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Brasília-DF. Educação NutricioNal E GastroNomia para paciENtEs rENais Elaboração Aline David Silva Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL ......................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 TRANSIÇÃO NUTRICIONAL: OBESIDADE E DOENÇAS CRÔNICAS RELACIONADAS ...................... 9 UNIDADE II ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE ............................................................................................ 33 CAPÍTULO 1 ALIMENTAÇÃO E INCIDÊNCIA DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS ........................ 33 UNIDADE III GASTRONOMIA NA DOENÇA RENAL .................................................................................................... 54 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À GASTRONOMIA ............................................................................................ 54 CAPÍTULO 2 ALIMENTOS RECOMENDADOS E ALIMENTOS PROIBIDOS NAS DOENÇAS RENAIS ...................... 59 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 82 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução A alimentação inadequada está associada com a transição nutricional e aumento das doenças crônicas não transmissíveis. Neste contexto, surgem as doenças renais que também tem aumentado a cada ano. Isso preocupa a comunidade científica sobre as consequências da doença, principalmente no que se refere ao estado nutricional e consumo alimentar. Desta forma, a alimentação balanceada pode prevenir e auxiliar no tratamento das doenças renais. Para tal, é fundamental conhecer as necessidades individuais de cada paciente, atentando para os alimentos permitidos e proibidos para o quadro da doença renal. Ainda, é importante ter noções básicas de gastronomia para adequado preparo e manutenção do sabor dos alimentos. Portanto, a associação da técnica dietética e gastronomia com a terapia nutricional pode recuperar ou manter a saúde do paciente. Objetivos » Auxiliar na promoção da saúde e bem-estar do indivíduo. » Discutir a prática de uma alimentação saudável e o melhor aproveitamento dos nutrientes que são indispensáveis à manutenção e recuperação da função renal. » Conhecer a interação da alimentação com a terapia medicamentosa, diálise e transplante renal. 9 UNIDADE I TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL CAPÍTULO 1 Transição nutricional: obesidade e doenças crônicas relacionadas A partir da década de 1960, alterações nos padrões de morbimortalidade da população vêm sendo objetivamente estudadas e analisadas sob o enfoque dos processos de Transição Demográfica, Transição Epidemiológica e Transição Nutricional. Segundo Alvez (1994), a transição demográfica ocorre quando há queda das taxas de mortalidade e natalidade, provocando uma forte mudança na estrutura etária da população, levantando como questão social a “Terceira Idade”, com implicações significativas para os sistemas de saúde e previdenciários e para as taxas de morbidade/ mortalidade. Com o objetivo de entendimento sobre a transição demográfica, Frederiksen (1969) verificou que “modificações no nível do desenvolvimento de cada sociedade correspondiam a modificações no padrão de morbimortalidade”. Nos países em desenvolvimento, estes padrões se apresentam com redução das doenças infecciosas e crescente aumento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) as quais ganham destaque como causa de óbitos. O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população aumentam a probabilidade de acometimento de DCNT, normalmente com maior incidência entre os idosos. A transição epidemiológica é o resultado das variações comportamentais dos padrões de morbimortalidade e natalidade, que determinam mudanças na estrutura populacional, ao se processarem as alterações na maneira de adoecer e morrer. Segundo Omram (2001), a transição epidemiológica pode ser definida como a evolução gradual dos padrões de morbidade, invalidez e morte de uma população específica, a qual passa de apresentar altos índices de morbidade e mortalidade por doenças infecciosas a altas taxas de morbimortalidade predominantemente por DCNT. 10 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL A transiçãonutricional integra os processos de transição demográfica e epidemiológica, e de acordo com Popkin et al. (1993), é definida como o processo de modificações sequenciais no padrão de nutrição e consumo, que acompanham mudanças econômicas, sociais e demográficas, e do perfil de saúde das populações, ou seja, ela descreve uma tendência no consumo alimentar, na produção comercialização de alimentos e no estilo de vida. A modernização e crescente urbanização ocorridas desde a última metade do século XX provocaram mudanças econômicas, sociais e demográficas, atuando na alteração dos padrões de perfil nutricional da população, influenciando no contexto do processo saúde-doença das populações, gerando um aumento das prevalências de sobrepeso e diminuição na incidência de desnutrição, caracterizando a transição. Hoje em dia o ser humano nasce, vive, adoece e morre de forma bem diferente do modelo prevalecente na primeira metade do século XX, a humanidade caminhou de uma situação em que a vida média da população se situava em torno da idade de Cristo, longevos 33 anos, para uma expectativa de vida de mais de 80 anos, nas nações desenvolvidas (OMS, 2009). É o modelo atual da economia de mercado, que foi influenciado pela modernização dos hábitos alimentares, antes se coletava, produzia e consumia os alimentos naturais, hoje em dia consumem-se marcas e embalagens promovidas pelos interesses e estratégias do mercado; a sociedade moderna parece convergir para a chamada “dieta ocidental”, a qual se caracteriza como uma dieta rica em gordura saturada, açúcar e alimentos refinado e pobre em fibras, que está intimamente ligado ao aumento dos níveis de comorbidades crônicas e degenerativas não transmissíveis. Brasil Pode-se dizer que o Brasil ainda está no estágio intermediário da transição demográfica/ epidemiológica/nutricional, porém sem uniformidade em todo o país. Os níveis de transição das Regiões Sul e Nordeste, por exemplo, são paradoxais, com uma grande variação na proporção de mortes por doenças infecciosas e parasitárias. O aumento dos valores da mortalidade proporcional por DCNT e causas externas vem mostrando que o país está avançando na transição, com números próximos a, ou ultrapassando, 50% das causas de morte, o que parece bastante semelhante ao que ocorre em países desenvolvidos como EUA e Europa. Atualmente verifica-se redução das taxas de mortalidade entre as crianças, adolescentes e mulheres em idade reprodutiva, correlacionadas com fatores causais como: a interação 11 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I doenças infecciosas/processos carenciais, ou seja, a desnutrição energético-proteica, que ainda hoje é associada a 55% das mortes em crianças no mundo em desenvolvimento; a deficiência de vitamina A que contribui para 25% do risco de morte das diarreias em crianças; a anemia, a mais resistente das doenças carenciais, com uma prevalência de 25% entre a população humana, ainda acomete entre 47,4 e 41,8%, respectivamente, de todos os pré-escolares e mulheres grávidas do mundo. Já na outra extremidade da transição, representando as doenças causadas pelos hábitos modernos e atingindo predominantemente a população idosa, conjugam-se os processos crônicos não transmissíveis: o diabetes mellitus, a obesidade, a hipertensão arterial sistêmica, os processos degenerativos do sistema nervoso central, agrupando-se em comorbidades associadas à alimentação hipercalórica, às gorduras trans, aos ácidos graxos saturados, ao consumo excessivo do açúcar e do sal, às calorias vazias dos refrigerantes, ao uso imoderado do álcool, ao fumo, ao sedentarismo e outras práticas não saudáveis do estilo de vida ocidental. Verifica-se que a transição demográfica no Brasil é de uma sociedade rural e tradicional para uma sociedade urbana e moderna, com quedas das taxas de natalidade e mortalidade. Figura 1. Fonte: Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/distribuicao-da-populacao-por-situacao-de-domicilio>. Acessado em: 24 jun. 2015. A urbanização acompanha importantes mudanças sociais, como a inserção da mulher na sociedade, rearranjos familiares, tecnologia, entre outros. Isso levou à queda da 12 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL fecundidade (Figura 2) e o aumento da longevidade que levaram ao envelhecimento acelerado da população brasileira, o que pode ser observado na Figura 3. Figura 2. Fonte: Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/taxas-de-fecundidade-total>. Acessado em: 24 jun. 2015. Figura 3. Fonte: Disponível em: <http://brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/distribuicao-da-populacao-por-grandes-grupos-de- idade>. Acessado em: 24 jun. 2015. Houve notável redução da mortalidade precoce no Brasil. A porcentagem de mortes antes dos 20 anos de idade passou de 12,2% em 2000 para 7,4% em 2010. Ainda, a taxa 13 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I de mortalidade infantil reduziu de 29,02 em 2000 para 14,4 em 2014. Cerca de 