Buscar

Tráfico humano e suas ramificações

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO
DEFINIÇÃO
A assembleia Geral da ONU criou um comitê intergovernamental para elaborar uma convenção internacional global contra a criminalidade organizada transnacional e examinar a possibilidade de elaborar um instrumento para tratar de todos os aspectos relativos ao tráfico de pessoas, em especial de mulheres e crianças. O comitê apresentou uma proposta intensamente discutida durante o ano de 1999, que foi aprovada como Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Palermo, 2000).
O Protocolo, no artigo 3º, define como tráfico de pessoas: “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra, para fins de exploração.” A exploração inclui, no mínimo, “a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, os trabalhos ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos”. Tratando-se de crianças e adolescentes, isto é, com idade inferior a 18 anos, o consentimento é irrelevante para a configuração do tráfico. Quando se tratar de homens adultos e mulheres adultas o consentimento relevante para excluir a imputação de tráfico, a menos que comprovada ameaça, coerção, fraude, abuso de autoridade ou de situação de vulnerabilidade bem como a oferta de vantagens para quem tenha autoridade sobre outrem. 
ORIGENS HISTÓRICAS
O tráfico humano é fruto de uma série de fatores que se relacionam às oportunidades de trabalho, aos fluxos migratórios, à busca por melhores condições de vida, à discriminação e às desigualdades sociais, de gênero, de classe e racial. As vítimas procuram em outras cidades e, muitas vezes, fora do Brasil, um lugar em que possam resgatar a cidadania perdida na realidade social excludente que vivenciam em seu país ou onde possam ter acesso a bens e a uma situação econômica melhor. Este pressupõe a naturalização de desigualdades e violações dos direitos humanos, sobretudo das mulheres. Ou seja, o tráfico de pessoas reduz a “humanidade do outro”, transforma vítimas em não humanos, não detentores de direitos e não iguais. Além disso, o tráfico humano tem entre suas causas fatores econômicos e sociais, como o desemprego, a miséria, a falta de condições de vida digna (acesso à saúde, educação, moradia), a busca por ascensão social e melhores oportunidades de trabalho, e fatores culturais, que transformam as pessoas, em especial mulheres, crianças e adolescentes, em vítimas de diferentes tipos de exploração.
Já do ponto de vista jurídico, a proposição tráfico de pessoas foi inventada no século XIX e retomada no final do século XX. Em meados do século XIX, rejeições ao tráfico de pessoas negras africanas para práticas escravistas tomaram fôlego. No Brasil, tal prática foi extinta em 1888, com a lei Aurea. Junto a essa urgência, não mais humanitária que econômica, agregou-se a preocupação com o tráfico de mulheres brancas para prostituição. Apesar de podermos estabelecer relações entre tais fenômenos, é preciso ficar claro que são acontecimentos distintos, pois são movidos por preocupações diversas. A elaboração da categoria tráfico de mulheres brancas, além de trazer consigo um racismo latente, se fez com base no empenho em proteger o ideal de pureza feminina.
A legislação internacional, principalmente a partir de 1814, com o Tratado de Paris entre Inglaterra e França, se ocupou primeiro do tráfico de negros, objeto de comércio para a escravidão. O esforço diplomático culminou, em 1926, com a Convenção firmada pela Sociedade das Nações, reafirmada, em 1953, pela ONU. Para os fins dessa Convenção o tráfico de escravos “compreende todo ato de captura, aquisição ou cessão de um indivíduo para vendê-lo ou trocá-lo; todo ato de cessão por venda ou câmbio de um escravo, adquirido para vendê-lo ou trocá-lo, e em geral todo ato de comércio ou de transporte de escravos”. Por sua vez a escravidão é conceituada como “estado ou condição de um indivíduo sobre o qual se exercitam os atributos do direito de propriedade ou de alguns deles”. A Convenção de Genebra, de 1956, repetiu esses conceitos e ampliou o foco para instituições e práticas análogas à escravidão, nomeando expressamente a imobilização por dívidas e a servidão (debt bondage), bem como o casamento forçado de uma mulher em troca de vantagem econômica para seus pais ou terceiros; a entrega, onerosa ou não, de uma mulher casada a terceiro pelo seu marido, sua família ou seu clã; os direitos hereditários sobre uma mulher viúva; a entrega, onerosa ou não, de menor de 18 anos a terceiro, para exploração. 
À preocupação inicial com o tráfico de negros da África, para exploração laboral, agregou-se a do tráfico de mulheres brancas, para prostituição. Em 1904, é firmado em Paris o Acordo para a Repressão do Tráfico de Mulheres Brancas, no ano seguinte convolado em Convenção. Durante as três décadas seguintes foram assinados: a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Brancas (Paris, 1910), a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças (Genebra, 1921), a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores (Genebra, 1933), o Protocolo de Emenda à Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças e à Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores (1947), e, por último, a Convenção e Protocolo Final para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio (Lake Success, 1949). 
A ineficácia da Convenção de 1949 é reconhecida pela Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979), ao obrigar os Estados Partes a tomar as medidas. Em 1992, a ONU lança o Programa de Ação para a Prevenção da Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil buscando a “eliminação de todas as formas de assédio sexual, exploração e tráfico de mulheres”. A partir daí foram feitas conferências e convenções aprimorando este programa, tomando a forma que conhecemos hoje pelo Protocolo de Palermo(2000).
OCORRÊNCIA
Os países mais conhecidos por ser a origem do tráfico humano são África do Sul, Albânia, Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, El Salvador, Etiópia, Honduras, Filipinas, Gana, Mali, Marrocos, México, Nepal Nigéria, Peru, Polônia, República Dominicana, República Tcheca, Rússia, Sérvia e Montenegro (Kosovo), Suriname, Tailândia, Ucrânia, Uruguai, Venezuela. Seja pela pobreza, pela dificuldade de acesso às políticas públicas e às oportunidades de trabalho, pelo desrespeito aos princípios humanos ou pela violência urbana, parte da população não encontra perspectivas de sobrevivência digna e/ou segura. O aliciamento ocorre por meio de promessas de emprego na indústria do sexo ou em outras áreas, como trabalho doméstico, de dançarinas ou modelos. As redes de tráfico de pessoas, por vezes, camuflam-se em agências de emprego ou de casamento. 
Existem também os países de trânsito que são rotas de passagem para alcançar o destino, podendo haver ou não bases de apoio, como locais de hospedagem. Em geral, são países que dispõem de fronteiras secas, nas quais a fiscalização é precária por distintas razões, como extensão das divisas, reduzido quadro de fiscais, ineficiência e corrupção nos órgãos de fiscalização. Os conhecidos são Brasil, Canadá, Suriname, Guianas. 
Os locais onde haverá a exploração são historicamente são países desenvolvidos. Entretanto, países em desenvolvimento têm, cada vez mais, se tornado localidades de destino, especialmente para o trabalho e o casamento forçado. Crianças e adolescentes são raptados para servirem como soldados em guerrilhas ou no tráfico de drogas e para adoção ilegal. São países conhecidos como pontos de destinos: Alemanha, ArábiaSaudita, Bélgica, Brasil, Canadá, Costa do Marfim, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Israel, Itália, Japão, Kuait, Líbano, Líbia, Noruega, Nigéria, Paraguai, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça, Suriname, Tailândia, Turquia. 
MODALIDADES
As modalidades do tráfico podem corresponder a três grandes formas de cruel realização. A primeira delas é o tráfico para o trabalho (trabalho escravo). Essa prática vem disfarçada e se mostra como uma alternativa, pois, em tempos difíceis, uma proposta de trabalho é sempre bem-vinda.  Inicialmente, tudo parece um verdadeiro ‘conto de fadas’; é o trabalho que caiu do céu: com ele, vou ganhar bem, ter casa, comida e roupa lavada. Daqui se originam tantas formas inaceitáveis de desrespeito para com o trabalhador através da negação das condições mínimas de trabalho, asseguradas pela CLT que, entre outras coisas, estabelece que ninguém pode ser remunerado com um valor inferior a um salário mínimo. 
