comÔ â arena) daq lutas pelo
ì
"r
t
t6 o DrRErro À'bronop
poder, substitui as ru8lt tortuosas rnaq vivlg por loogas avenidas,
os bairros sórdidos mas animados por bairros aburguesados. Se
ele abre boulzvards, se arranja espaços vazios, não é pela bcleza
dqs p€rspectivas. É para "pentear Paris com as Etr&lhadoras"
@enjamin Pérct)+O celebre barão não esconde isso. Mais taÍde'
scrão gratos a Haussrnenn por ter ab€rto Pa.ris à circulação. Essa
não era a frnalidade,.ô objetivo do "urbanis69" hsss5mqniqns.
OË-vazios têm um sentido: proclamam alto e forte a glóÃa e o po.
der do Est"do que os arranja, a violência que oeles pode sc de-
senrolar. Mais tarde afetuam-se transferêricias Para outras finali-
dades que justiÍicnm de uma ouü:a mâneiÍa os entalhes na vida
urbana Deve-se notâÍ que Haussmann não alcançou seu objetivo.
Um dos sentidos da Comuna de Paris (1871) foi o forçoso retorno
para o centÍo urbano dos operários relegarlos pÍìra os subúbios e
periferias, a sua r€conquista dâi'ei i este bem entre os bens,
este valor, csta obra que lhes tinha sido arrancada.
Segwdo ato - Ã finalidade êstratégica devia ser atingida por
uma manobra muito mais am. pla, de resultados ainda mais isp,oç-
tântes. Na segunda metade do século, Pessoas influentes, isto é,
ricas ou poderosas ou as duas coisas ao mesuro temPo, ora ideó
logos (Le Play) de coocepções muito marcadas pelas religiões
(católica ou protesüante), ora homens polÍticos avisados (Pcrten-
cenies à centro-direita) e que aliás não constituem um grupo úni-
co e coereDte, em suma alguns noúveis descobrem trmâ nova
noção. A III Repúbfica assegurará o- {99qino dessa noção, isto é, a
súá reatização nà : iiiát ic,a; C :q*ffi FËEgtg:',{té e n táo :-*.ï9i;" -.
taÍ" era participar de una vidã social, çls trma comunidade, aldeia
"'Ë-" Ëìt'Ë. n viaa urbana detinha, entne outras, essa qualidade,
esse atribute.r:.pts:rdbixay* ;bpitArt permitia que os citadioos< i-
dadãos habitassem. E assim que "os mortais habitam quando sal-
vâm a terra, quando esperam os Deuses'.. quando conduzem seu
ser próprio na preservação e no uso..." Assim fala do habitar,
como poeta, o Íilósofo Heidegger (Essair et Conférerrces' p.
177-L78). Fora da filosofira e da poesia, as mesmas coisas foram
ditas sociologicemeote çna lióg\iaËém da prosa do mundo). No
hm do século XIX, os Noúveis isôÍam em função, separarn-oa do
coDjunto altamente complexo que era e que continua a ser a Ci-
dade a fìm de projeú-Ìa na prática, oão sem manúestar e signiÍì-
INDI.JSTRIALIZÂçAO E URBANIZAçAO
çar asslm a socicdadc para a qual foroecem uma ideologiae urn'a
prárica. Os subúrbios, scm dúvida, foram criados sob a prcssão
das ctcuostâncias a ltm dc rcspooder ao impulso cego (ainda que
motivado e orientado) da industria.lização, responder à chegada
maciça dos campooeses levados pÍIra os ceotros urbanos pelo "ê-
xodo rural". Nem por isso o processo deixou de ser orientado por
t'mq estralégia.
