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PLANOS DA EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA Profª Francieli Raminelli 1. Elementos essenciais: estruturais, indispensáveis à existência do ato. Por exemplo, declaração de vontade nos contratos em geral; preço, objeto e consentimento na compra e venda. Dividem-se em: gerais (comum a todos os negócios) e particulares (peculiares a certa espécie); 2. Elementos naturais: são os efeitos ou consequências que decorrem da própria natureza do negócio, ou seja, a norma determina o que ocorre, caso as partes não estipulem de forma diversa. Por exemplo: a dívida, salvo estipulação contrária será quérable, pagamento no domicílio do devedor (art. 327 CC). 3. Elementos acidentais: as partes podem, facultativamente, acrescentar no negócio jurídico para modificar alguma de suas consequências naturais. Por exemplo, termo, encargo, condição, modo etc. 1. Existência: Elementos. O fato ingressa no mundo jurídico, o suporte fático tem todos os elementos. Por exemplo, um casamento celebrado por um delegado de polícia é inexistente, pois como requisito de existência do casamento é necessário que o mesmo seja celebrado por pessoa competente. Assim não se apura validade ou eficácia. 2. Validade: Requisitos. O ato é perfeito ou tem algum defeito inviabilizante? Assim, o ato jurídico poderá existir e não ser válido. 3. Eficácia: Plano em que os atos jurídicos produzem os seus efeitos. Um negócio jurídico pode ser existente e válido, mas ainda não eficaz porque depende do implemento de um evento futuro e incerto, por exemplo. EXISTÊNCIA VALIDADE (art. 104 CC) EFICÁCIA Declaração de vontade (agente+vontade) Agente capaz Condição Idoneidade do objeto Objeto lícito, possível e determinado Termo Finalidade Negocial Forma prescrita ou não defesa em lei Encargo 1. Declaração de vontade É o instrumento da manifestação de vontade (a vontade por si só não produz efeitos jurídicos, o que apenas ocorre quando manifestada), que pode ser expressa (manifestada por meio da palavra, escrita, mímicas etc.), tácita (do comportamento do agente se deduz a sua intenção. Ex.: aquisição da propriedade móvel pela ocupação – art. 1.263 CC) ou presumida (a lei deduz o resultado de certos comportamentos do agente – Ex.: 322 CC). Manifestação tácita, somente se a lei não exigir que seja expressa. Difere da manifestação presumida. - Na maioria dos casos, as declarações de vontades são receptícias, ou seja, é necessário que uma outra pessoa tenha ciência do fato para que o mesmo surta efeitos, se assim não for será ineficaz. Ex.: proposta (art. 427). Já a não receptícia, se perfectibiliza com a manifestação do agente, não necessitando chegar ao conhecimento de outra pessoa determinada. Ex.: revogação do testamento. SILÊNCIO COMO MANIFESTAÇÃO DE VONTADE: O silêncio, na maioria dos casos implica em um nada jurídico, visto que não é uma manifestação de vontade. Porém em determinadas circunstâncias, ele é relevante para o direito. Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. O silêncio pode ser entendido como manifestação presumida de vontade quando a lei conferir a ele tal efeito. Ex.: 1.807 CC – Concedido prazo, não maior que trinta dias para o herdeiro se manifestar se aceita ou não a herança e dentro desse prazo não se manifestar, entende-se que a herança foi aceita. Do mesmo modo é o que ocorre com a doação art. 539 CC. RESERVA MENTAL Conceito: é uma manifestação de vontade não querida em seu conteúdo e, tampouco, em seu resultado, tendo como único desiderato enganar o declaratório. O manifestante pode agir de má-fé ou boa-fé. Se o outro contratante não sabia da verdadeira intenção, ou seja, da reserva mental, o ato subsiste (reserva mental lícita). Ou seja, reserva mental desconhecida da outra parte é irrelevante para o direito, considerando-se somente o que foi declarado. Se o outro contratante (declaratório) sabe da verdadeira intenção, o negócio jurídico será inexistente por ausência de manifestação de vontade (reserva mental ilícita). Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. 