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Aula 02

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Políticas Públicas para a Infância no Brasil
CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRATICA DE ENSINO NAS CRECHES E EDUCAÇÃO INFANTIL  
 ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2011
Políticas Públicas para a Infância no Brasil
 
A história da educação infantil em nosso país tem, de certa forma, acompanhado a história dessa área no mundo, havendo, é claro, características que lhe são próprias.
 Até meados do século XIX, o atendimento de crianças pequenas longe da mãe em instituições como creches ou parques infantis praticamente não existia no Brasil.
 
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No meio rural, onde residia a maior parte da população do país na época, famílias de fazendeiros assumiam o cuidado das inúmeras crianças órfãs ou abandonadas, geralmente frutos da exploração sexual da mulher negra e índia pelo senhor branco.
 Na zona urbana bebês abandonados pelas mães, por vezes filhos ilegítimos de moças pertencentes a famílias com prestígio social, eram recolhidos nas “rodas de expostos” existentes em algumas cidades desde o inicio do século XVIII. OLIVEIRA, 2002
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As primeiras Creches no Brasil
	As primeiras creches no Brasil surgiram em meados de 1870, como prioridade as famílias pobres, eram designadas as mulheres que precisavam trabalhar para ajudar no sustento da família. Portanto, surgiu como um deposito normatizador do comportamento das crianças pobres, liberando a mão de obra feminina. 
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Para as crianças bem nascidas valia a regra
 de ouro: 
“ Serem amamentadas e cuidadas por sua própria mãe, a quem a sociedade fechava as possibilidades de estudo e trabalho”. 
A imprescindibilidade da função materna era um dos argumentos usados para justificar o afastamento feminino do mundo do trabalho. 
A questão do conflito, portanto, fruto da possibilidade de opção, inexistia. 
As regras estavam socialmente bem definidas: às mulheres das classes abastadas, destinava-se a maternidade; às pobres, o trabalho. 
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O reconhecimento social da infância no Brasil: da menoridade a cidadania
Código de menores de 1927 – Ao mesmo tempo em que tornou visível a infância como uma área de competência jurídica própria, o código também foi o marco na segregação e diferenciação da infância dos pobres, que logo passou a ser identificada como a infância dos delinqüentes e abandonados.
 As práticas oscilavam entre: “abandonado vitima da família e da sociedade” e “do delinqüente como ameaça a ambas”.
Os menores delinqüentes recebiam uma prática para os que já haviam penetrado nos circuitos da criminalidade e da exclusão social – tutelados pelo estado e submetidos à reclusão social. 
Os menores abandonados aqueles que eram vistos como possibilidades de se integrarem à sociedade através do trabalho, ficavam sob responsabilidade das ações da área da assistência social e filantrópica.
Aqui o marco definidor é a reclusão, o confinamento, a criminalização e a disciplinarização para o trabalho em ofícios de menor requisição intelectual.O que caracteriza este conjunto de práticas é a exclusão total ou parcial, é a negação da cidadania, é a ampliação do termo menor como sinônimo de delinqüência.
Através de uma tendência centralizadora, passou a existir a política de bem estar do menor, executada pela FUNABEM (Fundação de bem estar do menor) em 1964.
Em 1976 é criada a (CPI) comissão parlamentar de inquérito, para um diagnóstico sobre a realidade do menor.
1978, há a criação da pastoral do menor (ampliando a entrada da igreja católica)
1979- Movimento em defesa do menor, concentra-se em denunciar maus tratos praticados nas unidades da Febem contra crianças que estavam sob a tutela do estado.
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ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) - 1990
O ECA nasce numa perspectiva de reordenamento do atendimento à criança e ao adolescente assentada em uma ampla política de garantias de direitos, fundada numa articulação entre políticas setoriais da saúde, educação, moradia e trabalho. 
Seus principais avanços estão no esforço da regulamentação da atividade jurídica, tanto em termos da aplicação das medidas judiciais quanto em termos de controle sobre as instituições que hoje prestam assistência e/ou atuam no âmbito da aplicação das medidas destinadas aos que estão em conflito com a lei. 
É importante destacar que o ECA é um grande divisor de águas na luta pelo direito da criança e do jovem brasileiro, pois apesar da grande dificuldade que o conselheiro tutelar tem tido ao realizar o seu trabalho, o Estatuto representa um grande avanço, pois propõem medidas protetivas no lugar das tradicionais medidas de repressão.
Outro aspecto é que as Leis do Estatuto são para toda e qualquer criança e jovem e não só aquele marcado pela pobreza de nosso país. Propõem que o confinamento e a punição sejam substituídos pela prestação de serviço a comunidade. Em ultimo caso deve haver internação em instituição educacional, a liberdade assistida e a semiliberdade são prioridades aqui.
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Um aspecto importante para todos, pois compromete todos os cidadãos brasileiros é que todas as instancias devem também ser controladas pela sociedade civil, tanto quanto através do Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente quanto pelos Conselhos Tutelares. 
