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Resumo para AV2 Direito Civil I

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Resumo para AV2 – Direito Civil I 
 
Capítulo 2 – A Pessoa Natural 
 
O Domicílio Civil 
 
 O domicílio civil é o ponto no qual o sujeito de direitos e obrigações se 
permite ser localizado, onde reside, ou mora. É no domicílio que a pessoa se 
presume presente para dar cumprimento aos seus atos e negócios jurídicos. 
 Existem dois elementos que caracterizam o domicílio: o elemento 
objetivo, que é o local propriamente dito, a residência da pessoa, e o elemento 
subjetivo, que se refere ao ânimo definitivo, que é a intenção de permanecer e 
ali fixar moradia (domicílio residencial) ou exercer sua atividade central (domicílio 
profissional). 
Quanto ao número, o domicílio pode ser único ou plúrimo. Quanto à 
existência, é real ou presumido. Quanto à liberdade de escolha, pode ser 
necessário ou voluntário, sendo que o necessário é aquele descrito por lei, e o 
voluntário o que pode ser estipulado pelas partes em relação jurídica. 
 
Capítulo 4 – A Pessoa Jurídica 
 
Domicílio da Pessoa Jurídica 
 
O domicílio da pessoa natural é, em regra, determinado pela residência 
com o animus (ou seja, sua vontade) de permanência. Como a pessoa jurídica 
não tem residência, seu domicílio é determinado, em regra, pela sua sede ou 
estabelecimento, por ser o local onde costuma celebrar seus negócios jurídicos. 
 
Pessoas Jurídicas de Direito Público 
 
As pessoas jurídicas de direito público interno que compõem a 
administração direta têm como domicílio a sede de seu governo: o domicílio da 
União é o Distrito Federal; o domicílio dos Estados e Territórios são as 
respectivas capitais; e o domicílio dos Municípios é o lugar onde funcionar a 
administração municipal. 
Quanto às pessoas jurídicas de direito público que compõem a 
administração indireta (as autarquias), o entendimento doutrinário é no sentido 
de que o seu domicílio é determinado pelo ente a que estão subordinadas 
(União, Estado, Distrito Federal ou Município). 
 
Pessoas Jurídicas de Direito Privado 
 
O Código Civil determina que o domicílio das demais pessoas jurídicas é 
o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde 
elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos (domicílio de 
eleição). 
Se a pessoa jurídica tiver diversos estabelecimentos em lugares 
diferentes (p. ex.: filiais), cada um deles será considerado domicílio para os atos 
nele praticados, facilitando a vida das pessoas que litigarem com as pessoas 
jurídicas. Como essa pluralidade de domicílio é estabelecida em favor da 
pessoa que precisar litigar contra a pessoa jurídica, admite-se que o demandante 
opte pelo domicílio da sede. 
Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á 
por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por suas 
agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder. 
 
Capítulo 5 – Os Bens 
 
Conceito 
 
Bens são todos os objetos materiais e imateriais existentes na 
natureza, que proporcionam uma utilidade às pessoas. O estudo dos bens é 
importante, pois são considerados objetos de direitos nas relações jurídicas, 
cujos titulares são as pessoas (sujeitos de direitos). 
 
Bens e Coisas: Distinção 
 
Existe forte divergência doutrinária sobre a definição de bens e coisas. 
 
1ª Corrente: defende que coisas são todos os objetos existentes na 
natureza, com exceção das pessoas. Ao passo que bens são apenas aquelas 
coisas que têm valor econômico e que são suscetíveis de apropriação (animais, 
livros, automóveis etc.). Em síntese, defende que coisa é o gênero do qual bem 
é uma espécie. 
 
2ª Corrente: aponta exatamente o oposto da primeira corrente ao 
defender que coisas são os objetos materiais suscetíveis de valoração 
econômica. Já os bens têm acepção mais ampla, abrangendo os objetos dotados 
ou não de conteúdo patrimonial. Para essa corrente, bem seria o gênero; e coisa, 
a espécie. 
 
Com relação à divergência doutrinária exposta, entendemos que a 
posição mais adequada é a esposada na primeira corrente, que, a propósito, é 
majoritária. Contudo, no âmbito legal, é de notar que o legislador parece ter 
adotado a segunda corrente no Código Civil de 2002, pois na parte geral há um 
capítulo dedicado aos bens (abrangendo os materiais e os imateriais) e, na parte 
especial, um capítulo dedicado ao direito das coisas, para tratar da posse e dos 
direitos reais que incidem sobre alguns bens (as coisas). 
 
Das Diversas Classificações dos Bens 
 
O legislador do Código Civil de 2002 classificou os bens de acordo com 
três critérios: a) bens considerados em si mesmos (imóveis e móveis; 
fungíveis e infungíveis; consumíveis e inconsumíveis; divisíveis e indivisíveis; 
materiais e imateriais; singulares e coletivos); b) bens reciprocamente 
considerados (principais e acessórios); e c) considerados em relação ao 
titular (particulares e públicos). 
 
