Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAROLINA BORGES BERTOLINI PSICOLOGIA COGNITIVA Trabalho apresentado ao Curso de Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, à Disciplina de História da Psicologia. Professor: Ms. André Luiz Strappazzon FLORIANÓPOLIS 2015.1 A mudança do Zeitgeist da física no início do século XX com as ideias de Einstein, Bohr e Heisenberg, foi fundamental para o desenvolvimento da Psicologia Cognitiva. Essa brecha se deu pois a admissão dos estudos da mente consciente e dos seus processos cognitivos era inviável no meio científico anterior, impregnado pelo modelo de natureza humana mecanicista, reducionista e determinista. Apesar de haver uma lacuna de tempo (cerca de meio século) entre essa revolução na física, com o descarte da objetividade completa e o reconhecimento da subjetividade e da experiência consciente, a psicologia acabou aderindo ao novo Zeitgeist e readmitindo o movimento cognitivo (SCHULTZ, SCHULTZ, 2014). O movimento teve vários precursores antes de seu ínicio formal, que remonta ao final década de 1950, que foi quando de fato houve uma ruptura com os princípios do behaviorismo (VASCONCELLOS, VASCONCELLOS, 2006). Entre esses precursores, encontram-se desde psicólogos behavioristas, como Guthrie, que sugeria a descrição dos estímulos em termos cognitivos, e Tolman, que levava em consideração as variáveis cognitivas – a caixa preta que ele propôs que existia entre o estímulo e a resposta – e como elas definiam os estados não observáveis, até psicólogos da Gestalt, que não excluiam de sua teoria a experiência consciente (SCHULTZ, SCHULTZ, 2014). Um acontecimento fundamental para a eclosão significativa desse movimento foi um simpósio sobre Teoria da Informação que ocorreu em setembro de 1956, o qual reuniu diversos pesquisadores e foram discutidos temas que englobavam assuntos que mais tarde dariam origem a psicolinguística, além da limitação da memória humana e o desenvolvimento de computadores e a criação da inteligência artificial, que permitiu que essas máquinas executassem funções que antes eram exclusivamente humanas, como a execução de certos teoremas matemáticos e a habilidade de jogar xadrez (ATKINSON et al., 2012; VASCONCELLOS, VASCONCELLOS, 2006). No mesmo ano, alguns desses pesquisadores, entre eles Herbert Simon, publicaram em conjunto estudos que dariam forma ao modelo de processamento das informações, que comparava o funcionamento da mente humana ao funcionamento dos computadores, como na operação da memória, que assim como um computador que tem a memória RAM para armazenamentos temporários e o disco rígido para armazenamentos permanentes, possui a memória de trabalho, que equivaleria a RAM do computador, e a memória operacional, que seria o nosso disco rígido (ATKINSON et al., 2012). Assim, a metáfora do computador “substituiu” a metáfora do relógio mecânico, e desta vez, uma mesma analogia foi capaz de unir teóricos de diferentes disciplinas, como Antropologia, Psicologia, Inteligência Artificial, Linguística e Filosofia para compreender fenômenos ligados a mente humana (VASCONCELLOS, VASCONCELLOS, 2006). Apesar das várias publicações e acontecimentos significativos no ano de 1956, o primeiro livro sobre a Psicologia Cognitiva foi lançado somente em 1967 por Ulrich Niesser. Em Cognitive Psychology, Niesser definia a nova ciência como “a psicologia que se refere a todos os processos pelos quais um input (entrada) sensorial é transformado, reduzido, elaborado, armazenado, recuperado e usado” (NEUFELD, 2011, p. 104). Em termos gerais, os psicólogos cognitivos estudam todas as etapas de como o conhecimento é adquirido, os processos mentais, a estruturação, organização e atuação ativa da mente sobre as experiências conscientes (SCHULTZ, SCHULTZ, 2014). Ademais, desde a sua criação, a Psicologia Cognitiva esteve preocupada em manter o padrão científico adquirido anteriormente com o behaviorismo. Assim, utiliza-se de métodos experimentais, com observações sistemáticas e estabelecimento de relações de causa e efeito (NEUFELD, 2011), auto-avaliações, estudos de caso, pesquisa psicológica, simulações por computador, modelos computacionais e inteligência artificial (STERNBERG, 