Outra modalidade é a do tráfico para a exploração sexual (homens e mulheres, crianças e adolescentes). A indústria do sexo movimenta milhões e milhões de dólares em todo o mundo. Essa prática explora principalmente as mulheres e, hoje, a elas se associa um elevado número de crianças e adolescentes, vítimas da pedofilia. São irmãos nossos obrigados a se prostituírem par manter uma forma desonesta de sobrevivência às custas da venda de seus corpos.
A terceira modalidade é a do tráfico de crianças para adoção ilegal. A adoção só pode ser efetivada dentro da legalidade, mas há muitas pessoas que se beneficiam desta prática para tirar proveito, muito embora muitos acreditam estar fazendo um favor ou praticando um ato bom. Tratam-se de ações ilegais e desprovidas de transparência, motivadas pelo interesse financeiro. A este crime se associa o tráfico de pessoas com vistas a extração de seus órgãos, que reduz a pessoa humana a uma mera mercadoria, comercializada inteira ou em partes para a satisfação da ganância e dos interesses financeiros de terceiros.
INTRODUÇÃO AO TRÁFICO DE MULHERES
	O tráfico de mulheres, crianças e adolescentes, para fins de exploração sexual comercial, é um fenômeno em expansão. As estimativas apontam para números extremamente altos de seres humanos traficados através de fronteiras internas e internacionais, chegando a 4 milhões por ano, de acordo com a Organização Internacional da Migração. Em grande parte administrado por traficantes de armas e drogas, o tráfico de seres humanos tem-se mostrado um negócio lucrativo e de poucas consequências penais para as redes que o praticam.
	A pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de exploração sexual foi, no Brasil, uma das ações propostas pela sociedade civil e pelo Poder Público para defender e garantir os direitos das pessoas violadas sexualmente.
Para ampliar o conceito de tráfico faz-se necessário definir a exploração sexual comercial como:
[...] uma violência sexual que se realiza nas relações de produção e mercado (consumo, oferta e excedente) através da venda dos serviços sexuais de crianças e adolescentes pelas redes de comercialização do sexo, pelos pais ou similares, ou pela via de trabalho autônomo. Esta prática é determinada não apenas pela violência estrutural (plano de fundo) como pela violência social e interpessoal. É resultado, também, das transformações ocorridas nos sistemas dos valores arbitrados nas relações sociais, especialmente o patriarcalismo, o racismo, e a apartação social, antítese de ideia de emancipação das liberdades econômicas/culturais e das sexualidades humanas. (LEAL, 2001, p.4)
	De acordo com o protocolo, a configuração do tráfico se expressa sob dois aspectos: o material, através das condições objetivas (recrutamento, transporte, alojamento de pessoas), e o subjetivo (sedução, coação, submissão, escravidão...) ambos traduzindo-se na realidade do tráfico, como indicadores de efetividade.
	Assim é necessário articular os indicadores de efetividade com os indicadores macrossociais para entender a multidimensionalidade inerente à explicação das razões determinantes da existência do tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial.
	Do ponto de vista legal, o Código Penal brasileiro não trata do tráfico de pessoas para fins sexuais em geral, mas de mulheres para a prostituição e em nível internacional, conforme tipificado em seu artigo 231 (tipifica o tráfico internacional, em detrimento do tráfico interno.
	Logo, cabe destacar que o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial é um fenômeno complexo e singular, uma vez que envolve trafico no contexto de gênero, geração e exploração.
PRINCIPAIS CAUSAS DO TRÁFICO DE MULHERES, CRIANÇAS E ADOLESCENTE PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
Primeiramente, um fator de suma importância para a existência e que permite maior facilidade para o cometimento do tráfico de pessoas, em especial, o de mulheres é segundo Leal, a GLOBALIZAÇÃO da economia mundial que tem acirrado a crise social, principalmente por desmantelar as relações de trabalho, através da quebra de “contratos sociais” e de direitos dos trabalhadores, submetendo-os a relações precárias e a formas tradicionais de trabalho forçado e escravo, podendo chegar até ao extermínio. Esta situação atinge não só as relações de trabalho masculino, mas, sobretudo o feminino e o de crianças e adolescentes, através da inclusão da mão de obra desta população em sistemas informais, clandestinos e do crime organizado. O cenário de crise no mundo do trabalho reflete-se diretamente nas relações familiares. A desterritorialização (via processos migratórios) gradual ou geral dos membros da família atraídos para frentes de trabalho nas regiões rurais, de fronteiras, litorâneas e urbanas, ou para outros países, acaba por proporcionar, dentre outras situações, a fragilização da família em função do abandono precoce do “gestor” das responsabilidades paternas, do afastamento da mãe, do cotidiano do lar, da escola e de outras relações de sociabilidade.
O segundo fator, este considerado pela doutrina majoritária, o principal para a existência do tráfico de mulheres para fins de exploração sexual é a VULNERABILIDADE DA VÍTIMA, hoje a pobreza atinge cerca de 40% da população brasileira, este é um número alarmante, que deve ser analisado e corrigido pelas políticas públicas de inclusão pelo Poder Público, mas em especial pela sociedade, que confere uma enorme dificuldade para compreender as verdadeiras raízes dos crimes mais perversos cometidos em território nacional contra as minorias discriminadas.
Ao fixar imagens de determinados grupos sociais no imaginário da população, tais formas de representação concorrem também para hierarquizar a sua utilização no mercado de trabalho. Com efeito, a tendência histórica do capitalismo reside justamente no fato de explorar diferenças específicas (sexo, nacionalidade, construção de raça e etnia) e transformá-las em elementos para a sua reprodução.
Essa reprodução é reforçada nas redes de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, através de práticas de coerção e de escravidão, do estímulo ao uso de drogas e de outras formas de violência que reproduzem a subalternidade, a passividade, a não competitividade, a pouca consciência e tantos outros atributos que reforçam os valores e estimulam o consumo de seus serviços sexuais. (LEAL; 2002)
Para ilustrar a relação entre o Tráfico de Mulheres e a Pobreza, veja a tabela abaixo:
	REGIÕES
	Nº de Pobres 
	Proporção de Pobres (%)
	Rotas de Tráfico (Nacional e Internacional)
	Norte
	2.200
	43,2
	76
	Nordeste
	18.894
	45,8
	69
	Sudeste
	13.988
	23,0
	35
	Sul
	4.349
	20,1
	28
	Centro-oeste
	2.469
	24,8
	33
	BRASIL
	41.919
	30,2
	241
Outros fatores, estão relacionados a omissão legal, ou muitas vezes a distância entre o ideal normativo e a realidade prática, o que permite a impunidade massiva neste crime contra a dignidade da pessoa humana,e mais especificadamente a dignidade sexual.
Além disso há ainda um fator importante de vulnerabilidade que são as transformações que esta crise opera no âmbito da família geram situações difíceis de serem resolvidas, especialmente por parte das crianças e dos adolescentes. Troca de parceiros entre os pais, conflitos de natureza interpessoal (gerados por alcoolismo, drogadição, experiências sexuais precoces e insalubres) violências sexuais e tantas outras relações, acabam por vulnerabilizar sócio- pedagogicamente este seguimento. 
As crianças, os adolescentes e as mulheres chefes de família terminam virando presas fáceis para o mercado do crime e das redes de exploração sexual. Recrutados e aliciados pelos exploradores, deixam-se enganar por falsas promessas de melhoria de condições de vida submetem-se a uma ordem perversa de trabalho, geralmente impulsionada não só pela necessidade material, mais por desejos de consumo imputados pelos meios de comunicação e pela lógica consumista da sociedade.
PERFIL DO EXPLORADOR
O explorador pode exercer seu poder de dominação e de exploração em diversos contextos sociais, por razões culturais, de personalidade e de comportamento, sem entretanto, ser considerado uma classe especifica.
Pode-se identificar o explorador na figura do consumidor, do aliciador ou daquele que ajuda a cooptar a vítima para a rede criminosa do tráfico. Esta é organizada por diferentes atores, que desempenham papéis no crime organizado, com vistas a movimentar o mercado do sexo e a mobilizar a demanda.
O explorador tem acesso à vítima e às redes de aliciamento. É capaz de estabelecer relações de poder, tirando partido e proveito das situações de vulnerabilidade social em que se encontram mulheres, crianças e adolescentes. Estas relações manifestam-se na sedução, no abuso de confiança, no engano e na mentira, que podem levar ao “consentimento induzido” da vítima. 
