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Allan da Silva Lunguinho Amanda Araújo de Assis Bárbara Farchi Farias Crislaine das Graças Almeida FÍSICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL II DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE ATIVAÇÃO DA HIDRÓLISE BÁSICA DO CRISTAL VIOLETA Lavras – Minas Gerais 2017 INTRODUÇÃO Violeta de metila ou violeta de metilo é o nome dado a um grupo de substâncias usadas como indicadores de pH e corantes, também chamados de violeta cristal ou cristal violeta, cuja estrutura está representada na Figura 1. Figura 1. Estrutura do cristal violeta. A reação entre o cristal violeta (CV) e o hidróxido de sódio é muito utilizada para se estudar métodos colorimétricos, pois o cristal violeta perde sua cor na presença de íons OH-, uma vez que ocorre a formação de um carbinol (incolor). Através da perda de sua coloração, é possível verificar o consumo desse reagente, através de medidas de absorbância. Figura 2: Reação entre o cristal violeta e o hidróxido de sódio, gerando um carbinol. A equação de velocidade desta reação pode ser escrita como: − 𝑑[𝐶𝑉] 𝑑𝑡 = − 𝑑[𝑂𝐻−] 𝑑𝑡 = 𝑑[𝐶𝑎𝑟𝑏𝑖𝑛𝑜𝑙] 𝑑𝑡 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 1) Em que as derivadas com relação ao CV e ao OH- são negativas pois as concentrações destes reagentes diminuem com o tempo. A velocidade da reação é proporcional as concentrações dos reagentes e, portanto: 𝑑[𝐶𝑉] 𝑑𝑡 = 𝑘[𝐶𝑉]𝑚[𝑂𝐻]𝑛 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2) Em que k é a constante de velocidade, m é a ordem da reação com relação ao CV e n é a ordem de reação com relação ao OH-, sendo (m+n) a ordem global da reação. A ordem de reação só pode ser determinada experimentalmente, podendo ser um número fracionário. A constante de velocidade (k) desta reação pode ser determinada por meio da construção do gráfico para reações de primeira e segunda ordem, representadas pelas equações 3e 4, respectivamente: 𝑙𝑛[𝐶𝑉]𝑡 = 𝑙𝑛[𝐶𝑉]0 + 𝑘𝑡 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 3) 1 [𝐶𝑉]𝑡 = 1 [𝐶𝑉]0 + 𝑘𝑡 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 4) Por meio dos coeficientes de correlação de cada gráfico, é possível determinar a ordem de reação e, consequentemente, a constante de velocidade. A partir das constantes de velocidade encontradas para cada temperatura é possível obter a energia de ativação e os parâmetros termodinâmicos, por meio da construção dos gráficos de Arrhenius e Eyring, representados pelas equações 5 e 6, respectivamente. 𝑘 = 𝐴𝑒−𝐸𝑎/𝑅𝑇 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 5) 𝑙𝑛 𝑘 𝑇 = ∆𝐻 𝑅𝑇 + 𝑙𝑛 𝑘𝐵 ℎ + ∆𝑆 𝑅 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 6) ______________________________________________________________________ OBJETIVOS Determinar a ordem de reação, as constantes de velocidade para cada temperatura estudada, a energia de ativação e os parâmetros termodinâmicos de ativação, como entalpia (∆H), entropia (∆S) e energia livre de Gibbs (∆G). ______________________________________________________________________ MATERIAIS E REAGENTES Béqueres de 250 e 500 mL, termostato, termômetro, solução de NaOH 0,01 mol L-1, solução de cristal