Estratégia de classe Úpica sigoiÍìca uüla seqüêocia de atos
coordenados, planiÍìcados, com um úoico objetivo? Não. O cará-
ter de classc paÍec€ !8!to mris profundo quânto diversas ações
coordenadas, centradas sobrc objetivos diversos, coovergiran oo
entanto psra rrm rcsultado final. EvideDte que todos esses Noú-
veis não sc propunham a abrir um caminho Para a especulação;
alguns dcles, horeos de boa vontade, Íìlantropos, hurna-oistas, pa-
rÊcem mesmo desejar o contrário. Nem por isso deixararu de es-
tcnder emrr toino rìa Cidadc a mobilização da riquez-a da tena, a
cotrada do solo e do alojarpcoto, ,scm rcstrição, Para I troca e o
valor da troca. Com as implicações e-spcculativas. Não se proPu-
nha.u dcsmoratizar a classc operária mas sim' pelo cootrário' mG
raliá-la. Coosideravam como beoéfico çolocar os operários (in-
divíduos e famÍlias) numa hierarquia bem distinta daquela quc
impera Da empresa, daquela dqq propriedades e dos proprietários,
das casas e dos bairros,'Querian"atribuir-lhes:u!pq outra função,
- --uús-,ouuú"condição,-õutoog P.!Éis, que não aqueles ligados à
condiçãli'. & :: Produtores assalariados.'Preten diar c o nceder- l hes
:âg5im;una vida'quotidiana'mclhor que.a do trabalho' Assim, Ìm^-
ginaÌam" com o húitat, a ascensão-à propriedade. Operaçáo no-
tavelEcnle bem-succdida (aihda que sual] conseqtiências políticas
Dem scmPre tenharn sido aquelas com as quais os promotores coo-
tavnm). O fato é que semprc se atingiu um rcsultado, previsto ou
imgrevisto, coosciente ou ilconscientc. A sociedade se orienta
proletariado 'acabarâ de perder o scntido da obra.'Afastado dos
tcrcais de produção, dispooívet para empresas esPzìrsas a partir de
la
20 oDlREtroÀclonoe
. 
. : , ; ; , '
Se se definir a realidade urbana Srla depenaêocia em relação
ao çentro, os subúrbios são urbanos' Se se deÍinir a ordem por
uroa relação perceptÍvel (legível) entre a centralizaçáo e a perife-
ri;a, os subrirbios são desurbanizados' E pode-sc dizer 
que o
"peusamento urbauÍstico" dos grandes conjuotos literalmente se
J"*"r; na cidadd e no urbano a fim de extirpá-los. Toda a rca-
lidade urbana perceptÍvel (legível) desapareceu: ruas' praças' mÈ
nurDentos, espaços para eucõntros' Nem mesmo o bar' o café 
(o
bistroQ deixaram de suscitar o ressentimeuto dos "conjuntistas"'
ã..seü'gota pelo aúetismo' sua redução do habitar pariì o h{i6'
ioi pri*i* lue fossem até o fim de sua destruiçáo 
da realidade
urbana sessÍvel Para que surgisse a exigência de uma restituiçáo'
Então, viu-se ,*p"r"à' timúamente' lenEmente' o café' o 
bat' o
.centro comercial, a rua' os equipamentos ditos culturais' 
erq' suma
uns poucos elementos de realidade urbana'
Destc modo, a ordem urbana se decompõe e4 dpis tempos: os
pavilhões, os conjuntos. Mas não 3xis11 sociedadç scm oif.:'
ãgoin""ao, perccpúvel, legÍvel de imediato t illtftïi=ïi
bana oculta
Ã.J'"- ffiu. 
"" """"'""tt- 
t tt os húitantes não têm
coosclencliê;ã d"õordem ioterna ao seu setor' mã' as PessoasIh;;-;;;j;os tee- a si mesmas e se percebem como nãopavi-
'lhonistas. E reciprocramcnte' No interior da 
dPoqiçã
sïG aõípãffi0"s rc @Para uns' a organr-
@cia) do espaço. Pan 91tr3s' 1pt"t"lç,"
do sonho, da natureza, da saúde, afastados da cidade má e malsã'
Mas a lógica do habitat só é percebida em relação 3e imeginário'
dos
N6taç"r-. i ma girário Eggelr -pggsr' Ele
lógica: o fato de habitar é peÍcebldo-_P9'Tt 
_ _.--a_^:^ r-
nuns e noutros ias pessoddos pavilúões lancnta'm a ausêociode
uma lógica do espaço, as pcssóL;aos conjuntos lamentam não
conhecJr a alegri.ra Cos paviínocs)' Doodc os supreeodcntes rcsul-
INDUSTRIALIz-nçÃo E URBANIZAÇi\o zl