2. Finalidade Negocial É o propósito de adquirir, preservar, modificar ou extinguir direitos Se um desses propósitos não estiver presente não se fala em negócio jurídico (poder de escolha da categoria jurídica), pode-se falar em ato jurídico em sentido estrito. 3. Objeto Idôneo Deve apresentar os requisitos ou qualidades que a lei exige para que o negócio produza os efeitos desejados. Ex: O mútuo somente pode ter por objeto bem fungível; o comodato bem infungível; a hipoteca bem imóvel, navio ou avião. Se não possuir algum dos requisitos em questão, o negócio será inválido, ou seja, será nulo ou anulável. Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. 1. Agente Capaz Capacidade de intervir em negócios jurídicos como declarante ou declaratório. Capacidade de fato ou de exercício (difere-se da capacidade de direito – adquirida com o nascimento) – necessária para que a pessoa possa exercer por si só os atos da vida civil, que se adquire aos 18 anos ou com a emancipação. A incapacidade pode ser de duas espécies: 1.1. Absoluta: art. 3º CC, a pessoa deve ser representada, sob pena de nulidade do ato. 1.2. Relativa: art. 4º CC, a pessoa deve ser assistida sob pena de anulabilidade do ato, salvo alguns casos, por exemplo art. 666, que permite que seja mandatário. Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. A incapacidade relativa não pode ser arguida pela outra parte em seu proveito próprio e tampouco aproveita aos cointeressados capazes, salvo se o direito ou a obrigação for indivisível (art. 105 CC). Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co- interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. 2. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável Objeto imediato é a conduta humana: dar, fazer ou não fazer. Objeto mediato: bem ou a prestação. 2.1 Objeto lícito é aquele que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes 2.2 Objeto possível (se não for o negócio será nulo): Fisicamente: A impossibilidade deve atingir a todos indistintamente, devendo ser absoluta. A relativa que atinge o devedor, mas não todas as pessoas indistintamente, não é obstáculo para a concretização do negócio jurídico. Também não é causa de nulidade do negócio jurídico quando a impossibilidade do objeto é momentânea cessando antes do implemento da condição ao qual ele estava vinculado (art. 106 CC). Juridicamente: Quando o ordenamento jurídico proíbe que determinado bem seja objeto de negócio jurídico. A diferença é que a ilicitude seria mais ampla, pois abarca a moral e os bons costumes. 2.3 Objeto determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou suscetível dedeterminação no momento da execução) Ex.: compra e venda de coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e quantidade (art. 243 CC) ou venda alternativa, cuja incerteza cessa com a concentração (art. 252 CC). Se o objeto não for lícito, possível ou determinado, o negócio será nulo (art. 166, II, CC). Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 3. Forma prescrita ou não defesa em lei. Regra: livre (consensualismo) EXCEÇÃO: Formalismo (art. 107 CC) Quando a forma for solene (determinada pela lei): poderá ela ser única, a lei estabelece uma única forma de realização do ato para que o mesmo seja válido (ex.: arts. 108, 1.535, 1.964 do CC) ou poderá ela ser múltipla, a lei permite a formalização do negócio por alguns meios, podendo o interessado optar por um deles (ex.: arts. 1.609; 842; 62; 1.806, todos do CC) A forma pode ser ainda a determinada pelas partes (convencionada pelas partes): os contratantes podem determinar que o instrumento público seja essencial para a validade do negócio. Tal possibilidade está prevista no art. 109 CC Se houver uma forma prevista em lei e a mesma não for observada o negócio jurídico será nulo (art. 166, VI); Em alguns casos, a lei exige também o registro público, o que confere ao ato publicidade; Conceito: são as imperfeições que podem surgir no negócio jurídico, decorrentes de anomalias na formação da vontade ou na sua declaração. A declaração de vontade é requisito de existência do negócio jurídico. Contudo, para que este seja válido é preciso que a declaração vontade seja livre e voluntária. Pode ocorrer que ocorra algum defeito no momento de sua formação ou de sua declaração em prejuízo do próprio declarante, de terceiro ou da ordem pública. Dois tipos de vícios: 1. Vícios de consentimento: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão. Provocam uma manifestação de vontade que não se coaduna com o íntimo e verdadeiro querer do agente. Há, pois, um conflito entre a vontade exteriorizada e a real intenção de quem a exteriorizou. 