violeta 0,01 mol L-1, espectrofotômetro. ______________________________________________________________________ PROCEDIMENTO Aqueceu-se 50 mL das soluções de NaOH e CV, a 60ºC, separadamente e após ter atingido o equilíbrio da temperatura verteu-se ambas as soluções instantaneamente em um béquer de 500 mL . Retirou-se uma alíquota de 1 mL e transferiu-se para um balão de 10 mL, completou-se o volume com água destilada. Realizou-se leituras no UV – visível em λ = 560 nm. Fez-se leituras nos tempos 0, 5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos. Repetiu-se os procedimentos para as temperaturas de 75º e 90ºC. ______________________________________________________________________ RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das leituras de absorbância nas temperaturas estudadas estão descritos na Tabela 1. Tabela 1. Resultados de absorbância medidos para a hidrólise básica do cristal violeta em diferentes temperaturas. Absorbância Tempo (min) 60°C 75°C 90°C 0 5 10 15 20 25 30 2,61 2,52 2,52 2,51 2,41 2,38 2,26 2,38 2,31 2,24 2,24 2,11 2,16 2,13 2,43 2,27 2,23 2,18 2,18 2,17 2,16 É importante ressaltar que os valores de absorbância apresentados acima foram multiplicados por 10 (fator de diluição) uma vez que a amostra foi diluída 10 vezes para leitura em espectrofotômetro. Pela da Lei de Beer, sabe-se que a absorbância é proporcional a concentração (A = K.C). Assim, os cálculos realizados a seguir foram feitos com os valores de absorbância, utilizando a aproximação de que A = C. Para construir os gráficos de primeira e segunda ordem a partir das equações 3 e 4, o tempo foi convertido para segundos, e calculou-se os valores de ln ABS e 1/ABS. Os valores obtidos estão descritos nas Tabelas 2 e 3. Tabela 2. Dados para construção dos gráficos de primeira ordem. ln ABS Tempo (s) 60°C 75°C 90°C 0 300 600 900 1200 1500 1800 0,959 0,924 0,924 0,920 0,880 0,867 0,815 0,867 0,837 0,806 0,806 0,747 0,770 0,756 0,888 0,820 0,802 0,779 0,779 0,775 0,770 Tabela 3. Dados para construção dos gráficos de segunda ordem. 1/ABS Tempo (s) 60°C 75°C 90°C 0 300 600 900 1200 1500 1800 0,383 0,397 0,397 0,398 0,415 0,420 0,442 0,420 0,433 0,446 0,446 0,474 0,463 0,469 0,412 0,441 0,448 0,459 0,459 0,461 0,463 Por regressão linear, construiu-se os gráficos de primeira e segunda ordem para as temperaturas de 60°C, 75°C e 90°C, ilustrados nas Figuras 3, 4,5 ,6, 7 e 8. Com a regressão obteve-se os valores dos coeficientes angulares, que serão utilizados para calcular as constantes de velocidade para cada temperatura. Figura 3. Gráfico de primeira ordem a 60°C. Figura 4. Gráfico de primeira ordem a 75°C. Figura 5. Gráfico de primeira ordem a 90°C y = -7E-05x + 0,9619 R² = 0,9064 0,800 0,850 0,900 0,950 1,000 0 500 1000 1500 2000 ln A B S Tempo (s) y = -6E-05x + 0,8551 R² = 0,8535 0,720 0,740 0,760 0,780 0,800 0,820 0,840 0,860 0,880 0 500 1000 1500 2000 ln A B S Tempo (s) y = -6E-05x + 0,8518 R² = 0,7403 0,740 0,760 0,780 0,800 0,820 0,840 0,860 0,880 0,900 0 500 1000 1500 2000 ln A B S Tempo (s) Figura 6. Gráfico de segunda ordem a 60°C Figura 7. Gráfico de segunda ordem a 75°C Figura 8. Gráfico de segunda ordem a 90°C y = 