tados das inguet€s' l'lais de oiteota por cento dos franceses 
aspl-
ram à moradia tipo pavilhão' com urna forte maioria declarandq'
-se "satisfeita" ço- os coojunlos' Resultado que não 
importa
aqui. ConvéE apeDas ressaltar que ? corlsciêncib da cidade 
e da
realidade urbana se esfwna taotos nuns como nQutros' 
até desa-
parccer' n o"tãião iJti"u e teórica (ideológica) da cidade oão
pode aliás ser feita sem dcixar um vazio enoFsle' Sem 
contar os
pt"úf"*rt a'tminisüarivos e outÍos cada vez mais difíceis de se-
rem resolvidos' Para a análise crítica' o vazio imPorta 
nìenos que
, 
a situação conflitante caract'enz'ada peto fim da cídade 
e pela arrr
.,,1 . pliação aa 'o"ied"O" 
urbana' mutilada' deteriorada' porém reaÌ'
,\]\),. os subúrbios úo urbanos' nulna morfologia dissociada, império\\' 
\Ë;;;;àï" * ciúo entre os elementos 
daquiÌo que foi criado
^ 
tomounidade e simultaoeidade'
i--i l ;n"*;;;;,aanátisecríticapodedistinguirtrêsperío-
fdos(quenáocoincidemexata$eDt€comadecupagemdodrama
da cidade em tÉs atos que foi anteriorrente esboçada)'
Prineiro-;;';'" - n ioatt"oia e o processo 
de industriali-
zaçao assataá-"-'tqu"i'* a 
.realidade Yb'qg.o 
preexistente' até
destnrí-la p"ft ptatit" e pela ideologia' até eiìirpá-Ìa da 
rsilidade
e da coosciência' Conduzida segundo uma estratégia 
de classe' a
iodustrialização se co'porta como qm poder negat',? 1" 
reaìida-
de urbana: t ;ã õii;''é 4eg9{o pg-}o eçonônico industrial'
Segundo pertodo (em parte justaposto ao primeiro) - A urba-
ouz1-ao * 
"áp 
ir t' ã ìet*iSeO1' *!ana se'-ge n eraliza' 
A real id a'ì e
utbana, ot 
"lo' 
tü";;;õiï; destruiçáo' faz-se reconhecer como
realidade sócio-econômicà' Descobre-se que 
a l<rcledade inteira'
colre o ,i""o L 
'" 
atto-por se lhe faltarem a cidade e a centraii-
dade: desapu'"t"" um dispositivo essencial 
para a organrzação
planiÍicada da produção e do consumo'
Terceiroper{odo-"-Bç9-qçqn.-gê:99o,u.'Ieinvertiì.Se(nãosem
sofrer com 
'ú 
àe't'u4ao oã ptati"t e no Pensa-mento) a realidade
ubana. ftoú'* restituir a cenralidade' Teria 
desaparecido a es-
tratégia de classe? Não se sabe''ao certo' Eia se 
modiítcou' As
ceutralidades aDtigas' a decomposição dos centros 
sáo por ela
substiruídas prelo i"'wo de decbão' É assim que nasce ou 
renasce
a reflexão 
"rUtof"i"u' 
Esta sucede a um urbanrsmo sem reflexáo'
Cs *oi'ott', ãs e príncipes não tiveram outrora 
necessidade de
lCt
22 o DIREITo À ctoePg
r ' : 
' ! . i :
ula teoria urbanística para embelezaÍ suas cidades. Bsstava a
pressão que o povo exercia sobre os senhores e também a Pres€D-
ia Oe uma civúizaçao e de um estilo para que.as riquezas prov:-
oi"ot , do labor dess€ povo fossem investidas em obras' O perÍo-
do burguês põe úm fim a essa tradição milenar' Ao mesmo tempo'
este período traz üDa nova racionalidade' difercnte da racionali-
dade elaborada pclos filósofos desde a Grécia'
,), n Razão filosóÍica propunha defrnições (cootestáveis rnas
alioiadas em raciocínios formaliàdos) do homem, do mundo' da
história, da sociedade. Sua geoeralização democrática deu lugar
em seguida a urn racionalismo de opiniões e de atitudes' Cada ci-
dadão tinha, ou supunha-se que tivesse' rrma opinião pensada so'
bre cada fato e cada problema que lhe dizia respeito; Êsta sabedo-
ria rcpudiava o irraciãnal; do confronto d88 idéi8s e opiniões de-
via surgir rrma sabedoria geral que incitasse a vontade geral' Inú-
til losistir sobre as dificuldades dcste raciontúismo clássico' liga-
d.s às dificuldades políticas da democracia, às dificuldadcs práti-
ç4g do hrrmnnismo: No té",tlo XIX, e sobretudo no século XX'ttã-a forma a racionalidade organizadora, opcracional nos diver-