… é preciso recursos sociais e políticas públicas estejam disponíveis para que as famílias possam cumprir tais medidas, e nelas aparece a inclusão em programas comunitários ou oficiais de auxilio a família, à criança e ao adolescente, entre os quais podemos destacar o atendimento em creches e pré-escolas. 
NUNES, (2005, p.91)
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É fundamental dar o destaque especial ao fato que pela primeira vez na história do Brasil as proposições desse documento não foram oferecidas exclusivamente por juristas e advogados, mas tiveram a participação importante de setores civis da sociedade. 
Pais e profissionais especializados na área da educação e dos direitos humanos colaboraram e brigaram ativamente pela efetivação do Estatuto. 
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A constituição Federal de 1988 destaca que a educação é direito de todos (art.205) e coloca a educação infantil como um dever do Estado. O artigo 208, inciso IV, diz o seguinte: 
Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de:
IV atendimento em creches e pré-escolas às crianças de 0 a 6 anos de idade.
A Constituição Federal de 1988 
Essa constituição representou um grande avanço na luta pelos direitos do cidadão brasileiro e consequentemente, na luta pelo direito da criança, possibilitando avanços posteriores que vieram em outras leis como por exemplo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
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Sendo dever do Estado, a educação infantil passa pela primeira vez no Brasil, a ser um direito da criança e uma opção da família. No artigo 227, a constituição Federal coloca a criança e o adolescente como prioridade nacional.
 Art.227 - É dever da família, da sociedade do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-losa salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
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Título VII, do Estatuto que se dedica aos crimes e infrações administrativas e que diz respeito mais especificamente aos educadores da infância de nosso país:
Submeter a criança sob sua autoridade a vexame ou constrangimentos (detenção de seis meses a dois anos);
Submeter a criança a tortura (aqui são previstos os casos de lesão corporal leve, grave ou gravíssima que podem levar à morte, com diferentes penalidades); 
Deixar o educador ou o dirigente de
ensino pré-escolar de comunicar à autoridade competente os casos que tenha conhecimento de suspeita ou confirmação de maus tratos (multa de 3 a 20 salários de referencia aplicando-se o dobro nos casos de reincidência). 
 Política Nacional de Educação Infantil
Como resultado da Constituição Federal e da elaboração do ECA, o Ministério da Educação e Desporto (MEC) propõem uma politica Nacional de Educação Infantil, assumindo finalmente a importância de seu papel na garantia dos direitos das crianças a uma educação de qualidade.
O MEC institui na primeira metade da década de 1990, uma Comissão Nacional de Educação Infantil (CNEI), que participa da elaboração dessa política em todo o país e que apresenta como diretrizes os seguintes princípios:
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A educação infantil é a primeira etapa da educação básica;
As creches e pré-escolas dividem entre elas a clientela pelo critério exclusivo da faixa-etária (de 0 a 3 anos, na creche, e de 4 a 6 anos na pré-escola)
A educação infantil, em complementação à ação da família, visa proporcionar condições adequadas de desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social da criança, e promover a ampliação de suas experiências e conhecimentos, estimulando seu interesse pelo processo de transformação da natureza e pela convivência em sociedade;
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As ações da educação infantil devem ser complementadas pelas saúde e assistência, de forma articulada;
O currículo da educação infantil deve levar em conta, na sua concepção e administração: o desenvolvimento da criança, a diversidade social e cultural das populações infantis e os conhecimentos que se pretende universalizar;
Os profissionais de educação infantil devem ser formados em cursos de nível médio ou superior, que contemple os conteúdos específicos relativos a essa etapa da educação;
As crianças com necessidades especiais, sempre que possível, devem ser atendidas na rede regular de creches e pré-escolas.
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Além desses princípios o mesmo documento estabelece três objetivos:
expandir a oferta de vagas para a criança de 0 a 6 anos;
fortalecer, nas instâncias competentes, a concepção de educação infantil definida neste documento;
promover a melhoria da qualidade do atendimento em creches e pré-escolas. 
É importante ressaltar que participaram da elaboração desse documento dirigentes e técnicos de instituições federais, estaduais e municipais que atuam no atendimento à infância, professores universitários e especialistas na área, representantes de instituições internacionais e de entidades não-governamentais.
LDB - Lei de diretrizes e bases da educação nacional aprovada em 1996
Em 20 de dezembro de 1996 é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), a LDB. 
O que esta lei postula sobre educação infantil é resultado da mobilização da sociedade civil organizada que se articulou, desde o final dos anos de 1980, com o objetivo de assegurar para as crianças, na legislação brasileira, a partir de uma determinada concepção de criança e de educação infantil, uma educação de qualidade para a infância. As consequências deste movimento já haviam sido expressas tanto na constituição (1988) como no ECA (1990) e na Politica de Educação Infantil (1994). 