70,0% das mortes infantis no Brasil são evitadas por ações do Sistema Único de Saúde – SUS, porém, nossa taxa de mortalidade infantil ainda é superior às médias para a América do Norte (6,3 por 1000 NV) e América Latina e Caribe (15,6 por 1000 NV). Obesidade e doenças crônicas relacionadas Pode-se observar uma redução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias desde a década de 1940. Entre 2000 e 2010, este índice caiu de 4,7 para 4,3%. Esta queda deve-se ao êxito alcançado pela intervenção da área da saúde na prevenção por imunização. Desta forma, os casos de óbitos por sarampo, poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita, meningite, tétano, coqueluche e difteria em crianças menores de cinco anos de idade reduziu-se de 153 mil casos e 5,5 mil óbitos em 1980, para cerca de 2 mil casos e 50 óbitos em 2009. A obesidade provavelmente o distúrbio metabólico mais antigo na história da humanidade, havendo relatos da sua ocorrência em múmias egípcias e em esculturas gregas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, a obesidade atingiu proporções epidêmicas em todo planeta, atualmente ela é tão comum que está substituindo a desnutrição e as doenças infecciosas como a comorbidade que mais causa danos à saúde. A obesidade representa a mais importante desordem nutricional nos países desenvolvidos, tendo em vista o aumento de sua incidência: acredita-se que atinja 10% da população desses países e que mais de um terço da população norte-americana esteja acima do peso desejável. Conceito A obesidade é definida pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – ABESO (2009), como o aumento do peso corpóreo em relação ao peso ideal devido ao excesso de tecido adiposo no organismo, causando prejuízos à saúde do indivíduo. Trata-se de um fenômeno multifatorial, cuja origem envolve uma gama de condições heterogêneas com múltiplas causas que em última análise resultam no fenótipo de obesidade. Classificação Existem inúmeras formas de classificar a obesidade, embora algumas sejam mais populares que outras. 14 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL Classificação da obesidade de acordo com sua etiologia Segundo o critério etiológico, a obesidade pode ser classificada em exógena e endógena. Obesidade exógena Reflete o excesso de gordura corpórea decorrente do desequilíbrio energético positivo entre ingestão e demanda energética, ou seja, o indivíduo consome mais alimentos do que o necessário para suprir a quantidade de calorias gastas pelo seu organismo, o que resulta no acúmulo de gorduras. Obesidade endógena Possui causas hormonais provenientes de alterações do metabolismo tireoidiano, gonadal, hipotálamo-hipofisário, de tumores e síndromes. Classificaçãoda obesidade de acordo com o IMC A outra forma de se classificar a obesidade é a classificação pelo valor do Índice de Massa Corporal (IMC), que é uma medida que quantifica níveis de gordura do organismo. Segundo a OMS, é definido como o peso, em quilogramas, dividido pelo quadrado da altura, em metros, ou seja: IMC = Peso (Kg) Altura (m)² Ele é considerado a medida de obesidade mais útil a nível populacional. A classificação é apresentada no quadro a seguir, a obesidade é definida por um IMC≥30, mas inclui subdivisões. Quadro 1. Classificação da obesidade do adulto em função do IMC e risco de comorbidades. Classificação IMC (Kg/m²) Risco de comorbidades Peso Normal 18,5 – 24,9 Baixo Sobrepeso (Pré – obesidade) 25,0 – 29,9 Moderado Obesidade Grau I 30,0 – 34,9 Alto Obesidade Grau II 35,0 – 39,9 Muito Alto Obesidade Grau III ≥ 40,00 Extremo Fonte: (OMS, 2000). É importante ressaltar que esses valores não são válidos para crianças, estas possuem uma tabela específica, que leva em conta as variações de peso de acordo com a idade. 15 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I Assim, o IMC pode ser usado para estimar a prevalência da obesidade numa população, bem como os riscos a ela associados. Porém, embora exista uma boa correlação entre este índice e a massa gorda corporal, o IMC não entra em conta com a variação da distribuição corporal da gordura e pode não corresponder ao mesmo grau de obesidade ou riscos associados em diferentes indivíduos e populações. Além disso, em certos casos, nomeadamente nos atletas, nos indivíduos com edemas e com ascite, o IMC não é uma determinação viável da obesidade, pois não permite distinguir a causa do excesso de peso. Então, embora na maior parte dos casos se possa assumir que indivíduos com IMC ≥ 30 têm excesso de massa gorda no seu corpo, a OMS aconselha que os valores de IMC sejam interpretados com cautela. Classificação da obesidade de acordo com a distribuição corporal do excesso de tecido adiposo Obesidade androide Também denominada como obesidade abdominal, visceral, alta, central ou troncular. Acontece quando o tecido adiposo se acumula na metade superior do corpo, principalmente no abdômen. É mais comuns entre os indivíduos do sexo masculino, representa um alto risco para complicações metabólicas. Obesidade Ginoide Também conhecida por obesidade baixa, periférica ou gluteofemoral. Ocorre quando a gordura se distribui, principalmente, na metade inferior do corpo, particularmente na região glútea e coxas. É típica da mulher obesa. Figura 4. Biótipos da obesidade tipo ginoide e tipo androide. Fonte: Disponível em: <http://www.annebarros.com.br/2015/05/os-perigos-da-gordura-abdominal.html>. Acessado em: 24 jun. 2015. 16 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL Obesidade mista Ou obesidade generalizada ou difusa; a distribuição da gordura não se concentra em uma parte específica do corpo, ela se dá de forma difusa e homogênea. Etiologia A obesidade não é uma desordem singular, ela decorre de um grupo heterogêneo de condições com múltiplas causas que em última análise resultam no fenótipo da obesidade. A predisposição genética pode ser atenuada ou exacerbada por fatores não genéticos, tais como o ambiente em que o indivíduo convive e as interações psicossociais, que atuam sobre mediadores fisiológicos do gasto e consumo energético. Provavelmente a etiologia da obesidade é uma das mais complexas, o seu desenvolvimento possui múltiplas causas, e é resultado de interação entre fatores genéticos, psicológicos, socioeconômicos, culturais e ambientais. Fatores exógenos ou primários Desbalanço nutricional O balanço energético positivo tem papel de importância fundamental para a etiologia da obesidade exógena, dietas hipercalóricas tornam-se um fator muito relevante. Com a chamada “revolução alimentar”, que vem ocorrendo nas últimas décadas, houve mudanças nos hábitos alimentares da sociedade com o objetivo de se adequar ao estilo de vida atual, onde as pessoas passaram a ter menos tempo para realizar as refeições de forma adequada e balanceada, recorrendo a fast-foods, alimentos gordurosos, com baixa quantidade de nutrientes e fibras, e altos valores calóricos, que por aliarem a praticidade a sabor agradável, influencia a ingestão exacerbada. Inatividade física/sedentarismo À medida que a sociedade humana evoluiu, tornando-se mais desenvolvida e mecanizada, a demanda por atividade física diminuiu, por consequência, reduzindo o gasto energético diário. Existe uma relação inversa entre a inatividade física e a adiposidade; quanto mais ativo fisicamente for o indivíduo, menor será sua chance de vir a se tornar obeso, sendo o contrário também verdadeiro, a inatividade física levará ao aumento de peso. 17 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I Um estudo realizado por Negrão et al. (2000) mostrou que a prática regular de exercícios além de evitar a adiposidade, preserva a massa magra, atenuando os riscos de desenvolvimento da obesidade e outras comorbidades associadas, como a hipertensão, a diabetes e dislipidemias. Fatores psicológicos Tem sido reconhecida, pela comunidade científica, a importância dos fatores psicológicos na gênese da obesidade. Rodrigues et al. (2000) explica que o obeso poderia ser alguém que não consegue controlar a alimentação. O papel desempenhado pelos fatores psicológicos para o início ou piora do ganho de peso é amplamente relatado na clínica médica. Ansiedade, depressão ou situações de estresse podem acarretar uma desregulação do ponderostato e levar a um excesso ponderal. Estes fatores, provavelmente mediados por modificações dos neuropeptídios que induzem o aumento do apetite (TOUNIAN, 2008). Fatores socioeconômicos O nível socioeconômico influencia a obesidade por meio da educação, renda e ocupação, resultando em padrões comportamentais específicos que afetam a ingestão calórica, o gasto energético e a taxa metabólica. Cardoso et al. (2009) observou que nos países desenvolvidos há associação inversa entre o nível socioeconômico e o excesso de peso, ou seja quanto melhor o nível socioeconômico, menor a chance de desenvolvimento de obesidade, o que logicamente se dá pelo melhor acesso a alimentos saudáveis, como peixes, carnes magras, vegetais, frutas frescas são geralmente menos disponíveis para indivíduos em um grupo de nível socioeconômico menos favorecido. Hábitos alimentares adquiridos na infância A obesidade entre crianças e adolescentes tornou-se questão de saúde pública, entre os motivos está que o sobrepeso e excesso de gordura corporal quando crianças/ adolescentes aumenta as chances desses indivíduos de desenvolverem fatores de risco que os tornarão predispostos a maior incidência de distúrbios metabólicos e funcionais. Consequências sociais, emocionais, metabólicas e funcionais resultantes do sobrepeso na infância estimulam a maior ingestão alimentar e limitam a participação das crianças em atividades físicas, favorecendo a persistência do quadro de obesidade. 