Considera-se explorador qualquer pessoa que demande mulheres, crianças e adolescentes para explorá-las através das redes de favorecimento do tráfico para fins sexuais ou para consumir os serviços sexuais ofertados por estas redes. Para efeito do presente relatório, considerar-se-á “demanda”, a ação de pessoas que procuram ou buscam aliciar e/ou consumir serviços sexuais de mulheres, crianças e adolescentes, visando a comercialização e/ou a satisfação de desejos sexuais, através de práticas de abuso e de exploração sexual. Assim, quem demanda é explorador.
De acordo com Davidson (2001) “...é impossível falar sobre o explorador sexual como um tipo de pessoa com características particulares ou únicas”.
ALICIADORES DE MULHERES
Do total de aliciadores (161) identificados pela pesquisa na mídia, 52 são estrangeiros (provenientes da Espanha, Holanda, Venezuela, Paraguai, Alemanha, França, Itália, Portugal, China, Israel, Bélgica, Rússia, Polônia, Estados Unidos e Suíça) e 109 são brasileiros. Os aliciadores de nacionalidade brasileira, a maioria do sexo masculino, pertencem a diferentes classes sociais, com idades entre Feminino 66 (41,0%) Masculino 95 (59,0%) 20 e 50 anos. Levando em conta os dados gerais da pesquisa, alguns deles pertencem às elites econômicas, são proprietários/funcionários de boates ou de outros estabelecimentos que fazem parte da rede de favorecimento. Os depoimentos a seguir, ilustram estas informações:
“...em Ahalego, na Holanda, têm os donos do clube, têm os motoristas, que vão levar as meninas de um clube para outro, e têm os que eles mandam de País em País, procurar as garotas, são os “sueta”31 ...nos clubes há os chamados body guarder, que são seguranças responsáveis pela vigilância das mulheres... exercem uma série de controle, impedindo as mulheres de terem contato com outras pessoas e até mesmo de namorar... o dono do clube, o body guarder e os motoristas podem agir eventualmente como “sueta”. (Relatório Região Nordeste)
Muitos exercem funções públicas nas cidades de origem ou de destino do tráfico de mulheres, crianças e adolescentes:
“...Em Guajará Mirim (Rondônia), percebemos uma rede de aliciamento que vai além dos donos das boates. As menores de idade cooptadas para o tráfico internacional são aliciadas por homens bem aceitos na cidade, ou que mostram alto poder aquisitivo, incentivando o culto aos sonhos de realização financeira. De acordo com testemunhos de profissionais que atendem às vítimas desse aliciamento, é notório, no relato das meninas, a presença de nomes de políticos da cidade, funcionários públicos ligados à área de Justiça e Segurança, figuras proeminentes e indivíduos conhecidos como pertencentes ao grupo econômico dominante na cidade.” (Relatório Região Norte) 
De acordo com a mídia, são os brasileiros do sexo masculino os principais aliciadores para o tráfico internacional. Também há mulheres que estão na conexão do tráfico, exercendo a função de recrutamento e de aliciamento de outras mulheres.
“... As meninas que vão para a Holanda, Alemanha e Itália, e estão há bastante tempo, são forçadas a convidar irmãs para visitá-las, através de cartas e telefonemas falsos, porque não podem falar a verdade. Elas convidam e os caras mandam tudo...quando elas chegam, eles pegam o passaporte e elas ficam na mesma situação... ‘Ele é amigo de minha filha de 23 anos, que mora lá’... E assim, a mãe permite que a filha viaje com aquela pessoa..)”. (Relatório do Região Sudeste) 
O perfil do aliciador está relacionado às exigências do mercado de tráfico para fins sexuais, isto é, quem define o perfil do aliciador e da pessoa explorada pelo mercado do sexo, é a demanda, que se configura através de critérios que estão relacionados a classes sociais, faixa etária, idade, sexo e cor.
	 
O PERFIL DA PESSOA TRAFICADA
Para estruturar a discussão sobre o tráfico, é necessário perguntar: por que mulheres (adultas e adolescentes) são aliciadas para fins sexuais? A resposta está na razão direta da precarização de sua força de trabalho e da construção social de sua subalternidade. 
Os relatos dos estudos de casos constroem dois tipos ideais antagônicos para a mulher aliciada: a) o da pessoa ingênua, humilde, que passa por grandes dificuldades financeiras e por isso é iludida com certa facilidade; e b) o da mulher que tem o “domínio da situação”, avalia com toda a clareza os riscos e dispõe-se a corrê-los para ganhar dinheiro.
Geralmente, estas mulheres são oriundas de classes populares, apresentam baixa escolaridade, habitam em espaços urbanos periféricos com carência de saneamento, transporte (dentre outros bens sociais comunitários), moram com algum familiar, têm filhos e exercem atividades laborais de baixa exigência. 
Muitas já tiveram passagem pela prostituição. Estas mulheres inserem-se em atividades laborais relativas ao ramo da prestação de serviços domésticos (arrumadeira, empregada doméstica, cozinheira, zeladora) e do comércio (auxiliar de serviços gerais, garçonete, balconista de supermercado, atendente de loja de roupas, vendedoras de títulos, etc), funções desprestigiadas ou mesmo subalternas. Funções estas, mal remuneradas, sem carteira assinada, sem garantia de direitos, de alta rotatividade e que envolvem uma prolongada e desgastante jornada diária, estabelecendo uma rotina desmotivadora e desprovida de possibilidades de ascensão e melhoria, conforme o depoimento a seguir: 
“Eu vim de Juiz de Fora para o Rio como empregada doméstica. De empregada doméstica fui trabalhar em supermercado. De supermercado, fui vender títulos do Hotel Club do Brasil. Trabalhava em comércio e cheguei à conclusão de que eu não tinha a menor afinidade para ser funcionária de alguém... me cansava, me estressava e me aborrecia. Não gostava de emprego nenhum, porque tudo ia de contra as minhas expectativas e condições que me eram propostas. Assim, eu não voltaria jamais. Só guardo ressentimentos!” (Depoimento de “D”- estudo de caso) 
No Brasil, o tráfico para fins sexuais é, predominantemente, de mulheres e adolescentes, afrodescendentes, com idade entre 15 e 25 anos. De acordo com a pesquisade mídia, das 219 pessoas traficadas, as matérias especificam a idade de 98 delas (44,7%), cuja distribuição é apresentada no gráfico a seguir. As outras 121, apesar de não receberem especificação etária, são citadas como “mulheres” e “adolescentes”, ou incluídas em faixas abrangentes, como, por exemplo, “20 a 25 anos”.
De acordo com a mídia, verifica-se que, das 98 pessoas traficadas cuja idade foi noticiada, 52 (53,0%) são mulheres e 46 (47,0%) adolescentes. Isto significa que foi possível identificar a idade de 30,4% das 171 mulheres traficadas e de 95,8% das 48 adolescentes.
Os inquéritos (86) e os processos (68) relativos ao tráfico internacional de mulheres para fins de prostituição (art.231 do Código Penal), também informam a predominância de mulheres adultas. No entanto, nas 110 (45,64%) rotas de tráfico intermunicipal e interestadual, o número de adolescentes é expressivo em relação ao de crianças e ao de mulheres adultas. Das 131 rotas internacionais, 120 lidam com o tráfico de mulheres. Daquele total, 60 (50,0%) são utilizadas para transportar “somente mulheres”; das 78 rotas interestaduais, 62 (80,51%) envolviam o tráfico de adolescentes, das quais 20 eram destinadas a transportar “somente adolescentes”; das 32 intermunicipais, 31 (96,87%) estavam voltadas para o tráfico de adolescentes; e das 26 (19,84%) rotas através das quais foram traficadas crianças - nenhuma delas envolveu “somente crianças” -, 23 (88,46%) foram registradas no âmbito interestadual. 