Classificação dos Bens de Acordo com a Mobilidade 
 
Bens Imóveis 
 
Bens imóveis ou bens de raiz são aqueles que não podem ser 
transportados, sem destruição, de um lugar para outro. A remoção causaria 
alteração de sua substância ou de sua forma. O conceito legal de bem imóvel, 
conferido pelo Código Civil, compreende o solo e tudo quanto lhe for incorporado 
de maneira natural ou artificial. 
1. Por natureza (ou por essência): trata-se do solo e tudo quanto 
lhe for incorporado de forma natural (p. ex.: árvores, frutos, pedras 
etc.). 
2. Por acessão física artificial: são todos os bens que as pessoas 
incorporam ao solo de forma artificial e permanente – não podem 
ser retirados, em regra, sem destruição, modificação, fratura ou 
dano. De acordo com o art. 81 do Código Civil, não perdem a 
característica de bens imóveis: 
As edificações que, separadas do solo, mas conservando a 
sua unidade, forem removidas para outro local. Exemplo: o 
deslocamento de uma casa de madeira ou mesmo de alvenaria de 
um lugar para outro. 
Os materiais provisoriamente separados de um prédio, para 
nele se reempregarem: Se o prédio for demolido para 
reconstrução, os materiais continuarão sendo tratados como 
imóveis. Se a demolição não tiver esse propósito, os materiais 
passarão à condição de móveis. 
 
3. Por acessão intelectual (ou por destinação): são todos os bens 
móveis que o proprietário mantém empregados de forma 
duradoura e intencional na exploração industrial, aformoseamento 
(embelezamento) ou comodidade do bem imóvel. Para que ocorra 
a acessão, o bem móvel deve pertencer ao proprietário do imóvel 
e estar à disposição do bem imóvel, e não da pessoa. Essa 
imobilização pode cessar a qualquer momento, bastando 
manifestação de vontade do proprietário. 
Como exemplos de bens imóveis por acessão intelectual, a 
doutrina costumeiramente aponta os ornamentos (vasos, estátuas 
nos jardins, cortinas etc.), máquinas agrícolas, animais e materiais 
utilizados para plantação, escadas de emergência justapostas nos 
edifícios, geradores, aquecedores, aparelhos de ar-condicionado 
etc. 
 
Bens Móveis 
 
 São aqueles que podem ser movidos de um local para outro sem que seja 
alterada a substância ou a destinação econômico-social. A remoção de um lugar 
a outro pode ocorrer por força própria (semoventes), no caso dos animais, ou 
por força alheia, que são os móveis propriamente ditos (p. ex.: livro, caneta, 
fruta etc.). Os bens móveis podem ser classificados em: 
1. Por natureza: compreendem tanto os semoventes (aqueles que se 
movem por força própria – exemplo: os animais) como as coisas 
inanimadas que possam ser transportadas de um lugar a outro, 
sem quese destruam, isto é, sem que ocorra alteração de sua 
substância ou de sua destinação social. Exemplos: carro, lápis, 
cadeira etc. O bem móvel por natureza é sempre uma coisa 
corpórea. 
2. Por antecipação: são aqueles mobilizados (transformados em 
bens móveis) pelos seres humanos em atenção a sua finalidade 
econômica (p. ex.: fruta colhida, madeira cortada, pedra extraída, 
casa vendida para ser demolida etc.). 
 
3. Por determinação legal: são as energias que têm valor 
econômico: elétrica, térmica, solar, nuclear, eólica, radioativa, 
radiante, sonora, da água represada etc. 
 
Classificação dos Bens de Acordo com a Fungibilidade 
 
Bens Fungíveis 
 
 São os móveis passíveis de substituição por outros da mesma espécie 
(gênero), qualidade e quantidade. Como exemplo de bens fungíveis, podemos 
citar dinheiro, milho, água etc. 
 A fungibilidade é uma característica natural dos bens móveis, mas as 
partes podem transformar, mediante simples manifestação de vontade 
(contrato), um bem fungível em infungível. Como exemplo, podemos citar o 
empréstimo ad pompam vel ostentationem de uma garrafa de vinho para 
exposição com a obrigação de ser restituída ao final. 
 
Bens Infungíveis 
 
 São os bens que não podem ser substituídos por outros em razão de 
determinadas qualidades individuais e específicas. A infungibilidade é uma 
característica própria dos bens imóveis, mas também se encontra presente em 
alguns bens móveis, como os veículos automotores (individualizados por seu 
chassi, placa etc.), obras de arte (p. ex.: a escultura O pensador, de Rodin). A 
infungibilidade pode resultar da natureza do bem ou da vontade das partes. 
 
