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REVISÃO DE DIREITO DO TRABALHO I AV1 1 – Significado da palavra “Trabalho”. A palavra trabalho traduz-se por tripallium (instrumento de tortura). Significado gramatical: Qualquer dispêndio de força física é um trabalho gramatical. Significado jurídico: O trabalhador vende a sua força de trabalho. Ele não pode se dar de forma gratuita, ou seja, é uma obrigação onerosa. 2 – Significado de Direito do Trabalho. É o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho aos trabalhadores, de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas. Obs: O “Direito” com letra maiúscula é a norma ou os princípios. O “direito” com letra minúscula é o que não se vincula com o meio jurídico, como por exemplo, “eu tenho o direito de mexer o dedo”. 3 – Objetivo do Direito do Trabalho. Aumentar a vida útil do trabalhador, estabelecendo requisitos mínimos para assegurar este prolongamento. 4 – Natureza jurídica do Direito do Trabalho. Direito privado, pois o Estado pode interferir na vontade das partes, mas resta um espaço para negociação. Autores modernos acreditam que é um direito misto, pois possui um viés de cada parte. 5 – Fontes do Direito do Trabalho. Fonte material: são os fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica, isto é, sociais, psicológicos, econômicos etc. É aquela que decorre das pressões da sociedade. Fonte social: são as fontes derivadas da vontade do Estado (heterônomas) e as fontes provenientes da vontade dos próprios agentes sociais (autônomas). As fontes heterônomas também se dividem em diretas (imediatas) que são as que possuem a força necessária para gerar a norma jurídica, como as leis e os costumes; e em indireta (mediata) que atuam na base justificativa e interpretativa do texto legal e na fonte supletiva das deficiências e omissões da lei, como a doutrina e a jurisprudência. Autônomas: a) Acordo coletivo de trabalho – são ajustes sobre condições de trabalho celebrados entre empresa ou grupo de empresas e determinado sindicato da categoria profissional. EMPRESA – SINDICATO. b) Convenção coletiva de trabalho – acordo de caráter normativo sobre condições de trabalho, celebrado entre sindicatos obreiro e patronal, ou seja, dos empregados e empregados. SINDICATO – SINDICATO. Heterônomas de ordem pública: a) Constituição federal; b) Leis: normas emanadas do Poder Legislativo para regular condutas e impor sanções. A CLT é o principal diploma legal na esfera laboral. c) Decretos executivos: normas regulamentadoras de lei expedidas pelo Presidente da República. d) Sentenças normativas: é editada pelo judiciário trabalhista ao julgar dissídio coletivo de determinada categoria econômica. e) Tratados internacionais: são as convenções e recomendações da OIT. f) Contrato de trabalho: estipulam direitos e deveres do empregado e empregador. 6 – Princípios do Direito do Trabalho. O princípio que rege o Direito do Trabalho é a irrenunciabilidade dos direitos. Os direitos trabalhistas não são renunciáveis, uma vez que, permitida livremente a renúncia, a posição econômicade sujeição do trabalhador ao empregador o levaria a abrir mão de seus direitos, aos quais livremente não abdicaria. Fundamentos: a) Indisponibilidade: os direitos do empregado são indisponíveis em razão da sua condição de necessitado e economicamente fraco, não podendo abrir mão deles em favor do empregador. b) Imperatividade das normas: normas que contem um mandamento e dirigem tal comando ao próprio estado. c) Caráter de ordem pública: suas normas são indispensáveis a organização da vida social. d) Limitação da autonomia da vontade: evita-se o abuso da autonomia da vontade em nome dos interesses superiores do bem comum (artigo 444 do CLT). e) Princípio da continuidade: O contrato de trabalho se presume por prazo indeterminado. Princípio protetor: Este princípio justifica a existência do Direito do Trabalho. O seu escopo é atenuar as desigualdades entre o trabalhador e o empregador. Se divide em: a) IN DUBIO PRO OPERÁRIO/MISERO Propõem que a decisão do operador jurídico deveria dirigir- se em