2. Vícios sociais: fraude contra credores e simulação (ÚNICO vício que torna o negócio jurídico NULO – art. 167 CC) Não há conflito entre vontade real e declarada, mas sim a intenção de prejudicar terceiros ou violar a lei. 1. ERRO 2. DOLO 3. COAÇÃO 4. ESTADO DE PERIGO 5. LESÃO 1. ERRO Falsa representação da realidade. Nesse caso, o agente engana-se sozinho. Quando induzido em erro por outro contratante ou por terceiro ficará caracterizado o dolo. Ex.: Pessoa que adquire um relógio dourado supondo ser ouro. Apenas pode ser anulado o negócio jurídico por ERRO quando este for SUBSTANCIAL (recai sobre causa determinante, ou seja, reconhecida a realidade, o negócio não seria celebrado), ESCUSÁVEL (erro justificável, desculpável, ou seja, é aquele que é de tal monta que uma pessoa mediana o cometeria. É o contrário do erro grosseiro ou inescusável) e REAL (causador de prejuízo concreto para o interessado (R$), ou seja, deve ser palpável, tangível etc.). Convalescimento do erro: Ocorre quando a pessoa a que a declaração de vontade se dirige se oferece para executar o negócio de acordo com aquela intenção do manifestante. Nesse caso o erro deixa de ser real e, portanto, não é mais anulável (art. 144). Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. * Jurisprudência: A outra parte do negócio pode ser surpreendida com uma ação anulatória, visto que não concorreu para o erro. Isso porque a responsabilidade é única daquele que pede a anulação, uma vez que é o único responsável por sua má destinação. Assim, a jurisprudência, pautada na boa-fé deve atentar para que aquele que não concorreu para o erro não pode sofrer dupla penalidade. Ou seja, aquele que sofreu prejuízo em virtude do erro de outrem pode ser indenizado. 2. DOLO É artifício ou expediente astucioso, empregado para INDUZIR alguém a prática de um ato que o prejudica e beneficia o autor do dolo ou terceiro, desde que neste caso aquele que se beneficiou tivesse ou devesse ter conhecimento do dolo. Ex.: vendedor que induz o cliente a acreditar que o relógio dourado é de ouro. Apenas o dolo principal dá ensejo à anulação do negócio (o negócio apenas se concretiza porque houve o induzimento malicioso). Além disso, o dolo deve ser malus, ou seja, deve existir a intenção de ludibriar o outro contratante (o dolo bônus, por exemplo, papo de vendedor não vicia o negócio jurídico). O dolo para anular o negócio jurídico pode ser tanto omissivo (silêncio intencional) ou comissivo. 3. COAÇÃO É toda a AMEAÇA ou PRESSÃO INJUSTA exercida sobre um indivíduo para força-lo contra a sua vontade a praticar um ato ou realizar um negócio jurídico. Utiliza-se da violência psicológica para viciar a vontade. A coação absoluta ou física ou vis absoluta: não há manifestação de vontade e, assim, o negócio é inexistente. Para que o negócio seja anulável é necessário que a coação seja moral ou vis compulsiva. Exemplo 1 : se não assinar este contrato, você ficará preso nesta casa ou irei atear fogo na mesma etc. Exemplo 2: filho que ameaça suicidar-se se o pai não lhe doar tal carro, ou ir para a guerra, ou adotar profissão perigosa etc. (verifica- se, pois, que o mal pode ser em detrimento do próprio coator). A coação para anular o negócio jurídico deve ser: GRAVE (análise em relação ao caso concreto), INJUSTA e incutir ao outro TEMOR de dano IMINENTE; constituir ameaça à PESSOA, FAMÍLIA (decorrente do casamento e da união estável e inclui também parentes afins como cunhado, sogro etc.) ou aos seus bens. • Dizer respeito à pessoa diversa da família do paciente, o juiz com base no caso concreto irá decidir se houve ou não coação. Ex.: namorada. Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. 4. ESTADO DE PERIGO Alguém premido da necessidade de salvar-se ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Art. 156 CC. Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Ex.: comandante de navio, prestes a afundar, que se propõe a pagar qualquer valor a quem venha a socorrê-lo. Ex.: um náufrago que promete pagar a um barco que passa quantia exorbitante se o levar até a terra. Ex.: doente que acometido de grave moléstia concorda com os altos honorários cobrados pelo cirurgião. Ex.: mãe que oferece um valor elevado para quem salvar seu filho do afogamento. Ex.: pessoa que se vê compelida a efetuar depósito ou prestar caução ou fiança em conseguir internação ou atendimento de urgênciaa cônjuge ou parente em perigo de vida. Há no caso um serviço efetivamente prestado que ficará sem o devido pagamento, não apenas a redução da vantagem aos seus limites normais. Isso porque um dos requisitos do estado de perigo é que a outra parte tenha conhecimento de tal circunstância. Ou seja, trata-se de uma sanção para aquele que agiu de má-fé. 5. LESÃO Configura-se quando uma pessoa sob premente necessidade ou por inexperiência, se obriga a obrigação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. CONCEITO: é o prejuízo decorrente da enorme desproporção existente entre as prestações de um contrato, no momento de sua celebração, determinada pela premente necessidade ou inexperiência de uma das partes. Art. 157 CC. Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Ex.: empresário prestes a falir, que toma um empréstimo no banco, em valor correspondente ao quádruplo do mercado. Ex.2: agricultor que em época de seca efetua um valor exorbitante pelo fornecimento de água. Ex.3: Alguém prestes a ser despejado procura um imóvel para abrigar a sua família e exercer seu negócio profissional, e o proprietário, mesmo não tendo conhecimento do fato, eleva o preço do aluguel. Ex.4: Pessoa que, para evitar a falência, vende imóvel seu a preço inferior ao de mercado, em razão da falta de disponibilidade líquida para pagar seus débitos. Na lesão não há estado de perigo, ou seja, necessidade de salvar-se, mas a necessidade em outros termos, econômica. A lesão é objetiva, não é necessário que a outra parte saiba da inexperiência ou da necessidade. Já no estado de perigo é necessário que se saiba que a outra parte está assumindo vantagem excessivamente onerosa para se salvar. O negócio jurídico não será anulado se houver oferecimento de suplementação suficiente ou a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Privilegia- se, assim, o princípio da conservação dos contratos. * Assim, o lesionado poderá optar pela anulação ou revisão do pacto, redigindo pedidos alternativos. Mesmo se o lesado pleitear apenas a anulação, o beneficiário poderá oferecer suplementação, salvando o pacto. Fraude contra credores Simulação 1. FRAUDE CONTRA CREDORES Se o devedor DESFALCA consideravelmente e de forma MALICIOSA o seu patrimônio, a ponto de não mais garantir o pagamento de todas as suas dívidas, tornando-se INSOLVENTE (passivo superando o ativo) ou praticado por aquele que já é insolvente, haverá fraude contra credores. Ou seja, para que se configure a fraude contra credores é imprescindível que o devedor já seja insolvente ou se torne insolvente em razão do desfalque patrimonial promovido. Assim, a fraude contra credores possui 2 elementos: Objetivo (eventus damni): prejuízo em razão de o devedor ser insolvente ou reduzido à insolvência (passivo supera o ativo) Subjetivo (concililum fraudis ou conluio fraudulento): má-fé do devedor e do adquirente, não é necessário que haja um pacto entre o devedor e o terceiro para prejudicar os credores, basta que este saiba ou devesse saber da situação de insolvência. Ex.: Atos de disposição gratuita de bens (renúncia de herança, doação); Ex.2: remissão de dívidas (isso porque os crédito ou dívidas ativas que o credor tem a receber constituem parte de seu patrimônio e se ele os perdoa esse patrimônio que é garantia dos credores se reduz. Nesse caso, os credores, invalidam o perdão para que os créditos se reincorporem no ativo do devedor.) Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. 2. SIMULAÇÃO É uma declaração falsa da vontade, visando aparentar negócio diverso do efetivamente desejado. Ou seja, é aquele que possui aparência contrária à realidade. Significa: fingir, enganar. Ex.: emissão de títulos de crédito, que não representam qualquer negócio, feita pelo marido, em favor de amigo, antes da separação judicial para prejudicar a mulher na partilha de bens. Ex.2: o devedor que finge vender seus bens para evitar a penhora. Ex3.: compra e venda de pai e filho, quando na realidade há um contrato de doação, prejudicando a legítima. A simulação pode ser: 1. Absoluta: não se queria realizar, de fato, nenhum negócio. 2. Relativa: As partes elas pretendem realizar um negócio que é prejudicial a terceiro ou é contrário a lei, em razão disso (para escondê-lo ou dar-lhe aparência diversa) realizam outro negócio. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1 o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2 o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Assim, é composto de 2 negócios: 1. SIMULADO: destinado a enganar, serve apenas para esconder a real intenção dos contratantes; 2. DISSIMULADO: oculto, mas verdadeiramente desejado. - Ex.: homem casado que tendo em vista a proibição de doação de bem a concubina, transfere este a terceiro que transferira a esta. - Ex.: para burlar o fisco, as partes realizam escritura com preço menor ao real. • Tanto a simulação absoluta quanto a relativa dão ensejo à nulidade do negócio jurídico. Contudo, quando for relativa, o negócio jurídico dissimulado subsistira, desde que válido em sua substância e forma (art. 167 CC). * Ex.: escritura pública com valor menor que o real, será nulo o valor aparente subsistindo o valor real. São introduzidos facultativamente pela parte, não sendo necessários a existência ou validade do negócio jurídico. Enquanto que os elementos essenciais dependem da lei, estes dependem tão somente da vontade das partes. Uma vez estipulados passam a integrar o negócio de forma indissociável. CONDIÇÃO É o evento FUTURO e INCERTO do qual dependerá a eficácia do negócio jurídico. Da sua implementação depende o nascimento ou a extinção de um negócio jurídico. Ex.: Joana dará R$3.000,00 se o João tirar a nota mais alta da sala de aula. Art. 121 CC. Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. Elementos da condição: EVENTO FUTURO + INCERTO + VOLUNTARIEDADE • Quando diz respeito a evento que já ocorreu ou está ocorrendo, não se tem uma condição propriamente dita, mas sim uma “condição” imprópria. Por exemplo, promete dar-te certa quantia se premiado foi o meu bilhete no sorteio da loteria que ocorreu ontem. Ou o bilhete não foi premiado e o negócio é ineficaz ou elefoi premiado e se tem um negócio puro e simples, sem qualquer condição. * O evento deve ser incerto para todos, não apenas na mentalidade das partes. Ou seja, se tem uma incerteza objetiva. * Alguns atos não admitem condições, dentre eles pode-se citar: casamento, adoção, emancipação, renúncia e aceitação da herança, a procuração judicial, existência de pessoa jurídica, fixação de domicilio, direito à vida, à honra etc. a. Suspensiva IMPEDE que o ato produza efeitos até a realização do evento futuro e incerto. Assim, enquanto não implementada a condição suspensiva, o indivíduo não terá adquirido o direito a que vida. O implemento do evento depende para que o negócio jurídico tenha vida. Ex.1: Dar-te-ei este carro se tu se formares em direito. Apenas adquirirá o carro com a formatura. Ex.2: Ex: te dou um carro se você ganhar o jogo de futebol. Art. 125 CC. Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. b. Resolutiva EXTINGUE os efeitos produzidos pelo negócio com a ocorrência do evento futuro e incerto. Ex.1: constituo uma “mesada” em favor de X, enquanto este estudar. Enquanto ele estiver estudando, receberá o montante, quando implementada a condição deixará de receber. Ex.2: cedo-lhe esta casa, para que nela resida, enquanto for solteiro; O negócio jurídico cessará de ter vida. Art. 127 e 128 CC. Para alguns a condição seria uma cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Em suma, alguns a tratam como cláusula e outras como o próprio evento. Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé. 2. Termo Subordina a eficácia do negócio jurídico a evento FUTURO e CERTO. Há, pois, uma data certa para iniciar ou extinguir o negócio jurídico. Ex.1: um contrato de locação celebrado no dia 20 de um mês para ter vigência no dia 1º do mês seguinte. Ex.2: Dar-te-ei um carro no dia do teu aniversário de 18 anos. Assim, a obrigação simples existe a partir do momento em que se dá o consentimento recíproco das partes e a sua execução pode ser exigida imediatamente. Já a obrigação condicional nasce no momento em que ocorre o evento. E as obrigações a termo, assim como as obrigações simples, nascem no momento em que ocorre a manifestação de vontade, porém, diferentemente das obrigações simples a execução fica suspensa ou é retardada ao momento do evento. Aplicam-se ao termo todas as regras atinentes à condição, desde que não contrariem a sua natureza (art. 135 CC) Pode em um mesmo negócio ocorrer a conjugação de um termo e uma condição. Ex.: Dar-te-ei um carro se te formares em medicina até os 25 anos. CLASSIFICAÇÕES: Termo certo: sabe-se a data em que o evento ocorrerá. Ex.: Dar-te-ei um veículo no dia 29 de novembro; dar-te-ei uma bolsa daqui a 6 meses. Termo incerto: embora seja inevitável a ocorrência do evento, não se sabe a data precisa em que o evento ocorrerá. Ex.: tal bem passará a ser de sua propriedade com a morte de seu proprietário. Embora seja certa a morte, não se sabe o momento em que ela ocorrerá. 1. Termo inicial ou suspensivo (dies a quo): aponta quando iniciará o exercício do direito. 2. Termo final ou resolutivo (dies ad quem): aponta quando terminará o exercício do direito. Ex.: locação com prazo de 1 ano. 3. Encargo ou modo É uma cláusula acessória às liberalidades (doação, testamento), que adere a estas, restringindo-as, por meio da imposição de uma obrigação ao beneficiário. Ou seja, é cláusula imposta nos negócios gratuitos que restringem as vantagens do beneficiado. É admitido também em declarações unilaterais de vontade, como por exemplo, promessa de recompensa. * Não pode ser aposta em negócio a título oneroso, pois equivaleria a uma contraprestação. * Ex.: Testamento, concedendo determinado bem a Márcio, desde que o mesmo cuide o Tobby, animal de estimação do falecido. * Ex.: doação de um terreno a prefeitura, para que nele seja construída uma creche. * Ex.: doação de um terreno com a obrigação de que o donatário mensalmente efetue uma contribuição aos pobres. * doação de um terreno com a obrigação de que o donatário não destrua a capela. O encargo é obrigatório, no caso de inobservância pode ser exigido o seu cumprimento por meio de ação cominatória (art. 553 CC) ou não sendo o mesmo cumprido, estava em mora o donatário, a liberalidade poderá ser revogada. Tal se aplica, por analogia, às liberalidades causa mortis. Em regra, o encargo não suspende a aquisição do direito, nem o seu exercício, salvo quando aposto no negócio como condição suspensiva (art. 136 CC) * se uma pessoa recebe um terreno como herança, com o encargo de construir um asilo em tal terreno, a propriedade do terreno é adquirida antes da construção do asilo, pois o encargo (construção do asilo) não suspende a aquisição do direito (propriedade do terreno). * se o encargo for ilícito ou impossível a regra é que o mesmo se tem como não escrito, SALVO se for o motivo determinante (razão principal do negócio) da celebração do negócio, caso em que este será inválido – art. 137 CC. * Ex.: se for realizada uma doação para na localidade ser mantida casa de prostituição e este for o motivo determinante do negócio, todo o negócio restará contaminado, sendo nulo. Ou seja, deve-se analisar no caso concreto se o encargo é o motivo principal ou secundário do negócio jurídico. Caso seja principal ocorre invalidade, caso seja secundário, mantém-se a validade do ato negocial.
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