Classificação dos Bens de Acordo com a Consuntibilidade 
 
Bens Consumíveis 
 
 Bens consumíveis são os destinados à satisfação de necessidades e 
interesses das pessoas. Os bens consumíveis podem ser de duas espécies: 
1. Consumíveis de fato: são os bens cujo uso importa na destruição 
imediata da própria substância ou na sua extinção – a 
consuntibilidade é natural – p. ex.: frutas, verduras etc.; 
 
2. Consumíveis de direito: são os bens destinados à alienação – 
a consuntibilidade (característica dos bens consumíveis) é jurídica 
– ex.: livros e automóveis à venda em uma loja 
 
Bens Inconsumíveis 
 
 São os que podem ser usados de forma contínua e reiterada, sem que 
isso importe na sua destruição imediata. Os bens inconsumíveis caracterizam-
se pela possiblidade de retirada de suas utilidades, sem que seja atingida sua 
integridade. 
 As partes podem transformar um bem consumível em inconsumível por 
meio de disposição contratual. Exemplo: com o contrato de empréstimo ad 
pompam vel ostentationem que impede a alienação e o consumo do bem (p. ex.: 
o empréstimo de uma garrafa de vinho para exposição). 
 
Classificação dos Bens de Acordo com a Divisibilidade 
 
Bens Divisíveis 
 
 Os bens divisíveis são os que podem ser fracionados em partes 
homogêneas e distintas, sem alteração na sua substância, diminuição 
considerável de valor ou prejuízo para o uso a que se destinam. 
 Para que o bem possa ser considerado divisível, cada fração autônoma 
deve manter as mesmas utilidades e qualidades essenciais do todo. Exemplo: 
um saco de feijão é divisível, pois pode ser fracionado em duas ou mais partes, 
mantendo as suas características originais. 
 
Bens Indivisíveis 
 
 São naturalmente indivisíveis os bens que não podem ser fracionados, 
sob pena de perderem sua utilidade, valor ou qualidades essenciais. A 
indivisibilidade de um bem pode ser de três espécies: 
1. Por sua natureza: são os bens que não podem ser divididos sob 
pena de alterarem sua substância, perderem sua utilidade ou 
reduzirem consideravelmente o seu valor. Exemplos: touro 
reprodutor, automóvel, obra de arte etc. 
 
2. Por determinação legal: são os bens considerados indivisíveis 
por força de dispositivo legal expresso. A lei rotula o bem como 
indivisível. Exemplos: o direito à sucessão aberta/herança, que é 
considerado indivisível até o momento da partilha; as servidões 
prediais; etc. 
 
 
3. Por vontade das partes: são os bens divisíveis transformados em 
indivisíveis por força da vontade manifestada em contrato 
(exercício da autonomia privada), deixando seu aspecto de 
divisibilidade para trás. 
Temos duas hipóteses legais previstas no Código Civil que bem 
retratam a indivisibilidade por vontade das partes: quando duas ou 
mais pessoas forem proprietárias de um mesmo bem (ou seja, o 
tiverem em condomínio), poderão contratar a indivisibilidade por 
prazo não superior a cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior; 
a indivisibilidade também poderá ser imposta pelo doador ou pelo 
testador por prazo não superior a cinco anos, sem possibilidade de 
prorrogação. 
 
 
Classificações dos Bens de Acordo com a Materialidade 
 
 
Bens Materiais 
 
 Também denominados bens corpóreos ou tangíveis, são aqueles que têm 
existência material, podendo ser percebidos por nossos sentidos. Exemplos: 
armários, lâmpadas, telefones celulares, livros etc. 
 
Bens Imateriais 
 
Também denominados bens incorpóreos ou intangíveis, são todos os 
bens que possuem existência abstrata, não podendo ser sentidos/tocados 
fisicamente pelos seres humanos. São bens que consistem em direitos. Somente 
existem porque a lei assim determina, por força de determinação jurídica. 
Exemplo: direitos autorais de quem escreveu um livro, direitos de crédito, direito 
à herança, invenções, direitos reais, direitos obrigacionais etc. 
 
Classificação dos Bens de Acordo com a Individualidade 
 
Bens Singulares 
 
 Bens singulares ou individuais são aqueles que, embora reunidos, se 
consideram de per si, independentemente dos demais. Os bens singulares 
podem ser de duas espécies: 
1. Bens singulares simples: são os bens cujas partes formam um 
todo homogêneo e estão agrupadas em razão da sua própria 
natureza (a coesão é natural). Podem ser materiais (p. ex.: árvore) 
ou imateriais (p. ex.: crédito). 
 
2. Bens singulares compostos: são aqueles bens que, reunidos, 
formam um só todo, mas sem desaparecer a condição jurídica de 
cada parte (a coesão é artificial – p. ex.: navios, materiais utilizados 
na construção de uma casa etc.). 
 
Bens Coletivos 
 
 Bens coletivos ou universais são aqueles formados por vários bens 
singulares que, reunidos, passam a formar uma coisa só (individualidade 
incomum), mas sem que desapareça a condição jurídica de cada parte 
(autonomia funcional). 
 Dessa forma, o titular dos bens pode contratar sobre a coletividade dos 
bens (p. ex.: vender uma biblioteca) ou sobre um dos bens de forma 
individualizada (p. ex.: alienar apenas um livro de uma biblioteca). A coletividade 
aqui mencionada pode ser de duas espécies: 
1. Universalidade de fato (universitas rerum): é a pluralidade de 
bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham 
destinação unitária. Exemplos: rebanho, biblioteca, pinacoteca, 
frota, floresta, cardume etc. 
 
