Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE DE DIREITO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO Princípios constitucionais aplicáveis ao Direito do Trabalho e princípios específicos São Bernardo do Campo 2017 Princípios constitucionais aplicáveis ao Direito do Trabalho e princípios específicos Trabalho no curso de Graduação em Direito da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo São Bernardo do Campo 2017 Índice 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 4 2. CONCEITO DE PRINCÍPIO JURÍDICO E A DIFERENÇA ENTRE NORMAS .......................................... 5 3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS AO DIREITO DO TRABALHO ...................................... 6 3.1. Princípio do contraditório e da ampla defesa ........................................................................... 7 3.2. Princípio da igualdade ou isonomia ......................................................................................... 8 3.3. Princípio do devido processo legal ........................................................................................... 8 4. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO DO TRABALHO.................................................................. 9 4.1. Princípio da proteção .............................................................................................................. 9 4.2. Princípio da norma mais favorável ..........................................................................................10 4.3. Princípio da imperatividade das normas trabalhistas ..............................................................10 4.4. Princípio da indisponibilidade do direito trabalhista ...............................................................11 4.5. Princípio da condição mais benéfica .......................................................................................11 4.6. Princípio da inalterabilidade contratual lesiva .........................................................................12 4.7. Princípio da intangibilidade salarial.........................................................................................13 4.8. Princípio da primazia da realidade sobre a forma ...................................................................13 4.9. Princípio da continuidade da relação de emprego ..................................................................14 5. CONCLUSÃO ..............................................................................................................................15 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................16 4 1. INTRODUÇÃO Os princípios jurídicos são grandes norteadores do Direito. A nossa constituição consagra alguns em especial que devem ser observados em toda e qualquer elaboração de normas, seja constitucional ou infraconstitucional. Para os ramos do Direito não é diferente, eles contêm princípios próprios que albergam as necessidades a estes existentes, dos quais propiciarão melhor a sensação de justiça. O Direito do Trabalho é fruto de muita luta desencadeada pela classe operária que, por resultado, garantiu-lhes melhor paridade diante de seu empregador, visto a relação de hipossuficiência existente entre as partes. O presente trabalho tem como viés elencar os principais elementos a serem observados dentro da ciência justrabalhista sempre em consonância com nossa Carta Maior. 5 2. CONCEITO DE PRINCÍPIO JURÍDICO E A DIFERENÇA ENTRE NORMAS A norma jurídica pode ser tida como uma regra geral a ser seguida por uma sociedade, com finalidade de estabelecer convívio harmônico entre os indivíduos a que nela integram. As normas se exprimem por meio de regras ou princípios, além de disciplinar determinada situação. Quando duas regras colidem fala-se em “conflito”, ou seja, ao caso concreto será aplicada então somente uma delas, de forma objetiva. Para a resolução de conflitos entre regras devem ser aplicados meios clássicos de interpretação, p.ex. a lei especial derroga a lei geral, a lei posterior afasta a lei anterior, etc. Já os princípios jurídicos são caracterizados como valores abstratos que norteiam a interpretação do Direito como um todo, e tem seu espectro de incidência muito mais amplo que o das regras, haja vista que formam o arcabouço do ordenamento jurídico. Servem, sobretudo, para suprir eventuais omissões legais frente ao caso