18 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL Além de que os comportamentos e hábitos inadequados quanto à dieta e atividade física incorporados nesta fase da vida são de difícil modificação na fase adulta. Fatores endógenos ou secundários Fatores genéticos Gigante et al. (1997) relata que sujeitos que referiam obesidade dos pais, apresentaram um risco de obesidade quase duas vezes maior que sujeitos cujos pais não eram obesos. Diversos estudos demonstram de forma evidente a participação do componente genético na incidência da obesidade. Estima-se que entre 40% e 70% da variação no fenótipo associado à obesidade tem um caráter hereditário. A influência genética como causa de obesidade pode manifestar-se atravésde alterações no apetite ou no gasto energético. Entretanto, a causa principal de obesidade ainda provém dos fatores alimentares, juntamente com a falta de prática física, tem papel fundamental na responsabilidade pela diferença na prevalência da obesidade em diferentes grupos populacionais. Doenças endócrinas Desordens endócrinas, como o hipotireoidismo e problemas no hipotálamo, podem conduzir a obesidade, mas estas causas representam menos de 1% dos casos de sobrepeso. Outros problemas dessa mesma origem incluem alteração do metabolismo de corticosteroides, hipogonadismo em homens e ovariectomia em mulheres, a síndrome do ovário policístico, a qual pode estar relacionada a alterações da função ovariana ou à hipersensibilidade no eixo hipotálamo – hipófise – adrenal. O excesso de peso afeta a função endócrina, como por exemplo em relação à alteração da secreção de insulina, podendo causar diabetes mellitus tipo II. Algumas disfunções endócrinas são responsáveis pela obesidade de indivíduos portadores por algumas síndromes ou desordens, relacionadas a seguir. » Síndrome/doença de Cushing: decorre de alterações do sistema hipofisário, das glândulas adrenais ou de tratamentos prolongados com glicocorticoides. Caracteriza-se por alterações metabólicas, como aumento do catabolismo muscular, osteoporose, estrias purpúreas e depósito de gordura na região cervical posterior. 19 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I Figura 5. Fonte: Figura disponível em: <http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=s%C3%ADndrome+de+cushing&la ng=3>. Acessado em 14 jul. 2015. » Obesidade tireoidiana: causada por doença tireoidiana autoimune, radioterapia, intervenção cirúrgica no hipertireoidismo, neoplasia tireoidiana, deficiência de iodo e malformações congênitas. » Obesidade gonadal: ocorre em casos de hipogenitalismo, transtornos cromossômicos, como na Síndrome de Turner (Figura 6), e alterações relacionadas ao hiperandrogenismo. Figura 6. Disponível em: <http://www.infoescola.com/doencas/sindrome-de-turner/>. Acessado em 14 jul. 2015. 20 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL » Síndromes hipotalâmicas: causadas por trauma, infecções e tumores do hipotálamo, bem como por síndromes hipotalâmicas genéticas. Pseudo-hipoparatireoidismo: ocorre por meio da insensibilidade do túbulo renal ao paratormônio, mesmo com o funcionamento normal das glândulas paratireoides. » Hiperinsulinemia: está relacionada ao diabetes mellitus não insulino dependente, mas nem todo paciente portador de hiperinsulinemia é obeso. Drogas Alguns medicamentos utilizados no controle de outras doenças tais como psicotrópicos, corticoides, antidepressivos tricíclicos, lítio, fenotiazinas, ciproheptadina, medroxiprogesterona, podem determinar o aumento do apetite e consequentemente o aumento do peso. Problemas neurológicos Tumores hipotalâmicos e/ou hipofisários comprometem os centros hipotalâmicos da fome e da saciedade, ocasionando a obesidade. Metabolismo A redução da taxa metabólica basal pode levar a obesidade. Ela está relacionada a uma série de elementos, tais como: » Quantidade de massa magra corpórea: quanto maior a porcentagem de massa magra de um indivíduo, maior será seu gasto calórico diário. Pesquisas mostram que há menor taxa metabólica basal nas mulheres do que nos homens, devido ao maior índice de adiposidade em mulheres. » Temperatura corporal: quanto mais elevada a temperatura corpórea, maior será a taxa de metabolismo basal, o que pode explicar porque as populações que habitam locais mais frios possuem maior taxa de adiposidade do que os indivíduos que residem em áreas de clima tropical. Depressão: reduz a atividade do sistema nervoso simpático, o que reduz a taxa de metabolismo basal. » Distúrbios hormonais: a tiroxina e a adrenalina atuam aumentando a taxa metabólica basal, assim, uma deficiência na síntese, secreção ou atuação fisiológica dessas substâncias, podem levar a um efeito inverso, reduzindo o metabolismo basal e aumentando as chances de adiposidade. 21 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I » Idade: de acordo com Grundy (1998), o envelhecimento está ligado ao ganho de peso, pois com o declínio da idade há redução da taxa metabólica basal em consequência da perda de massa muscular, diminuição da prática de atividades físicas e do aumento da ingestão alimentar. » Área corporal: quanto maior a área de superfície corporal, maior será a perda de calor através da pele, o que eleva a taxa de metabolismo basal, pois é necessária maior produção de energia para manter a temperatura corporal. Doenças associadas Síndrome metabólica Não existe um único critério aceito universalmente para definir a síndrome. Os dois mais aceitos são os da OMS e os do NCEP – National Cholesterol Education Program – americano. Porém o Brasil também dispõe do seu Consenso Brasileiro sobre Síndrome Metabólica, documento referendado por diversas entidades médicas, que define que a Síndrome Metabólica (SM) representa um grupo de fatores de risco cardiometabólico que incluem a obesidade abdominal combinada com a elevação da pressão arterial sistêmica, da glicemia de jejum e da taxa de triglicerídeos, e redução do nível de colesterol HDL. A presença de SM está associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares e mortalidade. O conjunto desses fatores da SM resulta na resistência insulínica. Pela dificuldade de ação da insulina, decorrem as manifestações que podem fazer parte da síndrome. Segundo os critérios brasileiros, a síndrome metabólica ocorre quando estão presentes três dos cinco critérios a seguir (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia): » Obesidade central: circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem. » Hipertensão arterial: pressão arterial sistólica maior que 130mmHg e/ ou pressão arterial diastólica maior que 85 mmHg. Glicemia em jejum alterada: valores glicêmicos maiores que 100 mg/dl ou diagnóstico de Diabetes. » Níveis sanguíneos de triglicerídeos maior que 150 mg/dl. Níveis sanguíneos de HDL menor que 40 mg/dl em homens e 50 mg/dl em mulheres. 22 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL A redução de peso, isoladamente ou em combinação com a intervenção do estilo de vida, leva a redução significativa na prevalência de SM. Diabetes mellitus tipo II A obesidade tem sido apontada como um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo II. Estima-se que entre 80 e 90% dos indivíduos acometidos por esta doença são obesos e o risco está diretamente associado ao aumento do índice de massa corporal. Sabe-se que, para que ocorra a transformação de glicose em energia, a insulina deve se ligar a receptores presentes nas membranas das células, permitindo a entrada de glicose nelas. O acúmulo de gordura, especialmente abdominal/visceral, provoca uma deficiência no número desses receptores, levando a resistência insulínica, que implica aumento da taxa glicose sanguínea e consequente desenvolvimento de diabetes tipo II. Além da promoção de captação da glicose, a insulina atua no hipotálamo associando-se à sensação de saciedade. Quando há resistência ao hormônio no cérebro, o indivíduo aumenta sua ingestão alimentar, pois sua fome não é inibida. Conclui-se então que, quando a resistência ocorre no cérebro, causa obesidade, e quando ocorre em outros órgãos, causa diabetes. Outro ponto importante é que o excesso de insulina circulante (por conta da resistência) provoca inibição da lipólise e aumento dos adipócitos, favorecendo a obesidade. O diabetes pode causar inúmeras complicações nefropatia, retinopatia, neuropatia e deve ser tratado com cautela. Figura 7. Fonte: Disponível em: <http://enfermagemagora.blogspot.com.br/2011/05/diabetes-mellitus.html>.Acessado em 14 jul. 2015. 