2. Universalidade de direito (universitas iuri): complexo de 
relações jurídicas de uma mesma pessoa, dotadas de valor 
econômico. 
 
Classificação dos Bens de Acordo com a Dependência ou Reciprocidade 
 
Bem Principal 
 
 Considera-se bem principal todo aquele que tem sua existência 
independente de qualquer outro. O bem principal existe sobre si mesmo, abstrata 
ou concretamente, enquanto o acessório depende de outro para sua existência. 
Quanto aos imóveis, o solo é o bem principal e tudo que se incorpora nele 
de forma permanente é acessório. Quanto aos móveis, bemprincipal é aquele 
para o qual os outros bens se destinam (para enfeitar, permitir o uso ou servir 
como complemento). Exemplos: a caneta é o principal, a tampa é o acessório; o 
computador é o principal, o teclado é o acessório; o automóvel é o principal, o 
pneu é o acessório; o capital é o principal, os juros são acessórios etc. 
 
Bem Acessório 
 
 Bem acessório é aquele cuja existência pressupõe a do principal, isto é, 
sua existência é subordinada à existência de outro bem considerado principal 
(vide exemplos acima). A maior consequência que se extrai da distinção é o 
princípio da gravitação jurídica: o acessório segue o principal (acessorium 
sequitur principale). Embora essa seja a regra, ela não é absoluta, podendo 
haver disposição das partes ou da própria lei em sentido contrário (como ocorre 
com as pertenças. 
 Os bens acessórios também podem ser de diversas espécies: frutos, 
produtos, benfeitorias e pertenças. Vejamos, então, as regras aplicáveis a cada 
um desses bens acessórios: 
 
Fruto 
 
 Fruto é toda utilidade que um bem produz de forma periódica e cuja 
percepção mantém intacta a substância do bem que a produziu. Embora sejam 
bens acessórios, podem ser objeto de relação jurídica independentemente do 
bem principal. Em relação à sua natureza, os frutos podem ser classificados em: 
naturais ou verdadeiros (p. ex.: frutas), civis (p. ex.: aluguel) e industriais (p. ex.: 
canetas fabricadas). Os frutos também podem ser classificados de acordo com 
a vinculação com o bem principal e o seu estado em: 
1. Percebidos ou colhidos: aqueles que já foram colhidos, isto é, já 
foram destacados do bem principal. Se o fruto for natural ou 
industrial, reputa-se colhido e percebido logo que é separado do 
bem principal. Se o fruto for civil, reputa-se percebido dia por dia. 
 
2. Pendentes: aqueles que ainda estão unidos naturalmente ao bem 
principal (p. ex.: uma fruta que está ligada à árvore que a produziu). 
 
 
3. Percipiendos: aqueles que deveriam ter sido colhidos, mas não o 
foram. 
 
4. Estantes: são os frutos que já foram colhidos e encontram-se 
armazenados ou acondicionados para venda. 
 
 
5. Consumidos: são os frutos que não mais existem em razão de seu 
destino normal (consumo), ou que pereceram. 
 
Produtos 
 
 Embora seja comum a utilização das expressões frutos e produtos como 
sinônimas, existe uma distinção entre os termos que deve ser observada. 
Enquanto os frutos são bens que se reproduzem periodicamente, os produtos 
são bens que se retiram da coisa desfalcando a sua substância e diminuindo a 
sua quantidade. As frutas colhidas de um pomar são frutos, pois nascem e 
renascem de forma periódica. Os cereais colhidos de uma plantação de arroz, 
assim como os minerais extraídos de uma jazida e o petróleo extraído de um 
poço, são produtos, por não se renovarem. Assim como os frutos, os produtos 
também pode ser objeto de negócio jurídico autônomo. 
 
Benfeitorias 
 
 Benfeitoria é toda espécie de despesa ou obra (melhoramento) realizada 
em um bem, com o objetivo de evitar sua deterioração (benfeitoria necessária), 
aumentar seu uso (benfeitoria útil), ou dar mais comodidade (benfeitoria 
voluptuária). Os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a 
intervenção do proprietário, possuidor ou detentor, não devem ser considerados 
como benfeitorias. 
 
 
 
 
 Sobre o tema preparamos o seguinte quadro comparativo: 
 
 
 Valor da indenização: se o possuidor for de boa-fé, o reivindicante será 
obrigado a indenizar as benfeitorias pelo valor atual delas. Se o possuidor for de 
má-fé, o reivindicante tem o direito de optar entre o seu valor atual e o de seu 
custo (Código Civil, art. 1.222). Em ambas as hipóteses, as benfeitorias podem 
ser compensadas com os danos e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da 
evicção ainda existirem 
 
Pertenças 
 
 Pertenças são os bens que, não constituindo partes integrantes, 
destinam-se, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de 
outro (p. ex.: trator em uma fazenda, cama, mesa ou armários de uma casa, o 
ar-condicionado de uma loja etc.). Em regra, são bens móveis que servem a um 
imóvel, mas, excepcionalmente, um bem imóvel também pode ser pertença. São 
consideradas coisas anexadas (res annexa) ao bem principal, embora não o 
integrem. 
 