concreto, intervindo como elementos de integração. Para a aplicação de princípios é vital que haja ponderação na sua interpretação, tendo em vista que entre eles não há conflito e sim “colisão”, pois quando colidem não se excluem. Os princípios jurídicos derivam diretamente de valores sociais, culturais, econômicos, políticos e éticos de determinada sociedade em um dado período de tempo. BERTONCINI, ao citar Canotilho, relata que diversos problemas ocorreriam caso um ordenamento fosse formado só por princípios ou só por regras: Um sistema só de regras geraria um ordenamento rígido e fechado, exigindo uma quantidade absurda de comandos para atender às necessidades naturalmente dinâmicas da sociedade - problema que não passou desapercebido a Canotilho. Por sua vez - assevera o mencionado constitucionalista -, um ordenamento jurídico exclusivamente principiológico produziria insegurança, haja vista o elevado grau de abstração dos princípios, voltados de modo secundário à prescrição de comportamentos. [1] Observa-se que os princípios não são absolutos e nem de aplicação compulsória e, a depender do caso, podem ser ponderados em seu emprego, diferentemente das normas que não permitem qualquer flexibilidade, além de prescrever condutas imperativas exigíveis de cumprimento. 6 3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS AO DIREITO DO TRABALHO A doutrina de Bobbio muito importou para o ordenamento jurídico brasileiro, sobretudo com a promulgação da Carta de 88. Os princípios fundamentais que a norteiam são considerados fontes normativas primárias para a confecção das demais normas. Os princípios jurídicos constitucionais que determinam as normas de Direito do Trabalho se fundamentam em pressupostos de caráter geral e abstrato, seja a nível constitucional ou infraconstitucional. Esses pressupostos albergam valores políticos e sociais existentes em nossa sociedade para conferir eficácia e validade às normas legais. A atual constituição deu ensejo à preservação das garantias e direitos constitucionais trabalhistas, motivo pelo qual foi denominada Constituição Cidadã. Nota-se que houve o devido redimensionamento ético-jurídico no âmbito dos direitos, o que antes era tratado como direitos individuais stricto sensu passou à dimensão dos direitos sociais, fundando o trabalho como elemento definidor da dignidade humana e reconhecendo a situação de hipossuficiência do empregado a uma condição de equilíbrio. Com a flexibilização dos direitos conhecidos constitucionalmente pretendeu-se privilegiar a negociação coletiva em detrimento da negociação individual. Por oportuno, ressalta-se o artigo 6º da Constituição Cidadã: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. É possível, portanto,compreender que os princípios constitucionais estão alicerçados aos direitos e deveres de cada membro da sociedade. Sendo assim, eles elaborarão normas fundamentais de conduta de um indivíduo diante das leis já impostas. É certo que esses princípios devem ser interpretados de uma forma sistêmica, levando-se em consideração as regras constitucionais em seu conjunto. ALVES faz uma observação especial quanto aos princípios constitucionais aplicáveis ao Direito do Trabalho: Por via de consequência, os princípios constitucionais do Direito do Trabalho devem delimitar, fixar, os principais parâmetros legais da atuação do Estado Democrático de Direito não em termos abstratos, mas em um plano prático através de metas ético- 7 jurídicas de amplo alcance socioeconômico e político que venham a diminuir os desníveis sociais e econômicos mais agudos hoje existentes no Brasil. [2] Ao excerto acima, podemos referir o expresso no inciso I do art. 7º. da Constituição da República que corresponde, na verdade, um conjunto de normas aplicáveis à despedida arbitrária ou sem justa causa: a) indenização compensatória (inc. I); b) seguro-desemprego (inc. II); c) levantamento dos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS (inc. III). Através de normas no texto constitucional e os princípios que ele adota, torna-se objetivo dirimir ou nivelar as diferenças sociais que assolam nossa sociedade. 