Essa conformação aponta que as mulheres adultas são, preferencialmente, traficadas para outros países (Espanha, Holanda, Venezuela, Itália, Portugal, Paraguai, Suíça, Estados Unidos, Alemanha e Suriname), enquanto as adolescentes, mais do que crianças, são traficadas através das rotas intermunicipais e interestaduais, com conexão para as fronteiras da América do Sul (Venezuela, Guiana Francesa, Paraguai, Bolívia, Peru, Argentina e Suriname). A pesquisa demonstra que as mulheres e as adolescentes em situação de tráfico para fins sexuais, geralmente já sofreram algum tipo de violência intrafamiliar (abuso sexual, estupro, sedução, atentado violento ao pudor, corrupção de menores, abandono, negligência, maus tratos, dentre outros) e extrafamiliar (os mesmos e outros tipos de violência intrafamiliar, em escolas, abrigos, em redes de exploração sexual e em outras relações). 
As famílias também apresentam quadros situacionais difíceis (sofrem violência social, interpessoal e estrutural) o que facilita a inserção da criança e do adolescente nas redes de comercialização do sexo, pois tornam-se vulneráveis frente à fragilidade das redes protetoras (família/Estado/Sociedade). De acordo com os dados de mídia, sobretudo os relativos às mulheres, a questão que desponta é a de que as adolescentes de 15 a 17 anos são as mais traficadas, correspondendo, juntas, a 30,6% das pessoas representadas no gráfico anterior. As informações mais recorrentes na mídia sobre as adolescentes traficadas, originaram-se de fonte policial quase sempre centradas na idade, no local onde foram detidas e no tipo de exploração a que são submetidas. Os dados foram obtidos, na sua maioria, através de depoimentos colhidos por jornalistas junto a familiares das pessoas exploradas (geralmente quando estas ainda estão sob o jugo de traficantes ou após o falecimento delas) e das próprias exploradas (concedidas nos locais onde se prostituem ou através de contato telefônico). 
Sobre as condições de vida das adolescentes, antes de serem aliciadas pelos traficantes, a maioria provém de municípios de baixo desenvolvimento socioeconômico, situados no interior do País. Dentre as que vivem em capitais ou em municípios localizados nas regiões metropolitanas, a grande maioria mora em bairros e áreas suburbanas ou periféricas. Muito embora o atrativo dos ganhos financeiros seja relevante em ambos os casos, percebe-se que, naqueles em que o tráfico tem origem nos municípios interioranos, a necessidade de sobrevivência e a violência intrafamiliar influenciaram diretamente na decisão das adolescentes em aceitar as ofertas ilusórias dos aliciadores. Portanto, o lado financeiro da questão não é o único a ser levado em conta na decisão das adolescentes. Há casos em que os problemas intrafamiliares também são determinantes: “Uma brasileira de 16 anos foi resgatada na noite de anteontem de um prostíbulo em Catuetê, no Paraguai, a 150 quilômetros de Ciudad Del Este, na fronteira com o Brasil, por deputados da Comissão de Direitos Humanos da Câmara ...a menina deixou a casa dos pais, em Foz do Iguaçu, há nove meses ...mãe e filha reconheceram que a menor saiu de casa porque era constantemente espancada pelo pai, que tentou até estuprá-la...” (O Globo-RJ, 13/11/1997). 
Levando em consideração os casos de tráfico ocorridos em capitais e nas regiões metropolitanas com maior desenvolvimento socioeconômico – São Paulo-SP, Rio de Janeiro-RJ, Porto Alegre-RS, Salvador-BA e Goiânia-GO – persistem as necessidades de sobrevivência, que, no entanto, são potencializadas pela ilusão das elevadas remunerações oferecidas pelos aliciadores. 
Ressalte-se que as propostas dos aliciadores, em sua maioria, partem de membros de redes de tráfico que operam em rotas internacionais. De acordo com as matérias, estes traficantes movimentam valores muito superiores aos que aliciam adolescentes em rotas interestaduais e intermunicipais. As adolescentes ficam deslumbradas com a possibilidade de juntarem muito dinheiro no exterior - a principal arma de sedução dos traficantes -, de conquistarem um trabalho estável e com a atraente possibilidade de rápido enriquecimento.
As informações apresentadas pela mídia demonstram que a falsificação de documentos é uma prática recorrente, especialmente nos casos de rotas internacionais. Seu objetivo é “transformar” adolescentes em mulheres adultas, a fim de facilitar seu trânsito e sua saída do país. Em relação a configuração do tráfico de crianças, pode-se dizer que a incidência é bem menor se comparada ao de adolescentes e ao de mulheres. Esta constatação baseia-se nos dados dos relatórios regionais. Portanto, constatou-se a impossibilidade da tradução numérica, uma vez que só foi possível uma contagem das vezes em que a referência a “mulheres, crianças e adolescentes” apareciam.
REDES DE FAVORECIMENTO
(a) rede de entretenimento: shoppings centers, boates, bares, restaurantes, motéis, barracas de praia, lanchonetes, danceterias, casas de shows, quadras de escolas de samba, prostíbulos, casas de massagens....
“... Duas irmãs afirmaram que mais de 40 mulheres paraenses estão se prostituindo no Suriname, vivendo em condições de miséria... porque foram enganadas sob promessa de emprego fácil. As duas... foram convidadas pela prima, Raimunda, para trabalhar no Suriname, onde reside. Raimunda ofereceu às duas a quantia de R$ 200,00 para que retirassem passaporte em Belém. Ao chegarem, foram levadas até o clube “Diamond”... teriam que pagar U$ 100 diários pela hospedagem. A dívida era a forma de manter as duas presas no clube... As irmãs já deviam U$ 795 pela hospedagem. Descobriram que o local era uma casa de prostituição, onde aconteciam shows com mais de 100 mulheres, de várias nacionalidades. As mulheres chegavam a ser espancadas e até estupradas no clube. No local de chegada, as duas teriam de assinar um contrato, mas se recusaram, após perceberem do que se tratava. A situação de desespero e de fome era tamanha... ´a nossa prima falou que tínhamos que ficar na casa até pagarmos nossa dívida e não poderíamos tentar fugir, pois seríamos caçadas e, provavelmente, mortas!’ Para fugir da casa, pediram apoio para um turista holandês, que indicou a embaixada brasileira no Suriname. (Diário do Pará, 19/05/00 “Mulheres denunciam cárcere e prostituição” - Relatório Região Norte)
“...no que tange ao tráfico nacional, a cidade de Ji-Paraná surge como ponto de cooptação de prostitutas de outros Estados, principalmente Minas Gerais e Goiás. As boates possuem rede de propaganda na cidade etrazem... tanto adolescentes como mulheres adultas. Dependendo do contato feito e das condições da adolescente/mulher, tal viagem chega a ser de avião. Os custos são cobertos pelos donos das boates, que cobram o pagamento da dívida à adolescente/mulher...”. (Relatório Região Norte) 
De acordo com relatos de informantes, fornecidos pela equipe de pesquisadores de Rondônia, os donos de boates financiam as viagens interestaduais, o sustento das meninas na cidade de chegada, fornecem drogas e álcool, e marcam os primeiros programas. As aliciadas, nesse, processo ficam presas a eles até pagarem toda sua dívida de locomoção e de sobrevivência. 
O regime imposto muda de boate para boate. Algumas impõem o regime fechado, no qual as pessoas traficadas ficam presas na própria boate. Outras permitem que elas saiam, sob constante vigia, desde que voltem diariamente e paguem pelo dia de trabalho. Elas são submetidas a ameaças físicas, que são reforçadas pelo fato de serem menores e desconhecerem a cidade. 