 
 
Classificação dos Bens de Acordo com a Titularidade 
 
 O Código Civil realiza a classificação dos bens públicos e particulares 
utilizando o critério da titularidade em razão de sua simplicidade. 
 Além dos bens particulares e públicos, existem aqueles que não 
pertencem a ninguém, por nunca terem sido apropriados (res nullius) ou por 
terem sido abandonados (res derelictae). Exemplos: animais selvagens, 
conchas na praia, águas pluviais não captadas etc. Devemos lembrar que os 
bens imóveis nunca serão res nullius, pois, se forem abandonados, serão 
arrecadados como bens vagos e incorporados ao patrimônio do Município ou do 
Distrito Federal. 
 
Bens Particulares 
 
 O conceito de bens particulares é extraído por exclusão do conceito de 
bens públicos, tendo em vista que o Código Civil de 2002 limitou-se a definir 
apenas estes últimos. Assim, são bens particulares todos aqueles que não forem 
públicos, isto é, que não pertencerem às pessoas jurídicas de direito público 
interno. 
 
Bens Públicos 
 
 São públicos os bens de domínio nacional, pertencentes às pessoas 
jurídicas de direito público interno, como os de propriedade da União, Estados e 
Municípios. Os bens públicos podem ser classificados em três tipos: 
1. Bens públicos de uso comum do povo: aqueles bens que, 
embora pertencentes a uma pessoa jurídica de direito 
público, podem ser utilizados por qualquer pessoa do povo. 
O domínio é da entidade de direito público e o uso é do povo 
(p. ex.: mares, rios, estradas, ruas, praças etc.). 
 
2. Bens públicos de uso especial são os bens que as 
pessoas jurídicas de direito público interno destinam aos 
seus serviços ou outros fi ns determinados. Como exemplos, 
podem ser citados os imóveis onde estão instalados 
prefeituras, escolas, creches, hospitais, quartéis, museus e 
teatros públicos e os móveis utilizados na realização dos 
serviços públicos (radar, caneta, computador etc.). 
 
 
3. Bens públicos dominicais: também conhecidos como 
patrimoniais, são aqueles que compõem o patrimônio das 
pessoas jurídicas de direito público interno, como objeto de 
direito pessoal ou real, de cada uma dessas entidades. Não 
dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os 
bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a 
que se tenha dado estrutura de direito privado. Admite-se, 
assim, que a lei instituidora dessas pessoas jurídicas 
qualifique seus bens como públicos ou particulares. 
 
Características dos Bens Públicos 
 
 Inalienabilidade: é uma característica dos bens afetados, logo os bens 
públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto 
conservarem a sua qualificação. Por outro lado, os bens públicos desafetados, 
também denominados como bens dominicais, podem ser alienados, observadas 
as exigências da lei: em regra, deve haver prévia avaliação e a alienação deve 
ser realizada mediante licitação. 
 Imprescritibilidade: são imprescritíveis as pretensões da administração 
pública com relação aos bens públicos. Como efeito da imprescritibilidade, os 
bens públicos também não podem ser adquiridos por usucapião. 
 Impenhorabilidade: a impenhorabilidade dos bens públicos decorre de 
sua inalienabilidade. Desta forma, os bens públicos não podemser dados em 
garantia e não podem ser objeto de execução judicial (adjudicação ou 
arrematação). 
 
Capítulo 6 – Dos Fatos Jurídicos 
 
Fato Jurídico Humano Ilícito 
 
 Também conhecido como ato ilícito, é todo comportamento humano 
contrário ao ordenamento jurídico: lei, moral, ordem pública e bons costumes. 
No Direito Penal, a importância do ato ilícito está na caracterização do crime e 
sua punição. No Direito Civil, a preocupação do estudioso do Direito está na 
apuração da responsabilidade patrimonial pelos danos causados. 
 A definição do ato ilícito civil está presente no art. 186 do Código Civil, que 
dispõe: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente 
moral, comete ato ilícito”. 
 O legislador do Código Civil de 2002 inovou, igualmente, ao introduzir o 
conceito de abuso de direito no art. 187: “também comete ato ilícito o titular de 
um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo 
seu fi m econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. 
 O abuso de direito é uma espécie de ato ilícito, mas não se confunde com 
o ato ilícito previsto no art. 186. O ato ilícito previsto no art. 186 é duplamente 
ilícito: ilícito em seu conteúdo (viola direito) e em sua consequência (causa dano 
a outrem). 
 Nos termos do art. 188 do Código Civil, não constituem atos ilícitos: I – os 
praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
e II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fi m 
de remover perigo iminente. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente 
quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo 
os limites do indispensável para a remoção do perigo. 
 