3E-05x + 0,3815 R² = 0,8986 0,370 0,380 0,390 0,400 0,410 0,420 0,430 0,440 0,450 0 500 1000 1500 2000 1 /A B S Tempo (s) y = 3E-05x + 0,4251 R² = 0,8515 0,410 0,420 0,430 0,440 0,450 0,460 0,470 0,480 0 500 1000 1500 2000 1 /A B S Tempo (s) y = 2E-05x + 0,4268 R² = 0,7519 0,400 0,410 0,4200,430 0,440 0,450 0,460 0,470 0,480 0 500 1000 1500 2000 1 /A B S Tempo (s) Comparando-se os gráficos de primeira e segunda ordem acima, observou-se que os coeficientes de correlação (R2) dos gráficos de primeira ordem são maiores do que os dos gráficos de segunda ordem. Infere-se então que a reação é de primeira ordem, uma vez que os dados obtidos se ajustaram melhor na reta do gráfico de primeira ordem. O valor negativo dos coeficientes angulares dos gráficos de primeira ordem indicam que a variação de absorbância é negativa. Tal fato condiz com o que foi observado experimentalmente, onde, no geral, a absorbância diminuía de valor com o passar do tempo. Isso ocorre porque o o cristal violeta reage com o íon hidróxido, formando um carbinol incolor, ou seja, a medida que a reação se processa ocorre o desaparecimento da coloração violeta e consequentemente a diminuição da absorbância. Sendo um reação de primeira ordem, através da equação 3 foi possível determinar o valor da constante de velocidade para cada temperatura estudada. Pela equação sabe-se que: − k = coeficiente angular Assim, para a temperatura de 60°C: − 𝑘 = − 0,00007 → 𝒌 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟎𝟎𝟕 Para a temperatura de 75°C: − 𝑘 = − 0,000067 → 𝒌 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟎𝟎𝟔 Para a temperatura de 90°C: − 𝑘 = − 0,00006 → 𝒌 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟎𝟎𝟔 Com os valores das constantes de velocidade para cada temperatura, foi possível plotar os gráficos de Arrhenius (ln k vs 1/T) e Eyring (ln (k/T) vs 1/T). Os dados usados para construção dos gráficos estão descritos na Tabela 4 e os gráficos obtidos estão representados nas Figuras 7 e 8, respectivamente. Tabela 4. Dados para construção dos de Arrhenius e Eyring. T (K) k 1/T ln k ln (k/T) 333,15 348,15 363,15 0,00007 0,00006 0,00006 0,00300 0,00287 0,00275 -9,5670 -9,7212 -9,7212 -15,3756 -15,5738 -15,6160 Figura 9. Gráfico de Arrhenius. Através do coeficiente angular da regressão obtida no gráfico de Arrhenius, determinou-se a energia de ativação da reação (Ea). Pela equação 5, sabe-se que: − Ea R = coeficiente angular → Ea = − (coeficiente angular × R) Ea = −(630,19 × 8,314) → 𝐄𝐚 = −𝟓𝟐𝟑𝟗, 𝟒𝟎 𝐉/𝐦𝐨𝐥 O valor negativo não possui sentido químico, logo toma-se o módulo da energia de ativação: |𝑬𝑨| = 𝟓𝟐𝟑𝟗, 𝟕𝟐 𝐉/𝐦𝐨𝐥 O valor encontro indicada indica que a reação necessita de uma alta energia para que ocorra a formação do complexo ativado. Figura 10. Gráfico de Eyring. y = 630,19x - 11,482 R² = 0,7712 -9,7600 -9,7400 -9,7200 -9,7000 -9,6800 -9,6600 -9,6400 -9,6200 -9,6000 -9,5800 -9,5600 -9,5400 0,00270 0,00275 0,00280 0,00285 0,00290 0,00295 0,00300 0,00305 ln k 1/T y = 977,81x - 18,334 R² = 0,8927 -15,7000 -15,6500 -15,6000 -15,5500 -15,5000 -15,4500 -15,4000 -15,3500 0,00270 0,00275 0,00280 0,00285 0,00290 0,00295 0,00300 0,00305 ln ( k /T ) 1/T Através do coeficiente angular da regressão obtida no gráfico de Eyring, determinou-se a entalpia da reação (∆𝐻). Pela equação 6, sabe-se que: − ∆H R = coeficiente angular → ∆H = −(coeficiente angular × R) ∆H = −(977,81 × 8,314) → ∆𝐇 = − 𝟖𝟏𝟐𝟗, 𝟓𝟏 𝐉/𝐦𝐨𝐥 O valor negativo de entalpia indica uma reação exotérmica, ou seja, que libera energia na forma de calor. O valor provavelmente está incorreto, uma vez que, experimentalmente, foi necessário fornecer energia (aquecer) para que a reação se ocorresse. Para calcular a entropia, utilizou-se o coeficiente linear. Pela equação 6, tem-se: ln ( Kb h ) + ∆S R = coeficiente linerar → ∆S = [coeficiente linear − ln ( Kb h )] × R ∆S = [−18,334 − ln ( 1,38 × 10−23 6,626 × 10−34 )] × 8,31451 → ∆𝐒 = −𝟑𝟓𝟎, 𝟎𝟎 𝐉/𝐊 O valor negativo encontrado para a entropia significa que o grau de desordem do sistema após a reação é menor do que no início. A desordem do sistema diminui porque ocorre a diminuição de duas espécies em solução (ânions do cristal violeta e íons hidróxido), para formação de uma só espécie (carbinol). Com os valores de entalpia e entropia, calculou-se a energia livre de Gibbs para cada temperatura, através da equação: ∆𝐺 = ∆𝐻 − 𝑇∆𝑆 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 7) Para a temperatura de 60°C: ∆G = (− 8129,51) − [(333,15)(−350,00)] → ∆G = 108472,99 J/mol ∆𝐆 = 𝟏𝟎𝟖, 𝟒𝟕𝟑 𝐤𝐉/𝐦𝐨𝐥 Para a temperatura de 75°C: ∆G = (− 8129,51) − [(348,15)(−350,00)] → ∆G = 113722,99 J/mol ∆𝐆 = 𝟏𝟏𝟑, 𝟕𝟐𝟑 𝐤𝐉/𝐦𝐨𝐥 Para a temperatura de 90ºC: ∆G = (− 8129,51) − [(363,15)(−350,00)] → ∆G = 118972,99 ∆𝐆 = 𝟏𝟏𝟖, 𝟗𝟕𝟑 𝐤𝐉/𝐦𝐨𝐥 Os valores positivos para a energia livre de Gibbs indicam que a reação não é espontânea. Esse fato já foi evidenciado experimentalmente pela necessidade de fornecimento de energia para o processamento da reação. A não espontaneidade da reação pode ser explicada pela estabilidade da molécula de cristal violeta, que possui dois anéis aromáticos, duplas ligações e átomos de nitrogênio com pares de elétrons não ligados. Estes fatores fazem com que a molécula apresente o fenômeno de ressonância (mobilidade eletrônica), aumentando a estabilidade e, consequentemente, dificultando a reação CONCLUSÃO Através do experimento, determinou-se que a reação é de primeira ordem. Os valores encontrados para a energia de ativação e para os parâmetros termodinâmicos corroboram com o que era esperado através da realização do procedimento experimental, exceto o valor de entalpia. O método utilizado se mostrou eficaz e simples. ______________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATKINS, P. W. ; PAULA, J.; - Físico – Química, Volume 2, Editora LTC – 9ª edição/2012. MAGRIOTIS, Z. M.; RAMALHO, T. C.. Práticas de Físico Química. 1 ed. Lavras: Editora UFLA, 2008. Determinação da ordem de uma reação e da constante de velocidade, por análise colorimétrica, 2009. Disponível em: <http://www2.iq.usp.br/docente/hvlinner/QFL242 6/>. Registo de Kristallviolett na Base de Dados de Substâncias GESTIS do IFA. Disponível em: <http://gestisen.itru st.de/nxt/gateway.dll/gestis_en/ 491325.xml?f =templ ate s $fndefault.htm$3.0>
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