“...em julho de 2000, a Polícia Federal desbaratou, não só na cidade de Boa Vista, mas no município de Iracema, uma quadrilha de traficantes que atuava em bares e restaurantes para onde as jovens amazonenses (entre 16 a 17 anos) foram levadas com promessas de emprego e bom salários. No Município de Iracema (a 680 km de Manaus), as garotas foram mantidas em regime de cárcere privado, agredidas e obrigadas a fazerem programas com caminhoneiros e garimpeiros, algumas vezes em troca de duas refeições diárias. Elas faziam “ponto” no “Malocão Zanz-s BAR” e só conseguiram fugir ao contarem com a ajuda de um caminhoneiro que as levou à Polícia Civil de Boa Vista. Na ocasião, a polícia conseguiu prender outras adolescentes e mulheres que, posteriormente, foram enviadas para Manaus. As jovens eram submetidas à tortura e a ameaças de morte... tiveram a documentação apreendida para evitar que fugissem...” (Relatório Região Norte)
(b) Rede do mercado da moda: agências de modelos (fotográficos, vídeos, filmes). “Também em entrevista, uma das modelos, de 16 anos, afirmou ter conhecimento de duas colegas que, ao irem para São Paulo, receberam propostas capciosas. Uma que tinha 17 anos, aceitou e foi para a Espanha, sem a família. Passado um tempo, até a família perdeu o contato com ela. A outra, com 15 anos, não aceitou, voltou para Rondônia e saiu da carreira de modelo”. (Relatório Região Norte) (c) Rede de agências de emprego: empregadas domésticas, baby- sitters, acompanhantes de viagens e trabalhos artísticos (dançarinas, cantoras...). “As formas de aliciamento também diferem segundo o controle das fronteiras... p/ex., nos EUA há a negação da ocorrência do fenômeno pelo endurecimento do serviço de imigração. Porém, o tráfico existe e as mulheres brasileiras, na sua maioria, entram neste país a partir de propostas de emprego como domésticas, dançarinas, go go girls e acabam escravizadas”. (Relatório Região Sudeste)
(d) Rede de agências de casamento: dentre as formas de inserção nas redes do tráfico, o casamento é a que envolve a maior dificuldade de caracterização, devido ao envolvimento afetivo e amoroso, característico do relacionamento interpessoal. Segundo estudo realizado pelo CEAP, em 1997, há pelo menos dois tipos de tráfico nessa modalidade: o das mulheres que são atraídas por anúncios ou pelo turismo sexual (no qual o estrangeiro vem ao Brasil buscá-las). Na maioria das vezes, as mulheres saem do País sem saber que é firmado um contrato entre o agenciador e o candidato a marido, para “testá-la” por um período de três meses, com direito à devolução, caso não se sinta satisfeito. “... Alguns aliciadores casam com as mulheres para não terem problemas com deportação...”
“... no contingente de mulheres traficadas, aquelas que migram casadas ou com promessas de se casarem com estrangeiros, veem suas expectativas, em torno do projeto de uma “vida melhor” no exterior, desfeitas por situações violentas, tais como o preconceito racial, abusos psicológico, físico e sexual, e anonimato em termos de cidadania frente às (ou à atuação das) leis do país estrangeiro”32. (Relatório Região Nordeste)
“... Então, todas as garotas que são bonitinhas e que têm alguém interessado, fazendo foto e coisa... elas estão perdendo muito, porque atrás de um gringo, já tem foto dela, há muito tempo, lá fora. Elas nem sabem, nunca viram aquele homem, mas ele já viu as fotos delas e o dono do clube diz: ´eu quero esta ou aquela’ ... e aí vem e se casa, até com nome falso. Elas já casaram até com alemão, vão para outra cidade e casam-se...” (Relatório Região Nordeste)
(e) Rede de tele sexo: anúncios de jornais, internet e TVs (circuito interno). O Aliciamento também pode ser feito através dos serviços de tele sexo, dos classificados e da internet. O desenvolvimento tecnológico, seja através da utilização de telefones celulares, internet e de circuitos internos de tv, facilita a interação entre os membros da rede de tráfico, a mobilidade e o controle das ações em diferentes estados.
“...circulou em Belém um folheto de ‘Agenciamento Internacional’, com o seguinte texto: ‘BRASIL/HOLANDA Quer encontrar um homem gentil? Um Europeu? Pegue sua chance pra ser feliz! Vida nova! ATENÇÃO! Damas a partir de 21 anos, que sonham em conhecer o seu príncipe encantado, chegou a hora!!! Conheça um europeu gentil, carinhoso e com estabilidade. Ajudamos você!’” (Relatório Região Norte)
 “... A divulgação de fotos de índias pela internet... a preferência por nordestinas, negras e analfabetas, podem fazer do Maranhão um Estado com altos índices de tráfico, no futuro próximo, abastecendo o mercado internacional...” (Relatório Região Nordeste)
(f) Rede da indústria do turismo: agências de viagem, hotéis, spa’s/ resorts, taxistas, transporte do turista.
“... em Foz do Iguaçu, de acordo com a pesquisa de campo, os motoristas de táxi têm um acordo com as casas de prostituição, que funciona da seguinte maneira: o cliente escolhe a moça que deseja (que algumas vezes é menor de idade) através de álbuns de fotos... em seguida a moça é contatada e o motorista de táxi vai apanhá-la para a realização do programa...” (Relatório Região Sul)
“Agência de casamentos da Alemanha oferece mulheres brasileiras a U$ 5 mil. O Globo, RJ, 07/03/1997.” MELAZO, Fernanda. “Brasileiras postas à venda na Europa”. Correio Braziliense, 07/03/97. P. 09. BORGES, Carla. “Comércio sexual na Europa explora brasileiras”. O Popular, Goiânia, 04/3/1997. P. 06.
“... alguns declararam que eles próprios já levaram, várias vezes, meninas para Porto Iguazu, na Argentina, para trabalharem como prostitutas...” (Relatório Região Sul)
Realizadas pela equipe de pesquisa da Região Sul, as entrevistas com três taxistas com mais de 10 ‘anos de praça’ e com um gerente de uma cooperativa de táxi, deixam claro o envolvimento de motoristas, fato conhecido por todos os que atuam diretamente na profissão, ou no próprio meio da prostituição. A equipe relatou que “...de fato, segundo os testemunhos daqueles profissionais, os indivíduos que fazem o serviço de entrega de garotas de programa, maiores de idade ou não, é feito por pessoas que pagam pelo uso do táxi ou que roubam o veículo e que, na maioria das vezes, não possuem o registro profissional. O serviço de táxi é altamente usado no tráfico interestadual, levando as jovens de uma boate da cidade X para a cidade Y, dentro do estado. Atuam, também, como representantes dos donos das boates. Ponto comum em todos as entrevistas com as prostitutas, este aliciamento é sempre feito com menores de idade que, por inexperiência de vida, acabam acreditando nas promessas feitas”.
(g) Redes de agenciamento para projetos de desenvolvimento e infraestrutura: recrutamento para frentes de assentamentos agrícolas, construção de rodovias, hidrovias, mineração (garimpos) e outros.
“A atividade de mineração em Roraima movimenta o setor terciário, principalmente nas atividades de apoio ao garimpo, como o comércio de material e de equipamentos, de gêneros alimentícios, casas decâmbio, serviços hoteleiros, e de instituições financeiras que sofreram maiores impactos após o arrefecimento da mineração. A estrutura produtiva do Estado, concentrada no setor terciário e sem uma base de sustentação nos outros setores, coloca Roraima como um Estado de crescimento de índices sociais negativos, tais como desemprego, criminalidade, violência doméstica, trabalho infantil, dentre outros”.(Relatório Região Norte).
“... Santa Elena (Venezuela) é uma cidade onde há muitos militares, jovens servindo o Exército, e garimpos de ouro e diamante. O controle de entrada na Venezuela, na fronteira de Santa Elena, não é muito rígido nem do lado brasileiro nem do venezuelano. As pesquisadoras entraram e saíram da Venezuela sem que nenhuma documentação fosse exigida. ‘Mesmo sem passaporte, conseguimos, do escritório de controle de migração estrangeira, uma autorização, por cinco dias, para irmos mais “para dentro” ’ (termo utilizado para designar a saída da fronteira e entrada na Venezuela). Isto também faz supor uma certa facilidade de locomoção dentro do território venezuelano, sem a necessidade do passaporte ou qualquer outro controle.” (Relatório Região Norte) 
Em decorrência dos grandes projetos de infraestrutura (Tucuruí) e de mineração (Trombetas, Barcarena e Carajás) e da ‘corrida do ouro’ no sul e no sudeste do Estado (Carajás e Tapajós), o Pará abrigou, nos anos oitenta e noventa do século passado, grandes movimentos migratórios. 
O mercado da prostituição desenvolveu-se acompanhando a mesma lógica, isto é, seguindo os fluxos migratórios, aumentando e diminuindo de acordo com o ritmo da movimentação das obras e da garimpagem. O jornalista Gilberto Dimenstein (1992), baseado em pesquisa do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, e em observações pessoais, denunciou a existência, no Estado, da prostituição infanto-juvenil e de cárcere privado de mulheres, e que muitas, submetidas a violência física, terminavam morrendo.