23 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I Dislipidemias A obesidade está intimamente relacionada à etiologia da dislipidemia, pois compartilham da mesma fonte de fatores de risco; 20 a 30% dos indivíduos obesos possuem aumentos dos níveis de colesterol total e de triglicerídeos; e as reduções ponderais entre obesos, são frequentemente acompanhadas de melhora nos níveis lipídicos. Doenças cardiovasculares A obesidade é fator de risco independente para doenças cardiovasculares, incluindo doença arterial coronariana, infarto do miocárdio, angina, insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral, hipertensão e fibrilação atrial. Estudo recente com mais de 37 mil adolescentes mostrou que aqueles com um IMC maior, mesmo dentro da faixa de normalidade, apresentam maior risco de apresentar tais doenças durante a vida adulta. A relação entre a obesidade e doenças cardiovasculares foi muito bem representada nos resultados de Blumenkrantz (1997), que mostraram um aumento de 10% no peso corporal aumenta a incidência de doenças coronarianas em 20%, pois com o aumento do peso corporal, o coração torna-se predisposto a aumentar seu rendimento para atender as necessidades metabólicas corporais. Resultado de Kenchaiah et al. (2002), mostraram elevação do risco de falência cardíaca em 5% para homens e 7% para as mulheres, para cada aumento de uma unidade nos respectivos IMC’s. Hipertensão arterial sistêmica As agressões da obesidade aos níveis de pressão arterial têm sido observadas em praticamente todas as sociedades, idades, grupos étnicos e sexos. Resultados de Van (1985) revelam que a prevalência da hipertensão é 2,9 vezes maior do que em indivíduos não obesos. Doenças respiratórias Quando ocorre aumento no peso corporal, há uma sobrecarga dos músculos da ventilação, o que resulta na disfunção destes músculos. Além disso, o acúmulo de gordura em excesso nas regiões peitoral e abdominal limita os movimentos respiratórios, diminuindo o volume pulmonar. 24 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL Uma das disfunções pulmonares comuns entre obesos é a chamada “síndrome de Picwickian” ou “síndrome da obesidade-hipoventilação”, que se caracteriza por presença de sonolência e redução da ventilação pulmonar. A obesidade é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento da apneia do sono, que está presente em 40% dos indivíduos obesos; sendo que essa porcentagem varia de 71 a 98% em sujeitos portadores de obesidade mórbida. A apneia obstrutiva do sono compreende episódios de obstrução total (apneia) ou parcial (hiponímia) das vias aéreas durante o período do sono; esses episódios ocorrem com duração máxima de até dez segundos, e em inúmera quantidade, podendo ocorrer até centenas de vezes em um mesmo período de sono. Segundo Mancini et al. (2000) é uma doença crônica, progressiva, incapacitante, associada com alta mortalidade e morbidade cardiovascular. A prevalência da apneia do sono é de 9% da população masculina de meia idade (30-60 anos) e 4% da população feminina após a menopausa, sendo ainda maior em faixas etárias avançadas. Pode ocorrer em qualquer idade, mas acomete principalmente homens obesos entre 40 e 60 anos, sendo menos frequente em mulheres antes da menopausa. O sexo masculino é mais afetado (proporção de 1,4 a 3,6 homens/mulheres) devido a diferenças anatômicas das vias aéreas, perfil hormonal e distribuição adiposa do tipo central nos homens (obesidade andrógena). Os sintomas da apneia do sono podem ser classificados em noturnos e diurnos. » Sintomas noturnos: › Roncos: ruído produzido involuntariamente durante o sono pela vibração de alta frequência da úvula, palato mole e paredes faríngeas, epiglote e língua. Roncos estão presentes em cerca de 90 a 95% dos casos de apneia do sono. No início, é comum o cônjuge do roncador referir que o ronco era contínuo sem interrupções, com a progressão da apneia, as pausas respiratórias aparecem e o ronco passa a ser descontínuo e de maior intensidade. Atualmente, sabe-se que a presença de ronco está associada à morbidade e mortalidade vascular em pacientes de meia idade, isto é, hipertensão arterial, angina, doença isquêmica do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais, independentemente de outros fatores de risco. › Noctúria: é o aumento da secreção de urina durante o período noturno, ocorre por aumento da secreção de fator natriurético atrial. 25 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I › Pausas respiratórias. Sono agitado com múltiplos despertares. › Sudorese. » Sintomas diurnos: › Sonolência excessiva: dificuldade para manter um nível de alerta desejado ou como uma quantidade excessiva de sono. › Cefaleia matinal: dores de cabeça em peso, bilateral, frontal, occipital ou nucal ao despertar pela manhã são comuns em pacientes com apneia do sono. As pausas respiratórias durante o sono podem causar hipercapnia, e a vasodilatação reflexa desencadeada pelo acúmulo de CO2 causa dores que geralmente desaparecem em algumas horas após o despertar. › Déficits neurocognitivos: a sonolência excessiva causa déficits de memória e atenção. › Alterações de personalidade. › Redução da libido. » Sintomas depressivos. › Ansiedade. (MANCINI et al., 2000). Doença do trato digestório » Doenças da vesícula biliar: a litíase biliar é comum em pacientes acima do peso, sendo a obesidade o principal fator de risco para a formação de cálculos biliares. O excesso de peso provoca aumento da taxa de colesterol que é excretado na bile, o que a torna mais propensa à formação dos cálculos. » Pancreatite aguda: a pancreatite aguda está intimamente associada à obesidade e uma série de estudos tem mostrado que a obesidade aumenta a gravidade e a mortalidade por pancreatite aguda, ela é o fator de risco principal para complicações locais, falência de órgãos e morte por pancreatite aguda. O excesso de peso aumenta o risco de pancreatite aguda grave em 2,9 vezes. Entre os pacientes obesos, observa-se um risco 2,3 vezes maior de complicações sistêmicas e 3,8 vezes maior de complicações locais; além da taxa de mortalidade ser 2,1 vezes maior. 26 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL » Doença hepática gordurosa não alcoólica: a DHGNA é uma entidade clínica patológica na qual ocorre o acúmulo excessivo de gorduras no fígado (Figura 8), é a doença hepática persistente mais comum nos países ocidentais, com uma prevalência estimada de 20%. Ela abrange o espectro de distúrbios que vão desde a esteatose hepática a cirrose, fibrose e hepatocarcinoma. Sua patogênese permanece parcialmente conhecida e o estresse oxidativo ligado à obesidade é um dos mecanismos possivelmente envolvidos. Estudos epidemiológicos têm revelado que a DHGNA é um problema de saúde pública, acometendo 20-40% dos indivíduos testados na dependência da prevalência da obesidade na população estudada. Um estudo mais recente, realizado nos Estados Unidos, com 328 pacientes assintomáticos, relatou que 46% dos indivíduos possuíam esteatose, 26% eram diabéticos, 68% hipertensos e 70% obesos. No Brasil, estudos de Parise, Cotrim e Oliveira (2011), utilizando a ultrassonografia como método diagnóstico, encontraram porcentagem em torno de 20% de esteatose hepática na população geral. Figura 8. Fonte: Disponível em: < http://blogjp.jovempan.uol.com.br/medicodefamilia/2014/01/tudo-sobre-esteatose-hepatica/>. Acessado em 14 jul. 2015. Osteoartrite e osteoartrose A osteoartrite e osteoartrose são doenças articulares crônicas, inflamatória e degenerativa, respectivamente, que afetam a funcionalidade nas atividades de vida diária pela dor e pela perda da mobilidade, incidindo na capacidade motora (VASCONCELOS etal., 2008). A obesidade está fortemente relacionada a uma maior chance de osteoastrite e osteoartrose dos joelhos e do quadril, pois o excesso de peso corporal predispõe 27 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I sujeitos obesos a traumas nas articulações. Podendo acometer aqueles pacientes que são metabolicamente normais, a presença desses processos realça a capacidade da obesidade promover outras doenças em vários órgãos e sistemas, indicando que a obesidade é uma condição patológica e quase sempre associada a outras doenças secundárias, sejam metabólicas ou não. Neoplasias A ocorrência de câncer é fortemente influenciada por fatores ambientais, tais como dieta, estado nutricional, tabagismo, etilismo, viroses e exposições ambientais e ocupacionais. Muitos estudos epidemiológicos têm observado a presença de associações entre obesidade e incidência ou mortalidade por determinadas neoplasias. A obesidade envolve uma parcela significativa dos fatores de risco que levam ao desenvolvimento de processos neoplásicos, acompanhada do tabagismo, de problemas genéticos e fatores ambientais. As células de gordura influenciam a produção hormonal (principalmente estrógeno) e de fatores de crescimento, características que contribuem para acelerar a divisão e a reprodução celular. E, quanto mais células se duplicam, maiores as chances de alguma replicação ser inadequada, originando uma célula maligna. A partir daí, estes hormônios adicionais levam a uma rápida reprodução das células cancerígenas. Além de todas as doenças citadas anteriormente, existem outras gamas de doenças, que podem acometer qualquer órgão ou sistema, reconhecidamente associadas ao aumento de peso. Podem ser citadas a doença do refluxo gastroesofágico, a asma brônquica, insuficiência renal crônica, infertilidade masculina e feminina, disfunção