Negócio Jurídico 
 
 Negócio jurídico é todo comportamento humano lícito capaz de gerar 
consequências jurídicas permitidas pela lei e desejadas pela pessoa. Tanto o 
conteúdo do negócio como os seus efeitos são determinados pela vontade das 
partes, gozando, portanto, de eficácia ex voluntate. 
 É justamente no negócio jurídico que a autonomia privada se manifesta 
em sua plenitude, criando um instituto jurídico próprio voltado à composição do 
interesse das partes, que buscam alcançar um objetivo (finalidade) permitido 
pela lei. Como exemplos de negócios jurídicos, podemos citar os contratos, a 
promessa de recompensa, o testamento etc. 
 
Capítulo 7 – Dos Negócios Jurídicos 
 
Planos do Negócio Jurídico 
 
 Com base no direito romano e no direito alemão, Pontes de Miranda 
dividiu o estudo do negócio jurídico em três planos distintos: existência, validade 
e eficácia. 
 Assim como subimos uma escada degrau por degrau, devemos estudar o 
negócio jurídico plano por plano. Se não forem preenchidos os requisitos de 
existência, o negócio jurídico será inexistente. Se não forem preenchidos os 
requisitos de validade, o negócio será inválido, podendo ser nulo ou anulável, a 
depender da situação específica. E se não forem preenchidos os requisitos de 
eficácia, o negócio será ineficaz. 
 Antes de proceder à análise de cada um desses planos, devemos alertar 
que o legislador do Código Civil de 2002 não adotou integralmente a teoria de 
Pontes de Miranda, pois referiu se apenas à validade e à eficácia dos negócios 
jurídicos, deixando de fora o plano de existência. 
 
Plano de Existência 
 
 O plano de existência compreende os elementos mais básicos do 
negócio jurídico: agente, objeto, vontade e forma. Esses elementos 
(substantivos) serão adjetivados (ou seja, têm suas qualidades examinadas) 
somente no plano de validade. No plano de existência exige-se apenas que o 
negócio contenha esses elementos e, caso não estejam presentes, o negócio 
jurídico deverá ser considerado inexistente. 
 
Plano de Validade 
 
 O plano de validade é a continuação do plano de existência, pois, a partir 
dos elementos do negócio, impõe a análise dos seus requisitos. Indaga-se, desta 
forma, o que cada um dos elementos do negócio deve conter para que seja 
válido: os requisitos são as qualidades dos elementos. 
 O art. 104 do Código Civil inaugura o estudo do negócio jurídico, dispondo 
que a validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, 
possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em 
lei. 
 
Partes 
 
 Para que o negócio jurídico exista, vimos que deve conter agente (parte, 
sujeito etc.) e, para que seja válido, o agente deve ser capaz e legitimado. A 
capacidade exigida é, em princípio, a plena, que decorre das somas da 
capacidade de direito/gozo (que todas as pessoas têm) com a capacidade de 
fato/exercício/ação (que decorre do discernimento e é normalmente adquirida 
com a maioridade). 
 Se o agente for incapaz, também poderá ser praticado o ato desde que 
suprida a incapacidade. Os absolutamente incapazes devem ser representados 
nos atos da vida civil, sob pena de nulidade; o negócio será considerado nulo e 
deverá ser proposta ação declaratória de nulidade. Os relativamente incapazes 
devem ser assistidos nos atos da vida civil, sob pena de anulabilidade: o 
negócio será anulável (ou seja, poderá ou não ser considerado nulo), devendo 
ser proposta ação anulatória. 
 Embora o art. 104 do Código Civil mencione apenas a capacidade do 
agente, a legitimidade também dever ser verificada para que o negócio seja 
válido. A legitimidade é uma capacidade especial exigida para a prática de 
certos negócios jurídicos. Exemplificando: uma pessoa maior de dezoito anos 
tem capacidade para celebrar contratos de compra e venda de imóvel. Mas, se 
for casada, dependerá, em regra, de autorização do outro cônjuge – exemplo de 
legitimidade. 
 
Objeto 
 
 Todo negócio jurídico possui um objeto, seja ele material ou imaterial, 
fungível ou infungível, com conteúdo econômico ou não. Para que o negócio seja 
válido, exige-se apenas que o objeto seja lícito, possível, determinado ou 
determinável. Se o objeto for ilícito, impossível ou indeterminado, o negócio será 
considerado nulo, devendo ser proposta ação declaratória de nulidade. 
 Objeto lícito é aquele que está de acordo com o ordenamento jurídico, 
pois não ofende a lei, a moral, a ordem pública e os bons costumes. 
 Objeto possível é aquele que pode ser realizado do ponto de vista físico 
e jurídico. A possibilidade física é examinada sob a luz das leis da natureza. 
Somente a impossibilidade física absoluta (aquela que atinge a todas as pessoas 
no universo) determina a nulidade do negócio. Exemplos: construir uma ponte 
ligando a Terra à lua; colocar toda a água do rio São Francisco em um copo etc. 
 Objeto determinado é aquele que está individualizado no negócio 
jurídico. No estudo das obrigações o objeto determinado é o conteúdo da 
obrigação de dar coisa certa. Objeto determinável é aquele que será 
individualizado no futuro, contendo, de início, ao menos a indicação do gênero e 
da qualidade. No direito das obrigações o objeto determinável é o conteúdo da 
obrigação de dar coisa incerta. Se faltar a indicação do gênero ou da quantidade, 
a obrigação e o negócio jurídico serão nulos. 
 