3.1. Princípio do contraditório e da ampla defesa O princípio do contraditório e ampla defesa encontra-se estabelecido no art. 5º, LV, da CF, onde diz: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. As partes no processo do trabalho devem ser tratadas de maneira igualitária, visto que ambas detêm direitos e obrigações iguais. Observa-se, pois, que o princípio do contraditório é bilateral, isto é, aplica-se tanto ao autor (reclamante) quanto ao réu (reclamado). O contraditório garante, além da defesa, a qualidade de defesa da parte ao permitir que influa efetivamente no convencimento do juiz. CITRA faz um parecer ao princípio: O princípio do contraditório também indica a atuação de uma garantia fundamental de justiça: absolutamente inseparável da distribuição da justiça organizada, o princípio da audiência bilateral encontra expressão no brocardo romano audiatur et altera pars. Ele é tão intimamente ligado ao exercício do poder, sempre influente sobre a esfera jurídica das pessoas, que a doutrina moderna o considera inerente mesmo à própria noção de processo. [3] O direito à ampla defesa, também albergado no art. 5º, LV, da CF, é um desdobramento do princípio do contraditório. É direcionado ao réu, sendo assim, unilateral, exceto em casos de reconvenção. Este princípio proporciona ao réu condições necessárias ao esclarecimento da verdade, além de permitir que este se cale ou se omita perante juízo, caso lhe convir. 8 3.2. Princípio da igualdade ou isonomia O princípio da igualdade ou isonomia está esculpido no art. 5º, caput, da CF, que assim dispõe: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...). ” Este princípio prega que todos, homens e mulheres, possuem igualdade em direitos e obrigações. Importante salientar que somente haverá igualdade ou isonomia quando houver tratamento igual entre iguais, afastando o tratamento igual aos desiguais. O conceito realista insiste pela igualdade proporcional, ou seja, tratamento igual aos substancialmente iguais. Dessa forma, o fato de pessoas se encontrarem em situações fáticas diferenciadas ao serem tratadas de forma igualitária infringiria o princípio da isonomia. Assim, os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a CF/88 quando verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado. Alexandre de Moraes nos ensina ao dizer: O que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça. [4] O princípio da igualdade na esfera laboral é aplicável tanto nos dissídios individuais quanto nos dissídios coletivos. 3.3. Princípio do devido processo legal O princípio do devido processo legal encontra amparo no art. 5º, LIV da CF, in verbis: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. ” Torna-se vedado, portanto, tribunais de exceção. O Estado deverá se valer sempre de normas previamente elaboradas para tutela jurisdicional. Portanto, o devido processo legal é uma garantia do cidadão de um processo ordenado, é, sobretudo, uma garantia de justiça. Entende-se que o devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito de liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar a este paridade total de condições com o Estado e integridade de defesa. 9 4. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO DO TRABALHO O Direito Material do Trabalho se estende em um segmento individual e em um segmento coletivo, cada qual possuindo princípios, regras e institutos próprios. O Direito Individual do Trabalho se constitui através da apuração fática da diferenciação social, política e econômica entre os sujeitos da relação jurídica. O empregador age consequentemente como ser coletivo, isto é, um agente socioeconômico e político que cujas ações naturalmente produz impacto na comunidade mais ampla. No outro polo temos o trabalhador, este não possui capacidade para produzir ações de impacto comunitário de forma isolada. Essa realidade demandou que fosse criado um direito protetivo, caracterizado por princípios, métodos e regras para tentar reequilibrar, juridicamente, a relação díspar vivenciada cotidianamente na relação de emprego. O Direito Coletivo é composto pela relação de seres teoricamente equivalentes, ambas figuras coletivas, de um lado temos o empregador e no outro o ser coletivo obreiro representado pelas organizações sindicais. Observado o quadro fático distinto, surge para o Direito Coletivo teorias, princípios e regras também diversos. 