erétil, síndrome dos ovários policísticos, veias varicosas e doença hemorroidária, hipertensão intracraniana idiopática, disfunção cognitiva e demência. Além da predisposição ao desenvolvimento de comorbidades associadas, a obesidade perturba o diagnóstico e o tratamento devido à dificuldade oferecida a alguns procedimentos e limitação técnica de alguns equipamentos para esses pacientes. Aspectos psicológicos da obesidade Diversos fatores têm sido os fatores psicológicos associados à obesidade, dentre eles, destaca-se a bulimia e anorexia nervosa, ansiedade, depressão e o transtorno do comer compulsivo. A preocupação com o corpo e com a imagem corporal é questão central 28 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL no controle do peso, logo, a sociedade sustenta ideais que estimulam as pessoas na busca de manter o corpo socialmente considerado bonito e dentro dos limites e padrões instituídos. A respeito dos aspectos psicológicos associados à obesidade, alguns estudos sugerem que indivíduos podem comer em excesso devido a um descontrole emocional, ou seja, uma incapacidade de regular e controlar as emoções que surgem em momentos de estresse psicológico. O controle emocional é uma capacidade de autorregulação que se desenvolve na infância, e controla a impulsividade e os processos afetivos ligados à alimentação, regulando de forma automática o consumo de alimentos em resposta a sinais fisiológicos de fome e saciedade. No entanto, esses sinais podem ser influenciados por experiências precoces negativas e por fatores emocionais e sociais, de forma que se pode provocar a ingestão excessiva de alimentos mesmo na ausência de fome, com o intuito de regular e reduzir emoções negativas como tristeza e ansiedade. Esse processo pode ser uma das gêneses da obesidade, pois através da dificuldade do indivíduo em regular suas emoções, cria-se o hábito de comer em excesso numa forma de conforto aos afetos negativos. Nos pacientes obesos que procuram tratamento, existe aumento da prevalência de sintomas psicológicos, como a depressão, ansiedade e aumento do consumo alimentar, além do que, pacientes com comorbidades psiquiátricas, apresentam uma taxa maior de abandono ao tratamento. Sentimentos de ansiedade e/ou depressão explicam o modo como certos sujeitos procuram insistivamente alimentos doces, pois os açúcares aumentam a disponibilidade do triptofano, que é precursor da serotonina, no cérebro. Os distúrbios alimentares obedecem a uma interação entre o transtorno fisiológico e psicológico, e o alimento passa a ser um meio para busca de alívio dos fatores psicológicos nocivos na vida do indivíduo. Também há relatos em que a obesidade é utilizada como mecanismo de defesa contra interações sociais anormais, conflitos sexuais e exposição à possibilidade de inter-relações pessoais inadequadas. Tratamento da obesidade Muitos estudos demonstram que a redução da quantidade de peso, em indivíduos com sobrepeso, atua na melhora a qualidade de vida e diminui índices de morbidade e mortalidade de pacientes obesos. Jung (1997) ilustra em sua revisão os benefícios que a perda de 10 kg de peso causa para a saúde desses indivíduos. 29 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I Quadro 2. Benefícios da perda de 10 Kg no peso corporal. Mortalidade Queda de 20-25% da mortalidade total. Declínio de 30-40% nas mortes por diabetes. Redução de 40-50% nas mortes por neoplasia de sujeitos obesos. Pressão Arterial Queda de 10 mmHg na pressão sistólica. Queda de 20 mmHg na pressão diastólica. Angina Redução dos sintomas em 91%. Aumento em 33% à tolerância ao exercício físico. Lipídios Diminuição de 10% no colesterol total. Declínio de 15% no LDL-colesterol. Redução de 30% dos triglicerídeos circulantes. Aumento em 8% no HDL-colesterol. Diabetes Redução do risco de desenvolvimento de diabetes por indivíduos obesos em 50%. Diminuição de 30-50% da glicemia em jejum. Fonte: Modificado de Jung (1997). Contudo, deve-se questionar a relação entre redução de peso e de gordura corporal, os quais, na maioria das vezes, são utilizados como sinônimos de forma errônea. É possível reduzir a gordura corporal, sem diminuir o peso quando, por exemplo, ocorre ganho de massa muscular. O aumento de massa muscular pode ser superior ao peso de gordura reduzido, levando ao aumento no peso corporal total. Assim, a ênfase no tratamento da obesidade deve ser na redução da gordura corporal, já que apenas a perda de gordura promoverá benefícios à saúde. Para que ocorra essa diminuição da massa gorda é necessário um balanço energético negativo, ou seja, quando o gasto supera o consumo de energia, pois as reservas energéticas do organismo são consumidas para sustentar processos metabólicos, levando a perda de peso. Para que isso ocorra, deve-se considerar três componentes da equação de balanço energético, que é definida como: Gasto energético = Taxa metabólica basal + Energia gasta no exercício físico + Efeito térmico do alimento A energia gasta durante as atividades físicas depende de sua intensidade e duração, e corresponde ao maior consumo da energia produzida pelo organismo, já que é possível gerar taxas metabólicas dez vezes superiores aos valores de repouso durante um exercício com participação de grandes grupos musculares. O efeito térmico do alimento, também conhecido por termogênese de indução dietética, deve-se principalmente aos processos de digestão, absorção e assimilação dos nutrientes, e representa, para uma pessoa ativa, apenas uma pequena parte do gasto energético diário. Entretanto, algumas considerações devem ser feitas: ao estimar o gasto calórico do exercício físico e o efeito térmico do alimento, estaremos somando, durante o espaço de tempo que dura esta atividade, o gasto basal mais o gasto da atividade ou da alimentação. Assim, 30 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL deve-se debitar do tempo total dataxa metabólica basal esse período de exercício e de alimentação. O tratamento da obesidade é complexo e multidisciplinar, basicamente baseia-se na mudança nos hábitos de vida. Tratamento dietoterápico As intervenções dietéticas no controle do peso corporal requerem a elaboração de planos de dietas que ofereçam redução no consumo calórico total, ou seja, o organismo deve receber um aporte calórico menor do que o necessário, para que o organismo, em busca de suprir suas necessidades energéticas, metabolize as gorduras armazenadas. É importante que as dietas levem em conta as necessidades nutricionais do indivíduo; dietas que restringem severamente o consumo energético, bem como jejuns prolongados, são cientificamente indesejáveis e perigosos para a saúde, resultando em perdas de grandes quantidades de água, eletrólitos, minerais, glicogênio e outros tecidos isentos de gordura, com mínima redução de massa adiposa. De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), um dos fatores que dificulta o sucesso de dietas muito restritas em termos calóricos, é que estas produzem em curto prazo perdas ponderais significativas, e há tendência fisiológica do organismo de em defender-se contra as variações pronunciadas no seu peso corporal, que levam à ativação de mecanismos compensatórios para minimizar a perda de peso, através da redução na taxa de metabolismo basal. Um tratamento dietético que resulte em uma perda de peso mais modesta mas que produza alterações mais estáveis é provavelmente mais favorável. Também se destaca a importância da ingestão de fibras alimentares, pois acarreta uma série de efeitos benéficos que auxiliam no processo de emagrecimento. Dentre os efeitos da ingestão de fibras, estão: a redução da ingestão energética, aumento no tempo de esvaziamento gástrico, diminuição na secreção de insulina, aumento da sensação de saciedade alimentar, entre outros. Exercícios físicos A prática regular de exercícios físicos resulta em inúmeros benefícios para o organismo, como a melhora na capacidade cardiovascular e respiratória, redução na pressão arterial, melhora na tolerância à glicose e na ação da insulina. 