A pesquisa “Prostituição e Adolescência” confirmou a prática de exploração sexual nos garimpos do Vale do Tapajós e perto do Porto Trombetas. No período desta pesquisa, observou- se que mulheres e adolescentes (75% das 79 pessoas entrevistadas), provinham de municípios do próprio Estado do Pará. As redes envolvidas no aliciamento, no deslocamento e no alojamento destas pessoas eram formadas por grupos pouco estruturados, geralmente familiares, e submetidas a outros grupos dominantes, os chamados “donos de garimpo” e “donos de pista”, que, de certa forma, terceirizaram o mercado de sexo em suas propriedades. 
A decadência dos garimpos diminuiu todas as atividades econômicas, inclusive a sexual. No Porto Trombetas, a situação continua por causa do grande movimento de navios embarcando minérios. No estudo “Meninas Sem Bonecas e Sem Sonhos, Apenas Objetos de Prazer: A Prostituição em Cametá: 1980 a 1993”, afirma que, nesta cidade, o comércio do sexo teve um significativo aumento, vinculando-se à implantação do Projeto Tucuruí.
ROTAS DE TRÁFICO
Rota Norte: levadas de trem ou de carro até as cidades lusitanas do Porto, Braga, Chaves, Bragança, Valença do Minho e Viana do Castelo. Na fronteira com a Espanha, na região da Galícia, elas são enviadas para vários pontos de prostituição em Vigo, La Coruña, Gijón, Porriío, Oviedo e Pontevedra. Na Pista que liga Vigo a Madri estão instalados mais de 80 bordéis de beira de Estrada.
Rota “Rede Mississipi”: Possui 5 prostíbulos na estrada Vigo-Madri, onde estão mais de 100 brasileiras. Além de contar com um prostíbulo em Madri, na autopista de Burgos, onde, segundo jornal, já foram encontradas 25 brasileiras em estado de semiescravidão. A principal opção dos traficantes dessa rede é a travessia dos rios Minho e Douro, que dividem Portugal e Espanha pelo Norte. Feita em embarcações de médio e pequeno porte, não enfrentam qualquer fiscalização das polícias dos dois países.
Rota Central: Abastece toda a parte centro-oeste da Espanha. De Lisboa, as brasileiras viajam pouco mais de 100 km até a cidade espanhola de Badajos, na Fronteira com Portugal. Desta cidade, as jovens são levadas para as dezenas de prostíbulos instalados na Região da Extremadura.
Rota Direta: Lisboa – Madri, sem escalas.
A Espanha é o destino mais frequente das brasileiras, com 32 rotas, seguida pela Holanda e pela Venezuela, com 11 e 10 rotas, respectivamente. A predominância da Espanha como País receptor de mulheres traficadas é reforçada por levantamento do Itamaraty (Folha de São Paulo, 29/11/00), estudos de inquéritos e processos, e pelos relatórios regionais que compõem a PESTRAF. Na mesma matéria da Folha de São Paulo (de 29/11/00), são apresentados dados levantados em 1998, pelo Consulado Brasileiro na Espanha, que demonstram que, apenas naquele ano, 461 brasileiras foram deportados em razão de estarem em situação ilegal. 
De acordo com a Pesquisa de Mídia/PESTRAF - Banco de Matérias Jornalísticas 2002, o envio de mulheres para a Espanha é quase sempre creditado a uma mesma organização criminosa, a “Conexão Ibérica”, que, de acordo com matéria publicada no dia 29/ 07/2001, pelo Correio Braziliense, utiliza Portugal como porta de entrada. 
A “Conexão Ibérica” é formada por diferentes organizações criminosas, dentre as quais se destaca a máfia russa, que movimenta US$ 8 bilhões por ano, através de seus prostíbulos em Portugal e na Espanha. Lisboa seria a porta de entrada das brasileiras nesta rota, pois o sistema de controle de imigração da capital portuguesa não impõe grandes dificuldades às brasileiras. 
A mobilidade conquistada pela rede de tráfico é capaz de transferir as pessoas traficadas de acordo com suas rotas ou com a repressão policial. Assim, locais que, em um determinado momento, surgem como “destino”, em outros tornam-se “passagem”, conforme ilustra a matéria “Máfia da Prostituição em Israel ainda Explora 15 brasileiras”, publicada pelo jornal O GLOBO, do Rio de Janeiro:
“...pelo menos outras 4 brasileiras também estão nas mãos de pessoas ligadas à rede...elas teriam sido levadas de Tel Aviv para uma casa de prostituição em Eilat, uma cidade turística a 4 horas de carro de Tel Aviv... ‘lá, a situação é ainda pior do que nas boates em Tel Aviv. As meninas apanham quando fazem qualquer coisa’, denunciou (uma carioca)” (12/11/1998)
De acordo com a pesquisa, referente as rotas nacionais e internacionais, percebe-se que a soma das rotas interestaduais e intermunicipais totaliza 110 (45,41%), demonstrando que o tráfico interno é quase tão expressivo quanto o internacional.
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA
Art. 218-B - Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.
 Pena - reclusão, de quatro a dez anos.
1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. 
2º Incorre nas mesmas penas: 
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; 
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2, constitui efeito obrigatório da condenação à cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
Art. 228 do CP – Induzir ou atrair alguém à prostituição, ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
§1º - Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.  
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. 
§2º - Se o crime é cometido com emprego da violência, grave ameaçaou fraude:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena correspondente à violência. 
§3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
 Art. 229 do CP – Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa
TRÁFICO DE CRIANÇAS
O tráfico de crianças é uma das formas de tráfico humano, constitui uma prática de sequestro, desaparecimento e ocultação da identidade das crianças, muitas vezes através de partos clandestinos e adoções ilegais. É uma prática usada por quadrilhas para seu financiamento. Igualmente, tem sido uma prática utilizada em regimes ditatoriais, principalmente como uma forma de retaliação contra as mulheres ou famílias que não são leais ao regime, tal como na Argentina durante o Processo de Reorganização Nacional e na Espanha franquista.
O tráfico de crianças destina para adoção ilegal, a exploração infantil, tanto para trabalho - serviço doméstico, trabalho escravo em campos, minas, plantações e fábricas - como sexual - para a prostituição e corrupção de menores, pornografia infantil, abuso sexual de crianças - atividades criminais, roubo ou mendicidade e uso militar das crianças.
Diariamente, em várias partes do mundo, existem crianças que são compradas, vendidas e transportadas para longe de suas casas. O tráfico de seres humanos é um negócio multimilionário que continua a crescer em todo o mundo, apesar das tentativas de detê-lo. 
O tráfico de crianças constitui uma das mais graves violações dos direitos humanos no mundo atual e ocorre em todas as regiões do mundo. No entanto, foi somente na última década que a prevalência e consequências desta prática ganharam notoriedade internacional, devido a um aumento drástico na investigação e ação pública. A cada ano, centenas de milhares de crianças são contrabandeadas através das fronteiras e vendidas como objetos. Sem direito à educação, à saúde, a crescer dentro de uma família ou da proteção contra abusos, estas crianças são exploradas por adultos, enquanto o seu desenvolvimento físico e emocional e sua capacidade de sobreviver estão ameaçados.
ADOÇÃO ILEGAL
Apesar das novas leis o tráfico de crianças continua em todas as regiões do Brasil. O indicador para o Norte, Nordeste e Centro Oeste é o turismo sexual, o lenocínio e no Sudeste o turismo sexual, a prostituição e a pornografia. Já no Sul os indicadores são a prostituição e a adoção ilegal. 
O que mais favorece o tráfico de crianças é a facilidade com que conseguem entrar com pessoas em outros países e para isso usam a corrupção que começa pela polícia que ajuda os traficantes a passarem os limites do território, dando-lhes dinheiro e a liberdade de escolherem moças e crianças para satisfazerem seus desejos sexuais. Além disso é fácil promover o lenocínio pois as próprias famílias entregam seus filhos para trabalharem fora, às vezes até mesmo sabendo o que acontecerá à elas, ou quando as vítimas são tiradas a força. 