benefício do trabalhador em caso de dúvida no exame de situações concretas. Não se aplica integralmente ao Processo do Trabalho, pois havendo dúvida, à primeira vista não se poderia decidir a favor do trabalhador, mas verificar quem tem o ônus da prova, de acordo com o artigo 333 do CPC e 818 da CLT. b) NORMA MAIS FAVORÁVEL Quando houver duas ou mais normas jurídicas trabalhistas relacionadas à mesma temática, por inferência lógica, aplica-se a que seja mais benéfica a trabalhador, independentemente da sua posição hierárquica. c) CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA Neste, há apenas 1 norma mas que pode ser interpretada de várias maneiras, sendo a mais benéfica a aplicável ao trabalhador. Determina que toda circunstância mais vantajosa em que o empregado se encontrar habitualmente prevalecerá sobre a situação anterior. Artigo 468 da CLT – Uma condição de trabalho inserida no universo da contratação não pode ser substituída por outra menos vantajosa, na mesma relação de emprego. ATENÇÃO: Este princípio protetor não é absoluto. A CF em seu artigo 7º, VI, admite acordos coletivos de redução salarial, o que também se verifica por força da legislação infraconstitucional, na desinvestidura de excedentes de cargo de confiança e etc, perspectiva segundo a qual o princípio protetor não é mais importante que o da razoabilidade, de modo que este é o princípio básico, e não aquele. Não é viável proteger o trabalhador quando a proteção não se mostrar viável. d) PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE/ INDISPONIBILIDADE. Os direitos trabalhistas não são renunciáveis, uma vez que, permitida livremente a renúncia, a posição econômica de sujeição do trabalhador ao empregador o levaria a abrir mão de seus direitos, aos quais livremente não abdicaria. A doutrina faz distinção para fins de aferição da disponibilidade, quanto a fonte do direito pronunciado: I. Se a origem for de dispositivo legal, o direito é irrenunciável, expresso por autorização expressa em lei. II. No caso de norma oriunda de trato consensual, pode haver a transação, desde que não haja proibição legal para tal, vício de consentimento ou prejuízo para o empregado (artigo 468 da CLT). e) PRINCIPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE Pelo princípio da primazia da realidade (ou contrato-realidade), no caso de discordância entre o que ocorre de fato e o que está nos documentos trabalhistas, haverá a prevalência do sucedido no plano dos fatos. A prática habitual altera o contrato, gerando direitos e obrigações novas para as partes contratantes. Assim, o contrato incorpora amplamente todos os matizes lançados no cotidiano da prestação dos serviços, não apenas o constante no contrato escrito. f) PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE Deve partir do pressuposto de que o ser humano, em suas relações trabalhistas, procede conforme a razão do homem comum, atuando segundo determinados padrões de conduta que são frequentes e lógicos. Exemplo 1: Como o salário é necessário para a subsistência do ser humano, não é razoável que um empregado, sem motivo algum, abandone o emprego. Assim, o abandono de emprego deve estar bem evidenciada para ser acolhida. Sumula 212 do TST. Exemplo 2: Não é razoável crer queum trabalhador deixe a sua condição de empregado e no dia seguinte passe a ser considerado cooperado, recebendo por hora e sem qualquer tipo de garantia de direitos trabalhistas. g) PRINCÍPIO DA BOA-FÉ Consiste na afirmação de que as partes na relação de emprego devem agir com lealdade, cumprindo honestamente as obrigações assumidas. h) PRINCÍPIO DA IGUALDADE Todos devem ser tratados igualmente. 7 – Aplicação subsidiária no Direito do Trabalho. Em regra, usa-se a CLT. O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, como a Constituição Federal ou leis esparsas (artigo 8º da CLT). 