sos degraus da rcalidade social. Provém essa racionalidsde da
"-p*õ 
e da gestão d'sunidades de produção? Nasce ao nível do
Estado e da planificação? O importante é que *ja vma razão
analítica levada às sua.s últimgs conseqüências. Ela parte de uma
análisemet&icadoselementostãofìnaqtrandopossível(det'ma
operação produtiva, de uma organização econômica e social' de
umâ estnrnra ou de umn fusçfis). Em seguida, subordina esses
elementos a runa finafidade. Donde sai essd nnaüdâde? Quem a
formula, queD a estipula? Como'ri'por quê? Está aqui a falha e a
queda dessc racionalismo opcratório' Seus adeptos pretcodem ti-
rar a finalidade do encadeamnto das opcraçõcs' Ora' isso não
existc. A finalidade, isto é, o conjuoto e a orieotação do conjunto'
se decide. Dizer que ela provém dqc próprias operações é fechar-
-se num cÍrculo viçioso: com a decupagem analÍtica dando a si
mes,,,â por sua própria fiDalidade, por s€u próprio sentido' A fi-
nalidade é objeto de decisão. É uma estraÍégía, justificada (rnais
ou menos) por qÍ!ê ,ideologia. O racionalismo que preteode tirar
ï" ,uu" priprias análises a sua finalidade perseguida por essas
análises é, ele mesmo' urrüì ideologb' A noção de sísterna cobre a
INDUSTRIALIzAçÁo e uRnnntzeçÃc 23
noção de estratégia- À anáIise crÍtica' o siste-a revela ser uma es-
tratégia, desvenda-se como decisão (finalidade decidida)' Aote-
riormcnte, foi demonstrado como ufir estraÍégia d'e classe orien-
tou a análise e a decupagem da realidade utbena' sua destruição 
e
sua restituição, projeções sobre o terreao da sociedade onde tais
decisões estratégicas foram tomadas'
Eotretanto, do ponto de vista do racionalismo tecnicista' o re-
sultado imediato dos processos exeminados representa apeDas 
rÌÍrì
caos. Nu "realidade" que eles observam de modo crÍtico - subú-
bios e tecido urbaao e núcleos'subsisteotes - esscs racionalistas
não recoohec"- * .oodições de sua própria existêocia' É apenas
diant€ deles que a,cootradiçáo é desordem' Com efeito' apenas
a razão dialética pode dominar (pelo raciocínio' pela prática)
processos múltip lo s e paradoxa'lmeute c ontraditórios'
Como por ordem ìessa confusáo caótica? É assim que o ra-
cionalismo ,de organizaçáo coloca seu problema' Essa desordem
náo é uormal. Como instiruí-la a dtulo de norsra e de normalida-
a"i çl inconcebível- Essa desordem é malú' o médrco da socie-
dod" moderna se vê colno um médico do espaço sor:ial dqente' 
A
fimlidade? O remédio? É' acoerêncr'a' O racionalismo vai instau-
rar ou rÊstâuraÍ a coerênci;a na reatidade caótica que ele observa e
qu€ se oferece à sua ação' Este racionalista corre o risco de náo
i"r""U", que a coeÉ rrctz é uma forma' portanto mais 
um meio do
gue um f,tm, e que ele vai sistematizar a lógica do habíat subja-
ceote e desordem e à incoerênci.a aparentes, que eÌe vai tomar por
Donto de partida de suas demarches cìoerentes oa direçáo 
da
il;D; io *"r. De fato, oão existe rrma EÍu'châ única ou unitá-
lndênc ias referenciáveisria da reflexão urba-uística' truls diversas tt
em relação a esse racionalismo operacional' Dentre essas teodên-
cia.s, umas s€ afirÍnarn contra, as outras pelo tacionalismo' levan-
do-o até suas iormuÌações extremas' O que interfere com a
teudência geral daqueles que se ocuPârn com o urbanismo para só
comprecod-er aquilõ que podem traduzir etrI termos de operaçoes
gtan"u", ver, sentir na Poota do-lápis' desenhar'
Distinguiremos eotáo:
a) o urbanismo dos homens de boa vontade (aiqrritetos' escritq'
res). Suas reflexõcs e seus projetos implicem urua cerr-a fiioso-
,l 4
T ' ' i - /,:',':."