31 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL │ UNIDADE I Segundo Blair (1993), indivíduos com sobrepeso e fisicamente ativos apresentam menores taxas de morbimortalidade do que sujeitos sedentários. O exercício contribui para redução de peso através da criação de balanço energético negativo. A combinação de dieta e exercício de intensidade moderada promove uma maior perda de peso do que a dieta isolada. O exercício combinado à restrição energética promove redução no peso corporal, maximizando a perda de gordura e minimizando a perda de massa magra. As alterações da composição corporal induzidas pelo exercício físico vão variar de acordo com o tipo, intensidade e duração dele, sendo que os efeitos de manutenção de massa magra são frequentemente vistos quando se aplica treinamentos de força. Tratamento medicamentoso O tratamento medicamentoso para redução da obesidade inclui um amplo aspecto de drogas, dentre elas: anfetaminas, fenfluraminas, fenterminas, dietilpropriona, mazindol, pemolina, fenilpropanolamina, antidepressivos, fluoxetina e sertralina, entre outras. Os remédios criam uma expectativa de cura para a obesidade e as pessoas comumente voltam a engordar com a suspensão do medicamento. Os efeitos colaterais normalmente observados incluem sonolência, nervosismo e distúrbios no trato gastrintestinal. Tratamento cirúrgico A cirurgia bariátrica é um recurso consistente, indicado em decorrência da ineficácia do tratamento não cirúrgico e pelo elevado risco de vida de uma obesidade clinicamente severa não tratada. Ela proporciona aos pacientes redução nos índices de mortalidade e melhora de comorbidades clínicas. Prevenção da obesidade Há um grande interesse na redução da epidemia da obesidade para a saúde pública, o interesse social e os investimentos econômicos em alimentação e na qualidade de vida de pessoas obesas indicam que, estudos rigorosos sobre a prevenção e o tratamento da obesidade são essenciais. Algumas medidas preventivas consideram a interação entre estratégias administrativas e de ações com a comunidade, tais como: alterações na estrutura urbana, como construção de calçadas seguras e de ciclovias; melhora nos designs das construções a fim de facilitar o uso de escadas; legislação e regulação 32 UNIDADE I │ TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NUTRICIONAL dos rótulos dos produtos alimentícios; subsídios para produtores de alimentos com pouca densidade calórica (como frutas e vegetais); incentivos fiscais para empresas que incentivem a prática de atividades físicas dos empregados; consultoria nutricional para refeições escolares e empresariais, entre outras. De fato, intervir de maneira preventiva sobre a obesidade tende a ser mais fácil, preveniria os gastos decorrentes para a saúde pública, e seria potencialmente mais efetivo. Transição demográfica e desigualdades sociais no Brasil Para enriquecer seu conhecimento, leia o artigo científico do autor Fausto Britto: Transição demográfica e desigualdades sociais no Brasil. Revista Brasileira de Estudos de População, São Paulo, v. 25, no 1, pp. 5-26, jan./jun. 2008. Acesse: <http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v25n1/v25n1a02.pdf> 33 UNIDADE II ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE CAPÍTULO 1 Alimentação e incidência de doenças crônicas não transmissíveis Os danos para a saúde que podem decorrer do consumo insuficiente ou excessivo de alimentos são há muito tempo conhecidos pelos seres humanos, hoje não faltam evidências de que características dietéticas são importantes na definição do estado de saúde, principalmente no que diz respeito às doenças crônicas não transmissíveis da idade adulta. As alterações na estrutura da dieta, associadas a mudanças econômicas, sociais e demográficas e suas repercussões na saúde populacional, vêm sendo observadas há muito tempo na população mundial. Evolução da dieta humana ao longo da história O homem pré-histórico, do período paleolítico, era essencialmente um caçador, coletor (coletava frutos e raízes para complementar sua dieta, hábito adquirido, muito provavelmente, por meio da imitação de outros animais silvestres) e nômade. Hominídeos como o Homo erectus e o Cromagnon, dos quais o Homo sapiens teria evoluído, se alimentavam da carne de caça que abatiam e assavam diariamente. Além disso, acredita-se que a primeira “sobremesa” tenha sido o mel de abelhas, que já existia no Período Cretáceo (há 135 milhões de anos), quando as flores nasceram, milhares de séculos antes do homem. A dieta rica em proteínas, aliada a um intenso dispêndio energético, não somente pelo estilo de vida nômade, mas também pela despesa de muita energia na procura, seleção, preparação de alimentos, conferia resistência a muitas doenças. 34 UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE Durante o Período Neolítico aconteceram grandes transformações, como o desenvolvimento da agricultura e da criação de animais, como bovinos, ovinos, caprinos e suínos. A prática da caça já era de animais menores, característico da fauna atual: javalis, lebres e pássaros. No final desse período, chamado de Idade dos Metais, a ação do homem sobre a natureza tornou-se mais intensa, e colheitas mais abundantes favoreceram o aumento da população, a chamada “Revolução Agrícola” incrementou a dieta humana, uma vez que proporcionou a entrada, no cardápio da humanidade, de uma enorme variedade de alimentos, principalmente, dos cereais (arroz, cevada e trigo). Na Idade Moderna, a agricultura, que antes era de subsistência, passa a ter fins comerciais. Produtos como tomate, batata, milho, arroz e outrasespécies alimentares tornam-se importantes na alimentação ocidental. O pão passa a ser bastante consumido por todas as classes sociais e as crises na produção de cereais durante esse período tiveram impacto direto sobre a mortalidade. Com o advento da Revolução Industrial, o trabalho realizado pelas mãos do homem passou a ser substituído pelo uso da máquina. Essa mudança no processo produtivo da sociedade trouxe impactos importantes, não somente na estrutura socioeconômica vigente, mas também na saúde da população. Novas relações entre capital, trabalho e nações foram instituídas, e surgiu a chamada cultura de massa, que vem transformando o estilo de vida das pessoas. Tal fato influenciou o êxodo rural, e a produção alimentícia, que antes era de subsistência, agora é realizada industrialmente, em larga escala. Após a Segunda Guerra Mundial, mudanças no perfil epidemiológico nos países do hemisfério norte, com a elevação das taxas de prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, propiciaram a ampliação das correlações causais com a alimentação, redução da atividade física e outros aspectos vinculados à vida urbana. Atualmente, estas doenças também são entendidas como problema de saúde pública em todo o globo. No final dos anos 1960, os ganhos de produtividade decresceram e a sociedade requisitava produtos cada vez mais segmentados, levando à crise do modelo econômico estabelecido. No âmbito da indústria agroalimentar, as mudanças também foram sentidas, e a partir da década de 1980, a diversificação da produção e do consumo permitiu o lançamento de produtos semiprontos, étnicos, dietéticos, saudáveis e naturais. Como falado anteriormente, os processos de modernização e industrialização ocorridos influenciaram a migração de grande parte da população de áreas rurais para os conglomerados urbanos. A urbanização induziu uma mudança nos padrões de vida e comportamentos alimentares das populações. Nos países em desenvolvimento, o tipo de alimento consumido na zona rural apresenta-se diferente daqueles consumido na 35 ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE │ UNIDADE II zona urbana, numa relação diretamente proporcional ao poder aquisitivo ou ao nível socioeconômico. Estudos demonstram que a população urbana de baixa renda apresenta uma ingestão calórica inferior, se comparados à população rural, apesar de a primeira consumir proporcionalmente mais proteína e gordura animal do que a segunda. A população urbana consome maior quantidade de alimentos processados, em relação à população rural, onde a ingestão de cereais, raízes e tubérculos é mais elevada. A alimentação passou a ser um grande mercado de consumo em massa, com produtos concebidos e comercializados nas mais modernas técnicas de marketing. O problema é que esses alimentos são em sua maioria ricos em lipídios e em carboidratos simples. O que leva a transformação da dieta habitual atual com aumento no consumo de carnes, leite e seus derivados, de açúcar e refrigerantes e do declínio de leguminosas, hortaliças e frutas; e configurando aumento do consumo das denominadas “calorias vazias”, ou seja, calorias provenientes de alimentos ricos em açúcares e gorduras, com pouca ou nenhuma quantidade de nutrientes essenciais, como proteínas e vitaminas. A indústria alimentícia investe forte na divulgação de produtos de alto teor calórico para crianças e adolescentes que tendem a se manter fiéis a esses hábitos de consumo. Embora sejam alimentos potencialmente causadores de obesidade, esses produtos surgem nas propagandas associados à saúde, beleza, bem-estar, juventude, energia e prazer. Isso tudo permite concluir que os indivíduos mais jovens estão sendo mais expostos aos efeitos nocivos da transição nutricional. A dieta atual habitual dos brasileiros é composta por diversas influências e atualmente é fortemente caracterizada por uma combinação de uma dieta dita “tradicional” (baseada no arroz com feijão) com alimentos classificados como ultraprocessados, com alto teor de gorduras, sódio e açúcar e com baixo teor de micronutrientes e alto conteúdo calórico. O consumo médio de frutas e hortaliças ainda é metade do valor recomendado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira e manteve-se estável na última década, enquanto alimentos ultraprocessados, como doces e refrigerantes, têm o seu consumo aumentado a cada ano. Então, quando se compara os hábitos alimentares humanos do passado com os atuais, percebe-se que houve substituição gradual de uma dieta de baixa a moderada ingestão energética, com altos índices de nutrientes, por uma dieta com altos índices energéticos, rica em “calorias vazias”. É importante ressaltar também que os processos de modernização facilitaram os processos do cotidiano humano, o que acabou ocasionando uma redução do gasto energético médio diário, o que é facilmente observável com os índices atuais de prevalência de sedentarismo. 