No que se refere à adoção internacional de criança, nos anos de 1980 a 1990, 19.071 crianças brasileiras já eram adotadas por famílias no EUA e na Europa, e sua situação após a adoção era uma incógnita. Em Goiás e no Ceará também houve denúncias de esquema de adoção internacional irregular, após cinco anos de investigação, a Polícia Federal prendeu 16 pessoas. No Ceará a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do tráfico de bebês constatou que num total dois mil processos de adoção internacional, 1.900 são processos fraudulentos. No Rio de Janeiro também foram identificadas redes de tráficos de crianças, essas redes usavam creches e até missões religiosas.
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA
Art. 238 - Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa. 
Art. 239 - Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:
 Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. 
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
 Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência
TRÁFICO DE ÓRGÃOS
O tráfico de órgãos é a prática ilegal de comércio de órgãos humanos (coração, fígado, rins, pâncreas etc.) para o fim de transplante e é mais uma forma de exploração decorrente do tráfico de pessoas. Pode ocorrer com ou sem o consentimento da vítima “doadora” do órgão, no primeiro caso, remetendo ao mercado de venda de órgãos onde os próprios “doadores” negociam o preço de seus órgãos cuja retirada não culmine sua morte, como no caso de retirada de um dos rins, e no último caso, quando a vítima tem seus órgãos, vitais ou não, retirados sem consentimento. 
No entanto, apesar de o tráfico de órgãos humanos e partes do corpo ser mencionado em vários documentos, a maioria considera apenas o tráfico de pessoas para a remoção de órgãos em vez do tráfico de partes do corpo humano. Além disso, verifica-se que não existe uma definição compreensiva e internacionalmente reconhecida de tráfico de partes do corpo.
Segundo o Protocolo de Palermo, que constitui uma das principais ferramentas legais para o combate ao tráfico de seres humanos, “O tráfico de órgãos em si, separado do doador, não é abordado pelo Protocolo, visto que a remoção de órgãos nem sempre implica elementos coercitivos; para constituir crime de tráfico de seres humanos para remoção de órgãos, a pessoa tem que ser transportada com a finalidade de remoção de seus órgãos”. 
Apesar do Brasil ter ratificado a Convenção de Palermo, em 2004, o país ainda não dispõe de uma legislação específica para o tráfico de pessoas, eximindo-se de abarcar diversos pontos do tráfico de pessoas, não havendo, assim, disposição legal acerca do tráfico de órgãos, por exemplo.
No entanto, foi aprovada pela Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, no dia 19 de agosto de 2009, a proposta de incluir no Código Penal Brasileiro a tipificação dos crimes de tráfico internacional e interno para a exploração do trabalho escravo, exploração sexual e econômica, além do tráfico de tecidos e partes do corpo.
COMO ACONTECE O TRÁFICO DE ÓRGÃOS
O tráfico de órgãos envolve a colheita e a venda de órgãos de doadores involuntários (conseguido pela força) ou doadores que vendem seus órgãos em circunstâncias questionáveis.
Esta questão atinge diretamente a dignidade e a liberdade humana. Segundo Debra Budiani-Saberi, estudiosa do tráfico de órgãos desde 1999, “Indivíduos em situação de vulnerabilidade, como refugiados, podem ser forçados a ficar em dívida e então receberem uma oferta “oportuna” para “doar” um órgão e pagar a dívida”.
Os traficantes de órgãos, assim, operam de várias maneiras: as vítimas podem ser sequestradas e forçadas a desistir de um órgão, algumas, por desespero financeiro, concordam em vender um órgão, ou são enganadas ao acreditar que precisam de uma operação cirúrgica e o órgão é removido sem o seu conhecimento; algumas vítimas acabam sendo assassinadas.
A falta de fiscalização em hospitais e em autópsias facilita ação das máfias e alimenta o comércio clandestino que vende órgãos específicos ou até cadáveres inteiros. Como resultado, os criminosos fazem uma fortuna em clínicas antiéticas que compram órgãos e transplantam para pacientes com condições financeiras que viabilizam a compra.
O tráfico de órgãos é feito muitas vezes às custas de pessoas pobres em países de baixo ou muito pouco desenvolvimento. Há países, como a Índia e o Paquistão, onde, nos últimos anos, foram criadas organizações especializadas no turismo dos transplantes, quando pacientes que necessitam de doaçãode órgãos viajam até as localidades onde é mais fácil de encontrar tal prática. Elas se encarregam de pôr em contato o doador e o comprador e organizam as intervenções em hospitais e clínicas complacentes localizadas em países do Extremo Oriente e outros situados no Hemisfério Sul.
DADOS E ESTATÍSTICAS 
O tráfico de órgãos é o 3º crime mais lucrativo no mundo.
O tráfico de seres humanos vitimiza, por ano, em torno de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, segundo estimativas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), uma média de 100 mil pessoas são deslocadas para outros territórios, obrigadas ou enganadas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, em 2010, 11 mil órgãos foram traficados ilegalmente. A maior parte dos órgãos vendidos espontaneamente por doadores no mercado negro é constituída de rins, estimada em 75%, uma vez que a extração e a implantação desse órgão não exige operações particularmente complexas e não necessita de equipamentos sofisticados nem de competência de altíssimo nível, mas também são traficados em grande escala fígados e córneas.
Ainda segundo a OMS, a cada ano, no mundo, são executados cerca de 22 mil transplantes de fígado, 66 mil transplantes de rim e 6 mil transplantes de coração. Cerca de 5% dos órgãos utilizados nessas intervenções provêm do mercado negro, com um volume de negócios estimado entre 600 milhões e 1,2 bilhão de dólares.
Segundo a Global Finance Integrity, uma ONG especializada no rastreamento de fluxos financeiros ilegais, os números desse macabro comércio encontram-se em constante aumento.
O mesmo relatório da OMS comenta o que acontece no mercado chinês dos órgãos humanos oficialmente "doados" pelos prisioneiros condenados à morte (12 mil rins e 900 fígados apenas em 2005, ano em que os números foram confirmados; depois disso, as autoridades do país preferem silenciar a respeito do assunto).
Na verdade, esses órgãos foram vendidos a preço alto a outros cidadãos chineses que possuem recursos ou a pacientes estrangeiros dispostos a pagar caro para não ter de esperar numa fila de doações legais.
Há ainda grande escala desse comércio envolvendo crianças. No Brasil, por exemplo, são encontrados a cada dia, em média, dois cadáveres de crianças com órgãos removidos. Às vezes, as crianças são raptadas e depois aparecem vivas, mas sem uma parte do corpo, com cicatrizes indicativas das operações, ou cegas pela retirada das córneas.
TABELAS: VALOR DE UM RIM PELO MUNDO
	QUANTO CUSTA UM RIM (em dólares) 
Órgão responde por 80% desse tipo de comércio no mundo
	
ESTADOS UNIDOS >>> 30.000
ISRAEL >>> 20.000
PERU/TURQUIA >>> 10.000
BRASIL >>> 6.000
MOLDÁVIA/ROMÊNIA>>> 3.000
ÍNDIA/FILIPINAS >>> 1.500
ÓRGÃOS EM GERAL
ROTAS DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS
As principais rotas do tráfico humano abrangem como “fornecedores” países da América Latina, Rússia, China, índia, Paquistão e Afeganistão. Tem como principais destinatários os Estados Unidos, Israel e países ricos da Europa, dentre eles, Inglaterra, França, Alemanha e Itália.
MAPA COM AS ROTAS
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA
Art. 14 da Lei nº 9.434, de 04.02.1997 – Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei:
Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa. 
§1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe:
Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa. 
§2º - Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido: 
I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
II – perigo de vida; 
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV – aceleração de parto.
Pena – reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa. 
§3º - Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta para o ofendido: 
I – incapacidade para o trabalho;
II – enfermidade incurável;
III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV – deformidade permanente.
TRÁFICO HUMANO E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
TRÁFICO HUMANO E O CÓDIGO CIVIL
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
TRÁFICO HUMANO E O CÓDIGO PENAL
Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. 
§ 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (Alterado pela Lei nº 12.015, de 07.08.2009)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. 
§ 2º A pena é aumentada da metade se: 
I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; 
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou 
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
§ 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. 
TRÁFICO INTERNO COM FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
Art. 231-A. Promover ou facilitar odeslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
TRÁFICO INTERNACIONAL DE TRABALHADORES
Art. 206. Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los para território estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 8.683, de 1993)
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. 