4.1. Princípio da proteção Tem como presunção a proteção da parte hipossuficiente da relação: o obreiro. Visa retificar ou atenuar, no plano jurídico, o desequilíbrio inerente ao plano fático do contrato de trabalho. Pode-se afirmar que a proteção do trabalho é a finalidade do Direito do Trabalho, pois do contrário não se justificaria histórica e cientificamente. Além disso, é inspirador ao complexo de regras, princípios e institutos que compõem esse ramo jurídico especializado. Veja-se o reflexo da aplicação deste princípio em um julgado de Regional brasileiro: TERMO DE CONCILIAÇÃO EXTRAJUDICIAL. A quitação constante no Termo de Conciliação Extrajudicial firmado pelas partes não constitui óbice ao ajuizamento da reclamatória trabalhista, dada a supremacia do princípio insculpido no artigo 5º, inciso XXXV, da CF, disso decorrendo a inconstitucionalidade de que se reveste a Lei nº 9.958/2000, que acrescentou os artigos 625-A a 625-H à CLT. Igualmente, não se há de olvidar o Princípio da Proteção que norteia o Direito do Trabalho, e que impõe a tutela do empregado, em virtude da sua vulnerabilidade perante a figura do empregador, e que, por isso, exige do Poder Judiciário um tratamento voltado a garantir o respeito dos direitos trabalhistas e, assim, evitar renúnciasnão condizentes 10 com a vontade do trabalhador. Recurso interposto pelas reclamadas a que se nega provimento no item. (TRT-4 - RO: 00004643220125040304 RS 0000464- 32.2012.5.04.0304, Relator: JOÃO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA, Data de Julgamento: 30/10/2013, 4ª Vara do Trabalho de Novo Hamburgo) 4.2. Princípio da norma mais favorável Esse princípio dispõe que o operador do direito do trabalho deve optar pela regra mais favorável ao obreiro em três situações: no instante da elaboração da regra (ação legislativa) ou no contexto de confronto de regras concorrentes (hierarquização de normas) ou no contexto de interpretação de regras jurídicas (sentido da regra trabalhista). Na fase pré-jurídica é tratada a forma essencialmente política do princípio, de caráter informativo. Já na fase jurídica, isto é, após construída a regra, o princípio atua tanto no critério hierárquico das normas jurídicas quanto na interpretação de tais regras. No critério de hierarquia, é permitida a eleição de norma mais favorável ao trabalhador. No tocante a interpretação, escolhe-se a norma de melhor apreciação à situação do trabalhador, a que melhor realize o sentido teleológico do Direito do Trabalho. É necessário que haja a busca de regra mais favorável observando sempre o conjunto de regras componentes do sistema jurídico, e os sentidos lógico e teleológico básicos que sempre devem informar o fenômeno do Direito. O termo in dubio pro misero advém do já existente no ramo penal in dubio pro reo. Compreende na norma mais favorável ao réu ou, no caso, o trabalhador. 4.3. Princípio da imperatividade das normas trabalhistas As regras justrabalhistas são essencialmente imperativas, pois prevalece em detrimento a regras meramente dispositivas. Desse modo, não pode a regência contratual ser afastada pelo simples manifesto de vontade das partes. Para esse princípio prevalece a restrição à autonomia da vontade no contrato trabalhista, e é tida como instrumento assecuratório eficaz de garantias fundamentais ao obreiro, em face ao nítido desequilíbrio do contrato de emprego. 11 4.4. Princípio da indisponibilidade do direito trabalhista Os direitos trabalhistas como um todo não podem ser objeto de renúncia por parte do empregado, a não ser em situações excepcionais que devem ser seguidas de formalidades para garantir que a manifestação de vontade do empregado não esteja viciada. Essa indisponibilidade inata dos direitos trabalhistas constitui um veículo para tentar igualizar, no plano jurídico, esse descompasso existente entre os sujeitos na relação socioeconômica e emprego. Aqui são vedadas a renúncia (ato unilateral) e a transação (ato bilateral) que importe objetivamente prejuízo ao trabalhador. É importante frisar que mesmo nos acordos realizados nas varas do trabalho há de ser observado se o empregado não acaba por renunciar a direitos legítimos para obter a satisfação de seu crédito mais rapidamente, momento em que o magistrado deve atuar de forma mais incisiva para impedir que prejuízos sejam chancelados em detrimento do hipossuficiente, medindo até que ponto o acordo está sendo benéfico a este. Vejamos, pois, dois julgados desta natureza: HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EM EXECUÇÃO. FACULDADE DO JUIZ. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DOS DIREITOS TRABALHISTAS. A homologação do acordo entabulado extrajudicialmente pelas partes é uma faculdade do juízo, que deve sopesar os interesses existentes no caso. Em se tratando de processo na fase de execução, em que já há homologação, é importante confrontar o valor ofertado com aquele devido, de modo a prevalecer o princípio da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas. (TRT-1 - AGVPET: 472006820075010401 RJ, Relator: Volia Bomfim Cassar, Data de Julgamento: 12/11/2012, Segunda Turma, Data de Publicação: 2012-11-27) ACORDO EXTRAJUDICIAL EFICÁCIA. PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DE DIREITOS. Acordo extrajudicial firmado pelo trabalhador, no qual se estipula a quitação total da relação empregatícia finda, implica em renúncia de direito, daí não se poder atribuir à referida avença a eficácia plena pretendida pelo empregador [...]. (TRT-7 - RO: 1836005720075070002 CE 0183600- 5720075070002, Relator: ANTONIO MARQUES CAVALCANTE FILHO, Data de Julgamento: 22/02/2010, TURMA 1, Data de Publicação: 22/03/2010 DEJT) 12 4.5. Princípio da condição mais benéfica Importa esse princípio na garantia de preservação da cláusula mais benéfica ao trabalhador, ao longo do contrato, com caráter de direito adquirido (art. 5º, XXXVI, CF/88). Quando princípios contratuais concorrentes, prevalecerá o mais benéfico ao empregado. Observemos a Súmula 51 do TST: NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005 I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. (ex-Súmula nº 51 - RA 41/1973, DJ 14.06.1973) II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. (ex-OJ nº 163 da SBDI-1 - inserida em 26.03.1999). O princípio informa que cláusulas contratuais benéficas somente poderão ser suprimidas somente suplantadas por cláusula posterior ainda mais favorável. 4.6. Princípio da inalterabilidade contratual lesiva O Direito do Trabalho não contingencia, ao contrário, incentiva mudanças que sejam favoráveis ao empregado (art. 468, CLT). A inalterabilidade se torna rigorosa quando em desprestígio ao trabalhador e tendem a ser vedadas (arts. 444 e 468, CLT). O ônus dos riscos do empreendimento é inteiramente do empregador (art. 2º, caput, CLT). Permanece intocada as obrigações trabalhistas, mesmo que o empregador tenha sofrido revezes efetivos em virtude de fatos externos. O empregado não pode ser prejudicado pelo insucesso da empresa, haja vista que ele é contratado pela força de trabalho e não pelo resultado. Todavia, pode ocorrer alterações lesivas ao contrato de trabalho, mas é exceção. Situações inerentes ao jus variandi, que não comprometem ou atingem efetivas cláusulas do pacto entre as partes, permitem, implícita ou explicitamente em lei modificações, p.ex. a reversão, parágrafo único do artigo 468 da CLT. 13 4.7. Princípio da intangibilidade salarial É necessário a garantia na ordem jurídica trabalhista de modo a assegurar seu montante, valor e disponibilidade em benefício do empregado, tendo em vista que o salário tem caráter alimentar, atendendo, pois, as necessidades essenciais do ser humano. Este princípio vai além das estribeiras do Direito do Trabalho, albergando grande relevo na Constituição em consonância ao princípio da dignidade da pessoa humana. 4.8. Princípio da primazia da realidade sobre a forma Traduz a ideia de que em uma relação de emprego importa o que efetivamente ocorre na prática, independente do que tenha sido pactuado no momento da contratação ou mesmo após esta. Em outras palavras, o princípio da primazia da realidade exsurge do fato de que em caso de discordância entre o que ocorre na prática e o que reluz dos documentos existentes, deve-se dar preferência ao primeiro. Tal princípio ordena que os fatos devem prevalecer sobre os documentos. Portanto, por mais que haja um registro formal declarando determinada condição ou situação, esse deve ser desconsiderado mediante a constatação precisa de que na prática a situação era diferente e o empregador se utilizouda hipossuficiência de seu empregado. É possível observar no art. 9º da CLT esse princípio de forma clara, in verbis: “Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. ” Diversos são os julgados que adotam este princípio para a resolução de litígios. Vejamos um, com intuito meramente ilustrativo: VÍNCULO EMPREGATÍCIO. EXISTÊNCIA. Na seara trabalhista impera o princípio da primazia da realidade, que afasta elementos meramente formais em prol da realidade fática constante de determinada relação jurídica. Como cediço, uma vez constatada a prestação dos serviços, é do empregador o ônus probatório de demonstrar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito pleiteado, in casu, a autonomia do trabalhador e a consequente exclusão da subordinação. (TRT-7 - RO: 930002920085070010 CE 0093000-2920085070010, Relator: JOSÉ ANTONIO PARENTE DA SILVA, Data de Julgamento: 16/05/2011, Primeira Turma, Data de Publicação: 30/05/2011 DEJT) 14 De forma geral, nos julgados os juízos observam o princípio da primazia da realidade sobre o conteúdo meramente formal do caso em questionamento. 