Forma 
 
 A forma é o meio pelo qual se revela a manifestação de vontade do 
agente. Para que o negócio jurídico seja válido, a forma deve ser aquela prescrita 
ou não defesa (não proibida) em lei. Contudo, no Direito Civil, a regra é a forma 
livre e somente em situações excepcionais é exigida formalidade (forma escrita) 
ou solenidade (instrumento público). De acordo com o art. 107 do Código Civil, 
a validade da declaração de vontadenão dependerá de forma especial, senão 
quando a lei expressamente a exigir. 
 Diversamente, será nulo o negócio jurídico que não revestir a forma 
prescrita em lei ou se for preterida alguma solenidade que a lei considere 
essencial para a sua validade. Não dispondo a lei em contrário, a escritura 
pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem constituição, 
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor 
superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país. 
 
Vontade 
 
 O negócio jurídico é uma manifestação de vontade que está de acordo 
com o ordenamento jurídico e produz efeitos desejados pelo agente. Entretanto, 
para que o negócio seja válido, a vontade deve ser manifestada de forma livre. 
 Vontade livre é aquela manifestada de forma consciente e sem qualquer 
um dos defeitos ou vícios do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de 
perigo, lesão, fraude contra credores e simulação. Os cinco primeiros são 
denominados vícios da vontade ou do consentimento e contaminam a formação 
da vontade. Os dois últimos são denominados vícios sociais e contaminam a 
manifestação da vontade. 
 Devemos lembrar que o silêncio importa anuência (concordância), 
quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a 
declaração de vontade expressa. Portanto, não se pode afirmar que o direito 
tenha acolhido por completo o ditado popular “quem cala, consente”. 
 
Representação 
 
 Representação é a legitimidade conferida a uma pessoa para praticar atos 
em nome de outra. A pessoa que atua é denominada representante e a pessoa 
em nome de quem são praticados atos é denominada representado. Os 
poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado. 
 A representação legal é aquela conferida pela lei aos pais, tutores, 
curadores, síndicos, administradores etc. Trata-se de um munus público e 
somente pode ser exercida no interesse do representado. Na verdade, os únicos 
representantes legais são os pais, tutores e curadores. Síndicos e 
administradores da falência ou da recuperação são representantes judiciais, 
contudo o Código Civil de 2002 unificou o tratamento das duas espécies sob o 
título de representação legal. 
 A representação convencional, também denominada voluntária, é 
aquela conferida mediante o contrato de mandato. Opera-se o mandato quando 
alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou 
administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato. 
 Tanto na representação legal como na convencional exige-se que o 
mandatário tenha capacidade civil plena (capacidade de direito/gozo + 
capacidade de fato/exercício/ação). 
 É anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por 
conta de outrem, celebrar consigo mesmo, se não existir autorização legal ou do 
representado. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o 
negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido 
substabelecidos. 
 O art. 119 do Código Civil dispõe que é anulável o negócio concluído pelo 
representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou 
devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. A ação anulatória deve 
ser proposta no prazo decadencial de cento e oitenta dias, a contar da conclusão 
do negócio ou da cessação da incapacidade. 
 Se a pessoa absolutamente incapaz celebrar negócio jurídico sem estar 
representada, este será nulo, devendo ser proposta ação declaratória de 
nulidade (a qual não tem prazo para ser proposta). E se pessoa relativamente 
incapaz celebrar negócio sem assistência, este será anulável, devendo ser 
proposta ação anulatória no prazo de quatro anos, contados a partir do dia em 
que cessar a incapacidade. 
 
Plano de Eficácia 
 
 Em regra, o negócio jurídico que existe e é válido tem eficácia imediata, 
devendo as partes cumprir as obrigações assumidas logo após a sua formação. 
Contudo, nada impede que as partes insiram no negócio jurídico uma cláusula 
acessória para modificar ou limitar os efeitos que seriam produzidos ou até 
mesmo para determinar o surgimento de um direito. Essas cláusulas 
acessórias são denominadas elementos acidentais (acidentalia negotii), pois o 
negócio subsistiria e produziria efeitos mesmo sem eles. 
 