36 UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE Quadro 3. Comparação entre características do estilo de vida humano (dieta e atividade física) entre o Período Paleolítico e a Era Contemporânea. Estilo de Vida Período Paleolítico Era Contemporânea Atividade Física Alta Baixa Dieta Densidade energética Baixa Alta Ingestão energética Moderada Alta Ingestão de Proteínas » vegetal » animal Alta Baixa Alta Baixa a moderada Baixa a moderada Baixa a moderada Ingestão de Carboidratos Baixa a moderada Moderada Ingestão de fibras Alta Baixa Ingestão de Gorduras » vegetal » animal Baixa Muito baixa Baixa Alta Moderada a alta Alta Ingestão de Vitaminas (mg por dia) Vitamina B2 6,49 Abaixo das recomendações diárias Ácido fólico 0,357 Abaixo das recomendações diárias Vitamina B1 3,91 Dentro das recomendações diárias Vitamina C 604 Acima das recomendações diárias Vitamina A 17,2 Abaixo das recomendações diárias Vitamina E 32,8 Abaixo das recomendações diárias Fonte: Modificado a partir de Gottlieb; Cruz; Bodanese, 2008. A dieta humana e a incidência de doenças crônicas não transmissíveis Devido ao novo padrão de hábitos alimentares inadequados, que é fortemente influenciado por diversos fatores, dentre os quais se destacam o modismo da propaganda (que muito valoriza a cultura dos fast-foods, altamente calóricos) e a supervalorização da imagem corporal, que produz cada vez mais jovens anoréxicas ou bulêmicas, representando a contestação dos padrões alimentares em benefício da estética, e não da saúde. Esse conjunto de modificações no padrão alimentar tende a interferir na homeostasia corporal, causando desequilíbrio no aparato fisiológico e, por consequência, doenças e mortalidade precoce. Isso porque o homem não está geneticamente adaptado para alta ingestão calórica e baixo gasto energético (sedentarismo), e a tendência é que essa energia fique indeterminadamente acumulada no organismo sob forma de gordura, resultando no aumento acelerado da incidência e prevalência das doenças crônicas não transmissíveis. 37 ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE │ UNIDADE II Do total de óbitos ocorridos no mundo em 2008, 63% foram relacionados às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), as quais são de difícil conceituação, gerando aspectos polêmicos quanto à sua própria denominação, seja como doenças não infecciosas, doenças crônico-degenerativas ou como doenças crônicas não transmissíveis, sendo esta última a conceituação atualmente mais utilizada. As DCNT podem ser caracterizadas por doenças com história natural prolongada, múltiplos fatores de risco complexos, interação de fatores etiológicos desconhecidos, causa necessária desconhecida, especificidade de causa desconhecida, ausência de participação ou participação polêmica de microrganismos entre os determinantes, longo período delatência, longo curso assintomático, curso clínico em geral lento, prolongado e permanente, manifestações clínicas com períodos de remissão e de exacerbação, lesões celulares irreversíveis e evolução para diferentes graus de incapacidade ou para a morte. Sua preponderância global nas causas de mortalidade, e o compartilhamento de seus fatores de risco com os de outras doenças influenciaram a formulação de estratégias preventivas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2005. A OMS também relatou que cerca de 80% dos óbitos por DCNT ocorreram em países de baixa ou média renda, com 29% dos óbitos em adultos com menos de 60 anos, enquanto naqueles de alta renda esse percentual era de apenas 13%. A renda econômica influencia os hábitos alimentares no sentido de que quanto maior a renda haverá mais facilidade de acesso a alimentos frescos e saudáveis, enquanto o inverso, a baixa renda, geralmente predispõe somente a possibilidade de alimentos processados, de valor mais em conta. O debate internacional em torno das DCNT tem sido intenso, a ponto de em setembro de 2011, a ONU a afirmar que a carga delas e seu impacto constituem um dos grandes desafios para o desenvolvimento no século XXI, estimulando os governos mundiais buscarem a resposta ao desafio. Doenças crônicas não transmissíveis associadas à nutrição Obesidade Doença crônica caracterizada pelo excesso de peso corporal, em consequência de um desequilíbrio entre o aporte energético e o gasto metabólico. Possui características epidêmicas na sociedade atual e é fator de risco e agravante para outras doenças 38 UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE crônicas, tais como doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus tipo 2, entre outras. Tem origem multifatorial, mas dentre suas causas está a má alimentação, ou seja, geralmente é causada por dietas hipercalóricas, ricas em carboidratos simples e lipídios, associadas a inatividade física . Dentre os mecanismos fisiopatológicos da obesidade, destaca-se a resistência insulínica, causada pelo acúmulo de gorduras; além da promoção de captação da glicose, a insulina atua no hipotálamo associando-se à sensação de saciedade. Quando há resistência ao hormônio no cérebro, o indivíduo aumenta sua ingestão alimentar, pois sua fome não é inibida. Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) É uma doença caracterizada por uma perturbação no funcionamento do hormônio insulina, ocasionada ou por redução da sua produção pelo pâncreas, ou pela resistência insulínica, ocasionada pelo excesso de adiposidade corporal. Normalmente, o que a insulina age facilitando a entrada da glicose sanguínea para dentro das células que vão utilizá-la na produção de energia para manutenção do organismo. Se a insulina não existe ou não funciona, a glicose mantém-se no sangue, surgindo a hiperglicemia. A composição alimentar tem influência na incidência de DM2, Van Dam et al. (2002) observou em estudo comparando indivíduos com uma alimentação balanceada, com alto consumo de frutas, vegetais, peixes, aves e grãos, em relação àqueles que adotam a clássica dieta ocidental (alimentos industrializados, carne vermelha, alimentos ricos em gordura etc.), há uma redução significativa de risco para desenvolvimento de DM2 do primeiro grupo. Os indivíduos adeptos à dieta ocidental tiveram maior propensão para o desenvolvimento de DM2, independentemente do índice de massa corpórea (IMC), grau de atividade física, idade ou história familiar. Doenças cardiovasculares Doenças Cardiovasculares (DCV) é o termo designado a um conjunto de doenças que atingem o coração e os vasos sanguíneos, que incluem as coronariopatias, cardiopatias, entre outras (WILLETT, 2000). Cerca de 17 milhões dos óbitos ocorridos anualmente são causados pelas DCV, principalmente cardiopatias e acidentes vasculares cerebrais. Entre os seus fatores etiológicos, encontra-se a alimentação inadequada, com alto consumo de alimentos 39 ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE │ UNIDADE II industrializados; acompanhada do tabagismo, inatividade física e outros comorbidades geralmente associadas, como a hipertensão arterial, o diabetes e a obesidade (PETRIBÚ; CABRAL; ARRUDA, 2009). Em publicação do ano 2000, a OMS fala sobre a relação entre a alimentação e as doenças crônicas não transmissíveis, e mostra que alguns componentes dietéticos podem provocar efeitos adversos ao organismo. Esses componentes aumentam o risco de DCV quando consumidos em periodicidade e quantidades inadequadas. São eles, os alimentos ou preparações que contêm colesterol, ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans e sódio. Por outro lado, há elementos da dieta associados à diminuição do risco de DCV, tais como os ácidos graxos poli-insaturados (derivados do ômega-3 e do ômega-6) e os monoinsaturados, encontrados nos óleos vegetais e nos peixes, entre outros. Estudos demonstram que as DCV podem ser reduzidas em 30% com modificações na dieta. Hipertensão arterial sistêmica A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença crônica, considerada um grave problema de saúde pública em todas as camadas socioeconômicas. É uma síndrome clínica caracterizada pela elevação da pressão arterial a níveis iguais ou superiores a 140 mm Hg de pressão sistólica e/ ou 90 mm Hg de diastólica em pelo menos duas aferições subsequentes, obtidas em dias diferentes e em condições de repouso e ambiente tranquilo. Quase sempre esses achados são acompanhados, de forma progressiva, por lesões nos vasos sanguíneos com consequentes alterações de órgãos alvos como cérebro, coração, rins e retina. Geralmente é uma doença silenciosa, pois demora a demonstrar sintomas, que quando ocorrem, já decorrem de complicações. Estima-se que pelo menos 1 (um) bilhão de pessoas, em todo o mundo, sejam afetadas pela HAS, e que 7, 1 milhões de mortes tem sua causa lhe ser atribuídas. A HAS é uma das mais importantes causas de morbidade e mortalidade universais, e um dos mais prevalentes fatores de risco para o desenvolvimento de doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, insuficiência renal e insuficiência cardíaca. Ela possui natureza multicausal e seus principais fatores de risco são classificados como modificáveis, dentre eles estão estilo de vida, tabagismo, sedentarismo e alimentação inadequada, entre