TRÁFICO INTERNO DE TRABALHADORES
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional:
Pena - detenção de um a três anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998) 
1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)  
2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998) 
REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; 
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.  
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: 
I – contra criança ou adolescente; 
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
TRÁFICO HUMANO E OS DIREITOS HUMANOS
São exemplos de importantes Tratados Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos:
Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial (1968); 
Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher - CEDAW (1979); 
Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (1989); 
Convenção sobre os direitos da criança (1989); 
Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher – “Convenção de Belém do Pará” (1994).
O mais importante desses instrumentos internacionais para o enfrentamento ao tráfico de pessoas foi celebrado em 25 de novembro de 2000 e denomina-se “Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças”, conhecido como Protocolo de Palermo.
O Protocolo de Palermo foi importante para que o Brasil pudesse modificar a sua legislação interna. Antes de 2005, o nosso Código Penal só previa pessoas do sexo feminino como vítimas do crime de Tráfico de Pessoas. O crime de “tráfico de mulheres” foi modificado pela Lei n°. 11.106 /05. O Código Penal Brasileiro passou a tipificar dois crimes, no art. 231, o crime de “tráfico internacional de pessoas”, e, no art. 231-A, o de “tráfico interno de pessoas”. A partir dessa alteração, qualquer pessoa, seja homem, mulher, adulto, criança ou adolescente, passou a poder ser reconhecida como vítima desse crime.
POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS
No Brasil, para garantir efetividade ao Protocolo de Palermo, o governo brasileiro publicou, em 2006, a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e, em 2008, o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP);
O Plano Nacional estabelece um conjunto de princípios, diretrizes e ações orientadoras da atuação governamental na área do enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil. Em linhas gerais, a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas estabelece três grandes eixos de atenção prioritária do estado: a) prevenção ao tráfico de pessoas (art. 5°); b) repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores (art. 6°); e c) atenção às vítimas (art. 7°);
De acordo com a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, as políticas públicas devem contribuir para: a) compreensão das causas estruturais que tornam alguns grupos sociais mais vulneráveis ao tráfico de pessoas, e b) diminuição da vulnerabilidade de determinados grupos sociais ao tráfico de pessoas.
PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS
As ações de atenção e assistência às vítimas devem assegurar um tratamento justo, seguro e não discriminatório. A assistência consiste em: reinserção social, assistência consular, proteção especial a testemunhas e acesso à Justiça;
Atualmente existem 15 Núcleos de ETP e 11 Postos de atendimento avançado situados em locais estratégicos de entrada e saída do País, como aeroportos internacionais, rodoviárias e portos;
Nem todos os postos funcionam adequadamente, até mesmo por envolver questões partidárias. É importante que a sociedade civil se articule com o Núcleo e Posto e que juntos desenvolvam ações no campo da atenção às vítimas e prevenção ao tráfico de pessoas. Além disso, é necessário que todo estado possua um Plano Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e um Comitê Estadual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
CONCLUSÃO
Os polêmicos debates sociais e jurídicos sobre o tráfico mudaram ao longo dos séculos, e provavelmente continuarão a mudar em função de novas pesquisas, interesses políticos, análises feministas, antirracistas e de justiça social, e de mudanças nas condições econômicas globais.
O que foi alguma vez definido como um problema de “tráfico de escravas brancas” é agora visto como um problema de migração internacional do trabalho e exploração do trabalho, que ficam além do controle ou do alcance do estado. Contudo, por ver esse movimento subterrâneo e sem documentos e esse uso de trabalho como um problema de crime organizado transnacionalmente e fronteiras porosas, está ocorrendo uma vigilância e um policiamento globais acentuados dos mundos das massas pobres escuras e negras, o que ajuda a reforçar a hegemonia dos mais poderosos do mundo.
Problemas estruturais globais que produzem o tráfico – globalização, patriarcado, racismo, conflitos e guerras étnicas, devastação ecológica e ambiental e perseguição política e religiosa – são raramente tocados no paradigma hegemônico sobre o tráfico. São esses problemas estruturais que permanecem como fenômenos globais importantes para analisar, desconstruir e combater. 
O que se espera é que no futuro se façam mais pesquisas e teorização cuidadosa sobre o tema dos prejuízos na economia política global, pesquisas e teorização que ajudarão a deter a erosão dos direitos e segurança dos “que nada têm” e que contribuirão para o estabelecimento de segurança econômica, social e política para todos.
Apesar de haver uma série de políticas de enfrentamento ao tráfico de pessoas, talvez esqueçamos a verdadeira razão para o tráfico seja ele para o trabalho escravo, para fins de exploração sexual, ou ainda para o tráfico de órgãos só existe por uma razão: a vulnerabilidade. 
Dessa forma, se faz mister concluir que onde há ausência do Estado, há a presença do crime organizado. E a desigualdade social e a ausência do Estado são respectivamente a sombra e a escuridão da Justiça.
BIBLIOGAFIA
Castilho, Ela Wiecko V. de. Tráfico de pessoas: da Convenção de Genebra ao Protocolo de Palermo. Disponível em: http://www.danielaalves.com.br/wp-content/uploads/2008/05/artigo_trafico_de_pessoas.pdf. Acesso em: 10 de abril de 2014.
Nascimento, Pe. João Maria do. Tráfico Humano. Tribunado Norte. Publicação: 21 de Março de 2014 às 00:00.
Dhnet. Principais Rotas do Tráfico de Seres Humanos. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/novosdireitos/traficoseres/principais_rotas_trafico_pessoas.pdf. Acesso em: 10 de abril de 2014.
Venson, Anamaria Marcon e Pedro, Joana Maria. Tráfico de pessoas: uma história do conceito. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol.33 no.65. 2013.
Maciel, Ana Paula Silvestri. Tráfico de Seres Humanos – Parte 1. Disponível em: http://era.org.br/2012/04/trafico-de-seres-humanos-parte-1/. Acesso em: 10 de abril de 2014.
Lara, Sthefany. Tráfico Humano Aumenta 47% na Região de Sorocaba. Cruzeiro do Sul, Sorocaba, 05 abr. 2014. Caderno de Domingo.
BRASIL. Plano nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas. / Secretaria Nacional de Justiça. Brasília:SNJ, 2008. 
BRASIL. Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Brasília: OIT, 2006. 
BRASIL. Ministério da Justiça. Decreto nº 5.015 de 12 de março de 2004. Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional. Protocolo de Palermo. Disponível em < http://www.mj.gov.br >. Acesso em: 11 de abril de 2014
LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de Fátima P. (orgs). Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial –PESTRAF: relatório nacional – Brasil. Brasília: CECRIA, 2002.
_______. Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso em: 11 de abril de 2014. 
_______. Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5015.htm>. Acesso em: 11 de abril de 2014 . 
DELMANTO, Celso. Código penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar, 7 ed., 2007, 1336 p. GAATW. Dano Colateral: O impacto das medidas anti-tráfico nos direitos humanos do mundo. Tailândia, 2007, 33 p.
http://traficodepartesdecorpo.blogspot.com.br/2009/10/nao-existe-uma-definicao.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%A1fico_de_%C3%B3rg%C3%A3os
http://auafricaunite.blogspot.com.br/2009/11/trafico-internacional-de-pessoas-o_9663.html
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/114350/Tr%C3%A1fico-de-%C3%B3rg%C3%A3os-humanos-Um-mercado-negro-em-expans%C3%A3o.html
http://www.epochtimes.com.br/trafico-de-orgaos-um-novo-crime-do-seculo21/#.U0aT8dJdWWE
http://biodireitomedicina.wordpress.com/2011/08/15/trafico-de-pessoas-e-trafico-de-orgaos-atinge-100-mil-brasileiros-por-ano/
http://alagoasreal.blogspot.com.br/2013/04/trafico-de-orgaos-mafia-bem-estruturada.html
http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/trafico-de-orgaos-o-horror-do-crime-invisivel
http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/brasil-no-mundo/2014/02/16/trafico-de-orgaos-uma-tragedia-silenciosa/
http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002194/219464por.pdf
Constituição Federal
Código Penal
Código Civil
ECA

Outros materiais