Capítulo 8 – Defeitos nos Negócios Jurídicos 
 
Estado de Perigo a Coação 
 
 O estado de perigo consiste na celebração de um negócio jurídico com 
onerosidade excessiva porque o agente estava premido da necessidade de 
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte. 
 Como exemplos de estado de perigo, podemos citar: a) a pessoa que dá 
um cheque caução de alto valor em um hospital para garantir a internação de 
um familiar doente; b) a pessoa que aceita pagar a um médico o dobro do valor 
normalmente cobrado por uma cirurgia para salvar a vida do filho atropelado; c) 
a pessoa que vende uma casa a um amigo por um preço irrisório para pagar o 
resgate do sequestro de seu irmão etc. 
 O estado de perigo não se confunde com a coação, uma vez que nesta o 
outro contratante compele o agente a contratar. No estado de perigo, há uma 
situação que força o agente a celebrar o negócio. Além disso, no estado de 
perigo deve estar presente a onerosidade excessiva (requisito objetivo), 
enquanto na coação não importa se o coagido sofreu prejuízo ou não. 
 
Requisitos do Estado de Perigo 
 
 Para configuração do estado de perigo, devem estar presentes um 
requisito objetivo (onerosidade excessiva) e dois requisitos subjetivos (situação 
de perigo e dolo de aproveitamento): 
1. Onerosidade excessiva: para que o negócio possa ser anulado 
por estado de perigo, será necessário que a obrigação assumida 
seja exorbitante, isto é, que gere onerosidade excessiva para o 
agente. O Código Civil não estabelece qualquer porcentagem 
para a caracterização da onerosidade, deixando o seu 
reconhecimento a cargo do juiz, que irá analisar as circunstâncias 
do caso concreto e decidir com base na equidade. 
Essa onerosidade deve ser avaliada no momento da celebração do 
negócio, não importando se o objeto do contrato sofreu redução ou 
majoração de valor no futuro. Assim, se uma pessoa vender uma 
casa por um preço justo para pagar o tratamento de saúde de um 
filho e dois anos após a venda a casa dobrar de valor, não será 
possível a anulação do negócio. 
 
2. Situação de perigo: para caracterização do estado de perigo, o 
agente deve ter assumido a obrigação excessivamente onerosa 
com o objetivo de livrar a si próprio, um familiar ou uma pessoa 
próxima de uma situação iminente de perigo de vida (morte) ou 
grave dano moral (integridade física, moral ou intelectual). A 
situação de perigo é a razão de a pessoa contratar em condições 
desfavoráveis. 
De acordo com o caput do art. 156, a situação de perigo pode 
acometer o próprio agente que realizou o negócio jurídico ou 
alguém de sua família: filhos, netos, bisnetos, pais, avós bisavós, 
irmãos, tios, sobrinhos, primos, sobrinhos-netos etc. Como o 
dispositivo se referiu a familiares, e não a parentes, podem ser 
contempladas outras pessoas que não são parentes, como os 
filhos dos cunhados ou os tios do cônjuge. 
Não bastasse isso, o parágrafo único do art. 156 dispõe que 
“tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o 
juiz decidirá segundo as circunstâncias”. Admite-se, assim, que o 
estado de perigo seja reconhecido quando o agente praticar o ato 
para salvar um grande amigo, a namorada, a noiva etc. 
 
3. Dolo de aproveitamento: como último requisito para 
caracterização do negócio jurídico, oart. 156 do Código Civil exige 
que a situação de perigo que levou o agente a contratar seja 
conhecida do agente que se beneficiou. Exemplo: a pessoa que 
comprou a casa por preço irrisório sabia que a outra estava 
vendendo para salvar a vida do filho. 
A expressão dolo de aproveitamento representa corretamente o 
seu conteúdo: intenção de se aproveitar. Em algumas situações, 
esse requisito pode ressaltar da própria circunstância que envolve 
o negócio jurídico (p. ex.: o hospital que exige o cheque caução 
para aceitar internar um enfermo), mas em geral deverá ser objeto 
de prova específica no processo. 
 
Consequências 
 
 Conforme determinação do art. 178, II, do Código Civil, o estado de perigo 
determina a anulabilidade do negócio, devendo ser proposta ação anulatória no 
prazo decadencial de quatro anos a contar da celebração do negócio. A 
legitimidade para a propositura da ação é da parte prejudicada pelo negócio com 
onerosidade excessiva. 
 “Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento 
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito”. 
 Tal dispositivo consagra o princípio da conservação dos contratos, que 
encontra suas raízes no princípio da função social, para privilegiar a subsistência 
do contrato com revisão do seu conteúdo, em vez da anulação. A aplicação 
analógica dessa regra prevista para a lesão ao estado de perigo é justificada 
pela semelhança entre os institutos, como veremos adiante. 
 Embora o Código Civil preveja apenas a anulabilidade como 
consequência do estado de perigo, há entendimento doutrinário no sentido de 
que a parte prejudicada pode optar pela propositura de ação de revisão 
contratual, com base nos mesmos princípios: conservação dos contratos e 
função social. Concordamos com esse entendimento, até porque em muitas 
situações não será possível às partes retornar ao status quo ante, isto é, ao 
estado anterior à realização do negócio.

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