o DIREITo À ctpnoe26
sua nova missão. Este urbanisuKr Prograna uma quotidianeidade
gendora dc satisfações (notadarcote para as mulheres que o
teito|T e dele participam). O consumo programado e cibernetiza-
do (previsto pelos computadores) toroar-se-á ÍEgrì e norlna para a
Sociedade loteira- Outros edi-ficarão centros &cisionois' que
conceotrain os meios do poder: loformaçáo, formação, organi-
zaçâo, operação. Ou ainda: repressão (coações, loclusive a
viãtgnciai e pcrsuasão (ideologia, publicidade)' Em redor desses
centros se repartirão, em ordem dispersa, segundo nornìas e
coações previstas' as periferias, a urbang^ção desurbanizada'
Tod; as condiçõcs se reúnem assim piua que exista uma domi-
nação pcrfeita, para umâr'exploração apurada das pessoas' ao
mesrDo tempo como produtorìes' como consumidorcs de produtos'
como consumidores de esPaço.
A convergência desses projetos comporta Portaoto os marores
pcrigos. Ela aprcsenlz politicotunre o problema da sociedade ur-
L""t f possível que novas contradiçóes surjam desses projetos'
perturbando a convergêoci:a- Se uma estratégia unitária s€ consti-
ruíts" 
" 
fosse bem-sucedida' isso scria lzlvez irreparável"
AFILOSOFTAEACTDADE
Após considefttr o probleme sob essa perspe'ctiva e através
dessa "visão cavaleira", çonvém p6r em evidência este ou aquele
aspecto, este ou aquele problema- Para retomar a anáÀise radical-
mente cúica, para aprofundar a problemática urbana, o pooto de
partida será a filosofra- O que não deixará de surpreender. E, oo
eota.oto, oo decorrer dqq páginas aDteriores náo foi freqüente essa
referência à filosofia? Náo se trara de apres€Dtar wtn filasofia da
cidade mes sim, pelo contrário, de refutar semelhantç atirude atri-
buindo ao conjuoto das filosofias o seu lugar oa história: c lugar
de 
-up projeo de síntese e de totalidade que a filosofia como taì
T9_9$ç-fçatluar. Afrs o que, virá o exâme da anal{tica, isto é,
dìG-esclareci-mentos ou decupagens da realidade urbana pelas
ciências parcelares. A rejeição das propoÈições siltéticas basea-
das nos rcsultados dessas ciências especializadas, particulares e
parcelares permitirá colocar melhor - em termos políticos - o
problerna da síntese. No transconer deste percÌlrso' eocootrare-
mos característica-s já isoladas, problemas já formulados que rea-
parecerão com um;i maigs ç14p23- Em particular, a oposição entre
o :glSr tÌe uso (a cidade e a vida uóaoa, o tempo urbano) e.o va-
t9r-de troca (os espaços comprados e veodidos, o consumo dos
produtos, dos bens, dos lugares e dos signos) surgirá em pleoa
luz.
Para a meditação filosófica que visa rrma totalidade através da
sistematização especulativa, isto é, para a fi-losofia clfusica, de
Ptatão e Flegel, a Cidade foi muito mais do que um tema secundá-
t .1lt ^
r
Título original:
Lc Droít à l4Vills
Eütions Anthropos
Capa:
Paulo Ferrcira leite
Compooição e Artc-Final:
Prisna Assèssoria Eütotial
Rcvisão:
Mar'to Ofélitt fu Cosm
Prireira edição: I99I
@ tut@ão:
EditcaMoracs Ltda.
Bua Minictno Godoy, 1036
O5Ol5, São Faulo, SP, Brasil.
Tcls.: (O11) 6%8987 c86Ç1298
I :-:,ì."i-1,- 
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CONTEI,JDO
Aprecontação
Advertêncira
Industrialização e ubanização. Noções preliminares
Afilosofiaeacidade
As ciências parcelaree e a reatidade urbana .'.'. . . .
Filogofia da cidade e idcologia urbanística
EspccificidadÊ da cidadc. A cidadc e a obra
Continuidados c descontinuidsdê8
NÍveig dÊ rcalidade e dc aslÍlise
Cidadc e canpo
Ao rcdor do ponto çrítico
Sobre a forma urbana
A antílisc cspectral
O diÍGito à cidadc
Fcrepectiva ou pgocpoctiva?
A ÍEalização da filorcfia . . .
Toscs sobÍç a cidadc, o uóaoo c o urbanismo
VU
1
2V
37
4l
45
51
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