eles se evidencia a associação direta com a obesidade e com o excesso 40 UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE de peso. Um dos fatores relacionados à alimentação que podem levar ao desenvolvimento da HAS é a sobrecarga de sódio, presente no sal e nos alimentos industrializados. A regulação da pressão arterial é uma das funções fisiológicas mais complexas do organismo, dependendo das ações integradas dos sistemas cardiovasculares, renal, neural e endócrino. Vários estudos epidemiológicos demonstram uma correlação direta entre a quantidade de sódio ingerida e a prevalência de HAS. Além disso, outros estudos mostram que em determinadas comunidades que ingerem uma dieta com menos de 60 mmol de sódio, a prevalência de HAS é muito reduzida. Dislipidemias A dislipidemia é definida como uma alteração quantitativa dos níveis séricos das lipoproteínas plasmáticas, e assim como a hipertensão, também é um dos fatores de risco para ocorrência de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. Na dislipidemia há alteração dos níveis séricos dos lipídeos. As alterações do perfil lipídico podem incluir colesterol total alto, triglicerídeos (TG) alto, colesterol de lipoproteína de alta densidade baixo (HDL-c) e níveis elevados de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) . A alteração lipídica pode ser ocasionada devido a fatores genéticos, pela ingestão de certos medicamentos e de alimentos ricos em gorduras,e por associação com outras comorbidades crônicas como a obesidade, diabetes, hipotireoidismo, doenças das vias biliares e insuficiência renal. O consumo de grandes quantidades de gordura saturada encontrada em alimentos de origem animal, em especial as vísceras, leite integral e seus derivados, embutidos, frios, pele de aves e frutos do mar, está associado ao aumento das taxas de LDL-c e colesterol total (CT). A dislipidemia é um dos principais fatores de risco para a formação de placas de ateromas nos vasos sanguíneos. A formação da placa aterosclerótica inicia-se com a agressão ao endotélio vascular devido à elevação de lipoproteínas aterogências, a lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), lipoproteína de densidade intermediária (IDL), lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL). Doença renal crônica É uma síndrome clínica decorrente da perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais. Possui etiologia multifatorial, sendo as mais comuns a hipertensão arterial grave, 41 ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE │ UNIDADE II o diabetes mellitus, a glomerulonefrite crônica, a nefropatia túbulointersticial crônica (pielonefrite), os processos renais obstrutivos crônicos (calculose, bexiga neurogênica etc.), o lúpus eritematoso sistêmico e as doenças hereditárias tais como rins policísticos e síndrome de Alport. Brenner, Meyer e Hostetter (1982) postularam a hipótese de que a ingestão de proteínas determinava uma vasodilatação em glomérulos com consequente aumento da pressão hidrostática capilar e aumento da taxa de filtração glomerular. Estas alterações hemodinâmicas renais ocorreriam após cada refeição que contivesse proteínas e manteriam um estado de vasodilatação renal crônica que favoreceria o desenvolvimento de lesões glomerulares em pacientes que já apresentassem algum grau de lesão renal. Confirmando esta hipótese, acumularam-se dados que indicam que fatores dietéticos podem determinar alterações importantes na hemodinâmica renal. Indivíduos sadios com hábitos alimentares vegetarianos apresentam valores de taxa de filtração glomerular e medida de excreção urinária de albumina menores do que indivíduos que seguem uma dieta habitual (onívoros), embora a quantidade total de proteína ingerida tenha sido semelhante. Neoplasias As neoplasias/câncer representam um conjunto de mais de 100 doenças, incluindo tumores malignos de diferentes localizações. É uma enfermidade crônica e de etiologia multifatorial e tem como característica principal o crescimento descontrolado das células. Segundo dados da OMS, as neoplasias atingem cerca de nove milhões de pessoas e mata cinco milhões ao ano. É considerada a segunda causa de morte por doença na maioria dos países, inclusive no Brasil. Ainda segundo a OMS, se medidas preventivas não forem tomadas, a incidência do câncer aumentará em 100% nos próximos anos, sobretudo nos países em desenvolvimento. A maior parte dos cânceres humanos parece ter uma alta proporção de tumores que são causados por acidentes da natureza aleatórios e inevitáveis, porém ainda outros fatores parecem intervir para aumentar dramaticamente o número total de casos. Os dois fatores contribuem, a hereditariedade e o ambiente. O fator ambiente, de forma ampla, inclui estilo de vida, escolha da dieta, hábitos de reprodução e tabagismo. 42 UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE Estudos publicados na última década têm propiciado um maior conhecimento no papel dos fatores dietéticos na morbimortalidade por neoplasias. Observou-se que uma alimentação rica em carne vermelha, gordura animal e alimentos enlatados e embutidos estão diretamente ligados ao câncer gástrico, de cólon e reto. Spence e Johnston (2003) sugerem que até um terço das mortes por câncer estão relacionadas à carcinógenos presentes na alimentação. Conforme dados do INCA (2013), existem alimentos que contêm níveis significativos de agentes cancerígenos. Por exemplo, os nitritos e nitratos usados para conservar alguns tipos de alimentos, como picles, salsichas e outros embutidos e alguns tipos de enlatados se transformam em nitrosaminas no estômago. Estas têm ação carcinogênica potente, são responsáveis pelos altos índices de câncer de estômago observados em populações que consomem alimentos com estas características de forma abundante e frequente. Numerosos aspectos da dieta estão vinculados a um aumento de câncer, incluindo: consumo alto de gordura, consumo alto de alimentos defumados, ocorrência natural de carcinógenos nos alimentos, carcinógenos produzidos por microrganismos contidos nos alimentos e dieta pobre em fibras. A maioria dos potenciais agentes causadores de câncer é parte natural dos alimentos, outros são produzidos por contaminação microbiana ou durante o cozimento. O alto consumo de carne vermelha pode aumentar o risco de desenvolvimento do câncer colorretal. Várias teorias foram propostas para explicar essa associação, como a presença de ácidos graxos específicos, substâncias formadas durante o preparo das carnes em altas temperaturas. Outros estudos têm proposto que seria devido às altas concentrações de ferro na carne vermelha, por este mineral estar envolvido na síntese de radicais hidroxilas, que podem causar danos às células do intestino. Uma dieta rica em gordura animal e pobre em agentes antioxidantes, como o selênio (encontrado em grãos, alho, frutos do mar, castanha-do-pará, nozes, avelãs e abacate) e a vitamina E (encontrada em sementes como amêndoas, amendoim, nozes e castanhas), são fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de próstata. As evidências da literatura apontam para a nutrição como um dos principais determinantes modificáveis do câncer. Apesar de ser um assunto ainda polêmico e em estudo, há dados suficientes na literatura para recomendar-se a diminuição da ingestão de carne vermelha e o aumento do consumo de peixes, frutas, verduras e legumes, como fator preventivo ao desenvolvimento dos cânceres digestivo e colorretal. 43 ALIMENTAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE │ UNIDADE II O fator dietético na prevenção das DCNT A mudança nos hábitos alimentares e na prática de atividade física pode influenciar fortemente a prevenção de DCNT na população. Há evidência científica sugerindo que os seguintes comportamentos podem produzir mudanças rápidas nos fatores de risco e na carga relativa às DCNT: consumir mais frutas e verduras; ter atividade física diária; trocar gorduras saturadas de origem animal por gorduras insaturadas de óleo vegetal; diminuir a quantidade de alimentos gordurosos, salgados e doces; manter um peso corporal normal e não fumar. Neste cenário, a alimentação como medida preventiva ocupa lugar de destaque, não só em função de que a prevenção precoce das doenças associa-se a melhor qualidade de vida, mas também porque, as medidas terapêuticas para as DCNT não são totalmente efetivas se não associadas à adoção de hábitos de vida saudável. Os nutrientes são necessários para o desenvolvimento e crescimento normais dos indivíduos, como também para protegê-los contra os riscos por agressões genéticas e do meio ambiente, incluindo os hábitos alimentares, reduzindo riscos que poderiam ser minimizados ou, protelados, através de uma nutrição preventiva, iniciada logo após o desmame e continuada ao longo de toda a vida. Grande parte da experiência preventiva no Brasil tem origem na prevenção das doenças infecciosas e das doenças carenciais, cuja prevenção tem um caráter mais específico. Para as doenças crônicas este quadro é muito diferente. Como visto anteriormente grande parte das chamadas doenças crônicas, como as doenças cardiovasculares, diabetes, neoplasias, hipertensão, apresentam-se intimamente
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