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A LDB apresenta três artigos que tratam da educação infantil, é possível considerar o avanço que ela representa principalmente por reafirmar que a educação para as crianças com menos de 6 anos é a primeira etapa da educação básica. 
Art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os 6 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da sociedade.
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Outro artigo fundamental é o que se refere a avaliação na educação infantil. O texto merece destaque, pois elimina a reprovação nesse período do ensino, pois uma vez que as crianças precisam ter confiança em si mesmas, indicar a impossibilidade de ir para o ensino fundamental, colabora para que a criança não acredite em suas capacidades.
Art. 31 Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
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Outro artigo que vale a pena mencionar é o que trata da formação do educador, este aspecto também é importante, pois durante muito tempo acreditou-se que o trabalho em creches e pré-escolas estava atrelado ao serviço de maternagem e que não era necessária a formação desse profissional. No título VI estabelece condições mínimas para a atuação do professor de educação infantil.
Art.62 A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em cursos de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida com formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. 
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Em 1998, estranhamente sem articulação com os documentos que haviam sido produzidos pelo COEDI/MEC, nos últimos cinco anos, o MEC publica o Referencial Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Trata-se de três volumes que de certa forma, dão continuidade a uma política do governo brasileiro – traçar parâmetros curriculares nacionais para os diferentes níveis de ensino no Brasil. 
O RCNEI não tem valor legal, constitui-se apenas de um conjunto de sugestões para os professores de creches e pré-escolas. Este documento representou um retrocesso no processo que vinha se dando no Brasil de o governo com a participação da sociedade civil, construir uma politica de educação para as crianças pequenas. 
Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil
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 Em 17 de dezembro de 1998, a conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE – Câmara de Educação Básica), relata e aprova o parecer 022/98 sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil 
As referidas diretrizes constituem-se na doutrina sobre princípios, fundamentos e procedimentos da educação básica, definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que orientará as instituições de educação infantil dos Sistemas Brasileiros de Ensino, na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil 
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Alguns pontos importantes contidos nesse documento: 
as politicas de educação infantil ainda não estão totalmente definidas.
as crianças são consideradas sujeitos de direitos e alvo de preferencia de politicas publicas.
é indispensável que os educadores ao elaborarem suas propostas pedagógicas para a educação infantil, se norteiem por este documento. 
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Resolução CNE/CEB nº 5 - 17/12/2009
Em 11 de novembro de 2009, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação aprova as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Serão aqui mostrados e analisados dois artigos relacionados a idade das crianças. O primeiro muda o inicio da obrigatoriedade da criança nas creches, enquanto que o segundo antecipa o termino da educação infantil de 6 para 5 anos.
Art.50 A educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.
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& 20 É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de crianças que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula.
Duas mudanças significativas surgem
em função dessas medidas:
 A primeira é a ampliação do Ensino Fundamental com a integração do CA como primeiro ano, para nove anos e não oito como era anteriormente. Significa que a criança de 6 anos entra para o ensino fundamental, uma vez que a Educação Infantil vai até os 5 anos de idade.
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 Vale ressaltar, que a atividade principal da infância é brincar e que a criança de 4, 5, 6 anos precisa de tempo e liberdade para escolher fazer o que quiser, mesmo que seja não fazer nada. Pois, a infância não pode ser percebida como treino para o futuro. E por esse motivo ela precisará de uma proposta curricular que atenda a suas características, potencialidades e necessidades específicas.
Pré-escolas não dispõem de serviços básicos: 2.979 estabelecimentos não têm abastecimento de água e 6.039 não têm esgoto sanitário. Há ainda fatores como, por exemplo, a ausência ou insuficiência de transporte escolar, que afeta sobremaneira a frequência das crianças. Muitas vezes, mesmo havendo condução, o deslocamento pode significar longos percursos, em que crianças permanecem num veículo, acompanhadas apenas pelo motorista. 
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Pensando nas reais condições de estrutura das creches e pré-escolas públicas de todo o país, nos baixos salários oferecidos a esses profissionais, na falta de investimento na formação especializada e na formação permanente. 
 Por que o governo em primeiro lugar não tenta proporcionar a melhoria dessas condições citadas acima? 
Precisamos de um governo que conheça e respeite as diferentes realidades regionais de nosso país.
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Finalmente, este breve histórico tentou apresentar uma realidade de conquistas e lutas de crianças oprimidas por uma sociedade adultizada. Aspecto fundamental é que as leis principais que favorecem as crianças e jovens brasileiros foram resultados da organização de setores civis da sociedade que lutaram por um olhar mais humano e pela efetivação das leis.
A informação e a mobilização parecem critérios fundamentais na construção de uma educação infantil de qualidade, é impossível concebe-la sem relacioná-la a fatores políticos, históricos, econômicos e culturais. 
Todos nós, como cidadãos brasileiros, devemos que nos considerar representantes da construção desse processo. 
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