2000), além de continuarem usando algumas formas de introspecção, com relatos que podem ser quantificados e analisados objetivamente (SCHULTZ, SCHULTZ, 2014). É importante lembrar que, apesar de assemelharem-se em relação ao método experimental, o Behaviorismo e a Psicologia Cognitiva discordam enormemente no objeto de estudo, já que o Behaviorismo estuda o comportamento – e a corrente radical inclusive nega quaisquer eventos de natureza mental – enquanto a Psicologia Cognitiva foca nos processos cognitivos – ou mentais (NEUFELD, 2011). Desde então, a Psicologia Cognitiva, influenciada pelas outras disciplinas presentes no movimento e pelo avanço das tecnologias, dividiu-se em várias áras – importante ressaltar que essa divisão não é excludente, mas sim comunicativa e complementativa – que assim como a própria psicologia cognitiva, ainda estão em desenvolvimento, como: Neuropsicologia cognitiva, que estuda pessoas que possuem alguma deficiência cognitiva, uma alteração da estrutura cerebral causada por doenças ou ferimentos, além de testar a aplicabilidade e eficácia dos modelos de funcionamento cognitivos desenvolvidos pelas Psicologia Cognitiva, cada vez mais está relacionada à Neurociêcia Cognitiva; Ciência Cognitiva Computacional, busca o desenvolvimento de modelos computacionais – programas que tentam simular ou imitar determinadas funções do funcionamento cognitivo – com o objetivo de incrementar o conhecimento da cognição; e Neurociência Cognitiva, que envolve o estudo de informações relativas ao cérebro e ao comportamento a fim de desenvolver o entendimento do funcionamento cognitivo humano; e a Psicologia Cognitiva Experimental, que estuda indivíduos saúdaveis em um contexto laboratorial, com o uso evidências comportamentais (EYSENCK, KEANE, 2010; KRISTENSEN, 2001). Como em toda ciência, a Psicologia Cognitiva e seus maiores enfoques tem seus pontos fortes e suas limitações. Em relação às limitações, Eysenck e Keane (2007) fizeram um compilado destas, que, entre outras coisas, envolvem: a grande complexidade e o envolvimento de vários processos nas tarefas cognitivas; a dificuldade de testar as teorias empiricamente; ao fato de que alguns pacientes com deficiências neurológicas desenvolvem estratégias compensatórias para seus problemas que não são encontradas em pacientes saudáveis, o que faz com que seja difícil aprender mais sobre sistemas cognitivos “intactos”; indivíduos com o mesmo tipo de lesão neurológica diferem muito quanto a idade, educação e tipos de habilidades, e todas essas diferenças interferem e tem importantes consequências na pesquisa; as pesquisas ainda são muito específicas e falta ênfase em aspectos gerais da cognição, porém, essa situação vem mudando com o contínuo desenvolvimento da área. REFERÊNCIAS ATKINSON, R. L.; ATKINSON, R. C.; SMITH; et al. Atkinson & Hilgard’s Introduction to Psychology. 15ed. Andover: Cengage Learning, 2009, p. 12 – 28. EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Cognitive psychology: A student’s handbook. 6ed. New York: Psychology Press, 2010 p. 01 – 31. KRISTENSEN, C. H.; ALMEIDA, R. M. M. DE; GOMES, W. B. Historical Development and Methodological Foundations of Cognitive Neuropsychology. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 14, n. 2, p. 259–274, 2001.PRC. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 79722001000200002&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 1/7/2015. NEUFELD, C. B.; BRUST, P. G.; STEIN, L. M. Bases epistemológicas da psicologia cognitiva experimental. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 27, n. 1, 2011, p. 103– 112. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. História da psicologia moderna. 10ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014, p. 350 – 369. STERNBERG, R. J. Cognitive Psychology. 5ed. Belmont: Cengage Learning, 2009, p. 02 – 29. VASCONCELLOS, S. J. L.; VASCONCELLOS, C. T. DE D. V. Uma análise das duas revoluções cognitivas. Psicologia em Estudo, v. 12, n. 2, p. 385–391, 2007. Departamento de Psicologia - Universidade Estadual de Maringá. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 73722007000200020&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 1/7/2015.
Compartilhar