8 – Relação de Trabalho x Relação de Emprego. Relação de Trabalho é o vínculo que se estabelece entre a pessoa que executa o labor (trabalhador) e o beneficiário deste labor (empregador). São seus elementos: onerosidade, pessoalidade, subordinação, continuidade. Relação de emprego é um contrato cujo conteúdo mínimo é a lei, possuindo como sujeitos, de um lado, o empregado que presta serviços, e do outro lado, o empregador, em função de quem os serviços são prestados de forma subsidiária, habitual e mediante salário. Distinção: A relação de trabalho é o gênero, sendo a relação de emprego uma de suas espécies. 9 – Requisitos de formação do contrato de trabalho. Pessoalidade: A relação é pessoal, visto que o empregado não pode se fazer substituir por outra pessoa durante a prestação dos serviços. Observação: não implica exclusividade de possuir um único tomador de seus serviços, uma vez que o empregado pode ter vários empregadores na medida em que tenha tempo e de acordo com as peculiaridades de cada relação. Não é personalíssima porque esta é uma obrigação que só pode ser realizada pelo contratado e mais ninguém e, portanto, extingue-se o contrato por não poder ser executado por outro. A pessoalidade é comprovada pela repetição no tempo dos serviços por um mesmo trabalhador, ou pela intenção expressa das partes no contrato. Subordinação: É subordinado na medida em que o empregado coloca a sua força de trabalho à disposição do empregador, que o admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. O empregador é dotado do poder de direção por comandar, escolher e controlar os fatores de produção da empresa. Se desdobra em: a) Poder diretivo: se constitui na capacidade do empregador em dar conteúdo concreto à atividade do trabalhador, visando os objetivos da empresa. b) Poder disciplinar: é o poder que tem o patrão de impor punições aos empregados, quando este descumprir o contrato de forma a abalar a relação entre empregado e empregado. São elas: I. Advertência: pode ser oral ou escrita; para faltas leves; não é previsto pela lei. II. Suspensão: para faltas mais graves; não pode ser superior a 30 dias consecutivos sob pena de rompimento do contrato sem justa causa; durante este período, o empregado não recebe salário (suspensão contratual). III. Justa causa: Só deve ser aplicada quando o empregado praticar uma falta muito grave, descumprindo grosseiramente o contrato ou nos casos em que a lei permitir. Artigos: 482, 240, 158 § único, 433 III, artigo 15 da Lei 7783/89 e etc. Requisitos para a aplicação da justa causa: i. Imediatidade ou atualidade: a punição tem que ser atual, pois o transcurso do tempo entre a falta e a penalidade acarreta a presença de perdão ou do direito de punir. ii. Proporcionalidade entre a falta e a punição: Para faltas leves devem ser aplicadas penas leves, e para graves, penas graves. A justa causa é a pena máxima e por isso não pode ser aplicada levianamente, deve ser robustamente provada a justa causa. PS: Não há necessidade de o empregador observar qualquer gradação entre as penas para aplicar a justa causa, se a falta do empregado for digna de uma justa causa, ela pode ser dada imediatamente, independentemente de pena mais leve anterior. iii. Non bis in idem ou singularidade da punição: Não se pode punir duas vezes pela mesma falta, sob pena da ultima ser elidida. iv. Não discriminação ou tratamento igual: Não pode o empregador punir de forma diversa os empregados que praticarem a mesma falta – “mesma falta” significa que houve apenas um ato faltoso praticado em coautoria, como por exemplo, duas pessoas roubam um caixa juntos. v. Gravidade da falta e apreciação da gravidade: A falta que enseja a aplicação da pena máxima da justa causa tem que ser tão grave a ponto de se tornar insuportável a continuação da relação de emprego. vi. Teoria da vinculação dos fatos ou dos motivos determinantes da punição (nexo causal: O empregador devecomunicar com precisão o motivo da extinção do contrato por justa causa e as causas que motivaram tal penalidade, para que o empregado tenha o direito de conhece-las e para ter a garantia de que o empregador não irá substitui-las por outras posteriormente. Continuidade ou não eventual: É aquele que presta serviços de modo repetitivo para um mesmo empregador, visualiza-se o seu cunho de trato sucessivo (tem que trabalhar mês a mês). Trabalho habitual: É de necessidade permanente para o tomador dos serviços, como por exemplo, um caixa de supermercado. Exemplo 1: Jorge trabalha 5 vezes ao mês durante 4 anos como caixa em um supermercado – Trabalhador não eventual e habitual. Exemplo 2: Maria trabalha quinzenalmente como auxiliar de limpeza em uma escola – Trabalhador não eventual e não habitual. Exemplo 3: José trabalha de 2 em 2 meses como professor em uma universidade – Trabalhador eventual e habitual. Onerosidade: Como se trata de uma relação que envolve vantagens e ônus de forma recíproca, temos que é onerosa. 10 – Sujeitos do contrato de emprego. Empregado é a pessoa natural que presta serviços de natureza não eventual ao empregador e sob a dependência deste, mediante salário (artigo 3º, caput da CLT). Empregador: considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços (artigo 2º, caput da CLT). 11 – Empregado doméstico: Doméstico é quem exerce atividade contínua para pessoa ou família, mediante salário, de forma subordinada e para o âmbito residencial (artigo 1º da Lei 5.859/72). É considerado doméstico não só quem trabalha nas delimitações espaciais da residência, como também os que atuam de forma externa para a pessoa ou a família. É o caso do motorista que leva a esposa em seus afazeres domésticos, as crianças para e escola etc. Quando os serviços são prestados dentro ou fora do âmbito residencial, em atividades comerciais ou industriais, deixa de haver o trabalhador doméstico. É o caso de faxineira que limpa o consultório do patrão, será empregada nos moldes da CLT; a cozinheira que frita salgados para a patroa vender e etc. Direitos: Salário mínimo, Jornada de no máximo 44 horas semanais, hora extra, adicional noturno, FGTS, Seguro Desemprego pelo máximo de três meses, salário família, auxílio creche e pré-escola. 12 – Empregado rural: Empregado rural é toda pessoa natural que em propriedade rural ou prédio rústico presta serviços de natureza não eventual à empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário. Empregador rural é a pessoa física ou jurídica, proprietária ou não, que explore atividade agro econômica em caráter temporário, ou permanente, diretamente ou através de prepostos e com auxílio de empregados. Logo: a) O empregado só será rural se o seu empregador for rural. Exemplo: Trabalhador que trabalhena horta de um banco, será bancário. b) O conceito geográfico é irrelevante, pode ser rural trabalhando em pleno centro do Rio de Janeiro. c) Se houver qualquer processo de industrialização que transforme a matéria in natura (forma que vem da natureza), será uma empresa urbana. Exemplo: Trabalhador que trabalha para empregador rural em alambique (transforma a cana em cachaça) será urbano. 13 – Trabalhador temporário: Lei 6019/74 – É aquele que é prestado por pessoa física a uma empresa para atender à necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços. Exemplo: aumento de produção em uma fábrica durante a Páscoa; vendas em lojas no fim de ano. É uma terceirização atípica, pois não importará se é atividade meio ou fim. É necessário contratar pela terceirizada, havendo um contrato escrito entre ela e o empregado. Requisitos: a) Deve ser por meio de empresa terceirizada de trabalho temporário (artigo 4º). b) O contrato tem que ser expresso (artigo 11). c) O contrato não poderá exceder 3 meses, salvo autorização do Ministério do Trabalho, que poderá prorrogar uma única vez por um período de até 3 meses (artigo 10). 14 - Trabalhador autônomo. É o que não se submete ao poder de direção de quem contrata os seus serviços. Suas características são: a) exerce livremente a sua aatividade, estabelecendo quando e como os seus serviços serão realizados. b) assume os riscos da sua atividade. c) é comum que os serviços prestados estejam vinculados a um determinado resultado do trabalho. d) o resultado do trabalho deveser obtido de forma individual pelo próprio trabalhador autônomo ou com o auxílio de outros trabalhadores por ele remunerados.
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