4.9. Princípio da continuidade da relação de emprego O princípio reconhece uma garantia semelhante à estabilidade, todavia, limitado ao campo da aparência. Mesmo que haja mudanças ou alterações na estrutura jurídica da empresa não pode haver afetação quanto aos contratos de trabalho já estabelecidos. Importante salientar que os contratos por tempo determinado são exceções e somente nas hipóteses previstas em lei (art. 443 da CLT e Lei nº 9601/98). Pela continuidade o empregado consegue estabelecer maior integração à empresa, o que favorece na qualidade do serviço como um todo. Vejamos um julgado sobre o tema para elucidar a aplicação: PRESTAÇAO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE. Negada a prestação de serviços, cabe ao empregador o ônus de comprovar suas alegações, eis que pelo princípio da continuidade da relação de emprego, presume-se que inexistiu qualquer interrupção do contrato de trabalho. Recurso não provido. (TRT-13 - RO: 91948 PB 01383.2005.010.13.00-2, Relator: CARLOS COELHO DE MIRANDA FREIRE, Data de Julgamento: 06/12/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 25/01/2007) Tal princípio visa a segurança do trabalhador em relação ao emprego. 15 5. CONCLUSÃO Do exposto, conclui-se que, os princípios são os pilares do sistema jurídico. São eles que mantêm o Direito em seu sentido real ao buscar a justiça e a equidade. É garantido às partes o devido processo legal, que afasta todo e qualquer tribunal de exceção, além de albergar princípios que são inerentes a toda atividade processual examinada em qualquer ramo jurídico. A justiça do trabalho surge a fim de assegurar à classe obreira direitos fundamentais, dos quais devem ser observados atentamente pelo empregador. Diante do poder potestativo do empregador, o empregado figura a parte hipossuficiente da relação, situação essa que deve ser minimizada em efeitos por meio dos princípios próprios do Direito do Trabalho. O princípio da proteção é a finalidade desta ciência, que dá vasão aos demais princípios aqui elencados. É pelo trabalho a forma mais honesta de ganho monetário, além de elementos não mensuráveis por valores (experiência, sabedoria etc.). A supressão e/ou regresso das garantias já conquistadas configuraria ataque ao princípio da dignidade da pessoa humana, haja vista que é por meio da atividade laboral que muitos de nós mantêm-se inseridos de forma íntegra na sociedade. 16 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª Ed., São Paulo: LTr, 2016. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2014. MAUAD, Marcelo José Ladeira. Lições de Direito Individual do Trabalho. 3. ed. LTr, 2008. FELIPE, Juliana Raquel de Oliveira. Princípios constitucionais trabalhistas e sua eficácia na relação de emprego. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/34652/principios- constitucionais-trabalhistas-e-sua-eficacia-na-relacao-de-emprego/1. Acesso em: 10 de julho de 2017. GOMES, Luiz Flávio. Normas, regras e princípios. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/7527/normas-regras-e-principios. Acesso em: 10 de julho de 2017. 17 NOTAS [1] BERTONCINI, Mateus Eduardo Siqueira Nunes. Princípios de Direito Administrativo Brasileiro. 1. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1 1088. Acesso em: 10 de julho de 2017. [2] ALVES, Ricardo Luiz. Os princípios constitucionais do Direito do Trabalho e os direitos trabalhistas constitucionais: uma breve reflexão crítica. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/5915/os-principios-constitucionais-do-direito-do-trabalho-e-os- direitos-trabalhistas-constitucionais/2. Acesso em: 11 de julho de 2017. [3] CINTRA, Antônio Carlos de Araújo et al. Teoria Geral do Processo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. P. 55. [4] MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 31.
Compartilhar